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Iniciativa da Starbucks prevê renovação de lavouras

A Starbucks, grande rede americana de cafeterias, está com uma iniciativa para ajudar na renovação de velhas lavouras.

No projeto One Tree For Every Bag (uma árvore para cada pacote), a empresa se comprometeu a doar uma muda para cada pacote de café vendido, distribuindo, de acordo com as expectativas, 100 milhões de mudas de café para produtores até 2025. A iniciativa já foi colocada em prática após a rede doar o primeiro lote, 10 milhões de mudas, no ano passado.

Como se sabe, a idade do cultivo reduz a produtividade das plantas, deixando-as mais susceptíveis ao ataque da ferrugem, doença que causou prejuízos aos cafeicultores do Médico e da América Central. O ideal é que as lavouras sejam renovadas há cada 20 ou 25 anos, porém, muitos produtores não possuem dinheiro para realizar a renovação. A empresa, que já trabalha com viveiros no México, Guatemala e El Salvador, pretende agora ampliar o projeto para outros países.

O destaque faz parte das análises da conjuntura nacional e internacional da cafeicultura, em três seções temáticas: Produção, Indústria e Cafeteria, do Relatório Internacional de Tendências do Café, divulgado pelo Bureau de Inteligência Competitiva do Café, da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

(Texto publicado originalmente no site CaféPoint)

TEXTO Redação • FOTO Paula Rúpulo

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Certificação de qualidade dos cafés do Cerrado será lançada na Europa

Entre os dias 13 e 15 de junho, a Federação dos Cafeicultores do Cerrado irá lançar para a Europa a primeira Denominação de Cafés do Brasil.

Chamada de Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro, a indicação tem como objetivo certificar os cafés de qualidade produzidos na região, garantindo que estes contenham as características presentes apenas no território do Cerrado.

A identificação desses cafés pode ser feita através do selo que cada lote e embalagem possuem, permitindo a rastreabilidade online. Através disso, é possível saber como e quando o café foi produzido, além da história do produtor.

O evento, que acontecerá na cidade de Budapeste, na Hungria, deve contar com mais de 6 mil pessoas, entre produtores, cooperativas, parceiros, exportadores, importadores, torrefadores e baristas.

O lançamento ocorrerá durante a World of Coffee, uma das mais importantes feiras voltadas ao café, realizada pela Specialty Coffee Association (SCA), onde a Federação estará com um estande para desenvolver quatro tipos de cuppings, que abordarão: as nuances em cafés do Cerrado Mineiro, a apresentação das microrregiões da Região, a apresentação dos cafés premiados na última safra e a exposição dos cafés da nova safra.

Segundo o Superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal, a principal mensagem das ações da instituição na cerimônia é: “café produzido com atitude”, se referindo a uma bebida rastreável e de alta qualidade, características que marcam os 4.500 produtores da Região. “O maior valor do Cerrado Mineiro são os produtores. Todo nosso material de marketing envolve a história de vida deles, relacionadas à cafeicultura”, explica.

A Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro foi conquistada em dezembro de 2013. No ano seguinte, o lançamento aconteceu no Estados Unidos, com o objetivo de gerar percepção para o mercado comprador, posicionando a Região em diversas mídias internacionais. Agora, em Budapeste, a intenção é institucional, com foco em criar conexão com o mercado, promovendo e gerando demanda para a Denominação de Origem, explicando aos europeus que toda e qualquer produção de café com este título tem Selo de Origem e Qualidade, com a rastreabilidade do café, fotos da propriedade, características do lote, entre outros.

“Escolhemos a feira de Budapeste para comunicar. Um café de 80 pontos é encontrado em qualquer parte do mundo, agora com a Denominação do Cerrado só se encontra na região, porque ele é único e exclusivo”, disse.

Café da manhã para lançamento oficial
Uma segunda ação da Federação na ocasião será a realização de um café da manhã nas dependências da Hungexpo, local de realização da feira, no dia 14 de junho. Na ocasião, estarão presentes visitantes de Budapeste e o público convidado, ligados à cadeia produtiva do café.

“As ações de lançamento não se restringem apenas aos dias da feira. No dia 16 estaremos na cafeteria Espresso Embassy, promovendo uma degustação com cafés do Cerrado Mineiro para baristas, torrefadores e coffee lovers”, finalizou.

(Texto publicado originalmente no site CaféPoint)

TEXTO Camila Cechinel • FOTO Alexia Santi/Agência Ophelia

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Evento propicia experiência de colheita em São Paulo

Na próxima quarta-feira (24/05) acontecerá a 12ª edição doSabor da Colheita, realizada no cafezal do Instituto Biológico, na Vila Mariana (SP), a partir das 10h. A festa, aberta ao público, ocorre desde 2006 entre os meses maio e junho e marca o início da colheita do café no Estado.

Quem participa do evento vivência a experiência de retirar, com as próprias mãos, os grãos de café amadurecidos. Acompanhados de técnicos que fornecem orientações de como colher o fruto, os integrantes recebem óculos de proteção, luvas, chapéu, avental, peneiras e balaios.

Depois da colheita, o café é torrado, moído e embalado, chegando a 500 quilos por ano. Toda a produção é doada para o Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado, que distribui para as entidades cadastradas.

A comemoração é organizada pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, pela Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios da Secretaria (Codeagro) e pela Câmara Setorial do Café.

Sobre o cafezal
Os pés de café plantados no Instituto Biológico tiveram início na metade da década de 50, para facilitar o monitoramento de pragas e preservar a memória da instituição. Em um terreno de aproximadamente 10.000 m², o cafeeiro é composto por dois mil pés de café-arábica, das variedades catuaí e novo mundo, que resultam em uma produção anual de uma tonelada do grão, variando em função da bianualidade da cultura.

Atualmente, o cafezal é opção de turismo em São Paulo e tem caráter educativo.

Serviço
Evento: Colheita no Cafezal do Instituto Biológico
Data: 24 de maio
Horário: 10h00
Local: Instituto Biológico – R. Conselheiro Rodrigues Alves, 1.252, Vila Mariana – São Paulo/SP

(Texto publicado originalmente no site CaféPoint)

TEXTO Camila Cechinel • FOTO Érico Hiller

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Mercado de cafés é debatido por mulheres no Cerrado Mineiro

Mariana Caetano, à frente do Guima Café, e Mariana Proença, diretora de Conteúdo da Café Editora palestram nesta semana

A região do Cerrado Mineiro sedia mais um evento voltado para seus cafeicultores nesta semana. O Encontro de Inovação e Tecnologia para a Cafeicultura no Cerrado Mineiro, tem objetivo de contribuir no desenvolvimento da região e reunirá o público no Campo Experimental da Epamig, dia 27 de abril.

