Cafezal

Inscrições abertas para o Coffee of the Year 2025

As inscrições para o Coffee of the Year 2025 estão oficialmente abertas a partir desta segunda (4). O prêmio busca reunir os melhores cafés do Brasil, reconhecer os grandes destaques do ano e incentivar tanto o aprimoramento da produção nacional, quanto a valorização de novas origens.

Produtores de todas as regiões do Brasil podem inscrever seus melhores cafés nas categorias arábica e canéfora, mediante o pagamento de R$ 190. Cada CPF pode realizar apenas uma inscrição. As amostras de 03 kg cada devem ser enviadas até 6 de outubro para o Centro de Excelência em Cafeicultura – Senar (endereço abaixo). Confira aqui o regulamento completo da edição e o link de inscrição.

Importante: a ficha da amostra – devidamente preenchida (digitada), assinada pelo produtor – deve ser enviada junto com os 03 kg de café para o endereço indicado abaixo.

Centro de Excelência em Cafeicultura – Senar
A/C Professor Leandro Paiva
Concurso Coffee of the Year 2025/Semana Internacional do Café
Rua Luiz Dominghetti, 115 – Residencial Alto do Vale
Varginha (MG) – CEP: 37048-854 

Sobre o COY

A dinâmica do concurso começa com o recebimento das amostras, que passarão por um processo de avaliação conduzido por uma Comissão de Julgadores formada por especialistas de todo o país. Serão selecionadas as 180 melhores amostras, sendo 150 da categoria arábica e 30 da canéfora.

As amostras selecionadas serão apresentadas na sala Cupping & Negócios da Semana Internacional do Café, que este ano será realizada de 5 a 7 de novembro, em Belo Horizonte (MG). Dentre elas, os 10 melhores cafés arábica e os 5 melhores canéfora participam da votação popular, por meio de degustação às cegas com método filtrado, em garrafas térmicas disponíveis nos dois primeiros dias do evento. A cerimônia de premiação acontece na tarde do último dia da SIC.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

Presidente dos EUA implementa tarifa de 50% e não isenta o café

A medida entra em vigor em sete dias, e exclui de taxação quase 700 itens

O presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, assinou nesta quarta (30), dois dias antes da data prevista de 1 de agosto, a ordem executiva que implementa a tarifa adicional de 40% sobre o Brasil – elevando o valor total da tarifa para 50%, conforme comunicado da Casa Branca publicado hoje. O café será taxado e a medida entra em vigor em sete dias.

O decreto isenta 694 itens – mas não o café, que será tarifado. Entre os alimentos, não serão cobradas taxas apenas sobre a castanha-do-pará, o suco e a polpa de laranja.

A medida usa como base jurídica a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, de 1977. O comunicado afirma que o tarifaço imposto ao Brasil está “defendendo empresas americanas da extorsão, protegendo cidadãos americanos da perseguição política, salvaguardando a liberdade de expressão americana da censura e salvando a economia americana de ficar sujeita aos decretos arbitrários de um juiz estrangeiro tirânico”, numa referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, acusado de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro, citado nominalmente no comunicado.

As tarifas haviam sido anunciadas por Trump em 9 de julho, e são as maiores entre as anunciadas para outros países que exportam para os EUA.

O setor recebeu a notícia com preocupação. Em nota, o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) afirmou que seguirá em tratativas com parceiros locais, como a National Coffee Association (NCA), para que o café entre na lista de exceções da nova política. “Entendemos que se faz necessária a revisão da decisão de taxar os cafés do Brasil – ato que implicará elevação desmedida de preços e inflação, uma vez que esses tributos serão repassados à população americana no ato da compra”, afirma o texto.

A BSCA, também em comunicado, disse que “reitera a necessidade de diálogo na tentativa de reverter a taxação apresentada ao produto, de forma que sejam preservados empregos, renda e uma parceria construída ao longo de décadas entre os atores das duas nações”.

Café & Preparos

Espírito Santo do Pinhal (SP) sedia evento dedicado a cafés, vinhos e gastronomia

Evento, que reúne feira de agronegócios e festival gastronômico, acontece entre quarta (30) e sábado (2) e celebra a singularidade da região, capaz de produzir vinhos e cafés lado a lado

Por Cristiana Couto

A cidade paulista de Espírito Santo do Pinhal sedia, de hoje (30) a sábado (2), o evento TurisAgro: Festival de Inverno e Feira de Agronegócios. O evento reúne tanto feira e sessões de palestras dedicadas ao agronegócio quanto um festival, que começa na sexta (1) e explora a degustação de vinhos, cafés e comidas locais ao som de muita música. Ao todo, serão 124 estandes e 38 vinícolas presentes. 

A singularidade do evento (confira alguns destaques da programação ao final da reportagem) está na alta qualidade dos vinhos e cafés produzidos em ES do Pinhal e arredores, dois produtos cujo cultivo simultâneo, num mesmo território, seria impensável anos atrás em qualquer lugar do mundo. 

