Coluna Café por Convidados Especiais

Do campo à xícara, profissionais convidados refletem sobre o setor

Café, paixão que nos une

Setembro foi muito especial para Nescafé! Ganhamos um prêmio relevante, o YouTube Works, que, em parceria com a Kantar, celebra campanhas inovadoras veiculadas na plataforma no último ano. Nescafé concorreu em duas categorias com #RespeitoAoTempo: The Unskippable, que premia campanhas envolventes a ponto de despertar nos usuários o desejo de ver o conteúdo todo, sem pular.

Confesso que havia receio em como as pessoas reagiriam a um conteúdo de 4 minutos mostrando o ritual do preparo do café coado ao som da música “Paciência”, do cantor Lenine. No entanto, as reações foram extraordinárias: quase 3 milhões de visualizações, com mais de 50% das pessoas assistindo até o final.

A outra categoria foi a Meeting the Moment, focada nas marcas que foram ágeis para reagir a um contexto. Esse reconhecimento é muito especial, já que o filme foi pensado na pandemia. Fico orgulhoso de ver nossa marca ressignificando o momento de preparo do café: faz dele uma pausa para relaxar e se inspirar.

Depois, recebemos a notícia que fomos indicados ao Effie, prêmio focado na efetividade de campanhas publicitárias. O case “Do Solúvel ao Premium” é um dos finalistas em Bebidas Não Alcoólicas, e mostra a evolução de Nescafé, marca inicialmente focada na praticidade, e que passou a enaltecer a importância do respeito ao tempo de toda a cadeia, do plantio à colheita, da torra ao preparo.

Por fim, para coroar todas essas conquistas, temos a grande celebração do Dia Internacional do Café. Deixo meu agradecimento a todos os entusiastas que fazem parte da incrível jornada de Nescafé, colaborando para gerar impacto positivo através de uma paixão em comum: café!

TEXTO Valdir Nascimento, Head de Marketing de Nescafé e Starbucks at Home na Nestlé • FOTO Nani Rodrigues

O ESG veio para ficar! Sua empresa já aderiu às novas práticas?

O termo ESG (Environmental, Social and Governance) ou ASG (Ambiental, Social e Governança, em português), está cada vez mais presente em nossas vidas. Se você ainda não ouviu falar, em breve vai ouvir e saber a importância dessas letrinhas.

As empresas têm prestado mais atenção a este tema e procurado adaptar suas ações de forma a ficarem cada vez mais adequadas as questões de sustentabilidade. Para se ter uma ideia, boa parte dos investidores e fundos de investimentos têm procurado aportar seus recursos em empresas que tenham essa política em sua cultura.

Um relatório divulgado pela consultoria PwC mostra que na Europa, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos estão em investimentos que consideram os critérios de ESG – o que representa no total US$ 8,9 trilhões. Outro ponto importante é que 77% dos investidores institucionais informaram que planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos.

O processo manual, burocrático e muitas vezes desconectado do planejamento de projetos de capital é uma dor comum às empresas no processo de Capex (investimentos em bens de capital). Agora, com as iniciativas do ESG, há uma nova camada de aprovações que precisa ser considerada. Ou seja, projetos com potencial impacto ambiental ou compromissos de ESG devem ser sinalizados e encaminhados para revisão, avaliação e aprovação do comitê interno decisor de cada organização.

Um verdadeiro sistema de fluxo de trabalho de aprovação precisa ser dinâmico e permitir diferentes rotas para que seja possível abrigar um modelo de governança corporativa que flexibilize a racionalização de projetos, custos, documentos de suporte e informações financeiras.

No caso de projetos de ESG, você pode exigir estimativas específicas de impacto ambiental e custos econômicos. Todos esses dados, em um formato consistente, significam que a liderança pode comparar e avaliar projetos em igualdade de condições e garantir que o dinheiro seja alocado para os projetos certos de acordo com o momento da empresa.

Antes da avaliação dos investimentos na prática, as empresas necessitam compreender o que é mais relevante dentro das métricas ESG. Nesse sentido, as companhias têm criado “matrizes de materialidade de definição de metas” que auxiliam na hora de priorizar projetos.

São elas: 1) Avaliação e gestão ambiental e social; 2) Trabalho e condições de trabalho; 3) Qualidade da água e sedimentos; 4) Impactos na comunidade e segurança da infraestrutura; 5) Reassentamento; 6) Biodiversidade e espécies invasoras; 7) Povos indígenas; 8) Palco cultural; 9) Governança e aquisições; 10) Comunicações e consultas; 11) Recurso hidrológico; e 12) Mitigação e resiliência às mudanças climáticas.

Trata-se de um processo novo em que ainda estão sendo debatidos critérios para definir os compromissos que uma companhia necessita ter para adotar as práticas ESG. No entanto, a eficácia das mensurações já tem apresentado resultados assertivos em grandes corporações, especialmente na tomada de decisões.

