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Cafeína Open, programa de inovação da 3corações, abre inscrições até dia 31

O Grupo 3corações anunciou três novos desafios do Cafeína Open, programa de inovação aberta que busca conectar a marca a startups, centros de pesquisas, empresas e universidades para solucionar desafios das áreas de negócio da campanha. As inscrições vão até 31 de maio.

Os três novos desafios do programa, que está em seu terceiro ciclo, têm como objetivo encontrar soluções para acelerar os processos de desenvolvimento e lançamento de novas bebidas UHT, aumentar o aproveitamento eficiente e sustentável do subproduto farelo de milho (gérmen de milho) e tratar os efluentes do processamento das cápsulas de cafés e multibebidas.

Nos dois primeiros ciclos do programa, cerca de 300 startups se inscreveram, e 85 foram selecionadas para apresentar suas soluções à empresa.

Informações e inscrições: www.cafeinahub.com.br

TEXTO Redação

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“Queremos ser a principal marca global de cafeterias”, diz CEO da The Coffee

Carlos Fertonani, CEO e cofundador da The Coffee, pretende chegar em duas mil unidades em cinco anos 

À esquerda, Carlos Fertonani, seguido por seus irmãos Alexandre e Luis

Com 195 unidades no Brasil e 15 na Europa em cinco anos de existência, a rede de cafeterias The Coffee é o ouro negro de Carlos Fertonani, de 46 anos. Cofundador e CEO da empresa, de DNA nacional mas inspiração japonesa, o curitibano pretende, até 2028, chegar à marca de 2 mil lojas mundo afora. 

Com um novo aporte na empresa de US$ 10 milhões, firmado em outubro de 2023, e a aposta em um modelo de franquia, Fertonani quer entrar com tudo na Europa, na Ásia e nos Emirados Árabes. Ele e seus sócios e irmãos, Alexandre e Luis Fertonani, também querem incrementar a presença da The Coffee no Chile, no Peru e no México.

De sua cidade natal, Carlos Fertonani conversou com a Espresso sobre o modelo de negócio e os planos de expansão da empresa, design, tecnologia e sua percepção do mercado consumidor de cafés especiais. “Empreender é ter persistência”, define. A seguir, a entrevista.

Espresso: Como você começou no mercado de cafés e por que decidiu criar a The Coffee?

Carlos: Eu conhecia um pouco do mercado de café antes de abrir a The Coffee. Já tinha me envolvido em um projeto da cafeteira Aram, de Maycon Aran, o que me levou a participar das feiras sobre a bebida. Então, além de consumir e gostar da bebida, comecei a entender mais desse setor, o que significava realmente um café especial, o que era a terceira onda de café. Em 2017, eu e meus irmãos fizemos uma viagem ao Japão e, na época, o mercado de cafés de lá era muito mais evoluído do que o daqui, a bebida estava bombando, havia muitas cafeterias de cafés especiais. E lá tinha esse modelo de cafeterias bem pequenas, de portinha, em que o barista atende o cliente de frente pra rua, como um take away ou to go. Esse modelo não funcionava ainda no Brasil, mas aí pensamos em trazer o conceito, porque seria uma maneira de instruir as pessoas de que aquele café era pra levar, “to go”. 

E: Como foi o processo de sair de uma primeira loja para uma rede de cafeterias? 

C: Montamos a primeira loja em Curitiba, de portinha, pequenininha, mas com o conceito parecido com todas as outras que temos: diagramação visual, aplicativo, tablet. Dali a 8 ou 9 meses, abrimos a segunda, que já  foi uma franquia. A gente não queria montar só uma loja, idealizamos o negócio para ser uma marca, uma rede. Entendemos que tínhamos que dar todo o suporte, o know how ao franqueado, como prover produtos sistema, modelo e treinamento. Nos especializamos nisso. A terceira loja abriu em 2019, na Rua dos Pinheiros, em São Paulo. Neste meio tempo, recebemos uma oferta de um fundo venture capital [fundo de investimentos que foca em empresas iniciantes] e fechamos um acordo. A ideia dos investidores era que a gente fizesse mais lojas próprias do que franquias. Hoje temos 13 lojas próprias, mas mantemos o foco no modelo de franquia, que está cada vez mais enraizado na nossa cultura. 

E: Você acredita que o modelo de franquia é melhor do que o de lojas próprias?