O segredo da produção de vinhos numa área antes considerada inadequada, por causa das chuvas de verão – Espírito Santo do Pinhal fica na Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais –, foi o manejo inovador das videiras, uma técnica conhecida como dupla poda, que permite que as uvas sejam colhidas no inverno e não no verão, como acontece tradicionalmente nas regiões vitivinícolas brasileiras. 

Esse manejo permitiu a instalação de vinícolas, há cerca de 15 anos, em cidades como Espírito Santo do Pinhal, que já tinha tradição (centenária) na produção de cafés e que, recentemente, dedica-se aos grãos de alta qualidade – ao lado de outros sete municípios, ES do Pinhal compõe a Região do Pinhal, que tem selo de Indicação de Procedência para cafés desde 2016 (confira aqui reportagem sobre a produção de vinhos por cafeicultores brasileiros).

Com terroir adequado para ambas as culturas (dias ensolarados, noites frias e solos secos no outono e no inverno), Espírito Santo do Pinhal compõe, ao lado de Amparo, Jacutinga e Santo Antônio do Jardim, a região denominada Serra dos Encontros. Esta, por sua vez, reúne 81 projetos vitivinícolas e firmou-se como uma das mais promissoras regiões vitivinícolas do país ao receber prêmios relevantes por seus vinhos, como as 18 medalhas angariadas no Decanter World Wine Awards 2025, prestigiada competição internacional de vinhos organizada pela revista britânica Decanter

O que curtir

  • dia 30, às 17h30 – Painel: Mercado de Cafés Especiais de Origem (com Juliano Tarabal, Jean Faleiros e Marcos Kim)
  • dia 31, às 10h – Painel: Viticultura de precisão (Luis Henrique Bassoi, da Embrapa) 
  • dia 31, às 11h30 – Painel: Cafeicultura e viticultura sustentáveis: agregando valor e reduzindo riscos (Jeferson Adorno da Toca do Kaynã, Maria Rita, da Viviens Brasil, e Edvar Silva, da Reversa do Brasil)
  • dia 1, às 16h – Palestra Princípios técnicos de harmonização (Paulo Brammer, Vinícola Guaspari) 
  • dia 2, às 16h – Painel: Cozinha Viva “Regional” (com chefs da região Paulinha Piazentino, Matheus Ramalho e Lúcia Sequeira) 

TurisAgro: Festival de Inverno e Feira de Agronegócios
Quando: 30 de julho a 2 de agosto, a partir das 9h
Onde: Clube de Campo Caco Velho (Rodovia Campinas-Águas da Prata, s/n – Zona Rural, Espírito Santo do Pinhal – SP)
Quanto: gratuito, mediante cadastro e doação de 1 kg de alimento (para a feira de agronegócio) | R$ 150 (festival de inverno)
Informações sobre a Feira do Agronegócio neste link
Programação do Festival de Inverno neste link 

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

Mercado

Fellow lança sua primeira máquina de espresso

A marca californiana Fellow, conhecida pelo design que imprime aos equipamentos de café, apresentou sua primeira máquina de espresso, a Series 1, em abril. Equilibrando simplicidade e customização, o novo modelo permite desde extrações automáticas até configurações manuais detalhadas de pressão, tempo e volume.

Em funcionamento, a máquina atinge a temperatura ideal em cerca de dois minutos, por conta de uma tecnologia própria de aquecimento chamada Boosted Boiler, e traz um vaporizador que indica a temperatura ideal do leite para diferentes bebidas. A estética segue o padrão elegante da marca, com três opções de cores e design pensado para ambientes domésticos.

A Series 1 está disponível no site da Fellow por US$ 1.199,95.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Ronin Café – São Paulo (SP)

A Espresso visitou a Ronin Café, na Barra Funda, região central de São Paulo, que se autodeclara “uma cafeteria de cozinheiros”, já que foi criada pelos chefs Pedro Nóbrega e Vitor Ribas, que passaram por restaurantes como o premiado Notiê. A fachada simples anuncia um espaço moderno e minimalista, com detalhes inspirados na arte de rua – como o quadro decorativo com grafia de pixo e a própria fonte escolhida para compor a logo da cafeteria. Em sintonia com o espaço, o alto-falante do salão dá voz a raps nacionais.

Fomos bem recebidos pelo atendente Cauê assim que chegamos. Ele nos explicou todo o cardápio, contou quais itens eram os seus favoritos e se certificou para que a experiência fosse leve e informal – mas muito completa. Além das características sensoriais do coado do dia, o atendente nos explicou as dos outros três grãos disponíveis, torrados pela torrefação paulistana Corisco, que poderiam ser preparados na v60, único método da casa.

Cafés filtrados na v60

Escolhemos dois cafés do produtor Alessandro Hervaz, de São Gonçalo do Sapucaí, Mantiqueira de Minas. O primeiro, de variedade acaiá e processamento natural, foi produzido no Sítio AAA. Na xícara, entregou uma bebida encorpada, doce e com notas frutadas, boa opção para qualquer momento do dia. Já o segundo café, um catuaí vermelho também naturalmente processado e cultivado no Sítio Boa Vista, mostrou-se uma bebida doce, menos encorpada, mas com um agradável sensorial que remeteu à torta de maçã.

