Mercado

ENCAFÉ 2025, que começa na terça (23), discute futuro da indústria com sustentabilidade e inovação

A 30ª edição do Encontro Nacional do Café (Encafé), promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), acontece de 23 a 25 de abril, no Royal Palm Hall, em Campinas (SP), com expectativa de reunir cerca de 3 mil participantes. O evento, que celebra três décadas de história, ganha novo formato e traz uma programação robusta, com mais de 50 palestrantes, experiências sensoriais, competições e debates estratégicos para o setor cafeeiro.

Além de painéis e workshops, o Encafé sediará a etapa Campinas/São Paulo do Campeonato Brasileiro de Blends e a segunda edição da Olimpíada do Café, que reunirá os 20 melhores profissionais do país em provas de conhecimento, preparo e avaliação sensorial.

Destaques da programação

Entre os temas centrais está as tendências globais e práticas inovadoras no setor cafeeiro, com nomes como o economista e diplomata Marcos Troyjo, e o presidente da NCA (National Coffee Association dos EUA), William (Bill) Murray, que apresentará um panorama do mercado norte-americano. A pauta de sustentabilidade será tratada pela especialista da KPMG Brasil Nelmara Arbex, com a palestra Desmistificando o ESG.

O evento também abordará o futuro do marketing e do consumo com painéis como Café sem fake, que une ciência e comunicação, e Desmarketize-se, com o ex-VP de Marketing do McDonald’s, João Branco. A palestra “O empreendedorismo muda o mundo”, com Wilton Bezerra (Cheirin Bão), e a fala de João Galassi, presidente da ABRAS, sobre o varejo no Brasil, completam o bloco de destaques.

Entre as novidades desta edição estão a assinatura de um termo de parceria entre a ABIC e a IWCA Brasil (Aliança Internacional das Mulheres do Café), durante o painel “Mulheres do Café – Liderança e Empreendedorismo”, que contará com lideranças femininas de destaque no setor.

Outra novidade estará no painel sobre sustentabilidade, que traz o lançamento de um aplicativo inédito que simula a pegada de carbono do café torrado, fruto de estudo conduzido pela TSW Consultoria e pela ABIC.

O evento também reafirma seu compromisso ambiental com a neutralização de emissões de carbono, em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), com o plantio de árvores em Niquelândia (GO).

30º Encontro Nacional do Café (Encafé)
Quando: 23 a 25 de abril de 2025
Onde: Royal Palm Hall – Campinas (SP)
Inscrições: encafe.com.br

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

O café e os limites de uma economia dolarizada

Em pouco mais de uma semana, tivemos quatro fatos importantes em todos os países latino-americanos onde se debate ou já se implementa a economia dolarizada. A reeleição do empresário liberal Daniel Noboa no Equador, o anúncio do retorno da presença militar norte-americana no Canal do Panamá, o final do controle cambial de Javier Milei na Argentina e a recepção na Casa Branca de Nayib Bukele, presidente salvadorenho, alçado à categoria de grande aliado dos Estados Unidos. 

Na esteira da campanha pela dolarização da economia argentina com Javier Milei, das tarifas de importações de Donald Trump e do cenário econômico interno brasileiro, com desvalorização do real e alta da inflação, já há quem questione como seria o impacto, na economia do café, do aumento de países dolarizados. Seria esta uma alternativa para o descontrole inflacionário? Aumentaria a integração com a economia norte-americana? Seria viável no Brasil?

O governo do ultra-liberal Javier Milei na Argentina completou um ano. Eleito como um outsider, anti-sistema e representante da nova extrema direita sul-americana, ele declarou durante a campanha que uma das principais medidas, caso fosse eleito, seria a de dolarizar a economia argentina. 

A medida seria uma tentativa de colocar um freio na inflação galopante, ajudar no pagamento da altíssima dívida externa e trazer estabilidade econômica. Por outro lado, os críticos da dolarização apontam que esta seria uma medida desesperada e populista, onde os países perdem autonomia, delegando ao Banco Central dos Estados Unidos as próprias decisões de política econômica. 

Ainda, os países dolarizados perderiam o controle cambial e a capacidade de liquidez para, possivelmente, auxiliar instituições financeiras necessitadas de apoio. 

Com tal proposta na mesa da presidência do nosso maior vizinho, seria natural que algumas sugestões e divagações aparecessem do lado brasileiro. Como todo tema político e econômico recente, ainda mais envolvendo o presidente Javier Milei, o debate tem sido polarizado. Mas o que isso significaria, na prática, para a agricultura brasileira? Como o produtor seria afetado caso isso ocorresse? 

Por isso, aproveito a oportunidade de que, neste ano de 2025, dois produtores de café da América do Sul completam 25 anos de dolarização. Existe ainda um terceiro caso, o Panamá, passível de abordagem na cafeicultura, mas o país possui uma economia dolarizada desde sua independência, 121 anos atrás, e, portanto, não seria um exemplo representativo como os outros.

Começando pelo caso mais representativo, El Salvador já chegou a ser um dos maiores produtores de café do mundo no final do século XX, mas, nas últimas décadas, enfrentou uma queda acelerada na produção de café e perdeu protagonismo para seus vizinhos. No final do século, o país viveu crises inflacionárias, aumento da violência e instabilidade política. Depois da adoção da moeda estadunidense, a economia estabilizou-se, chegando até mesmo a um ponto de estagnação. A criação de empregos também emperrou e o país perdeu muita mão de obra jovem, rural e masculina, principalmente para os Estados Unidos. Além disso, as remessas de dólares provenientes dos imigrantes resultaram em menor efetividade, já que os destinatários das remessas também passaram a gastar em dólar. 

Do lado das contas públicas, o saldo não foi extremamente positivo: se por um lado, a dívida pública de El Salvador passou a ser melhor controlada, o país, que já possuía pouca competitividade e eficiência, tornou-se pouco atrativo e caro para o investimento estrangeiro. El Salvador perdeu protagonismo para seus vizinhos, produzindo hoje menos café do que todos eles. Segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC), na última safra antes da aprovação da dolarização (1999-2000), o país colheu 3,5 milhões de sacos de café. Hoje, tem dificuldades em produzir 0,5 milhão. De lá para cá, a indústria cafeeira perdeu mais de 70 mil empregos e lembra, com nostalgia, da época em que o café era responsável pela metade do produto interno bruto do país. 

