Cafeteria & Afins

Takkø Café – São Paulo (SP)

Era uma sexta-feira, fim de tarde. Para fechar a semana de trabalhos, nossa equipe resolveu revisitar uma cafeteria conhecida na região central de São Paulo, o Takkø Café, instalado desde 2014 na Vila Buarque. A porta de vidro da cafeteria revela um espaço comprido e de decoração minimalista. O Takkø é dividido em dois ambientes, ambos com mesas. No primeiro deles está o balcão de onde saem os cafés, e no segundo, mais próximo da cozinha, foi possível acompanhar a dança dos funcionários na montagem dos pratos.

O volume da música de fundo, um estilo rock indie alternativo, era agradável e não atrapalhava o bate-papo dos clientes. Embora a cafeteria não estivesse cheia, como já havíamos conferido em outras ocasiões, grande parte das mesas estava ocupada. O atendente, solícito, nos explicou detalhadamente o cardápio, sugerindo o que costuma ter saída.

Pra começo de conversa, pedimos duas opções salgadas: o sandubinha e o tuna melt. Montado com pão de leite feito na casa, o sandubinha leva mussarela, parmesão, tomate e salsa, e acompanha mostarda e picles de cenoura e nabo. Dividido ao meio, veio quentinho, com boa apresentação e sabores harmonizados. O queijo deu cremosidade ao lanche, contrastando de forma feliz com o tostadinho do pão na chapa. Já o tuna melt é o tipo de lanche para ser saboreado num parque em um dia de calor. Gostamos da refrescância do atum combinado com a untuosidade do cheddar derretido e a textura do pão tostado.

À esquerda, espresso, coado e matchá; à direita, sandubinha (em primeiro plano), tuna melt e cheesecake da estação

Para acompanhar o sandubinha, escolhemos um matchá gelado, bebida que está em alta entre as cafeterias paulistanas, que estava saboroso e refrescado pelas pedras de gelo. Para o tuna melt, preferimos um filtrado na v60 (270 ml), que é servido em jarra de vidro. O grão que pedimos foi o catuaí 2SL, de processamento natural, do produtor Helisson Afonso, do Sítio Baixadão, em Cristina, na Mantiqueira de Minas (MG). Na xícara, a bebida apresentou as características que o cardápio destaca: um café redondo, limpo, com notas de melaço. É um bom café, mas não é surpreendente. Já tomamos outros mais impactantes e sensorialmente mais ricos no próprio Takkø.

Para finalizar a experiência, a escolha foi um cheesecake da estação (no dia da nossa visita, a opção era caqui) e um espresso. Além de bonita, a sobremesa combinava bem a massa de textura sedosa (nada enjoativa) e os pedaços da fruta que funcionavam como cobertura. A colherada de cream cheese, que compunha a decoração, adicionava acidez à doçura do conjunto, e a calda de caramelo, suave, não roubava o sabor dos outros ingredientes. É uma sobremesa que vale repetir. Diferentemente da experiência com o filtrado na v60, o espresso, bem extraído, apresentou notas de caramelo e chocolate, acidez alta e finalização limpa. O grão selecionado para o método é um catuaí vermelho 99, natural, cultivado por Augusto Borges na Fazenda Capadócia, em São Gonçalo do Sapucaí, também na Mantiqueira de Minas (MG).

Cheesecake da estação, feito com caqui

Nossos pratos e bebidas foram servidos em cerâmicas grandes e bonitas – o que é ótimo para quem, como nós, gosta de fotografar o que está comendo. Isso, reunido a um ambiente aconchegante e com atendimento positivo, faz do Takkø Café uma cafeteria que vale a pena conhecer.

