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O café como tema central em livros

Cafés e a sociedade britânica moderna

Uma pena que não existam traduções para o português de estudos acadêmicos sobre a emergência das cafeterias na Europa. Um deles foi feito pelo historiador Brian Cowan em The Social Life of Coffee: The Emergence of the British Coffeehouse (R$ 185, na Amazon). A obra, bem escrita, ilustrada e editada para um público que também não é especializado, examina o papel das cafeterias, que surgiram na sociedade britânica no século XVII, e oferece uma visão valiosa de como os espaços cotidianos podem moldar e refletir mudanças culturais e sociais significativas.

Mas não se trata apenas de argumentar que as cafeterias funcionavam como locais culturais complexos, que contribuíram para o desenvolvimento de uma esfera pública. Cowan desafia interpretações anteriores, que viam as cafeterias simplesmente como locais diretos de resistência contra a autoridade do Estado (o Antigo Regime), mostrando, também, como estavam inseridas no tecido social, econômico e político mais amplo da época.

Para chegar a esta narrativa, uma das abordagens, merecedoras de elogio em tempos digitais, é a pesquisa do autor em arquivos físicos – atividade fundamental a todo bom historiador, mesmo que ele tenha, à disposição, uma miríade de documentos digitalizados.

Outro ponto positivo é provocar, novamente, o debate histórico sobre as primeiras cafeterias, especialmente em estudos delimitados, já que cada país ou região tem sua cultura e processos particulares (embora nunca descontextualizados de um cenário mais largo). Tal perspectiva ilumina as maneiras matizadas pelas quais os interesses públicos e privados se cruzavam nesses espaços do início da modernidade.

Embora à época ele tenha sido criticado por não ter dado a atenção devida à relação entre o café e outras bebidas quentes, como chá e chocolate – o que daria, na minha opinião, um outro estudo, com outras fontes e múltiplas áreas de conhecimento –, seu trabalho foi elogiado por contribuir significativamente para a compreensão da evolução social e cultural dessas instituições.

Vale um último comentário: embora escrito há duas décadas, um estudo deste calibre perdura na historiografia, pois será contestado ou seguido em trabalhos posteriores. É assim que o debate histórico se move.

Produtividade e estética na arquitetura cafeeira

Arquitetura do Café (R$ 54,80, no Estante Virtual), do arquiteto e urbanista André Argollo, explora a arquitetura das fazendas de café na região de Campinas (SP), transformadas em centros experimentais por instituições governamentais de pesquisa. A obra mergulha no desenvolvimento da arquitetura agrícola, projetada para a produção rural, e fornece perspectivas arquitetônicas e históricas únicas sobre as fazendas cafeeiras da região.

As fazendas ao redor de Campinas são particularmente interessantes. Do ponto de vista da arquitetura, essas plantações refletem uma combinação de necessidade funcional e questões estéticas, uma
característica analisada profundamente pelo autor e que indica a importância dessas construções na história da cultura do café e no desenvolvimento econômico do país. Argollo destaca que a capacidade
industrial instalada nessas fazendas originou grandes empreendimentos rurais, relacionando, portanto, o desenvolvimento arquitetônico dessas propriedades às transformações técnicas e tecnológicas
da época. Este aspecto, inserido no amplo contexto da produção brasileira de café, teve, segundo estudiosos como Boris Fausto, transformações significativas, também, nas práticas de trabalho.

Argollo dá ênfase à documentação visual das fazendas por meio de fotografias detalhadas, que ajudam a compreender a escala e as complexidades desses espaços, e captura a essência desses locais.

É um olhar abrangente sobre a história arquitetônica e agrícola das fazendas de café em uma região chave do Brasil, enriquecido pela exploração visual impactante e pela análise rica do autor. O livro recebeu o prêmio Jabuti 2005 na categoria Arquitetura e Urbanismo e indicado para quem estuda arquitetura, agricultura e produção de café no Brasil – além de ser um trabalho que também deslumbra leitores de qualquer área. Vale ter na mesa de centro.

TEXTO Cristiana Couto

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