Enquanto isso, no Equador, a situação parece menos dramática, mas, ainda assim, desalentadora. Em um contexto similar, o país viveu, literalmente, uma erupção de problemas no final dos anos 1990, envolvendo crise econômica e política, além das consequências da erupção do vulcão Pichincha, situado a apenas alguns quilômetros do centro de Quito. A erupção forçou uma evacuação em massa da população e culminou com pedidos da sociedade por mudanças significativas e imediatas na política.

Uma das sugestões de mudança econômica foi o abandono da moeda e a adoção do dólar como divisa oficial. O que foi prontamente atendido por um governo que buscava uma resposta simples, fácil e rápida para todos os problemas econômicos. De lá para cá, a economia se estabilizou, bem como a inflação e a taxa de desemprego. 

Porém, no campo do café, o Equador ainda não decolou. Mesmo sendo o único país sul-americano que, ao lado do Brasil, consegue ter um fluxo de produção estável e operante tanto na produção de canéfora como de arábica, o país continua estagnado na casa das 400 mil sacas de cafés produzidas.

O caso panamenho é um pouco distinto, já que desde a sua independência da Colômbia, em 1903, o país possui uma moeda nacional automaticamente atrelada ao dólar: o balboa. Mas, mesmo assim, muitas das características econômicas encontradas nos outros países citados se encontram no território do canal: baixa inflação e dívida controlada, porém, pouca competitividade, ineficiência e falta de atrativos para investimentos estrangeiros.

O crescimento, nos três casos, é naturalmente baixo, e existe pouca margem de manobra para a criação de empregos. Tanto que, em todos estes países, a migração de população jovem, especialmente rural e masculina, ainda é preocupantemente alta, resultando em falta de mão de obra no campo. 

De todo modo, a transição para o dólar é sempre muito difícil, mesmo para economias pequenas. Ao contrário de todos eles, a Argentina é parte do G20, grupo das vinte maiores economias do mundo, e possui 54 milhões de habitantes, o que faria a conversão ao dólar uma tarefa muito mais complexa e demorada do que a dos outros casos citados. 

E, ainda, com um agravante: o país ser dependente da exportação de matérias-primas concorrentes dos Estados Unidos (trigo, carne, soja, petróleo etc.). Logo, a conversão, que já seria muito difícil de ser realizada, ganha ares absurdos, já que o país não possui dólares nem para pagar as próprias e, ainda, estaria concorrendo diretamente com os Estados Unidos, usando a moeda norte-americana em setores em que os estadunidenses são bastante eficientes. 

Dolarizar uma economia é simples de dizer, e muito difícil de fazer. Não à toa é sempre sugerida por populistas de propostas fáceis e superficiais. Em todos os casos, existiram ganhadores e perdedores, pontos positivos e negativos para a economia do país. No entanto, fica evidente que a produção de café, em todos os casos citados, esteve do lado perdedor. Não há evidências de que seria diferente por aqui. Lembrando ainda que, no caso salvadorenho, dada a atual decadência da produção local, podemos dizer que a dolarização pode ter sido ainda mais devastadora para a cafeicultura do que os treze anos de guerra civil. 

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva

Cafezal

Flores de conilon podem virar chá e diversificar a renda do cafeicultor, aponta estudo

Pesquisa brasileira publicada na revista Foods revela o potencial sensorial e funcional das infusões feitas com flores desta variedade de Coffea canephora, ricas em compostos bioativos

As flores de café da variedade conilon são uma matéria-prima promissora para a produção de infusões, segundo estudo brasileiro publicado na revista científica Foods de março (a referência completa ao trabalho está no final da reportagem).

O estudo – que analisou flores secas de seis genótipos diferentes de conilon e que é um dos primeiros do gênero – chegou a resultados que apontam para o potencial sensorial e funcional da infusão das flores desta variedade de canéfora. “As infusões possuem aroma e sabor extraordinários, e, portanto, tem potencial para ser usado para um chá de ótima qualidade”, diz o engenheiro agrônomo Fábio Luiz Partelli, doutor em produção vegetal e um dos autores do estudo.

Muitos compostos que impactam o aroma e o sabor do café também trazem benefícios para a saúde, podendo ajudar na prevenção ou tratamento de doenças (os denominados compostos bioativos). São eles a cafeína, a trigonelina e os ácidos clorogênicos (AGC) – estes últimos, um subgrupo dos ácidos fenólicos – que funcionam como antioxidantes e têm ações antiinflamatórias.

Na pesquisa, os cientistas identificaram 38 compostos orgânicos voláteis  – responsáveis por aromas como amadeirado, herbal e floral — nas infusões (nas flores secas, este número salta para 85), e um menor teor de cafeína, se comparado ao teor encontrado nos grãos do café. Esses teores, porém, variaram de acordo com o genótipo da flor, mas, em geral, foram bem extraídos e em quantidade substancial.

De acordo com os autores do artigo, o estudo se insere num contexto de busca crescente por novos produtos alimentares de origem vegetal e um interesse cada vez maior por subprodutos do café. Por isso, abrem caminho não só para a diversificação da cadeia cafeeira, mas, também, para o aproveitamento de subprodutos dela, geralmente descartados.

“Estamos há anos estudando a diversidade do café conilon, considerando a parte agronômica, como produção, tolerância e rendimento”, explica Partelli, que trabalha no Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), e que compartilhou seu desejo de investigar a diversidade química da variedade com colegas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Essa equipe do Rio fazia alguns trabalhos com chá, daí conversamos e vimos que seria bacana estudar esse potencial em flores de canéfora”, diz ele.

Partelli – que desconhece qualquer produção comercial de infusão de flores de canéfora – acredita que a bebida pode ser mais uma fonte de renda para o produtor, principalmente se ele estiver envolvido com turismo rural. “Quem sabe um dia podemos exportar chá de flores de café para a China ou a Inglaterra”, diz ele.

O pesquisador reforça, porém, que o trabalho é inicial, e há alguns desafios a vencer, como definir os melhores genótipos (clones), a melhor temperatura e tempo de secagem das flores, a embalagem e principalmente, os desenvolvimentos necessários para transformá-lo num produto.

Para saber mais:

Juliana de Paula, Sara C. Cunha,Fábio Luiz Partelli, José O. Fernandes and Adriana Farah. “Major bioactive compounds, volatile and sensory profiles of Coffea canephora flowers and infusions for waste management in coffee production”. Foods, 14(6), 911.

