Mercado

Cafeterias de marca crescem 4,7% na Europa

Propostas com foco em qualidade e maior valor agregado impulsionam o crescimento do mercado de especial na França, Alemanha e Península Ibérica, segundo relatório da World Coffee Portal

O mercado europeu de cafeterias de marca cresceu 4,7% nos últimos 12 meses, alcançando 51.042 estabelecimentos — o maior aumento líquido de novas lojas em cinco anos. Os dados são do relatório anual Project Café Europe 2025, publicado pelo World Coffee Portal, que analisou 50 mercados do setor no continente. Mesmo diante de uma conjuntura marcada por inflação, custos operacionais elevados e preços recordes do café verde, 33 mercados expandiram o número de estabelecimentos, incluindo 15 dos 20 maiores.

O Reino Unido segue como líder absoluto, com 11.456 cafeterias de marca, seguido pela Alemanha (7.428) e pela Rússia (5.157). Entre as principais cadeias atuantes no continente, o McCafé mantém a liderança, com 3.983 lojas em 26 países, à frente do Starbucks (3.534) e do Costa Coffee (3.097).

A demanda por café fora de casa continua forte em toda a Europa, impulsionando o avanço das cadeias, apesar da queda na confiança do consumidor em diversos países. Mercados como Reino Unido, Alemanha, França e Rússia registraram, cada um, a abertura de mais de 100 novas lojas. Segundo o relatório, essa resiliência demonstra o apetite contínuo dos europeus por experiências premium em cafeterias, mesmo em cenários econômicos desafiadores.

Por outro lado, os altos preços do café verde, somados ao aumento de custos de energia e matérias-primas, têm pressionado os operadores. Como resposta, muitos elevaram os preços das bebidas. Um cappuccino regular, por exemplo, custa atualmente em média €3,69 — um aumento de 7,6% em relação ao ano anterior. Com isso, 31% dos líderes do setor classificaram o ambiente de negócios como “difícil”, frente a 19% na pesquisa anterior.

Ainda assim, os cafés diferenciados vêm ganhando espaço. As propostas de maior valor agregado e foco em qualidade estão impulsionando o crescimento dos mercados de café especial na França, Alemanha e Península Ibérica. Segundo o relatório, essa tendência pode abrir novas oportunidades para operadores que investem em hospitalidade-boutique e experiências sensoriais mais refinadas.

Apesar do otimismo generalizado entre os líderes do setor — 75% veem forte potencial de crescimento das cafeterias de marca na Europa —, alguns mercados sentiram a pressão. A Polônia, por exemplo, fechou 26 lojas, interrompendo cinco anos de crescimento contínuo. Suíça e Suécia também apresentaram retração de 6,3% e 5,7%, respectivamente.

Em contrapartida, a Turquia viu seu mercado de cafeterias de marca crescer 12,6%, ultrapassando 3,8 mil estabelecimentos, mesmo sob uma inflação que superou os 44% em 2024. Na Ucrânia, em meio à guerra, o setor teve expansão de 8%, superando 350 unidades.

O relatório conclui que o setor europeu de cafeterias de marca segue saudável, com mercados estabelecidos — como Reino Unido, Alemanha, França, Espanha e Itália — mantendo crescimento sustentado. Mercados menores como Croácia, Lituânia e Armênia também vêm se destacando.

A projeção do World Coffee Portal é de que o número total de cafeterias de marca na Europa chegue a 53.200 unidades nos próximos 12 meses e ultrapasse 60,9 mil estabelecimentos até março de 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 3,6%. Para Jeffrey Young, fundador e CEO do Allegra Group, o cenário é desafiador, mas promissor: “Mesmo com tensões geopolíticas, inflação e preços recordes do café verde, há uma demanda vibrante por café e cultura de cafeterias, capaz de sustentar um mercado europeu próspero nos próximos anos”.

TEXTO Redação / Fontes: Allegra Coffee Portal e International Comunicaffe • FOTO Divulgação

Mercado

A ascensão do café solúvel

Como o aumento do consumo nos últimos anos pode representar um novo mercado a ser explorado, tanto no Brasil como em nível global

Por Gabriela Kaneto

“Você viu o preço do café?”. Talvez esta seja a pergunta do momento. Em 2024, o custo do grão para o consumidor cresceu 37,4%, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Estoques baixos nos países produtores e nos consumidores, problemas climáticos – com projeções de que as condições devem persistir em 2025 – e a alta do dólar são algumas justificativas para o aumento de preços.

Com um café tradicional de 250 g superando a marca dos R$ 30 na gôndola, uma simples xícara cotidiana da bebida, tão comum aos brasileiros, pode parecer estar em jogo. Mas, em meio ao cenário incerto do torrado e moído, outros produtos registraram bons números nos últimos meses.

Patinho feio por muitos anos, o café solúvel está em ascensão. Segundo a AbicsData, plataforma da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), em 2024 o Brasil registrou não só recordes nas exportações como, também, no consumo interno, que bateu seu maior nível da história: 1,069 milhão de sacas.

“O solúvel está sendo inserido como mais uma forma de tomar café em determinados momentos do cotidiano”, afirma Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Abics. “No mundo, hoje, o solúvel representa 28% do consumo total. No Brasil, este número está em 5%, mas vem crescendo”, menciona ele, que tem como referência a série histórica da Abics.

