Café & PreparosMercado

Café solúvel volta a ser protagonista com alta do consumo de bebidas geladas

O consumo de café gelado cresceu 45% em um ano, fruto da divulgação em redes sociais pelo público jovem, segundo Rodrigo Maingué, diretor-executivo de Nestlé Professional 

Pesquisa divulgada pela Nestlé (Project Cup – Brazil Report – Nielsen – abril 2024) revela que cafés coados e tomados de manhã continuam a ser os preferidos dos brasileiros. Os dados, que cobrem o território nacional, foram apresentados na última quinta (9), em encontro com jornalistas.  

Valéria Pardal, diretora-executiva de Cafés Nestlé, e Rodrigo Maingué, diretor-executivo da Nestlé Professional, conduziram o evento e discutiram os números. 52% das xícaras de café ainda são tomadas pela manhã, enquanto que 93% são quentes. O coado é o principal método de preparo para 67% das xícaras servidas.

Fundamental no âmbito doméstico, o consumo de café fora do lar cresceu. “Nos últimos cinco anos, a Nescafé deixou de ser uma marca de café solúvel e se tornou uma plataforma de soluções de café para dentro e fora do lar”, disse Valéria. Por isso, a Nescafé vem apostando em diferentes produtos, como o Nescafé Gold, linha de solúveis para consumo doméstico, e o Roastelier, máquina de torrefação compacta especialmente criada para cafeterias, na qual o próprio barista torra os grãos. 

Outra tendência importante é a relevância do café gelado, estilo de bebida consumido pelos jovens e impulsionado pela disseminação, por este público, nas redes sociais. A criação de receitas com diferentes ingredientes é o que mais aparece no mundo digital. “O consumo de café gelado em 2023 cresceu 45%, se comparado a 2022”, destaca Maingué. De acordo com a Nestlé, o solúvel é uma das principais escolhas para compor essas criações, pela sua praticidade. “O café solúvel volta a ter um protagonismo com o preparo de bebidas geladas”, comenta o diretor-executivo. 

O encontro também debateu as experiências da Nescafé com a sustentabilidade. Seu programa “Cultivado com Respeito” apoia cerca de 1,5 mil famílias cafeicultoras brasileiras, auditadas e certificadas pela empresa. “Quando temos fazendas certificadas, temos rastreabilidade”, ensina Taissara Martins, gerente de sustentabilidade para cafés da Nestlé. “Saber de onde vem nossa xícara é importante para nossa agenda de sustentabilidade”, completa.

Após o lançamento do arábica Serras do Alto Paranaíba na versão Colmeia, em 2022, a Nestlé lança, na linha Origens do Brasil, uma edição especial 100% robusta, com grãos cultivados em fazendas do norte do Espírito Santo. A novidade, que contém um pote de mel de flor de café, pode ser encontrada na Amazon (para todo o Brasil) e na rede Carone, no Espírito Santo.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Felipe Gombossy

Barista

Conheça os 20 competidores da 8ª Copa Barista

A Copa Barista chega em sua oitava edição! Os 20 primeiros inscritos nas disputadas vagas seguem abaixo. A competição acontece durante o São Paulo Coffee Festival, de 21 a 23 de junho, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo. Prepare a sua torcida:

  • Amanda Albuquerque (autônoma)
  • Bruno Couto (autônomo)
  • Daniel Alves (Oitenta Café)
  • Danilo Favero (Fazenda 7 Senhoras Specialty Coffee)
  • Debora Lais Nascimento (Coffee Story)
  • Elis Bambil (Punga Cafés Especiais)
  • Gabriel Ribeiro (Studio Grão)
  • Geosvaldo Oliveira (O Jardim Café e Brunch)
  • Giovanni Dezen (By Kim Confeitaria)
  • Henrique Wogel (Manana Cafés)
  • Hugo Silva (Sabino Torrefação) 
  • Isadora Gelk (Coffee Story)
  • Marcel Ribeiro (Lá do Café)
  • Marcos Vinicius Lugue (Raus Café)
  • Matheus Magalhães (Vilarez Empório do Café)
  • Monique Adriana Gomes (Wolff Café)
  • Renan Dantas (Oficina do Barista)
  • Stefanie Soejima (Café das Coisinhas)
  • Thiago Sabino (Sabino Torrefação)
  • Tiago de Mello (Pato Rei)

Em breve será divulgada, aqui no site da Espresso, a ordem das chaves. 