Nossa conta: R$ 145 / R$ 159,50 (com serviço)
Sandubinha – R$ 34
Tuna Melt – R$ 42
Matchá gelado – R$ 13
Coado v60 – R$ 17
Cheesecake – R$ 32
Espresso – R$ 7

A equipe da Espresso visitou a casa anonimamente e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Major Sertório, 553
Bairro Vila Buarque
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
País Brasil
Website http://instagram.com/takkocafesp
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Cafezal

Livro explora as indicações geográficas brasileiras para café

Foto: Marcelo Coelho

A imagem de cafezais plantados em sistema agroflorestal na região do Norte Pioneiro do Paraná, uma indicação de procedência para cafés, é do fotógrafo Marcelo Coelho para o livro A Revolução do Café Brasileiro – Regiões com Indicação Geográfica, que explora, por meio de fotografias e textos em português e inglês, a cultura e o valor de 14 indicações geográficas brasileiras (as recentes IGs Chapada Diamantina e Vale da Grama). Ao longo de mais de 250 páginas, a obra detalha características e técnicas
de cada terroir, dados socioeconômicos das IGs, histórias de alguns produtores e perfil sensorial dos grãos.

“A obra traz uma abordagem do protagonismo do produtor e das regiões cafeicultoras com IG”, diz Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado e que edita o livro ao lado do pesquisador da Embrapa Rondônia Enrique Alves. “Nossa expectativa é que ele seja uma ferramenta de promoção do café brasileiro nas regiões com indicação geográfica”, diz ele. “É impossível vender o
Brasil como um país único, sem apresentar essa diversidade de cafés”, acredita. Os textos são de Michelle Dufour, e há artigos introdutórios de diversos autores.

Onde comprar: www.cafestore.com.br

TEXTO Redação

Porque o mundo deveria parar para um café

Escrevo este texto em um dia histórico – o dia em que o preço negociado na bolsa de Nova Iorque acaba de ultrapassar os 4,30 dólares por libra. Temos motivos para acreditar que este não seria um dia apenas para lembrar uma marca impressionante atingida pelo preço do café. Este seria um dia, e digo sem medo de exagerar, para pensar que tipo de agricultura queremos ter, em um planeta para alimentar mais de 8 bilhões de pessoas.

Mas por que o café seria um retrato para outros cultivos? E o que isso teria a ver com alimentar 8 bilhões de pessoas? Primeiramente, alguns fatos sobre o mercado de café e como chegamos até aqui.

Por mais que parte desta alta histórica seja especulativa e o café devolva uma porção dos ganhos nos próximos pregões, podemos cravar algumas mudanças substanciais no mercado e na estrutura do equilíbrio da oferta e demanda.

Em relação à questão produtiva, a primeira causa deste preço nunca antes visto é muito clara: o aquecimento global. Apesar de muitos agentes do mercado e políticos do Brasil e de fora ainda duvidarem, a mudança no clima é óbvia. Passamos por três episódios extremos nas regiões produtoras brasileiras em pouco mais de quatro anos: a geada de julho de 2021,  o excesso de chuva na florada de 2022 e a seca em 2024, também no período de florada. 

Outro fator que influencia o mundo do café há tempos, e que já foi normalizado por aqui, é a forte desvalorização do real. Estamos chegando a quase dez anos de desvalorização da moeda brasileira. Isso significa que a eficiência do país na produção de café foi acentuada pela desvalorização do câmbio. Os principais concorrentes dos produtores brasileiros, além de produzirem com menor eficiência, ainda têm que lutar contra um produto mais competitivo por conta do real barato. 

Vale lembrar que, praticamente no mesmo período em que o real sofreu com a desvalorização, os estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foram liquidados e nunca mais repostos. Estes estoques são importantes para regular os preços internos, injetando mais produto no mercado em tempos de alta e também comprando do produtor em momentos de baixa. 

