Café & Preparos

Fernando Meirelles

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“Meu café preferido é um produzido em Alto Porã, na Mogiana (SP). É impressionante, especialmente no coador.”

Na produtora O2, várias máquinas de espresso indicam que ali se toma bastante café. Mas não qualquer um. O grão, de São Sebastião da Grama (SP), é premiado. O cineasta Fernando Meirelles prefere a versão brasileirinha, no coador. Em casa, seu xodó é um colhido na Mogiana (SP). Como é amigo do produtor, Orlando Cintra, Fernando sempre recebe um lote especial. “O café que ele faz é impressionante. Deixa o gosto na boca por um tempo enorme. Nada melhor.” Nesta foto, um dos momentos preferidos dele: parar num boteco perto de casa e apreciar a bebida no copo de vidro. (Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Paulo Pedroso • FOTO Cacá Meirelles

Cafezal

Natureza em alta

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Fazenda Ambiental Fortaleza reinventa maneira de se fazer café especial no Brasil e conquista mercado nacional e internacional

Cultivar café como os nossos avós faziam não é uma tarefa lá muito ecologicamente correta. A monocultura deixava a terra cansada, a água usada na irrigação da plantação e na lavagem do grão não era reutilizada e liberava resíduos danosos na natureza e a quantidade de insumos químicos e agrotóxicos era muito grande. Mas como produzir um bom café e ao mesmo tempo deixar uma boa pegada para as gerações futuras? A Fazenda Ambiental Fortaleza (FAF) parece estar encontrando a resposta.

Localizada na região paulista da Mogiana, entre as cidades de Mococa e Tapiratiba, a fazenda existe há 160 anos, sempre produzindo café. Maria Silvia Barretto herdou o local em 2003 e, ao lado de seu marido, Marcos Croce, resolveu encampar o projeto de tocá-la, mas com um novo olhar. “Só aceito assumir a fazenda se fizermos algo orgânico”, disse Silvia para Marcos, à época trader de grandes companhias norte-americanas. O casal e seus três filhos moravam nos Estados Unidos havia muitos anos, quando surgiu essa oportunidade de voltar ao Brasil.

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Daniel, Marcos e Felipe Croce, família unida na produção do café de qualidade.

Entorno valioso
Administrador pela Faculdade Getúlio Vargas, 63 anos, Marcos começou do começo. Tinha nas mãos uma fazenda de 800 hectares repletos de cafezais convencionais e uma produção de 6 mil sacas anuais, de qualidade apenas razoável. Pesquisou os arredores, visitou outros países produtores, mergulhou nesse universo. Então realizou um mapeamento de todo o terreno com a ajuda de uma equipe de engenheiros florestais. Foram encontrados 42 pontos de nascentes, árvores de mais de 80 espécies, mais de 200 tipos de aves e uma Mata Atlântica secundária e primária relativamente preservada.

Era o sinal de que ele precisava para definir qual caminho traçar. “Aqui não vou conseguir fazer grandes quantidades com a qualidade de café que desejamos. Mas, se eu construir uma história diferente, talvez mais pessoas possam desenvolver um trabalho parecido, seguindo o nosso modelo de fazenda sustentável”, explica. O primeiro passo foi diminuir a estrutura da fazenda. Reduziu radicalmente o número de equipamentos e de cafeeiros em mais de 80%. Assim, a produção passou a 600 sacas.

Os 100 hectares de cafezais são divididos em dois tipos. O orgânico ativo e o orgânico passivo. O ativo é aquele em que o cafeicultor participa de todos os momentos, da plantação da semente à adubação, poda etc. No caso da FAF, esses cafeeiros são parcialmente sombreados, e as ruas são intercaladas com árvores frutíferas, além de outros cultivos, como milho e feijão.

O cafezal orgânico passivo não é nada convencional. Caminha-se cerca de dez minutos mata adentro para encontrar um pé de café. A plantação não é daquelas “bonitonas”, de traçados geométricos e com plantas de um verde viçoso. Tudo é orgânico, ou seja, mirradinho, meio disforme, por vezes, estranho. “O que é bonito: o Jardim de Versailles ou a mãe-natureza?”, Marcos questiona. “Na Etiópia, vi pés de café com até 300 anos. Mas, para viver tanto, a planta tem de ser respeitada, não se pode exigir muito dela apenas para ficar bonita”, explica Marcos. A resposta está também nas xícaras. O café fica realmente especial, mais saudável e naturalmente doce.

Resultado também de um controle rigoroso desde o grau da doçura do fruto na árvore até a temperatura da secagem, acompanhada bem de perto em terreiros suspensos, que são utilizados também em algumas das 35 fazendas parceiras. A colheita é apenas seletiva, ou seja, fruto a fruto. “Chegamos a voltar até cinco vezes ao mesmo pé para pegar somente os frutos mais maduros”, explica. Mesmo assim, é muito menos desgastante para os “parceiros” que ajudam na tarefa, pois ela acontece na sombra, não requer escadas e o pagamento costuma ser mais abonado, já que o café especial tem valor agregado maior.

O reconhecimento desse esforço todo veio alguns anos depois que o casal começou a administrar. Em 2008, a fazenda ganhou o prêmio Sustainability Awards, da Specialty Coffee Association of America (SCAA). Atualmente, o café da FAF já é reconhecido como um dos melhores do País, sempre recebendo acima de 84 pontos, e está presente em cafeterias premiadas e restaurantes sofisticados. Além disso, 98% da produção da fazenda é vendida para torrefadoras internacionais, como TW (Dinamarca), de Tim Wendelboe, Seven Seeds (Melbourne, Austrália) e Blue Bottle (São Francisco, Estados Unidos), com sacas disputadas por vários compradores.

