Coluna Café por Convidado Especial

Do campo à xícara, profissionais convidados refletem sobre o setor

A tempestade perfeita no Brasil cria oportunidades para outras origens?

Muito pior do que aconteceu na seca de 1986 e nas geadas de 1994, a combinação de eventos que afetou o agronegócio café brasileiro em 2021 é uma excelente definição de tempestade perfeita: seca, geadas, seca de novo, crise logística, grandes aumentos de preços de fertilizantes e pesticidas, risco de barreiras de acesso aos mercados da UE e excesso de chuvas e inundações primeiro nas áreas de Conilon e agora em Minas Gerais.

Embora a maioria dos componentes desta tempestade seja específica do Brasil, a crise logística e os insumos mais caros afetam todos os países produtores de café. No entanto, os aumentos de frete têm um impacto maior sobre os preços de entrega CIF dos cafés brasileiros porque o país está mais distante dos principais países importadores de café. Também, os preços de fertilizantes e pesticidas subiram para todos os países produtores, mas o Brasil os usa de forma mais intensa por vários motivos.

Foi a tempestade perfeita no Brasil pois afetou o tamanho da safra e o custo de produção e entrega do café de forma que não há paralelo no próprio Brasil no passado e na maioria dos outros países produtores no passado ou no presente. Sendo o Brasil, de longe, o maior país produtor de café, não é de admirar que os preços do café tenham subido de maneira não vista há décadas! Isto pode trazer oportunidades interessantes para todos os outros países produtores de café aumentarem sua participação no mercado porque as geadas podem ter impactos que vão além da safra de 2022, a crise logística – fretes altos – também pode se estender além de 2022 e os preços dos insumos devem permanecer altos no futuro próximo. Ou seja, pode haver uma janela de oportunidade para os concorrentes brasileiros que vai além de 2022.

Origens que não o Brasil podem se beneficiar desta oportunidade de várias maneiras: no curto prazo, melhor processamento de seus cafés – benefício úmido, secagem e benefício seco – para aumentar a eficiência e oferecer cafés de melhor qualidade; na próxima safra, boas práticas agrícolas e aumentos inteligentes no uso de insumos para avançar em direção à produtividade econômica máxima; e, no médio prazo, renovação com variedades resistentes a pragas e doenças e mais produtivas. Estas oportunidades são maiores para grandes produtores e para aqueles que tratam o café como um negócio. Os pequenos produtores, que são a maioria, tendem a se beneficiar menos porque são menos eficientes e geralmente vendem seus cafés por um preço mais baixo porque têm menos acesso à tecnologia e menos poder de barganha.

Como o tamanho médio da fazenda de café no Brasil é 4 a 5 vezes maior do que no resto do mundo, uma forma destes países que competem com o Brasil aproveitarem esta oportunidade e tornarem seus benefícios mais duradouros é fazer com que esses seus pequenos produtores unam forças e trabalhem juntos para ganhar escala e eficiência. Como isso pode ser feito? A primeira etapa pode ser processar café em conjunto, em pequenas centrais de benefício úmido, a fim de reduzir os custos operacionais e os investimentos. O próximo passo pode ser comprar insumos – fertilizantes e pesticidas – em conjunto para reduzir os custos de produção. O último passo pode ser vender café juntos para conseguir preços melhores. Entretanto, isto não é fácil devido a fatores culturais, ao apego a sistemas tradicionais, etc.

O uso de centrais de benefício para processamento de café pode ir além de micro e pequenas unidades centrais de benefício úmido para grupos de pequenos produtores e incluir centrais maiores de secagem, limpeza e descasque dos cafés provenientes de um grupo de centrais de benefício úmido. Isto pode ser um passo adicional para aumentar a eficiência, reduzir custos e aumentar lucros. Esta pode ser uma oportunidade para cooperativas de cafeicultores ou comerciantes de café à medida que mais e mais café é reunido e separação por tamanho, densidade e cor são adicionados juntamente com a liga, para fazer “blends”. Essa consolidação do processamento pode exigir menos pessoas, mas a tecnologia para ganhar mais eficiência de produção pode diminuir muito mais a mão de obra requerida.