Mesmo com estoques liquidados, algum ente estatal ou privado poderia ter tomado a iniciativa de recompor tais produtos. Ocorre que nos últimos anos esta tarefa foi praticamente impossível para os entes públicos e desdenhada pelos entes privados. Em nenhum destes anos houve um excedente de produção substancial para que sobrasse tantos cafés no mercado. Além disso, a pandemia demandou um redirecionamento de gastos públicos, e as taxas de juros vinham sendo relativamente altas na busca de conter a pressão inflacionária do período. Este encarecimento do crédito também desfavoreceu os agentes privados do mercado. Com pouca liquidez, os agentes preferiram ignorar os fundamentos e insistir em uma estratégia de estoques baixos, que vem sendo a regra há anos.

Por último, mas não menos importante, devemos lembrar do salto no consumo do sul e leste da Ásia. Por motivos óbvios, a China é a grande estrela emergente e chegou em 2025 consumindo cerca de seis milhões de sacos de café, aproximando-se de Alemanha e Japão e prestes a se tornar o terceiro maior mercado consumidor, atrás apenas de Brasil e Estados Unidos. 

Este salto chinês está ainda longe de ser relevante, quando se pensa no tamanho do potencial do mercado em termos per capita. Os respeitáveis seis milhões de sacos de café representam apenas cerca de 250 g de consumo per capita ao ano. Em termos comparativos, o chinês consome, em um ano, o que um brasileiro toma em quinze dias. Mas não para por aí. 

Por concentrar demasiadamente as atenções na China, o mercado esqueceu-se de outros países do sudeste asiático como Vietnã, Indonésia e Filipinas. Todos na casa dos três milhões de sacos consumidos por ano. Algo similar ao consumo da tradicional Itália. Lembrando que a população italiana hoje em dia está em 56 milhões de pessoas, e os três países somados têm quase dez vezes mais, cerca de 500 milhões de habitantes. 

Não chegamos aqui por acaso. Este preço astronômico do café vem sendo preparado há muito tempo, graças às mudanças climáticas, aumento no consumo e negligência dos setores público e privado. Pode-se encontrar algum produtor surpreso com o valor da saca, mas nenhum produtor está surpreso com a falta de café no mercado. A questão principal é por que os consumidores e os mesmos agentes públicos e privados estão surpresos?

O título desta coluna faz um convite à reflexão sobre o que ocorre com o café, não apenas porque estamos vivendo algo histórico, mas também por que o que estamos vivendo no café pode ser o prenúncio do está por vir em outros cultivos, inclusive aqueles que compõem a cesta básica do brasileiro e alimentam mais de 200 milhões de pessoas por aqui. E tantos milhões lá fora.

A preocupação se deve ao fato de que o café tem um perfil de produção no Brasil e no mundo baseado no pequeno produtor, relativamente disperso no território. No Brasil, os seis primeiros estados produtores de café estão em quatro macrorregiões distintas: Sudeste, Sul, Nordeste e Norte. No mundo, os seis primeiros estão em quatro regiões geográficas diferentes: América do Sul, Sudeste Asiático, África e América Central. Pode-se concluir que a crise no território produtivo é generalizada. E que, mesmo que a produção mundial e a produção brasileira tenham um claro líder, pode-se dizer que o café tem alta capilaridade no território. 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 80% da produção brasileira se deve ao pequeno e médio produtor com menos de 50 hectares. No mundo, segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC), 95% dos produtores mundiais têm menos de 5 hectares. Portanto, a produção depende do pequeno produtor, que é o mais vulnerável em tempos de crise e já vem sendo fragilizado há anos. 

A crise do preço do café é grave e merece mais atenção porque pode ser um aviso de outras crises, principalmente alimentares. A resolução dela poderá nos dizer não somente qual tipo de estrutura cafeeira queremos para o mundo, mas, principalmente, que tipo de sociedade queremos cultivar.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva

Mercado

Ranking internacional de cafeterias cita apenas uma brasileira entre as 100 melhores

Por Cristiana Couto

A paulistana Cupping Café, na Vila Madalena, é a única cafeteria brasileira a integrar a primeira edição do ranking The World’s 100 Best Coffee Shops, organizada pela empresa espanhola NeoDrinks. O anúncio das cem melhores do mundo foi feito nesta segunda (17), em Madri, durante o evento Coffee Fest. A Cupping Café posicionou-se em 92o lugar.