A verdade é que, nos tempos atuais, as empresas de diferentes setores da economia precisam ser sustentáveis, e mais: são cobradas pela sociedade e até por investidores a apresentar cifras e números que comprovam o impacto de suas iniciativas. É por essa razão que o ESG veio para ficar! É preciso medir, de fato, o quanto uma companhia está realmente envolvida em prol do meio ambiente.

Para contribuir com essa transparência, recentemente foi criado no Brasil o Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), cujo objetivo será normatizar, através de pronunciamentos técnicos, à divulgação das práticas de sustentabilidade empresarial.

O CBPS vai interagir com o International Sustainability Standards Board (ISSB), criado pela Fundação IFRS na COP26 com o objetivo de emitir normas técnicas a serem aplicadas ao redor do mundo. O CBPS, por sua vez, será o normatizador brasileiro – responsável justamente por incorporar as normas globais no ordenamento pátrio.

TEXTO Henrique Ludgero Casagrande, Account Manager da Prosperi, uma das companhias parceiras da Microsoft mais premiadas em toda a América Latina

Muito além do aroma gostoso: Conheça os benefícios do café para a saúde

O café é conhecido, geralmente, pelo apreço que temos pelo seu sabor e aroma. Ele faz parte da nossa cultura e está em refeições familiares e momentos empresariais, mas investigações têm sido feitas para demonstrar que ele possui também significativo valor nutricional.

Diversos estudos demonstram que o café é um alimento quimicamente complexo que contém, em sua estrutura, diversos compostos com significativa ação no metabolismo humano. Dentre esses compostos destaca-se a cafeína, que, comprovadamente, possui ação estimulante no sistema psicomotor. Essa ação é um dos principais atrativos dessa bebida, mas sabe-se também que é a cafeína o principal motivo apontado para os efeitos colaterais do consumo em excesso do café.

Os polifenóis presentes na bebida são importantes mediadores anti-inflamatórios, antioxidantes e antibacterianos. Os diterpenos, por sua vez, podem atuar como supressores de moléculas envolvidas na formação de tumores. Já as melanoidinas (resultadas na reação de Maillard), ativadas na torra do grão verde, tem ação antioxidantes, antimicrobianas, anticarcinogênicas, anti-inflamatórias e anti-hipertensivas

O café ainda é fonte de um importante aminoácido, o triptofano, que está envolvido na síntese da vitamina B3 (niacina) e da serotonina, conhecido como hormônio da felicidade. É fonte de minerais como ferro, manganês e cobre, que atuam como importantes antioxidantes. Também tem sido observado que a bebida tem ação positiva na microbiota intestinal, pois demonstrou ser capaz de atuar na redução de colônias E.Coli e aumentar as de Lactobacillus.

Em outros estudos percebeu-se que a bebida em si, não apenas um composto isolado, é capaz de reduzir o risco de desenvolver doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Além de estar relacionado ao aumento da longevidade, pode aliviar cefaleias e enxaquecas, e é apontado também como sendo importante para a saúde cardiovascular.

Destaca-se ainda que a eficiência de todos os benefícios citados depende também do modo de preparo da bebida, a espécie e a qualidade dos grãos, do nível de torra, da frequência de consumo, e do acréscimo ou não de açúcar ou adoçante. Mas, de modo geral, o consenso dos estudos é que no consumo de três a cinco xícaras de café (300-450 de cafeína) pode-se observar benefícios, e foi observado que acima de cinco xícaras a cafeína presente no café pode trazer efeitos indesejados.

Por fim, o café é um alimento que nos conforta com seu aroma familiar e também nos entrega compostos bioativos capazes de auxiliar na garantia de uma vida mais saudável e prazerosa.

TEXTO Flávia Elvira de Campos – Nutricionista – CRM 62971 • FOTO Bean Bros

Reposicionando o café canéfora (conilon e robusta) no mercado

Conforme afirmado em artigo anterior – Cresce a Produção e o Consumo de Robusta no Mundo –, a melhoria da qualidade do café Robusta é uma forma segura de reter os mercados conquistados durante a pandemia e abrir outros. O artigo acrescentou que existem muitas maneiras de melhorar a qualidade do café Robusta, mas talvez a mais rápida seja por meio do processamento pós-colheita.

O Instituto de Qualidade do Café/Coffee Quality Institute (CQI) realizou um Workshop em junho passado na Fazenda Kaweri, em Uganda, como parte final do desenvolvimento de seu Curso de Processamento 2 Robusta (Q Processing 2 Robusta). Participaram especialistas em processamento de café, instrutores e provadores de 10 países diferentes e com experiência em café em mais de 40 países. Os principais países produtores de Robusta estavam representados: Vietnã, Brasil, Indonésia e Uganda. Os participantes brasileiros foram o produtor capixaba Lucas Venturim e eu, como membro do conselho do CQI. O grupo se reuniu por uma semana sob a liderança da Gerente do Programa de Processamento Pós-Colheita do CQI para discutir e melhorar os materiais do curso. Slides, vídeos, informações técnicas e orientação para instrutores dos módulos que comporão o novo Curso CQI Q Processing 2 Robusta estão sendo agora finalizados.

