Mercado

China: 1,4 bilhões de razões para vender café

País de proporções colossais, oportunidades múltiplas e complexidade cativante, a China está reescrevendo o manual de negócios do café

Em dezembro de 2023, a plataforma World Coffee Portal revelou que a China tinha ultrapassado os Estados Unidos como o maior mercado de rede de cafeterias do planeta, depois de crescer impressionantes 58% naquele ano e alcançar 49,7 mil pontos de venda.

As enormes oportunidades para negócios que envolvem o grão entre os 1,4 bilhão de cidadãos do país são inegáveis. Mais de 90% dos consumidores chineses pesquisados pela plataforma inglesa bebem café semanalmente, enquanto 64% o consomem gelado pelo menos uma vez por semana. Quanto ao papel das cafeterias no consumo geral do grão no país, 89% dos consumidores consultados visitam cafeterias ou pedem delivery ao menos uma vez por semana, sendo que um quinto deles o fazem diariamente.

O fascínio “neon” do café

Desde que a China abriu sua economia, em 1978, o PIB do país cresce, em média, 9% ao ano. Em 2010, o chamado “milagre econômico” assistiu a ultrapassagem do Japão pela China como a segunda maior economia do mundo por PIB, e, em 2022, um relatório do FMI considerou a economia chinesa 23% maior do que a dos Estados Unidos, considerando a Paridade de Poder de Compra (PPP).

Para muitos chineses, a liberalização econômica trouxe mais prosperidade – e o primeiro contato com o fast food e a cultura do café ocidentais. Em 1987, o KFC abriu a primeira filial no país asiático na Praça da Paz Celestial, no centro de Pequim, seguido, em 1992, da abertura do primeiro McDonald’s, também na capital.

Em 1999, a Starbucks tornou-se a primeira grande cadeia ocidental de cafeterias a lançar-se na China, seguida pela Costa Coffee, em 2006, pela Dunkin’, em 2008, e pela Tim Hortons, em 2019. “A China é o mercado consumidor mais atraente do mundo, não só pelo tamanho, mas porque é o mais exigente, dinâmico e digital de todos,” explica Yongchen Lu, CEO da Tims China, joint venture que gerencia mais de 900 lojas da Tim Hortons no país.

Atualmente, o mercado de cafeterias na China é um caldeirão de operadores internacionais e domésticos, liderado pelas 16,2 mil lojas com pegada digital da chinesa Luckin Coffee e por 7 mil lojas da Starbucks. Os operadores internacionais podem ter preparado o mercado mas, hoje em dia, mais de 80% das redes de cafeterias no país são chinesas.

Apesar de o país asiático ter mantido a estratégia zero-Covid até o começo de 2023 – quase um ano a mais do que a maioria das grandes economias –, o mercado recuperou, desde então, uma pujança significativa. Setenta e dois por cento dos líderes da indústria pesquisados pelo World Coffee Portal em novembro de 2023 indicaram que as negociações melhoraram ou são comparáveis às de 2022. Ao mesmo tempo, 65% deles concordaram que o fluxo de clientes recuperou-se aos níveis pré-pandêmicos.

“O café está se tornando um ritual diário para muitos chineses que consomem a bebida”, diz Felipe Cabrera, gerente-geral da Ad Astra Consulting, com escritório em Xangai, ao comentar sobre a indústria de cafés no país. “Recentemente, com a forte competição de preços no mercado, o café está se tornando mais do que um produto de um estilo de vida idealizado, especialmente nas províncias da costa leste, altamente desenvolvidas, onde o mercado é mais maduro”, completa.

A já ampla e crescente economia chinesa significa que as redes de cafeterias precisam apenas voltar seus olhos para uma das 18 cidades do país com mais de cinco milhões de pessoas – ou para as cinco com mais de 10 milhões. Com 22 milhões de habitantes, Xangai é o epicentro de um mercado promissor. Estima-se que existam mais de oito mil coffee shops na imensa metrópole, segundo relatório de 2022 da Meituan, plataforma chinesa de alimentos e bebidas, o que a torna uma das cidades consumidoras do grão mais densamente povoadas do planeta.

Envie mais café

Apesar do crescimento impressionante de cafeterias, o consumo total de café previsto para 2024 no país – cinco milhões de sacas (60 kg) – é pequeno se comparado às 20 milhões de sacas que os Estados Unidos bebem anualmente. Porém, enquanto o hábito norte-americano e europeu de beber café cresce anualmente em torno de 4%, o consumo chinês da bebida cresceu 57% entre 2019 e 2023, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Urbano da China do ano passado, publicado pela CBN Data (organização chinesa de pesquisa e serviços de comunicação da indústria de consumo).

“Com a alta densidade populacional nas metrópoles, mesmo que os consumidores comprem apenas um espresso por semana e passem o dia inteiro na cafeteria, esses operadores ainda lucram”, diz Martin Pollack, CEO da Torch Coffee, empresa de comércio, abastecimento, torrefação e consultoria, que formou conexões profundas com a indústria cafeeira em franca expansão no país.

Natural dos Estados Unidos, Pollack chegou à China em 2008 e, em 2014, foi morar em Yunnan. Desde então, a Torch Coffee treinou milhares de aspirantes a profissionais, ansiosos por aprender as habilidades de um barista, se tornarem Q-Graders e iniciarem seu próprio negócio. “O ambiente de negócios no país está muito mais direto do que era anos atrás. Agora, é um sistema bem gerenciado e eficiente, com uma estrutura jurídica e empresarial sólida”, acrescenta Pollack.

O efeito Luckin

Com mais de 16 mil lojas, a Luckin Coffee virou notícia no início de 2023 ao ultrapassar a Starbucks como líder de mercado na China em número de estabelecimentos. Mas sua escala é bem diferente do portfólio da Starbucks, com mais de 7 mil unidades, além de ter como característica lojas express, pontos pick up e cozinhas delivery.

Enquanto a Luckin registrou vendas de US$ 986,8 milhões no terceiro trimestre de 2023, as receitas da Starbucks no mesmo período alcançaram US$ 841 milhões, com metade das lojas. Mesmo assim, a estratégia de “novo varejo” da Luckin continua a ser muito influente. A rede acumulou mais de 120 milhões de usuários em seu aplicativo, garantiu a entrega de bebidas em até meia hora e ganhou empatia aplicando preços baixos e descontos promocionais. “Ela teve um papel crucial na democratização da cultura do café na China, graças aos preços acessíveis. Especialmente fora das grandes cidades, onde os consumidores não necessariamente são conhecedores de cafés em busca de bebidas sofisticadas, marcas que oferecem preços competitivos e sabores inovadores estão melhor posicionadas para conquistar clientes”, analisa Antonello Germano, gerente de marketing da Daxue Consulting, consultoria especializada em varejo chinês com sede em Xangai.

A ascensão impressionante da Luckin só se compara ao infame escândalo contábil de US$ 300 milhões que resultou, em 2020, na saída da empresa da NASDAQ (mercado de ações automatizado dos EUA), em uma multa de US$ 180 milhões da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) norte-americana e em outra mais leve, de US$ 9 milhões, do governo chinês.

Embora internacionalmente a reputação da rede tenha sido abalada, a reação chinesa ao episódio foi bem diferente. “Estávamos orgulhosos da empresa, brigando para liderar o mercado e oferecendo preços acessíveis às pessoas. Prefiro café especial, mas estou muito orgulhoso do que a Luckin alcançou para o povo chinês”, diz Kasey Guo, ex-barista do Starbucks Reserve Roastery e professora de barismo em Kunming, capital da província de Yunnan.