O primeiro lugar ficou com Toby’s State Coffee Roasters, da Austrália, país que emplacou mais três estabelecimentos entre os dez melhores na lista, ao lado dos Estados Unidos, Áustria, Noruega, Singapura, França, Malásia e Colômbia – estes dois últimos, os únicos países produtores de cafés contemplados entre os dez mais bem posicionados. “A Austrália tem uma tradição e uma qualidade enorme de cafés, de serviço de baristas e de equipamentos”, diz Edgard Bressani, CEO da Latitudes Brazilian Estates e autor do Guia do barista – Da origem ao café perfeito. 

O ranking avaliou mais de quatro mil cafeterias, baseando-se nos critérios de qualidade do café, habilidade do barista, práticas sustentáveis, serviço, atmosfera, qualidade dos alimentos, inovação e consistência. Um júri internacional de especialistas e profissionais da indústria (com peso de 70%) e votação pública online (que compõe 30% do peso da nota) determinaram as melhores de uma lista preliminar de 200 cafeterias indicada pelo público ou pelos profissionais. 

Entre os coordenadores de cada região de votação estão nomes como Michalis Dimitrakopoulos, campeão mundial de baristas e chefe do júri para a Europa Oriental, Kat Melheim, fundadora do Coffee People Zine e chefe do júri para a Costa Leste dos EUA, a especialista e educadora Dara Santana, chefe do júri para a Europa Ocidental e Darveris Rivas, especialista em cafés venezuelano e chefe do júri para a América do Sul. O site oficial não revela o número total de jurados. “Há, porém, casas que ficaram de fora, como a Substance [Cafe], em Paris, a Sisu [Coffee Studio], no Panamá, a loja conceito da Espresso Lab, em Istambul”, lembra Bressani. 

“De fato, algumas cafeterias tradicionais do mundo e do Brasil não estão contempladas na lista. Assim como aconteceu com outras premiações de gastronomia, questionamentos sobre rankings parecem fazer parte do negócio”, reforça Caio Alonso Fontes, CEO da Espresso&CO. “Vale considerar que esta é a primeira edição do ranking, e que listas como estas geram visibilidade e impulsionam mercados”, conclui.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

Mercado

Gesha é vendido por preço recorde de US$ 10.020 o quilo

O café, da Finca Sophia, no Panamá, ultrapassou o recorde da variedade de 2024, de US$ 10.005 o quilo

O valor de US$ 10.020 por quilo pago pelo café geisha da Finca Sophia no leilão inaugural da World of Coffee Dubai 2025, maior feira de café do Oriente Médio que aconteceu entre 10 e 12 de fevereiro, estabeleceu novo recorde para o preço mais alto já pago por essa variedade em leilões internacionais.

O leilão Dubai Multi Commodities Centre (DMCC) Specialty Coffee Auction, realizado pela primeira vez, contou com 16 lotes de 11 produtores de nove países e marcou um novo patamar para o mercado de cafés especiais. Em 2024, durante o Best of Panama, um lote de 25 quilos de gesha da finca Carmen Estates foi vendido por US$ 250.125 – o equivalente a US$ 10.005 por quilo – superando o recorde anterior de 2021.

Além do gesha que estabeleceu um novo recorde de preço para a categoria, outro lote da mesma fazenda panamenha foi vendido por US$ 8.614/kg, confirmando a valorização da variedade geisha entre os apreciadores de cafés especiais.

Destaque, também, foi o kona SL 34, do Havaí, que atingiu US$ 910/kg, oito vezes o valor máximo já pago anteriormente por um café da região, estabelecendo um novo recorde para o café norteamericano.