O Workshop também incluiu visitas às instalações de processamento de café da fazenda, testes de processamento com amostras e sessões de prova de cafés Robusta processados ​​por diferentes métodos: natural, cereja descascado/honey e lavado, fermentado ou não, com ou sem leveduras ou outros produtos. Cafés dos testes, bem como amostras de micro, pequenos e grandes lotes de origens tão diversas, como Brasil, Vietnã e a fazenda anfitriã em Uganda, foram provados e pontuados entre 80 e 89 pontos, o que mostra que ainda há muito a ser desmistificado sobre a qualidade dos cafés Robusta devidamente processados.

Simultaneamente ao Workshop em Uganda, ocorreu o 1º Encontro Brasileiro de Degustadores de Café na região de Rondônia, onde se produz os Robustas Amazônicos. O evento, provavelmente a primeira iniciativa deste porte no mundo, reuniu 130 degustadores brasileiros e estrangeiros que provaram Robustas não só de Rondônia, mas também do Espírito Santo e da Bahia, além de Arábicas de várias regiões brasileiras. Um dos destaques do evento foi a degustação dos cafés Robustas que, segundo especialistas de renome internacional, como Silvio Leite e Edgard Bressani, são cafés diferenciados, excepcionais, com muita personalidade e que são a grande novidade para o mercado, cuja mentalidade deve mudar quanto aos cafés Robusta. Os provadores da nossa exportadora de cafés especiais Qualicafex degustaram alguns dos melhores cafés do Workshop do CQI, inclusive os brasileiros, e, como disse Thais Staut, endossamos as palavras dos companheiros e especialistas acima e acrescentamos que precisamos estabelecer um novo paradigma de qualidade para os cafés Robusta.

Outra atividade liderada pelo CQI para posicionar os cafés Robusta como um produto de qualidade foi a sessão de provas/desgustação realizada no World of Coffee da Specialty Coffee Association, em Milão, no final de junho passado. Mais de 50 pessoas participaram da sessão que incluiu amostras brasileiras, asiáticas e africanas que novamente surpreenderam e impressionaram pela alta qualidade e pontuação dos cafés. Foi comentado que a prova/degustação foi o ponto de partida para a venda de cafés Robusta de alta qualidade com prêmios substanciais de preço.

O processamento pós-colheita é uma maneira importante de enfatizar as principais características de qualidade dos cafés Robusta. O desafio é identificar os sistemas de processamento que melhor se adaptam ao “terroir” e utilizá-los de forma consistente para permitir que qualidades semelhantes sejam obtidas ano após ano, com a variação de pontuação esperada para um produto cuja produção e qualidade dependem do clima.

Há espaço no mercado para micro e pequenos lotes de cafés Robustas especiais de origem única, alta qualidade e alta pontuação, que estão quebrando paradigmas estabelecidos. Há também muito espaço para volumes maiores de cafés Robusta de qualidade diferenciada que podem ocupar espaço adicional em blends já conhecidos dos consumidores de café, desde cápsulas de dose única e “blends” de café da manhã em cafeterias, até marcas tradicionais de café torrado e moído e solúvel oferecidas no varejo. Há muito espaço disponível no mercado para cafés Robustas produzidos e processados ​​adequadamente, com benefícios para todos na cadeia de fornecimento, dos produtores aos consumidores.

Essa revolução da qualidade do Robusta, que começou discretamente na Índia há muitos anos, está ganhando força e se espalhando para outros países produtores de café Robusta. A ideia original para melhorar a qualidade foi despolpar os cafés Robustas; recentemente foram incluídos processos de inoculação e fermentação que também podem alterar a qualidade dos Robustas naturais. O mercado está longe de estar saturado para esses novos produtos que provavelmente sustentarão a continuidade do crescimento histórico da participação dos Robustas na produção mundial de café.

*Neste artigo, originalmente publicado em inglês e expandido nesta versão em português, a palavra Robusta se refere tanto ao Conilon quanto ao Robusta propriamente dito, conforme usado pela Organização Internacional do café (OIC).

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando

Responsabilidade compartilhada da xícara à semente para alcançar uma renda digna, próspera e sustentável

Há muito trabalho em andamento para determinar o que ficou conhecido como renda digna para o cafeicultor em diferentes países. A palavra “próspera” foi acrescentada para indicar que só viver não é suficiente para o cafeicultor que também precisa prosperar. Há propostas para acrescentar a palavra “sustentável” porque o mercado requer cada vez mais um café produzido de forma sustentável. Não é suficiente que os produtores tenham renda para apenas viver e prosperar pois eles também precisam receber aquilo que é necessário para produzir café de forma sustentável.

A necessidade de alcançar uma renda digna, próspera e sustentável traz à tona o conceito de responsabilidade compartilhada em toda a cadeia de abastecimento do café, da xícara à semente, para pagar o produtor pela produção sustentável. Deve ser da xícara à semente e não da semente à xícara porque, a menos que o processo comece no consumidor, tudo o que acontecerá é que a pobreza dos cafeicultores aumentará.