TEXTO Redação

Cafeteria & Afins

Café Cultura – São Paulo (SP)

A rede catarinense de cafeterias Café Cultura chegou à capital paulista no segundo semestre de 2024 e já conta com duas unidades – mas os planos de expansão para os próximos meses não param por aí. A loja mais recente, aberta no bairro Vila Nova Conceição em fevereiro, tem espaço aconchegante e traz a tradicional decoração acolhedora do Café Cultura, com detalhes em tons alaranjados e os lustres feitos com as sacas de café.

A Espresso visitou a casa em uma manhã de sexta-feira. Para aproveitar o dia ensolarado, nossa equipe escolheu sentar-se nas mesas externas. O atendente nos entregou os cardápios e indicou que os pedidos eram feitos no balcão. O menu é extenso e contempla refeições para todos os momentos, de croissants e omeletes a sanduíches, sopas e pratos para almoço.

As escolhas foram misto quente e ovos mexidos com bacon, acompanhados do café coado, que chega em uma térmica e serve duas pessoas. O misto quente é generoso, com duas camadas de recheio, na temperatura adequada. O prato estava bem executado, com os ovos no ponto certo, bacon crocante, salada fresca e queijo derretido. A manteiga President de acompanhamento é um cuidado a mais na entrega do prato. As duas escolhas harmonizaram bem com o café coado, de perfil básico e doce, feito com um blend da casa (bourbon amarelo, catuaí vermelho e icatú amarelo, todos com processamento cereja descascado).

Outra pedida foi uma torta de biscoito belga, feita com café solúvel e coberta com chocolate meio amargo. A sobremesa estava doce na medida certa, com sabor presente de canela, mas sem traços do café.

Para finalizar a refeição, um matcha iced latte, uma bebida agradável e equilibradamente gelada, e duas opções de café: o blend da casa extraído no espresso – de corpo médio, notas doces de caramelo, chocolate e castanha e toque de frutas amarelas –, e o peaberry (mokinha, de processamento cereja descascado) feito na v60, com leves notas de frutas vermelhas, que poderiam aparecer mais se a bebida fosse mais concentrada.

Quem quiser pode levar para casa os cafés servidos, bem como métodos de preparo e acessórios, expostos em prateleiras no salão. Mais um serviço que torna o Café Cultura uma opção agradável para o dia a dia.

Nossa conta: R$ 144
Café coado – R$ 24
Misto quente – R$ 20
Ovos mexidos com bacon – R$ 28
Torta de biscoito belga- R$ 26
Matcha iced latte – R$ 16
Coado na v60 – R$ 18 (+R$ 2 do grão peaberry)
Espresso – R$ 10

A equipe da Espresso visitou anonimamente a casa e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Diogo Jácome, 352
Bairro Vila Nova Conceição
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
Website http://https://www.instagram.com/cafecultura/
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Mercado

A Espresso provou cafés da variedade arara

Num dia distante de 1987, em Ibaiti, no Paraná, três plantinhas de café de frutos amarelos surgiram num cafezal repleto de sarchimor vermelho. Assim nascia a arara, variedade de arábica que é um híbrido natural da sarchimor, variedade desenvolvida em Angola por pesquisadores portugueses e introduzida na década de 1970 no Brasil. “Ela deve ter cruzado com a variedade icatu, por ter características semelhantes, como ramos grossos”, relembra o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, principal desenvolvedor da variedade e um dos coordenadores da Fundação Procafé, instituição de pesquisa e desenvolvimento para a cafeicultura.

Enviada pela instituição para sua fazenda experimental de Varginha (MG) e estudada por anos até ser lançada em 2012, a variedade arara despertou o interesse de cafeicultores de arábica. Além do porte baixo (que facilita o manejo), da alta produtividade e da resistência a doenças como a ferrugem, a variedade tem grãos graúdos e entrega qualidade na xícara.

Sob os cuidados da Fazenda Sertãozinho, em Botelhos (SP), em 2017 venceu as categorias de processamento úmido e seco no prestigiado concurso Cup of Excellence Brazil. A variedade tem sido extensivamente plantada no Cerrado Mineiro e no Sul de Minas, e nos últimos anos, a busca por ela só cresceu. “Hoje é o nosso material mais plantado”, orgulha-se o engenheiro. Segundo seus cálculos, perfaz quase 50% de todas as sementes de variedades fornecidas pela instituição para plantio.

A Espresso provou cinco cafés arara com base no Protocolo Brasileiro de Cafés Torrados desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Os critérios considerados foram complexidade de odor e de sabor, características sensoriais, doçura, corpo, acidez e intensidade, esta última definida pelo protocolo como “percepção de persistência de sabor na boca”. Confira nossas anotações:

Morena Café – SM Cafés

Arara produzido por Lilia Garcia no Caparaó (MG), a 980 metros de altitude, e torrado por SM Cafés.
Complexidade de odor: média
Complexidade de sabor: média/alta
Notas descritivas: frutado, cacau, doce
Doçura: média/alta
Corpo: alto
Acidez: alta, equilibrada
Intensidade: média
www.instagram.com/sm_cafes

Arara – Café Fazenda Floresta

Café da Fazenda Floresta, de São Sebastião da Grama, na região do Vale da Grama – Mogiana (SP), cultivado a 1.100 metros de altitude.
Complexidade de odor: média
Complexidade de sabor: média
Notas descritivas: mel, chocolate, caramelo
Doçura: média
Corpo: médio/alto
Acidez: média
Intensidade: média/alta
www.instagram.com/cafefazendafloresta

Pausa Pro Café – Café POR ELAS

Grãos da variedade arara processados pelo método natural, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e torrados por Café por Elas.
Complexidade de odor: alta
Complexidade de sabor: média/alta
Notas descritivas: mel, cereal, especiaria
Duçura: média/alta
Corpo: médio/alto
Acidez: média, delicada
Intensidade: média/alta
www.instagram.com/cafe_porelas

Varietais Arara – Orfeu Cafés Especiais

Grãos da Orfeu Cafés Especiais, cultivados no Sul de Minas, a 1.020 metros de altitude.
Complexidade de odor: alta
Complexidade de sabir: média/alta
Notas descritivas: chocolate, caramelo, amadeirado
Doçura: média
Corpo: alto, aveludado
Acidez: média, prazerosa
Intensidade: alta, presente
www.instagram.com/orfeucafes

Adocica – Over Coffee Roasters

Arara de processamento natural, cultivado a 1.200 metros por Jean Faleiros, na Fazenda Boa Esperança, na região da Alta Mogiana (SP), e torrado por Over Coffee Roasters.
Complexidade de odor: média
Complexidade de sabor: média
Notas descritivas: caramelo, castanha, chocolate
Doçura: média/pouco doce
Corpo: médio
Acidez: média
Intensidade: alta
www.instagram.com/overcoffeeroasters

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

Mercado

São Paulo Coffee Festival 2025 confirma presença de conceituadas marcas de grãos e torrefações do país

Evento global, que acontece de 27 a 29 de junho na Bienal do Ibirapuera, traz para o consumidor diversidade em  cafés, cafeterias, acessórios e acompanhamentos da bebida 

O São Paulo Coffee Festival chega à sua 4ª edição com mais de 90 marcas confirmadas, reunindo diferentes segmentos ligados ao universo das cafeterias. O evento, que acontece entre 27 e 29 de junho na Bienal do Ibirapuera (SP), consolida-se como uma vitrine para quem aposta em sabor, origem e diversidade.