Outros cafés que quebraram marcas históricas incluem o gesha village oma natural, da  Etiópia, vendido por US$ 1.100 o quilo (novo recorde para cafés etíopes) e o la llama, da produtora Los Rodriguez, da Bolívia, por US$ 350 o quilo (recorde para cafés bolivianos). 

Todos os cafés leiloados receberam notas acima de 92 pontos na escala de 100 pontos da Specialty Coffee Association (SCA).

Os valores recordes são impulsionados por três fatores principais: qualidade excepcional, que são os cafés geralmente acima de 90 em avaliações sensoriais, raridade e terroir exclusivo, que refletem as condições de cultivo únicas e produção em microlotes, e a história do produtor – compradores buscam não apenas qualidade, mas, também, consistência e um storytelling envolvente.

Os principais compradores incluem torrefações boutique e cafeterias especializadas, que vendem esses cafés como edições limitadas. 

TEXTO Fonte: International Comunicaffe

Barista

Campeão mundial Boram Um abre torrefação de cafés no Japão

Com um currículo que soma três títulos nacionais e um mundial no Campeonato de Barista, cultivo de café no Brasil e uma torrefação e cafeteria em São Paulo, o brasileiro inaugura a Ult., sua nova torrefação em Osaka

Por Gabriela Kaneto

Primeiro brasileiro campeão mundial de barista, Boram Um, da cafeteria Um Coffee Co., de São Paulo (SP), expandiu as fronteiras e lançou a Ult. Coffee Roasters, sua nova torrefação na cidade de Osaka, no Japão. A casa foi aberta em janeiro, em sociedade com a brasileira Marcia Yoko, sua mentora na competição, e um sócio local cujo nome não foi divulgado.

Em entrevista à Espresso, o empresário comenta que foram muitas as razões para apostar na Ásia. “O Japão é, de fato, um mercado muito significativo, de altíssima qualidade e expertise. Além disso, Osaka é um hub logístico excelente, com custos baixos de frete para a Ásia toda”, explica. 

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Japão é o quarto principal destino dos grãos brasileiros de qualidade superior ou certificados – em janeiro, importou mais de 67 mil sacas. “Os asiáticos estão cada vez mais consumindo cafés em grãos em casa. Existe uma oportunidade de mercado enorme”, destaca Um.

Café brasileiro do outro lado do mundo

Com foco no interesse dos japoneses, mais da metade da linha da Ult. é de origem brasileira. Os grãos são da Fazenda Um, produção da família do campeão, que tem cafezais em Minas Gerais e no Espírito Santo. “Nosso objetivo é mostrar o nível altíssimo de qualidade dos cafés brasileiros, que dificilmente encontram espaço como single origin no mercado externo”, ressalta ele, que desenvolve os perfis de torra ao lado da equipe. 

Para Boram Um, ter uma torrefação no Japão com 60% de cafés brasileiros “causa um impacto positivo no mercado e na percepção de qualidade”. Hoje, além das opções made in Brazil, o Instagram da casa divulga um segundo blend, com grãos da Costa Rica, Honduras e Brasil. A intenção é expandir o leque e trabalhar com produtores de outras origens, como Panamá.

Prove antes de levar

Seguindo o conceito de roastery/bean shop, os cafés da Ult. são servidos no espresso e no coado. A ideia é que o cliente possa prová-los para decidir qual prefere levar para casa. “Temos um sistema automatizado Eversys para o espresso. Servimos, também, cafés coados na hora, onde todo o nosso cardápio de grãos está disponível”, explica. 

Por enquanto, os cafés da Ult. estão disponíveis apenas na loja física. Mas os consumidores brasileiros podem se animar: em breve, os grãos serão vendidos on-line e entregues, também, fora do Japão.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

Cafezal

Fevereiro quente preocupa cafeicultores e pode impactar safra

Pesquisadores do Cepea apontam que as chuvas frequentes desde outubro de 2024 têm favorecido o desenvolvimento da safra 2025/26. No entanto, as previsões para fevereiro indicam um cenário preocupante: precipitações abaixo da média e temperaturas elevadas, fatores que podem comprometer o ciclo final da produção.