Nossa expectativa quanto ao também era alta. Pão na chapa, toast de vegetais, queijo quente, pão com tofu, mortadela sando e choripan são algumas das alternativas entre os pratos salgados. Nossa pedida foi o queijo quente, o pão com tofu mexido e o mortadela sando – um dos mais solicitados pelos clientes.

Feito com um mix de queijos e cebolinha, o queijo quente entregou o que se espera dele, mas com a surpresa de um toffee de alho como ingrediente. Já o pão com tofu, feito com uma fatia de pão de fermentação natural, tofu mexido com cebolinha, tem a adição de picles e chilli oil, o que deixa seu sabor agradável e a textura úmida na medida certa. 

Mortadela sando e queijo quente

Ambas as opções estavam gostosas, mas a grande estrela da refeição foi o mortadela sando. Fazendo jus ao posto de “queridinho” da casa, ele vai além de um lanche de mortadela comum, ao combinar mortadela na chapa, queijo, picles e maionese kewpie em um pão francês de fermentação natural numa composição harmônica. Indicamos! 

Perto do fim da manhã, encerramos a visita pedindo banana bread e tiramisú. Bem apresentado, o banana bread leva bolo de banana (com gostinho de caseiro) coberto por uma banana partida ao meio e chapiscada na chapa, canela polvilhada e calda caramelizada de coco, feita na cozinha da Ronin – e que pode ser substituída por doce de leite produzido pela confeitaria parceira, De Mãe Cozinha. A combinação harmonizou bem com o café frutado. 

Pão com tofu mexido, banana bread e café filtrado na v60

O tiramisú, montado em uma xícara de café, vem com um tuille de chocolate por cima, seguido de bolachas levemente molhadas em cold brew, mas ainda crocantes, e creme mascarpone batido com cacau (feito na hora). Diferente dos tradicionais, que são feitos com espresso, o tiramisú do Ronin destacou-se pela leveza e suavidade de sabor do café, além de vir na quantidade certa para te fazer pedir mais um. 

Nossa conta: R$ 151,80 (com a taxa de serviço)
Coado acaiá – R$ 18
Coado catuaí vermelho – R$ 18
Meia porção do mortadela sando – R$ 15
Meia porção do queijo quente – R$ 15
Tofu mexido – R$ 25
Banana bread – R$ 22
Tiramisú – R$ 25

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Doutor Albuquerque Lins, 253
Bairro Barra Funda
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
Website http://www.instagram.com/ronincafesp
Horário de Atendimento De quarta a domingo, das 10h às 18h
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Resposta ao embargo

Por Celso Vegro

Ao contrário do que ocorre com o resto do mundo, os EUA têm longo histórico de obtenção de saldo comercial positivo frente às transações que faz com o Brasil, denotando ainda mais a deformidade que a imposição tarifária contra o país embute. Aparentemente, a possibilidade da instituição do “brix pay” constitui o verdadeiro foco da arbitrariedade contra o Brasil.

Diante da perspectiva de irredutibilidade quanto à revogação e/ou adiamento do pico tarifário instituído pelo mandatário estadunidense sobre uma nação soberana, o agronegócio café brasileiro como um todo deve considerar que o que se impôs foi, verdadeiramente, uma espécie de embargo às exportações brasileiras de café (verde, solúvel e torrado e moído).

Os reflexos sobre a economia cafeeira no Brasil serão relevantes na medida em que os EUA respondem por compras de, aproximadamente, 8 milhões de sacas (considerando em equivalente verde). No primeiro semestre de 2025, o país exportou para os EUA 3,32 milhões de sacas de café, representando declínio de 16,89% frente a igual período de 2024. Ainda assim, o mercado estadunidense respondeu por 17,1% do total das exportações contabilizadas na mesma época. Em contrapartida, as exportações de café brasileiro para todos os destinos somaram 19,41 milhões de sacas, representando receita cambial de US$ 7,52 bilhões (Fonte: Cecafé).

Segmentos econômicos estadunidenses ajuízam ações contra a escalada tarifária às mercadorias brasileiras destinadas ao seu mercado. Os importadores/distribuidores de suco de laranja, por exemplo, já o fizeram. No segmento de café, que responde por cerca de um terço das importações estadunidenses, eles alertam sobre o impacto da medida: aproximadamente 1,2% do PIB nacional, mais de US$ 343 bilhões em negócios ao ano, ocupando 2,2 milhões de trabalhadores. Trata-se, portanto, de dinâmica econômica ímpar que provavelmente se associará ao grupo do suco de laranja no ajuizamento de uma segunda ação contestatória. 

A afronta ao Brasil exige, primeiramente, uma ampla negociação, ao que a diplomacia brasileira, conduzida pelo vice-presidente, está firmemente liderando. Aparentemente, restando poucos dias para o início de vigência do pico tarifário, nenhum avanço foi alcançado junto às autoridades comerciais estadunidenses (revogação e/ou adiamento). Caminhamos para um real embargo das exportações de café brasileiras para esse mercado.