Para falar sobre um dos temas mais caros aos cafeicultores locais, foram convidadas duas mulheres que estão inseridas diretamente no mercado de cafés especiais. Mariana Caetano está à frente da Guima Café marca que reúne os grãos produzidos nas fazendas São Lourenço, Brasis e Santa Rita, na Região do Cerrado Mineiro, agora são Guima Café. Para dialogar com ela e o público local, Mariana Proença, diretora de Conteúdo da Café Editora, participa do debate Casos de sucesso de mulheres no mercado de cafés de alta qualidade. Veja, no vídeo abaixo, quais as abordagens que a palestrante preparou:


Com realização da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, junto com a Fundaccer e a Epamig, o encontro tem como meta contribuir através da integração da pesquisa e do setor produtivo, da geração de conhecimento aplicado e inovador, e da equalização do acesso ao conhecimento. O foco do evento é a promoção de estações, painel, minicursos, utilizando o amplo espaço do Campo Experimental.

Esta edição abordará tambémb temas como nematoides, qualidade de bebida dos materiais do Banco de Germoplasma e melhoramento genético, tendo como destaque a apresentação de uma nova cultivar da Epamig. “Nesta edição vamos apresentar a MGS Araponga 2, uma cultivar desenvolvida pela Epagmig que apresenta características muito importantes para a cafeicultura do Cerrado Mineiro, como a resistência a ferrugem, alta capacidade produtiva, boa qualidade para a bebida, além de ser uma planta com alto vigor”, disse o Dr. Gladyston Rodrigues de Carvalho, pesquisador da Epamig.

No dia, os participantes poderão percorrer cinco estações de campo com diversos temas. No período da tarde, haverá palestras com especialistas em três salas. No encerramento haverá um grande painel que reunirá nomes da cafeicultura debatendo sobre os caminhos para a produção de cafés de qualidade no Cerrado Mineiro.

Com apoio do Sebrae, Unicerp, Emater e Consórcio Pesquisa Café, Inova Café e patrocínio da Bayer, o encontro é gratuito. Os produtores fazer credenciamento para participação nas estações de campo e inscrição prévia para a participação nas salas e no painel, através do site do Cerrado Mineiro.

Programação completa:

ESTAÇÕES DE CAMPO

ESTAÇÃO 1
Apresentação da cultivar MGS Araponga 2 (fase de registro)

Dr. Gladyston Rodrigues Carvalho – EPAMIG
Dr. Cesar Elias Botelho – EPAMIG

ESTAÇÃO 2
Apresentação dos dados do Projeto Integra Cerrado Mineiro

Msc. José Márcio de Sousa Júnior – Fundaccer
Dr. João Paulo Felicori Carvalho – Fundaccer

ESTAÇÃO 3
Potencial do Banco de Germoplasma para o melhoramento genético

Dr. Antônio Alves Pereira – EPAMIG
Dr. Antônio Carlos Baião de Oliveira – Embrapa

ESTAÇÃO 4
Nematóides na cafeicultura do Cerrado

Dra. Sônia Maria Lima Salgado – EPAMIG
Dr. Willian César Terra – Pós-doutor Fapemig

ESTAÇÃO 5
Nova tecnologia para manejo de plantas daninhas

Dr. Elifas Nunes de Alcântara – EPAMIG
Paulo Ferreira – Bayer
Marcello Vilela – Bayer

Horário:
Credenciamento a partir das 07h30. Visitação das 08h30 às 12h30.

SALAS (inscrição prévia)

SALA 1
Classificação física e origem dos defeitos do café

Professor Aquiles Júnior da Cunha – Unicerp
Professora Sandra Moraes – Unicerp/Expocaccer

SALA 2
Casos de sucesso de mulheres no mercado de cafés de alta qualidade

Mariana Caetano – Guima Café
Mariana Proença – Diretora de Conteúdo da Café Editora

SALA 3
Boas práticas agrícolas: manejo de doenças e pragas do café

Msc. Vicente Luiz de Carvalho – EPAMIG
Dr. Júlio César de Sousa – EPAMIG
Dr. Rogério Antônio Silva – EPAMIG

PAINEL (inscrição prévia)
Horário: 14h às 16h30.

CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO DE CAFÉS DE QUALIDADE NO CERRADO MINEIRO
Moderador: 
Professor Luiz Gonzaga de Castro Júnior – Inovacafé – UFLA

Apresentação do Relatório da Safra 2016/2017 do Cerrado Mineiro
Juliano Tarabal – Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro

Potencial de qualidade de bebida dos materiais genéticos do Banco de Germoplasma de Patrocínio
Dr. Marcelo Ribeiro Malta – EPAMIG

Cafés de alta qualidade, qual caminho para produzi-los?
Tiago Castro Alves – Produtor – Fazenda Barinas

Importância da inovação para o mercado de cafés de qualidade
Geórgia Franco – Lucca Cafés Especiais

TEXTO Redação • FOTO Mariana Proença/SIC

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Um Só Caparaó

Escalando ladeiras íngremes, cafés da Serra do Caparaó chegam ao topo da qualidade e têm proporcionado a união entre os produtores.

Lá em cima, os cafés da região do Caparaó. Os cafeeiros vivem a mais de mil metros. Os produtores colhem ladeira acima. Os técnicos também escalam. Os provadores sobem as notas lá para o topo. Os cafés da região do Caparaó estão metade de um lado, metade do outro. Os cafeeiros, com talhões em Minas Gerais e talhões no Espírito Santo. Cafeicultores, com sítios nos dois estados. Os técnicos, os provadores, todos capixabas e mineiros. A força do Caparaó não é bruta, mas, de grão em grão, se soma. Cada passo na região é um degrau acima na ladeira. Também é um passo para o lado. Divisa entre estados, a região tem características próprias que são motivo de união. “Aqui não tem muito isso de capixaba ou mineiro. Nós somos do Caparaó”, explica o produtor Fábio Protazio de Abreu, que cultiva no Sítio Forquilha Café, em Espera Feliz (MG). Mas ele também tem talhões em Dores do Rio Preto (ES). “É o rio que corta a propriedade e a divide entre os dois municípios, eu tenho café dos dois”, diverte-se.

Cortando o Caparaó, o Rio Preto divide os municípios de Espera Feliz (MG) e Dores do Rio Preto (ES)

As duas realidades se completam e, em meio ao Parque Nacional do Caparaó, seus maiores símbolos se mostram, imponentes. O Pico da Bandeira, com seus 2.892 metros de altitude, o terceiro mais alto do País, e, entre os produtores, a Pedra Menina, a 2.037 metros. “O ponto mais alto de cafeicultura que acompanhamos está a 1.400 metros. Já temos produtores querendo levar a 1.500 metros”, revela João Batista Pavesi, professor do Ifes-Campus de Alegre, no Espírito Santo.

