Cafeteria & Afins

Soul Café – São Paulo (SP)

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O nome Soul Café diz muito sobre esta cafeteria inaugurada em novembro do ano passado, em São Paulo. Liderada pelo casal Carlos e Talita dos Reis e pelo irmão de Carlos, Davi Dias dos Reis, o espaço não estaria de pé não fosse pela determinação do trio, que pôs a alma no novo negócio. Em contato com o grão desde pequenos – o avô de Carlos tem uma pequena produção de café em um sítio no Sul de Minas –, a turma apostou na vontade de trabalhar com a bebida e foi atrás de mais informações para valorizar o cafezal da família. Os três fizeram cursos de barista, degustação e torra, descobriram o universo dos cafés especiais e decidiram, finalmente, investir em uma cafeteria.

Foram dezenas de planilhas, meses de procura por um lugar, ajuda de todos os lados, muitos gastos, até que eles pudessem abrir o tão sonhado café. Com o conceito de “menos é mais” em mente, optaram por um perfil de baixo custo, sem frescura, com preço justo e focaram o essencial: os equipamentos para o preparo da bebida e os grãos servidos na casa, que vêm das microtorrefações Pereira Villela e Wolff Café.

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Na xícara
Espressos, lattes, cappuccinos, extraídos de uma máquina La Marzocco, e métodos (Aeropress, Hario V60 e prensa francesa) são preparados à base de cafés das variedades catuaí vermelho, da Fazenda Portal da Serra, de Ibiraci (MG), e bourbon amarelo, da Fazenda Santa Inês, de Carmo de Minas (MG). Já o microlote mundo novo, da fazenda Sant’Ana, de Olímpio Noronha (MG), é servido apenas nos coados. Os clientes, que acabam virando amigos e aprendendo um pouco mais sobre café, acompanham as bebidas com tortas, sanduíches, empanadas e cookies, que fazem bastante sucesso por lá. As indicações da casa também são ótimas pedidas. Os baristas sugerem o espresso ou cappuccino, por exemplo, com o bolo de fubá e erva-doce e o café coado, para fazer par com o pão de queijo Canastra.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Augusta, 1524 loja 6
Bairro Bela Vista
Cidade São Paulo
Estado SP
País Brasil
Website http://www.facebook.com/soulcafesp
Telefone (11) 3262-3171
Horário de Atendimento De segunda a sexta, das 9h às 19h; sábados, das 11h às 17h. Domingo fecha.
TEXTO Hanny Guimarães • FOTO Divulgação

Receitas

Tiramisù

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Ingredientes
• 200 ml de café espresso
• 50 ml de licor Amaretto
• 3 gemas
• 150 g de açúcar
• 500 g de mascarpone
• 450 g de biscoito champanhe Cacau em pó para polvilhar

Preparo
Faça o café de sua preferência. Acrescente o licor Amaretto ao café e reserve. Em um recipiente, bata as gemas com o açúcar e reserve. Em outra tigela, bata o mascarpone gelado até obter consistência de chantili e, a seguir, acrescente delicadamente o creme à mistura de gema e açúcar.

Montagem
Em uma travessa, intercale uma camada de creme mascarpone, uma de biscoito champanhe embebido em café e finalize com mais uma camada de creme mascarpone. Leve ao congelador por 3 horas. Para servir, polvilhe cacau em pó.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

FOTO Daniel Ozana/ Studio Oz • RECEITA Rodolfo de Santis, restaurante Nino Cucina

Barista

Fazedora de Café

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Regina Machado, barista e mestre de torra do Sofá Café, inspira jovens profissionais com conhecimento e paixão pelo grão

Ela é barista, mestre de torra da cafeteria Sofá Café e coordenadora do projeto que capacita jovens de baixa renda e os insere no mercado de trabalho, o Fazedores de Café. Regina Machado, que em 2016 completa dez anos dedicados ao grão, não deixou que a paixão pela profissão se perdesse com o tempo. Pelo contrário, sua energia com o café contagia alunos, colegas de trabalho e clientes que têm a sorte de ser servidos por ela no Sofá. Regina gosta do que faz e isso se reflete na xícara. Aproveitamos uma pausa entre uma de suas aulas para conversar sobre carreira, desafios e o futuro da profissão.