O foco incansável da Luckin em preço e conveniência criou um cenário altamente competitivo na China. Lançada pelos ex-executivos da Luckin Charles Lu e Jenny Qian, a Cotti Coffee seguiu o mesmo manual e abriu mais de 6 mil lojas digitais desde 2022. A Cotti geralmente precifica bebidas cerca de US$ 0,15 abaixo da rival Luckin. No início de 2023, ela reduziu o preço dos lattes para US$ 1,38, levando a Luckin a igualar o valor e comprometer-se a mantê-lo por dois anos. A Cotti, então, respondeu, reduzindo ainda mais o valor da bebida (US$ 1,22).

A guerra de preços entre Luckin e Cotti, segundo Cabrera, reformulou as expectativas dos consumidores. “Eles agora esperam pagar de US$ 2,20 a US$ 3,20 por uma xícara de café (cerca de 250 ml) – exceto as servidas por marcas consolidadas, como Starbucks e Costa Coffee, cujos preços permanecem mais altos, entre US$ 4,30 e US$ 5,80.”

Uma economia chinesa lenta também significa que os consumidores estão prestando atenção em seus gastos. Espera-se que o crescimento do PIB desacelere para 4,5% em 2024, enquanto a taxa de desemprego suba, entre os jovens de 16 a 24 anos – público-alvo chave para as redes de café –, de 15,3% em 2022 para 21,3% em 2023.

Como resultado da intensa concorrência de preços, muitas cadeias de café menores têm lutado para se manter no jogo, o que fez com que fechassem lojas ou se convertessem em franquias Luckin ou Cotti. Outros operadores do setor, como Nowwa Coffee, Manner Coffee e M Stand, seguiram com suas estratégias centradas no valor da xícara para continuarem competitivos.

Os operadores de café também sofrem pressão de cadeias de fast-food focadas em preços, como McCafé e KCOFFEE, da KFC – com esta última vendendo espressos de origem única por US$ 1,30, o equivalente a um terço do valor de um produto similar da Starbucks.

Belinda Wong, co-CEO da Starbucks, afirmou no início deste ano que a rede “não está interessada em entrar em uma guerra de preços”. No entanto, a multinacional aproveitou descontos baseados em aplicativos e em vários tamanhos pequenos de xícaras, com preços mais baixos, para manter-se no páreo.

Há, porém, sinais de que a subcotação dos preços vai se revelar insustentável às empresas do setor. Na tentativa de responder a esta realidade mercadológica, a Luckin Coffee reduziu, em fevereiro, sua oferta de bebidas a US$ 1,36 – preço aplicado, até então, a todas as opções da marca – para apenas oito opções, depois que sua margem de lucro no terceiro trimestre de 2023 caiu de 2,6% (em relação ao ano anterior) para 13,4%.

“A experiência da Luckin Coffee mostrou que o sucesso sustentado no mercado exige mais do que preços baixos e agilidade. Para continuar relevante no longo prazo, a cadeia chinesa de café investe, atualmente, em ofertas inovadoras, com preços mais elevados, e em lojas maiores localizadas em áreas-chave”, afirma Germano.

Como as marcas estrangeiras podem ter sucesso na China

O mercado de cafeterias de marca na China deve ultrapassar 86,3 mil pontos de venda até o final de 2028, segundo dados WCP. Isso significa um crescimento de 11,7% ao ano. Mesmo com o aumento da concorrência, a China oferece uma oportunidade formidável de crescimento para as cadeias de cafeterias internacionais.

Mas, com um mercado gigante e em movimento acelerado, e com operadores domésticos em franca expansão, lá se foram os tempos em que marcas ocidentais estabeleciam-se apenas com base em prestígio. “No passado, as cadeias internacionais dominavam o mercado chinês, mas hoje em dia proliferam pelo país cafeterias locais, e que são fortes concorrentes para seus equivalentes internacionais”, analisa Germano. “É crucial entender e se adaptar às preferências dos jovens consumidores, conscientes da sua saúde, além de atender a gostos e preferências locais, que são diversas”, acrescenta.

Além de entender as preferências dos consumidores, os operadores também devem conhecer profundamente a cultura chinesa. “As práticas comerciais são muito enraizadas, tanto na hierarquia corporativa quanto nas redes sociais tradicionais, com uma troca fluida entre as duas”, explica Cabrera, referindo-se ao conceito de “guanxi”, termo chinês para descrever a rede de relacionamentos pessoais e comerciais mutuamente benéficos.

“Para ter sucesso neste ambiente extremamente dinâmico, é necessária uma filosofia cristalina, e a nossa está fundamentada em quatro pilares: relevância local, inovação contínua, comunidade genuína e conveniência absoluta”, diz Yongchen, da Tims China.

Uma complexidade ascendente como esta necessita de uma abordagem estratégica, já que o amadurecimento do mercado chinês exige que as novas marcas sejam respaldadas por investimentos substanciais de capital. “A mobilidade de capital continua sendo um grande obstáculo para as marcas ocidentais no mercado chinês”, observa Pollack, destacando as restrições à transferência internacional do renminbi, a moeda oficial da República Popular da China. Apesar disso, Cabrera acredita que o mercado chinês representa, ainda, uma grande oportunidade aos novos participantes.

A Blue Bottle Coffee, com sede na Califórnia (EUA), busca uma fatia do segmento de superespecialidades premium na China. O operador boutique, apoiado pela Nestlé, abriu sua primeira loja em Hong Kong em 2018, e fez sua estreia no país em 2022, com uma loja em Xangai que inaugurou com filas de sete horas de espera. “Demoramos para entrar na China e ainda estamos no começo da jornada, plantando raízes para o futuro”, diz Karl Strovink, CEO da marca californiana.

Para Strovink, entender a disposição desses consumidores asiáticos para novas experiências dirige o posicionamento da marca no país. “Aqueles familiarizados com o café especial buscam uma experiência consistente e de alta qualidade, mas continuam abertos a novidades”, diz o CEO da marca, ao citar a forte demanda por lattes sazonais, como o latte de açafrão e baunilha.

Assim como nas lojas da Blue Bottle pelo mundo, é essencial integrar o patrimônio local chinês ao design. “Nosso Café Yutong, localizado num edifício histórico dos anos 1920, mescla o antigo e o novo, enquanto o Café Zhang Yuan busca inspiração na herança Shikumen da região”, explica Strovink, referindo-se ao estilo arquitetônico tradicional de Xangai. Segundo ele, embora a marca tenha visão global, as equipes locais são fundamentais para a integração da empresa aos novos mercados, e para oferecer produtos relevantes naquela área. Um exemplo é o waffle de óleo de cebolinha da Blue Bottle, que combina o waffle de Liège, marca registrada da cafeteria, com sabores locais.

O mercado de cafeterias no país dispõe de um amplo ecossistema de aplicativos que facilitam pré-encomendas, entregas, pagamentos e promoções direcionadas. Mais de 85% dos chineses pesquisados pelo World Coffee Portal já tinham pré-encomendado ou pedido delivery em cafeterias nos últimos 12 meses, com 57% deles preferindo a entrega de bebidas em lugar de visitar o estabelecimento.

Operado pela gigante tecnológica Tencent, o WeChat (ou Weixin) é frequentemente descrito como o “aplicativo para tudo” chinês por suas múltiplas funções – desde redes sociais a e-commerce, encontros e mapas. O aplicativo tem mais de 810 milhões de usuários no país e facilita encomendas, entregas, pagamentos e promoções das cafeterias.

O WeChat opera no Meituan, que tem cerca de 75 milhões de usuários ativos mensais e quase três milhões de usuários anuais de cafés takeaway só em Xangai. O Alipay, da gigante do e-commerce chinês Alibaba, é um grande concorrente do WeChat e concentra-se exclusivamente em pagamentos. O Alibaba também oferece um aplicativo rival de alimentos e bebidas, o Ele.me, com cerca de 68 milhões de usuários ativos mensais.

