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Coffee of the Year: o prêmio que conecta café, história e mercado

Com recorde de 570 amostras inscritas, o Coffee of the Year 2024 consagrou o Espírito Santo como destaque nas categorias arábica e canéfora, reforçando o papel do prêmio na valorização de produtores, regiões e tendências da cafeicultura brasileira

O Coffee of the Year (COY) não é apenas um prêmio. Em sua 13ª edição, o concurso é o reconhecimento máximo do talento, da dedicação e da inovação dos cafeicultores na produção de arábicas e canéforas brasileiros de excelência – já foram premiados mais de 180 produtores.

Em 2024, o Espírito Santo subiu ao pódio. Foram premiados Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, em Divino de São Lourenço, região de Caparaó, na categoria arábica, e Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro, no Sul do Espírito Santo, na categoria canéfora.

O COY também gera oportunidades de negócios: a escolha dos melhores arábicas e canéforas não apenas valoriza o trabalho dos produtores campeões, mas impulsiona o desenvolvimento das regiões onde esses cafés são cultivados, abrindo portas para novos mercados e fortalecendo os já existentes (confira a degustação com os cafés vencedores ao final da reportagem).

Este ano, o evento quebrou seu recorde de inscrições, com 570 amostras de 33 regiões de café, refletindo o crescente interesse dos cafeicultores pela premiação e a diversidade dos grãos brasileiros.

Como o COY acontece

A escolha de um café para uma competição pelo produtor se dá muito antes da prova. Ela envolve uma série de etapas, que incluem planejamento no campo, manejo da colheita, definição do processamento do grão e curadoria final rigorosa, com seleção de lotes e provas sensoriais. Este trabalho meticuloso é o que transforma um simples lote de café em um potencial campeão, capaz de destacar não só a qualidade do grão, mas também a dedicação e o talento por trás de sua produção.

Depois do recebimento dessas amostras, elas são provadas tecnicamente por profissionais Q-Graders e R-Graders no Instituto Federal do Sul de Minas, em Machado (MG), que selecionam 180 amostras finalistas – 150 cafés arábicas e 30 cafés canéfora. Estes cafés são provados em duas salas de cupping e em diferentes rodadas durante os três dias da Semana Internacional do Café, por centenas de compradores, que têm a oportunidade de negociá-los diretamente com os produtores.

Ao mesmo tempo, os dez cafés arábica e cinco canéforas mais bem pontuados dessa seleção participam da votação dos visitantes da SIC, que decidem, nos dois primeiros dias e em prova às cegas, os campeões do ano nas duas categorias. Os produtores vencedores recebem menção honrosa e os dois campeões são anunciados e premiados na tarde do terceiro e último dia da SIC.

Era uma vez…

Em tempos de valorização do produtor e de sua história, vale lembrar como nasceu o Coffee of the Year. Em 2011, durante a consolidação do mercado de cafés especiais no Brasil e a ascensão de movimentos que destacavam os produtores, a Espresso idealizou uma forma de criar conexões mais próximas entre esses profissionais e os visitantes da feira de negócios Espaço Café Brasil — evento que viria a se transformar na Semana Internacional do Café. Essa proximidade era vista como essencial para valorizar o produto e promover os cafés especiais no mercado nacional.

Foi nesse contexto que a primeira sala de cupping foi montada, reunindo cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais. A iniciativa fomentou o compartilhamento de conhecimento entre produtores e especialistas do setor, pavimentando o caminho para algo maior. Em 2012, nascia oficialmente o prêmio Coffee of the Year Brasil, uma competição nacional que seleciona os melhores cafés por meio de especialistas e permite que os visitantes também os provem e avaliem. O caráter inovador da iniciativa estava justamente em aproximar os brasileiros dos cafés de alta qualidade, que, até então, eram conhecidos quase exclusivamente por provadores e exportadores.

Em 2013, já consolidado como SIC e sediado em Belo Horizonte, o evento se expandiu, e o prêmio ganhou maior visibilidade e diversidade. Ano após ano, o COY foi ganhando relevância e tornando-se uma vitrine de tendências, como a inclusão da categoria canéfora (2016), a concessão de prêmios a café com fermentação induzida (2020 e 2021) e a projeção de pequenos produtores e seus microlotes. O prêmio, também, é essencial ao projetar regiões – como a quase desconhecida região do Caparaó, em 2012.

Hoje em dia, o COY é uma referência no setor, reconhecendo a excelência independentemente da espécie de café, região ou escala de produção.

A Espresso conversou com os campeões do Coffee of the Year 2024. Estreante no concurso e produtor de especiais há seis anos, Paulo Roberto Alves venceu com um catuaí vermelho de 90,25 pontos. “Meus filhos são provadores, e incentivam a fazer café especial”, diz ele. Já Landi, que participa regularmente do COY, esteve na lista dos 15 finalistas de canéfora em 2023 antes de subir ao pódio este ano com um conilon de 86,42 pontos. “O principal destaque do café de concurso é ser feito com cuidado”, ensina Landi. A seguir, o bate-papo:

Espresso: Quais foram os maiores desafios que vocês enfrentaram nesta safra e como eles foram superados?