Diante deste cenário, quais as possíveis ações defensivas que o agronegócio café poderia adotar? A mais direta seria, paulatinamente, se desfazer dos contratos futuros em Nova York para privilegiar a B3. O cerceamento do acesso ao mercado estadunidense sinaliza que os negócios (apenas contratos e/ou físico) que o agronegócio Cafés do Brasil movimenta naquela praça são desejáveis. O momento é perfeito para que essa iniciativa ganhe musculatura, convidando, inclusive, outros países produtores (Vietnã e Colômbia) a se associarem a esse movimento.

A bolsa brasileira teve seu início há mais de trinta anos com o contrato futuro do café que, até meados dos anos 2000, vinha numa melhora de desempenho crescente. Questões tributárias (IOF) e a necessidade do contrato casado (futuro de café e cambial) levaram a uma preferência pela praça nova-iorquina. Todavia, dispondo das atuais sofisticadas ferramentas financeiras, tais obstáculos são perfeitamente contornáveis. O governo federal já anunciou a possibilidade de oferecer crédito a cafeicultores, cooperativas, traders e exportadores afetados pelo tarifaço – mas esses créditos podem ser convertidos em isenção do IOF nas operações de contrato futuro e subvenção no prêmio para os contratos de opções privadas.

O risco de as cotações despencarem diante do empoçamento dos cafés que seriam exportados para os EUA – e, ainda, devido à dificuldade momentânea de reordenamento dos destinos – poderia ser minimizado por AGF ou subvenção ao Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor ou à Cooperativa,  mecanismo de apoio à comercialização agrícola criado pelo governo federal), desde que os preços mínimos reflitam a realidade do mercado. Café é produto não perecível e, portanto, armazenável. Numa eventual aquisição do governo federal (via AGF ou Pepro), dado o atual contexto de baixos estoques e demanda crescente pelo produto, existe inclusive a possibilidade de entesouramento público por meio dessa operação (leilão da Conab). (Como sugestão, caberia ao conselho gestor do Funcafé desenhar política para o enfrentamento das questões mencionadas).

Quando a força do poder prevalece sobre a vontade de dialogar, se estabelece o dissenso, ou seja, a imposição do medo como método de sujeição. A política comercial – longamente construída, inclusive, com empenho dos EUA – foi instrumentalizada para fins espúrios e se esfacelou. Sob suas ruínas, erode-se a confiança no mercado estadunidense, alicerce básico para a troca justa entre as nações. O afastamento do mundo desse mercado será o resultado mais concreto dessa guerra comercial estabelecida. 

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Cafezal

“Novo rearranjo da exportação de café é liderado pelo Brasil e isso está na mão das cooperativas”

Marco Valério Brito, presidente da Coccamig, deseja profissionalizar ainda mais as cooperativas de café e alçá-las como referência em ESG, compliance, rastreabilidade e carbono zero

Marco Valério Brito, presidente da Coccamig

Por Mariana Grilli

A Organização das Nações Unidas (ONU) consagrou 2025 como o Ano das Cooperativas, com o objetivo de reafirmar a importância do cooperativismo para a sociedade. Segundo o órgão internacional, são três milhões de cooperativas no mundo todo, que funcionam com o trabalho de um bilhão de cooperados. No Brasil, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) considera 4.509 cooperativas, sendo a maior concentração no ramo agropecuário, com 1.179 delas. Destas, 97 trabalham com café.

Esta sinergia entre cooperativismo e cafeicultura marca a vida de Marco Valério Brito, presidente da Coccamig (Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais). Nascido em Três Pontas (MG), ele respira café desde a infância, já que um lado da família contribuiu para a implantação da cafeicultura no município mineiro, enquanto o outro lado trabalhou com a comercialização dos grãos.

Depois da adolescência, Marco Valério se afastou do café por alguns anos para trabalhar no mercado financeiro, mas logo estava envolvido com exportações da commodity. Em 2015, optou por seguir os passos do pai e do avô, tornando-se produtor. Foi presidente da Cocatrel (Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas) por nove anos e, em seguida, assumiu a liderança da Coccamig, que em 2025 completa 40 anos.

Em entrevista para a Espresso, ele avalia que a cafeicultura tem passado por uma sofisticação nas operações, e que o papel dele à frente da presidência é elevar o nível de profissionalização das cooperativas que integram a Coccamig para um crescimento contínuo e conjunto, desde o campo até a comercialização.

Espresso: Quando começa a sua história com o café?

Marco Valério: Nasci em Três Pontas (MG) e até a adolescência vivi na fazenda, já acompanhando o café. Depois, fui estudar em Belo Horizonte e trabalhar com o mercado financeiro. Naturalmente, comecei a olhar a bolsa de Nova Iorque, a ficar curioso e passei a trabalhar com o mercado futuro. Aí, trabalhei com várias operações do mercado financeiro ligado ao café. Mais tarde, surgiu a oportunidade de trabalhar em Brasília, no Ministério da Indústria e Comércio, e um dos assuntos era o recém-fundado Departamento Nacional de Café que, teoricamente, substituiria o Instituto Brasileiro de Café (IBC), extinto pelo [então ex-presidente] Collor em 1990. Então, tomei mais conhecimento do mercado de café exportador. Em 2014/15, decidi sair do mercado financeiro, comprar uma fazenda de café e voltei a frequentar mais Três Pontas. Alguns meses depois, surgiu o convite de assumir a Cocatrel em três mandatos consecutivos. Foram surgindo outros convites, para o Conselho Nacional do Café, Sescoop [Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo], conselho do Cecafé e, então, o de presidir a Coccamig.