As principais cadeias de cafeterias, incluindo Luckin Coffee, Starbucks, McCafé, NOWWA e Yongpu Coffee, colaboram com a Meituan e a Ele.me para seus pedidos, pagamentos e marketing. Outros apps utilizados pelos operadores de cafeterias são a Baidu Delivery, a plataforma de serviços Koubei, o Amap, provedor de mapas, e a plataforma de e-commerce Taobao. “O digital é uma das características que torna a China o mercado consumidor mais atraente do mundo. A personalização e a digitalização fazem parte da vida cotidiana desses consumidores e a expectativa é que as marcas respondam a isso”, afirma Yongchen.

É comum ver, no país, jovens carregando malas para trocar de roupa e fazendo sessões de fotos para avaliar cafeterias, explica Vivi Wang, Q-Grader e dona de uma delas na província oriental de Zhejiang. Plataformas de mídia social como WeChat, Dianping, Yelp e Xiaohongshu (Pequeno Livro Vermelho) – um aplicativo com foco em lifestyle de luxo com 100 milhões de usuários – transformaram as cafeterias em palcos inspiradores para milhões. Conteúdos assim, acrescenta Vivi, são fundamentais no compartilhamento de avaliações e recomendações dos usuários.

A Geração Z cresceu com a cultura do café como algo cotidiano e que, hoje, alimenta novas tendências que viralizam nas redes, incluindo parcerias entre marcas e receitas extravagantes.

Diferentemente dos Estados Unidos e da Europa, cafés saborizados com infusão de frutas são comuns na China. Outra tendência crescente é a colaboração entre as marcas, como a parceria da Luckin Coffee com a Kweichow Moutai, popular bebida alcoólica chinesa, e o latte de leite de arroz Wuchang, da Cotti Coffee. Em fevereiro deste ano, a Starbucks lançou seu próprio latte com sabor de carne de porco para celebrar o Ano Novo chinês.

Yunnan, entrada do boom do café especial

Em pouco mais de 30 anos, Yunnan, província do sudoeste chinês, passou de uma economia agrária obscura para uma potência da cafeicultura no país. A região começou a produzir grãos nos anos 1900, quando missionários franceses importaram as primeiras plantas do Vietnã.

Mas foi somente em 1988 que o governo chinês, o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Nestlé iniciaram conjuntamente um programa para modernizar a indústria cafeeira em Yunnan. Desde então, a produção cresceu exponencialmente e a região desenvolveu-se em um polo nacional de treinamento em cafés. Em 1995, a província produziu cerca de 58 mil sacas (60 kg), e, em 2016, as exportações ultrapassaram 1,8 milhão de sacas, o que posicionou a China entre os 20 maiores produtores globais em termos de volume.

Naquele ano, a Nestlé inaugurou o Centro de Café Nescafé em Pu’er, cidade da província. Atualmente, é um centro importante em treinamento e comércio, e disponibiliza cursos de gestão no campo e de processamento de grãos para quase 15 mil agricultores, consolidando ainda mais a economia cafeeira em Yunnan.

“Compramos grãos de Yunnan sistematicamente, garantindo preços justos aos produtores”, diz Sherry Zhao, head de comunicação de marca e inovação para cafés na Nestlé China. “Também estamos muito comprometidos em promover práticas agrícolas regenerativas, garantindo o futuro do café na região”, completa.

Hoje em dia, as oito subregiões cafeicultoras de Yunnan produzem cerca de 113 mil toneladas anuais, mais de 98% da produção total do país. A maioria destina-se ao vasto mercado chinês de cafés instantâneos e de commodities, mas a última década assistiu o café especial da região ganhar destaque. Torrefadores internacionais de especiais buscam cada vez mais grãos de origem Yunnan, incluindo o Nomad de Barcelona (Espanha) e o Cypher de Dubai (Emirados Árabes Unidos). “Torramos cafés de Yunnan em 2023, tivemos ótimos feedbacks dos clientes e os grãos esgotaram-se rapidamente”, diz Carlos Eduardo Bittencourt, CEO da Cafezal, rede de cafeterias de especialidade em Milão, na Itália.

Um novo capítulo na história do café

Com a China estabelecida globalmente como superpotência econômica e cultural, as redes de cafeterias de marca que entram no mercado encontram consumidores bem informados, seguindo fielmente sua agenda e moldando o consumo de café à própria imagem.

Antes recebidos com curiosidade e garantindo filas de curiosos, os operadores ocidentais hoje em dia vão precisar inovar no mesmo ritmo (acelerado) de seus concorrentes chineses – e, também, perguntar-se o que podem aprender com eles. Com gigantes locais como Luckin Coffee, Cotti Coffee, There Was No Coffee e Mellower avançando em direção a um mercado mais amplo no Sudeste Asiático, é só uma questão de tempo até que as marcas chinesas comecem a atrair suas próprias filas de consumidores curiosos no Ocidente.

Texto originalmente publicado na edição #84 (junho, julho e agosto de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Tobias Pearce (5THWAVE)

Mercado

Bruno Megda é o novo campeão brasileiro de Cup Tasters

Com sete acertos em 4 minutos e 32 segundos, o Q-Grader da Região Vulcânica agora se prepara para o mundial da categoria, que acontece em 2025 em Genebra, na Suíça

Bruno Megda, vencedor do Campeonato Brasileiro de Cup Tasters

“Vencer é a realização de um sonho”, diz Bruno Megda, o novo campeão brasileiro de Cup Tasters, no dia seguinte à competição para a Espresso. O Q-Grader da Região Vulcânica levou a melhor com sete acertos (de oito trios) em 4:32 minutos, na final da competição que aconteceu de 25 a 27 de novembro, em Varginha (MG), e foi realizada pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Ele representará o Brasil no mundial da categoria, que acontece de 26 a 28 de junho em Genebra, na Suíça. 

A final foi disputada com outros três competidores: Ellen Martins, de Ervália (MG), que representou a Coopercam e ficou em segundo lugar, Marcos Dominguito, de Varginha, da Unicafé, que finalizou em terceiro, e Felipe Lopes, de Natércia (MG), da empresa Fruto Mineiro Cafés Especiais, que ficou na quarta posição. “Foi uma honra ter participado do campeonato com grandes profissionais”, diz o campeão.

Da esquerda para a direita: Marcos Dominguito, Ellen Martins e Bruno Megda

Filho de produtores de café de Cabo Verde (MG), Megda está no mercado de cafés há 15 anos. “Minha expectativa é trabalhar para trazer novamente o título para o Brasil”, aposta ele, fazendo referência ao último mundial, conquistado pelo brasileiro Dionatan Almeida. “Embora a prova de xícara seja algo rotineiro para mim, quando se coloca em uma competição, o cenário muda”.

Sobre a preparação para a competição, ele destaca o autocontrole e o apoio de pessoas próximas. “O primeiro passo foi entender como funciona o campeonato, e aqui eu cito um amigo e ex-competidor, Rafael Monteiro, que esclareceu as dúvidas que eu tinha sobre o processo”, explica. “Replicamos o método em forma de treino em casa, todos os dias, durante um mês, com a ajuda da minha esposa Daniela, que me incentivou e esteve ao meu lado durante toda a jornada”, agradece.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO BSCA

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Último dia de Semana Internacional do Café só teve campeões

Saiba mais sobre as seis competições que fecharam o maior evento de cafés do país 

Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, no Caparaó (ES), levou o troféu COY de melhor café arábica

O Coffee of the Year, que está em sua 13ª edição, foi o grande destaque do dia e a premiação mais aguardada. Este ano deu novamente o estado capixaba no pódio do Grande Auditório, com as regiões Caparaó e Sul do Espírito Santo (clique aqui para ver os campeões). 