Cenário internacional

Esta série, que acompanha desde 2016 a evolução do consumo de solúvel no país, destaca uma média de crescimento de 3,6% ao ano. Ao redor do mundo, a busca pelo produto também cresceu significativamente. É o caso da Irlanda, cujo consumo de solúvel aumentou 14% em dois anos. “Na Irlanda, entre 2005 e 2021, foi registrado uma diminuição do marketing share do solúvel, de 54% para 25%. Agora, de 2021 para 2023, voltou para 39%”, explica Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). “Essa é uma tendência. Em países que não têm indústria, o que eles recebem de solúvel é importado e a reexportação é pequena. Então, para uma análise geral, o que eles importam, eles consomem”, completa.

Não é coincidência que o aumento da busca pelo instantâneo se dê justamente na época em que os preços do café estão nas alturas. “À medida que o preço vai subindo, sobe também o consumo de solúvel”, analisa Vanusia. Em alguns casos, o consumo total de café apresenta queda, mas o de solúvel continua crescendo. “Em muitos países, principalmente nos emergentes, onde há um gap maior entre as classes, com a diminuição do poder aquisitivo, as classes menos privilegiadas procuram por produtos que possam ser mais acessíveis”, comenta a diretora-executiva da OIC.

Para ela, outro fator importante – e uma oportunidade de mercado a ser explorada – é a boa aceitação do solúvel em países tradicionalmente consumidores de chá. “Preparar o solúvel está muito mais ligado à cultura deles do que parar para filtrar o café ou procurar por uma máquina de espresso”, destaca Vanusia, que aposta que mercados emergentes e consumidores de chá, como os asiáticos, são a grande oportunidade do solúvel a médio e longo prazos. “E não estou falando só de China, estou falando também de Vietnã, Índia, de mercados emergentes e com uma concentração populacional enorme. São tomadores de chá, mas os jovens estão introduzindo o café no dia a dia”, detalha.

Para Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o solúvel, além de ser uma referência e um hábito de diversas culturas ao redor do mundo, é também aquele que permite o consumo do café seguir resiliente. “Estamos vendo, inclusive em mercados tradicionais, que o consumo de café solúvel se destaca em tempos de alta de preços, o que impacta, com certeza, o bolso do consumidor”, afirma. “Por ter uma característica de antecipação de contratos, ou seja, de vendas muito antecipadas, suaviza essas grandes volatilidades do mercado, e também permite que o consumo se fortaleça mesmo diante de volatilidades e cotações em termos de bolsas internacionais da commodity do café”, diz ele.

Solúvel não é tudo igual

No mercado interno, as projeções são otimistas para os próximos anos. “O Brasil, como segundo maior consumidor de café, tem muito espaço para crescer no consumo de solúvel, e isto está ligado à nossa capacidade de transmitir para os consumidores que café solúvel não é tudo igual”, avalia Lima. Hoje em dia, é possível encontrar uma diversidade maior de blends, processos (aglomerado, spray dried e freeze dried ou liofilizado) e embalagens nas prateleiras.

Para a gigante Nescafé, é visível que a versatilidade do produto está diretamente ligada ao seu crescente consumo. “Acreditamos que a categoria continuará evoluindo, impulsionada por tendências como café gelado, personalização do consumo, interesse por cafés premium e a busca por preparos práticos, sem abrir mão do sabor”, comenta Gabriela Monsanto, gerente de marketing da Nescafé. De olho neste mercado em expansão e nos novos consumidores, a tradicional marca de solúvel lançou, em novembro de 2024, o Nescafé ICE, desenvolvido com tecnologia que permite a dissolução instantânea em água ou leite gelados. “Essa inovação representa um avanço significativo na categoria e chega ao mercado para atender a uma demanda crescente por cafés gelados, que já são uma tendência consolidada em diversos países e vêm ganhando força no Brasil”, explica.

Empresas que originalmente trabalham com cafés especiais em grãos também enxergam no produto uma oportunidade de mercado, como é o caso da Tocaya. A torrefação mineira pretende lançar, ainda no primeiro semestre de 2025, seu primeiro café solúvel liofilizado, feito com grãos 100% arábica do próprio portfólio. A ideia surgiu depois que a fundadora e mestre de torras, Juliana Ganan, viajou para o exterior e provou solúveis feitos com diferentes cafés de qualidade.

E por que não aplicar a ideia aqui? O desenvolvimento foi minucioso para chegar ao padrão de qualidade desejado. “O processo do nosso liofilizado envolve encontrar uma receita ideal para cada batelada de café, extraindo somente os atributos desejáveis daquele lote. Em seguida, passa para o congelamento e só depois para o liofilizador, que opera também em temperaturas extremamente baixas”, explica. De acordo com ela, este processo preserva os aromas e sabores originais da bebida, resultando em um perfil mais complexo.

“Acreditamos que o produto vá servir para os consumidores de cafés especiais quando eles não tiverem acesso a uma cafeteria com bons cafés, ou estiverem viajando e sem acesso ao seu aparato particular para fazer um café do zero”, comenta Juliana. “Como somos pequenos, a produção vai ser em pequena escala e bastante cuidadosa, para que o resultado se reflita em cada pacote”, projeta.