C: Hoje estamos com 210 lojas, sendo 5% delas próprias. O modelo de franquias funciona muito bem pra nós, mas cada negócio é um negócio. Existem negócios em que o modelo de franquias talvez não funcione tão bem, como, por exemplo, o caso da Aesop [marca de cosméticos de luxo australiana recentemente adquirida pela L’Oréal]. Eles têm cerca de 200 lojas pelo mundo, todas próprias, mas é um modelo diferente, muito conceitual, sem o objetivo de escalada – eles só querem ter duas, cinco lojas nas principais capitais. Neste caso, o modelo de loja própria se encaixa. Mas quando falamos de milhares de lojas, não há como fazer isso com capital próprio, mesmo que se faça captação de investimento ou financiamento (e fazer dívida é muito perigoso). Mas o modelo de franquia descentraliza o negócio: cada um cuida do seu e nós cuidamos da marca. 

E: Vocês receberam uma segunda rodada de investimentos para uma expansão internacional. Como estão planejando esse crescimento?

C: Continuaremos a expandir com o modelo de franquia. Na Europa, onde fizemos nossa primeira expansão internacional, temos uma operação própria. Mandamos um time para lá e abrimos a nossa loja. Hoje são 15, e o restante são franquias. Mais 15 unidades serão abertas nos próximos cinco meses, em Portugal, na Espanha e na França. Já nos países não europeus, como Peru, Chile e México, o modelo será o de master franquia. Ou seja, em cada novo país em que entraremos com esse modelo, os master franqueados vão começar a incluir mais lojas. Por exemplo, abrimos uma loja no Peru e o master franqueado de lá já está para abrir outras duas lojas. A mesma coisa está acontecendo no Chile. Isso vai aumentar o ritmo de expansão. Mas também estamos de olho em outros países europeus e temos, ainda, um acordo com os Emirados Árabes. Ainda não abrimos a loja, mas já temos o ponto, assim como na Tailândia. 

E: Qual a previsão dessa expansão para os próximos anos no Brasil? Ou já há um número suficiente de lojas?

C: Acreditamos que o Brasil tem um potencial para mais mil lojas. Estamos com quase 200 lojas no país hoje. O ritmo de expansão vai desacelerar um pouco, mas continuaremos crescendo. Mas queremos achar os franqueados certos, os pontos certos. A gente estava crescendo muito rápido. Tínhamos quiosques, o que facilitou o ritmo de crescimento, mas isso não é legal para a marca, porque ela acaba sendo caracterizada como um café de quiosque. 

E: E qual a previsão do total de lojas a longo prazo?

C: Montamos um plano para apresentar aos investidores, e queremos, nos próximos cinco anos, chegar a 2 mil lojas. 

E: As lojas da The Coffee, em sua maioria, são pequenas (entre 10 e 12 m2). Esse é o modelo que mais cresce  hoje?

C: A gente aumentou o portfólio de lojas. Hoje temos lojas grandes, chamadas premium. Não sabemos qual vai ser a proporção, calculamos algo como 30% lojas premium para 70% lojas pequenas. Quanto a estas,temos lojinhas de 10 até 50 m2, com o mesmo portfólio de produtos. A comida é minimalista: cookies, brownies e bolos. Desenvolvemos essas cozinhas locais, para cada cidade poder fornecer para as lojas que estão ao redor. E são receitas nossas, e fazê-las não é um bicho de sete cabeças, é apenas conseguir manter padrão e consistência. As lojas só finalizam as receitas. Além disso, estamos desenvolvendo a seção de panificação, com croissant, pain au chocolat e pães de fermentação natural para fornecer para as lojas premium, que servirão brunch. Ou seja, estamos nos especializando nesses produtos, que combinam com café. E isso permite que a gente faça lojas maiores. O ideal é que a gente não dependa do café. 

E: Como é o processo de escolha dos cafés? Eles têm várias origens ou trata-se de um blend único para as lojas?

C: Temos três categorias: o White, o Kraft e o Black. O White é para todas as bebidas à base de espresso e, atualmente, vem de um único fornecedor, a CarmoCoffees. Nas opções Kraft e Black, destinadas aos coados – e teremos a opção também para espressos –, trabalhamos outras variedades, e sempre temos novidades. A gente compra café verde das fazendas, fazemos nossa torra em Curitiba e mandamos para o país inteiro. Temos também uma torrefação na Europa, para onde enviamos o café verde. Os pacotinhos têm QR Code com o nome do produtor, a altitude em que o café foi produzido, a variedade, o processamento e tudo o mais. O Kraft, acima de 85 pontos, e o Black, acima de 88 pontos, são microlotes variados. 

Espresso: Essa expansão internacional terá cafés brasileiros? 

C: Na maior parte das vezes sim, porque o café brasileiro é muito bom, e temos contato com muitas fazendas. O que não impede que a gente busque outros fornecedores. Na Europa, por exemplo, o White é café brasileiro, mas o Kraft e o Black são de outros lugares. Tem café colombiano, do Vietnã, da Etiópia…

E: Como vocês enxergam hoje o consumidor brasileiro de café? No caso do The Coffee, é um cliente que entra na loja buscando café especial ou apenas um consumidor que quer tomar, rapidamente, um café com um amigo?