O concurso promove e valoriza os melhores cafés produzidos no país, e reconhece a excelência dos produtores nas categorias arábica e canéfora. Foram 570 inscrições de 13 estados, cujas amostras são submetidas à análise sensorial de Q-Graders e R-Graders licenciados pelo Coffee Quality Institute (CQI). Nessa fase, são selecionadas as 180 melhores amostras (150 de arábica e 30 de canéfora) que são oferecidas em rodadas de cupping para geração de negócios e degustação de visitantes. Além disso, os 10 melhores cafés arábica e os 5 melhores canéfora ficaram disponíveis para voto popular, em degustações às cegas, de onde saíram os dois campeões. 

Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro (ES), vencedor da categoria canéfora do COY 2024

Campeonato Brasileiro de Barista

Logo após a premiação do COY, saíram os resultados do Campeonato Brasileiro de Barista 2024. Desta vez, o título foi para Emerson Nascimento, do Coffee Five, do Rio de Janeiro, que levou a melhor após disputar a final com os baristas Daniel Vaz (2º colocado), Hugo Silva (3º colocado), Juliana Morgado, Giovanna Tonelli e Renan Dantas.

Agora, Emerson Nascimento se prepara para representar o Brasil no World Barista Championship, que será realizado de 17 a 21 de outubro de 2025, em Milão, Itália, onde enfrentará os melhores baristas do mundo.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista, com Hugo Silva em terceiro (à esq.), Emerson Nascimento em primeiro (centro) e Daniel Vaz em segundo (à dir.)

Espresso Design

A 6ª edição do concurso Espresso Design, que avaliou as melhores embalagens de café de 2024, abriu a tarde de premiações. Após dois dias de exposição das 20 embalagens finalistas na entrada da SIC, onde os visitantes puderam votar em sua favorita, o prêmio foi para o Café da Vaca, com a edição Serra da Canastra. O Café Bazilli, com o Dino Coffee, ficou em segundo lugar, e a Unique Cafés Especiais, com seu Reserva Especial Unique, em terceiro.

Com mais de 80 embalagens inscritas neste ano, o concurso avaliou, na sua primeira fase, aspectos como identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade, análise esta feita pela equipe da Espresso e por especialistas convidados – nesta edição, Camila Arcanjo, consultora para qualidade e certificações da ABIC, e a designer Luiza Kessler. 

Café da Vaca, eleita a melhor embalagem no concurso Espresso Design

Torrefação do Ano Brasil 2024

Na premiação Torrefação do Ano Brasil 2024, da Atilla Torradores, a campeã foi a baiana Café Gourmet CGP, torrefação da Fazenda Divino Espírito Santo, de Piatã. O segundo lugar ficou para o Café Bazilli, de Caconde (SP), e o terceiro para a torrefação Cafetto Company, de São José dos Campos (SP). O concurso, que destaca o trabalho das torrefações de qualidade de todo o país, teve 95 torrefações inscritas, de 18 estados. 

Campeonato Brasileiro de Blends de Café

Novidade na SIC, a final do 2º Campeonato Brasileiro de Blends de Café, realizado pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), premiou Pedro Mestrinier, da cooperativa Coocacer, de  Araguari (MG), e concedeu a segunda e a terceira colocação a Michele Loreto, da Global Way Importex, de Curitiba (PR), e Jovelino Maier, da Café Número Um, em Vitória (ES), respectivamente.

O campeonato promove o conhecimento na criação de blends de café, jogando luz sobre o trabalho de classificadores, degustadores e mestres de torra. É composto por quatro etapas (as três delas, estaduais), e promoveu a final no último dia da SIC. Os blends foram avaliados por um júri técnico a partir do Protocolo Brasileiro de Avaliação Sensorial de Cafés Torrados, desenvolvido pela associação. 

Concurso Florada Premiada

O Concurso Florada Premiada 2024, promovido pelo Grupo 3corações em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), reconheceu as melhores produtoras de cafés especiais do Brasil. Na cerimônia de premiação, que aconteceu pela manhã da sexta (22), a Denominação de Origem Matas de Rondônia destacou-se ao ocupar todo o pódio da categoria canéfora.

O primeiro lugar foi para Sueli Berdes, da Chácara Santo Antônio, seguida por Josiele Werneck, do Sítio Bella Vista, e Angélica Alexandrino, do Sítio São Sebastião. O concurso, que está em sua 7ª edição, valoriza o trabalho das mulheres na cafeicultura, promovendo a qualidade e a sustentabilidade na produção de cafés especiais. 

Concurso Florada Premiada 2024, realizado pelo grupo 3corações

Concurso NossoCafé Yara

Além do Concurso Florada Premiada, a SIC também foi palco do 8º Concurso NossoCafé 2024, promovido pela Yara, que consagrou campeões, na quinta-feira (21), a empresa Bioma Café, de Campos Altos (MG), na categoria café natural, e o produtor João Newton Reis Teixeira, de Santo Antônio do Amparo (MG), na categoria cereja descascado. A premiação incentiva a produção nacional de cafés de qualidade cultivados a partir de práticas sustentáveis e nutrição equilibrada. A etapa semifinal, feita por regiões, havia selecionado oito candidatos.

Finalistas do concurso NossoCafé 2024, da Yara, na SIC

A SIC é uma realização de Sistema Faemg, Espresso & Co., Sebrae e Governo de Minas Gerais. Tem o apoio institucional do Sistema OCEMG e patrocínio da CODEMG, 3corações, Nescafé, Nespresso, SICOOB, Yara, Melitta e Senar. O evento também conta com o apoio de ABIC, Abrasel, IWCA, Banco do Brasil, BSCA, Cecafé, Fecomercio, Fiemg, Ministério da Agricultura e Pecuária e Sindicafé-MG.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

A ciência na cafeicultura marca o segundo dia de SIC

A ciência, grande aliada da sustentabilidade, é tema de palestras e debates no evento

A ciência e seus aportes à cafeicultura deram o tom do segundo dia de palestras e painéis da 12ª Semana Internacional do Café, que termina nesta sexta (22), no Expominas, em Belo Horizonte. Não sem colocar em relevância a necessidade do trabalho conjunto dos agentes da cadeia e da multidisciplinaridade do conhecimento, ambos aspectos fundamentais para vencer os desafios das mudanças climáticas. 

“A ciência tem um poder de transformação gigantesco”, provoca Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e pioneiro nas pesquisas em de qualidade dos cafés Robusta Amazônicos, em depoimento à Espresso depois de mediar o painel “A força da ciência nas questões de clima, solo, variedades e consumo”. “Ela envolve tudo que é importante para a produção de cafés, desde commodities até especiais. Envolve questões de solo, de ambiente e de genética, e o domínio desses conhecimentos é importante para extrair o máximo para ter produtividade, qualidade e segurança alimentar”, explica ele,.

A potencialidade da cafeicultura brasileira em termos de tecnologia e ciência para o campo foram debatidos, de fato, ao longo do dia. O painel “Revolução verde: exemplos da nova economia sustentável”, destacou o sucesso na redução da pegada de carbono na cafeicultura em duas situações: em um estudo da potencialidade das práticas regenerativas (em comparação com a agricultura tradicional) em relação ao sequestro de carbono em conilons do Espírito Santo, e no desenvolvimento de um fertilizante verde pela empresa Yara, em parceria com a cooperativa Cooxupé (em Guaxupé, Sul de Minas), que reduziu em até 90% a pegada de carbono na cafeicultura – parceria, aliás, firmada na SIC, em 2022. “A SIC é como um hub, um laboratório de novos negócios, parcerias, inovação e sustentabilidade”, diz Natália Amoedo, fundadora da Pitah e mediadora do painel.  