É o instituto que atende boa parte da demanda por técnicos na região. Foi lá que surgiu o Curso de Tecnologia em Cafeicultura, o primeiro nesse formato no Brasil. Também nasceu lá a Caparaó Jr., empresa que conecta alunos orientados por professores para prestar serviço de agronomia e consultoria aos produtores.

Para a cafeicultura local, os últimos seis anos foram decisivos. Eles marcaram o início do ponto de virada dessa história. “Os concursos mostraram que tínhamos potencial. Depois que os cafeicultores do Caparaó ganharam por anos subsequentes, descobriram que o café era, de fato, muito bom”, conta Pavesi, que também orienta a empresa júnior.

Com esse incentivo, uma dúvida mudou o rumo do trabalho da Caparaó Jr., que até 2012 só atuava com manejo. “Foi o seu Manoel Protasio, pai do Fábio, quem me perguntou por que eles estavam ganhando concursos, se o café era mesmo bom, se aquilo era uma coincidência. Como saber o que os tornou campeões?”, lembra Pavesi. “Com essa pergunta, nós começamos a investigar o que o Caparaó tem”, completa.

Para a investigação, os pesquisadores criaram, em 2013, o projeto Grãos do Caparaó, e, por dois anos, fizeram investigações com o apoio do IFSULDEMINAS, câmpus Muzambinho, que avaliou a qualidade com três Q-Graders. “Nós selecionamos 110 propriedades e vasculhamos de ponta a ponta a estrutura e a condição socioeconômica do produtor, características de topografia, manejo e solo”, relembra Pavesi.

O pequeno produtor Fábio Protazio de Abreu cultiva suas terrar em conjunto com toda a família. Seu pai, Manoel Protasio, é um dos entusiastas do café especial do Caparaó

Da pesquisa à base
A pesquisa descobriu o que hoje muitos mais já sabem. “No primeiro ano, 94 cafés beberam 80 pontos acima. Por isso, hoje nós buscamos a Denominação de Origem para o Caparaó, porque a região mostra que existe, além do pertencimento, uma característica do café”, explica o professor.

A Denominação de Origem (DO) para o Café do Caparaó deve incluir, em princípio, quinze municípios localizados no entorno do Parque Nacional do Caparaó, sendo nove do Espírito Santo (Dores do Rio Preto, Divino de São Lourenço, Guaçuí, Alegre, Muniz Freire, Ibitirama, Iúna, Irupi e Ibatiba) e seis de Minas Gerais (Espera Feliz, Caparaó, Alto Caparaó, Manhumirim, Alto Jequitibá e Martins Soares). A iniciativa tem apoio do Sebrae.

Em Pedra Menina, distrito de Dores do Rio Preto, encontra-se a comunidade de Forquilha do Rio, que reúne produtores como o próprio Fábio e seu primo Afonso Lacerda. Em comum, eles têm também o rio, que corta as propriedades, e a vida de agricultores familiares, cujo trabalho diário nas lavouras divididas entre as famílias conta com esposas, pais e irmãos e agora o pódio do concurso Coffee of the Year de 2016, que aconteceu durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG). A competição é conhecida da Serra do Caparaó, que já tem Clayton Barrossa Monteiro, da Fazenda Ninho da Águia, como bicampeão.

Agora foi a vez de Afonso Lacerda sagrar-se campeão. Fábio alcançou o terceiro lugar. No Sítio Pedra Menina, Afonso produz 600 sacas por ano, sendo cerca de 80% de cafés especiais. No processo, ele cuida da lavoura, e sua esposa, Altilina Lacerda, trabalha com o desafio que a família decidiu encarar: a torra dos cafés. Assim, eles passaram a investir no marketing do seu produto enquanto o viam nascer nos cafezais. “Criar nossa própria marca foi um avanço bacana para alavancar a identidade, daí o nome Café Forquilha do Rio”, conta o produtor.

O campeão, Afonso Lacerda, manteve o ciclo de vitória do Caparaó no concurso Coffee of the Year 2016

O passo culminou em novo investimento. Observando a oportunidade de turismo na região, os Lacerda decidiram abrir, em 2015, a Cafeteria Onofre, nome que homenageia o pai de Afonso. “Aqui, as pessoas podem ver a qualidade de nossos cafés. Normalmente gostam e compram, pois temos um grande fluxo de turismo”, revela.

Nas lavouras vizinhas, Fábio atua em parceria com a esposa, Hélia Luiz Vieira Abreu, que seca os grãos com cuidado. Eles veem agora seus frutos de catuaí vermelho e caparaó amarelo ser enaltecidos desde que o reconhecimento da região veio. “Este ano foi muito bom se ver valorizado! O turismo também está aumentando muito, estamos com até 50% mais por causa dos concursos.”

Além da porteira
Hoje, a região, que já precisou pedir auxílio de provadores de fora, conta com pelo menos sete Q-Graders. Entre eles, Jhone Lacerda, produtor e estudante do Ifes-Campus de Alegre. No Sítio Santa Rita, em Espera Feliz (MG), ao lado da esposa, do pai, da irmã e do cunhado, ele cultiva mundo novo, catuaí, catiguá, topázio, icatu, caturra, obatã, bourbon e caparaó amarelo. A última variedade é considerada nova pelos produtores e técnicos. “Nenhum fisiologista conseguiu identificar ainda”, pontua Jhone.

No sítio, o produtor e seu pai, Tarcísio Lacerda, desenvolvem mais do que cafés. Eles projetam novos equipamentos voltados para a qualidade. “Patenteamos um secador para microlotes feito de madeira reflorestada da propriedade. Mas, a todos os produtores que vêm aqui, nós explicamos como funciona e como ele pode montar um também. A ideia é difundir esse conhecimento mesmo”, conta.

Jhone e seu pai, Tarcísio Lacerda, secam em terreiro suspenso e produzem café fermentado

Com capacidade total de 30 mil litros e divisórias para separar os lotes, o objetivo da invenção é possibilitar a seca de microlotes em uma região que é muito úmida. A dupla também criou uma esteira para facilitar a separação dos grãos, e um software para medir a temperatura e criar um inovador perfil de fermentação.

Entre uma criação e outra, Jhone se dedica à prova. “Os outros produtores também costumam trazer café aqui e ajudamos. De quatro anos pra cá, dei seis minicursos de classificação e degustação na região. Já existe uma relação de produtor para produtor então a linguagem é a mesma”, pontua.

O trabalho se desdobra também na marca própria, a Sítio Santa Rita, e o espaço onde servem os grãos, A Cafeteria. Ambos ficam sob os cuidados da irmã de Jhone, Miriam, e seu marido Fred Ayres. “Nós fazemos experiências com fermentação e damos um nome especial a cada lote, de acordo com a característica que apresenta na prova. Toda a parte de identidade da marca é com o Fred”, conta Jhone, sobre a divisão na família que respira café em todas as pontas.