Embora as chuvas recentes tragam otimismo, a safra já foi impactada pelo calor e pela seca ao longo de 2024, e a evolução das temperaturas nos próximos meses será determinante para a qualidade do café colhido. O excesso de calor, além de prejudicar o perfil sensorial dos grãos – que demandam noites amenas para desenvolver uma bebida equilibrada –, pode acelerar a secagem dos frutos ainda no pé, comprometendo a produtividade e a rentabilidade dos cafeicultores.

Diante desse cenário, o setor segue atento às condições climáticas, ciente de que a estabilidade térmica nos próximos meses será essencial para garantir uma safra de qualidade.

TEXTO Redação

Mercado

Museu do Café ganha nova identidade visual

Com papel fundamental na preservação da história do café e na disseminação do conhecimento sobre o grão, o Museu do Café apresentou seu novo posicionamento institucional. 

“O propósito dessa mudança é estabelecer uma conexão emocional e de afetividade com diversos públicos, desconstruindo a imagem intimidante e elitista [do museu]”, explica a diretora-executiva do Museu do Café, Alessandra Almeida.

Em processo desde 2021, o rebranding, desenvolvido em conjunto com o Istituto Superiore per le Industrie Artistiche Roma (ISIA Roma Design), incluiu o lançamento de uma nova identidade visual que destaca o lado humano e social do café além da xícara, trazendo assuntos como gênero, raça e imigração. 

Para isso, os novos atributos adotados pelo Museu do Café nesta fase (vivo, participativo, internacional, socialmente responsável e afetivo) serviram de base para a atualização da identidade visual, que utilizava a mesma logomarca desde a fundação, em 1998.

O novo logotipo foi inspirado em movimentos orgânicos e circulares que fazem parte da cadeia de produção e consumo, influenciado, também, por traços e elementos do prédio que abriga o Museu, como Salão do Pregão, a cúpula, o relógio da torre e as colunas greco-romanas. 

“A forma circular da xícara vista de cima vai ao encontro do sinal dinâmico da gota. O resultado é uma letra C suave”, explica Massimiliano Datii, professor do ISIA. “Os rostos dos produtores e consumidores, os elementos naturais, os rituais nas diversas partes do planeta, as cores do mundo do café, cada detalhe é integrado ao sistema visual e contribui para enriquecer a imagem do Museu”, completa.

A nova identidade pode ser vista pelo público no site do Museu do Café – que foi totalmente reformulado –, nas redes sociais e no vídeo da campanha institucional

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Café & Preparos

Café é tema de exposições em São Paulo e no Rio de Janeiro

Exposição “Café através dos sentidos”, que acontece até o dia 22 de fevereiro, no Polo Cultural ItanianoRio

Até o dia 22 de fevereiro, na cidade do Rio de Janeiro, o Polo Cultural ItalianoRio (av. Pres. Antônio Carlos, 40 – Centro) oferece a exposição gratuita Café através dos sentidos. A experiência imersiva busca fazer com que o visitante explore os sentidos através de vídeos e itens em exposição, que vão desde a produção, como grãos de café, até informações sobre o tradicional espresso italiano e os utensílios históricos utilizados na cerimônia do café na Etiópia. 

Um dos destaques da mostra é a reprodução da pintura “Colheita de café” (1958), de Candido Portinari, que retrata uma cena de trabalho nos cafezais. Especialmente no dia 20 de fevereiro, a exposição recebe João Candido Portinari, filho do artista, que fará uma palestra sobre a relação de seu pai com o café, esmiuçando a arte e as culturas brasileira e italiana. 