Por que o café? Eu sempre gostei de café. Quando eu era pequena, minha mãe guardava uma sobra da bebida para minha irmã e eu fazermos uma mistura de café com leite e pão. Essa é minha lembrança de infância. Eu me formei em Biomedicina e trabalhei na área até 2005, quando saí da empresa em que estava devido à política de redução de custos. Fiquei um tempo desempregada e comecei a catar reciclado e fazer faxina para manter as despesas. Um dia, conversando com minha terapeuta, eu falei sobre quanto gostava de café e ela me disse: “Vai trabalhar com isso, então”. Dois dias depois, estava sentada na Academia de Barismo, como se chamava a escola da Isabela Raposeiras naquela época (hoje Coffee Lab), fazendo curso com ela.

Foi aí que tudo teve início? A questão profissionalização começou com a Isabela. Com ela aprendi muito. Eu não tinha experiência e ela confiou em mim e me ensinou a dar aulas, a torrar café, a operar a cafeteria. Ela é muito forte na minha vida. Na verdade eu comecei na Livraria Sobrado, em Moema, depois fui para o Havanna Café, por indicação da dona Rita, da Fazenda Pessegueiro, e foi lá que comecei a, realmente, trabalhar como barista. Depois de um ano e seis meses lá, cheguei a supervisora de loja, mas eu queria mais café. Estava sedenta por informação e sentia que precisava me aprofundar. Foi quando eu fui pedir emprego para a Isabela. Ela me aceitou e foi aí que alavanquei meu conhecimento. Fiquei no Coffee Lab um pouco mais de cinco anos, até 2013.

Como tem sido a experiência com o projeto Fazedores de Café? Eu vim para o Sofá Café para tocar esse projeto do Diego (Gonzales, sócio-proprietário da cafeteria). Ele tinha essa ideia em mente desde 2013 e precisava de alguém com experiência mais voltada para a área educacional e foi aí que eu comecei a trabalhar no Fazedores de Café, que ensina a profissão de barista a jovens de baixa renda, para que eles possam ter uma oportunidade no mercado de trabalho. Até o momento, criamos três turmas e formamos dez fazedores. Nove deles estão trabalhando na área. Eu tenho uma sede de tornar o meu dia mais significativo e isso, para mim, é formar um fazedor, é capacitar um barista. Ou comprar café e fazer perfil (de torra). Eu também estou bastante ligada à torrefação. Tudo isso me deixa muito feliz.

O que faz um bom barista? A primeira coisa é vontade de estudar. O café é muito exigente. Você precisa se dedicar ao café, ter vontade de estudar e ter disciplina.

Nesses dez anos trabalhando com café, o que você acha que mudou no mercado? O mercado tem evoluído muito, tanto em relação à bebida quanto a informações. Hoje temos profissionais que se dedicam mais e o fato de algumas cafeterias terem trazido a torra para dentro desse ambiente possibilitou uma evolução de conhecimento para a cadeia. A alavancada do café especial está fazendo com que a indústria melhore o seu grão; os consumidores estão buscando entender mais sobre a bebida. A mudança é grande, e para melhor.

Como gostaria de ver a profissão de barista daqui a alguns anos? Qual a evolução que poderemos ver nesse sentido? Na mente do barista tem que haver o pensamento: “Eu não estou sozinho”. Isso aqui é uma cadeia, então ele tem que deixar o ego de lado, estudar e ter contato com pessoas no lugar onde tudo começa que, para nós, é na lavoura. Se nós trabalharmos nesse contexto, daremos um grande impulso à profissão e o café especial se beneficiará disso. Essa é a energia que tem que fluir. É um trabalho com o produtor e todos os elos da cadeia. É um desafio em equipe.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

TEXTO Hanny Guimarães • FOTO Guilherme Gomes

Cafezal

Conectados na Origem

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O Brasil recebe o Barista & Farmer 2016, o único reality show de café no mundo, que integra baristas e produtores em dias de vivência constante na fazenda e de muito aprendizado

Em 2015, em Seattle, durante a feira norte-americana de cafés especiais, a SCAA, encontrei o barista Francesco Sanapo, que falou bem alto, com seu estilo italiano: “Brasil! Preciso falar com você!”. Naquele momento, ele havia resolvido que realizaria o Barista & Farmer no maior país produtor de café do mundo. Em parceria com a O’Coffee, por meio do CEO Edgard Bressani, o evento tomou forma e reuniu no último mês de maio um reality show que leva baristas internacionais de diferentes países para conhecer uma região produtora de café e realizar diversos aprendizados na área técnica de prova, torra e preparo.