Como você vê a relação entre café e cooperativismo?

É difícil desassociar cafeicultura e cooperativismo, que estão muito entrelaçados, juntamente com o mercado financeiro, e as pessoas têm pouco conhecimento disso. Diferentemente de outras commodities, o café tem um lado muito grande de profissionalização, como os processos de sofisticação de hedge, além do trabalho com as cooperativas de crédito. É muito difícil desassociar ambos, porque a cafeicultura é feita por pequenos produtores, e uma empresa multinacional tem dificuldade de obter café em lugares distantes. Então, essa intermediação é difícil e esse gap tem sido ocupado pelas cooperativas. As pessoas falam que querem ter a própria produção e torrefação, mas isso é muito romântico. É preciso ter uma logística de indústria, há questões jurídicas, e as cooperativas foram se sofisticando e se profissionalizando para preencher esta lacuna. Então, essa união entre cafeicultura e cooperativismo profissionaliza produtores de todos os tamanhos.

Na sua avaliação, quais as premissas de uma cooperativa?

Ser transparente, profissionalizar e falar de sucessão são passos importantes, e quem não fizer isso não sobrevive. Nessa era de geração de dados e acessibilidade, as distâncias estão menores e as cooperativas isoladas vão sentir. Se você não tiver bons números financeiros nem padrões de medição, se não implantar sistemas e trabalhar com grandes auditorias não irá demorar para estar fora do mercado. Quando cheguei na Coccamig trouxe muitos cursos e seminários, disseminando informações e capacitando os colaboradores. Antes, os produtores estavam afastados [uns dos outros] e a cooperativa fazia esse papel de intermediária, mas é importante aproximar os cafeicultores dessa necessidade de honrar compromissos e compreender o mercado financeiro.

A Coccamig tem 17 associadas e mais duas devem entrar em breve. Qual é o perfil destas cooperativas?

A Coccamig é formada por três grupos distintos de cooperativas, com diversificação de faturamento, regiões, tamanho, área, terroir e produções distintas de café. É importante dizer que estes perfis diferenciados enriquecem a cafeicultura brasileira e que todas, independentemente do tamanho, têm seu valor.

O que deve ser feito para evitar que a cafeicultura fique concentrada apenas na mão das grandes cooperativas?

Ao longo dos anos, em todas as áreas, o mundo vem reduzindo o número de empresas compradoras, exportadoras e cooperativas. Com essa consolidação do mercado, a gente percebeu, no passado, que as cooperativas maiores estavam comprando e fazendo fusões com as menores, e estas cooperativas pequenas estavam com dificuldades nas operações por questões de escala. E, às vezes, as cooperativas de nicho, de uma região muito específica, como Canastra ou Mantiqueira, estavam sendo encapadas por uma cooperativa grande, e aquelas histórias estavam se perdendo. Então, um dos objetivos da Coccamig é dar viabilidade para negócios de menor porte. Por isso, as feiras e exportações em conjunto e as missões internacionais dão escala e visibilidade a elas, e isso perpetua a singularidade daquela pequena cooperativa. Nos últimos cinco anos, a gente vem percebendo que esse esforço ajuda a preservar as pequenas cooperativas que dão particularidade ao café brasileiro.

Como isso está organizado? Os cooperados interagem de maneira interdependente?

Muitas vezes o cooperado faz parte de duas, três cooperativas. Há uma concentração de cooperativas no Sul de Minas, mas há na Zona da Mata, no Cerrado, então, naturalmente, há uma intercooperação. Tem todo um processo de estimular a intercooperação, e percebemos um avanço grande, até porque o cooperado observa modelos de gestão e acaba levando novas práticas para as outras. A Coccamig está sistematizando isso por meio de informação e nivelamento de capacitação. Estamos indo para a World of Coffee na Indonésia [que acontece em maio], propondo rodadas de negócios, parametrizando o programa de desenvolvimento de gestão das cooperativas, inclusive dando prêmios às melhores. Não é fácil, mas estamos avançando e percebemos que há uma cobrança dos próprios dirigentes de adotar práticas que são boas para todo mundo.

Quais práticas? Dê um exemplo.

Uma cooperativa sozinha consegue uma determinada condição para insumos, mas 17 cooperativas reunidas com uma central de compras conseguem outras condições. Por exemplo, temos uma central de compras de fertilizantes que já conseguiu cerca de 18% de redução do preço. Isso acaba impactando os negócios. É possível transpor isso para sistemas operacionais, aluguel de carros, área jurídica, o que torna as coisas mais fáceis, e as cooperativas percebem que isso traz resultados.

Ao longo destas quatro décadas da Coccamig, como você vê os avanços nas cooperativas afiliadas?