Exposição “Passione Italiana: l’arte dell’espresso”, que acontece a partir de 21 de fevereiro, no Museu da Imigração

Já em São Paulo (SP), o Museu da Imigração (rua Visconde de Parnaíba, 1316 – Mooca) recebe, a partir do dia 21 de fevereiro, a exposição Passione Italiana: l’arte dell’espresso, que aborda a evolução do design e da tecnologia dos artefatos de café, relacionando os itens à imigração italiana para o Brasil. A mostra gratuita, que esteve no Museu do Café, em Santos, reúne 60 máquinas para uso doméstico e profissional, além de um acervo de xícaras. 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Como o preço do café pode impactar o mercado e o consumo

A escalada de preços abre espaço para alternativas de consumo, como as bebidas ready-to-drink e o café solúvel

Foto: Agência Ophelia

Por Gabriela Kaneto

Nos últimos meses, a alta expressiva dos preços do café tem sido um assunto em debate. Em 2024, o custo do grão para o consumidor cresceu 37,4%, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em coletiva realizada na última quarta (5). Estoques baixos, tanto nos países produtores quanto nos consumidores, problemas climáticos – com projeções de que as condições devem persistir em 2025 – e a alta do dólar são algumas justificativas para essa valorização. 

Estimativas de produção para o próximo ciclo também impactam os preços. Em 28 de janeiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua primeira estimativa para a safra brasileira de café 2025, indicando uma produção de 51,8 milhões de sacas, queda de 4,4% em relação ao ano anterior. 

Enquanto isso, nas gôndolas, um simples café de mercado está na casa dos R$ 30 – e a previsão não é animadora. “Devemos ter aumento adicional no preço final. A indústria não tem como evitar esse aumento e repassou os valores para os intermediários e consumidores finais”, disse Pavel Cardoso, presidente da Abic, na coletiva. “Nos próximos dois meses, devemos ter um aumento de 25%”, acrescentou.

Foto: Agência Ophelia

Entre a produção e o cliente

Alex Lima, fundador da Torra Fresca Cafés, de Mococa (SP), sente os efeitos da rápida escalada. Em entrevista à Espresso, ele comenta que cerca de 15% dos clientes deixaram de comprar café nos últimos meses. “Fizemos um repasse de 50% entre novembro e janeiro. Os clientes assustam, tentam manobrar e, em alguns casos, deixam de comprar”, explica.

À frente da torrefação há 11 anos, Lima trabalha não apenas com café especial, mas também com gourmet – produto que tem sido uma alternativa para quem busca manter certo padrão de qualidade. “O gourmet apresentou aumento nas vendas. Antes, o cliente comprava dois especiais. Hoje, tem comprado um especial e um gourmet”, relata. 

No norte do país, em Belém, no Pará, o empresário Bruno Wariss, da Alquimista Bebidas Especiais, também se reinventa para driblar a situação. “É importante ser flexível”, pontua. Ele, que vem de família que trabalha com café há décadas, relembra outros momentos difíceis: “Entre 2015 e 2016, em que tivemos impeachment de presidente e caminhões parados, os produtos não chegavam e a gente precisou se adaptar. Depois veio a covid-19, três meses totalmente fechados, sem funcionar, não estávamos vendendo café. Mas precisamos nos adaptar ao mercado”.

Foto: Agência Ophelia

Wariss explica que o repasse para o cliente se faz necessário para manter o negócio funcionando. “Nós tentamos segurar o preço, mas infelizmente tem que repassar. Antes eu vendia, para cafeterias, um café de 82 pontos, para espresso, a R$ 75 o kg. No momento está custando R$ 120, mas vem escalando de dez em dez reais a cada 15 dias. É a nova realidade. Não adianta segurarmos o preço, senão vamos ter que fechar a empresa”, aponta o empresário.