Participam com seus estandes produtores com longa tradição familiar, como o Café Família Sertão, da família Pereira, em Carmo de Minas (MG) e o Café Filomena Estefânia, da família Mattos, em Patrocínio (MG). Estão presentes, também, nomes de regiões consagradas, como Prima Qualità, da cooperativa Cooxupé, no Sudoeste de Minas, Dulcerrado, marca da cooperativa Expocaccer, do Cerrado Mineiro, e Luiz Paulo Selection e Unique Cafés, de Carmo de Minas.

São Paulo tem presença forte nos três dias do evento, com cafeterias já conhecidas, como Kento Café, Pato Rei e Coffee Lab, iniciativas mais recentes, como a Velvy Coffee, que representa a nova geração de empreendedores do setor, e torrefações de cafés especiais, como Le Pool Coffee Roasters e Mono Cafés Especiais (com unidades em Santo André e no bairro Vila Madalena, na capital).

No segmento de máquinas e acessórios para cafés, o SPCF reúne empresas de origens diversas, como a alemã Comandante, referência em moinhos manuais de alta precisão; a italiana Bialetti, conhecida por suas cafeteiras clássicas, e a brasileira Carmomaq, especializada em torradores.

Embora o café seja protagonista, outros produtos também compõem a cena do evento. Cada vez mais forte no país, o movimento tree-to-bar (da árvore à barra) do chocolate brasileiro estará representado com marcas paulistanas como Baianí, cujas amêndoas vêm do Vale Potumuju (sul da Bahia), e Mestiço, que cultiva cacau em Itacaré (BA).

O chá, representado nas marcas Kãnfa Elos, Namu Matcha e Talchá, divide espaço com outros quitutes. Entre os sabores que acompanham o café no São Paulo Coffee Festival, dois nomes se destacam pelo apelo regional e artesanal: o Empório do Bolo de Rolo, que traz de Pernambuco versões do clássico doce nordestino, e a Queijaria Elvira de Minas, conhecida por seus queijos maturados.

Os ingressos para o SPCF já estão à venda. Para comprar, clique aqui. Para quem deseja participar com a sua marca este ano, o contato com a organização é por esse canal. Confira aqui as marcas participantes. 

São Paulo Coffee Festival 2025
Quando: 27 a 29 de junho
Onde: Bienal do Ibirapuera – avenida Pedro Álvares Cabral, s/n – Vila Mariana
Mais informações: www.saopaulocoffeefestival.com.br

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia/SPCF

Barista

SCA anuncia locais e datas dos Campeonatos Mundiais de Barista e Latte Art de 2026

A Specialty Coffee Association (SCA) anunciou os locais de duas modalidades dos campeonatos mundiais de barismo em 2026: a World of Coffee Panamá será sede da disputa de Barista, entre os dias 23 e 25 de outubro, e a World of Coffee San Diego, nos Estados Unidos, receberá a competição de Latte Art, de 10 a 12 de abril.

A instituição também comunicou nesta semana que sua principal feira nos Estados Unidos, a Specialty Coffee Expo, será rebatizada como World of Coffee a partir de 2026. A última edição com o nome atual acontece agora, entre 25 e 27 de abril, Houston, mas ano que vem desembarca em San Diego já sob a nova marca. A mudança alinha a feira norte-americana à série global World of Coffee, criada em 2010 e realizada em países da Europa, Ásia, América Central e Oriente Médio. A SCA afirma que a transição reforça o compromisso com a internacionalização do setor e busca consolidar o evento como um espaço de união e inovação para profissionais do café em escala global.

Quanto à participação do Brasil nos campeonatos mundiais, Thiago Sabino, da Sabino Torrefação (São Paulo), compete no Campeonato Mundial de Barista de 15 a 17 de maio, na World of Coffee Jacarta, na Indonésia, e Eduardo Olímpio, da Naveia (Curitiba), participa do Mundial de Latte Art na World of Coffee Geneva, na Suíça, de 26 a 28 de junho.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Cafezal

Vinho é a nova aposta de cafeicultores brasileiros

Em regiões cafeeiras, produtores encontram no vinho uma nova forma de explorar o terroir e impulsionar o turismo

Por Cristiana Couto

Em regiões conhecidas pela produção de cafés de qualidade, como Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Chapada Diamantina e Região do Pinhal, um novo cultivo vem ganhando espaço: o de uvas para vinhos finos. Graças à combinação de solo, clima e manejo inovador das uvas viníferas, cafeicultores investem na vitivinicultura e desafiam a lógica de que café e vinho não podem dividir o mesmo território.

A Espresso ouviu produtores que conciliam os dois cultivos e enólogos que acompanham essa transformação. Com a adaptação das videiras ao ciclo produtivo tropical, as fronteiras do vinho brasileiro se expandem – e, da mesma maneira, cafeicultores enxergam no cultivo de uvas uma oportunidade de diversificar seus mercados.

Terroir

Termo francês consagrado no mundo do vinho, o terroir reflete a complexa interação entre solo, clima e manejo humano, que determinam as características únicas de cada safra e influenciam diretamente a identidade da bebida.

Em sua caminhada rumo à excelência na xícara, os cafés de qualidade adotaram diversos aprendizados e incorporaram outros tantos conceitos desse universo, e o terroir não ficou de fora. É ele a chave de compreensão para a transformação que vem revolucionando, há duas décadas, o cenário do vinho brasileiro e que está, cada vez mais, entrelaçando-se à identidade sensorial e à valorização de origem do café.

Anos atrás, interessados por vinhos aprenderiam em sala de aula que eles são produzidos em zonas temperadas, enquanto cafés prosperam em climas tropicais. Manejar videiras e cafezais na mesma região – que dirá na mesma fazenda – era impensável até então. Mas paradigmas existem para ser quebrados.