A ideia surgiu quando Francesco visitou pela primeira vez a fazenda San Pedro, em Porto Rico, da produtora Rebecca Atienza. “Lembro exatamente o momento em que eu vi pela primeira vez um fruto de café no pé. Foi uma enorme emoção e, naquele instante, pensei como seria importante outros baristas pelo mundo vivenciarem a mesma experiência.”

A primeira edição do programa aconteceu em 2013, na própria fazenda, com doze baristas da Itália, terra de origem de Francesco, proprietário da Ditta Artigianale. Depois, em 2015, em Honduras, a ideia tomou fôlego de projeto, com maior estrutura e com a decisão de que o evento seria anual e realizado mundialmente, em diferentes lugares.

Brasil, 2016
Neste ano a fazenda parceira foi a Nossa Senhora Aparecida, do grupo O’Coffee, em Pedregulho, na Alta Mogiana (SP). Durante onze dias, baristas de dez origens estiveram em uma produção de café, muitos deles pela primeira vez. O objetivo principal do Barista & Farmer é propagar conhecimento para os profissionais, que o levarão para seus países de origem juntamente com a experiência que vivenciaram no evento. Neste ano, participaram por seleção e votação popular, depois de 200 inscritos por vídeo, os baristas Agnieszka Rojewska (Polônia), Nikolaos Kanakaris (Grécia), Daniel Rivera (Porto Rico), Raphael Ferraz de Souza (Brasil), Miguel Vera (Venezuela), Olga Kaplina (Rússia), Amy-Nare Manukyan (Armênia), Evani Jesslyn (Indonésia), Guido Garavello (Itália) e Rosey Hill (Austrália).

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Todos os participantes e a equipe de apoio encerram o dia na fazenda da O’Coffee.

A dinâmica do evento é um misto de provas de colheita, plantação, brincadeiras, testes técnicos em laboratório, além de pontuações extras por atitudes positivas durante a convivência em grupo. A Espresso acompanhou alguns dias de provas na fazenda, todas avaliadas pelos juízes Andrej Godina (professor certificado da SCAE), Sonja Bjork Grant (juíza principal do Campeonato Mundial de Barista), e Tabatha Creazo (Gerente de Qualidade e Treinamento do Octavio Café).

De acordo com Sonja, “o Barista & Farmer ajuda muito os baristas, pois, ao chegarem em casa, eles estarão de volta ao trabalho e contarão aos clientes o que eles aprenderam ou viram pela primeira vez, como uma plantação de café, a colheita. Esse é o exemplo perfeito de como espalhar a cultura do café de qualidade”.

Equipes Papaya Power e Free Mandela
O projeto tem como um dos objetivos criar uma atmosfera saudável de competição entre os baristas. Para isso, eles são divididos em duas equipes, que pontuam de acordo com as provas. Nesta edição, as turmas escolheram os nomes de Papaya Power e Free Mandela. Diariamente, eles tinham que acordar às 5 da manhã para colher café e, só depois, no período da tarde, tinham aula técnica e teórica sobre a bebida.

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Miguel Vera, da Venezuela,recolhe o café para pesagem.

A estrutura da O’Coffee permitiu que eles pudessem testar o benefício do café natural, cereja descascado e até lavado. Segundo o participante brasileiro Raphael, “é uma oportunidade de eles conhecerem toda a produção do café brasileiro. Eles não conheciam muito o processo natural e isso eles viram aqui como funciona”.

Além de conhecerem a produção, os baristas inteiraram-se das atitudes sustentáveis da propriedade, como as certificações e o respeito e valorização do trabalhador da fazenda. Segundo Edgard Bressani, da O’Coffee, “temos muitos projetos para os nossos colaboradores. Eu trabalho para manter todos comigo, para tornar a vida deles melhor, porque eles ajudam no crescimento da empresa e, portanto, nós buscamos pagar-lhes mais do que os outros produtores da região. Estamos crescendo muito e vamos continuar a fazê-lo porque temos sempre uma demanda maior para o nosso produto, mas vamos passo a passo, tentando fazer a diferença”.

Para Francesco, o objetivo de realizar o encontro no Brasil foi também para mostrar que, “além de a O’Coffee ser uma grande indústria de café, ela é bem organizada, com muita tecnologia e conhecimento, principalmente no setor dos cafés especiais”.

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À esquerda, os três juízes Andrej, Sonja e Tabatha incentivam os participantes na corrida com as sacas. À direita, o italiano Francesco Sanapo, idealizador do projeto.