Tendo em vista que ao se aproveitar as oportunidades criadas pela tempestade perfeita no Brasil pode sobrar mão de obra nos países concorrentes, cabe aqui uma pergunta muitas vezes ignorada no negócio café: o futuro da produção deve estar a cargo de um grande número de pessoas, cuja renda ou salário não seja suficiente para que tenham uma vida decente e próspera, ou contar com menos pessoas que tenham uma renda ou salário justo? A resposta a essa pergunta incômoda não pode e não deve ser buscada somente dentro do setor cafeeiro, apenas na cadeia de abastecimento do café, como erroneamente se espera. A resposta está no desenvolvimento regional para criar os empregos necessários fora da produção de café, à medida que esta se torna mais eficiente.

É interessante notar que em países com produtividade alta, por exemplo, Brasil, Vietnã, Costa Rica e a própria Colômbia, há disponibilidade de empregos urbanos nas regiões cafeeiras. Valeria a pena estudar melhor o papel da diversificação rural-urbana nestes países, com pequenos cafeicultores e/ou familiares tendo empregos ou negócios nas cidades pequenas e médias de sua região cafeeira, como inclusive ocorre no Brasil.

A tempestade perfeita no Brasil cria oportunidades que as instituições preocupadas com o desenvolvimento nos países produtores de café deveriam olhar com uma visão mais ampla, que inclua políticas de desenvolvimento regional ou mesmo nacional que vão além do próprio agronegócio café. As Boas Práticas Agrícolas (BPA) e as centrais de benefício poderiam ou deveriam desencadear um processo de desenvolvimento econômico que vá além do agronegócio café e seja um dos componentes de planos de desenvolvimento regional ou nacional. É a dificuldade disto ocorrer na maior parte dos países que deverá fazer com que a participação do Brasil no mercado tenha perda efêmera e volte a crescer em poucos anos.

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando

Altos preços abrem caminho para aumentar a produção de café fora do Brasil e Vietnã?

O aumento da produtividade e, consequentemente, a redução dos custos têm impulsionado o crescimento da participação do Brasil e do Vietnã na produção mundial de café. Isto pode ser revertido pelos altos preços atuais? Argumento, em seguida, que os altos preços do café hoje podem estimular esta reversão, mas ela só será durável com mudanças estruturais na maioria dos países que concorrem com o Brasil e o Vietnã. Uso o caso do Brasil para demonstrar como mudanças no setor e no agronegócio brasileiro impactaram a competitividade do país independentemente dos preços do café e não como resultado de preços altos.

O gráfico acima, que começa em 1990, logo após o fim das cotas da OIC, e termina em 2019, antes que os preços começassem a subir, pode ser intrigante no sentido de que a produtividade e a produção no Brasil subiram muito independentemente do preço do café! Será que a produtividade aumentou exatamente para se adaptar a preços baixos?

A extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC) e o fim das cotas da OIC aconteceram quase ao mesmo tempo fazendo com que o negócio de café do país entrasse na década de 1990 na terrível situação de queda dos preços, interrompida apenas e por alguns anos pela geada de 1994, e a desorganização da pesquisa cafeeira, serviços de extensão, promoção comercial, etc. antes realizados pelo IBC. Isto pode ter criado os desafios que a cafeicultura brasileira precisava para se tornar muito mais eficiente!

Ao contrário do que se esperava, ocorreu uma série de reações, principalmente induzidas pelo setor privado e realizadas pelo governo e pelo próprio setor privado. Isto aumentou a eficiência da cadeia de fornecimento de café dentro e fora da fazenda, com a produtividade quase dobrando nos primeiros 10 anos após 1990 e dobrando novamente nos primeiros 20 anos deste século: um aumento de quase quatro vezes em 30 anos. Resumo abaixo muito do que ocorreu, com maior ênfase no que realmente aconteceu do que no momento em que sucedeu.

Universidades, institutos de pesquisa e fundações tornaram-se muito mais ativos na pesquisa cafeeira, com problemas iniciais de falta de foco e planejamento estratégico bem como duplicação de esforços. Isso acabou sendo corrigido com a criação do Consórcio Pesquisa Café, que reuniu a maioria dessas instituições para desenvolver uma agenda de pesquisa conjunta.

Os serviços de extensão e treinamento no café realizados pelo IBC foram progressivamente transferidos para os serviços de extensão dos governos estaduais e cooperativas. A permeabilidade e o alcance aumentaram em vez de diminuir.

