Mercado

Exportações de café especial para os EUA caem quase 80% após tarifaço

Embarques despencam em agosto com taxação de 50%, e Brasil cobra negociação para incluir produto em lista de isenção

As exportações brasileiras de cafés especiais para os Estados Unidos despencaram em agosto, após a imposição da tarifa de 50% pelo governo de Donald Trump. O país embarcou 21.679 sacas no mês, queda de 79,5% em relação a agosto de 2024 e de 69,6% frente a julho, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). A queda, dizem analistas, se deve ao cancelamento e adiamento dos contratos devido à taxação.

Os EUA, líderes nas importações do produto ao longo do ano, caíram para o sexto lugar no ranking mensal, atrás de Holanda (62.004 sacas), Alemanha (50.463 sacas), Bélgica (46.931 sacas), Itália (39.905) e Suécia (29.313).

Carmem Lucia Chaves de Brito, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), afirma que o impacto “é brutal” e que, caso o tarifaço seja mantido, os americanos podem perder a liderança também no acumulado de 2025. Segundo ela, parte dos embarques registrados ainda reflete contratos firmados antes da nova alíquota, com a tarifa anterior de 10%, válida até 5 de outubro.

A dirigente alerta que o efeito não se restringe ao Brasil. “Já observamos elevação no preço do café à população americana, gerando inflação à economia do país”, disse.

A BSCA defende que o governo brasileiro abra diálogo com Washington. Para Carmem Lucia, a solução seria incluir o café na lista de isenção tarifária prevista em ordem executiva assinada por Trump em 5 de setembro.

TEXTO Redação

Mercado

Starbucks abre flagship no estádio Santiago Bernabéu, em Madri

Primeira loja principal da rede na Espanha tem 930 m², espaço de mixologia e vista para a casa do Real Madrid

A Starbucks inaugurou em agosto sua primeira flagship store na Espanha, instalada dentro do estádio Santiago Bernabéu, em Madri. Com 930 metros quadrados distribuídos em dois andares, a unidade foi projetada para oferecer experiências exclusivas, como degustações, mixologia de café e eventos culturais.

Logo na entrada, um arco digital imersivo apresenta a jornada do grão à xícara, com referências à capital espanhola. A ambientação inclui ainda uma escultura da Sereia da marca assinada pela artista madrilenha Cristina Mejías.

O espaço reúne 65 baristas, alguns deles com experiência internacional, que conduzem sessões personalizadas de preparo e degustação. Uma das atrações é a área dedicada à criação de drinques à base de café.

Com vista privilegiada para o gramado do Real Madrid, o andar superior concentra áreas de convivência, uma sala de provas e um mural inspirado na vegetação de Madri. A operação é conduzida pela Alsea, que administra as 222 lojas da rede na península ibérica.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Setembro incerto nos maiores países produtores de café (me acordem quando ele acabar)

Por Gustavo Paiva

O mês de setembro começou depois de muita oscilação no mercado do café, que culminou com um claro reajuste de preços pagos ao produtor. Se por um lado as quebras na safra estão se confirmando no Brasil, por outro, o produtor começa a se preocupar com um setembro predominantemente seco, assim como aconteceu no mesmo mês em 2024. 

Esta, porém, não é a realidade dos outros maiores produtores de café do mundo – Vietnã, Colômbia e Indonésia –, que até aqui viveram temporadas que variaram da neutralidade ao excesso de chuvas.

Na Colômbia, resquícios da temporada passada do La Niña trouxeram chuvas acima da média na maioria das regiões cafeeiras. As chuvas podem acabar atrasando os embarques, mas a Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia sinaliza um aumento de dois dígitos na produção até o momento. Com produção e embarques durante todo o ano, a Colômbia, que geralmente produz e embarca pouco mais de um milhão de sacas ao mês, gerou cerca 8,9 milhões de sacas de café e embarcou algo como 8,7 milhões nos primeiros sete meses do ano. 