Painel “Revolução verde: exemplos da nova economia sustentável”

Sustentabilidade essa cujos preceitos são rastreáveis no tempo, conforme mostra Eduardo Sampaio, consultor sênior da Plataforma Global do Café, que recorre à história da agricultura para abrir sua mediação na palestra “ABC do Regenerativo: fundamentos e retornos econômicos para o produtor”, e cuja conexão com a ciência é intrínseca. “Regenerar significa reconstruir”, ensina ele, que nos lembra que é preciso ter um pensamento “sistêmico” e multidisciplinar para encarar os desafios atuais na cafeicultura. “Não há como mudar as mudanças, mas há como minimizar seus impactos através da agricultura regenerativa, acoplada à ciência”, completa Alessandro Hervaz, vice-presidente da cooperativa mineira Coopervass, que há um ano criou o projeto Greencoffee, de práticas de cultivo responsável e que envolve 32 produtores de café. 

As práticas regenerativas são um caminho sem volta, como bem pontuou Adriano Ribeiro, coordenador de sustentabilidade da NKG Stockler, no mesmo painel. E “sua reconexão com a academia é um alicerce maior para as mudanças em vigor”, acredita. 

A agricultura regenerativa não é uma moda passageira. Ela está alicerçada na ciência, que produz dados robustos a seu favor – como os que embasam as falas dos palestrantes de que os que a praticam sofrem menos os desafios climáticos do que aqueles que seguem a agricultura convencional –, e suas práticas, separadamente ou em conjunto,  foram, por exemplo, adotadas rapidamente no Cerrado.

Apesar disso, ainda sofrem barreiras que precisam ser quebradas, e um dos caminhos é a informação correta, segundo Sampaio.  Além disso, a AR ainda não tem uma valoração específica, uma demanda dos produtores que a praticam há quase vinte anos. Isso será compensado em 2025, quando a Rainforest Alliance pretende lançar uma certificação para ela. “Teremos um módulo específico para AR”, promete Yuri Feres, diretor da Rainforest Alliance Brasil.  “Não há dúvidas científicas da resiliência dos cafés que têm práticas regenerativas”, reforça Ribeiro.  

Genética

Outra ferramenta fundamental para enfrentar os desafios climáticos é a genética. Embora com pouco apoio público financeiro – uma das grandes dificuldades das pesquisas nacionais em geral –, a ciência brasileira na área de cafés consegue avançar. É o que apresentaram os pesquisadores Alan Andrade e Luiz Filipe Pereira, da Embrapa Café, e Douglas Domingues, da Esalq, na palestra “Tecnologias genômicas e a transformação da produção de café”. Desde 2002, explicam os pesquisadores, projetos vêm estudando o genoma das duas espécies de café de valor econômico.

Painel “Tecnologias genômicas e a transformação da produção de café”, com os pesquisadores Douglas Domingues, Luiz Filipe Pereira e Alan Andrade

Em 2014, com colaboração internacional, foi desvendado o genoma completo do canéfora. Em 2024, o genoma da espécie arábica foi concluído. A importância disso? Acelerar o trabalho dos melhoristas do café, ajudando a desenvolver novas variedades tolerantes à seca, às doenças e que tenham qualidade sensorial acoplada a partir do uso de marcadores que auxiliam na “construção” de novas variedades. 

“A pesquisa científica está sempre antenada, e com muita antecedência”, lembra Pereira. “Temos referências em outros universos, como o do vinho, facilmente implementáveis no café, agora que temos genomas de referência”, completa Domingues. 

“Qualquer variedade pode entregar bebidas acima de 90 pontos”, garante o pesquisador de cafés especiais do IAC Gerson Giomo, às qualidades intrínsecas dos cafés. “Elas só precisam estar em ambientes favoráveis para expressarem seu potencial genético”, ensina Giomo, que pesquisa o assunto há anos. 

A ciência do solo também está na ordem do dia. Estudos recentes mostram que ele tem características “invisíveis” (referindo-se aos minerais que compõem a argila do solo), identificadas a partir de procedimentos magnéticos e que “impactam na capacidade das plantas em produzir cafés de qualidade”, diz o especialista em solos Diego Siqueira, CEO da Quanticum.

O segundo dia do evento, ainda, trouxe discussões sobre os recentes desdobramentos da EUDR no painel “Brasil e as novas regulamentações da UE: ameaça ou oportunidade?”, o lançamento da plataforma de rastreabilidade das IGs de café pelo Sebrae Nacional e do livro A revolução do café brasileiro – regiões com Indicação Geográfica, patrocinado pelo Sicoob.

Painel “Brasil e as novas regulamentações da UE: ameaça ou oportunidade?”

Se a plataforma – uma ferramenta de rastreabilidade das fazendas de café com IG a partir de tecnologias como blockchain e geolocalização – é, também, uma ferramenta de gestão, o livro explora, por meio de fotografias e textos em português e inglês, a cultura e o valor das 14 indicações geográficas brasileiras (não houve tempo de incluir a recente IP Chapada Diamantina) ao longo de mais de 250 páginas. 

“A obra traz uma abordagem do protagonismo do produtor e das regiões cafeicultoras com IG”, diz o editor Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, referindo-se aos textos que contam a história das regiões e de produtores e detalham as características de terroir e o perfil sensorial dos cafés. “Nossa expectativa é que esse livro seja uma ferramenta de promoção do café braileiro nas regiões com indicação geográfica”, diz ele. “É impossível vender o Brasil como um país único, sem apresentar essa diversidade de cafés”, acredita. 

Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado

A SIC é uma realização de Sistema Faemg, Espresso & Co., Sebrae e Governo de Minas Gerais. Tem o apoio institucional do Sistema OCEMG e patrocínio da CODEMGE, 3corações, Nescafé, Nespresso, SICOOB, Yara, Melitta e Senar. O evento também conta com o apoio de ABIC, Abrasel, IWCA, Banco do Brasil, BSCA, Cecafé, Fecomercio, Fiemg, Ministério da Agricultura e Pecuária e Sindicafé-MG.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

Primeiro dia de SIC debate clima e novos consumidores

O evento, que vai até sexta (22), destacou, também, a necessidade da união de toda a cadeia

Trabalho conjunto. Seja ele feito a partir da união de toda a cadeia, seja integrando olhares voltados à sustentabilidade, qualidade e valor, a expressão, quase um conceito na cafeicultura atual, permeou as palestras do primeiro dia da 12ª edição da Semana Internacional do Café. 

O evento, que acontece até sexta (22) no Expominas, em Belo Horizonte (MG), teve como tema central “Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café”. As questões sobre o clima alertaram para os desafios enfrentados pela cadeia cafeeira, mas, também, para possíveis soluções. “O Brasil não está conseguindo produzir café suficiente para atender a demanda, mesmo batendo recordes”, alerta o especialista Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria e há 40 anos no ramo do café, na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”. 

Haroldo Bonfá na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”

A questão diz respeito à conjunção desordenada de seca, geada e chuva tardias, tanto no Brasil como no âmbito global. “Acidentes climáticos vão continuar”, frisa Márcio Ferreira, CEO da Tristão. “E medidas isoladas não são a solução”, emenda Marco Valerio Brito, da Cocamig, no painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”. 

Segundo os palestrantes, porém, nunca o setor esteve tão unido. Um exemplo disso é o compartilhamento de sementes de uma nova variedade de arábica –, a star4 (com período menor de crescimento e alta tolerância à ferrugem) desenvolvida pela Nestlé depois de mais de dez anos de pesquisas –, com a cadeia produtiva. “Se antes praticávamos uma agricultura sustentável, hoje incentivamos uma agricultura regenerativa”, diz Valéria Pardal, CEO de cafés da Nestlé Brasil, que participou do mesmo painel, referindo-se aos cuidados com o solo, com a água e à preservação da biodiversidade. 

Painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”, com Marco Valério, Valéria Pardal, Marcio Ferreira e Adriana Mejía

Ao lado dos impactos fortíssimos do clima, que têm se refletido no mercado a “geografia de consumo” também vai mudar. “Rápida e drasticamente”, sentencia Ferreira. “E essa geografia vai demandar mais e mais produção, precisão de tecnologia, ciência e bom preço”, conclui.