C: Poucas pessoas entendem o que é café especial, e, mesmo que você monte uma história, um conceito e ganhe credibilidade, muitos vão acabar indo na onda. Muita gente acha que o café da Starbucks é bom porque eles carregaram isso na sua história. Mas a gente não pode descuidar da qualidade do café, porque os formadores de opinião são as pessoas que levam a nossa marca. Então, temos um cardápio de cafés autorais. A maioria das pessoas prefere uma bebida mais adocicada, e mesmo que o cliente fique sabendo, de um formador de opinião, que temos um bom café, ele pede um flat caramelo. No Brasil, 70% do que vendemos são cafés açucarados, bebidas de assinatura que têm caramelo, vanilla. Na Europa, o pessoal não gosta de açúcar. O cardápio é parecido, e o que muda é a proporção: vendemos mais bebidas puristas do que açucaradas. A gente também acredita no design dos produtos e das lojas para atrair pessoas e consolidar a marca.

E: Design e tecnologia foram duas bandeiras de vocês para este ponto de varejo de café. Por que vocês pensaram nesses dois quesitos? Quanto à tecnologia, ela é usada para monitoramento de métricas e dados ou apenas para atender o consumidor?

C: Design e tecnologia estão no nosso DNA. Meu irmão Luis é designer, e a parte tecnológica veio da minha experiência com uma startup de tecnologia e da minha formação em administração. Achei que ela nos ajudaria a monitorar toda a rede, ainda mais por termos franquias. Usamos a tecnologia para tudo. A gente está desenvolvendo, cada vez mais, um painel em que conseguimos monitorar todas as lojas. Por exemplo, se elas estão com os produtos ativos, quanto estão vendendo, que baristas estão trabalhando e quais são certificados, tudo “real time”, integrado. 

À esquerda, Carlos Fertonani, seguido por seus irmãos Alexandre e Luis

E: Temos falado muito de sustentabilidade. E quando falamos de café, tratamos de origem, clima, ESG etc. Como a The Coffee trabalha sustentabilidade?

C: Olhamos muito para a cadeia do café. Temos feito um trabalho com um parceiro para comprar café verde. Por enquanto, eles estão presentes nas categorias Kraft e Black, mas queremos incluir a categoria White. Conhecemos pouco do funcionamento de uma fazenda, pois estamos do outro lado do balcão. E esse pessoal tem conhecimento, dedica-se à pegada de sustentabilidade, transparência e valorização do trabalho dos produtores. Além disso, as comidas que produzimos não têm corantes nem conservantes, usamos produtos naturais. 

E: Qual é o maior sonho, seu e dos seus irmãos, e que conselho você daria para um empreendedor que está no início da jornada?

C: Em relação ao sonho, vamos continuar a construir a marca, e tentar levá-la para o mundo. Assim como a Starbucks foi a principal marca de café na segunda onda, queremos ser a principal marca da terceira onda, e globalmente. Quanto à dica para um empreendedor, eu diria que é persistência. Empreender não é fácil. Quem lê matérias sobre o assunto acha que é só sucesso, mas é paulada o tempo inteiro, o dia inteiro, de funcionário, franqueado, investidor, cliente. É bronca! 

Texto originalmente publicado na edição #82 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Caio Fontes • FOTO Divulgação

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Consumo diário de café nos EUA é o maior em 20 anos, revela estudo

O consumo diário de café nos Estados Unidos alcançou o maior nível em mais de duas décadas, com aumento de 37% desde 2004. Segundo estudo da NCA (Associação Nacional do Café do país), 67% dos adultos americanos beberam café nas últimas 24h. Segundo a própria NCA, a associação pesquisa hábitos de consumo de café no país há mais de 70 anos.

O relatório “Tendências nacionais de dados do café da primavera de 2024” revelou que três quartos dos adultos nos EUA consumiram café na última semana – um aumento de 4% em relação a 2023. O aumento no consumo diário da bebida é impulsionado pelos consumidores acima de 25 anos, e maior entre os acima de 60 anos (de 67% para 73%). Já o consumo por jovens de 18 a 24 anos permaneceu estável (47%).

A pesquisa também destacou avanço no consumo de café especial, com 57% dos entrevistados consumindo essa qualidade de grão na última semana (crescimento de 7,5% em relação a 2023). Lattes, espressos e cappuccinos lideram as preferências entre as bebidas à base de espresso.