Ainda é incerto se esta alta se deve a um aumento na produção ou ao atraso acumulado por conta das chuvas. Algumas entidades ligadas aos produtores colombianos defendem que o aumento se dá por conta de uma maior remuneração ao cafeicultor, mas, em 2024, os colombianos já haviam aumentado sua produção em mais de 20% em relação a 2023. Para o restante de 2025, a tendência é que haja, finalmente, uma condição neutra depois de várias temporadas alternadas entre La Niña e El Niño.

Enquanto isso, do outro lado do Pacífico, Vietnã e Indonésia viveram uma situação relativamente similar à da Colômbia durante o ciclo de formação do grão. As chuvas também estiveram um pouco acima da média, mas as temperaturas registradas estiveram ligeiramente abaixo da normalidade. Esta pequena variação dos padrões climáticos não deixa de ser uma surpresa, já que esperava-se um ano totalmente atípico, com padrões climáticos imprevisíveis. 

Isso porque a temporada de tufões, tempestades e depressões tropicais que geralmente ocorrem entre junho e outubro, neste ano começou em fevereiro (!). Este evento, excepcional, gerou apreensão, mas acabou se mostrando um fato isolado. E a tendência, portanto, é que, para o restante do ano, espera-se os mesmos padrões válidos para a Colômbia, ou seja, de atraso nos embarques por causa das chuvas e de neutralidade climática. 

Vale lembrar que, em se tratando do sudeste asiático, neutralidade climática não significa ausência de eventos. A temporada de tufões começou efetivamente no início de junho com a tempestade tropical wutip, que atingiu o Vietnã, as Filipinas e a China. Até o momento, a tempestade mais forte a atingir uma zona cafeeira foi o tufão kajiki, no Vietnã, que afetou milhares de hectares de plantações no centro norte do país, onde se concentra a produção dos cerca de três milhões de sacas de arábica. 

Em uma avaliação geral da Indonésia, os padrões climáticos foram similares aos do Vietnã, embora o país seja um vasto arquipélago com diversas ilhas e podendo vivenciar padrões climáticos desiguais. Isso tende a fazer qualquer previsão ou tentativa de generalização climática da Indonésia um exercício extremamente arriscado. De maneira geral, espera-se um aumento de 5% na produção, levando-se em conta os padrões gerais deste ano, com chuvas ligeiramente acima da média e temperaturas um pouco abaixo do esperado.

Voltando ao Brasil, estamos entrando em um mês sem perspectivas de chuva, muito parecido com o que aconteceu em setembro de 2024 – com a diferença de que os cafeeiros receberam mais chuvas durante a colheita atual. Não se pode negar a hipótese de que parte da quebra de produção deste ano se deve ao setembro seco do ano passado. Levando-se em conta a perspectiva de um padrão climático também neutro para o restante do ano, devemos esperar uma próxima safra parecida com a última? De todo modo, se o restante do mês permanecer sem chuvas, já será praticamente impossível uma safra com volume excedente, capaz de mudar completamente a direção dos preços do mercado.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva

Café & Preparos

SIC 2025 discute inovação, sustentabilidade e oferta global de café

Evento que acontece de 5 a 7 de novembro em Belo Horizonte (MG) espera receber 25 mil visitantes e movimentar R$ 150 milhões em negócios

Em sua 13ª edição, a Semana Internacional do Café, maior encontro de café do Brasil, terá como tema “Café em transformação – inovação, sustentabilidade e oferta no mercado global”. A programação inclui painéis, palestras e workshops sobre COP30, ESG, inteligência artificial no agro, genética, bioeconomia, cafeicultura regenerativa e gestão hídrica, entre outros tópicos que vão do campo à xícara.