Serviço
8ª Copa Barista
Quando: 21 a 23 de junho
Onde: São Paulo Coffee Festival – Bienal do Ibirapuera, São Paulo (SP)
Informações: www.instagram.com/saopaulocoffeefestival

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Mercado

Programa de cacau em SP tem 340 mil ha potenciais para plantio

Theobroma cacao (1867). Crédito: Naturalis Biodiversity Center/Wiki Commons

A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de São Paulo lançou, em abril, o Programa Cacau SP, com o objetivo de implementar o plantio do fruto amazônico em São José do Rio Preto e Vale do Ribeira (norte paulista). 

Segundo diagnóstico científico da CATI, há 340 mil hectares de áreas potenciais para a cacauicultura em São Paulo, que também teve pesquisas de zoneamento climático feitas durante anos pela instituição. A ideia de implementar esse cultivo já havia sido discutida nos anos 1970, mas durou pouco tempo e só foi retomada recentemente. A produção de mudas de cacau começou em 2019 em Itaberá e Pederneiras e, atualmente, 18 cultivares do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) estão sendo utilizados como matrizes para produção de mudas.

O CocoaAction Brasil, iniciativa da Fundação Mundial do Cacau para promover a sustentabilidade na cadeia cacaueira, dá apoio ao projeto, que conta com Unidades de Adaptação Tecnológica (UATs), uma espécie de laboratório de campo, para implementação e testes nas lavouras. 

Um dos caminhos é plantar cacau em modelo de consórcio, com banana, seringueira e pupunha, por exemplo, e áreas de restauração florestal – há uma lei estadual que autoriza a recomposição de reservas legais com até 50% de cacau cultivado, o que permite ao produtor atender ao Código Florestal e obter renda extra.

Uma das expectativas é a de que, se 10% da área com potencial de se transformar em lavouras de cacau for implantada, haverá demanda de cerca de 30 milhões de mudas nos próximos anos – demanda esta que poderá ser suprida, já que o estado recebeu 7 milhões de reais do programa Propaga SP para ampliar a produção de mudas de mais de 300 espécies botânicas e, recentemente, passou a utilizar tecnologia de ponta no preparo dos substratos e de tubetes biodegradáveis, que favorecem o desenvolvimento das raízes do da planta de cacau.

O governo do Estado também autorizou a concessão de 3,5 milhões de reais para financiar a implementação de lavouras cacaueiras em 100 propriedades paulistas.

TEXTO Cristiana Couto

Café & Preparos

Starbucks faz sua estreia no Equador e em Honduras até o fim do ano

A Starbucks Coffee Company anunciou sua entrada nos mercados do Equador e de Honduras até o final deste ano. Isso faz parte da sua estratégia Triple Shot Reinvention with Two Pumps, que busca expandir para 55 mil locais do planeta até 2030. A Starbucks vai abrir as primeiras lojas em Quito, Equador, prevista para julho, e San Pedro Sula, Honduras, até o fim de 2024.

“A América Latina tem sido essencial para os negócios da Starbucks desde a nossa fundação, em 1971”, lembra o CEO da Starbucks International, Brady Brewer, referindo-se ao volume – mais da metade – dos grãos importados pela empresa. 

Atualmente, a Starbucks está em 26 mercados da América Latina e do Caribe, e em 88 no mundo, empregando mais de 22 mil funcionários. As lojas do Equador e Honduras serão lançadas em parceria com a Delonorte S.A. (Equador) e a Premium Restaurants of America (Honduras), que conhecem bem esses mercados.

Fonte: Global Coffee Report

TEXTO Redação

Café & Preparos

Barista da Indonésia vence o campeonato mundial da categoria

Mikael Jasin (no centro) recebe o troféu da WBC

Mikael Jasin, da Indonésia, venceu, no último sábado, o World Barista Championship (WBC), campeonato mundial de baristas que, este ano, aconteceu em Busan, na Coreia do Sul. É a primeira vez, desde o lançamento do campeonato (em 2000, na cidade italiana de Montecarlo), que um representante do país asiático sobe ao pódio.