A razão é a dupla poda, manejo que interfere no ciclo de vida das videiras e resulta na produção de vinhos de qualidade em regiões antes consideradas inadequadas. Também denominada poda invertida, a técnica, desenvolvida no Brasil no início dos anos 2000 sob a liderança do pesquisador Murilo de Albuquerque Regina (saiba mais ao fim da reportagem), consiste em fazer duas podas na videira ao ano, o que permite colher uvas no inverno brasileiro (entre maio e agosto) e não no verão, como acontece tradicionalmente no país. Nesta época, em áreas de altitude do sudeste e do centro-oeste, as chuvas de verão prejudicam a qualidade das uvas, ao permitir, por exemplo, o aparecimento de doenças fúngicas.

Mas o manejo dos chamados vinhos de inverno não faz milagre sozinho. “Não adianta plantar videiras na Amazônia e fazer dupla poda, porque lá não existe clima adequado”, lembra o enólogo chileno Christian Sepúlveda, referindo-se aos dias ensolarados e noites frias, comuns nas regiões de altitude no sudeste e centro-oeste do país, e aos solos secos no outono e no inverno, ou seja, à umidade relativa muito baixa.

“Onde se faz café de qualidade faz-se também vinho de qualidade, desde que os dois amadureçam na mesma época e tenham o ciclo de amadurecimento influenciado pelas mesmas condições climáticas”, ensina Murilo Regina, que foi coordenador do Núcleo Técnico Uva e Vinho na Empresa de Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) à época da criação do protocolo da dupla poda. Condições essas que influenciam de forma positiva o amadurecimento tanto da uva quanto do café, atuando na formação e acúmulo de açúcares, na degradação de ácidos e no metabolismo de elementos fenólicos e aromáticos, responsáveis pelas qualidades sensoriais das duas bebidas.

A colheita segue a mesma lógica. “É interessante colher o café quando não chove”, lembra Frederico Novelli, consultor de vitivinicultura da empresa Floeno, referindo-se à sanidade dos cafezais. Novelli lembra que a produção cafeeira na Serra do Rio de Janeiro diminuiu porque chuvas frequentes, mesmo no inverno, favoreciam a fermentação indesejada dos frutos, resultando em cafés de qualidade inferior. “Grandes regiões vitivinícolas do mundo, como Bordeaux, Borgonha e Priorato, têm características de clima muito parecidas com as das regiões dos nossos bons cafés, seja São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais”, emenda. “O que o manejo de dupla poda fez foi transferir a colheita da uva para o inverno, e as regiões mais apropriadas para plantá-las, coincidentemente, eram as mesmas do café”, resume ele, que dá consultoria a produtores de vinhos em áreas cafeeiras mineiras como Patrocínio, Patos de Minas, Lavras e Araxá. “Quando começamos a fazer vinhos de inverno, já tínhamos um mapa pré-traçado pelos produtores de café”.

Assim, os dois cultivos, até então dissociados, começaram a se estabelecer lado a lado. “Ninguém arranca café para plantar uvas”, afirma Sepúlveda. “Vinho e café não concorrem por terras agrícolas”, esclarece Murilo Regina. Segundo ele, o café ocupa as áreas mais altas dos morros, onde a incidência de geadas (às quais ele é sensível) é menor, enquanto as videiras se adaptam melhor às áreas de baixadas. Portanto, as duas culturas não concorrem por espaço e conseguem expressar seu potencial qualitativo no mesmo território.

Novos territórios

Recortada por vales e montanhas, a Serra da Mantiqueira, que se estende por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, é um dos territórios mais propícios à produção de cafés. Próximo a essa região montanhosa e na divisa com terras mineiras está o município paulista Espírito Santo do Pinhal, um dos oito a integrar a indicação de procedência (IP) de cafés Região de Pinhal, obtida em 2016.

A interseção dos fatores naturais – altitudes entre 850 e 1.300 metros e dias quentes e noites frescas – aliada à técnica da dupla poda colocou o município, há vinte anos, no mapa dos novos territórios brasileiros do vinho.

“Produzir vinhos aqui virou uma oportunidade para os que gostam da bebida e uma diversificação para os cafeicultores”, acredita Mariana Del Guerra. Q-Grader e torrefadora, Mariana e o marido, o engenheiro agrônomo especialista em café e sustentabilidade e consultor da Plataforma Global do Café Eduardo Sampaio, conduzem há quatro anos, ao lado de dois sócios, a vinícola Les Amis de Pinhal, um dos mais de cinquenta projetos de vinho da Serra dos Encontros, que abrange quatro municípios entre São Paulo e Minas Gerais.

São 2,9 hectares de vinhas distribuídas entre o sítio San José, no município, e o sítio Aponte, em Albertina (MG), há 15 km dali, onde o casal também planta cafés. “Em Albertina, o terroir é até melhor”, conta Mariana, que vai elaborar suas primeiras garrafas em solo mineiro em 2026.

Em 2024, a vinícola produziu 900 garrafas de sauvignon blanc e mil de syrah, uvas com qualidade já reconhecida na região. “Vamos diversificar para outras uvas que também estão se dando bem por aqui”, explica ela, que pretende expandir os vinhedos para 12 hectares e incluir as castas cabernet franc e chenin blanc.

Vinho e café também se cruzam por outros caminhos na região. O casal Fernando Mororó e Raquel Pacagnela, recém-chegados da África do Sul, decidiram fazer vinhos em Espírito Santo do Pinhal e adquiriram um pedaço de terra. “Ficamos encantados com o enoturismo”, diz Mororó. Mas os pés de mundo novo falaram mais alto. “A cidade respira café”, emenda Raquel, sobre a história local, entrelaçada à cultura cafeeira desde a década de 1850, quando os primeiros pés foram plantados na região. A inauguração do ramal ferroviário da Mogiana contribuiu para a prosperidade da cidade. Palacetes, igrejas e instituições culturais construídas no auge do café, entre os séculos XIX e XX, ainda resistem.

Hoje, 40 mil pés de sete variedades de arábica cobrem parte dos oito hectares da fazenda Terra de Kurí, onde Mororó e Raquel produzem cafés especiais e dedicam-se ao turismo de experiência. A fazenda, cujos grãos classificaram-se entre os primeiros lugares em concursos como o Coffee of the Year, tem uma área reservada aos visitantes para a degustação dos cafés, uma pousada e um restaurante. “O vinho veio ocupando esse espaço, trouxe gente para a região e acabou valorizando o café. Café e vinhos são complementares, pode-se aproveitar os dois”, acredita Raquel.