Dados preliminares já disponíveis mostram que a renda real do produtor fica aquém da renda digna e muito aquém da renda próspera e sustentável na maioria dos países produtores de café. Em alguns países, a renda digna é 3, 4 ou mais vezes superior à renda real. É evidente que a referência é sempre à renda digna média nos países. Mesmo naqueles países em que a renda média está muito abaixo da renda digna pode haver produtores que tem renda real igual ou acima da renda digna. Por outro lado, no próprio Brasil, onde dados indicam que a renda real está acima da renda digna, se deixarmos as médias de lado poderemos provavelmente verificar que há cafeicultores cuja renda está abaixo da digna e que necessitam apoio para melhorá-la.

Por que há cafeicultores, inclusive no Brasil, com renda real abaixo da renda digna? Mais importante do que saber qual é a renda digna média de referência em cada país, é entender por que a renda de muitos produtores está abaixo, muitas vezes bem abaixo dessa renda de referência. Conhecer esses números – renda real e renda digna – e principalmente suas diferenças em cada região e país ajudará muito nesse diagnóstico do problema, região a região e país a país. A lista de potenciais suspeitos é conhecida: baixa produtividade por falta de acesso à tecnologia, que tem a ver não apenas com seu desenvolvimento e/ou disponibilidade, mas também com sua transferência aos produtores, escassez de investimentos e uso de insumos e equipamentos por falta de financiamento, ineficiência dos mercados, etc. Aqueles entre os itens acima que estão fora da porteira da fazenda e além do controle do produtor estão incluídos no que ficou conhecido como “ambiente facilitador”, que no Brasil é em média muito melhor que nos demais países produtores de café.

A solução para melhorar o ambiente facilitador não está nas mãos de um único ator ou setor do agronegócio café e inclui os governos dos países produtores. O papel do governo é fundamental para melhorar o ambiente facilitador em todos os países. A abordagem ideal é que o governo e o setor privado – cadeia de abastecimento do café e outros – trabalhem juntos para abordar a melhoria do ambiente facilitador que, por sua vez, criará as condições para que os cafeicultores aumentem sua renda. Ainda pode haver espaço para isso no Brasil, no âmbito regional.

O desafio é reunir o setor privado e o governo para desenvolver e implementar um roteiro para melhorar o ambiente facilitador e assim ajudar a fechar a lacuna entre a renda real e a renda digna, próspera e sustentável. Há propostas e discussões em andamento em muitos países, entre associações do café, empresas e governos de países produtores e consumidores. Como não é realista esperar que os consumidores paguem mais pelo café sustentável, o roteiro terá que contar com a responsabilidade compartilhada ao longo da cadeia de abastecimento, desde antes do café chegar ao consumidor até o cafeicultor. Isso pode ser feito? Faria sentido econômico?

Será útil entender como isso foi feito em países onde a diferença entre as rendas real e digna não existe ou é pequena, como na maior parte do Brasil. O que pode ser aprendido com eles e o que é aplicável a outras regiões e países produtores de café? Será a disponibilidade de serviços públicos de extensão e treinamento; o desenvolvimento de cooperativas que apoiam aos pequenos produtores; cadeias de abastecimento eficientes para café, insumos e equipamentos; associações empresariais fortes na área do agronegócio café; regulamentação e incentivos governamentais para facilitar o financiamento; tributação justa e “competitiva”; oportunidades de trabalho e de criar negócios fora da fazenda em áreas de cultivo de café; outros?

A sugestão é usar estudos de caso de países que conseguiram melhorar seu ambiente facilitador para ajudar a criar o roteiro – processo, participantes e ações – para que outras regiões e países produtores de café façam o mesmo e aumentem a renda digna, próspera e sustentável de seus cafeicultores. O passo seguinte é incluir a cadeia de abastecimento de café nos países importadores e consumidores para garantir que essa responsabilidade de aumentar a renda dos produtores também seja compartilhada da xícara à semente, inclusive porque as exigências dos países importadores são crescentes.

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando

A jornada de Nescafé, a sétima marca mais consumida do mundo, segundo a Kantar

Nescafé é a sétima marca mais consumida do mundo e a primeira dentro da categoria de cafés, segundo o relatório WorldPanel da Kantar, empresa de pesquisa de Londres, divulgado em 2022. É um privilégio trabalhar com uma marca que alcança esse patamar de consumo e apresenta números tão significativos: está presente em, aproximadamente, 25% dos domicílios de todo o mundo. No entanto, é ainda mais relevante o impacto que Nescafé tem no dia a dia das pessoas e o propósito que nos norteia desde a sua criação. 