As inovações no mercado são fruto de uma melhor percepção do consumidor e vice-versa. “O que a gente tem visto é o aumento do consumo justamente quando se tem cafés que traduzem melhor qualidade”, aponta Eliana Relvas, cafeóloga e consultora da Abics. “Ele acaba não substituindo [o filtrado e o espresso], mas sendo uma alternativa, por sua praticidade e validade. Até porque um café solúvel pode durar até dois anos se embalado corretamente, enquanto que o torrado e moído tem uma validade menor, pois oxida mais rápido”, menciona. “Lembrando que café solúvel é só café e água, não tem nenhum tipo de aditivo e nem conservante”, completa a especialista.

Apesar dos avanços, há um longo caminho a percorrer. “O nosso maior desafio ainda é ter uma comunicação com os consumidores para que se quebre esse preconceito, esse paradigma de dizer que solúvel não é um café de qualidade, que só pode ser misturado com leite”, destaca Lima. Neste sentido, uma das ações mais recentes da Abics foi o lançamento do site descubracafesoluvel.com. No ar desde 20 de fevereiro, a página traz informações sobre os processos de fabricação do solúvel, as diferenças entre os selos das categorias de qualidade, suas variações de preparo, entre outros conteúdos.

Para Vanusia, tanto para o mercado interno quanto externo, é preciso continuar mostrando que pode existir qualidade no solúvel. “Estamos quebrando barreiras, mas elas ainda existem”.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Felipe Gombossy

Barista

Curitiba domina pódios dos Campeonatos Brasileiros de Latte Art e CIGS

Pódio do Campeonato Brasileiro de Latte Art

Florianópolis (SC) sediou, de 4 a 6 de abril, duas modalidades dos campeonatos brasileiros de barista. Realizadas pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) no Shopping Oka Floripa, as disputas de Latte Art e Coffee in Good Spirits contaram com baristas da cena de Curitiba (PR) no topo dos pódios: Eduardo Olímpio e Leo Oliva.

A competição que avalia as técnicas na execução de desenhos com leite e café contou, este ano, com 16 participantes. Além de Olímpio, os baristas Isis Correa, Joabner Santana, Tiago Rocha, Vinicius Dias e Wesley Oliveira classificaram-se para a final, que foi disputada no domingo (6). Eduardo Olímpio, da Naveia, levou a melhor e tornou-se bicampeão da categoria, seguido por Tiago Rocha (Naveia, de Curitiba), em segundo, e Vinicius Dias (Over Coffee Roasters, de São Paulo), em terceiro.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits

Já a disputa de drinques alcoólicos com café contou com 11 baristas na arena. A final foi composta por Leo Oliva, Daniel Munari, Emerson Nascimento, Gustavo Leão, Lucas Almeida e Lucas Biss. Após alcançar a terceira colocação em 2024, Leo Oliva, do Mykola Bar, conquistou o primeiro lugar neste ano. Na sequência vieram dois nomes de peso: em segundo, Daniel Munari (Royalty Quality Coffee, de Curitiba), vencedor em 2023 e em 2024, e, em terceiro, Emerson Nascimento (Coffee Five, do Rio de Janeiro), que já levou o troféu nos anos de 2017 e 2020.

A próxima etapa acontece de 26 a 28 de junho, quando os campeões nacionais representarão o Brasil nos Campeonatos Mundiais de Latte Art e Coffee in Good Spirits, que acontecem na World of Coffee, em Genebra, Suíça.

TEXTO Redação • FOTO BSCA

Cafezal

Mantiqueira de Minas alcança 1 milhão de embalagens comercializadas com IG

A Região Mantiqueira de Minas alcançou, em março, a marca de 1 milhão de embalagens de café torrado comercializadas com o selo de Indicação Geográfica (IG).

Localizada no lado mineiro da Serra da Mantiqueira, no sul do estado, a região cafeeira – que recebeu seu IP em 2011 e a DO em 2020 – reúne 25 municípios, com cerca de 8 mil cafeicultores, 83% deles sendo pequenos agricultores. O cultivo de café na região se espalha por 55 mil hectares, responsável por entregar anualmente, em média, 1.150 milhões de sacas do grão (60 kg), segundo dados de 2024 da Emater.

De acordo com Lília Maria Dias Junqueira, gerente administrativa da Aprocam, entidade gestora da DO, a marca de um milhão de embalagens refere-se aos cafés com pontuação mínima de 83 pontos (e que cumprem todos os critérios técnicos), comercializados no mercado interno para todo o país. “Pela leitura do QR Code, na plataforma digital, o consumidor pode ter acesso a todas as informações de cada um desses lotes, como localização geográfica, histórias, fotos e perfil sensorial dos cafés”, diz Lilian. “É uma conquista dos produtores, que plantam, cuidam e trabalham com dedicação para obter um produto diferenciado”, completa ela.

Saiba mais:

O café é cultivado na Mantiqueira de Minas, no sul do Estado de Minas Gerais, desde meados do século XIX, e teve uma expansão significativa entre 1913 e 1925.

A partir de 1996, a região passou por um processo de aprimoramento tecnológico, com a introdução de novas cultivares e modernização da infraestrutura pós-colheita, tornando-se uma das principais produtoras de cafés de qualidade no Brasil.