Outras paradas
Além de estarem na O’Coffee, os participantes foram à cidade de Lambari (MG) para conhecer o projeto de pequenos produtores realizado pela Lavazza e Giuseppe e Pericle Lavazza Onlus Foundation, intitulado ¡Tierra!, que, desde 2002, em conjunto com a Rainforest Alliance, investe na melhoria das condições sociais e ambientais para a produção de café dessa comunidade. Eles, então, novamente colheram café e participaram de cuppings e de outras provas.

Depois de Lambari, foi a vez de visitar Santos, onde os participantes puderam conhecer o porto de saída dos cafés e também a área histórica, como o atual Museu de Santos e os arredores da antiga Bolsa do Café. Pedro Mendes, guia-educador do museu, explicou para os baristas a importância do café para a nossa história: “O café permitiu o desenvolvimento do País em todos os níveis. Há, portanto, uma ligação profunda entre a Europa e o Brasil e nós simplesmente não podemos falar sobre a nossa história sem falar de café. Para nós, ele é insubstituível”.

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Paisagem de Lambari, no Sul de Minas

Em São Paulo, já perto do fim da competição, os baristas tiveram uma prova no Mercado Municipal, onde, com R$ 50, cada grupo recebeu a missão de comprar ingredientes para elaborar um drinque com café. Além de ser um desafio encontrar os sabores dentro dos milhares de opções do Mercadão, havia a barreira do idioma, que proporcionou momentos engraçados. O melhor drinque será incluído no cardápio da cafeteria Octavio Café.

O grande campeão
No último dia, anunciou-se o grande vitorioso da competição. O projeto é filmado o tempo todo, fotografado, e registra as reações dos baristas. Os juízes avaliam o conjunto da obra e pontuam os profissionais ao longo dos onze dias. Ao final, todos, na verdade, viram uma grande família e ao que menos se dá valor é ao fato de ser o vencedor propriamente. O anúncio foi cheio de suspense e muita emoção, com todos dando o depoimento sobre como tinha sido importante participar do projeto, que, segundo Rebecca, uma das criadoras, “é uma oportunidade única na vida de aprender e vivenciar tantos bons momentos”.

Três baristas foram finalistas: a russa Olga Kaplina, o brasileiro Raphael de Souza e o grego Nikolaos Kanakaris. O grande campeão, anunciado durante a premiação, no Octavio Café, foi o grego Niko: “Eu descobri o café por acaso —, quando eu estudava e houve uma greve de seis meses e então me vi trabalhando atrás do balcão. E eu nunca mais parei desde então. Não há palavras para descrever essa experiência, mas devo confessar que vencer não é realmente tão importante assim. O importante são as relações que construímos com as pessoas que conhecemos graças a este projeto, e que estarão sempre no meu coração”.

O projeto, realizado em colaboração com a Rimini Fiera — SIGEP (Salone Internazionale Gelateria Pasticceria e Panificazione Artigianale), será transformado em vídeo, que vai ser apresentado durante o Campeonato Mundial de Barista, em Dublin, na Irlanda, de 22 a 25 de junho, e também circulará pelo mundo em festivais de café. Vida longa à conexão entre produtores e baristas.

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O grego Nikolaos Kanakaris é anunciado o grande campeão da edição brasileira do Barista & Farmer durante evento na cafeteria Octavio Café.

Ficha técnica

FAZENDA O’Coffee: fazendas Nossa Senhora Aparecida, São José, Santa Adélia, Santa Rita, Santa Maria e Fazendinha
LOCALIZAÇÃO Pedregulho e região REGIÃO Alta Mogiana (SP)
ALTITUDE MÉDIA até 1.100 metros
PRODUÇÃO ANUAL 35 mil sacas (média atual)
ÁREA TOTAL 3,5 mil hectares
ÁREA PLANTADA 1000 hectares
NÚMERO DE CAFEEIROS 4 milhões de pés
COLHEITA manual e mecanizada
PERÍODO DE COLHEITA de maio a agosto
PROCESSAMENTO via seca e úmida (naturais, descascados, desmucilados, despolpados)
SECAGEM terreiros suspensos, estufas e secadores mecânicos
VARIEDADES bourbon amarelo, icatu amarelo, mundo novo, catucaí vermelho, catuaí amarelo, obatã e acaiá
CERTIFICAÇÕES Rainforest Alliance, Utz Certified e AMSC
PROJETOS mais de dez projetos sociais na fazenda e comunidade e Projeto Buriti de Reflorestamento: 800 mil árvores de espécies nativas

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Dino Buffagni

Mercado

Rede de hotéis foca no café especial como diferencial de atendimento e qualidade

 

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Recentemente a rede de hotéis Marriott ampliou sua atuação e abriu uma nova unidade em Kigali, capital de Ruanda, na África. Com o objetivo de integrar a comunidade local, o hotel realizou uma parceria com a Bloomberg Philanthropies, que apoia o projeto Relationship Coffee Institute, por meio da Sustainable Harvest, para oferecer aos clientes do hotel o café produzido por mulheres em cooperativas locais, com marca própria, o Q Café.