Miriam e Fred Ayres

Conhecida na região, Cecilia Nakao, Q-Grader, também guiou Afonso e sua família em seus primeiros passos na arte da torra. Para ela, a relação com o Parque do Caparaó se iniciou ainda em 2004. “Comecei com turismo, quando inauguramos a Pousada Villa Januária. Na propriedade, já havia um pé de café, então isso despertou a vontade de trabalhar com café”, conta.

Ainda em 2005, ela decidiu seguir sua intuição. “Sem entender direito, já imaginava que tinha um microclima específico e que podia trabalhar com qualidade e fazer experimento. Fui uma das primeiras a tentar colheita seletiva e usar descascador manual.”

As experiências abriram caminho para ideias que pudessem caminhar com a identidade local. “Comecei a fazer a cultura orgânica. Como a gente vivia direto no Parque do Caparaó, fazia mais sentido”, conta ela, que oferece grãos para os consumidores e fica próxima à entrada do Parque. Cecilia criou amplo contato com os cafeicultores familiares que a rodeiam. “Eles são tidos como guardiões do parque, porque as propriedades formam um cinturão e os produtores têm agricultura sustentável. A presença deles inibe a entrada de madeireiros ou caçadores”, afirma.

Cecília Nakao

Um dos produtores em quem Cecilia viu potencial, Edson Abreu Oliveira, de 27 anos, o Edinho, também teve seu produto destacado em um concurso, mas de maneira diferente. Ele é dono do café do Sítio Oliveira, utilizado por Lucas Salomão, vencedor da 5ª Copa Barista, ainda durante a Semana Internacional do Café (SIC), neste ano.

“Eu comecei há cerca de quatro anos a mexer com cafés especiais. Nós tivemos a ajuda da Associação de Produtores Rurais de Pedra Menina, que ganhou um descascador comunitário grande. Então, começamos a processar esses cafés”, revela Edinho.

Vendo a vitória de conterrâneos, ele sentiu-se incentivado a prosseguir com a produção, que hoje rende de 15 a 20 sacas de seletiva por ano. “Os meninos do seu Onofre começaram a ganhar todas as premiações. Então os olhos do mundo se voltaram para lá nos cafés especiais. Isso incentivou os produtores, começamos a trabalhar e estamos na luta!”

Edson Abreu em sua lavoura, onde realiza colheita seletiva

Do sonho ao reconhecimento, os grãos do produtor foram comprados por Cecilia, passaram pelas mãos dos torrefadores da Wolff Café, para depois chegarem ao barista e, por fim, vencerem a competição. “Eu conheci o Lucas e ele falou que o café ficou espetacular, com notas sensoriais muito altas”, afirma Edinho. As histórias se entrelaçam pela força da região em busca da qualidade.

As flores de março
Dos laços estabelecidos entre os produtores, a colheita se destaca pela vivacidade. “Buscamos colher seletivamente, porque, para nós, que somos familiares, compensa. Conseguimos apanhar os frutos bem maduros”, conta Afonso. A colheita acontece com intensidade na região entre os meses de junho e novembro, explica Pavesi. “De 2014 pra cá, o valor do fruto advindo da florada de março – colhido agora em novembro – vem crescendo”, revela.

O professor João Batista Pavesi acompanhou de perto o desenvolvimento da região e busca hoje reunir informações para o Caparaó conquistar a Denominação de Origem

O cafeeiro tem floradas entre setembro e outubro no Caparaó, mas, quando chega março, o fruto que estava no pé, ainda aquoso, ganha a companhia de novas flores. Até 2014, o professor conta que todo o café era derriçado quando se colhia o café da florada tradicional, e esse frutinho menor não era utilizado.

Agora, a realidade mudou e o que era problema se tornou solução. “Os produtores começaram a levar esses cafés da ponta do ramo, colhido em novembro, para concurso e degustação e ele chamou atenção. O Japão está comprando também”, completa Pavesi.

Edinho, por exemplo, tem na florada de março de seu catuaí vermelho a maior expectativa da safra, que colhe apenas em novembro. “Modifica-se a colheita para ser mais lenta, mas paga-se mais e, como o café começou a ter uma aceitação, isso está mudando tudo aqui. É uma pedra preciosa”, pondera o professor.

Só pela Caparaó Jr. são 1.670 propriedades atendidas, com perfil de agricultura familiar, e média de 100 a 200 sacas ao ano. Identificar o que compõe a região tem sido a prioridade dos envolvidos na cadeia local, de produtores a pesquisadores. “Nós temos hoje uma ideia melhor a respeito de altitude, umidade, temperatura, precocidade na colheita e colheitas tardias”. Os resultados vêm apresentando componentes de ambiente, topografia, planta, manejo e clima que proporcionam qualidade. A força da região, cercada por Mata Atlântica, picos e pedras, conhece agora o potencial da união de histórias e sonhos.


(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Thais Fernandes • FOTO Bruno Lavorato

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Projeto conecta produtores e cafeterias

Esta semana ocorreu o lançamento do projeto Cafés Autorais, uma parceria entre a Federação dos Cafeicultores do Cerrado, o Sebrae e a Mundo Café.

Com o intuito de fomentar o consumo de café com origem controlada e de alta qualidade, o projeto funciona da seguinte maneira: três cafeterias de Uberlândia (MG) são levadas a três fazendas da região, participando de todo o processo de colheita, seca e benefício dos grãos.

As cafeterias que partilharam dessa experiência foram a Café Calin, Cafeteria Pede Café e Café D’Casa, e as fazendas foram Serra Negra e Congonhas, ambas da cidade de Patrocínio, e Dona Neném, de Presidente Olegário.

No ano passado, os empreendedores dos estabelecimentos foram às fazendas para selecionar e colher os grãos manualmente juntamente com o produtor, escolhendo o processo de secagem e beneficiamento do café. Após isso, cada produtor junto com cada cafeteria colheu um microlote com 30 quilos do grão, resultando em três variedades com sabor e aromas exclusivos.

Após todo o processo de beneficiamento, as amostras foram enviadas à Federação dos Cafeicultores do Cerrado, onde ganharam o Selo de Origem e Qualidades dos lotes. Os três cafés pontuaram acima de 80 na escala SCAA (Associação Americana de Cafés Especiais), recebendo a chancela da Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro.

Os cafés passaram por um desenvolvimento do perfil de torra para atingirem as melhores características de sabor, aroma e acidez. A responsável por esse processo foi a barista e mestre de torra Paula Dulgheroff, da Mundo Café. Segundo ela, o processo de torra será feito de acordo com a demanda, não torrando os 30 quilos de uma vez. Assim, conforme o café for sendo vendido para o consumo na loja ou para uso do cliente, ele vai sendo torrado, fazendo com que sempre fique fresco.