Estas duas mudanças contribuíram para tornar os cafeicultores mais eficientes apesar dos preços mais baixos do café. Os produtores de fato “acordaram” depois de um longo período de preços controlados, antes de 1990, que fez com que a produção ineficiente prevalecesse. Novas variedades, densidades maiores de plantio, boas práticas agrícolas (BPA), mecanização e outras iniciativas contribuíram decisivamente para resolver o problema.

O sistema cereja descascado, também chamado de CD e “honey”, foi desenvolvido, o processamento de café na fazenda cresceu, a cadeia de abastecimento da porta da fazenda ao porto ganhou eficiência com o café trocando menos vezes de mãos, as entidades representativas do setor privado já existentes ganharam força e a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) foi criada. Os ganhos de eficiência na fazenda foram combinados com ações além da porteira, incluindo o “rebranding” dos cafés brasileiros, passando de somente qualidade comercial para todas as qualidades, incluindo os cafés especiais. O Café do Brasil se tornou Cafés do Brasil, “um país muitos sabores”, e o país foi dividido em regiões produtoras – origens – que oferecem uma infinidade de qualidades de café.

Em outra frente, o consumo doméstico brasileiro de café começou a ser promovido, não por acaso, a partir de 1989/1990. Em 30 anos, o consumo brasileiro aumentou mais de 3 vezes, de 6,5 para cerca de 21 milhões de sacas por ano, criando um enorme mercado para os cafés produzidos localmente.

O estoque remanescente de café no final do período das cotas foi progressivamente vendido para criar o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que é usado principalmente para financiar os cafeicultores e, em menor escala, a cadeia de abastecimento do café. Além do financiamento do Funcafé, há hoje também aquele concedido pelos bancos privados que são, por lei, obrigados a canalizar um determinado percentual dos depósitos à vista para o financiamento de atividades agrícolas a juros mais baixos. O governo também apoia o agronegócio com a isenção de impostos sobre a exportação de produtos agrícolas.

Voltando ao meu argumento inicial, os países produtores além do Brasil e do Vietnã podem usar esta oportunidade de preços de café mais altos, que provavelmente será temporária, para promover mudanças estruturais duráveis que aumentarão sua eficiência e competitividade? Sim, os exemplos do Brasil acima podem ajudar mas isto leva tempo e terá que ser um processo contínuo, em tempos de preços altos e baixos.

Muito se fala hoje de agregação de valor que, por si só, não é suficiente para compensar a falta de eficiência e competitividade que vem gerando concentração de mercado. Os preços altos podem incentivar maior busca de eficiência pelos concorrentes do Brasil e Vietnã… ou ter o efeito contrário. Só o tempo dirá.

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando

Efeitos da pandemia em diversos países

“Uma boa cafeteria é como um farol de sanidade no meio de um mar turbulento” – quem me disse isso foi Dan Urieli, fundador do Café Nahat, em Israel, enquanto me contava sobre o alívio que seus clientes sentiam ao ver a cafeteria aberta, como se ela fosse um sinal de normalidade no meio da confusão, um pedacinho da vida de antes.

Acredito que esse sentimento seja quase universal entre nós, amantes do café. O ritual de ir a uma cafeteria, que já era algo precioso, agora parece ter ganhado um ar de urgência. Enquanto ainda não recuperamos toda a liberdade que desejamos, vale a pena entender como está a cena de cafés especiais pelo mundo. Para isso, conversei com vários amigos que fiz por aí – enquanto alguns também estão passando por momentos difíceis, outros mostram que há esperança.

Comecei pela China, o primeiro país a sofrer com a Covid-19. Falando com Dianne Wang, uma profissional do café, vi que por lá as coisas já voltaram praticamente ao normal. Durante a pandemia, os chineses usaram muito os serviços de delivery e de takeaway (o nosso famoso “embrulha para viagem”). Dianne me contou que, com as portas fechadas, muitas marcas passaram a fazer vendas on-line pela TV – sim, à moda antiga! Foi uma febre, mas não é nada fácil vender café pela tela: “O café é um produto que exige a vida real”, conta. Dianne observou que um dos grandes desafios foi fazer com que a paixão pelo café permanecesse acesa: “Com tantas dificuldades financeiras, foi difícil manter os profissionais focados, o que dificultava o planejamento para qualquer mudança, mesmo que para melhor”.