Hospedagem na Terra de Kurí

Sobre vinhos e cafés

Vinhos de inverno e cafés de qualidade compartilham território e clima, mas têm suas particularidades. Enquanto o café exige menos manejo contínuo ao longo do ano, a viticultura demanda cuidados quase diários durante o desenvolvimento das videiras.

“A uva é desafiadora no verão, enquanto o café aguenta mais desaforos”, analisa Mariana, sobre o crescimento vigoroso das videiras na estação quente, o que exige acompanhamento intensivo, como desfolhas para arejar o vinhedo e controlar o microclima dos cachos. “Enquanto no café você pode adiar um trato para a semana seguinte porque choveu, na uva ele tem que ser feito no timing. Se a pulverização dos vinhedos é para ser feita tal dia, é para fazer tal dia”, detalha.

O trabalho intensivo no campo, porém, inverte-se na época da colheita. Se a colheita do café pode alcançar três meses, a da uva é feita em um só dia (os cachos são enviados diretamente para a área de vinificação, onde o vinho é fermentado e engarrafado).

Aliás, uma das vantagens em cultivar uvas e grãos na mesma fazenda é que, com a dupla poda, ambas as culturas são colhidas na mesma época. “Aproveitamos a mesma mão de obra, o mesmo maquinário, o mesmo pulverizador, otimizando o custo”, lembra Flávio Bambini, engenheiro agrônomo e consultor de café do Sebrae Educampo.

Em 2015 e por hobby, Flávio Bambini começou a produzir vinhos na Região do Cerrado Mineiro, na fazenda Cruzeiro da Fortaleza, entre Serra do Salitre e Patrocínio. Em 2017, produziu as primeiras 200 unidades de vinho feito da casta syrah, plantada em um hectare – um dos primeiros rótulos do Cerrado Mineiro.

O projeto-piloto – que atualmente atinge 3 mil garrafas, vendidas localmente ou via Instagram – estimulou-o a fomentar a ideia entre os cafeicultores da região e, no mesmo ano, lançou o projeto Vinhos do Cerrado com a Federação dos Cafeicultores do Cerrado. “Várias pessoas ficaram curiosas”, lembra Bambini. As terras dedicadas aos vinhedos expandem-se ano após ano. Para 2026, a expectativa é a de que, dos atuais 25 hectares de vinhas na região, surjam cerca de 137 mil garrafas, fruto do trabalho de onze produtores – oito deles, também cafeicultores.

As altas altitudes (entre 850 e 1.250 metros), um clima bem definido (inverno seco com baixas temperaturas e verão chuvoso) e boa amplitude térmica, com o auxílio da dupla poda e de irrigação, entregam vinhos de inverno de qualidade.

Assim como em Pinhal, as uvas mais plantadas no Cerrado Mineiro são syrah e sauvignon blanc, mas há experimentos com malbec, marselan, tempranillo e chenin blanc sob a consultoria do Grupo Vitácea Brasil, do qual Murilo Regina é sócio-fundador e diretor. Maior viveiro vitícola do Brasil, a Vitácea surgiu em 2001 e hoje em dia tem um portfólio amplo, com serviços de consultoria e vinificação. “Vendemos para todos os grandes produtores do sul, e 99% das mudas de dupla poda dos produtores do sudeste e centro-oeste são da nossa produção”, explica Matheus Cassimiro, gerente de comunicação e agronegócio do grupo.

Além das variedades de uvas, os produtores do Cerrado e de Espírito Santo do Pinhal compartilham uma visão comum: a necessidade de fazer parcerias e o impulso que o vinho dá ao turismo rural.

Ganha-ganha

No Cerrado, a ideia é fazer uso da governança e da estrutura na produção do grão para impulsionar a viticultura por meio da criação da Associação de Vinicultores do Cerrado Mineiro (Vincer). “Um dos objetivos é ter um espaço dedicado à vinificação, com capacidade para compartilhar enólogo e otimizar equipamentos”, explica Bambini que, assim como outros produtores, vinifica seus vinhos no Núcleo Técnico Uva e Vinho da Epamig, entre outros locais.

As uvas da Les Amis de Pinhal e de produtores próximos também são vinificadas fora das propriedades de origem, em parceria com a vinícola Terra Nossa.

Além de viabilizar a elaboração dos vinhos de pequenos produtores como Mariana, a Terra Nossa fornece consultoria enológica. Criada por ex-funcionários da prestigiada vinícola Guaspari – pioneira no cultivo de vinhas em Espírito Santo do Pinhal, no início dos anos 2000 (a Guaspari também produz cafés e azeites) –, a Terra Nossa nasceu em 2014 para fazer vinho para consumo próprio. Hoje em dia, além de comercializar seus rótulos, a empresa atende 38 produtores da região de Pinhal e tem capacidade para gerar, anualmente, até 300 mil litros da bebida.

“É uma forma democrática de ajudar as pessoas a desenvolverem seus projetos vitivinícolas”, diz Sepúlveda, um dos sócios. Segundo ele, pelo menos 50% dos clientes que atende são, também, cafeicultores. “Mas cem por cento das uvas que cultivamos aqui foram plantadas em regiões em que já se plantou café”, lembra o enólogo.

Montar uma vinícola não é tarefa fácil. “Não é viável investir em uma estrutura de vinificação própria antes de a produção atingir dez hectares”, acredita Mariana, referindo-se ao custo com prensas, bombas hidráulicas e tanques de fermentação.

Plantio de uvas e cafés

Vinho, café e vulcão

No sul de Minas, Andradas se destaca como um polo da cafeicultura de qualidade. Sua geografia particular, marcada por altitudes entre 700 e 1.300 metros e solos de origem vulcânica, ricos em minerais, cria condições ideais para a produção de cafés especiais.

Se o café é hoje a principal atividade econômica de Andradas, a viticultura também faz parte de sua identidade. Essa tradição começou há mais de um século, quando imigrantes portugueses trouxeram uvas da Ilha da Madeira e iniciaram a produção de vinhos simples, para consumo interno. Depois, chegaram os italianos e continuaram o processo. “Nos anos 1960, a cidade chegou a ter setenta vinícolas”, conta o empresário paulistano Luis Augusto Opice. Atualmente, são seis propriedades dedicadas aos vinhos.

Em 2014, Opice comprou o Rancho da Bela Vista, onde produz catuaí, arara e bourbonzinho com foco no mercado de alta qualidade. Em 2023, resolveu substituir cafezais antigos por vinhedos. “Tenho dois talhões de uvas colados aos de café”, diz ele.