Em 2019, Jasin (no centro da foto) havia ficado em 4o lugar na competição (o melhor posicionamento do país no campeonato) mas, em 2021, não alcançou as finais. Já o brasileiro Daniel Vaz foi eliminado na primeira rodada da competição – que aconteceu de 1 a 4 de maio, no primeiro World of Coffee na Ásia.

Além de Jasin, os outros baristas mais bem colocados foram: Jack Simpson, da Austrália (segundo lugar), Takayuki Ishitani, do Japão (terceiro lugar), Honoka Kawashima, da Nova Zelândia (quarto lugar), Junghwan Lim, da Coreia do Sul (quinto lugar), Ian Kissick, da Irlanda (sexto lugar) e Zjevaun Lemar Janga, da holanda (sétimo lugar).

Em meados de 2022, a Barista Magazine fez uma reportagem de capa com Jasin, e referiu-se ao barista como alguém que “tem a missão de melhorar os cafés do seu país natal”.  Isso porque, há alguns anos, o barista fundou uma empresa dedicada a trabalhar com pequenos agricultores indonésios para melhorar as suas técnicas de cultivo, colheita e processamento, segundo a publicação.

Jasin morou em Melbourne, na Austrália, cidade mundialmente reconhecida por sua cultura de cafés especiais – fenômeno relativamente distante da Indonésia, que cultiva e exporta cafés desde o início do século XVIII mas que, com exceção de algumas regiões, não é reconhecido pela qualidade dos grãos. A Indonésia é o quarto maior produtor do mundo, majoritariamente de canéforas (var. robusta). Em 2023/24, produziu 9,7 milhões de sacas (60 kg) em 1,2 milhões de hectares, ocupados por pequenos produtores. Sumatra detém de 60 a 70% do total de cafés cultivados, das duas espécies.

O consumo no país, porém, vem crescendo. Dados da Coffee Geography Magazine informam que ele  alcançou 4,79 milhões de sacas (2023/24), um aumento de 20 mil delas em relação à safra anterior. Um dos motivos é a aquisição do hábito de tomar café entre os jovens e a crescente classe média no país. Entre os fenômenos está a popularidade das kopitians, cafeterias tradicionalmente operadas por chineses não só no país, mas também na Malásia e no Sul da Tailândia. Esses locais, que servem cafés tradicional e principalmente feitos com robustas ao lado de várias comidas típicas, vem melhorando a qualidade da bebida.

Fontes: New Ground Magazine, Coffee Geography Magazine e Barista Magazine.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Cafeína Open, programa de inovação da 3corações, abre inscrições até dia 31

O Grupo 3corações anunciou três novos desafios do Cafeína Open, programa de inovação aberta que busca conectar a marca a startups, centros de pesquisas, empresas e universidades para solucionar desafios das áreas de negócio da campanha. As inscrições vão até 31 de maio.

Os três novos desafios do programa, que está em seu terceiro ciclo, têm como objetivo encontrar soluções para acelerar os processos de desenvolvimento e lançamento de novas bebidas UHT, aumentar o aproveitamento eficiente e sustentável do subproduto farelo de milho (gérmen de milho) e tratar os efluentes do processamento das cápsulas de cafés e multibebidas.

Nos dois primeiros ciclos do programa, cerca de 300 startups se inscreveram, e 85 foram selecionadas para apresentar suas soluções à empresa.

Informações e inscrições: www.cafeinahub.com.br

TEXTO Redação

Barista

Inscrições abertas para a 8ª Copa Barista!

Inscrições abertas para a 8ª edição da Copa Barista! Clique aqui para preencher o formulário de participação. Os 20 primeiros serão selecionados para a competição.

Caso você esteja entre os 20, a organização entrará em contato na segunda-feira (6 de maio) para que realize o pagamento de R$ 110 até a data limite. Para acessar o regulamento da edição, clique aqui.

A Copa Barista acontecerá durante o São Paulo Coffee Festival, de 21 a 23 de junho, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo (SP).