Voltando a Israel, falar com Dan foi uma injeção de esperança, afinal o país já está quase livre do vírus: com a população vacinada, as restrições estão quase todas revogadas e máscaras não são mais necessárias em espaços abertos. Mas não foi sempre assim: Dan conta que, durante meses, ele e seus sócios viveram momentos de incertezas: “Devemos demitir os funcionários? O governo vai nos ajudar de alguma maneira? Quanto de café devo comprar para este ano?”. Essas eram perguntas às quais eles não conseguiam responder.

Num primeiro momento, a Nahat passou a depositar todas as energias no e-commerce, e precisou afastar trinta funcionários – para cortar custos, os próprios donos se encarregaram de fazer entregas, mantendo a loja aberta apenas para takeaway. A estratégia foi não renunciar à qualidade: “O consumidor está disposto a pagar por ela. Optamos por oferecer apenas o que temos de melhor, e o público valorizou isso”, disse Dan.

Infelizmente, nem todos os lugares se recuperaram completamente ainda – na Itália, a situação pede atenção. Quem me disse isso foi Alessandro Galtieri, o atual campeão italiano do Brewer’s Cup e terceiro colocado no mundial de 2019. Alessandro conta que, assim como no leia mais…

TEXTO Juliana Sorati, assessora de marketing na Daterra Coffee • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Tipos de geadas e impactos na produção nos próximos anos

É muito difícil avaliar os reais impactos das geadas na produção porque, em primeiro lugar, as geadas afetam as plantações de café em diferentes níveis de intensidade – os “tipos” de geadas mencionados acima – e, em segundo lugar, estes tipos de geadas estão associados a diferentes graus de perdas em 2022 e nos anos seguintes.

Quando se olha para vistas aéreas das áreas afetadas pela geada, com cafezais com cor uniforme preta ou marrom, tem-se a impressão de que o impacto é homogêneo em toda a área. A realidade é que, avaliando a nível de campo, os impactos podem ser bastante diferentes, apesar da mesma cor e aparência uniformes vistas de cima. Isto levou à consideração de três impactos distintos no que não é uma descrição científica, mas apenas uma visão prática geralmente usada para ajudar leigos a compreender as perdas causadas pelas geadas.

Uma geada de “capote” danifica apenas a parte superior da árvore. Uma geada “total” afeta o cafeeiro adulto de alto a baixo. O impacto sobre os cafeeiros jovens, que ainda não estão produzindo ou estão começando a produzir, é diferente daquele que afeta as árvores adultas.

Como a geada de capote danifica o terço ou metade superior do cafeeiro, a poda deverá ser feita a uma determinada altura acima do solo, a ser decidida caso a caso na área afetada, geralmente no terço superior da árvore. A parte do cafeeiro não podada produzirá em 2022 e a produtividade dependerá do ciclo bienal de produção do café, ano de safra alta ou baixa.

A geada total afeta as folhas de cima a baixo do cafeeiro e requer poda perto do solo. A produção não retornará até 2024 e poderá ser alta dependendo das práticas de cultivo do café nos dois anos intermediários.

Os danos causados pela geada aos cafezais jovens geralmente são totais, mas há duas possibilidades: o sistema radicular ainda é viável e o cafeeiro é podado próximo ao solo ou as árvores devem ser leia mais…

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando

Agricultura e as mudanças climáticas: a esperança da regeneração

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU apontou que o aquecimento global está se acelerando e a temperatura média da superfície do mundo aumentará a 1,5°C por volta de 2030, uma DÉCADA antes do previsto. E já estamos sentindo os efeitos negativos — não é à toa que o Brasil está passando pela maior seca dos últimos 100 anos na bacia do Rio Paraná (afetando o fornecimento de água para São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná), ao mesmo tempo em que registramos ondas de frio históricas, com geadas intensas, e um aumento dos focos de incêndio na Amazônia e no Cerrado.

Se estes efeitos negativos são sentidos primeiro no campo — produtores de café estimam uma perda de até 35% da lavoura com as geadas de julho passado —, eles também acabam chegando até as prateleiras dos mercados, com uma estimativa de alta de 14% nos preços internacionais do grão.