O plantio de syrah e viognier foi um sucesso. “Parece que a terra pediu por uma mudança de cultura. São uvas viçosas, sadias, com boa acidez, taninos e teor de açúcar”, comemora. Vinte e três meses depois, colheu a primeira safra, que, no fechamento desta edição, vinificavam na Terra Nossa. A expectativa é engarrafar 5.100 vinhos, e o empresário já investe num segundo talhão e na sua marca, a RBV, de vinhos e cafés.

Sustentabilidade em dobro

Reconhecida pelas suas paisagens exuberantes, a Chapada Diamantina guarda uma tradição cafeicultora pouco conhecida. A cultura do café existe lá há décadas, mas ganhou projeção com o Cup of Excellence (COE) e a denominação de origem (DO) obtida no final de 2024.

Foi na década de 1980 que os Borré migraram do sul para a Bahia. “Em 1984, houve um movimento de produtores sulistas que buscavam áreas de expansão”, conta Fabiano Borré, CEO da vinícola Uvva.

Situada a 1.150 metros de altitude, a vinícola nasceu em 2022, depois de dez anos de investimentos em pesquisas com uvas viníferas – época em que o governo da Bahia, em parceria com a Embrapa Uva e Vinho, fizeram plantios experimentais na região. “Já tínhamos boa estrada com café”, lembra Borré. Isso porque em 2005 a família, que também produz outras culturas, investiu na produção de cafés especiais. Atualmente, a Fazenda Progresso, em Mucugê – um dos 24 municípios da DO –, tem a maior produção de cafés da região. São 550 hectares de catuaí 144 vermelho e topázio amarelo vendidos para nove países, além do mercado interno, sob a marca Latitude 13º.

Na Progresso, a sustentabilidade é um dos pilares da produção de cafés e vinhos – são cerca de 52 hectares de vinhedos que geram tintos, brancos e espumantes. Entre as práticas, o uso de gramíneas como cobertura vegetal, para preservar umidade e reduzir a temperatura do solo, o uso consciente da água e a aposta no controle biológico. “Temos uma biofábrica onde multiplicamos bactérias e fungos. Na uva, mais de 50% do controle é feito dessa forma”, destaca Borré.

O CEO também faz parcerias com cerca de 25 pequenos cafeicultores da região, que utilizam a plataforma de exportação da Progresso. “Quando um cliente nos visita, nós o levamos até a fazenda do pequeno produtor, que vai contar um pouco de sua história e comercializar seu café, que leva o nome da sua fazenda. Isso atrai um pouco a nova geração”, analisa.

No final do ano passado, a Chapada Diamantina ganhou a Rota do Vinho da Bahia. “Além dos outros atrativos, a Chapada é hoje um destino enoturístico também”, diz Maurício Bacelar, secretário do Turismo do Estado da Bahia. A rota percorre as cinco vinícolas da região – a Uvva, em Mucugê, e mais quatro no Morro do Chapéu, município que já abriga outros quatro novos projetos. “Vejo um potencial grande para o vinho na Chapada, que é começar a atrair visitas”, acredita Borré. “Temos que usar um pouco dessa massa turística e apresentar café e outros produtos, que vão ter a mesma origem”, arremata ele. “Onde mais no mundo você pode produzir cafés e uvas lado a lado? Isso coloca o Brasil numa posição diferenciada também”, conclui.

Vinhedos da Uvva

Enoturismo

De fato, a vitivinicultura tem potencial para abrir caminhos para o turismo, impulsionando não só a venda de vinhos mas, também, a valorização dos cafés e de outros produtos locais. Além disso, o turismo em torno dos vinhedos fortalece a rede de comércio regional.

Lançada em 2024, a Rota da Serra dos Encontros – uma das cinco que perfazem o projeto Vinhos de São Paulo, organizado pelo governo do estado para divulgar a produção paulista – ajudou a alavancar os rótulos do Espírito Santo do Pinhal e, de quebra, valorizar os cafés pinhalenses. “O único lugar no mundo que tem uva e café juntos é aqui no sudeste do Brasil”, reforça Sepúlveda. “Os turistas que vêm de fora do país ficam loucos ao ver pés de café ao lado das videiras”.

Segundo Mariana, a logística fácil, como estradas duplicadas e a proximidade do Aeroporto de Viracopos, também ajudou. “Dependemos 90% do turismo”, diz ela, que faz suas vendas de vinhos para restaurantes, empórios e lojas locais e que vê no enoturismo a chance de mostrar seus exemplares aos que chegam ali em busca de experiências.

A ascensão do vinho na região favoreceu comerciantes. Mariana diz que aqueles que vendiam equipamentos e insumos destinados ao café, por exemplo, começaram a vender para o vinho também, e que a viticultura “deu novo gás” à faculdade local, a Unipinhal, que oferece uma pós-graduação em enologia e viticultura e onde Bambini acaba de se formar.

“Sonhando grande, espero que o nosso vinho possa ajudar o café futuramente”, diz Bambini. “As pessoas não saem de São Paulo para vir ao Cerrado tomar um café, mas vêm para visitar vinícolas. Nosso objetivo é fazer tudo junto”, projeta.

Desafios

Produzir vinhos, porém, não é simples para os produtores de café. O intervalo entre a implantação dos vinhedos e o retorno financeiro é longo, e os custos são elevados. “O café é colhido, seco, armazenado e é uma commodity vendida em bolsa; chegou no preço que o produtor quer, ele é vendido”, compara Mariana. No vinho, além dos processos no campo, o mosto (oriundo da maceração das uvas) fica em tanques de inox por até um ano. Assim, o tempo entre a colheita e o engarrafamento e comercialização alcança, no mínimo, doze meses. “O vinho só ganha com o descanso, seja em barril ou em garrafa. Para nós, cafeicultores, é tudo muito novo”, analisa.

Segundo ela, o maior desafio na cidade é a mão de obra que, tradicionalmente acostumada aos processos da cafeicultura, tem que se adaptar. Com o aumento de turistas na região, a demanda por trabalho é maior do que a oferta de braços. “Temos que formar essas pessoas, porque o vinho é um negócio completamente diferente”. O outro é a segurança, que costuma ser ameaçada com o crescimento urbano. “É preciso criar pertencimento”, diz Mariana.