O evento, realizado no Expominas, em Belo Horizonte (MG)  entre 5 e 7 de novembro, contará com 190 estandes de maquinário, torrefações, métodos de preparo, acessórios e regiões produtoras. O novo espaço Festival Café da Semana reunirá marcas de café, cafeterias e a já conhecida Cafeteria Modelo. Este ano, o evento espera receber 25 mil visitantes de mais de 40 países e tem expectativa de movimentar R$ 150 milhões em negócios. 

Durante os três dias, haverá rodadas de cupping com cafés de origens como Matas de Minas, Mantiqueira de Minas, Região Vulcânica, Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes e Chapada de Minas, entre outras. Os finalistas do Coffee of the Year também poderão ser provados pelo público.

Credenciamento

Os dias 5 e 6 são voltados a profissionais do setor. Neste ano, consumidores finais terão acesso apenas no último dia (7). O ingresso custa R$ 70. Já profissionais em formação e entusiastas podem pagar R$ 150 para os três dias. Produtores com CNPJ ou código rural têm entrada gratuita. O credenciamento, individual, pode ser feito pelo site ou no local. A credencial pode ser impressa antes do evento ou nos balcões de autoatendimento no evento.

Premiações Coffee of the Year e Espresso Design

A SIC é palco de diversas premiações, como o tradicional Coffee of the Year, que reune os melhores cafés do Brasil e reconhece os grandes destaques do ano. Produtores brasileiros podem inscrever seus cafés nas categorias arábica e canéfora, por R$ 190. Cada CPF deve fazer apenas uma inscrição. As amostras (3 kg) devem ser enviadas até 6/10 para o Centro de Excelência em Cafeicultura – Senar. Confira aqui o regulamento completo da edição e o link de inscrição. A premiação acontece no último dia de SIC, no Grande Auditório.

Outro destaque é o Espresso Design, que chega à 7ª edição. A competição tem o objetivo de fortalecer o setor e destacar a importância do design e da embalagem para a promoção de marcas e produtos. As inscrições são gratuitas: basta preencher o formulário de inscrição e mandar a embalagem para a comissão do concurso. As 20 embalagens escolhidas pela comissão ficam expostas nos dois primeiros dias de SIC, para votação do público. As três mais bem votadas são premiadas no último dia do evento, no Grande Auditório.

Semana Internacional do Café
Quando: 5 a 7 de novembro
Horário: das 10h às 19h
Onde: Expominas (avenida Amazonas, 6.200 – Gameleira – Belo Horizonte, MG)
Mais informações e credenciamento: www.semanainternacionaldocafe.com.br 

Mercado

Brasil tem queda de 17,5% nas exportações de agosto

O recuo, em comparação a 2024, reflete o impacto da menor oferta de grãos e do tarifaço dos EUA; Alemanha supera americanos como principal destino

 

O Brasil exportou 3,14 milhões de sacas de café em agosto – um recuo de 17,5% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo relatório do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) emitido nesta terça (9). 

Apesar da retração no volume, a receita avançou 12,7%, para US$ 1,1 bilhão, impulsionada pela alta das cotações internacionais. A redução já era esperada, afirma o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, após o recorde do ano passado e diante de uma safra menor. O tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump sobre o café brasileiro ampliou a queda.

Com isso, os Estados Unidos deixam a liderança do ranking mensal de compradores. Foram 301 mil sacas — negócios fechados antes da taxação —, queda de 46% ante agosto de 2024 e de 26% frente a julho deste ano. A Alemanha assumiu a ponta, com 414 mil sacas.

Ferreira avalia que o tarifaço desorganizou o mercado, acentuando a volatilidade e abrindo espaço para especulação. Entre 7 e 31 de agosto, o arábica disparou 29,7% na Bolsa de Nova York, de US$ 2,978 para US$ 3,861 por libra-peso.

“Se a tarifa se mantiver, as exportações brasileiras aos EUA seguirão inviáveis. O consumidor americano também pagará mais caro, já que não há outros países capazes de suprir a ausência do Brasil”, diz Ferreira.