Ferreira refere-se aos mercados emergentes. “Temos um potencial tremendo, pois somos competitivos em preço e em qualidade, e temos que valorizar isso nos mercados lá fora”, esclarece Bonfá, referindo-se não só aos mercados emergentes, como China e Índia, como uma oportunidade – são países populosos e que ainda bebem pouco café (a China, por exemplo, bebe 300 g de café per capita ao ano) – mas, também, à manutenção dos países já conquistados. Mas o trabalho, frisou ele, é longo. “Temos todo o espectro de café necessário”, reforça o especialista. 

Trabalho conjunto. Um dos resultados, sem o qual todo ele seria em vão, é o convencimento não só desses novos mercados, mas, também, das novas gerações, quanto ao valor de uma xícara de café brasileiro de qualidade. “A visão do futuro do café é gelada”, aposta Valéria, com relação às bebidas cold brew, segmento que alcançou um crescimento de 40% no último ano. 

É preciso, portanto, entender o consumidor, que tem sede de conhecimento, quer novas experiências mas, também, um café ESG. Rastreabilidade e corresponsabilidade são, assim, conceitos que estão na ordem do dia. 

“Não existe revolução verde no vermelho”, lembra Felipe Salomão. A mitigação da emergência climática e a manutenção e crescimento do mercado não funcionam de maneira isolada. “A agricultura regenerativa é sistêmica”, continua Salomão, gerente-sênior de assuntos públicos da Nestlé Brasil no painel “COP 30: e eu com isso?”. “É preciso gestão, de caixa, de sucessão, de financiamento”, continua. “A cafeicultura sustentável é de um difícil equilíbrio entre produção e sustentabilidade”, ecoa José Donizeti Alves, professor titular da UFLA, ao discorrer sobre o impacto do clima no café sob ambos os aspectos no painel “Desafio climático: seus impactos e soluções verdes para uma nova era sustentável”.

Trabalho integrado. Como converter, por exemplo, economia verde em valor? Este foi o tom de Daniel Vargas, professor da FGV RJ, durante o mesmo painel. São necessários movimentos globais, como as negociações da COP, em nível nacional, como os debates sobre o mercado de carbono, e os movimentos locais, nas trocas voluntárias de carbono. Uma verdadeira aula, difícil de reproduzir nesta síntese. Mas cuja reflexão é necessária e urgente. 

“O futuro é a integração entre saúde e bem estar, sustentabilidade e sabor”, reflete Stefan Dierks, diretor de estratégia de sustentabilidade do grupo Melitta da Alemanha, que abriu o painel “O impacto das megatendências no consumo de café. “E a única forma de alcançarmos isso é trabalhando juntos”.

A SIC é uma realização de Sistema Faemg, Espresso & Co., Sebrae e Governo de Minas Gerais. Tem o apoio institucional do Sistema OCEMGE e patrocínio da CODEMG, 3corações, Nescafé, Nespresso, SICOOB, Yara, Melitta e Senar. O evento também conta com o apoio de ABIC, Abrasel, IWCA, Banco do Brasil, BSCA, Cecafé, Fecomercio, Fiemg, Ministério da Agricultura e Pecuária e Sindicafé-MG.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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SIC é palco de premiações e empreendedorismo

A Semana Internacional do Café, que começa nesta quarta (22), prevê gerar R$ 60 milhões em negócios

A Semana Internacional do Café (SIC), que começa nesta quarta-feira (20) em Belo Horizonte e é, tradicionalmente, um ponto de encontro para profissionais e empresas do setor cafeeiro no Brasil e na América Latina, também tem se consolidado como um polo estratégico para a geração de negócios, networking e desenvolvimento do mercado. 

O evento, que vai até sexta (22) traz uma agenda repleta de rodadas de negócios, palestras, feiras e concursos, numa plataforma única para conectar empreendedores e executivos a tendências e tecnologias emergentes, impulsionando a competitividade e a sustentabilidade do setor. É um evento essencial para quem busca não apenas expandir suas operações, mas também fortalecer suas redes e explorar oportunidades no mercado cafeeiro nacional e internacional.

Um dos melhores exemplos dessas oportunidades é a 13ª Coffee of the Year 2024, uma celebração que exalta a excelência e a diversidade dos cafés brasileiros, e gera impacto direto no mercado. A seleção dos 10 melhores produtores de arábica e dos cinco melhores de canéfora, feita pelo voto dos visitantes, impulsiona o trabalho dos finalistas, facilitando o acesso a novos mercados e consolidando a presença dos cafés brasileiros em mercados já existentes. 

Esse reconhecimento agrega valor aos cafés não só dos produtores premiados, mas de toda a região, e abre caminho para parcerias e negociações que fortalecem todo o ecossistema. 

Os cafés foram avaliados inicialmente por profissionais Q-Graders e R-Graders, que selecionaram as 180 melhores amostras para serem apresentadas ao público da Semana Internacional do Café. Esses cafés estarão disponíveis em duas salas de cupping, onde compradores e visitantes poderão provar e negociar diretamente com os produtores, criando um ambiente propício para novos negócios.

Novos negócios também acontecem entre os mais de 170 expositores distribuídos por todo o pavilhão da Expominas, que vão mostrar seus produtos, lançar novidades e apontar tendências. A estimativa para esta edição é movimentar cerca de R$ 60 milhões. 

Conectar-se com compradores é, também, um dos principais objetivos das regiões produtoras, que se organizam em estandes para oferecer degustações e informações sobre seus melhores produtos. A SIC, portanto, funciona como uma vitrine estratégica, capaz de abrir portas para novos mercados e oportunidades de negócios, além de impulsionar o desenvolvimento econômico e sustentável de cada território representado.

“A SIC é um importante evento para aproximar os produtores rurais, grandes responsáveis por essa liderança, e os demais elos do setor. Essa conexão viabiliza um terreno propício para parcerias e bons negócios e mostra ao consumidor final a qualidade e a importância dos nossos cafés”, destaca Antônio de Salvo, presidente do Sistema Faemg Senar, uma das entidades realizadoras. 

Oportunidades de negócios serão tratadas, também, em palestras durante a SIC. Uma das mais aguardadas será ministrada pelo especialista Haroldo Bonfá, diretor e consultor da Pharo Consultoria, que vai discorrer sobre o tema “Cenários e perspectivas do mercado de café”. Entre os assuntos abordados na palestra estão a abertura de novos mercados, dados sobre exportação para outros países, denominações de origem e novos consumidores. 

“Os números recordes nas exportações e a abertura de grandes mercados, como a China, são prova de que investir em tecnologia, inovações, assistência técnica e equilíbrio com o meio ambiente dá resultados. E a SIC é uma vitrine de tudo isso”, afirma o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo de Minas Gerais, Thales Fernandes.

Premiações

Além do COY, outras premiações acontecem no evento e são, sempre, uma celebração do trabalho de todos os elos da cadeia. Em sua 6a edição, o concurso Espresso Design tem o objetivo de avaliar e premiar as melhores embalagens de café de 2024, reconhecendo o compromisso das marcas de café que investem em comunicação e que impactam, diretamente, a maneira como o café de qualidade chega ao consumidor. 

Foram mais de 80 embalagens, avaliadas pela Equipe da Espresso e por especialistas convidados nos quesitos identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade. Destas, surgiram as 20 embalagens finalistas, que nos dois primeiros dias de SIC, ficarão expostas e receberão os votos dos nossos visitantes. 

A grande final da competição Torrefação do Ano Brasil 2024, organizada pela Atilla Torradores e com o apoio da SIC, vai acontecer, pela segunda vez, no último dia do evento. Dentre as 20 torrefações finalistas, de mais de 18 estados inscritos, só uma leva o troféu.  

A SIC também é palco do Campeonato Brasileiro Blends de Café, uma realização da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). 