Entre as variedades mais plantadas estão os arábicas bourbon, arara, catuaí, catucaí e mundo novo, mas produtores vêm buscando novas variedades.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Orfeu lança garrafas de gesha premiado a R$ 420

A Orfeu Cafés Especiais acaba de lançar o seu microlote premiado. Os grãos da variedade gesha, cultivados na Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama (SP), ficaram em segundo lugar no Cup of Excellence Brazil 2024, com 91.89 pontos.

Por se tratar de um lote exclusivo, o novo café da Orfeu está disponível em quantidade limitada: são apenas 265 garrafas de 320 g, numeradas à mão e acompanhadas de porta-garrafas, ao preço de R$ 420. De acordo com a marca, a bebida é doce e apresenta notas florais e de mel, com aroma de mamão, pêssego, manga, maracujá e carambola.

“Ficamos muito felizes com mais esta premiação no Cup of Excellence. Ainda que o nosso objetivo não seja ganhar prêmios, este tipo de conquista nos dá sinais de que estamos no caminho certo, em linha com nosso propósito”, comenta Fábio Gianetti, diretor de marketing de Orfeu, em comunicado da marca.

O microlote premiado está à venda no e-commerce da Orfeu (com envio a partir de 11 de abril), e nos mercados Santa Luzia e Empório Santa Maria, em São Paulo, e no Zona Sul (unidade Santa Mônica), no Rio de Janeiro.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Cafezal

Selo da IG do Café do Vale da Grama é lançado hoje (3/4)

A região entra na modalidade IP, que confirma sua tradição na produção de cafés de qualidade

Por Lívia Andrade

Uma cerimônia na tarde de hoje no Clube Recreativo de São Sebastião da Grama (SP) marca o lançamento oficial do selo da Indicação Geográfica (IG) dos Cafés do Vale da Grama na modalidade Indicação de Procedência (IP) com a presença de representantes do MAPA, Secretaria Estadual de Agricultura, Prefeitura Municipal, FAESP, BSCA, Cooxupé e o Sindicato Rural local, entre outras.

Concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o selo chancela que a região tem tradição na produção de cafés de qualidade.

O Vale da Grama, região cafeeira situada entre duas cadeias de montanhas no lado paulista da Serra Mantiqueira, no final do ano passado, foi reconhecido pelo INPI por sua tradição na produção de grãos de qualidade. O lançamento do selo coroa a busca dos produtores pelo reconhecimento da região, cuja documentação começou a ser reunida em 2020 e o depósito no INPI, feito em 2023.

A imagem acima, que ilustra o selo, faz alusão não só ao café, mas às serras, ao vale e à água abundante da região.

Leia a reportagem sobre o Vale da Grama aqui.

TEXTO Lívia Andrade • FOTO João Barim

Cafezal

Qualidade entre montanhas: conheça a produção de cafés do Vale da Grama

Incrustado na Serra da Mantiqueira, o Vale da Grama tem sido destaque nos concursos de cafés especiais desde 1999 e, no final do ano passado, foi reconhecido como a mais nova indicação geográfica cafeeira do estado paulista

Foto: João Barim

Por Lívia Andrade

Quem chega a São Sebastião da Grama logo avista o Cristo Redentor de braços abertos para o Vale da Grama, terra fértil e de clima ameno que, em 1871, atraiu as primeiras famílias interessadas em plantar café na localidade.

A vocação centenária na produção de grãos de qualidade é anterior à fundação do município, em 1925, e acaba de ser reconhecida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como a mais nova indicação geográfica do estado de São Paulo, na modalidade indicação de procedência (IP), que atesta que a região tem tradição na produção de cafés especiais.

“O nome Vale da Grama se deve ao fato de os cafezais estarem localizados numa espécie de planalto entre duas cadeias de montanha da Serra da Mantiqueira”, explica o professor Leandro Paiva, referência em cafeicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IF Sul de Minas).

Situado a mais de mil metros de altitude, o Vale da Grama tem dias quentes e noites frias, o que implica numa maturação lenta do grão, que favorece a qualidade. Hoje em dia, a região tem cerca de 300 cafeicultores.

Uma das primeiras lavouras de café de que se tem registro é de Benedito Ferreira de Andrade, conhecido como Dito Bandeira pelo fato de haver muitos tamanduás-bandeira em suas terras. “Ele começou a implantar os cafezais em 1878, época que coincide com a construção da casa sede da Fazenda São João de Cima. Já a tulha para armazenar café foi erguida em 1908”, conta Ubirajara Rabello de Andrade Júnior, que hoje está à frente da parte da propriedade em que fica a casa-sede.

“Naqueles tempos, o sistema produtivo era diferente. Plantavam-se várias sementes numa cova profunda, deixavam germinar e selecionavam até quatro mudas”, explica Sérgio Parreiras Pereira, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Dessa forma, foram plantados os primeiros cafezais na região.

Por muitas décadas, tudo o que acontecia no Vale da Grama tinha relação com o café. O jornal O Desgramado, que conta as histórias das famílias da cidade, traz notícias dos times de futebol das fazendas cafeeiras, do concurso da rainha do café, e escritos literários que abordam a cafeicultura. Na época, o Brasil era um país rural, o desenvolvimento econômico estava no interior e o café era o principal produto da balança comercial nacional, o que atraiu muitos imigrantes europeus.