Sou um entusiasta do café, me sinto honrado em trabalhar com algo que é fascinante e delicioso. O Brasil tem cafés de todas as qualidades, ele resume o mundo da cafeicultura. O país tem todas as características de café do mundo, tem volume, segurança, geralmente cumpre as entregas, muito porque as cooperativas fazem esse papel. Sem dúvida, a governança das cooperativas melhorou muito, com cursos de capacitação, oficinas técnicas, gestão estatutária, processos mais bem definidos. Essa complexidade a cada ano nos faz olhar mais para o futuro, atentos a tendências.

Ao final de 2025, a lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR) deve começar a valer e o café é uma das cadeias envolvidas. Como isso influencia o trabalho de vocês?

Ano passado fizemos um seminário sobre a EUDR e o próximo, em meados de abril, será sobre carbono zero. O papel da Coccamig não é gerenciar o cooperado, mas dar o tom dos negócios com base nos mercados internacionais. É papel nosso popularizar novos conceitos, e o quesito de rastreabilidade também entra nessa discussão. Já a agenda do carbono está sendo atropelada pelo papel do Brasil na nova ordem de exportação do café, e as cooperativas têm hoje a capacidade de liderar este movimento. Hoje, o trabalho que estamos fazendo é o de conseguir mostrar o valor real da retenção de carbono que a cafeicultura tem.

O que é esta nova ordem de exportação?

As cooperativas fizeram o dever de casa nas últimas décadas. Dos anos 1990 até 2000, o preço do café caiu, o Brasil perdeu espaço, a Colômbia ganhou espaço e o mercado ficou à deriva. De 2000 a 2010, surgiram os cafés especiais, que se consolidam. De 2010 até agora, houve uma grande profissionalização das cooperativas, e, nos últimos três anos, houve uma inversão de mercado com as guerras da Ucrânia e Rússia, a covid-19 e a logística ruim. Agora estamos vivendo uma fase de ESG, compliance, rastreabilidade e carbono zero. Esse novo rearranjo da exportação de café é liderado pelo Brasil e isso está na mão das cooperativas, mas para isso elas têm que trabalhar em sintonia.

Como o preço atual do café pode contribuir para o crescimento das cooperativas?

Eu sinto que, a partir da pandemia, as cooperativas passaram a ter mais poder por terem o controle dos estoques. Com o pós-pandemia, está acontecendo uma mudança de preços nominais, e as cooperativas estão sabendo aproveitar este momento com propriedade. Com esse aumento histórico de preços, é claro que torna o ambiente mais “perigoso”, o hedge, mais perigoso. As proteções estão muito alavancadas, mas, naturalmente, as cooperativas devem se colocar como players mais importantes. Elas entraram definitivamente como peça-chave para todo o mercado.

Você acredita que os preços se mantenham em alta ao longo de 2025?

Temos que entender que o mercado está trabalhando sem referências do passado. Isso porque o mercado está invertido há muito tempo, ou seja, os cafés que existem no mundo ainda estão na origem, há pouco café nos terminais dos países consumidores em comparação aos níveis históricos. Ainda entram nessa conjunção fatores como inflação e juros, os problemas climáticos dos últimos anos e uma oferta mais reduzida. O produtor está mais capitalizado e administrando melhor a oferta de venda. E ainda existe o problema logístico mundial. Então, nos próximos seis meses vamos observar o câmbio, a especulação de novas geadas e a nova safra entrando. A partir da entrada da safra, pode ser que o mercado comece a se acomodar aos poucos, encontre novos patamares de preços mais reduzidos, mas é uma análise dinâmica que pode mudar, inclusive por conta das safras da Colômbia, do Vietnã e da África.

E quanto ao consumidor brasileiro, os preços elevados podem prejudicar a “reputação” do café?

O consumidor de hoje é muito diferente, os millenials aprenderam a tomar café de uma nova maneira, como a monodose e o movimento de home baristas. Tudo isso teve impacto na redução de consumo, e agora teremos que ficar atentos ao preço desse café extraforte tradicional, porque pode haver uma acomodação no consumo. É importante dizer que as cooperativas têm se colocado nesta discussão, fazendo o que chamamos de “cafetequização”, ou seja, temos condições de ter cafés muito bons com preços acessíveis sendo oferecidos por novos entrantes no mercado. Esta também é uma possibilidade que as cooperativas vêm explorando, de lançar cafés com margens menores, colocando no mercado local e atendendo esse público que quer cafés melhores. Também precisamos falar da escalada de consumo de cafés especiais, cafés com novos atributos e origens. Então, temos um momento de abertura de movimento e de modelo de consumo diferente, inclusive a retomada das cafeterias. Também vemos isso na Ásia.

Falando em Ásia, a China tem se mostrado cada vez mais interessada na importação de café. Como você avalia o cenário?

É claro que estamos acompanhando este comportamento, e é de interesse do Brasil atender a esta demanda. Mas também é importante observar que alguns países concorrentes optaram por assinar a Nova Rota da Seda com a China, como Peru e Uganda, que estão produzindo bem e têm investimento externo. Hoje, há muitas origens de café, principalmente na África, pois estão tendo muito investimento, a tecnologia está vindo forte com novas variedades e novos terroirs, então, daqui para frente, a competição vai ser muito mais acirrada.