A iniciativa poderia ser comum se o projeto Relationship Coffee Institute não tivesse realizado, desde 2013, uma verdadeira mudança na vida de mais de 4.000 mulheres na região da África Subsaariana. Com o objetivo de ministrar treinamentos focados na produção e conhecimento do café de qualidade, o programa graduou produtoras de café, antes marginalizadas nas suas regiões, para aprenderem a importância de colher corretamente o café e, como resultado, passarem a vender o produto com maior valor agregado e passarem a ser autossuficientes economicamente.

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De acordo com a agrônoma Christine Condo, da Sustainable Harvest Ruanda, a importância do trabalho com essas mulheres mostrou que elas não sabiam a correlação de colher o fruto maduro com a qualidade, da qualidade com o maior valor por saca. “Depois de dois anos é incrível ver como essas mulheres estão focadas nos seus negócios, o programa mostra hoje que elas entendem a linguagem dos compradores, podem dizer e explicar o perfil dos cafés que produzem, sabem negociar, exportar e fazer esse comércio direto”.

A oportunidade de servirem os cafés no recém-inaugurado Marriott Hotel também deu a chance de algumas delas trabalharem no próprio hotel no serviço de café. Para Patricia E. Harris, CEO da Bloomberg Philanthropies, “A abertura deste Marriott Hotel está oferecendo uma oportunidade de mercado muito aguardada pelas mulheres de Ruanda. O café delas no hotel será um perfeito exemplo para a comunidade global de como podem trabalhar juntos: negócio, filantropia e governo para melhorar a vida das pessoas”. De acordo com dados da Bloomberg, a receita de venda do café no projeto em Ruanda movimentou US$ 100 mil, em 2015.

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Café nacional e orgânico
No Brasil ainda há poucas iniciativas de hotéis em servir bons cafés, um foco a ser trabalhado e que tem grande potencial. Um exemplo de sucesso ocorre no Grand Hyatt São Paulo, o primeiro hotel da rede Hyatt no Brasil. A escolha de fornecedores e ingredientes de origem sustentável, inclusive orgânicos e artesanais, faz parte da filosofia de alimentos e bebidas do Grupo. “Além de fortalecer a cadeia de produção, essa abordagem nos permite oferecer produtos cada vez melhores aos nossos clientes. Podemos criar experiências memoráveis, ao mesmo tempo em que ajudamos a preservar o meio ambiente para as futuras gerações”, destaca o chef Thierry Buffeteau.

O hotel opera com os cafés orgânicos da Fazenda Ambiental Fortaleza, de Mococa (SP) no Restaurante Eau. A FAF é reconhecida pela parceria que realiza com pequenos produtores da região da Mogiana, além de ter fazenda própria, torrefação, cafeteria e exportação de café.

 

TEXTO Mariana Proença • FOTO Divulgação/Bloomberg

Mercado

Capital do Café

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Brasília é destino para os amantes da bebida, com casas que valorizam o grão e se destacam no cenário nacional

Admito que poucas vezes me dou conta de como sou privilegiada. Que me desculpem os mineiros, paulistas, cariocas, gaúchos, nordestinos, todos os brasileiros, mas Brasília tem seu charme: aquele ar de cidade pequena, onde você encontra amigos da época da escola, junto à diversidade de regionalismos da capital; o sol intenso e o ipê que colore a paisagem; o céu de Brasília, que você vê entre os prédios comerciais e residenciais. Não há lugar igual. E, para mim, a melhor forma de vivenciar o que há de mais gostoso é em uma das casas de cafés especiais, usualmente próximas às áreas verdes, o que torna a experiência única.

Não consigo abrir mão desse momento do dia. Essa vida das cafeterias, onde você escuta a máquina de espresso a todo o vapor! Um cappuccino, dois espressos, leva para a mesa, espera a reação do cliente, sem perder tempo, porque o café chama. Adoro isso. O vai e vem de pessoas e as flores de hibisco pela calçada; aquele cheirinho do grão recém-moído e o som dos pássaros cantando; tem sempre uma conversa inesperada com o companheiro de bancada.