A família do italiano Fortunato Bernardi foi uma delas. “Em 1900, ele veio da região do Vêneto, comprou uma propriedade no Vale da Grama para cultivar cafés e criar os filhos. Fortunato formou a fazenda, construiu casas de colonos e trouxe outros italianos para trabalhar para ele”, relata Valdir Duarte, atual presidente da Associação dos Cafeicultores do Vale da Grama, que se casou com Lourdes Bernardi, uma das descendentes de Fortunato.

Foto: João Barim

Por volta da mesma época, em 1890, começa a trajetória da família Carvalho Dias, quando a matriarca Ignez Bernardina da Silva Dias compra uma propriedade no Vale da Grama e, com seus quatro filhos, inicia o plantio de café e recebe imigrantes italianos para ajudar nas lavouras.

Os anos passam, a família cresce e um dos filhos de Ignez, Lindolpho Pio da Silva Dias, casa-se com Mathilde e, juntos, têm 11 filhos. Um deles, Joaquim José de Carvalho Dias, se forma agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e, após trabalhar para outras fazendas, assume os cafezais da família, em 1945.

Com o know-how adquirido na universidade, o jovem reformula o plantio e implanta novas técnicas de manejo e pós-colheita. “Meu pai era muito amigo do pessoal da Pinhalense. Gostava muito de máquinas. Se desse para colocar um motor, colocava. Tanto que trocou o lavador e colocou despolpador para fazer cereja descascado por volta de 1964, 1968”, diz Maria Dias Teixeira de Macedo, filha de Joaquim.

O agrônomo firmou parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) na figura de Alcides Carvalho (1913-1993), agrônomo considerado o maior geneticista de cafés do mundo, que estava selecionando variedades apreciadas pelos compradores, como bourbon amarelo, e resistentes às pragas e doenças, como o icatu amarelo.

Cuidados no pós-colheita são fundamentais para garantir a qualidade na xícara – Foto: João Barim

O primeiro campo experimental do IAC na fazenda foi criado em 1952 e continua ativo até hoje. “Meu pai tinha um viveiro de mudas em parceria com o IAC. Na época, não havia tubetes, as mudas eram plantadas em saquinhos de plástico. As mulheres ficavam enchendo os saquinhos”, conta Maria.

A paixão de Carvalho Dias pelos cafezais contagiou o neto, Diogo Dias, que passava as férias com o avô na roça. Em 2000, ele se forma em agronomia e começa a implantar o que aprendeu na fazenda. “O Diogo começou com a história de lavar todo o café no mesmo dia da colheita [processo que evita a oxidação do grão]. O papai não se conformava em fazer os funcionários trabalharem até à noite. Houve algumas brigas, mas quando começamos a ganhar prêmios [de bom valor em dinheiro], ele entendeu que compensava fazer qualidade”, explica Maria.

A recompensa veio em 2001, quando Carvalho Dias ficou em 3º lugar no Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável de Café para Espresso. De lá para cá, a parede da casa ficou pequena para a quantidade de troféus conquistados.

Sempre à frente do tempo, a família se tornou referência na cafeicultura de montanha. “Lá por 2010, não se falava de terraceamento no Brasil, e o Diogo Dias, da Fazenda Recreio, começa a fazer terraços nos talhões da propriedade para facilitar a entrada de máquinas para adubação e pulverização”, lembra Pereira, do IAC.

A Fazenda Recreio foi precursora no pós-colheita e na busca por qualidade – Foto: João Barim

Partilhando o Vale

Com o decorrer do tempo, as famílias foram aumentando e as sucessões aconteceram naturalmente, com a partilha das terras entre os herdeiros. Na família Meirelles, a divisão se deu em 1977, quando Lourival Vilela Meirelles e a esposa, Célia, transferiram a propriedade para os cinco filhos. Hoje, parte das terras é tocada pela terceira geração.

É o caso da Fazenda Floresta, sob o comando das netas Carolina, Cristina e Camila Meirelles, que decidiram seguir o legado do pai, Jairo. Elas herdaram a empresa Café Fazenda Floresta, que fornece cafés especiais produzidos na propriedade para todo o Brasil, atendendo mercado corporativo, varejo e e-commerce.

Do plantio à torra, tudo acontece na fazenda, preservando a autenticidade do café. Agora, o foco das irmãs é expandir o reconhecimento da marca Café Fazenda Floresta como referência em café especial. Para isso, a empresa passou por reformulação e ampliou sua presença em lojas físicas e on-line. “Mais do que conquistar prêmios de qualidade, nosso objetivo é conquistar o coração de milhares de consumidores”, diz Carolina, CEO da empresa.

A fazenda Santa Alina, de Lucia Maria da Silva Dias, mais conhecida como Tuca Dias, é outra história de sucessão familiar. Quarta geração de cafeicultores, Tuca assumiu a propriedade em 2010 e mantém a Santa Alina de portas abertas para os compradores de café.

Fazenda Santa Alina – Foto: João Barim

“Os japoneses, por exemplo, compram todo o bourbon da nossa lavoura centenária, dois hectares de café que foram plantados em 1901 e estão na propriedade até hoje. Eles têm uma relação muito especial com os mais velhos, com o que vem antes”, diz Tuca.