Já o café pronto para beber é o terceiro método de preparo mais popular (15%, quase o dobro em relação ao ano passado, com 8% das preferências). Entre os preparos domésticos, cafeteiras elétricas e espressos (monodoses) continuam sendo os mais comuns.

TEXTO Fontes: NCA e Daily Coffee News • FOTO Agência Ophelia

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Cafeterias criam combos especiais para a 9ª edição do Recife Coffee, em maio

O Recife Coffee chega à sua 9ª edição com a participação de 40 cafeterias do Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Taquaritinga do Norte e Gravatá. Durante o evento, que acontece entre 5 de maio e 9 de junho e busca disseminar a cultura dos cafés especiais na região, cada casa oferecerá uma sugestão do barista, composta por um café, um salgado e uma sobremesa a R$ 41,90. Clique aqui para conferir as sugestões dos baristas.

A abertura do roteiro acontece com a realização do Café na Rua, evento gratuito marcado para 4 de maio, das 9h às 17h, no Recife Antigo (avenida Rio Branco). Durante o dia serão distribuídos, gratuitamente, espressos, filtrados e cappuccinos, e será organizada uma feira de artesanato com artigos relacionados ao universo do café, além de palestras, concurso de latte art, shows e atividades culturais. 

A 9ª edição do Recife Coffee é realizada pela Associação de Cafeterias de Especialidade de Pernambuco (Ascape) e conta com o patrocínio da Santa Clara Café, A Tal da Castanha, AZO Roasters, Café do Brejo, Kaffe Torrefação e Treinamento, Takwary Café Premium, Tulla Café, MX Copos e Potes, Koar e J3 Wear.

Cafeterias participantes

Recife: 81 Coffee Co., A Vida é Bela Café, Aurora Café, Borsoi Café, Café com Dengo, Café do Brejo, Café mais Prosa, Casa Mendez, Castigliani, Celeste Café, Coffee Cube (Jaqueira e Torre), Elã Cafés Especiais, Emê Cafeteria e Bistrô, Ernest Café e Bistrô, Furdunço Café e Bistrô, Grão Cheff, Kaffe (Espinheiro e Boa Viagem), La Fuent, Livraria da Praça, O Melhor Cantinho da Cidade, Palasti (Aurora e Ilha do Leite), Pingo Café e Arte, Por Enquanto Café, Pure Cafés Especiais, Santa Clara (Graças e Parnamirim) e Versado Café (Boa Viagem, Derby e Graças)
Olinda: Zoco Café, Xêro Café e Arte, Cafeliê e Olinda Café
Jaboatão dos Guararapes: Fridda Café e Nouve Café
Taquaritinga do Norte: Takwary
Gravatá: d’Arte Café e Cozinha

TEXTO Redação • FOTO Filipe Ramos

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SCA anuncia revisão do modelo de associação e acesso ampliado a conteúdos

Neste ano, a SCA (Specialty Coffee Association) vai introduzir a primeira grande reformulação do seu programa de membros. O novo modelo, com novos preços e recursos mais elaborados, busca conectar a comunidade internacional em crescimento. 

Com as finanças alinhadas  – o capital da SCA é, atualmente, de US$12,5 milhões, em comparação ao capital negativo de US$1,8 milhões durante a pandemia –, há ainda a promessa de investimento intensivo na expansão de seu conteúdo a empresas e pessoas, a partir de uma nova plataformas e em diferentes idiomas. Segundo a SCA, a nova plataforma vai proporcionar experiências personalizadas a cada usuário. 

Essas são as principais questões alinhadas no relatório anual de 2023 da maior organização mundial de comércio de café, publicado no último dia 11 e que focou em modernizar ferramentas e revisar diretrizes seguindo a agenda de sustentabilidade no café. 

Em 2023, a SCA também desenvolveu a Avaliação de Valor do Café (Coffee Value Assessment ou CVA), uma atualização com base em pesquisas científicas atuais do seu tradicional protocolo de degustação (desenvolvido em 1984 e desde então, utilizado mundialmente), que direciona de forma “honesta”, segundo as palavras do CEO da instituição, Yannis Apostolopoulos, como o valor do grão é “gerado, capturado e distribuído” ao longo da cadeia do café especial.

Ainda segundo o relatório, o objetivo da associação em expandir seu alcance vai inseri-la em outras feiras e eventos no setor, como a World of Coffee Panama 2026, no Panamá, e na World of Coffee Busan 2024, na Coreia do Sul. 