Ele também comenta que o fato de estar longe de grandes centros produtores, como Minas Gerais e Espírito Santo, o obriga a comprar quantidades maiores de café por vez – o que financeiramente não tem sido um negócio fácil. “Há 12 meses, com 100 mil reais, comprávamos 60 sacas de 60 kg. Agora, com 100 mil reais, conseguimos comprar 28 sacas. Antes, o produtor dava 120 dias de prazo, agora ele dá 30”, relata. “Então é uma adaptação completa, até da minha vida pessoal. Meu pró labore diminuiu 30% para que a gente possa se adequar às novas compras de café. É um estudo financeiro, de gerência e de venda, e ao mesmo tempo uma relação com o produtor”, detalha.

Foto: Agência Ophelia

Em contrapartida, para manter o interesse do público nos cafés de qualidade, Weriss tem investido na educação do público com treinamentos que acontecem em seu espaço. “Treinamos de duas a três mil pessoas por ano, entre baristas, coffee lovers e donos de cafeterias, e com isso o consumidor fica cada vez mais esperto sobre o real valor do café, no sentido sensorial, e já sabe reconhecer muito bem o que é o café especial”, destaca. 

Ele também faz parcerias com empresas de consultoria. “Elas oferecem aos meus clientes uma palestra gratuita e depois, caso queiram, eles acabam fechando negócio. Ou seja, essas empresas se aproveitam do meu networking para fechar possíveis contratos, e, ao mesmo tempo, fomentam meus clientes a serem melhores profissionais. Mantemos o terreno fértil aqui”, explica.

Novas formas de se consumir a bebida

Claro que o café filtrado não será substituído, mas a escalada de preços pode impactar a forma de consumo, dando margem para que novas bebidas entrem no jogo, como as bebidas ready-to-drink e o café solúvel. “O solúvel está sendo inserido como mais uma forma de se tomar café em determinados momentos do cotidiano”, afirma Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics). 

Café solúvel – Foto: Felipe Gombossy

Nos últimos meses, o produto teve bom desempenho, como indica a atualização do AbicsData, plataforma da Abics, divulgada no final de janeiro. Segundo os dados, o Brasil registrou aumentos recordes tanto nas exportações quanto no consumo interno. Em 2024, os envios de café solúvel somaram 4,093 milhões de sacas – crescimento de 13% na comparação com o ano anterior. No mesmo período, o consumo nacional alcançou o seu maior nível histórico: 1,069 milhão de sacas. Para Lima, a melhora da qualidade e o leque de opções são fatores que justificam a maior demanda pelo produto. “São vários blends de canéforas e arábicas, além da diversificação dos processos, como o aglomerado, o spray dried ou o freeze dried, que tem várias aplicações, e também os muitos tipos de embalagens. Com isso criou-se uma prateleira maior para os consumidores”, explica. 

Na prática, a versatilidade, o preço da dose e sua maior vida útil também são fatores a favor do solúvel, como menciona a consultora da Abics, Eliana Relvas: “no caso do solúvel, não tem desperdício. O consumidor faz doses únicas, geralmente 1g ou 1,5g por xícara, misturado com leite ou água. Além disso, pode durar até dois anos se embalado corretamente. Já o torrado e moído tem uma validade menor, pois oxida mais rápido”, comenta. “Lembrando que o café solúvel é só café e água. Usamos só pressão e temperatura em sua produção”, destaca.

Hoje, o solúvel representa 28% do consumo total global e 5% no cenário brasileiro – número este que vem crescendo nos últimos anos, como mostra a série histórica da Abics (veja imagem abaixo), que os acompanha desde 2016. 

“Como segundo maior consumidor de café, o Brasil tem muito espaço para crescer no consumo do produto, e isso está muito ligado à nossa capacidade de transmitir aos consumidores que o café solúvel não é tudo igual, que tem, sim, várias aplicações”, afirma Lima. “As expectativas são as melhores e devemos seguir crescendo no Brasil a um ritmo bastante interessante”, completa.

TEXTO Gabriela Kaneto
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