Na visão das cafeterias, o projeto acrescentou muito, visto que agora elas não levam apenas o café até seus clientes, mas sim toda a história e conhecimento por detrás dele. “Esse projeto nos proporcionou um conhecimento mais avançado sobre café, não fazia ideia do quão é delicado o processo de colheita e seleção”, disse Ana Lívia, do Café D’Casa.

Para as fazendas, a iniciativa foi aprovada. “Foi uma experiência incrível. Acreditamos que iniciativas como esta sugerem um pensamento diferente na cabeça do consumidor, ele encontra não só uma xícara de café, mas também as histórias e as experiências únicas”, afirma o produtor Gustavo Ribeiro, da Fazenda Congonhas.

De acordo com o Sebrae, a ação foi uma oportunidade para que cafeterias e consumidores tivessem acesso a cafés de alta qualidade, valorizando a origem e fazendo a integração dos elos da cadeia (produtores, cafeicultores, chegando ao consumidor final). Segundo a analista do Sebrae na região do Cerrado Mineiro, Naiara Marra, a entidade pretende expandir o projeto para todo o Brasil, tendo foco na geração de demanda e disseminação da denominação de origem do Cerrado Mineiro.

Uma nova edição do projeto será trabalhada para expandir nas cafeterias de todo o Brasil ainda em 2017, segundo os organizadores.

Cafés Autorais:

Café Calin (Fazenda Serra Negra – Patrocínio – produtor André Nakao): café da variedade IAC 125 RN (IBC 12). Os grãos ficaram armazenados por 24 horas, passando por um processo de fermentação a seco, posteriormente, foi feita uma seca lenta, em terreiro aberto.

Características da bebida
Fragrância: frutas amarelas maduras, papaia e mel
Sabor: notas de frutas amarelas tendendo a papaia
Finalização: longa e suave
Acidez: média
Corpo: acentuado

Cafeteria Pede Café (Fazenda Congonhas – Patrocínio – produtor Gustavo Ribeiro): café da variedade catuaí amarelo. Foi feita uma seca lenta, chamada “grão a grão”, que é quando eles ficam bem esparramados, em uma fina camada, em terreiro sem cobertura;

Características da bebida
Fragrância: notas de amêndoas tostadas
Sabor: doce, açúcar caramelizado e avelãs
Finalização: mediana e agradável
Acidez: baixa
Corpo: cremoso

Café D’Casa (Fazenda Dona Nenem – Presidente Olegário – produtor Eduardo Pinheiro Campos): café da variedade catuaí vermelho. O café foi seco com redução da intensidade solar protegido por um sombrite, em caixa de nanolotes.

Características da bebida
Fragrância: notas delicadas de chá de cidreira
Sabor: doce, castanhas e mel de flor de laranjeira
Finalização: longa e delicada
Acidez: cítrica e mediana
Corpo: denso e viscoso

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

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Torrefadora italiana realiza seminário sobre inovações do cafeicultor

Nesse ano será realizado o 18º Seminário anual da illycaffè e Università Del Caffè Brazil, no dia 16 de março, na Sala da Congregação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

Nos destaques estão a Webinar, que terá como tema “Fazendo mais e melhor: inovações no agronegócio café”, onde o assunto será as inovações desenvolvidas pelo cafeicultor em sua fazenda e as palestras do Dr. Andrea Illy, presidente da illycaffè, e do Prof. Dr. Decio Zylbersztajn, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade/Universidade de São Paulo e fundador do PENSA/FIA.

seminário illycaffè

Conhecida no mundo do café por ter sido a precursora do espresso, a illycaffè possui parcerias que visam a qualidade e a sustentabilidade. Com grãos de nove origens diferentes, incluindo o Brasil, são consumidas mais de 7 milhões de xícaras de café illy por dia em mais de 140 países.

As inscrições são gratuitas e, para aqueles que se inscreverem antecipadamente, o Webinar estará disponível na internet com links em português e inglês. Ver abaixo.

No mesmo dia será realizada a 26ª edição do Prêmio illy de Qualidade do Café para Espresso, em São Paulo. A premiação contará com a presença de alguns cafeicultores nacionais finalistas do concurso, autoridades do segmento, convidados internacionais e parceiros da multinacional italiana, além do Presidente e do CEO da illycaffè para fazer a entrega dos prêmios.

Para se inscrever no Webinar e/ou mais informações, clique aqui.

 

TEXTO Redação • FOTO Lucas Albin/Agência Ophelia

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De volta às origens

A ideia de retornar ao campo começou a se concretizar há treze anos. De lá para cá, a família Moraes vem conquistando outras pontas do agronegócio café.

de volta às origens

A umidade baixa é uma das protagonistas em um trecho produtor paulista. Na região de Marília e Garça, o segundo município se destaca por possuir características que convergem para este fator: altitude média em torno de 600 metros, que condiciona temperaturas médias na faixa de 21 a 22 graus, e solo arenoso.

O outro protagonista desta história? O retorno às    origens. Na equação, o cansaço causado por uma vida tumultuada em um grande centro e a vontade de mudança. E no resultado, nenhuma volta ao mundo como tanto temos visto por aí. No lugar de jogar tudo para o alto e programar uma megaviagem, José Carlos de Moraes Filho, formado engenheiro civil, pegou o caminho da roça. O processo o levou de Vinhedo, na região de Campinas, ao município de Garça, distante 415 quilômetros da capital.

A ideia de retornar ao campo, onde ele guardava suas melhores lembranças da infância, começou a se concretizar há treze anos. Em Garça, José Carlos, apelidado pelos amigos de Zito, adquiriu uma propriedade com características que a destacam no cenário regional. Segundo ele, foi paixão à primeira vista. Mas a esposa, Maria Cristina Beisman de Moraes, também engenheira civil, lembra que foi preciso promover mudanças. “No início, o terreno era muito malcuidado e o Zito promoveu mutirões para pôr tudo em ordem”, diverte-se.

Técnicas modernas

O Sítio Água da Mata tem em sua lavoura o que José Carlos explica ser “uma privilegiada face ensolarada, sem vento sul”. Zito também decidiu plantar o cafezal em linhas que se curvam no sentido que vai de leste para oeste. Quem apresentou a propriedade e a região ao produtor foi Luiz Salutti, corretor de fazendas e de café, e que se tornou amigo da família. “Aqui na região de Garça temos cafeeiros com média de vinte anos de idade. A produtividade do município é geralmente de 35 sacas por hectare”, afirma ele sobre a origem, hoje pouco lembrada no cenário nacional, mas que mantém algo em torno de 12 mil hectares plantados, e entre 20% e 30% das lavouras irrigadas só no município.