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

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Nova percepção de valor de um especial

O lançamento do novo protocolo de degustação da SCA, programado para 2025, promete transformar o mercado dos cafés de qualidade

Após três anos de pesquisa, a SCA (Specialty Coffee Association) desenvolveu um novo protocolo de avaliação de cafés especiais, o Coffee Value Assessment ou CVA (avaliação do valor do café, em português), previsto para ser lançado em 2025. O novo protocolo traz uma abordagem inovadora ao integrar métodos modernos de análise sensorial às descobertas da psicologia, do neuromarketing e de conhecimentos sobre o mercado consumidor.

O Coffee Value Assessment, ainda em fase beta (de testes), atualiza uma ferramenta crucial de avaliação de qualidade em café – o protocolo SCA – ao levar em conta a demanda do mercado de especiais. Vale lembrar que o protocolo SCA utilizado atualmente tem raízes em 1984, quando Ted Lingle escreveu o manual de degustadores de café e a roda de aromas.

Como instrutora autorizada da SCA, fiz em 2023 o curso sobre o CVA conduzido por Mario Fernandez Alduenda, técnico responsável pela divulgação do novo protocolo.

Pouco depois, ao dar uma palestra sobre o assunto em Belo Horizonte, na Semana Internacional do Café 2023, percebi inquietações na plateia. As alterações feitas em uma ferramenta tão sensível como é o protocolo de prova e degustação de cafés da SCA provocou apreensão naqueles que fazem uso dela, especialmente quando são informados de que atribuir pontuações a um café já não é mais o objetivo principal do novo protocolo.

Neste texto para a Espresso, faço meus comentários quanto ao CVA a partir de dois pontos de vista: o de pesquisadora e o de aluna. Como pesquisadora em neuromarketing gastronômico – disciplina que combina neurociência, psicologia e marketing para compreender o comportamento de consumidores e, assim, incrementar estratégias de marketing –, pude avaliar como o consumidor de café percebe a qualidade do grão na xícara e quais os fatores relevantes para o incremento dessa percepção. Em meu estudo, feito na Espanha em parceria com a fusiónLab, especialista em neuromarketing aplicado, utilizei ferramentas e técnicas bastante específicas.

Como resultado, descobrimos que consumidores habituais de café tradicional conseguem identificar a qualidade superior do café especial. Também demonstramos que, mesmo em recipientes feitos de diferentes materiais, a percepção de qualidade se mantém e que o storytelling da origem e do processamento do café é o principal fator na experiência do consumidor com especiais, elevando sua apreciação. Este é um resultado surpreendente, pois quebra a ideia de que o hábito não supera a
qualidade de um produto. E que, mais importante que o recipiente que acondiciona o café é o cuidado na sua apresentação.

Já como aluna, fiquei curiosa em saber em que parâmetros o protocolo CVA difere dos métodos atuais de avaliação de cafés. De acordo com o CVA, as características de um grão têm impacto em nossa compreensão quanto ao seu valor tanto em termos de qualidade (intrínseco) como em relação a fatores externos, como a origem e a história da fazenda. Esse valor depende muito do mercado consumidor e de sua percepção do grão. O que define o CVA, portanto, é que a pontuação tradicional do protocolo SCA não tem mais o mesmo peso na avaliação de valor de um grão de qualidade.

O CVA baseia-se, assim, em atributos de sabor e de valor do café. Nessa nova avaliação, consideram-se duas classes de atributos: os intrínsecos e os extrínsecos. Os intrínsecos incluem perfil sensorial, torra, tamanho do grão e pontuação, enquanto os extrínsecos consideram a origem do café, as certificações que ele possui e a identificação da fazenda onde foi cultivado, assim como a do produtor e a da marca. Esses atributos, por sua vez, organizam-se em quatro pilares: avaliação física do grão, avaliação dos seus atributos sensoriais de sabor, avaliação afetiva de impressão de qualidade dos atributos de sabor e avaliação extrínseca – este último, embora já seja utilizado pelo mercado de especiais, agora tem a oportunidade de estar documentado como um fator de peso. Quanto mais atributos forem somados, mais especial será o café.

Portanto, são duas as grandes novidades do CVA: a separação entre avaliação sensorial descritiva e avaliação afetiva (impressão de qualidade do atributo sensorial) e a incorporação de fatores extrínsecos (que contribuem muito para o valor do café). A avaliação descritiva inclui a lista CATA (check all that apply, que significa “verifique tudo o que se aplica”). Já a avaliação afetiva serve para verificar a qualidade dos atributos registrados na descrição – se ela é positiva ou negativa. Assim, o CVA, a partir dessa reordenação, tornou-se mais fidedigno à análise sensorial moderna.