Boa música e ótimos cafés
Aqui é difícil indicar um único lugar ou não perder horas falando de todos, como o Belini Café – The Coffee Experience, que fica na Asa Sul. Logo na vitrine, você vê o café sendo torrado em um espaço que é um mergulho no universo desse grão, com referências que vão da planta à xícara em toda parte. Sem falar nas delícias da confeitaria francesa preparadas na casa.

Já o Clandestino Café e Música, localizado na Asa Norte, é periodicamente animado pelos eventos com artistas da cidade. Um cantinho calmo próximo ao Olhos D’água, um dos parques ecológicos da capital. Para curtir uma boa música por lá, recomendo o Espresso Clandestino, com raspas de laranja e cardamomo. Que combinação!

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À esquerda, a cafeteria Ernesto 
e sua área externa, perfeita 
para relaxar, e à direita, o espaço 
do Clandestino, que reúne
 café e música.

Falando unicamente da bebida, temos o Café Cristina. Com uma das paredes de taipa e decoração rústica, é como ter aqui um pedacinho de Minas Gerais, onde são produzidos os grãos da marca. E o café vem acompanhado de um bom papo com os baristas.
Para os amantes de quitutes caseiros, eu logo penso no Ernesto Cafés Especiais. Um espaço que chama para ficar, com varanda, sofá e o cheirinho do pão de fermentação natural. Eles têm o cuidado de acompanhar todo o processo, desde a escolha dos ingredientes até a mesa. E o mesmo carinho está presente nos grãos servidos na casa.

Aprendizado
Outro conhecido dos brasilienses é o Grenat Cafés Especiais. Para os curiosos que ficam se perguntando o que acontece atrás do balcão, o espaço incentiva o visitante a ir à bancada, onde a máquina de espresso é virada para as mesas. A proposta é interagir com o cliente e lhe apresentar os grãos próprios. Para completar a experiência, aproveite o bolo do dia, sempre saboroso.

O clima descontraído do Objeto Encontrado valoriza a diversidade da música, da decoração e da personalidade. Um espaço que combina café e arte, onde a equipe dança, canta, brinca e se dedica a servir bons cafés e boa comida, além de contar com uma das mais completas cartas de uísque da capital.

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À esquerda, produtos especializados e bons cafés à venda na Grenat Cafés Especiais e à direita, o ambiente aconchegante da Belini Café

Não posso esquecer do Los Baristas. A ideia surgiu em uma viagem à Patagônia, mas foi em meio às árvores retorcidas de Brasília que as cadeiras coloridas dessa cafeteria ganharam seu espaço. O balcão, para quem busca novas amizades, também permite aos clientes se relacionar com a equipe. Não deixe de provar o bolo de milho, que dá ao local um perfume singular.

Como podem ver, não sou aquele tipo de cliente fiel nem pretendo ser. Acredito que, para a maioria dos brasilienses, não importa qual a asa, a quadra, o bloco, se sobe ou desce a tesourinha, ou melhor, as vias de acesso. O que queremos é apreciar ótimos cafés, curtir a companhia, a paisagem, aproveitar o que os baristas têm para ensinar e ainda levar um pouco de cada lugar para casa. Se você busca multiplicidade, originalidade e aquele grão especial, pode conferir todas as cafeterias e vivenciar o melhor de cada uma.

VISITE
Belini Café – The Coffee Experience
SCLS 114, bloco B, lj. 7 – Asa Sul
Café Cristina
CLN 202, bloco A, lj. 45 – Asa Norte
Clandestino Café e Música
CLN 413, bloco D, s/n – Asa Norte
Ernesto Cafés Especiais
CLS 115, bloco C, lj. 14 – Asa Sul
Grenat Cafés Especiais
CLN 315, bloco B, lj. 10 – Asa Norte
Los Baristas
SCLN 404, bloco C, lj. 38 – Asa Norte
Objeto Encontrado
CLN 102, bloco B, s/n, lj. 56 – Asa Norte

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

TEXTO Por Giovanna P. Vicentini, brasiliense, vinda de uma família de cafeicultores, e apaixonada por café • FOTO Ernesto Café: Anturia Viotto / Clandestino: Edgard Cesar / Outras: Divulgação

Mercado

Armazém Café promove palestra e programa novo espaço em Londrina

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O Armazém Café está há 12 anos no mesmo endereço, em Londrina (PR). Referência na região quando o tema é café de qualidade, o local realiza parte da sua despedida nesta quinta-feira, 6/10, no bate-papo com o tema Denominação de Origem, com a convidada Georgia Franco de Souza, proprietária do Lucca Cafés Especiais, em Curitiba.