Acumulado do ano

De janeiro a agosto, o Brasil exportou 25,3 milhões de sacas – queda de 20,9% em relação ao mesmo período de 2024. A receita, no entanto, é recorde: US$ 9,7 bilhões.

Os EUA seguem como principais compradores no acumulado, com 4,03 milhões de sacas (15,9% do total), mesmo com recuo de 20,8% frente a 2024. Na sequência aparecem Alemanha (3,07 milhões, -32,9%), Itália (1,98 milhão, -23,6%), Japão (1,67 milhão, +15,6%) e Bélgica (1,52 milhão, -48,3%).

Tipos e cafés diferenciados

O arábica respondeu por 79,8% das exportações no período, com 20,2 milhões de sacas (-13%). O canéfora somou 2,57 milhões (10,1%), seguido pelo solúvel (2,51 milhões, 9,9%).

Os cafés diferenciados — com certificações ou qualidade superior — atingiram 5,1 milhões de sacas (20,1% do total), queda de 9,3% no volume, mas com receita de US$ 2,18 bilhões (+54,2%). O preço médio foi de US$ 427 por saca. Os EUA lideraram as compras, seguidos por Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália.

Portos

O Porto de Santos concentrou 80,2% das exportações nos oito primeiros meses de 2025, com 20,3 milhões de sacas. O Rio de Janeiro respondeu por 15,8% e Paranaguá, por 1%.

TEXTO Redação

Cafezal

Rainforest Alliance lança certificação de agricultura regenerativa para o café

Novo selo de agricultura regenerativa, que começará a aparecer em 2026, mede impacto sobre solo, biodiversidade e renda de cafeicultores no Brasil e em três outros países

A Rainforest Alliance anunciou nesta segunda-feira (9) o lançamento de sua nova certificação de agricultura regenerativa (AR), voltada inicialmente para a cafeicultura. O selo começará a aparecer nos produtos a partir de 2026 e já está sendo implementado em fazendas no Brasil, Costa Rica, México e Nicarágua. A organização prevê ainda expandir a certificação, no mesmo ano, para cacau, frutas cítricas e chá.

O objetivo é estimular produtores e empresas a restaurar ecossistemas em paisagens tropicais, em um momento crítico de mudanças climáticas e pressões socioeconômicas que afetam sobretudo pequenos agricultores — responsáveis por 70% do café produzido no mundo.

“É hora de fazermos a transição para um novo modelo de agricultura – em que cada xícara de café devolva mais do que retira da terra e das pessoas que se importam com ela”, afirmou o CEO da Rainforest Alliance, Santiago Gowland, em comunicado à imprensa.

A certificação foi desenvolvida ao longo de anos de pesquisas em conjunto com produtores e empresas. Estudos recentes mostram que práticas regenerativas podem elevar a renda dos agricultores em até 30%. O modelo mede progresso e resultados em cinco áreas: saúde e fertilidade do solo, resiliência climática, biodiversidade, gestão da água e meios de vida. A verificação será feita por auditoria periódica e independente.

Segundo a Rainforest Alliance, o Brasil é estratégico para o avanço da agricultura regenerativa, especialmente no setor cafeeiro. Em entrevista à Espresso, Yuri Feres, diretor da organização no Brasil, afirmou que a nova certificação fortalece a resiliência dos produtores frente às mudanças climáticas, amplia o acesso a mercados internacionais exigentes e gera valor agregado por meio da restauração de ecossistemas e da inclusão de pequenos agricultores e comunidades locais. “Mais do que mitigar impactos, a nova norma busca promover a regeneração do solo, a proteção da biodiversidade e assegurar renda digna aos produtores, posicionando o café certificado como um produto que alia qualidade, sustentabilidade e impacto positivo para as pessoas e o meio ambiente”, disse.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação/Rainforest Alliance

Mercado

“Já está faltando a origem Brasil nas cafeterias dos Estados Unidos”, diz Marcos Matos, do Cecafé