De acordo com a produtora, a guinada da Santa Alina para os cafés especiais se deve muito ao surgimento de duas exportadoras na região, a Bourbon Specialty Coffees, em 2000, e a Qualicafex, em 2002. À frente da fazenda, Tuca contratou profissionais para fazer o inventário de qualidade dos lotes e treinar a equipe em boas práticas de pós-colheita, o que aumentou a presença da Santa Alina no pódio dos principais concursos – destaque para o Cup of Excellence, Concurso Terroir da Região Vulcânica e Concurso Estadual de Café de São Paulo.

Mas nem tudo são flores. “Em 2021 faltou muita mão de obra, as pessoas não queriam trabalhar registradas”, explica ela, que começou um processo de mecanização para diminuir os problemas na época da colheita manual. Até então, a única mecanização utilizada era a derriçadeira de café, as “mãozinhas mecânicas” que melhoram a produtividade do colhedor de café.

O mesmo movimento foi adotado pela família Taramelli, que tem tradição na produção cafeeira no Vale da Grama. “Estamos mecanizando há oito anos por falta de mão de obra”, diz Rafael Taramelli. A Fazenda São José, que tem uma topografia favorável, é 100% irrigada e mecanizada. “Lá, uma colhedora de café faz o trabalho de cerca de 80 pessoas”, esclarece.

Já na Fazenda São Caetano, com terreno mais íngreme, 40% da colheita ainda é manual. “Estamos fazendo terraços em alguns talhões e tirando o café de áreas onde não é possível mecanizar”, conta ele.

Origem premiada

Um dos primeiros registros de premiação do Vale da Grama é de 1999, quando Lindolpho de Carvalho Dias, um dos descendentes de Dona Mathilde, foi finalista do Cup of Excellence (COE) e ficou em quarto lugar no prêmio da illycaffè.

De lá para cá, a região virou figurinha recorrente nos principais concursos de qualidade: COE, Aroma BSCA, illycaffè, Concurso Estadual de Café de São Paulo, Concurso Florada Premiada e Terroir da Região Vulcânica.

O Vale da Grama foi destaque, por exemplo, no COE 2023. A Fazenda Rainha, da Orfeu Cafés Especiais, onde fica a Capela Santa Clara, projeto de Oscar Niemeyer, conquistou o primeiro lugar na categoria via seca, com um café gesha produzido a 1.560 metros de altitude, que recebeu o maior lance da história, R$ 84,5 mil por saca.

Capela Santa Clara, de Niemeyer, na Fazenda Rainha

Segundo Alexandre Marchetti, engenheiro agrônomo responsável pela fazenda e Q-Grader da Orfeu, a localidade representa 50% do êxito. “Tem tudo a ver com o terroir, com o solo vulcânico, que é um solo diferenciado, bem pedregoso, que faz a planta ter uma melhor absorção de açúcares no fruto, o que resulta num café mais exótico”, diz. “A outra metade está relacionada com a variedade e com o pós-colheita. Nosso trabalho é manter a qualidade que a natureza nos dá”, explica. Na época, 200 garrafas numeradas com 210 gramas do microlote premiado foram vendidas por R$ 450 a unidade.

Cantinho do paraíso

Apelidado de Toscana brasileira por Guilherme Amado, grande referência em cafés e vinhos, o Vale da Grama tem muita semelhança com a famosa região italiana. Além das montanhas, as plantações de oliveiras e uvas viníferas são outro ponto em comum.

Tanta diversidade de paisagem atrai ciclistas, peregrinos (três ramais do Caminho da Fé passam pela cidade) e turistas. Os amantes de pedais em estradas de terra, inclusive, criaram seus roteiros – muitos deles para conhecer igrejas, situadas em fazendas cafeeiras. Entre elas, a Igreja da Pedra, na Fazenda Zarif, a Capela Santa Clara, na Fazenda Rainha e a Igreja São Miguel dos Arcanjos, na Fazenda Floresta.

Há, ainda, o turismo de negócios, compradores que na época da colheita vão visitar as propriedades das quais costumam comprar. E não para por aí. A Associação dos Cafeicultores do Vale da Grama, em parceria com o Sebrae e a Prefeitura Municipal, está começando a estruturar um plano para alavancar o
turismo regional.

Um dos primeiros passos é focar nas crianças e jovens, com palestras sobre café especial nas escolas para que a nova geração (não só aqueles cujos pais trabalham com café) aprenda a tomar café especial e compartilhar a bebida.

Outra estratégia para a região ganhar musculatura é o fortalecimento do associativismo. Desde que o grupo se debruçou no processo para a conquista da IG, muitos produtores entraram para a associação.

Em 2021, o Vale da Grama foi reconhecido como Arranjo Produtivo Local (APL) da Cafeicultura e, no ano seguinte, participou de um edital da Secretaria do Desenvolvimento Econômico de São Paulo, onde conseguiu aprovar o projeto para a construção do laboratório de classificação e análise sensorial dos cafés especiais. A obra permite aos cafeicultores conhecer a qualidade dos grãos e negociar melhor seus cafés.