Para Sepúlveda, a tarefa mais difícil é levar vinho e café brasileiros para o mundo. “Se você não falar que tem o melhor café do mundo, ninguém vai falar”, raciocina. “A uva tem que aproveitar a tradição do café, e o café tem que aproveitar a fama da uva, trazer o turista para entender o café”, acredita ele. “O produtor de café também ganha quando turistas buscam os vinhos da região”, emenda Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Café da Região Vulcânica.

Em busca da origem

A busca por origem das duas bebidas também caminha em paralelo. Criada em 2022, a associação Avvine tem como objetivo elevar a Região de Pinhal a uma denominação de vinhos.

Em busca de proteção da origem dos grãos especiais e atenta ao crescimento do cultivo de uvas (entre outros produtos, como azeites e queijos), a Associação dos Produtores de Café da Região Vulcânica está expandindo a marca coletiva – adquirida em 2021 e usada para os cafés – também para os rótulos. “Esperamos este ano já ter os primeiros vinhos comercializados com a marca Região Vulcânica”, diz Oliveira.

De acordo com seus cálculos, dos cerca de 25 projetos dedicados ao vinho, 30% são tocados por cafeicultores – a região, que engloba doze municípios, contabiliza 12 mil produtores de café. A expansão, acredita ele, está só no começo. “Essa nossa retomada da produção de vinhos acontece pela recente qualidade da bebida e para agregar valor ao turismo”, completa.

Para saber mais: A técnica que transformou a viticultura brasileira

Nas décadas de 1940 e 1950, Minas Gerais e São Paulo produziam vinhos, mas a qualidade era baixa graças ao verão, cuja umidade excessiva favorecia a proliferação de fungos, e os solos encharcados diluíam os compostos das uvas. Como resultado, os vinhos tinham baixo teor de açúcar e, consequentemente, pouco álcool. Com as rodovias, que facilitaram o acesso ao Rio Grande do Sul, a produção no sudeste praticamente desapareceu.

A reviravolta veio nos anos 2000, quando Murilo Regina, então pesquisador da Epamig, trouxe para a viticultura brasileira uma técnica já utilizada em frutíferas: a dupla poda. Durante seu pós-doutorado na França, ele percebeu que o verão europeu tinha condições climáticas semelhantes ao outono-inverno brasileiro: amplitude térmica, dias quentes, noites frias e solo seco. Então, desenvolveu um protocolo para aplicar a dupla poda nos vinhedos.

O primeiro experimento foi em 2001, na Fazenda Santa Fé, em Três Corações (MG), onde o pesquisador encontrou condições ideais para testar a técnica. A primeira safra experimental veio em 2003, e a uva escolhida foi a syrah que, com excelente sanidade e produtividade, tornou-se a principal variedade no manejo de dupla poda – ao lado da sauvignon blanc, cabernet franc e chenin blanc, que têm se destacado nos últimos anos. Graças ao protocolo de Murilo Regina, regiões no sudeste e centro-oeste do país produzem vinhos de alta qualidade.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

Barista

Baristas disputam final da Copa Hario 2025 em São Paulo

Campeão ganha uma viagem ao Japão para disputar a Hario Brewers Cup World Championship e conhecer a fábrica da marca

Na próxima segunda (14), São Paulo sedia a etapa final da Copa Hario Brasil 2025. A disputa acontece na Casa Hario (rua Manuel Guedes, 426 – Itaim Bibi). A marca japonesa levará o vencedor para competir na Hario Brewers Cup World Championship, que acontece na SCAJ 2025 em setembro, em Tóquio, no Japão.

Em março, foram realizadas etapas regionais em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro. Dos 80 participantes, a comissão julgadora selecionou cinco competidores de cada cidade, que agora buscam o título nacional. Para isso, eles utilizarão produtos Hario e o café oficial da edição, escolhido pela organização. Clique aqui e confira os baristas selecionados para a final.

A avaliação, tanto nas fases regionais quanto na final, leva em consideração corpo, doçura, acidez e finalização da bebida, além do cumprimento do tempo limite de execução. Além da viagem, onde também conhecerá a fábrica da Hario, o campeão leva prêmio em dinheiro, assim como o segundo e o terceiro lugares.

TEXTO Redação • FOTO Off Contest

Barista

“Quero ver até onde consigo chegar”, diz Eduardo Olímpio, bicampeão brasileiro de Latte Art

Barista de Curitiba fez os melhores desenhos na etapa nacional e retorna para o mundial da categoria em junho, na Suíça

Por Gabriela Kaneto

No último domingo (6), Florianópolis (SC) acompanhou de perto a final do Campeonato Brasileiro de Latte Art. Eduardo Olímpio, da Naveia, de Curitiba (PR), fez os melhores desenhos com leite e café e tornou-se bicampeão na categoria.

Ele, que já representou o Brasil no mundial de 2023 – em que alcançou a 11ª posição –, comemora por ter a oportunidade de participar da disputa novamente. “Quero explorar o meu limite”, projeta. Leia a entrevista, exclusiva para a Espresso:

Espresso: Qual é a sensação de ganhar, pela segunda vez, o campeonato de Latte Art?

Eduardo Olímpio: É uma sensação maluca. Senti um nervosismo muito grande, acho que até maior do que no meu primeiro campeonato. Mas foi uma sensação muito gratificante, por já ter competido um mundial e agora ter a possibilidade de voltar e competir novamente. Estamos indo mais preparados, eu queria muito ter novamente essa oportunidade 

E: Quais foram os desenhos que você apresentou aos juízes na competição e por que os escolheu? Os três desenhos são criações suas?

EO: A estratégia era trazer desenhos que tinham técnica, mas que fossem visuais. Por isso levei o cavalo, o chimpanzé e o grande urso. Criei dois deles, que é o chimpanzé e o grande urso, e, para o cavalo, usei uma referência de um competidor asiático. 

E: Quais são suas expectativas para o campeonato mundial, em junho? 

EO: Quero ir muito bem! Já estamos pirando e pensando em várias coisas. Queremos mirar o topo, quero explorar o meu máximo. Eu queria muito ter outra oportunidade de competir no mundial para explorar o meu limite e ver até onde eu consigo chegar.

E: Você pretende competir novamente no brasileiro de Latte Art nos próximos anos? E em outras modalidades, tem planos de competir também?

EO: Para mim é muito bom, com certeza vou competir no Latte Art de novo. E se eu fosse competir em uma outra categoria, eu iria talvez para o Brewers. Mas ainda estou pensando a respeito.

Clique aqui e assista à apresentação final de Eduardo Olímpio, no Campeonato Brasileiro de Latte Art.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Arquivo pessoal
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