Desde a época da faculdade sou fascinado pela história de grandes marcas, e a de Nescafé sempre foi uma das mais impressionantes para mim. A ideia surgiu em 1929, ano do crash da Bolsa de Nova York. O governo brasileiro precisava de ajuda para não desperdiçar as sacas produzidas naquele ano e a Nestlé já tinha a expertise, por exemplo, do leite em pó. Assim, inventamos o solúvel, fácil de armazenar, de preparar e que aumenta consideravelmente a vida útil do café. Por isso não somos Nescoffee, nem Neskaffee, mas sim Nescafé (com um acento agudo vermelho que virou ícone reconhecido globalmente). Sinto orgulho de trabalhar com uma marca que foi batizada em português e está presente em 180 países e em 1 de cada 7 xícaras de café consumidas no planeta. Na verdade, a transformação de Nescafé começou fora do lar, nas cafeterias, com o lançamento do espresso feito com grãos moídos na hora. A mesma pesquisa da Kantar mostra também que somos a sexta marca do mundo em bebidas fora do lar, e o café mais escolhido nos canais Out of Home, um reconhecimento de que estamos no caminho certo.

Indo além, a beleza de Nescafé está em democratizar a experiência do café e ao mesmo tempo olhar para a cadeia com lupa e muito respeito, buscando sustentabilidade e pioneirismo em tudo que fazemos, inclusive inovando constantemente no campo e na indústria porque sustentabilidade também é sobre isso. Em 2018, lançamos nossa marca de café especial (definição técnica para cafés de alta qualidade que atendem a um padrão internacional) 100% nacional, a Nescafé Origens do Brasil. A busca por intensificar, aperfeiçoar e aprofundar cada vez mais a cafeicultura nos impulsionou na responsabilidade de não deixar ninguém para trás no que diz respeito às regiões cafeeiras brasileiras. Mapeamos as melhores terras: Chapada Diamantina, na Bahia, e regiões mineiras de São Sebastião do Paraíso e Alto Paranaíba. Merece destacar também que usamos somente vidro e lata em nossas embalagens, com o objetivo de aumentar e facilitar as possibilidades de reciclagem. 

Sabemos que o café sustentável transforma o agro, e estamos trabalhando em apoio à transição de nossas fazendas produtoras rumo à agricultura regenerativa. Para tanto, colocamos em prática ideias que aprimoram o cultivo, como nosso projeto com abelhas, a fim de favorecer a polinização dos cafezais e a biodiversidade, aumentar a produtividade da safra, a qualidade dos frutos e reduzir a pegada de carbono. Aliás, lançamos nesse ano uma edição especial e limitada chamada Colmeia dentro da linha de Origens do Brasil onde, além do café, a embalagem tem um pote de mel de flor de café. Esse cuidado com o meio ambiente na cafeicultura nos impulsionou a cravar a meta: até o ano que vem, seremos a primeira marca carbono neutro do Brasil de café solúvel e para coar. 

Nescafé também está liderando a transformação digital da categoria. Globalmente é a segunda marca mais escolhida online, ainda de acordo com a pesquisa da Kantar, e nos preparamos para conquistar as próximas gerações com a nossa verdade de marca, trazendo mais produtos e serviços para nutrir o ecossistema do café e fazer sempre mais parte do dia a dia das pessoas. Queremos, cada vez mais, ser ponte – e não muro – facilitando a construção de repertório e o desenvolvimento do mercado de forma inclusiva, humana e sustentável.

TEXTO Valdir Nascimento, Head de marketing de Nescafé e Starbucks at Home na Nestlé • FOTO Daniele D'Andreti

Cresce a produção e o consumo de robusta no mundo

A participação do café Robusta na produção mundial passou de 25% em 1980 para cerca de 35% em 2005, excedeu 42% em 2020 e está caminhando para 45% ou mais. O Brasil terá uma safra recorde de Conilon este ano, o Vietnã provavelmente terá um ano normal e Uganda é a nova estrela em ascensão na produção de Robusta. Além disso, produtores tradicionais de Arábica como México e Nicarágua estão aumentando sua produção de Robusta, sem contar que a Colômbia também o está plantando.

O recente crescimento do preço do café verde bem como a queda na renda em muitos países devido à pandemia continuarão exigindo o aumento da participação de Robusta nas ligas de café a fim de limitar o aumento dos preços do café aos consumidores. Essas tendências recentes somam-se a mudanças mais fundamentais e de longo prazo no mercado de café que favoreceram o aumento de longo prazo na produção e no consumo de Robusta.

Um importante desenvolvimento de mercado neste século foi a introdução do café em grandes mercados emergentes que são tradicionais consumidores de chá, como Indonésia, China, Índia e Vietnã. A bebida de café inicialmente escolhida nestes países é o café solúvel, produzido principalmente com Robustas, pois os consumidores preferem um produto de café de preparação semelhante à do chá. Do café solúvel em pó (“spray dried”) eles tendem a passar para o café solúvel liofilizado, de melhor qualidade. Dependendo da renda e percepção da qualidade do café, os consumidores podem mudar para café torrado e moído e café espresso e, eventualmente, cafés especiais. Os jovens, consumidores de refrigerantes, podem preferir bebidas de café prontas para beber ou “3 em 1”, que são pequenos envelopes de dose única com café solúvel, leite não lácteo e açúcar. O próximo passo pode ser bebidas de café à base de leite, como shakes ou cappuccinos, e eventualmente cafés especiais, novamente dependendo da renda e da educação sobre a qualidade do café.