Barista

Inscrições para a 8ª Copa Barista abrem no dia 3 de maio

A Copa Barista está chegando! As inscrições para a 8ª edição abrem às 10h do dia 3 de maio e as vagas são limitadas aos primeiros 20 inscritos. O formulário será divulgado no site da Espresso e no nosso Instagram (@revistaespresso). O regulamento já está disponível aqui.

A competição acontece durante a programação do São Paulo Coffee Festival, evento que celebra a cena de cafés especiais na capital paulista de 21 2 a3 de junho, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo (SP). 

Como funciona a disputa

A prova conta com as etapas classificatórias, oitavas de final, quartas de final, semifinais, disputa de terceiro e quarto lugares e a final. Divididos em chaves, por meio de sorteio, os baristas têm 12 minutos para apresentar aos juízes sensoriais dois cappuccinos, dois espressos e dois cafés filtrados no coador Melitta, patrocinadora da Copa Barista.

Dois juízes sensoriais provam os três estilos de bebida, e dão notas individualizadas para cada uma delas. Uma nota única é dada pelo juiz técnico da estação do barista concorrente. Ao final da apresentação, os juízes sensoriais escolhem a melhor bebida de cada estilo.

Premiação

O barista vencedor leva para casa R$ 6 mil como prêmio e um cupom de R$ 500 em vale-compras no e-commerce Café Store. O segundo lugar ganha R$ 3 mil e um cupom de R$ 400. Para o terceiro colocado, são  R$ 1 mil e um cupom de R$ 300.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Barista

Daniel Vaz defende o Brasil no Campeonato Mundial de Barista: “O café me levou pro outro lado do mundo”

Foto: Agência Ophelia

“O café me levou para o outro lado do mundo”, escreveu o carioca Daniel Vaz em sua rede social, enquanto se prepara para defender o Brasil no Campeonato Mundial de Barista, entre 1º e 4 de maio. A competição, que acontece durante o evento World of Coffee, em Busan, na Coreia do Sul, é a mais aguardada do ano entre os profissionais da área. “Vamos buscar o título, deixá-lo em casa”, afirma o barista, proprietário da Five Roasters (RJ), referindo-se à vitória do brasileiro Boram Um na última edição do mundial.

Agora, Vaz tem nas mãos a mesma missão de Um, depois de ganhar o Campeonato Brasileiro de Barista, em novembro do ano passado. Em entrevista à Espresso, ele conta brevemente a nova experiência e os desafios que vem enfrentando para melhorar a cada dia. 

Espresso: Como tem sido sua trajetória profissional até agora? 

Daniel: Eu trabalho com café há cinco anos e há quatro anos tenho a Five Roasters, meu primeiro filho no café e uma paixão. Acho que esse foi o maior desafio, abrir uma torrefação e consolidá-la. 

E: Para você, o que significa ser o campeão brasileiro de barista?

D: É uma responsabilidade muito grande, e tenho refletido muito sobre campeonatos neste último ano. Acho que a gente não pode pensar em participar de um campeonato para ganhar o brasileiro. Temos que pensar o que vamos fazer no campeonato mundial.

E: Como se tornar campeão brasileiro impactou sua vida profissional?

D: Acho que ter um título de campeão brasileiro é mais uma chancela, um reconhecimento de um profissional que se destacou naquilo que  se propôs a fazer. 

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista, da esquerda para a direita: Marcondes Trindade (2º colocado), Daniel Vaz (campeão) e Juliana Morgado (3ª colocada) – Foto: NITRO

E: Como você está se preparando para o Mundial?

D: O maior desafio de se preparar para um campeonato mundial é saber que vai competir com os melhores do mundo. É um nível altíssimo. Desde o início,  minha primeira decisão foi usar um café brasileiro, mas a época do campeonato dificultou muito isso, porque a gente estava entre safras. Mas consegui achar um café que me deixou muito feliz para competir, que é um grão do produtor Vavá [Waldemar Ferreira de Paula Neto], da Fazenda Vista do Brigadeiro, nas Matas de Minas. É o café de maior altitude no Brasil [a fazenda situa-se em uma altitude média de 1530 m]. E a gente conseguiu fazer o processo juntos. Para mim, isso foi muito importante e um dos maiores desafios para a preparação para o campeonato. 