Mas o que pode ser feito então para evitar (e até prevenir) os prejuízos causados pelas mudanças climáticas?

Por mais de 30 anos, nós da Rainforest Alliance trabalhamos para tornar a agricultura mais sustentável ao fazer com que nossos  produtores rurais parceiros em todo o mundo adotem métodos de cultivos que protegem a terra. E isso, sem abrir mão da produtividade necessária para garantir boas condições de vida no campo. Em outras palavras, a agricultura sustentável é uma prática de redução de danos — o primeiro passo crucial no caminho em direção à criação de sistemas benéficos para as pessoas e a natureza.

Para nós a sustentabilidade é uma jornada de melhoria contínua, e o destino final é a regeneração do meio ambiente. Um produtor pode começar a sua trajetória sustentável ao reduzir o uso de insumos como pesticidas, por exemplo, o que pode estimular uma melhoria na fertilidade do solo. Quando medidas enriquecem a terra — como o plantio de árvores de sombra para proteger e nutrir os solos — são aplicadas em todas as frentes, você tem uma fazenda de fato regenerativa.

Nosso programa de certificação ajuda os produtores a se adaptar às mudanças climáticas ao identificar os desafios específicos da sua região — tais como novos padrões de clima, secas ou chuvas mais intensas — e a encontrar os métodos corretos para superá-las. Esse tipo de adaptação direcionada ajuda os produtores a construir resiliência leia mais…

TEXTO Maiara Despontin, especialista em Agricultura Sustentável na Rainforest Alliance Brasil • FOTO Café Editora

Esquema da fenologia do cafeeiro arábica

Agora você vai entender direitinho como “funciona” nossa planta favorita: o café, é claro! Conheça as fases da fenologia do cafeeiro arábica no Brasil.

Existem sempre dois ciclos acontecendo em um ramo de café, ao mesmo tempo: o primeiro ano fenológico (a primeira e a segunda fases do infográfico) e o segundo ano fenológico (a terceira, a quarta e a quinta fases do infográfico). 

Primeira fase: começa a formação das gemas florais (que viram flores) e gemas vegetativas (que viram novos galhos).

Segunda fase: nessa fase, as gemas se diferenciam e amadurecem. Depois elas ficam ali quietinhas esperando o momento de despertar – e esse momento é: a chuva! Esse estágio é muito importante porque qualquer chuvinha fora de hora pode despertar uma florada e bagunçar toda a maturação do café naquele ano. 

Terceira fase: Ahh… A florada! As flores vivem em média três dias, depois secam e dão lugar aos chumbinhos, que vão crescer e virar cerejas. 

Quarta fase: nesse estágio, as cerejas (e os grãozinhos dentro delas) se expandem!

Quinta fase: aqui os frutos já cresceram o que tinham de crescer. Agora eles vão amadurecer e se tornar cerejas vermelhas ou amarelas, dependendo da variedade. Quando as cerejas estiverem bem maduras, é hora de colher!

TEXTO Juliana Sorati

Manejo final do café para exportação: atualização técnica

Quase todo café exportado hoje é embarcado em containers, porém de maneiras diferentes: em sacas, em big bags ou a granel. O café é pesado em diferentes tipos de balanças, dependendo de como será colocado nos containers. Finalmente, a maior parte do café é misturado antes da pesagem. Vamos revisar como estas operações mudaram e evoluíram ao longo dos anos.

A liga é principalmente a combinação/mistura de diferentes tipos de café, qualidades e/ou origens para obter lotes homogêneos com as características e tamanhos de grãos requeridos. Mas também é a mistura de cafés da mesma qualidade produzidos por diferentes produtores ou que se originam de diferentes regiões para obter lotes homogêneos com o tamanho exigido pelo cliente. A liga é uma operação crítica para a entrega do café com as características exigidas nos contratos com os clientes. Esta operação pode ser uma grande fonte de reclamações (“claims”) se não for feita de forma adequada.

No processo de liga, o café deve ser juntado em certas proporções e misturado para se obter lotes homogêneos. Isto é geralmente feito com o auxílio de um silo redondo alimentado por um elevador especial de alto desempenho, que recebe o café em proporções pré-determinadas e garante uma mistura uniforme sem danificá-lo. As linhas de processamento de alta capacidade usam técnicas diferentes de liga. Cafés diferentes são alimentados a uma bateria de silos que descarregam em uma esteira por meio de um sistema de alimentação de volume ajustável, por exemplo, dispositivos de velocidade variável, instalados na saída de cada silo. A taxa de alimentação ou saída dos silos individuais é ajustada de acordo com as proporções exigidas no lote final.