Outro desenvolvimento relevante é a melhoria da qualidade dos Robustas, incluindo aquela proveniente do benefício úmido, que vem permitindo sua maior participação nas ligas de torrado e moído e cápsulas oferecidas por indústrias de todos os portes. Há uma nova visão sobre a qualidade dos Robustas, com concursos de qualidade e ligas de origem única e 100% Robusta. Os cafés Robusta, que estavam mais presentes na base da pirâmide de renda com produtos de menor preço para a população de menor renda, estão agora abrangendo toda a pirâmide e se aproximando do topo. O Coffee Quality Institute (CQI) tem agora classificadores Q Grader tanto para Arábica quanto para Robusta. Eles são profissionais credenciados para classificar e pontuar cafés Arábica e/ou Robusta utilizando padrões desenvolvidos pela Specialty Coffee Association (SCA). O CQI está em processo de implantação dos Cursos de Processamento Q Robusta, para certificar os estágios de competência no processamento do café Robusta, como já é feito para os cafés Arábica. 

O café solúvel, cuja base é o Robusta, não só abre novos mercados, como também cria espaço para maior consumo de Arábica, já que alguns consumidores buscam produtos diferentes, de melhor qualidade e mais caros. Por outro lado, a indústria de café solúvel está melhorando a qualidade de seus produtos para fidelizar os consumidores. A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS) está desenvolvendo uma metodologia para avaliar a qualidade do café solúvel e descrever suas características sensoriais. Isso ajudará a ampliar o mercado de café solúvel.

O retorno do consumo fora de casa – cafeterias e escritórios – no mundo pós-pandemia criará riscos e oportunidades para os cafés Robusta. A melhoria da qualidade do café Robusta verde é uma forma segura de manter os mercados conquistados durante a pandemia e abrir outros. Há muitas maneiras de melhorar a qualidade do café Robusta mas talvez a mais rápida seja por meio do processamento pós-colheita.

TEXTO Carlos Brando • FOTO Café Editora

Notas sobre paixão: uma antropóloga buscando a comunidade de cafés especiais no Brasil

Alguns meses depois de me mudar da Inglaterra para São Paulo, adoeci. Fui ao hospital para fazer alguns exames e, depois duma coleta de sangue, eu desmaiei. (Não se preocupe, esta história acaba bem, prometo). Depois que acordei, a enfermeira disse que sabia o que me ajudaria. Ela fez meu marido me ajudar a ir até um corredor, onde ela apontou não para um copo d’água, suco ou biscoitos (coisas que eu esperaria receber nessa situação num hospital inglês), mas, sim, para uma garrafa térmica de café.

Eu bebi… E, sim, eu me senti um pouco melhor. (Viu? Disse que ia acabar bem). 

É uma boa história, ilustrativa quando eu explico meu trabalho para estrangeiros porque qualquer pessoa que tenha um interesse por café em qualquer lugar do mundo sabe que o Brasil é o maior produtor mundial de grãos. Muito menos conhecido, porém, é o fato de o Brasil ter recentemente ultrapassado os Estados Unidos como o maior consumidor de café do mundo. Como eu descobri no hospital, o café realmente está em todo lugar. Essa combinação simultânea de altos níveis de produção e consumo criou uma economia de café híbrida em que as demandas de produtores e consumidores são mais aproximadas do que nos países importadores do café. Foi em resposta a esse cenário único que estive em São Paulo: eu estava conduzindo uma pesquisa que fazia a pergunta: “como é a comunidade de consumidores de café especial num país produtor?”. É claro, o café na garrafa do hospital não era o especial, mas eu também tive que entender o panorama geral do consumo da bebida: se o café já está em toda parte da sociedade, por que se dar ao trabalho de buscar, comprar, pagar e gastar tempo com outro tipo? Em outras palavras, por que fazemos as coisas que fazemos em relação ao café? 

Uma parte complicada dessa pesquisa foi como definir “comunidade de cafés especiais”. É um exercício mesmo! Experimente: como você definiria esse grupo? Quem está dentro? Quem não está? Durante minhas observações, era comum encontrar uma gama diversificada de profissionais e entusiastas em eventos e oportunidades educacionais, muitos dos quais ocupavam as duas metades do binário. Aqueles que inicialmente imaginei serem profissionais do café muitas vezes mudavam do café para outros empregos de hospitalidade ou serviços, enquanto muitos entusiastas eram ex-profissionais do café ou esperavam trabalhar com ele algum dia. E todo mundo era um ‘consumidor’ de alguma forma. 

A fronteira que define essa comunidade é nebulosa, na medida em que o termo engloba uma longa cadeia de produção e fornecimento, da origem agrícola do produto ao barista que serve uma bebida a um cliente ou ao indivíduo que faz seu próprio café em casa de manhã. Eu não fui a única pessoa com dificuldade em entender a forma desse grupo. Como me disse o dono de um café em São Paulo: a comunidade de café especial “não é visual como a do rock. Você não vê alguém e fica tipo, ‘Ah sim, aquele cara com a jaqueta jeans, com certeza ele é da comunidade do café’”. O que, além das transações comerciais, liga todas as pessoas nessa ‘cena do café’? 