Declaração foi feita após audiência em Washington; executivo cita disparada nas bolsas, queda de 47% nas vendas aos EUA e avanço da Alemanha como principal destino do café brasileiro

Após a audiência pública na investigação comercial 301 aberta pelo USTR em Washington na quinta-feira (4), o diretor geral do Cecafé, Marcos Matos, advertiu que a tarifa de 50% imposta pelos EUA ao café brasileiro ameaça agravar a escalada dos preços internacionais. Ele lembrou que o contrato C da bolsa de Nova York saltou de 284,20 para 380 centavos de dólar por libra-peso entre julho e agosto – uma alta de 35%. “O cenário internacional já mostrava preços recordes em Nova York e Londres, e a imposição dessa tarifa de 50% só tende a agravar a situação”, disse, em entrevista a veículos brasileiros.

O executivo defendeu que o café seja reconhecido como recurso indisponível nos EUA, condição que permitiria manter a tarifa zero. “O Brasil é responsável por mais de 30% do café consumido nos EUA, e qualquer restrição impacta diretamente o consumidor americano”, afirmou. Matos também comentou que o café foi “o produto que melhor se estruturou para defender o Brasil da lei 301”.

Matos destacou que as exportações para os EUA caíram 47% em agosto, enquanto, no mesmo período, os embarques para a Alemanha aumentaram 55%, colocando o país europeu na liderança das compras. “A Alemanha tem ampliado suas compras e assumido o posto de principal destino do café brasileiro. Isso mostra a importância da diversificação: não podemos depender de um único mercado, por maior que ele seja”, disse.

E fez um alerta sobre a presença do Brasil no varejo americano: “Já está faltando a origem Brasil nas cafeterias dos Estados Unidos.”

Cafeteria & Afins

Cafeteria Longão une café e corrida na Vila Buarque (SP)

Por Gabriela Kaneto

Por mais de meio século, o número 278 da rua Dr. Cesário Mota Júnior, na Vila Buarque, abrigou a farmácia do seu João, figura conhecida no bairro. Após a morte do proprietário, o espaço de balcões antigos e atmosfera de máquina do tempo deu lugar a uma cafeteria moderna, símbolo da nova fase da região.

Por trás do novo empreendimento está o fotógrafo e filmmaker André Dip. Maratonista e apreciador de cafés especiais, ele decidiu transformar as duas paixões em negócio e, há um mês, abriu a Longão. “Nossa ideia é que as pessoas saiam um pouco do centro de São Paulo, deem uma relaxada, venham com calma”, explicou Dip à Espresso

Balcão de preparo da Longão e André Dip (à direita)

O balcão e as prateleiras de cimento destacam as banquetas coloridas e a parede tomada por vinis ao lado da vitrola que embala o ambiente. No fundo, um jardim de inverno suaviza a estética brutalista. Há ainda uma arara com roupas esportivas e a balança original da antiga farmácia, lembrança da história do espaço. Quase escondida, uma sauna atende esportistas que querem desacelerar. 

A cafeteria usa grãos próprios, cultivados em diferentes regiões do país e torrados pela CA.OS Café, do interior paulista. O cardápio traz ainda opções internacionais rotativas — no dia da visita, México e Costa Rica, torrados pela brasileira Square Deal e pela dinamarquesa La Cabra. No espresso, a casa aposta em um blend de catuaí amarelo lavado do Sul de Minas com robusta amazônico natural do Acre.

“Temos uma pegada meio de laboratório”, conta Dip, referindo-se aos métodos de preparo, que variam entre v60, hario suiren, origami, clever, melitta, o dripper flatbed da Loveramics e o espresso, que pode ser extraído de uma Rocket ou manualmente na Bruta. Matcha, matcha latte, chá mate com limão e chá de hibisco, maracujá e gengibre enriquecem o cardápio.