O Armazém Café passará a atender na Rua Belo Horizonte, 701 (cerca de quatro quadras do atual local). O imóvel está sendo revitalizado e a inauguração está prevista para a primeira quinzena de novembro. O novo local tem importância histórica pois era residência de antigo provador e beneficiador de café da região.

Segundo Cristina Maulaz, degustadora de cafés especiais e proprietária d’O Armazém Café, a palestra é gratuita e dirigida aos produtores, baristas, apreciadores de café e também à comunidade em geral.

Informações: (43) 3324-8889 ou contato@oarmazemcafe.com.br
Local: Av. Higienópolis, 602 – 12 – Centro – Londrina (PR)

TEXTO Da redação • FOTO Divulgação/Armazém Café

Café & Preparos

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Estrutura o preparo de café filtrado com o uso de papel. De acordo com os irmãos da empresa norte-americana Saint Anthony Industries, este equipamento é uma junção de fundamentos de geometria, física e química. Projetado para a extração de 24 gramas de café, ele tem 70 graus de inclinação, e altura de 7 cm, o que aumenta o contato da água com o café.

MAIS INFORMAÇÕES www.saintanthonyindustries.com

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

ILUSTRAÇÃO Gustavo Lorenzini

Barista

Cafeteira brasileira que prepara espresso em qualquer lugar é sucesso entre apreciadores

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Da união de um designer e um barista surgiu a ideia de desenvolver uma cafeteira portátil, de fácil uso, que não necessitasse de eletricidade. Maycon Aram, fundador da Aram Soulcraft, produz peças de design em madeira. Tudo começou quando descobriu que seu maior prazer era fazer peças únicas, artesanais e com todo o cuidado necessário. Das suas mãos saem armações de óculos em madeira, com cores e estilos diversos. Ao conhecer Juca Esmanhoto, do Rause Café + Vinho, de Curitiba (PR), os dois passaram a trabalhar no projeto da cafeteira.

A extração de um espresso é uma das técnicas mais complexas e cheias de variáveis que existe na área do café. Por isso, desenvolver um equipamento que atendesse todas as exigências dessa bebida não foi tarefa fácil. Após mais de um ano de trabalho, muitas indas e vindas, testes, opiniões e refações, Maycon e Juca chegaram ao protótipo que foi apresentado na Semana Internacional do Café, no fim de setembro, em Belo Horizonte (MG).

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Batizado de Cafeteira Aram, o equipamento surpreendeu a todos durante os testes realizados no evento.

De acordo com Maycon o projeto retrata o artesanal e o bem feito: “A gente acredita que os objetos carregam muitas histórias, assim como cada um de nós. Nossas criações têm essa essência de resgatar a relação entre quem faz e quem usa. A cafeteira é a tradução de todo esse conceito aliada a uma paixão do brasileiro”.
Segundo Juca, a Cafeteira Aram “tem a grande vantagem de extrair várias formas de café só trabalhando com moagens diferentes. Fizemos alguns testes e atingimos 14 bar de pressão”.
Com uma base de aço ou uma versão portátil as opções podem servir para casa ou para levar para qualquer lugar. Feita de madeira e aço, a cafeteira trabalha com café moído, sem filtro, sem eletricidade e sem cápsula. Com a força da rotação da manivela é que se alcança a pressão necessária para a extração de um espresso, com crema bem densa e de forma muito rápida.

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Para tornar esse sonho realidade, Maycon e Juca abriram uma arrecadação na internet. A vaquinha virtual começou essa semana e já tem muitos apoios. A meta é R$ 35 mil até o dia 17 de novembro. Dentre as recompensas mais apoiadas até agora está exatamente a que presenteia com a própria cafeteira, pelo valor de R$ 879. O equipamento acompanha um tamper estilizado, também feito de madeira, e um café do Sítio Santa Rita.

Se a dupla ultrapassar a meta e chegar a R$100.000,00 de arrecadação, 2% do valor será revertido para o projeto social Fazedores Café, que forma jovens de baixa renda na cidade de São Paulo e região na profissão de barista.

Para mais detalhes sobre a Cafeteira Aram e para participar da arrecadação, acesse.

