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Saiba mais sobre polinização por abelhas no café

Quantas abelhas têm no meu café?

A polinização – transferência de pólen entre as partes masculinas e femininas das flores, permitindo a fertilização e a reprodução – pode ocorrer pelo vento, pela água ou por animais. Entre os polinizadores mais importantes estão as abelhas. 

Estima-se que existam mais de 20 mil espécies – 2 mil no Brasil –, sendo que apenas 50 são manejadas em escala comercial, com cerca de uma dezena amplamente utilizada para a polinização agrícola. De 75 culturas de interesse econômico estudadas no Brasil, 87% são polinizadas por abelhas. Nas plantações de café, as mais comuns são a africanizada e as nativas irapuã ou arapuá (Trigona spinipes) e jataí (Tetragonisca angustula), mas não se sabe quantas espécies visitam os cafezais no mundo. Culturas polinizadas por animais costumam atingir preços de venda mais altos no mercado.

3,2,1… vai! 

Quando o alimento compensa a visita de uma abelha, ou seja, a distância que ela percorreu entre as flores e a colmeia (ninho) ou o esforço feito remexendo a flor para consegui-lo, elas estabelecem uma rota para explorá-los.

O teste clássico que inaugurou estudos sobre condicionamento animal foi feito pelo médico russo Ivan Pavlov no fim da década de 1920 com cachorros, associando um sinal (sineta) a uma recompensa (alimento), um processo básico de aprendizagem.

O treinamento das abelhas é simples. Na primeira etapa, ela é apresentada ao cheiro, que é reforçado pelo açúcar. Na segunda, a abelha toma contato com as biomoléculas, mas, também, com outros cenários possíveis, ainda sem recompensas. Odores não são percebidos diretamente como os estímulos visuais das flores (cores e formatos), pois dependem de sua dispersão pelo vento, podendo se misturar a outros cheiros (o termo adequado é fragrância, um “blend” único de cada espécie – neste caso, de plantas). Elas os percebem por meio de sensores químicos nas antenas, codificando-os no cérebro. Conseguem discriminar, inclusive, compostos voláteis e misturas de compostos (fonte: João Marcelo Robazzi e colaboradores em “Como treinar sua abelha”).

Comportamento e diversidade

Geralmente recobertas por pelos adaptados para coletar e transportar pólen, além de estruturas nas patinhas, as abelhas também têm comportamentos distintos. Algumas têm paladar mais curioso, enquanto outras visitam somente flores da mesma espécie. Abelhas nativas costumam ser fieis – algumas podem visitar a mesma flor várias vezes, enquanto ela tiver recursos alimentares. Bom para ela, que não precisa deslocar-se muito, bom para a flor, que aumenta suas chances de reprodução. 

A prática de alugar colmeias ou criar abelhas nas áreas de produção, quer sejam apiários ou meliponários (de abelhas sem ferrão), tem sido cada vez mais comum. Há, também, uma tendência internacional crescente, os hotéeis de abelhas solitárias (no Brasil, o serviço ocorre apenas em âmbito acadêmico). Isso porque as solitárias representam a maior diversidade entre as abelhas catalogadas no mundo. Diferentemente das abelhas sociais, que mantêm seus ninhos ativos o ano todo e são generalistas (visitam diversas espécies de flores), as solitárias tendem a ser mais especialistas, muitas vezes visitando uma única espécie floral.

Os comportamentos são quase tão variados quanto a diversidade de espécies. Abelhas como a mandaçaia (Melipona quadrifasciata), por exemplo, são conhecidas por vibrar o tórax enquanto coletam pólen. Condições externas, como temperatura e umidade, influenciam diretamente o comportamento de forrageamento das abelhas, que de modo geral, trabalham durante o dia. 

As abelhas planejam, quase que diariamente, sua rota de voo. Enquanto jataís voam num raio de até 500 m, mandaguaris podem forragear num raio duas cinco vezes maior. A comunicação entre flores e polinizadores, baseada em sinais como cor, forma e fragrância, é peça-chave nesse processo. Cores vibrantes são percebidas rapidamente pelas abelhas, mesmo a longas distâncias, ajudando-as a identificar recursos antes mesmo de pousar na flor. Há até plantas que secretam cafeína no néctar para viciar abelhas.

As Apis também são mais agressivas e altamente competitivas e, por isso, tanto na polinização assistida quanto na polinização guiada, demoram-se pouco no campo – o tempo de duração da florada, que leva de três a cinco dias.

Por que preservar a paisagem 

Matas nativas preservadas ou áreas degradadas recuperadas não atraem apenas abelhas. Existem as possibilidades de o produtor de cafés ser remunerado por estes serviços ambientais. “Ele pode receber pagamento em função das áreas preservadas (Pagamento por Serviço Ambiental), créditos de carbono pela mata que restaurou ou pelo carbono fixado no solo pela cultura que ele plantou nas áreas desocupadas”, enfatiza Menezes. 

Outra novidade é poder receber créditos de biodiversidade. “É um negócio supernovo, proposto na COP Canadá em 2022 e que já está estabelecido pela ONU como uma meta”, lembra o cientista. Ou seja, o cafeicultor que restaura uma área natural pode receber por isso: assim como créditos de carbono compensam emissões de gases de efeito estufa, os créditos de biodiversidade incentivam a proteção de habitats, a recuperação de espécies ameaçadas e a manutenção de serviços ecossistêmicos, criando valor econômico para a preservação ambiental.

Outro grande canal de retorno econômico para o produtor são os processos de certificação e agregação de valor do café. “Quando ele investe em ser sustentável, com métricas e parâmetros claros, ele vai acessar mercados sustentáveis, terá seu café valorizado. É a chance do Brasil rebater as críticas que temos de nossa agricultura”, diz Menezes. 

TEXTO Cristiana Couto

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