Todo este movimento envolveu os filhos dos produtores. “A nova geração é antenada, tem feito workshops de torra, cursos do Senar e Sebrae para criar sua marca própria de café torrado, além de participar de feiras e eventos representando o Vale da Grama”, finaliza Duarte, da associação.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Lívia Andrade

O futuro do café: sustentabilidade e inovação em destaque

O café especial nos encanta não apenas pela qualidade dos grãos e métodos de preparo, mas por toda a cadeia que envolve pessoas, histórias e busca por excelência. A 12ª edição da Semana Internacional do Café (SIC) foi prova disso, e reafirmou seu papel como um evento fundamental em meio a um mercado em constante transformação. Com 25 mil visitantes e mais de 80 milhões de reais em negócios iniciados, a SIC destacou tendências de sustentabilidade, inovação, consumo e as mudanças dinâmicas no mercado global de café.

A necessidade de práticas sustentáveis alinhou-se a um cenário de mercado aquecido, com preços recordes praticados. Essa valorização é impulsionada por incertezas na produção, estoques globais em declínio e uma demanda robusta, cada vez mais influenciada por consumidores conscientes e exigentes. O crescimento desses consumidores, preocupados com o impacto ambiental e social de suas escolhas, está moldando novos paradigmas de consumo.

Mudanças climáticas impactam diretamente a produção em países como Brasil e Vietnã, enquanto o crescimento do mercado, em regiões como China e Oriente Médio, cria novas oportunidades e desafios. Essa dinâmica ressalta a importância de estratégias adaptativas e soluções inovadoras. Produtores estão explorando novas técnicas agrícolas, que incluem práticas regenerativas e uma gestão mais eficiente dos recursos naturais.

A SIC trouxe à luz a importância de adaptação e inovação diante de um mercado volátil. Painéis como “Fazendas infinitas”, “ABC do regenerativo”, “Revolução verde”, palestras de especialistas e o lançamento da plataforma de rastreabilidade das IGs de café abordaram como tecnologia, sustentabilidade e inovação podem apoiar os produtores. Os debates sobre o uso de blockchain para rastreabilidade e Inteligência Artificial para previsão climática destacaram-se como ferramentas essenciais para garantir qualidade e eficiência na produção. Elas permitem mais transparência e confiança em toda a cadeia de suprimentos, beneficiando desde os agricultores até os consumidores finais.

Enfrentar este novo cenário exige um compromisso ético e sustentável, essencial não apenas para atender às novas regulamentações, mas também para fortalecer o posicionamento do Brasil como liderança desse mercado e guardião de nossas origens. O mercado de cafés especiais é promissor para aqueles capazes de atender a essas demandas e se posicionar de maneira inovadora. A busca por inovação não é apenas uma resposta aos desafios atuais, mas uma antecipação de futuras necessidades da indústria.

Durante a SIC, a demanda por alianças estratégicas ficou evidente. A presença de mais de 4 mil produtores e visitantes de 36 países ressaltou a importância da colaboração entre os elos da cadeia cafeeira. Cooperativas e parcerias têm se mostrado vitais para enfrentar os desafios e manter o mercado resiliente e dinâmico. Exemplos de práticas bem-sucedidas em diferentes regiões inspiraram novas ideias e soluções criativas. Essas parcerias não só fortalecem o setor mas também promovem o desenvolvimento local sustentável e a melhora das condições de vida dos pequenos produtores.

A SIC 2024 deixou claro que o futuro do café especial está pavimentado por tais práticas, essenciais para garantir a resiliência e o crescimento sustentável do setor. Eventos como este impulsionam o desenvolvimento econômico e promovem uma cultura de responsabilidade social, conectando produtores ao mercado de maneira mais equitativa. Essa conexão, por sua vez, fomenta um mercado mais inclusivo e sustentável, onde todos têm voz e participação na construção de um futuro mais justo.

Com as mudanças esperadas, fica evidente que aqueles que abraçarem essas tendências sairão vencedores em um mercado cada vez mais desafiador. As expectativas são altas e a capacidade de adaptação será fundamental. A abordagem integrada de tecnologia e sustentabilidade permitirá que o setor não só sobreviva, mas prospere nas condições futuras. O compromisso com práticas verdes e inovadoras será o diferencial competitivo que fortalecerá o setor a longo prazo.

Esse compromisso compartilhado sinaliza um futuro onde todos são beneficiados, de pequenos produtores a consumidores finais, promovendo um ciclo virtuoso de desenvolvimento e mercado.

Aos apaixonados por café, cabe refletir: estamos prontos para essa nova era? O convite está feito – para seguirmos juntos, construindo um setor cafeeiro mais forte e sustentável, em que cada xícara conta uma história de cuidado, dedicação e visão de futuro.

TEXTO Caio Alonso Fontes • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Cafeteria & Afins

Cafeteria inaugura em Pinheiros com brew station da Origami

Os apreciadores de cafés especiais ganham uma nova opção no agitado bairro de Pinheiros. Com um ambiente moderno, o C.R.E.A.M. Café abriu as portas em março na Casa Osten, espaço dedicado à arte, cultura e experiências inclusivas.

A cafeteria oferece grãos da Fazenda Minamihara, localizada em Franca, no interior paulista. Na área de preparo, um dos destaques é a brew station, criada em parceria com a Origami, marca japonesa conhecida por seu método de filtrar café.