A solução foi fornecida pela Tereza Cristhina Barbosa, da Pasta de Amendoim da Tereza, numa tarde chuvosa, enquanto tomávamos café na cafeteria Takkø. Além de ser empreendedora de pastas de amendoim, ela ama cafés especiais. Ela os ama tanto que se descreveu como “apaixonada”. Aqui estava a minha chave: paixão. 

Nem todos os bebedores de cafés especiais sentem paixão, da mesma forma que nem todo cliente de uma cervejaria artesanal é fanático por cerveja. Encontrei muitos clientes de cafeterias especiais que só moram ou trabalham nas proximidades e as visitam por conveniência, ou tenham uma preferência genuína por café especial em comparação com o café convencional, mas não se preocupam em fazer disso um hobby. O que distingue as pessoas que constituem essa comunidade é que a sua paixão por cafés especiais é um pilar importante de seu estilo de vida; a paixão motiva as ações. Ter a paixão como denominador comum me permitiu considerar pessoas de todo o setor cafeeiro brasileiro em meu trabalho, conversar, aprender e conhecer pessoas de toda a cadeia como parte dum único grupo.

A paixão é assim: não é estática. Sentimos profundamente, queima, está vivo. É um sentimento que inspira e motiva, pode dar forma à vida e nos ajuda a encontrar valores além do monetário. Por exemplo, conheci um jovem barista que viajava quase duas horas da periferia para chegar a seu emprego numa cafeteria especial – sua paixão por café o ajudou a moldar a sua aspiração por uma vida diferente. Ele teria ganhado quase o mesmo dinheiro trabalhando na padaria de seu bairro, mas seguiu sua paixão até o centro da cidade. Ou considere os dois advogados que conheci que haviam deixado seus empregos na advocacia para trabalhar com café: eles não eram felizes como advogados, e o valor de sua paixão pelo café superava o corte no salário que veio com essa transição de trabalho. Através da paixão vêm as possibilidades da vida. A paixão por café também nos conecta com outras pessoas: até eu morrer, não esquecerei o som de todos gritando na SIC 2018, quando Emi Fukahori, de Switzerland, ganhou a copa mundial de cafés coados com um café brasileiro – ou de que vi vários trabalhadores agrícolas supermasculinos chorar neste momento. A paixão nos une. Até mesmo, no caso da vitória de Fukahori, em um momento turbulento no país, poucas semanas após a última eleição presidencial. 

E então, o que é ser uma comunidade de café especial em um país produtor? É usar a paixão como forma de construir um futuro diferente, melhor, com mais autodeterminação. É usar isso como uma força motivadora para superar obstáculos e, em seguida, removê-los: mesmo quando são muitos, mesmo quando é desafiador. 

TEXTO Dra. Sabine Parrish - antropóloga e pós-doutorada no Centre for Food Policy da City University London • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Dentes brancos e café combinam SIM! E é a Ciência quem diz isso!

E a velha frase “café escurece o dente!” foi por água abaixo! E junto com ela, a ideia de que seria incompatível clarear os dentes e tomar café. Mas em que momento isso mudou e NINGUÉM ME CONTOU NADA? “Sofri à toa clareando e me abstendo de um belo cafezão especial?”. A dolorosa resposta é: SIM!

Realmente, há muito anos, os pacientes que faziam clareamento dental eram orientados a assumir a chamada “dieta branca”. Nada de alimentos ou bebidas que continham corantes, e nosso amado café entrava nesse time de restrições.

Primeiro, vamos entender de onde vem a cor do café, que tanto assusta quem deseja dentes brancos. Durante a torrefação, dentre uma variedade de reações, temos a desejada (se bem feita!) Reação de Maillard, unindo carboidratos, aminoácidos, calor e gerando diversas outras substâncias e compostos. Uma das substâncias formadas é a melanoidina, que possui cor castanha. Solúvel em água, representa uma fração considerável do café em pó, variando conforme a espécie de café e detalhes como a intensidade da torra.

Assumiu-se, então, que esta cor marrom poderia ser “transferida” para os dentes, tornando-os amarelados. E isso foi tido como verdade absoluta por muito tempo, pois era algo um tanto óbvio, já que o café tende a manchar outras superfícies claras no nosso dia a dia. E assim permaneceu, sendo esta informação repassada sem que fosse questionada.

As mudanças de comportamento, tanto dos dentistas quanto dos pacientes, realmente ocorre de modo bem gradativo e, especialmente na área de Saúde, isso é compreensível. Mas em algum momento a mudança começa: algum pesquisador resolve observar fenômenos, questionar o status quo e testar possibilidades seguindo um método. E um belo dia alguém resolveu testar o clareamento em um grupo de pacientes que consumiam café diariamente e com outro grupo que não consumia. E para surpresa de muitos, resultado igual, ou seja, os dentes clarearam na mesma intensidade. Seguindo o curso normal deste tipo de pesquisa, outros pesquisadores, em locais variados do mundo, pesquisaram sobre o mesmo assunto e confirmaram: também não houve influência negativa. E tudo isso não é tão recente assim, pois desde início dos anos 2000 já surgiam publicações sinalizando que café não seria tão vilão assim. Mas o que explicava estes achados?