Com a casa organizada, veio a busca por técnicas que colaborassem para manter uma produção resistente a baixa umidade. Através de uma técnica chamada enxertia, Zito implantou uma lavoura de raiz e base do conilon, mas que mantém o tronco, a árvore e, claro, seus frutos de café arábica. “A técnica torna o cafezal mais forte e traz menos perda na hora do plantio”, explica ele, que cultiva obatã, mundo novo, ouro verde e iapar.

Os cafeeiros da propriedade têm seis anos, em média, e em 2016 tiveram boa recuperação na produtividade, que, no ano anterior, caiu em decorrência da seca. A lavoura hoje, inclusive, é 100% irrigada e a colheita mecanizada é o carro-chefe. “Enquanto na época em que só havia colheita manual a fazenda precisava de cinquenta trabalhadores dedicados ao processo, hoje são nove pessoas na parte agrícola, contratadas durante todo o ano”, pontua Zito.

Entre as variedades, Zito explica que a obatã é mais tardia e seus frutos amadurecem, em geral, por último. A diversidade de desenvolvimento ajuda a programar a colheita e conseguir concluir praticamente tudo com o maquinário ao longo do terreno, que se mantém entre 700 e 800 metros. O solo arenoso também traz alguma tranquilidade. “A umidade é baixa e por isso o café que cai no chão não apresenta, tão rápido, problemas com fermentação”, explica ele, que credita a esse fator as características de acidez média, que destacam o aroma da bebida final.

Entre o campo e o beneficiamento, Zito descobriu sua vocação para o café. Hoje, o produtor passa boa parte da semana no Sítio Água da Mata

Entre o campo e o beneficiamento, Zito descobriu sua vocação para o café. Hoje, o produtor passa boa parte da semana no Sítio Água da Mata

Antes de chegar à xícara, porém, muita água precisa correr. Embora os cafés da propriedade sejam naturais, na separação é o lavador que trabalha constantemente. Próximo ao maquinário, um terreiro de cimento revestido de asfalto aguarda os cafés. A camada extra ajuda a elevar a temperatura e acelera a secagem dos grãos, que são revolvidos pelo menos a cada trinta minutos por dois trabalhadores em uma moto adaptada para o processo.

O tempo necessário no terreiro varia de acordo com o clima. “Neste ano, os grãos estão secando muito rápido. Tem café que você lava, passa um dia no terreiro e no outro já vai para o secador mecânico.” Os dois equipamentos mecânicos são movidos a gás e a lenha e se revezam no trabalho final dos lotes. “Em três dias, o secador movido a gás seca até 30 mil litros de cafés”, conta Zito, explicando que, para alguns cafés cerejas, o processo consiste apenas em manter a ventilação do equipamento para uma secagem diferenciada.

Por fim, há uma tulha com quatro repartições, onde os cafés descansam após a seca. “A ideia é fazer mais três silos para manter a umidade dos grãos entre 11% e 12%”, afirma Zito. Cada um dos silos hoje armazena até 500 mil litros de café.

Na busca pelo crescimento, a aposta na união entre produtores trouxe bons frutos. Com a assistência técnica de um agrônomo independente, Zito e outros cafeicultores da região se uniram para fazer a compra coletiva de adubos, assim como a venda em conjunto das sacas de café verde. “Ganhamos mais poder de barganha juntos”, pontua. Para fazer valer os investimentos, Zito e Maria Cristina decidiram ir além, no universo da torra. Nesse ponto, não demorou para que ela se pusesse à frente da nova empreitada. “A fazenda é com ele, mas a venda do nosso café eu faço com muito gosto. Valorizo o trabalho porque a gente precisa confiar no produto e levá-lo para todo o mundo”, declara.

Zito revolvendo o volume   de café recém-chegado ao terreiro e detalhe da torra, que acontece na torrefação Lugus

Zito revolvendo o volume de café recém-chegado ao terreiro e a torra, que acontece na torrefação Lugus

Mergulho na torra

Quase uma década se passou com a marca Café Aroma desde a decisão de ingressar na industrialização. “No início, a torra era terceirizada, mas decidimos trazer o processo para perto”, conta Zito. Foi então, há seis anos, que a torrefação Lugus – junção dos nomes dos dois filhos do casal, Luísa e Gustavo – começou a operar na propriedade. Hoje, 60% do café produzido no Sítio é torrado e o próprio Zito decidiu estudar a técnica, quando, em 2015, fez um curso de curva de torra com o consultor especialista em Marketing e Qualidade de Cafés Especiais, Ensei Neto.

Nesse caminho, outro emigrado da cidade grande viu na cultura cafeeira um novo potencial. Rafael Joseph, que havia trabalhado junto a Zito em uma grande empresa, também deixava a vida de escritório quando foi fisgado pelo café. Com a ideia de atuar diretamente na internet, Rafael iniciou um clube de assinaturas voltado para monodoses, o Clube das Cápsulas. Com o amigo produtor ele encontrou uma nova possibilidade para seu público-alvo. “A ideia de trazer uma marca feita pelo produtor dá muito valor à cápsula, traz toda a história do grão para o consumidor”, explica Rafael.

Depois de muito planejamento, tem sido através de encapsulamento terceirizado que os cafés do Sítio Água da Mata entram em mais um segmento da cadeia. “Criamos a cápsula Nonna Cella inspirados na minha avó, matriarca da família, que era uma mulher extremamente forte e independente”, conta Maria Cristina.

A circulação das cápsulas no clube e no mercado começou neste ano, e a família traça planos. “Estamos seguindo as normas da certificação 4C para obter mais sustentabilidade e valorização para o café.” A propriedade  busca também obter outro selo, o da UTZ – que tem auditoria agendada para março de 2017 –, e, a partir da experiência, Zito já mantém preservados 24% da propriedade com áreas de reserva ambiental e área de preservação permanente, as chamadas APP’s.

Entre todos os investimentos e ganhos com o sítio, Zito não deixa de frisar que quanto mais alto chegarem, melhor, mas que o retorno ao campo ainda é o item número 1 para toda a empreitada.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Thais Fernandes • FOTO Lucas Albin / Agência Ophelia

Cafezal

Fermentação positiva. O que é?

fermentação positiva do café

A expressão café fermentado é usada há décadas para definir café de má qualidade, mas experimentos recentes provam que a fermentação simplesmente ainda tem muita história para contar

Na era dos cafés especiais, cada ponto do cupping final é valioso (na metodologia norte-americana SCAA)! Grãos com pontuação alta podem ter o preço até quatro ou cinco vezes maior que o de mercado. “Já pagamos R$ 2.700 na bica corrida de cereja descascado do Rancho Dantas (Brejetuba-ES). Ele foi campeão do concurso de qualidade que promovemos em 2015 no Espírito Santo e atingiu 91,5 pontos”, conta o trader da Bourbon Specialty Coffees, Thiago Trovo.