Antônio Cezar Landi: O maior desafio nessa safra foi a seca. Ficamos seis meses sem chuva, sorte que temos um sistema de irrigação com tensiômetro, automatizado em algumas áreas já, então isso ajuda muito a superar este desafio. E o mercado de café, que é um negócio meio doido. Uma hora dá prejuízo, outra hora dá dinheiro demais. Então esses foram os desafios, que ninguém sabe o que vai dar. Mas o principal posso destacar que foi a falta de chuvas, mas graças a Deus deu para superar.

Paulo Roberto Alves: Foram muitos desafios. Pra gente ‘panhar’ café, tem que saber, pra não estragar. Depois, na secagem, tem que ter muito cuidado para não estragar no terreiro. Começa a chover, tem que ter cuidado. Esse ano não teve muita chuva aqui na região, foi até bom para o café. Mas nos outros anos, no ano passado, por exemplo, choveu muito. Este ano foi até bom, deu muito sol. Aqui eu tenho cinco mil pés de café e planto catuaí vermelho e amarelo. No COY eu inscrevi o vermelho.

Por que vocês acham que seus cafés se destacaram no concurso este ano?

Landi: Primeiramente é o cuidado com o fruto depois de colhido. Eu faço a colheita e quem faz esse cuidado todo, inclusive a secagem, é minha esposa. Então, o principal [fator] é o cuidado. E o segundo eu acredito que seja a nutrição. Uma planta bem nutrida te dá um fruto já pronto, basta você ter cuidado depois, no pós-colheita.

Alves: A concorrência foi grande. Os meus filhos são provadores e trabalham no laboratório da Caparaó Jr. Eles incentivam a gente a fazer o café especial, ensinam como tem que fazer, dão toda a instrução. Eles provaram o café e viram a pontuação que deu, viram que era uma pontuação boa.

Os campeões do COY 2024: Paulo Roberto Alves (à esquerda) e Antônio Cezar Landi (à direita)

Que conselhos vocês dariam a outros produtores que aspiram alcançar o sucesso nos concursos de cafés especiais?

Landi: Fazer o seu melhor e participar dos concursos. Tentar uma vez, ou dez, quantas vezes for preciso. Você tem que insistir e nunca parar de tentar.

Alves: Quem quiser fazer, pode fazer. A nossa região tem potencial. Quanto mais gente produzir café especial, pra gente é bom, né? Aqui no município tem pouca gente que produz café especial. Deve ter umas cinco ou seis pessoas só. O pessoal acha difícil fazer, acha que dá muito trabalho. Mas pode fazer sem erro que o resultado não é ruim não. Deve ter uns seis anos, mais ou menos, que produzo café especial. Criamos nossa marca, a Sítio Campo Azul. Vale muito a pena produzir café especial, ainda mais depois de ter ganhado o COY, vale mais ainda.

Como essa premiação impacta a região de vocês?

Landi: O impacto é positivo. A região ficou conhecida. Jerônimo Monteiro praticamente não era conhecida por cafés especiais. Só a nossa comunidade, com sete famílias, que faz café especial.

Alves: Mudou muito, principalmente o tratamento do pessoal. Até as autoridades e o prefeito, que não visitavam muito, vieram aqui. Para chegar aqui na minha cafeteria tem 400 metros de chão, aí eles vieram e prometeram fazer o passamento até a cafeteria. Tudo isso depois que ganhei.

Vocês pretendem inscrever novas amostras na próxima edição do concurso?

Landi: Com certeza. Se Deus permitir, nós queremos participar sempre que possível. Ano que vem e nos próximos. Mesmo que não ganhe, mas sempre disputando.

Alves: Vou me inscrever de novo, se Deus quiser. Vou fazer [qualidade] para me inscrever de novo e torcer para ganhar.

Depois da agitação da SIC, a equipe da Espresso provou os cafés finalistas premiados no Coffee of the Year (COY). Assim como nas garrafas térmicas disponíveis no evento, as dez amostras de arábica e as cinco de canéfora foram torradas pela equipe do IF Sul de Minas, do campus Machado (MG) e preparadas no método filtrado (hario v60).

Para a avaliação, o time usou como base o novo Protocolo Brasileiro de Cafés Torrados, desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Os critérios levados em consideração foram complexidade de odor e de sabor, características sensoriais, doçura, corpo, acidez e intensidade, esta última definida pelo protocolo como “percepção de persistência de sabor na boca”. Confira as nossas anotações a seguir.

Texto originalmente publicado na edição #86 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto e Gabriela Kaneto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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