O campeonato, que está em sua segunda edição, promove e fomenta o conhecimento em torno da criação de blends de café, um saber fundamental para o trabalho das torrefações brasileiras. O resultado será conhecido, também, na sexta (22).

Por fim, a agitação do último dia ainda conta com a revelação do vencedor do Campeonato Brasileiro de Barismo, promovido pela BSCA e que acontece nos três dias de SIC. O campeão brasileiro irá representar o Brasil no campaonato mundial da categoria, que acontece em 2025 na Itália. 

Um tributo às regiões brasileiras

Uma obra completa sobre as indicações geográficas (IGs) terá seu lançamento na SIC. A Revolução do Café Brasileiro: Regiões com Indicação Geográfica reúne 14 regiões produtoras de café do Brasil. A obra explora as características de cada uma das áreas, com suas particularidades, métodos de cultivo e processamento dos cafés, além de incluir perfis sensoriais dos grãos. 

O livro surgiu da necessidade de oferecer uma visão abrangente da cadeia produtiva brasileira, desde a plantação até seu consumo. O Sicoob, instituição financeira cooperativa, é patrocinador da obra, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.  

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Lei Antidesmatamento é adiada por um ano no parlamento europeu

O Parlamento Europeu aprovou, nesta quinta (14), o adiamento de um ano para a entrada em vigor da lei antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês). Foram 371 votos a favor, 240 contra e 30 abstenções. Agora, só falta o texto ser endossado pelo Conselho e pelo Parlamento e publicado no Jornal Oficial da UE.  

A votação fez com que grandes e médias empresas entrem em conformidade com as regras da EUDR até 30 de dezembro de 2025, enquanto pequenas empresas têm até 30 de junho de 2026 para se adequar a elas. 

Além disso, o Parlamento Europeu criou uma nova categoria, denominada “sem risco”, para países considerados como de desenvolvimento de área florestal estável ou crescente, que, consequentemente, passarão a enfrentar requisitos menos rigorosos do que as categorias já existentes (risco “baixo”, “padrão” e “alto”).

Em outubro, a Comissão Europeia havia proposto o adiamento de 12 meses, após reclamações de um grupo de 20 países da UE, algumas empresas e países fora da UE, como Brasil, Indonésia e Estados Unidos.

Porém, não foram propostas alterações no conteúdo da lei, posição esta apoiada pelos governos da União Europeia. Segundo a agência de notícias Reuters, a votação apertada do parlamento para adicionar a nova categoria de países “sem risco” aumenta a incerteza sobre a regulamentação da  EUDR. 

A EUDR (European Union Deforestation Regulation) é uma regulamentação da União Europeia que visa combater o desmatamento global associado a sete produtos importados, como o café. Ela exige que empresas que importam para a UE comprovem que esses produtos não estão ligados ao desmatamento, nem ao uso de terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020. 

TEXTO Redação • FOTO Simon Gibson

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Brasil vence o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy

É a segunda vez consecutiva que o país é eleito na categoria Best the Best, desta vez, com a Fazenda Serra do Boné, nas Matas de Minas

O café despolpado da Fazenda Serra do Boné, de Matheus Lopes Sanglard, ganhou ontem, em Nova York, o prêmio Best of the Best, distinção concedida pela illycafè no âmbito do 9o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. O café campeão é um despolpado produzido em Araponga, nas Matas de Minas.

É a segunda vez consecutiva que o Brasil vence o prêmio da torrefadora italiana, que já existe há trinta anos e elege os melhores cafés sustentáveis entre seus fornecedores pelo mundo. A fazenda, que fornece grãos para a illy desde 2013, fica entre mil e 1,4 mil metros de altitude, em área montanhosa, o que exige colheita manual ou semimecanizada dos grãos. 

Os irmãos Sanglard, no recebimento do prêmio nesta quarta (12), em Nova York

O prêmio tem um painel independente de nove especialistas – este ano, contou com o estrelado chef italiano Massimo Bottura, da Osteria Francescana, em Módena –, que avaliaram os melhores lotes de café entre as nove origens únicas do blend da illycaffè. Além do Brasil foram avaliados cafés de Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda. Participaram do júri, também, Felipe Rodrigues, chef do Complexo Rosewood, em São Paulo, e Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). 

 Outro prêmio, o Coffee Lovers’ Choice, ficou para o SMS Cluster ECOM, da Nicarágua. O Coffee Lovers’ Choice, como já sugere o nome, é resultado da votação dos consumidores pelo mundo que, semanas antes da premiação, provaram às cegas as mesmas amostras.

Práticas regenerativas 

“Nossas práticas agrícolas respeitam o meio ambiente”, afirmou Matheus Sanglard, em comunicado oficial da illy. Na Fazenda Serra do Boné, o uso de fertilizantes orgânicos, controle biológico e reutilização dos produtos de processamento (como a palha do café) preservam a saúde do solo, a biodiversidade e as fontes de água. Fazemos o plantio do café de forma a minimizar o impacto ambiental, utilizando roçadas ou capinas no lugar de herbicidas sempre que possível e realizando pulverizações contra doenças e pragas apenas quando necessário, de forma pontual”.

Para Andrea Illy, presidente da illycaffè, a empresa está “mais uma vez, notando sinais importantes que confirmam como a agricultura regenerativa é o caminho certo para uma produção mais resiliente, capaz de garantir produtividade e qualidade superior”.

No mesmo dia do evento, na sede das Nações Unidas, em Nova York, representantes de toda a cadeia de fornecimento do grão reuniram-se para a mesa redonda “Aliança Global do Café: Mobilizando um Fundo Público-Privado para Combater as Mudanças Climáticas”, que explorou iniciativas para promover a produção sustentável de café diante dos desafios climáticos.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Feira é vitrine para cafeicultores na SIC

Cafés premiados são destaque nos estandes de regiões produtoras, que promovem a diversidade da bebida com degustações e muita história para contar

Não faltarão regiões produtoras de café de qualidade para os apreciadores conhecerem durante a Semana Internacional do Café, que acontece de 20 a 22 de novembro no Expominas, em Belo Horizonte (MG). Se o tema das origens produtoras, escolhido como mote do evento de 2023, reforçou a sustentabilidade e a qualidade dos cafés, nesta edição, vários estandes continuam a pavimentar esse caminho com mais experiências sensoriais e informativas em torno do grão e suas singularidades. Desde 2013 – quando se deu o primeiro evento em solo mineiro –, é a edição com mais regiões produtoras, distribuídas em espaços específicos ou representadas por meio de cooperativas. Estarão lá municípios e cafeicultores da Bahia, Espírito Santo, Ceará, Rondônia, Acre, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Estreia

Novidade este ano, o estande dos robustas do Acre apresenta os 15 produtores melhor posicionados no concurso de qualidade II Qualicafé Estadual de Cafés Especiais. “A participação na SIC é a virada de chave para os produtores e o estado”, comemora Michelma Lima, coordenadora do núcleo da cafeicultura da Secretaria de Estado da Agricultura.

Produtora Eliane Lara, de Acrelândia, finalista do Florada Premiada e que estará no estande dos robustas do Acre

Num espaço de 47 m2, esses produtores e produtoras – estas, ainda, finalistas entre as vinte melhores do concurso Florada Premiada, promovido pela 3corações e cuja premiação acontece no terceiro dia do evento – estarão apresentando seus grãos aos visitantes, auxiliados por três baristas. Brasileia, Acrelândia e Epitaciolândia são alguns dos municípios representativos dos grãos da tríplice fronteira acreana. “O objetivo é promover a marca dos cafés do Acre, pois, apesar da pouca área produtiva e da pequena quantidade, temos qualidade”, assegura Michelma, referindo-se às mil famílias cafeicultoras e aos cerca de mil hectares plantados no estado. “Com a cafeicultura, estamos recuperando áreas antropizadas, degradadas”, conta ela – o Acre preserva mais de 80% de suas florestas.