Além das bebidas com o grão, a casa oferece drinques autorais, como o cinnamon latte, o caramel latte e o choco latte, feitos com leite vegetal Nude. Já o matcha servido é produzido na província de Hadong, na Coreia do Sul, e fornecido pela Namu Matcha.

Para acompanhar, há croissants doces e salgados, medialunas, trança de canela, pão de queijo e focaccia.

C.R.E.A.M. Café
Onde: rua Henrique Schaumann, 170 – Pinheiros – São Paulo (SP)
Quando: segunda a sábado, das 10h às 15h

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Com expansão em SP, Café Cultura prevê faturamento de R$ 100 mi em 2025

Luciana Melo, CEO e sócia-fundadora da rede de cafeterias, pretende inaugurar mais dez unidades na capital paulista até o final do ano

Luciana Melo, CEO e sócio-fundadora do Café Cultura

Por Gabriela Kaneto

Com uma história de 20 anos, o Café Cultura, de Florianópolis, ultrapassa fronteiras ao explorar novos mercados. São mais de 5 milhões de xícaras comercializadas ao ano e, com os novos investimentos de R$ 4 milhões, a projeção da rede de cafeterias é de fechar o ano na casa dos R$ 100 milhões de faturamento.

Ao todo, são 45 unidades em funcionamento, espalhadas por Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Inauguradas entre setembro de 2024 e fevereiro deste ano, as unidades paulistas – duas no interior, em Campinas e Piracicaba, e duas na capital, nos bairros de Moema e Vila Nova Conceição – são o pontapé de um plano maior.

Em entrevista à Espresso, a CEO e sócia-fundadora, Luciana Melo, fala sobre as expectativas com as inaugurações deste ano, os planos de avanço para outros estados e como a rede de cafeterias se mantém atrativa mesmo depois de duas décadas de atividade. 

Espresso: O que motivou a escolha de São Paulo como novo mercado para a rede? Quais são as expectativas de crescimento para 2025?

Luciana Melo: O mercado de São Paulo é o principal mercado do Brasil e sempre esteve dentro do nosso planejamento. O que a gente entendia é que a rede tinha que ser forte e consolidada para enfrentar este mercado. Estávamos esperando a hora certa para entrar. As expectativas de crescimento são muito boas e já temos novas lojas em implantação. Nos próximos três meses, devem começar a pipocar as inaugurações. Mas acreditamos que, até o final do ano, vamos estar com mais dez lojas na capital.

Unidade da Vila Nova Conceição, primeira inaugurada na cidade de São Paulo

E: Além de São Paulo, outras cidades estão no radar para os próximos anos?

LM: A gente segue crescendo organicamente na região Sul, onde temos lojas que vão inaugurar em Joinville. Seguimos crescendo nas praças onde já somos referência e, consolidando São Paulo de forma mais estratégica, vamos olhar para outros estados, como Espírito Santo, Minas Gerais e Distrito Federal. Então, começamos a subir um pouquinho mais no mapa. 

E: O consumo de cafés especiais cresce no país. Como o Café Cultura tem aproveitado essa tendência para atrair novos clientes?  

LM: Nós somos pioneiros no café especial no Brasil e continuamos fomentando o mercado através da educação. Levamos para o ponto de venda a questão da torra, por exemplo. Na loja de São Paulo, temos uma área chamada circuito do café, onde nós mostramos que somos o café especial. Nas lojas continuamos fortalecendo sempre o café em pacote, os métodos e outras formas de preparo, como o drip coffee. Tivemos o lançamento do cold brew já reformulado em um ready-to-drink, uma garrafinha que pode ser levada na bolsa. Adoramos tendências e estamos sempre de olho em como podemos apresentar isso ao consumidor.

E: O preço do café no mercado tem oscilado bastante. O Café Cultura tem sentido dificuldades para manter sua cadeia de fornecimento devido ao custo do grão?

LM: Dificuldade em manter a cadeia de suprimentos, não. Mas tivemos dificuldade em manter o preço. Fizemos um repasse de preço, mas não os 170% que subiu a saca de café. 

E: Muito se fala sobre sustentabilidade e, quando falamos de café, tratamos de origem, clima, ESG etc. Como o Café Cultura trabalha esses temas?

LM: Todo produto que compramos tem origem, tem rastreabilidade. As fazendas parceiras são sustentáveis. Não só exigimos os selos como visitamos as propriedades. E tudo que vem desta cadeia nós reutilizamos. Todos os sacos de café, de juta ou de papel, nós reutilizamos em decoração. Toda a casca que é gerada nos torradores vai para a compostagem. Itens como bandejas e pratos de bolo são feitos com madeira de poda de café. Tudo que podemos olhar para o café, para o produto, nós reutilizamos aqui dentro ou na sua própria origem. Também olhamos muito para as mulheres no campo. Além do blend Delas, em que trazemos a história de uma mulher que está à frente de uma fazenda, nossa principal fazenda é comandada por uma mulher. Sempre olhamos para essa cadeia das “cafezeiras”. 

E: Quais as projeções de faturamento do Café Cultura para 2025? 

LM: A projeção é fecharmos o ano na casa dos R$ 100 milhões. Esperamos um crescimento expressivo com as novas unidades. O Rio de Janeiro já mostrou um potencial maior do que temos hoje de consumo aqui na região Sul. E São Paulo também já vem mostrando isso.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação
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