E: Quais são suas expectativas em relação ao Mundial?

D: São altíssimas. Muito treino, muita dedicação. E competir com um café brasileiro em que eu acredito, principalmente. E vamos buscar o título, deixá-lo em casa.

E: Quais são seus planos para o futuro? Pretende competir novamente?

D: Sim, com certeza pretendo continuar competindo. Estou só há um ano competindo, é tudo muito recente. Temos coisas a conquistar ainda! 

TEXTO Gabriela Kaneto

Mercado

“Queremos ser a principal marca global de cafeterias”, diz CEO da The Coffee

Carlos Fertonani, CEO e cofundador da The Coffee, pretende chegar em duas mil unidades em cinco anos 

À esquerda, Carlos Fertonani, seguido por seus irmãos Alexandre e Luis

Com 195 unidades no Brasil e 15 na Europa em cinco anos de existência, a rede de cafeterias The Coffee é o ouro negro de Carlos Fertonani, de 46 anos. Cofundador e CEO da empresa, de DNA nacional mas inspiração japonesa, o curitibano pretende, até 2028, chegar à marca de 2 mil lojas mundo afora. 

Com um novo aporte na empresa de US$ 10 milhões, firmado em outubro de 2023, e a aposta em um modelo de franquia, Fertonani quer entrar com tudo na Europa, na Ásia e nos Emirados Árabes. Ele e seus sócios e irmãos, Alexandre e Luis Fertonani, também querem incrementar a presença da The Coffee no Chile, no Peru e no México.

De sua cidade natal, Carlos Fertonani conversou com a Espresso sobre o modelo de negócio e os planos de expansão da empresa, design, tecnologia e sua percepção do mercado consumidor de cafés especiais. “Empreender é ter persistência”, define. A seguir, a entrevista.

Espresso: Como você começou no mercado de cafés e por que decidiu criar a The Coffee?

Carlos: Eu conhecia um pouco do mercado de café antes de abrir a The Coffee. Já tinha me envolvido em um projeto da cafeteira Aram, de Maycon Aran, o que me levou a participar das feiras sobre a bebida. Então, além de consumir e gostar da bebida, comecei a entender mais desse setor, o que significava realmente um café especial, o que era a terceira onda de café. Em 2017, eu e meus irmãos fizemos uma viagem ao Japão e, na época, o mercado de cafés de lá era muito mais evoluído do que o daqui, a bebida estava bombando, havia muitas cafeterias de cafés especiais. E lá tinha esse modelo de cafeterias bem pequenas, de portinha, em que o barista atende o cliente de frente pra rua, como um take away ou to go. Esse modelo não funcionava ainda no Brasil, mas aí pensamos em trazer o conceito, porque seria uma maneira de instruir as pessoas de que aquele café era pra levar, “to go”. 

E: Como foi o processo de sair de uma primeira loja para uma rede de cafeterias? 

C: Montamos a primeira loja em Curitiba, de portinha, pequenininha, mas com o conceito parecido com todas as outras que temos: diagramação visual, aplicativo, tablet. Dali a 8 ou 9 meses, abrimos a segunda, que já  foi uma franquia. A gente não queria montar só uma loja, idealizamos o negócio para ser uma marca, uma rede. Entendemos que tínhamos que dar todo o suporte, o know how ao franqueado, como prover produtos sistema, modelo e treinamento. Nos especializamos nisso. A terceira loja abriu em 2019, na Rua dos Pinheiros, em São Paulo. Neste meio tempo, recebemos uma oferta de um fundo venture capital [fundo de investimentos que foca em empresas iniciantes] e fechamos um acordo. A ideia dos investidores era que a gente fizesse mais lojas próprias do que franquias. Hoje temos 13 lojas próprias, mas mantemos o foco no modelo de franquia, que está cada vez mais enraizado na nossa cultura. 

E: Você acredita que o modelo de franquia é melhor do que o de lojas próprias?