O município do Alto Caparaó, que há anos participa do evento, também estará bem representado. Em uma área de 24 m2, cerca de 20 cafeicultores do município mineiro vão servir seus cafés – quase todos eles premiados, como os dez melhores do ano do 11º Concurso de Qualidade dos Cafés Especiais de Alto Caparaó e quatro vencedores do COY (Coffee of the Year), premiação criada pelos realizadores da SIC e que elege, desde 2012, os melhores arábicas e canéforas do país. 

Imagem de lavouras de café do Alto Caparaó

Mais premiados

Cidade cuja principal renda é a cafeicultura e o turismo, o Alto Caparaó venceu o COY pela primeira vez em 2014, e tem, entre os 150 finalistas de cafés arábica da atual edição, oito representantes. “O COY foi o primeiro concurso do qual participamos. Desde então, nossos cafés especiais têm ganhado notoriedade”, comemora Ramiro Horst de Aguiar, secretário de turismo e cultura do Alto Caparaó. “Para o município, a SIC é uma grande vitrine para os nossos cafés”, acredita Aguiar.

“Queremos levar a identidade territorial e cultural da cidade”, emenda Andyara Machado, Secretária de Turismo e Cultura da Prefeitura Municipal de Caparaó. Caparaó, que assim como a cidade de Ramiro, está inserida em duas indicações geográficas (denominação de origem Caparaó e indicação de procedência Matas de Minas), participa pelo segundo ano do evento com 12 produtores, degustações e comercialização dos cafés, também conhecidos nacionalmente. “Sabemos que nossos cafés são mais que meros pontos de encontro, são momentos de partilha”, acredita Andyara, que vê na SIC, ainda, um fator determinante na comercialização dos grãos mineiros.

Estande do Caparaó na Semana internacional do Café 2023

Com mais de 300 produtores, o estande da Região do Cerrado Mineiro, primeira denominação de origem de cafés no Brasil, participa pela sétima vez da SIC. “É importante estar no evento pois encontramos o público torrefador e o público consumidor, inclusive internacional”, destaca Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. “Além disso, há a exposição da nossa denominação de origem, da nossa marca, da nossa estratégia”, completa Tarabal, citando a integração da promoção da federação pela presença de seis cooperativas e sete associações no espaço, de 80 m2. Degustações dos nove melhores cafés da safra e dos dois campeões do COE (Cup of Excellence) dividirão as atenções com outras atividades, como o game Cerrado The Wall, instalado numa das paredes do estande, com direito a camisetas e pulseiras para os vencedores do jogo.

Muitos e melhores

“Sentimos uma grande necessidade de explorar nossa marca no evento, que é um dos maiores do mundo”, elogia Klayrton Alves de Souza, secretário de comunicação da prefeitura de Manhuaçu, município no leste mineiro cuja maior riqueza também é o café – 83% oriundo de agricultura familiar. Com o estande e uma segunda participação consecutiva na SIC, o município espera fomentar a marca cafés de Manhuaçu. O estande vai ser temático, com foco no 11º Concurso Municipal de Qualidade de Café. Os produtores premiados vão estar ali, e os cafés campeões serão servidos por baristas. Ilustrações que remetem às lavouras de café locais e ao Castelo do Café, importante atração turística, decoram o espaço de Manhuaçu, que na última safra produziu 565 mil sacas de café, em uma área de 24 mil hectares.

A SIC também faz parte da história de evolução da cafeicultura em Rondônia, que marca presença novamente com um estande dedicado aos robustas amazônicos. “Iniciamos nossa participação como expositores em 2016 e, no início, causamos estranheza”, relembra o pesquisador da Embrapa Rondônia Enrique Alves, que está entre os organizadores da caravana de 60 expositores até a capital mineira, a maioria deles, cafeicultores da denominação de origem Matas de Rondônia. 

Foto: Gustavo Baxter/Semana Internacional do Café

“Este ano somos muitos e melhores. Nossos cafés nunca beberam tão bem, os preços nunca estiveram tão altos”, comemora Alves. A celebração aos cafés, inclusive, se estende no espaço da feira com o animado nome “Its gonna be SIC!”, um happy hour em que os inscritos terão oportunidade de degustar “robustas reserva” – cafés que aprimoraram sensorialmente ao longo dos anos –, acompanhados de meis oriundos de abelhas das lavouras cafeeiras, cookies feitos com farinha de casca de café e drinques à base da bebida. “A SIC é nosso lugar de pertencimento”, alegra-se Alves. “Os jornais, tvs e sites já ficam em expectativa para saber qual cafeicultor de Rondônia será destaque no COY”, relata. 

Histórias e aprendizado

A SIC permite que os profissionais e entusiastas conheçam não apenas os sabores do café, mas as histórias e os desafios de quem está por trás de cada grão. Num estande com três balcões, nove produtores de Espera Feliz (MG) se revezam no serviço de seus cafés, coados e no método espresso. Os cafés de mais de uma dezena de produtores também serão vendidos ali. A expectativa é grande. “Participar do evento é dar visibilidade às histórias, aos produtores e suas propriedades. É o momento de celebrar e destacar aqueles que fazem toda esta história acontecer”, reforça Mariana Aparecida Correia, secretária de agricultura do município, que, assim como Alto Caparaó e Caparaó, situa-se na área delimitada pela DO Caparaó e pela IP Matas de Minas. Este ano, Espera Feliz pretende colher 228 mil sacas dos 9,5 mil pés em produção. “Nossa economia gira em torno do café”, arremata Mariana. 

Piatã – que acaba de entrar para o rol das IGs como um dos sete municípios da indicação de procedência Chapada Diamantina, na Bahia –, também estará no evento. Seu representante oficial é o produtor Euvaldo José da Costa Jonis, da Fazenda Riacho da Tapera. Jonis estará na SIC em nome dos 55 associados da Coopiatã, a cooperativa local, que inclui produtores também dos municípios de Abaíra e Rio de Contas. No espaço destinado à cooperativa, serão servidos blends próprios das linhas gourmet e especial. “Encontramos na SIC todas as pessoas do universo do café. É uma oportunidade para visitar outras regiões e aprender um pouco”, conclui Jonis.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Café ganha transporte em navio movido à vela e a energia solar

Uma remessa de café brasileiro especial começa a ser embarcada nesta segunda-feira (11) no Porto de São Sebastião, com destino a Le Havre, na França. Serão 588 toneladas de grãos, cultivados com práticas sustentáveis em várias regiões do Brasil. A novidade? O transporte será feito pelo cargueiro à vela Artemis, uma embarcação de tecnologia sustentável recém-construída na França.

A operação, conduzida pela Seaforte em parceria com a FAFCoffees, a Belco e a TOWT, marca a primeira exportação de café especial para a Europa utilizando um navio sem motor, movido apenas por velas e energia solar, sem emissão de carbono. Ao todo, serão 700 pallets com 14 sacas de café em cada, totalizando 9.800 sacas.

Além do café verde – que será torrado e moído na Europa para atender à crescente demanda por produtos de alta qualidade e rastreabilidade ambiental –, também serão embarcados pallets com sementes de cacau brasileiro, destinados à indústria de chocolates.

Transporte sustentável e impacto ambiental

O transporte à vela integra uma cadeia sustentável, onde o próprio modal marítimo contribui para a redução de emissões de poluentes. O café brasileiro, cultivado sob rígidos padrões de sustentabilidade, encontra agora um transporte igualmente responsável, reforçando o compromisso ambiental em todas as etapas.

Sobre o navio Artemis

Com 81 metros de comprimento e 12 de largura, o Artemis tem uma viagem estimada em 20 dias até a França e contará com uma tripulação de pelo menos oito pessoas. A embarcação chega ao Porto de São Sebastião nesta segunda-feira (11), com a partida rumo à Europa programada para quinta-feira (14), às 12h.

TEXTO Redação / Fonte: Radar Litoral