Ao entrar no mercado de cafés especiais, o produtor tem mais chance de aumentar seu lucro e ainda não fica refém das oscilações de preço de commodity. É por isso que muitos estão investindo tempo, trabalho e dinheiro no campo e no manejo pós-colheita para melhorar cada vez mais o perfil sensorial dos grãos. É nesse cenário, portanto, que técnicas de fermentação positiva no café estão sendo testadas e estudadas.

Foi com um café de fermentação positiva, por exemplo, que o atual campeão brasileiro de barismo – Leonardo Moço – ganhou seu último título, em 2015. “Usei um lavado (washed) com uma levedura específica que fermenta cervejas tipo ALE, em parceria com o produtor Thiago Mota, da Fazenda Jatobá, na cidade de Patrocínio”, explica Leonardo.

O experimento, porém, foi uma casualidade. Ao saber que o barista procurava um café único para sua apresentação no
campeonato, o representante da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, Juliano Tarabal, sugeriu que ele usasse grãos do Cerrado. Para escolher um perfil sensorial diferente, técnicas de fermentação com levedura de cerveja foram adotadas. Esse café “tinha características de um washed como se fosse colombiano ou da América Central”, recorda Leonardo.

Testes e muitas perdas

Na esperança de produzir cafés que vão surpreender o paladar, testes com diferentes leveduras e de fermentação natural (com micro-organismos presentes na fazenda) estão acontecendo em várias regiões do Brasil. Alguns deram muito errado, poucos continuam com resultados positivos.

Antes de celebrar um aumento de 40% nos preços de sua saca (com cafés de maior pontuação) por meio de técnicas de fermentação, Mariano Martins, produtor da Fazenda Santa Margarida, localizada em São Manuel (SP), amargou grandes prejuízos. “No começo, perdi de 20% a 30% do valor até acertar a mão”, recorda-se. Ele decidiu manipular o processo de fermentação no ano de 2008, quando foi registrado o inverno mais chuvoso de que se tem notícia. “Isso foi logo no começo, quando assumi a fazenda e o café não secava no terreiro de jeito nenhum!”, conta.

As piores crises são berço das melhores ideias e foi assim que Mariano começou a estudar alternativas. Suas respostas foram encontradas na Colômbia, mais especificamente em Huila, região onde as características climáticas eram semelhantes às de sua fazenda, com a única diferença de que os grãos colombianos têm fama no mundo todo. “Para minha surpresa, descobri que os cafés lavados dessa região eram 40% mais caros que o padrão brasileiro”, afirma.

Outro acaso também inspirou o pesquisador da IFRJ Ademário Júnior a estudar os caminhos da fermentação positiva de cafés. Segundo ele, a ideia de pesquisa surgiu quando um cafeicultor da região da Serra do Caparaó esqueceu algumas sacas de plástico cheias de café cereja no campo, na sombra entre os pés de café. Para não jogar fora, Ademário decidiu ir em frente, provou o café e notou que seu sabor estava melhor. Foi assim que um projeto de pesquisa foi
redigido, em conjunto com cafeicultores, provadores de café e pesquisadores, e aprovado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Após longas discussões com os cafeicultores, foi preparado um experimento que controlava: (I) tempo de fermentação nas condições originais, (II) tipo de descascamento (ou não) da polpa e (III) altura de pilha no terreiro para quatro cafeicultores de altitudes diferentes”, explica o pesquisador. Além disso, a temperatura da sacaria em que o café fermentava foi medida durante os sete dias (prazo máximo) de fermentação, de meia em meia hora.

Cada cafeicultor gerou quinze amostras na combinação desses fatores em sacas de plástico. Os cálculos feitos a partir da resposta sensorial por cupping mostraram que havia uma melhora de qualidade. “A resposta não era a mesma e dependia do cafeicultor, mas, de modo geral, quatro dias de fermentação funcionavam bem para todos eles naquela região”, afirma.

Pesquisas e resultados

A cafeicultura do maior produtor do mundo, porém, não pode viver de acasos. Foi por isso que o professor e pesquisador da IFSULDEMINAS Leandro Carlos Paiva começou uma pesquisa em 2015 para mapear diferentes processos de fermentação. “No começo, as experiências buscavam melhoria sensorial na qualidade do café de acordo com a metodologia SCAA. O objetivo era apenas achar um meio de aumentar a pontuação, valorizando o produto final”, explica Leandro.

Nessa primeira fase, o tempo de fermentação estava entre catorze e dezoito horas em caixa d’água de plástico na IFSULDEMINAS e em tanques de concreto nas fazendas. “A ideia era evitar um ambiente laboratorial, onde qualquer parâmetro pode ser controlado. Queremos simular as condições que qualquer produtor terá em sua propriedade”, conclui. Durante os testes, notou-se uma fermentação bem intensa com temperatura máxima do mosto de 28 ºC, e o pH variou entre 5 e 3. Nesse cenário, o café não apresentou nenhum cheiro de ácido acético (vinagre), mas dava para observar que a polpa já havia se desprendido.

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Na Fazenda Santa Margarida, em São Manuel (SP), o produtor Mariano Martins realiza as fermentações em tanques, com medição precisa do pH e da temperatura

Vale lembrar que esse processo é utilizado na Colômbia há mais de cinquenta anos, mas nunca houve um estudo científico que avaliasse os sabores e aromas. Essa técnica é usada por lá para retirar a polpa rapidamente e evitar a fermentação ruim em clima muito úmido. Ou seja, a técnica é a mesma, mas os objetivos são totalmente diferentes entre Colômbia e Brasil. Como conclusão dos experimentos do ano passado, uma novidade bastante inspiradora: “Notamos um aumento médio de 3 pontos na classificação da SCAA”, afirma.

Essa constatação provada cientificamente nos estudos da IFSULDEMINAS já permeava as teorias de Mariano Martins e do barista Leonardo Moço muito antes. Em toda a história da Fazenda Santa Margarida, da família Martins, essa foi a primeira vez que ela produziu cafés com perfis tão diferentes, na safra de 2009.

Mesmo com um café melhor, não houve interessados na compra daquele grão diferentão. “Tive que vender o café como commodity, mas procurei entender o que ele tinha de diferente”, explica Mariano.

Depois de enviar amostras para diferentes degustadores, foi a barista Isabela Raposeiras que incentivou seus experimentos ao provar o café. “Ela me disse: ‘Não sei o que você está fazendo, mas continue fazendo. Eu conheço o café da região e esse está diferente’.’’ Na sequência, ela indicou um comprador em Nova York que adorou o resultado final. “Ele disse que o café tinha uma acidez macia”, afirma Mariano.