TEXTO Mariana Proença • FOTO Divulgação/Aram

O pão nosso

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Discordo da expressão padarias “de luxo” para se referir às novas padarias que, tal como as sorveterias recentes, invadiram São Paulo oferecendo um produto artesanal e diferenciado. Para começar, pão não é artigo de luxo, mas produto básico em todas as culturas humanas – varia apenas o tipo de grão de que é feito (vide as tortillas mexicanas, feitas de milho). E, aqui, o termo luxo é equivocadamente ancorado aos fermentos naturais, de que esses “modernos” pães são feitos, e aos ingredientes adicionados à massa (nozes, amêndoas, cerveja). Aliás, “luxo” e “gourmet” são adjetivos que, de tão desgastados, deveriam ser banidos do vocabulário da comida.

Tudo isso para introduzir o trabalho de uma das padeiras das boas em São Paulo, a ex-professora Julice Vaz. Dona da Julice Boulangère, aberta em 2011 no agitado bairro Vila Madalena, em São Paulo, Julice faz parte da nova geração de padeiros que optou por se contrapor às grandes padarias – que, hoje, até almoço servem, distanciando-se de sua atividade original –, oferecendo pães de qualidade (esse sim, um termo adequado), feitos com os referidos fermentos, que por isso levam mais tempo para ficar prontos e são muito mais saborosos. “Queria um lugar com um fluxo grande de pessoas, mas que elas entendessem o meu conceito de pão”, explica Julice.

O conceito? “É o alimento mais sagrado e simbólico que existe, porque é um alimento que se compartilha”, lembra ela. “Se tivermos farinha, água e sal – nem fermento precisa –, nós o fazemos. Se não tivermos forno, assamos o pão na brasa. Ele está presente em qualquer ocasião”, completa.

Atualmente, Julice fabrica cerca de 180 variedades do alimento mais antigo do mundo. “Nosso pão é incomparável com o industrial, tanto em termos de consistência do miolo, crocância da casca, aroma e sabor, quanto em relação ao bem que faz à saúde”, diz ela. Na sua padaria, o pão demora três dias para ficar pronto: em primeiro lugar, prepara-se o fermento, que matura entre doze e dezoito horas. No dia seguinte, é feito o pão, que será assado apenas no terceiro dia.

Chegar à qualidade desejada de um alimento tão simples, entretanto, levou tempo. Durante um período sabático, em 2007, Julice decidiu fazer um curso de panificação e confeitaria. Aproveitando uma reforma em casa, montou uma pequena cozinha industrial, leu livros estrangeiros e passou a fazer pães, que oferecia aos vizinhos. Meses depois, desenvolveu uma enxuta linha de produtos e forneceu para mercados em São Paulo, como o Empório Chiapetta, e no Rio. Com poucos lucros, pois concorria com grandes marcas (industriais) nas prateleiras, montou loja própria em 2011. “A padaria tradicional brasileira não vive de vender pão, ela vive de conveniência”, ressalta Julice. “Pão é apenas um figurante, e eu queria uma loja que vendesse só pão”, justifica.

Além do curso no Brasil, Julice teve aulas nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, e trabalhou em padarias estrangeiras. Também fez diversos cursos de empreendedorismo e gestão, no Brasil e no exterior. “Há muito mercado para padarias artesanais”, acredita. “Não falo mal do produto industrial nem da padaria tradicional, pois elas alimentam muita gente e, no fim das contas, é essa a nossa função”, diz ela. Mas, além de o pão artesanal ser um produto mais caro, Julice vê na situação atual do Brasil um impedimento para esse tipo de negócio. “O investimento é alto, o retorno, demorado, e a mão de obra tem que ser treinada. Abrir um espaço como esse não depende só de dinheiro, mas de conhecimento técnico e dedicação”, sintetiza. Para garantir a qualidade do produto, Julice acompanha, diariamente, a produção de baguettes, croissants e pães variados, como o de linhaça com castanhas, o de bacon ou a foccacia de gorgonzola, que prepara em fins de semana. “Variamos semanalmente os produtos. Nos fins de semana, privilegiamos pães como a foccacia, pois as pessoas costumam sair da dieta”, explica a padeira. No final de 2015, Julice abriu sua primeira filial, no shopping Villa-Lobos. Ali, além dos pães, prepara refeições.

Cristiana Couto é jornalista especializada em gastronomia e autora de Alimentação no Brasil Imperial, Educ, São Paulo, 2015.
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(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

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