C: Hoje estamos com 210 lojas, sendo 5% delas próprias. O modelo de franquias funciona muito bem pra nós, mas cada negócio é um negócio. Existem negócios em que o modelo de franquias talvez não funcione tão bem, como, por exemplo, o caso da Aesop [marca de cosméticos de luxo australiana recentemente adquirida pela L’Oréal]. Eles têm cerca de 200 lojas pelo mundo, todas próprias, mas é um modelo diferente, muito conceitual, sem o objetivo de escalada – eles só querem ter duas, cinco lojas nas principais capitais. Neste caso, o modelo de loja própria se encaixa. Mas quando falamos de milhares de lojas, não há como fazer isso com capital próprio, mesmo que se faça captação de investimento ou financiamento (e fazer dívida é muito perigoso). Mas o modelo de franquia descentraliza o negócio: cada um cuida do seu e nós cuidamos da marca. 

E: Vocês receberam uma segunda rodada de investimentos para uma expansão internacional. Como estão planejando esse crescimento?

C: Continuaremos a expandir com o modelo de franquia. Na Europa, onde fizemos nossa primeira expansão internacional, temos uma operação própria. Mandamos um time para lá e abrimos a nossa loja. Hoje são 15, e o restante são franquias. Mais 15 unidades serão abertas nos próximos cinco meses, em Portugal, na Espanha e na França. Já nos países não europeus, como Peru, Chile e México, o modelo será o de master franquia. Ou seja, em cada novo país em que entraremos com esse modelo, os master franqueados vão começar a incluir mais lojas. Por exemplo, abrimos uma loja no Peru e o master franqueado de lá já está para abrir outras duas lojas. A mesma coisa está acontecendo no Chile. Isso vai aumentar o ritmo de expansão. Mas também estamos de olho em outros países europeus e temos, ainda, um acordo com os Emirados Árabes. Ainda não abrimos a loja, mas já temos o ponto, assim como na Tailândia. 

E: Qual a previsão dessa expansão para os próximos anos no Brasil? Ou já há um número suficiente de lojas?

C: Acreditamos que o Brasil tem um potencial para mais mil lojas. Estamos com quase 200 lojas no país hoje. O ritmo de expansão vai desacelerar um pouco, mas continuaremos crescendo. Mas queremos achar os franqueados certos, os pontos certos. A gente estava crescendo muito rápido. Tínhamos quiosques, o que facilitou o ritmo de crescimento, mas isso não é legal para a marca, porque ela acaba sendo caracterizada como um café de quiosque. 

E: E qual a previsão do total de lojas a longo prazo?

C: Montamos um plano para apresentar aos investidores, e queremos, nos próximos cinco anos, chegar a 2 mil lojas. 

E: As lojas da The Coffee, em sua maioria, são pequenas (entre 10 e 12 m2). Esse é o modelo que mais cresce  hoje?

C: A gente aumentou o portfólio de lojas. Hoje temos lojas grandes, chamadas premium. Não sabemos qual vai ser a proporção, calculamos algo como 30% lojas premium para 70% lojas pequenas. Quanto a estas,temos lojinhas de 10 até 50 m2, com o mesmo portfólio de produtos. A comida é minimalista: cookies, brownies e bolos. Desenvolvemos essas cozinhas locais, para cada cidade poder fornecer para as lojas que estão ao redor. E são receitas nossas, e fazê-las não é um bicho de sete cabeças, é apenas conseguir manter padrão e consistência. As lojas só finalizam as receitas. Além disso, estamos desenvolvendo a seção de panificação, com croissant, pain au chocolat e pães de fermentação natural para fornecer para as lojas premium, que servirão brunch. Ou seja, estamos nos especializando nesses produtos, que combinam com café. E isso permite que a gente faça lojas maiores. O ideal é que a gente não dependa do café. 

E: Como é o processo de escolha dos cafés? Eles têm várias origens ou trata-se de um blend único para as lojas?

C: Temos três categorias: o White, o Kraft e o Black. O White é para todas as bebidas à base de espresso e, atualmente, vem de um único fornecedor, a CarmoCoffees. Nas opções Kraft e Black, destinadas aos coados – e teremos a opção também para espressos –, trabalhamos outras variedades, e sempre temos novidades. A gente compra café verde das fazendas, fazemos nossa torra em Curitiba e mandamos para o país inteiro. Temos também uma torrefação na Europa, para onde enviamos o café verde. Os pacotinhos têm QR Code com o nome do produtor, a altitude em que o café foi produzido, a variedade, o processamento e tudo o mais. O Kraft, acima de 85 pontos, e o Black, acima de 88 pontos, são microlotes variados. 