Quem acompanha o mercado de café sabe que a questão logística é um ponto sensível. Na sua opinião, há riscos para o Brasil?

A questão dos portos é um problema no Brasil, e não vejo essa política de infraestrutura como prioridade. E esse é um dos maiores problemas do café brasileiro. Nosso café é percebido como complexo, rico, com profundidade de nuances, a governança tem melhorado, mas o problema de logística ainda persiste. Essa logística ainda nos penaliza, e vejo o Estado ainda muito moroso e sem capacidade de investir. Esse é o nosso maior desafio. E os nossos concorrentes estão avançando: a China, por exemplo, vem controlando muitos portos na África e acabou de inaugurar portos no Peru também, ou seja, ela já está aqui, na América do Sul.

Aos 40 anos de Coccamig, como é renovar a força do cooperativismo entre os colaboradores jovens?

A gente participa de feiras e eventos, reposicionando a cooperativa para os jovens, saindo de uma visão “cringe”, fora de moda. É essencial modernizar a forma de se comunicar, repaginar, tirar essa percepção de que cooperativismo é só para a velha guarda. Há cinco anos, a Coccamig não tinha redes sociais. Fizemos uma mudança para trazer pessoas alinhadas a esse novo momento, uma comunicação mais moderna, sem perder a essência do cooperativismo. O papel da Coccamig é ter interlocução com os cooperados, e por isso é importante dinamizar, estar nas redes sociais e mostrar que cooperativismo tem uma base de contribuição mútua que se estende por diferentes gerações.

Quais são seus objetivos como presidente da Coccamig?

Meus principais objetivos são ter a possibilidade de colocar o café brasileiro em outro patamar de preço, para ser benéfico ao produtor e à sociedade. Quando a cooperativa vai bem, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da cidade melhora, a vida do produtor melhora, as cidades têm mais negócios e turismo. O cooperativismo possibilita expandir e perpetuar a cultura do café. Outro objetivo é fazer com que as cooperativas tenham capacidade maior de interlocução, porque se elas organizarem isso vão alavancar o café brasileiro, o que vai ser ótimo para o país e para o produtor. Meus objetivos são holísticos e meu mandato dura mais um ano e meio, e ainda posso me reeleger.

Para 2025, alguma meta específica?

Pela primeira vez na história, o setor está unido, porque percebeu que é possível dar um salto em posicionamento e preço, além de avançar na percepção do mercado lá fora e do próprio mercado interno. Então, para 2025, o foco é manter o profissionalismo, e mostrar, com evidências, a sustentabilidade do café brasileiro e de nossa região. Não adianta o agricultor fazer a própria auditoria, mas é preciso uma chancela de quem está comprando, então a parte de governança, rastreabilidade e auditorias externas seguirá sendo prioridade. Além disso, no trânsito mundial, a complexidade é ampla, com origens e storytellings, por isso temos que reforçar e contar nossas boas histórias.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Mariana Grilli

Mercado

Chocolateiras contam a cena tree to bar e bean to bar em livro

Nos livros sobre chocolate, é comum que imperem os processos de manufatura e receitas com o produto. Não é o que acontece no recém-lançado Onde Cresce o Chocolate. Na obra coletiva, escrita por mulheres importantes na cena do chocolate brasileiro, o que prevalece é a divulgação de toda a cadeia produtiva – das amêndoas de cacau ao negócio do chocolate, com boas referências bibliográficas e uma introdução que privilegia contextos.

Mais do que isso, porém, está-se construindo conhecimento sobre cacau e qualidade, que termina na degustação correta dos chocolates finos. A começar pelo alerta necessário de que o que é denominado chocolate nem sempre é o que deveria, de fato, ser – a legislação alimentar brasileira, geralmente permissiva, exige que o produto possa conter apenas um quarto da matéria-prima, qualquer que seja a sua qualidade.

As autoras do livro – as chocolateiras Arcelia Gallardo, da Mission Chocolate, e Gislaine Gallette, da Gallette Chocolates; as cacauicultoras e fazedoras de chocolate Juliana Aquino, da marca Baianí, e Claudia Gamba, da marca Mestiço, ao lado da consultora na área Luciana Monteiro (Ara Cacao), da pesquisadora da EACH/USP Mariana Bueno e de Zélia Fragoni, especialista no produto e desenvolvedora de websites – também discorrem sobre um cacau de origem brasileira, algo praticamente invisível nos livros estrangeiros, e compartilham as práticas bean to bar e tree to bar, o que torna o livro mais interessante. Um pouco deste movimento da semente à barra está no capítulo 4, dos dez que a obra traz.

Tem receitas? Claro que tem. Tem também vassoura-de-bruxa, que devastou as plantações na década de 1990, o complexo fenômeno de fermentação, os trabalhosos processos de secagem e avaliação
das amêndoas e o detalhado fazer do chocolate, a partir de uma escolha acertiva do cacau.