Cafés do México e da Costa Rica filtrados na hario suiren (à esquerda) e pão de queijo, roll de queijo e cheesecake de chocolate (à direita)

O menu de comidas, enxuto, varia conforme o dia. Em nossa visita, havia pão de queijo, roll de queijo, sanduíche, cinnamon, cookie e cheesecake de chocolate e de frutas vermelhas. Os quitutes são produzidos, de preferência, por parceiros do bairro, como a padaria artesanal Seu Filão e a Kosmos Bakeshop. Aos finais de semana entram novas opções. 

Além do serviço de cafeteria, a Longão aposta em eventos e parcerias. Já promoveu aulas de ioga para corredores, um almoço com o restaurante Niko Niko e o lançamento de peças da marca Dies Mercuri.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 278
Bairro Vila Buarque
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
Website http://www.instagram.com/_longao
Horário de Atendimento de quarta a domingo, das 9h às 18h
TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Gabriela Kaneto e Letícia Souza

Mercado

Nestlé vai investir R$ 1 bilhão em fábrica de cafés solúveis em Araras (SP)

A modernização inclui uma nova linha de extração de café equipada com tecnologias de inteligência artificial para monitorar etapas como torra 

A Nestlé comunicou oficialmente que vai investir cerca de R$ 1 bilhão até 2028 na modernização e ampliação de sua fábrica de cafés solúveis em Araras, no interior paulista. O aporte faz parte do plano de R$ 7 bilhões anunciado neste ano para o Brasil e prevê aumento de 10% na capacidade de produção da unidade, que exporta para 65 países.

Segundo a companhia, a modernização inclui uma nova linha de extração de café equipada com tecnologias de inteligência artificial para monitorar etapas como torra, além de recursos da chamada Indústria 4.0. Segundo a empresa, já houve redução de 30% em paradas não planejadas e aumento de 16% na produtividade desde a adoção desses sistemas.

O investimento se soma aos R$ 500 milhões anunciados no primeiro semestre para ampliar o portfólio e a produção de cafés no país.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Washington reedita Acordo de Taubaté

Por Celso Vegro

Em 1905, o então quinto presidente da República Federativa do Brasil, advogado e juiz de direito Francisco de Paula Rodrigues Alves (que já havia sido governador da Província de São Paulo), assinou uma emenda à lei do orçamento federal autorizando o ente federativo a entrar em acordo com os estados em que a produção cafeeira era a principal atividade econômica para regular o mercado de café (aval federal aos empréstimos concedidos aos estados) e promover o aumento do consumo da bebida.

A contrapartida dos estados consistia em oferecer depósitos em ouro suficientes para garantir o montante principal acrescido de juros incidentes aos empréstimos concedidos. Naquela altura, o Brasil exportava 16 milhões de sacas, possuindo quase o dobro em estoques. O cenário era de forte baixa nas cotações, com cafeicultores à beira da ruína financeira devido ao endividamento com as casas de corretagem.

Em fevereiro de 1906, reuniram-se em Taubaté os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para referendar o Convênio de Taubaté: valorizar o produto por meio da administração de seu comércio. Recorrendo a empréstimos internacionais, seriam adquiridos os excedentes para restringir a oferta (£15 milhões) de café, pressionando as cotações do produto. Concomitantemente, houve a imputação de impostos mais altos aos que fossem implantar novas lavouras e, ainda, a regulação da paridade cambial, que permitisse uma conversão (desvalorização) abaixo da vigente no mercado livre e a cobrança de imposto de exportação.

Por meio dessa arquitetura politicamente costurada entre as diferentes autoridades e banqueiros, promoveu-se o primeiro esforço de valorização do café no Brasil. Inicialmente, apenas São Paulo se empenhou no esforço de valorização do café. Minas Gerais, Rio de Janeiro e o governo federal somente se associaram ao programa dois anos mais tarde, devido às incertezas sobre as reais possibilidades de sucesso do programa. Aqui evidencia-se a sinalização do que viria a ser o futuro do processo de desenvolvimento econômico brasileiro, em que o interesse privado, na defesa de suas vantagens individuais, se sobrepõe à preocupação republicana.