Espresso: Essa expansão internacional terá cafés brasileiros? 

C: Na maior parte das vezes sim, porque o café brasileiro é muito bom, e temos contato com muitas fazendas. O que não impede que a gente busque outros fornecedores. Na Europa, por exemplo, o White é café brasileiro, mas o Kraft e o Black são de outros lugares. Tem café colombiano, do Vietnã, da Etiópia…

E: Como vocês enxergam hoje o consumidor brasileiro de café? No caso do The Coffee, é um cliente que entra na loja buscando café especial ou apenas um consumidor que quer tomar, rapidamente, um café com um amigo?

C: Poucas pessoas entendem o que é café especial, e, mesmo que você monte uma história, um conceito e ganhe credibilidade, muitos vão acabar indo na onda. Muita gente acha que o café da Starbucks é bom porque eles carregaram isso na sua história. Mas a gente não pode descuidar da qualidade do café, porque os formadores de opinião são as pessoas que levam a nossa marca. Então, temos um cardápio de cafés autorais. A maioria das pessoas prefere uma bebida mais adocicada, e mesmo que o cliente fique sabendo, de um formador de opinião, que temos um bom café, ele pede um flat caramelo. No Brasil, 70% do que vendemos são cafés açucarados, bebidas de assinatura que têm caramelo, vanilla. Na Europa, o pessoal não gosta de açúcar. O cardápio é parecido, e o que muda é a proporção: vendemos mais bebidas puristas do que açucaradas. A gente também acredita no design dos produtos e das lojas para atrair pessoas e consolidar a marca.

E: Design e tecnologia foram duas bandeiras de vocês para este ponto de varejo de café. Por que vocês pensaram nesses dois quesitos? Quanto à tecnologia, ela é usada para monitoramento de métricas e dados ou apenas para atender o consumidor?

C: Design e tecnologia estão no nosso DNA. Meu irmão Luis é designer, e a parte tecnológica veio da minha experiência com uma startup de tecnologia e da minha formação em administração. Achei que ela nos ajudaria a monitorar toda a rede, ainda mais por termos franquias. Usamos a tecnologia para tudo. A gente está desenvolvendo, cada vez mais, um painel em que conseguimos monitorar todas as lojas. Por exemplo, se elas estão com os produtos ativos, quanto estão vendendo, que baristas estão trabalhando e quais são certificados, tudo “real time”, integrado. 

À esquerda, Carlos Fertonani, seguido por seus irmãos Alexandre e Luis

E: Temos falado muito de sustentabilidade. E quando falamos de café, tratamos de origem, clima, ESG etc. Como a The Coffee trabalha sustentabilidade?

C: Olhamos muito para a cadeia do café. Temos feito um trabalho com um parceiro para comprar café verde. Por enquanto, eles estão presentes nas categorias Kraft e Black, mas queremos incluir a categoria White. Conhecemos pouco do funcionamento de uma fazenda, pois estamos do outro lado do balcão. E esse pessoal tem conhecimento, dedica-se à pegada de sustentabilidade, transparência e valorização do trabalho dos produtores. Além disso, as comidas que produzimos não têm corantes nem conservantes, usamos produtos naturais. 

E: Qual é o maior sonho, seu e dos seus irmãos, e que conselho você daria para um empreendedor que está no início da jornada?

C: Em relação ao sonho, vamos continuar a construir a marca, e tentar levá-la para o mundo. Assim como a Starbucks foi a principal marca de café na segunda onda, queremos ser a principal marca da terceira onda, e globalmente. Quanto à dica para um empreendedor, eu diria que é persistência. Empreender não é fácil. Quem lê matérias sobre o assunto acha que é só sucesso, mas é paulada o tempo inteiro, o dia inteiro, de funcionário, franqueado, investidor, cliente. É bronca! 

Texto originalmente publicado na edição #82 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Caio Fontes • FOTO Divulgação
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