O grande detalhe é que uma boa parte dos corantes presentes nos alimentos, como as melanoidinas, são considerados como sendo cadeias macromoleculares. Traduzindo para nosso dia a dia, são moléculas tão grandes que não conseguem “entrar” nos espaços microscópicos do esmalte dentário. Em casos extremos de consumo ou quando há defeitos no esmalte ou presença
de “placa bacteriana”, este pigmento fica, no máximo, acumulado na superfície do dente, sendo removido pela escovação ou limpeza profissional.

Dando um exemplo extremamente simples mas objetivo, imagine uma casa com piso cinza. Se uma camada de poeira se depositar sobre este piso, ele não deixa de ter sua cor original, somente está oculta. Feita uma limpeza, a cor original aparece novamente.

Sabendo que a Reação de Maillard não é exclusiva do café, se ele realmente fosse vilão, todos os pacientes deveriam também ser orientados a se abster de “outros vilões”, como: carne assada, pães, bolachas, bacon, chocolate, doce de leite, caramelo, cerveja escura, azeite balsâmico e mais uma infinidade de alimentos que também terão as melanoidinas no produto finalizado.

E como dentista, professor universitário e apaixonado por café especial, não voltaria para casa tranquilo obrigando meus pacientes a não tomarem café enquanto fazem clareamento dental. Seria alegria de um lado e tristeza de outro. Então a dica é: se for clarear seus dentes, procure um profissional que mantenha seu cafezão em dia. Sorria, beba um baita café e seja bem feliz assim!

TEXTO Johnson Fonseca, dentista e professor no Unilavras. Proprietário da SOUL Café & Prosa. @johnsonfonseca • FOTO Parker Johnson

Crise de fertilizantes afeta competitividade de cafeicultores e cria oportunidades para a agricultura regenerativa

O grande aumento nos preços dos fertilizantes provocado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia causará altas no custo de produção do café, mas este impacto provavelmente será muito diferente dependendo do país e do tamanho da fazenda. Isto pode ser uma vantagem competitiva para pequenos produtores que usam menos fertilizantes por hectare? Isto pode ser uma oportunidade para produtores de todos os tamanhos aumentarem as práticas de agricultura regenerativa?

O uso de fertilizantes é muito mais intenso em países de alta produtividade, como Vietnã e Brasil, onde a produtividade média do café é de cerca de 2 toneladas por hectare, do que em países de baixa produtividade, cuja produtividade média pode ser
tão baixa como 500 kg por hectare. Mas mesmo no Brasil e não tanto no Vietnã, os pequenos produtores tendem a usar menos fertilizantes do que os de médio e grande porte. Pequenas fazendas usam muito menos ou nenhum fertilizante em muitos países produtores. Com isso, seu custo de produção será menos impactado pela atual crise de fertilizantes e poderão ganhar competitividade em relação aos produtores maiores.

Isto pode não ser o caminho ideal para pequenos produtores e alguns países se tornarem relativamente mais competitivos, mas é um fato que resulta de preços mais altos de fertilizantes. Por outro lado, isto será um incentivo para os produtores de todos os tamanhos aumentarem o uso da agricultura regenerativa para garantir que a produtividade econômica máxima seja alcançada.

A busca da alta produtividade sem a devida consideração de seus custos deve ser questionada e a produtividade que proporciona o maior lucro, ou seja, a produtividade econômica máxima, deve ser buscada em todos os momentos. A agricultura
regenerativa pode ser um caminho a ser seguido por produtores de todos os tamanhos sempre e especialmente em tempos de preços altos de fertilizantes.

A agricultura regenerativa, uma abordagem de conservação e reabilitação baseada na regeneração do solo superficial, melhora do ciclo da água, aumento da biodiversidade, melhora do ecossistema e apoio ao bio-sequestro, baseia-se em muitas práticas que são mais fáceis de implementar em pequenas propriedades, por exemplo: reciclagem de resíduos agrícolas, agrossilvicultura, restauração ecológica, etc. Isto pode favorecer a competitividade e aumentar a resiliência às mudanças climáticas dos pequenos cafeicultores, desde que tenham acesso a essas tecnologias.

A crise dos fertilizantes deve fornecer incentivos para que as fazendas de café de todos os tamanhos aumentem seu uso da agricultura regenerativa e criem um círculo virtuoso. Por exemplo, à medida que a saúde do solo melhora os requisitos de insumos podem diminuir, incluindo fertilizantes, a resiliência às mudanças climáticas pode aumentar e a produtividade também.

Não vamos, no entanto, tratar os atuais altos preços dos fertilizantes e as oportunidades que eles criam como uma panaceia para a redução de seu uso. Os fertilizantes continuam sendo um insumo fundamental para fazendas de todos os tamanhos alcançarem a máxima produtividade econômica do café em muitos ambientes e países produtores, ainda mais quando seu preço é mais baixo.

TEXTO Carlos Brando • FOTO Café Editora