O esquema começou a funcionar em 1909, com real avanço dos preços para o café, que perduraram por três safras. Em 1913, o endividamento foi quitado, encerrando-se o programa de valorização. Avaliou-se que, durante sua vigência, houve um surto de crescimento econômico no país (construção de ferrovias, infraestrutura nas cidades e industrialização paulista) – portanto, a pujança econômica foi, em alguma medida, decorrente daquele convênio de 1906.

Encerrada essa longa digressão histórica, saltemos 119 anos para o momento atual. O tarifaço de agosto de 2025, incidente sobre as exportações de café para o mercado estadunidense, se traduz como um completo embargo aos embarques brasileiros destinados àquele mercado. Ao mesmo tempo em que é completamente sem sentido econômico, já que os EUA produzem apenas 1% de todo o café de que necessitam para o suprimento de seu mercado consumidor. Considerando a típica inelasticidade da demanda pelo produto, os apreciadores da bebida serão aqueles que arcarão com os custos dessa política.

Assim como no passado, o convênio na origem foi o determinante na valorização das cotações do café. Atualmente, o fechamento, embora parcial (já que o suprimento poderá advir de outras origens), do maior mercado mundial para a bebida, tende a pressionar os preços, pois consiste em outra intervenção que desestabiliza a lei da oferta e da procura no momento em que os estoques se encontram apertados, o consumo mundial cresce ao menos 2% ao ano e as safras andam de lado – inclusive a de arábica brasileira.

Evidentemente que os mercados são muito mais interconectados que no passado e, além disso, há ao menos uma dezena de outros países significativos na produção cafeeira destinada ao suprimento global. Assim, possivelmente, o ciclo de preços altos, sob vigência do despautério estadunidense, deverá ser menos prolongado, ainda que amparado por um dólar mais fraco. Todavia, sob a vigência das mudanças climáticas, esperar que a oferta de países concorrentes do Brasil se expanda consiste em uma aposta, além de improvável, demasiadamente arriscada.

A reconfiguração do comércio internacional está em curso – uma verdadeira dança das cadeiras. Canadá, México e Uruguai possivelmente ampliarão suas aquisições de café brasileiro, que terão por destino final o mercado estadunidense (a chamada triangulação). O movimento de sacoleiros nas fronteiras dos EUA repetirá o que acontece na fronteira do Brasil com o Paraguai, tendo o café como principal item das compras para consumo próprio e revenda.  A economia subterrânea típica das repúblicas das bananas irá a todo vapor, pois o lucro está garantido.

Nenhum dos objetivos programáticos pretendidos pela autoridade estadunidense serão obtidos por meio da guerra tarifária desencadeada. O déficit comercial não será mitigado (muitos componentes de mercadorias destinadas à exportação são importados – drawback); a reindustrialização do país, na melhor das hipóteses, produzirá ineficiências maiores que as potenciais vantagens em tarifar itens importados, e diminuir o déficit fiscal até pode ocorrer no curto prazo, mas a elevação dos preços e, em consequência, o recrudescimento da inflação, pressionará a demanda e a arrecadação tributária associada à desvalorização do dólar frente às demais moedas. Conceitualmente, se trata da temida estagflação.

As perdas para a economia estadunidense, decorrentes da dificuldade em substituir o café brasileiro, irão se fazer sentir. Os importadores, industriais da torrefação e solubilização, os varejistas e os negócios que têm por base a venda da bebida (cafeterias, bares e lanchonetes, hotéis, restaurantes) já ameaçam com demissões e encerramento de atividades. Esses são os atores econômicos aliados do agronegócio dos Cafés do Brasil capazes de reverter a sinuca em que o destrambelhado governo os colocou. Por enquanto, é necessário aguardar e aproveitar a maré de bons preços que o mercado poderá oferecer.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
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