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Café e biodiversidade
A influência do uso e ocupação da terra das culturas agrícolas nas paisagens naturais no Brasil ainda é forte e merecem um novo olhar pelas tendências de mercado e pelo que representam na pauta do agronegócio e na cultura do brasileiro. O Brasil, por exemplo, é o maior produtor e exportador mundial de café, representando 1/3 da produção mundial. Se foi um fator determinante do desmatamento da Mata Atlântica em meados do século XIX, agora o setor pode estar caminhando para um novo cenário, principalmente devido ao crescimento dos cafés especiais.
Nas últimas duas décadas tem chamado a atenção a valorização do consumidor pela qualidade dos cafés produzidos. Os grãos utilizados nos chamados “Cafés Especiais” são produzidos sob procedência controlada e altos padrões de qualidade no seu processamento, formando uma cadeia de produção sob padrões rígidos de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental e ajudando a proteger áreas sensíveis do Cerrado e da Mata Atlântica. Praticamente todas as áreas produtoras de cafés especiais no Brasil estão na Mata Atlântica ou em ecótonos/enclaves como o Maciço do Baturité, trecho de Mata Atlântica na Caatinga cearense, e na transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica como na Chapada Diamantina, região central do estado da Bahia.
A conexão entre a produção cafeeira e os remanescentes de vegetação nativa já é reconhecida pela literatura científica. Os serviços ecossistêmicos de remanescentes de vegetação nativa para os cafezais, revelados em vários estudos científicos, incluem a manutenção de um microclima favorável, manutenção de recursos hídricos, presença de polinizadores, de populações de predadores naturais de pragas que afetam as lavouras a exemplo da mariposa conhecida como o bicho-mineiro do cafeeiro (Leucoptera coffeella), entre outros fatores que contribuem para o aumento da produtividade das plantações. O bicho-mineiro pode acarretar perdas entre 30-70% da produção, comprometendo a qualidade e a produção dos grãos e causando impacto negativo na cadeia produtiva do café. Dezenas de espécies de vespas são inimigos naturais do bicho-mineiro e possuem comunidades nos remanescentes de vegetação nativa que geralmente rodeam as plantações de café.
Portanto, a quantidade e qualidade desses remanescentes são muito importantes para a produção de serviços ecossistêmicos e seu manejo e proteção são essenciais para a produção cafeeira sustentável. Esses são fatores cruciais para enfrentar o enorme desafio das mudanças climáticas nas próximas décadas, conforme artigo do Gabriel Moreira e Juliana Sorati da Daterrra na edição no 70 da Revista Espresso.
A produção de cafés especiais está associada as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade. Essas áreas são identificadas e revisadas periodicamente por dezenas de especialistas e cientistas de todos os biomas brasileiros para fins de definição de políticas púbicas de proteção ambiental. A Mata Atlântica, por exemplo, possui áreas prioritárias para conservação da biodiversidade com grande riqueza biológica sobrepostas com regiões de produção de cafés especiais como leia mais…