O equipamento tradicional para pesar o café a ser colocado em sacos de juta ou outro tipo de saca no final das linhas de processamento é uma balança de plataforma mecânica. Isto mudou à medida que a mão-de-obra se tornou escassa, os lotes de café aumentaram de tamanho e outras alternativas de embarque foram desenvolvidas, especialmente o carregamento de containers a granel mas também big-bags. Balanças mecânicas automáticas foram usadas primeiro e ainda são utilizadas, mas hoje as balanças eletrônicas são preferidas. Os big-bags podem ser alimentados a partir de balanças automáticas no modo de fluxo contínuo ou leia mais…

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando • FOTO Café Editora

A competitividade, a renda e a própria produtividade do cafeicultor dependem muito do que acontece fora da porteira

O ambiente facilitador é um conjunto de condições comerciais, organizacionais e legais que ajudam os cafeicultores a produzirem com maior eficiência (mais café a um custo menor) e a se apropriarem de uma porcentagem maior do preço de exportação FOB do café produzido.

O ambiente facilitador é composto, mas não se restringe a:

– Disponibilidade de serviços eficientes de extensão e treinamento em Boas Práticas Agrícolas Sustentáveis;
– Organizações de produtores e associações da cadeia de abastecimento fortes
– Mercados eficientes para insumos, equipamento e, especialmente, café;
– Disponibilidade de financiamento a taxas compatíveis com as atividades agrícolas;
– Sistema de impostos e taxas que não interfira na competitividade internacional do produto;
– Logística eficiente;
– Oportunidades de obter renda fora da produção de café.

É fato que os países produtores de café mais competitivos, como o Brasil e o Vietnã, têm ambientes facilitadores mais eficientes. Portanto, os países produtores menos competitivos devem melhorar seus ambientes facilitadores para aumentar a renda dos produtores como um primeiro passo para ter melhores condições sociais e ambientais.

O próprio Brasil ainda tem bastante espaço para melhorar, como sabemos. Porém, não é fácil enfrentar este desafio devido às práticas estabelecidas, aos interesses públicos e privados e aos recursos limitados disponíveis. Além disto, é difícil avaliar a melhoria no ambiente facilitador. Pode-se pensar em Indicadores-Chave de leia mais…

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando • FOTO Café Editora

Rede Social do Café completa 15 anos

O ano era 2006 e a internet no Brasil ainda engatinhava. Vivia-se a lenta transição entre a internet discada e a banda larga. O movimento de redes sociais começava a despontar. O Myspace foi desenvolvido em 2003, o Facebook foi criado em 2004, o Twitter lançado em 2006 e o Instagram somente em 2010. Nenhuma dessas redes sociais tinha se destacado no Brasil e, na época, o que existia, ainda de forma embrionária, era o Orkut. O iOS – Sistema Operacional Móvel da Apple foi lançado, nos Estados Unidos, somente em 2007, e,  em 2008, surgiria o Android – sistema operacional que se tornou líder mundial. O WhatsApp, principal aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones, foi lançado somente em 2009.  Nesse contexto de grandes transformações, surge a Rede Social do Café.

Na virada do milênio, foi fundada a Radium Systems, da fusão de mentes inquietas, homens de negócio, professores universitários, jovens programadores e criadores ávidos pelo novo horizonte digital que começava a se abrir. A empresa nasceu com o DNA da inovação, colaboração e conexão, possibilitados pelos meios digitais. Os esforços se direcionaram para a construção da Plataforma de Mídia Social Peabirus. Desde sua gênese, a rede foi criada para conectar profissionais, instituições e empresas, de forma a incentivar o compartilhamento de informações, construção do conhecimento e desenvolvimento de oportunidades.