Com boas perspectivas no horizonte e sem estudos acadêmicos em mãos, ficou decidido que era necessário compreender esses cafés cientificamente. Foi quando uma parceria com uma universidade da Europa foi fechada e testes de cromatografia (teste laboratorial que mede quantitativamente a presença de ácidos nas unidades por grama) foram realizados.

Desde então, “comecei a modular o tipo de ácido que eu queria no café”, conta Mariano. Para 2016, seu desafio é dominar corpo, textura, maciez e finalização. “Quero acrescentar camada de potência sensorial mais pesada, como foi com o Guaranoia (corpo agradável, licoroso, com potência aromática). Esse é nosso brinquedo mais recente”, conclui.

Lá em Machado, na IFSULDEMINAS, o desafio deste ano é dar sequência à pesquisa com os resultados positivos registrados em 2015. Essa segunda fase, que ainda está em andamento, tem o objetivo de identificar que tipo de levedura será mais eficiente no melhoramento sensorial do café. Três leveduras (cerveja, vinho e champanhe) e dois lactobacilos (thermófilos e mesófilos) estão sendo testadas em intervalos de tempo diferentes: entre sete e cem horas no tanque de fermentação.

Feita em cooperação técnica com as fazendas O’Coffee (Pedregulho/SP), Iracema (Machado/MG) e Santa Jucy (Cassia dos Coqueiros/SP) e a IFSULDEMINAS/Machado, a pesquisa já mostra indícios surpreendentes. De acordo com o pesquisador Leandro, os resultados preliminares indicam que as leveduras tiveram respostas, mas os resultados foram parecidos independentemente do tipo de fermento. “O mais importante na fermentação é dar condições para ela acontecer e saber o momento certo de finalizar. Os parâmetros importantes nessa decisão são temperatura e pH. O ideal é manter entre 25 ºC e 30 ºC e pH entre 3 e 5”, explica.

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Detalhe da mão do produtor com o melado do açúcar natural do fruto do café, que contribui para o sabor final da bebida

Perguntas e respostas

Entre os experimentos que estão acontecendo em diferentes partes do Brasil, alguns fatos foram citados pelos aventureiros que estão apostando na peleja dos cafés fermentados.

Leveduras realmente fazem a diferença? Resultados prévios da IFSULDEMINAS indicam que o uso de leveduras diferentes não representa grandes alterações sensoriais na xícara. De modo geral, elas melhoram o perfil sensorial, mas não conferem características mais frutadas ou mais doces ao grão. Ou seja, uma levedura de cerveja não garante uma nota mais cítrica, por exemplo.

Existe uma fórmula para seguir? Não existe uma “receita de bolo” ou uma padronização de fermentação. Cada região, cada fazenda, cada talhão faz a diferença, principalmente se a fermentação for natural (com micro-organismos do local). Para testar em sua fazenda, o produtor tem que estar disposto a aprender e a perder um pouco de dinheiro em testes. “Você vai ter que estudar muito! Você terá que ser um integrador de conhecimento”, ressalta Mariano.

Fermentação de café versus fermentação de cerveja e vinho? Infelizmente, a fermentação do café não tem as facilidades e os padrões da indústria do vinho e da cerveja. De acordo com o professor Leandro Carlos Paiva, existe um controle melhor de temperatura e pH do vinho e da cerveja e o controle da quantidade de açúcar do mosto do vinho, do lúpulo e do malte da cerveja é mais simples. “Esse controle é mais fácil para decidir o volume de levedura que será adicionado (número correto de micro-organismos que serão inseridos por litro) ao café”, explica.

No café, o controle de açúcar e temperatura não existe. Portanto, fica complicado definir a quantidade exata de levedura (número de micro-organismos por litro de café cereja – que pode ser descascado ou natural).

Além desses parâmetros, o café pode sofrer muita influência na secagem dos grãos e ainda passa por um processo térmico: a torra. Daí a complexidade dos cafés de fermentação positiva. Existem altos riscos de perder toda a qualidade adquirida na fermentação se a secagem for malfeita. O mesmo princípio é válido para a torra. “Por isso, muitas vezes certas fermentações não têm o resultado esperado”, finaliza Leandro.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

TEXTO Kelly Stein • FOTO Divulgação Martins Café/Fazenda Santa Margarida

Cafezal

Café de 90,95 pontos vence a Prova de Cafés Certificados Imaflora

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A AC Café S/A, empresa exportadora de café, localizada na região do Cerrado Mineiro, apareceu duas vezes entre os vencedores da VIII Prova de Cafés Certificados Imaflora – Rainforest Alliance Certified. O café campeão foi produzido na Fazenda Santa Rosália e, com processado por via úmida (CD), atingiu 90,95 pontos. O grão enviado foi da variedade bourbon amarelo.

Já o lote da Fazenda Santa Lucia, também da AC, foi de café natural e atingiu 90,15 pontos ficou em terceiro lugar. “Tivemos chuva nos meses de maio e junho, mas conseguimos ainda assim uma qualidade excelente nesta safra”, conta Fellipe Pacheco, que representou a AC Café durante a premiação.

Em segundo lugar, o café natural da Fazenda União, do produtor Jose Carlos Grossi, atingiu os 90,45 pontos. O anúncio das 20 melhores amostras foi feito na última quinta feira (27/10), durante o evento de premiação dos melhores cafés Rainforest Alliance Certified do Brasil 2016, na cidade de Patrocínio (MG).

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A Prova, promovida pelo Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, busca mostrar que além da produção sustentável, os produtores certificados têm excelência em qualidade. Foram inscritas 86 amostras, sendo 40 processadas por via úmida (CD) e 46 processadas por via seca (Natural). Todo o processo de classificação foi realizado na Universidade Federal de Lavras (Ufla), coordenada pelo prof. Dr. Flávio Borém.

Veja como foi o anúncio do resultado do concurso:

“A Prova é exclusiva para os empreendimentos que possuem o selo Rainforest Alliance Certified. Nessa edição, decidimos celebrar os resultados junto aos produtores da região do Cerrado, onde existe a maior quantidade de produtoras e produtores certificados” reforça Eduardo Trevisan Gonçalves, secretário executivo adjunto do Imaflora. Para ele, a qualidade e sustentabilidade são fundamentais para a competitividade na cadeia do café.

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Durante a tarde, antes da revelação dos vencedores, houve uma prova às cegas com os 20 melhores cafés. A organização convidou provadores para avaliar os cafés e deixou à disposição amostras para serem levadas e torradas por cada um. “A ideia é que cada um possa torrar e preparar o café a sua maneira e, se se interessar, entrar em contato conosco para saber de quem era o café para comprá-lo”, pontuou Borém.

Veja, no quadro abaixo, a classificação final da VIII Prova de Cafés certificados Imaflora – Rainforest Alliance Certified:

IMAFLORA

TEXTO Thais Fernandes, de Patrocínio • FOTO Divulgação