Durante minha palestra na SIC, os principais questionamentos do público diziam respeito ao fato de que o CVA não considera mais apenas a pontuação de um café para definir sua qualidade. Sim, é verdade. Isso, porém, não significa que este quesito vai ser eliminado, mas, sim, que ele vai ser diferente do que foi até agora (80 a 100 pontos), aproximando-o da pontuação utilizada na avaliação sensorial de vinhos (0 a 100 pontos). E será o mercado que irá definir quais os atributos que mais pesam na hora de determinar o valor de um lote. Essa adaptação visa atender a diferentes mercados consumidores, que desejam diferentes perfis de cafés, pois a pontuação já não define mais um lote.

Quanto à segunda novidade, mensurar os atributos extrínsecos do grão (que contribuem significativamente para o seu valor) fornece ao mercado uma visão holística das características do café, o que, por sua vez, permite que compradores e vendedores avaliem seu valor de mercado de forma mais abrangente. Ou seja, se avaliar a qualidade sensorial da bebida na xícara é fundamental para aqueles que apreciam cafés especiais, a decisão de compra dos grãos também leva em consideração os elementos extrínsecos.

Pesquisas recentes destacam o interesse cada vez maior dos consumidores em saber a origem do café e seus atributos relacionados à sustentabilidade, como práticas orgânicas de cultivo e certificações de comércio justo. A história do lote e da fazenda onde ele foi cultivado também interfere na percepção de qualidade e nas preferências de consumidores e mercados, influenciando as decisões de compra.

Vale reforçar que se trata de um protocolo em fase beta, o que significa que ele pode sofrer adaptações até seu lançamento. Além disso, colocá-lo em prática vai ajudar a SCA a fazer ajustes que, porventura, surjam pelo caminho. De qualquer modo, a inclusão dos atributos extrínsecos na valoração de um grão de qualidade irá melhorar a comunicação voltada aos consumidores, que conseguem identificar qualidade quando é informado a eles a história por trás daquela xícara. É fundamental, porém, que essa nova maneira de atribuir valor aos cafés chegue, também, aos produtores. Há cada vez mais pesquisas sobre o universo dos cafés de qualidade e, também, um consenso de que o produto evoluiu significativamente nos últimos 20 anos. Assim, o novo protocolo de degustação dos grãos especiais deve refletir essas novas conquistas.

Ferramentas de neuromarketing

Existem várias ferramentas e técnicas utilizadas em neuromarketing para obter insights sobre respostas emocionais e cognitivas dos consumidores. Algumas delas são:

Ressonância Magnética Funcional (fMRI): Esta técnica de neuroimagem é usada para medir a atividade cerebral enquanto os participantes respondem a estímulos de marketing, como anúncios ou produtos. Ela oferece informações sobre áreas específicas do cérebro ativadas durante experiências diferentes.

Eletroencefalografia (EEG): O EEG registra a atividade elétrica do cérebro, proporcionando uma visão, em tempo real, das respostas cerebrais às diferentes estimulações. É frequentemente utilizado para medir atenção, emoções e níveis de envolvimento dos participantes de um experimento.

Eye Tracking (Rastreamento Ocular): Monitora os movimentos oculares para determinar para onde os
participantes estão olhando. Isso ajuda a identificar áreas de foco em anúncios, embalagens de produtos e outros elementos visuais.

GSR (Galvanic Skin Response): A GSR mede as mudanças na condutância da pele, indicando variações no nível de excitação ou estresse dos participantes diante de estímulos específicos.

Medição de Ritmo Cardíaco: A frequência cardíaca pode ser monitorada para avaliar o nível de excitação ou ansiedade em resposta a estímulos de marketing.

Técnicas de Resposta Emocional: Incluem métodos como o Facial Coding, que analisa expressões faciais para avaliar as respostas emocionais dos participantes.

Pesquisas Implícitas: Usam tarefas indiretas para capturar reações subconscientes, como associações
automáticas entre conceitos e emoções.

Realidade Virtual (VR) e Realidade Aumentada (AR): Permitem simular experiências de compra dos participantes ou sua interação com produtos em um ambiente controlado para captar essas reações.

Texto originalmente publicado na edição #83 (março, abril e maio de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Josiana Bernardes é fundadora do Idcoffeelab, na Espanha, especialista em neuromarketing gastronômico e instrutora autorizada da SCA. • FOTO Agência Ophelia

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Orfeu lança microlote em homenagem a Oscar Niemeyer

Das curvas de grandes edifícios às embalagens de café, o novo microlote especial da Orfeu Cafés Especiais homenageia um dos principais arquitetos brasileiros: Oscar Niemeyer. A novidade, lançada na última quarta (3) durante a SP-Arte, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo (SP), é um blend das variedades bourbon amarelo e arara, colhidas de pés plantados em torno da capela Santa Clara, projetada pelo arquiteto no interior da Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama (SP). 