O Peabirus chegou ao setor cafeeiro por intermédio do então secretário executivo do Conselho Nacional do Café (CNC), Alberto Duque Portugal e do então gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Ferreira Bartholo, que gerenciava o Consórcio Pesquisa Café. O café foi uma das pautas que sustentou o Peabirus desde o lançamento, dia 28 de junho de 2006, há 15 anos.  Daí em diante, desenhou-se uma revolução no modelo de comunicação entre as instituições participantes do Consórcio e os demais segmentos da cadeia café, numa troca dinâmica de informações para incentivar a incorporação das tecnologias geradas pela pesquisa e colocar a cadeia produtiva dentro do moderno contexto da sociedade da informação.

Desde os primórdios a RSC contou com articulação e mediação de Sérgio Parreiras Pereira, pesquisador cientifico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), instituição vinculada à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Com o passar dos anos, das comunidades de prática ligadas ao café existentes no Peabirus, sobreviveu apenas uma, a Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira, que evoluiu, em 2011, para a Rede Social do Café (RSC).

Ao completar 15 anos, a rede demonstra uma força surpreendente, com a marca de 24 milhões de acessos em mais de 65 mil tópicos com foco no sistema agroindustrial dos cafés do Brasil. Trata-se de um leia mais…

TEXTO Sergio Parreiras Pereira • FOTO Agência Ophelia

Café e biodiversidade

A influência do uso e ocupação da terra das culturas agrícolas nas paisagens naturais no Brasil ainda é forte e merecem um novo olhar pelas tendências de mercado e pelo que representam na pauta do agronegócio e na cultura do brasileiro. O Brasil, por exemplo, é o maior produtor e exportador mundial de café, representando 1/3 da produção mundial. Se foi um fator determinante do desmatamento da Mata Atlântica em meados do século XIX, agora o setor pode estar caminhando para um novo cenário, principalmente devido ao crescimento dos cafés especiais.

Nas últimas duas décadas tem chamado a atenção a valorização do consumidor pela qualidade dos cafés produzidos. Os grãos utilizados nos chamados “Cafés Especiais” são produzidos sob procedência controlada e altos padrões de qualidade no seu processamento, formando uma cadeia de produção sob padrões rígidos de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental e ajudando a proteger áreas sensíveis do Cerrado e da Mata Atlântica. Praticamente todas as áreas produtoras de cafés especiais no Brasil estão na Mata Atlântica ou em ecótonos/enclaves como o Maciço do Baturité, trecho de Mata Atlântica na Caatinga cearense, e na transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica como na Chapada Diamantina, região central do estado da Bahia.

A conexão entre a produção cafeeira e os remanescentes de vegetação nativa já é reconhecida pela literatura científica. Os serviços ecossistêmicos de remanescentes de vegetação nativa para os cafezais, revelados em vários estudos científicos, incluem a manutenção de um microclima favorável, manutenção de recursos hídricos, presença de polinizadores, de populações de predadores naturais de pragas que afetam as lavouras a exemplo da mariposa conhecida como o bicho-mineiro do cafeeiro (Leucoptera coffeella), entre outros fatores que contribuem para o aumento da produtividade das plantações. O bicho-mineiro pode acarretar perdas entre 30-70% da produção, comprometendo a qualidade e a produção dos grãos e causando impacto negativo na cadeia produtiva do café. Dezenas de espécies de vespas são inimigos naturais do bicho-mineiro e possuem comunidades nos remanescentes de vegetação nativa que geralmente rodeam as plantações de café.

Portanto, a quantidade e qualidade desses remanescentes são muito importantes para a produção de serviços ecossistêmicos e seu manejo e proteção são essenciais para a produção cafeeira sustentável. Esses são fatores cruciais para enfrentar o enorme desafio das mudanças climáticas nas próximas décadas, conforme artigo do Gabriel Moreira e Juliana Sorati da Daterrra na edição no 70 da Revista Espresso.

A produção de cafés especiais está associada as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade. Essas áreas são identificadas e revisadas periodicamente por dezenas de especialistas e cientistas de todos os biomas brasileiros para fins de definição de políticas púbicas de proteção ambiental. A Mata Atlântica, por exemplo, possui áreas prioritárias para conservação da biodiversidade com grande riqueza biológica sobrepostas com regiões de produção de cafés especiais como leia mais…

TEXTO Luiz Paulo Pinto e Cláudia M. Rocha Costa - Café com Cacau Ltda. - luizpaulopinto10@gmail.com • FOTO Agência Ophelia