Livro “Onde Cresce o Chocolate”
Edição das autoras – R$ 159 na chocolatrasonline.com

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Exportações e consumo de solúvel continuam em alta no Brasil

Dados da Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel) mostram que, entre janeiro e junho de 2025, o Brasil exportou 1,944 milhão de sacas de café solúvel — um aumento de 1,3% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto a receita cambial atingiu US$ 586,9 milhões, um salto de 45,2%. 

Os Estados Unidos lideram as importações, com 361.088 sacas embarcadas, seguidos da Argentina (193. 298 sacas), Rússia (138.492 sacas), Indonésia (75.140 sacas) e Peru (74.069 sacas). Ao todo, 81 países compram café solúvel do Brasil.

Consumo interno também cresce

O mercado brasileiro registrou aumento de 4,2%, com consumo equivalente a 480.578 sacas de café solúvel no primeiro semestre de 2025. Destaque para o tipo freeze-dried (liofilizado), que avançou 18,7%, chegando a 1.557 toneladas — enquanto o spray dried (em pó) subiu 2,5%. 

Segundo Aguinaldo Lima, diretor de relações institucionais da Abics, em comunicado, o desempenho sustentável das exportações mostra que o café solúvel nacional mantém regularidade, mesmo diante das tensões tarifárias no exterior.

Comunicado recente da administração Trump prevê taxa de 50% sobre importações brasileiras no mercado dos EUA a partir de agosto, o que pode reduzir a competitividade do produto frente a concorrentes isentos, como México.

TEXTO Redação • FOTO Felipe Gombossy

Energizando o mercado de café

Por Celso Vegro

A cafeína é um alcalóide presente em várias plantas, sendo o guaraná a espécie com a maior concentração conhecida dessa substância no reino vegetal. O café, particularmente o da espécie canéfora, possui uma concentração significativa de cafeína, sendo essa a principal origem comercial do alcaloide.

São largamente conhecidos os efeitos estimulantes da cafeína, por sua capacidade tanto de manter o estado de alerta como de reduzir a fadiga. Sua ação se dá a partir do bloqueio de neurotransmissores responsáveis pela sensação de sono. Recentemente, a cafeína passou a ser sistematicamente empregada também na melhora do desempenho físico humano em atividades aeróbicas.

Há décadas a cafeína compõe medicamentos destinados a mitigar cefaleia (ou enxaqueca), resfriados e alergias, e também moderadores de apetite. O pó branco de gosto muito amargo tem capacidade vasoconstritora, sendo eficaz no tratamento não curativo dessas enfermidades. A indústria farmacêutica, reconhecendo a existência de uma epidemia de enxaqueca no mundo moderno, desenvolveu várias linhas de medicamentos contendo cafeína.  

 O café insere-se no mercado de bebidas (soft drinks) e, historicamente, é a fonte primordial de consumo de cafeína. Bebidas gaseificadas passaram a incorporar o composto em suas formulações, tornando-se, em poucas décadas, recordistas em vendas no mercado de bebidas por todos os continentes.

Os conglomerados de produção e distribuição de bebidas buscam, continuamente, espaços para a acumulação capitalista. Assim, novos mercados são desenvolvidos, sendo, atualmente, o mercado de bebidas energéticas (saborizadas ou não) um dos de maior êxito. Em média, cada 100 ml desse tipo de bebida contém 30 miligramas do alcaloide.

No Brasil, acompanhamos uma verdadeira explosão no consumo de energéticos. Em 2020, estimou-se uma demanda de 151 milhões de litros. Diante da contínua expansão do espaço em gôndolas de supermercados para a exposição das bebidas energéticas, não escorrega para o exagero considerar que a demanda anual por essas bebidas já esteja em torno dos 200 milhões de litros.

As indústrias de bebidas energéticas, com raras exceções, empregam cafeína sintética em seus produtos. Essa molécula produz os mesmos efeitos no organismo humano que a obtida das plantas, mas age de forma mais imediata. Já a versão natural tem efeitos mais duradouros e carrega flavonoides com ação antioxidante.

A concentração de cafeína no café canéfora (robusta e conilon) oscila entre 2,2% e 2,7%. Para efeito da produção de estimativas, adotou-se o ponto intermediário de 2,5% como média de concentração do alcaloide. Assim, a obtenção de 1 kg de cafeína demanda, aproximadamente, 40 kg de café verde. Seguindo o mesmo raciocínio, 1 litro de energético demandará 300 mg de cafeína. Para atender a demanda por cafeína dos 200 milhões de litros referidos acima, cerca de 40 mil sacas de café teriam que ser processadas anualmente para a extração do alcaloide.

Diante do porte atual desse mercado, associado a um eventual empoçamento de café que seria embarcado para os EUA em razão do choque tarifário decretado pelo mandatário daquele país, uma regulamentação determinando que as indústrias de bebidas energéticas substituam o emprego da cafeína sintética pela derivada do café (ou do guaraná) seria uma possível alternativa paliativa até o redirecionamento do café que teria por destino os EUA.

A adoção da cafeína natural encontraria grande aceitação por parte dos consumidores norte-americanos. Um dos redutos de consumo dos energéticos são os frequentadores de academias, que têm na cultura da vida saudável e sem alimentos ultraprocessados e sintéticos um de seus pilares.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
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