A ideia da edição limitada vem, justamente, da conexão entre esta construção e o cafezal. “É mais do que o lançamento de um produto, é uma retribuição a um presente que o Niemeyer deu aos funcionários da fazenda”, comenta Fábio Gianetti, diretor de marketing da Orfeu, referindo-se aos trabalhadores da propriedade, que desejavam um lugar para rezar. Foi assim que o arquiteto projetou a capela, em 2008.

Disponível no e-commerce da marca nas versões grão (250 g, R$ 33,50), moído (250 g, R$ 33,50), drip coffee (dez sachês, R$ 39,90) e cápsula compatível com Nespresso (dez unidades, R$ 33,50), o microlote chama a atenção pela embalagem criada pelo designer Pedro Cappeletti. “Em uma conversa com Ricardo Niemeyer, maquetista do Niemeyer, me caiu uma ficha”, lembra o designer. “Ele tinha que fazer em maquetes uma coisa muito parecida com o que eu ia ter que fazer com embalagens, que é transformar papel em curvas. Acho que este foi o insight que norteou todos os movimentos”, explica. 

Depois de meses de testes tentando curvar papéis para transformá-los em embalagens adequadas, Cappeletti chegou a quatro modelos finais. “O Niemeyer fez com os prédios, que eram retos e ele curvou, a mesma coisa que foi feita com as embalagens, que eram caixinhas retas e que foram curvadas. Então, tem este paralelo entre arquitetura e embalagens”, comenta Cappeletti.

E se Oscar Niemeyer projetasse xícaras de café?

Com essa pergunta em mente, a equipe da Orfeu, em parceria com a família Niemeyer, desenvolveu um trio de xícaras de cerâmica inspiradas na obra do arquiteto brasileiro. Neste projeto, houve o treinamento de Inteligência Artificial para alcançar ao máximo o estilo de Niemeyer. As peças, esculpidas manualmente pelo artista plástico Lair Uaracy e pelo ceramista Fernando Aidar, do Estúdio Caboco, estão expostas na cafeteria da marca, na SP-Arte, e depois irão para centros culturais. A ideia é que, futuramente, elas sejam comercializadas. 

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

CafezalMercado

Nespresso quer gastar US$ 20 milhões para desenvolver cafés no Congo

A Nespresso anunciou hoje (27/3) que pretende gastar US$ 20 milhões entre compras de café e fornecimento de assistência para a República Democrática do Congo, na África. Quer, também, ajudar na arrecadação da mesma quantia  para apoiar o setor cafeeiro na região leste do país. O compromisso faz parte do programa contínuo da Nespresso, “Revivendo Origens”, que assiste áreas produtoras afetadas por desastres naturais ou questões sociais. 

Já houve auxílio da empresa na região em 2021, por meio de aliança financiada pela USAID, a Aliança do Café Gorila. Nessa nova iniciativa, os parceiros, além da USAID e outras instituições, incluem cafeicultores de Kivu, principal área produtora de arábicas, no leste do país. 

Os US$ 20 milhões serão destinados a compras de café cru, a prêmios financeiros relacionados à qualidade e sustentabilidade (AAA da Nespresso) e a projetos em comunidades produtoras de agricultura regenerativa, acesso à água limpa e assistência médica, por exemplo.

TEXTO Fonte: Daily Coffee News • FOTO Daniel Fontes

Mercado

Louis Dreyfus vai adquirir 100% da brasileira Cacique

A Louis Dreyfus Company (LDC), conhecida operadora no setor de commodities agrícolas, anunciou nesta terça (26) a formalização de um contrato para adquirir integralmente a Companhia Cacique de Café Solúvel (Cacique), em comunicado conjunto das empresas, informa Reuters e Nasdaq. Reconhecida pela como uma das principais produtoras e exportadoras de café solúvel do mundo, a Cacique opera com duas instalações de processamento no Brasil e emprega cerca de mil pessoas.

A aquisição pretende fortalecer a posição da LDC no mercado de solúvel, setor no qual ingressou, recentemente, por meio de uma parceria no Vietnã. Além disso, busca expandir suas operações no comércio de café verde brasileiro.

Parte de uma estratégia mais ampla para diversificar as atividades, a LDC tem buscado aproximar-se do consumidor final no setor de alimentos, a fim de reduzir sua dependência das flutuações do mercado de commodities.

Embora detalhes financeiros da transação não tenham sido revelados, o fechamento da compra está condicionado à obtenção das devidas aprovações regulatórias.

TEXTO Fontes: NASDAQ / REUTERS • FOTO Felipe Gombossy

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“Se a EUDR melhora o meio ambiente, ela terá enormes impactos sociais”, diz Andrea Illy

Afirmação do presidente da illycaffè sobre regulamentação europeia antidesmatamento foi dada em coletiva na manhã desta quinta (21), em São Paulo 

Andrea Illy/Divulgação

No Brasil para a cerimônia de premiação do 33º prêmio Ernesto Illy na noite de quinta (21), o presidente da torrefadora italiana illycaffè participou, pela manhã, de entrevista coletiva para jornalistas do setor. 

Depois de um breve panorama da atuação da empresa no país, Andrea Illy afirmou movimentar-se para criar um fundo de bilhões de dólares ao ano para auxiliar países produtores do grão, reforçou os benefícios e a necessidade da adoção de práticas agrícolas sustentáveis e afirmou que o Brasil é o país mais preparado para as mudanças climáticas

A seguir, os principais trechos da conversa com jornalistas, no Hotel Renaissance, em São Paulo.

$ para o café

“Estamos tentando criar um fundo de resiliência para países produtores com objetivo de melhorar e renovar as plantações. Idealmente, ele deve ter bilhões de dólares por ano. A dificuldade é criar um modelo para ele. Vai ser um milagre se conseguirmos”.

Fundo para o Brasil?

“Devemos considerar que o Brasil é bem financiado por recursos do Estado e se há necessidade de mais investimento privado”.

Economia circular

“2/3 das emissões de carbono vêm da agricultura e a solução é a agricultura regenerativa. Quanto à indústria, a saída é a economia circular”.

By 2050

“Até 2050, 50% das terras adequadas para o café deixarão de ser devido às alterações climáticas”.

Agricultura Regenerativa

“Desde 2018, a illy tem um protocolo do que chama de agricultura virtuosa, que envolve não só sustentabilidade como também saúde. Os princípios: enriquecimento do solo com carbono orgânico, que nutre a microbiota do solo que, por sua vez, desenvolve serviços sistêmicos, como fixação de minerais e lutas microbiológicas contra doenças, resultando na diminuição do uso de defensivos e fertilizantes minerais”.

“A agricultura virtuosa permite que não só nos adaptemos às mudanças climáticas como mitiguemos seus efeitos, com hidratação do solo, aumento de biodiversidade e, acima disso, melhora na qualidade dos cafés”.

EUDR

“É uma ótima proposta. Mas quando se normaliza uma lei, é difícil considerar a complexidade do sistema. Países produtores, por várias razões, não são capazes de ter rastreabilidade de seus cafés para se adaptar a essa lei antidesmatamento. Os problemas serão enormes, principalmente para os países africanos. Se a lei melhora o meio ambiente, ela também terá enormes impactos sociais”.

Brasil e mudanças climáticas

“O Brasil, com diferentes ecossistemas, é o país mais adaptável aos desafios climáticos. No Cerrado Mineiro, além da mecanização, a política é renovar os cafezais a cada 12 anos. Há ainda o fato de que existem 80 milhões de ha de terras degradadas por pastagens, e 2 milhões de ha de cafezais”.

O valor de uma xícara de café

“A regra do jogo é não só aumentar o prazer na xícara mas também diversificar a qualidade, com diferentes origens e métodos de processamento, que tornam o café mais do que um complemento funcional, mas uma experiência sensorial e intelectual”.

2024 e o mercado

“Há eleições presidenciais em três grandes blocos: EUA, Europa e Rússia, que podem mudar o cenário mundial”.

2024 e os preços 

“Difícil falar de preço do café porque falta transparência no mercado. Segundo a OIC, houve um surplus de 1,2 milhões de sacas em 2023 e a expectativa para 2024 é de 4,5 milhões”.

Sobre a La Niña, que já vem

“Ela já é um efeito das mudanças climáticas. Para o Brasil, ela tipicamente traz mais chuva e diminui a temperatura. Mas é difícil prever, de um modo viável, como eventos climáticos podem impactar financeiramente o valor do café”.

Evolução do consumo

“50% do consumo mundial está no norte do mundo ocidental. A penetração nos países ricos já é elevada e, portanto, difícil aumentar esse consumo. Embora autocrático e mais fechado, a China tem enorme potencial de crescimento. Já a Índia tem altas taxas de importação para o café e não aposto que, na próxima década, o país seja um gigante de consumo”.

Inteligência Artificial na agricultura

“Todos os nossos processos são embasados em IA. Sistemas agroecológicos são complexos, e os de saúde, mais ainda. O maior desafio é criar bancos de dados que possam, por sua vez, criar modelos de IA com coerência. Esperamos que a Inteligência Artificial Generativa acelere esse processo”.

TEXTO Por Cristiana Couto