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Uma horta orgânica garante verduras e legumes para as refeições da fazenda.

Natural ou orgânico?
Quando um agricultor fala que produz café natural, geralmente ele quer dizer que o fruto vai direto do pé para o terreiro, para ser seco “naturalmente”. Na FAF é diferente. “Chamamos de natural o café que nasce na mata, uma planta que sofre a mínima interferência da mão do homem”, explica Marcos. As únicas intervenções feitas no processo natural de crescimento são: a plantação de outras árvores entre os pés de café para criar alguma sombra e a limpeza do solo para facilitar a colheita.

Com esse método, a plantação tem um impacto mínimo em seu entorno. “Na última safra, por exemplo, tivemos uma seca de quatro meses. O cafezal orgânico ativo, que não fica sob a sombra da mata, tivemos de irrigar todos os dias e ainda cortar o mato, passando enxada em cada pé. Mesmo assim, houve uma perda de 40%. No café da floresta não precisamos fazer nada”, conta. “A terra continuou úmida, as plantas ficaram bem e não houve espaço para o mato. A perda não chegou a 2%.”

E as pragas? O produtor afirma que não costuma ter problemas e pega uma folha para mostrar. “Está vendo aqui? Tem uma ferrugem pequena, mas ela está protegida por outro microorganismo e não vai avançar. A planta tem força para se defender. No caso da broca, a plantação orgânica sustentável dá espaço para o predador da broca também se desenvolver, por isso, ela não consegue se multiplicar”, explica. É a lógica da autorregulação da natureza.

Nó na cabeça
Laurindo Donizetti de Assis, responsável por toda a produção da fazenda, custou a entender que tudo o que se faz lá (e na vida) deixa rastros. “Levei quatro anos pra desfazer esse nó que deu na minha cabeça”, conta. Nascido na região, Laurindo trabalhava na FAF havia mais de 20 anos com o cultivo tradicional, quando foi surpreendido pela troca para o orgânico sustentável. Foi fazer um curso no IBD (Instituto Biodinâmico), em Bauru, mas eram muitas novidades para um agricultor velho de guerra. “Fiquei confuso e constrangido”, conta, explicando a razão de, logo em seguida, ter ido trabalhar em outro lugar. Alguns meses depois, algo se esclareceu na mente deste senhor sereno. “Fiz por muito tempo o trabalho convencional e acho bonito, moderno, mas em época de safra eu levantava às 5 horas e terminava às 23 horas. Gastava muita energia, porque ninguém consegue vencer tudo quanto é doença. A gente põe remédio para uma praga e aparece outra”, conta. “Percebi que havia algo errado.”

O caboclo, com toda a sua simplicidade, mas também esperteza, foi então pesquisar mais para entender o que era “essa história de orgânico”. “Vi que é tudo verdade e pedi para voltar para a FAF. Hoje não penso mais do modo convencional. O orgânico funciona, mas é preciso fazer tudo direitinho. Tem que cuidar da planta, tem que amar muito a natureza.”

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Tulhas reformadas e diminuídas para receber os microlotes; os tanques onde são estudados novos métodos de fermentação e a prova, momento decisivo para avaliar a qualidade dos grãos.

Sem medo de experimentar
Na FAF inovação é palavra de ordem. Vai desde a escolha das cultivares plantadas, até o modo de colher e secar, de beneficiar o grão e de estocá-lo para descansar.
Sim, há por ali alguns pés de bourbon vermelho e amarelo, mundo novo e catuaí (cultivares mais comuns entre os cafezais brasileiros), mas também há sumatras, pacamaras, javas, obatãs e tupis. “Buscamos bebidas de sabores diferentes e não grãos que produzem mais”, explica Felipe Croce, responsável pela qualidade do café.

E, para tal, não basta apostar apenas nas variedades. É preciso explorar outras possibilidades de processamentos, de secagem e de torra. E todas as fases da produção do café são pesquisadas e reinventadas ali. “Ainda estamos em processo para conseguir entender como influenciar o sabor, testando várias formas de lavar o café”, conta Felipe, mostrando dois tanques, nos quais faz experiências de fermentação de longos períodos, como acontece nos países da América Latina, com exceção do Brasil e do Equador, e em grande parte da África e na Ásia.

Em um deles estava um catuaí amarelo que já havia sido descascado, descansado por dez horas, lavado e deixado no tanque seco por mais dez horas. Depois, foi deixado “de molho” na água, fermentando por mais quinze horas e, por fim, levado ao terreiro suspenso para secar. Chamado de wet fermentation, esse processo é complexo e está em fase experimental. Por vezes, Felipe tem de aparecer no meio da madrugada para verificar como estão as coisas no tanque.

Todo esse cuidado e o conhecimento bastante aprofundado foram adquiridos por ele em experiências internacionais. Formado em Relações Internacionais na Universidade de Washington (EUA), o jovem de 28 anos já foi gerente da fazenda, estagiou com Tim Wendelboe, na Dinamarca, e trabalhou na torrefadora Kaldi’s, nos Estados Unidos. “Eles não respeitavam o grão brasileiro. Isso me mostrou que o nosso café tem de se destacar de alguma forma entre os de outros países, pois na mesa de cupping é com eles que estamos disputando espaço”, explica.

Além da fermentação “experimental”, a fazenda está praticamente dando adeus ao terreiro de cimento. O pátio, símbolo da cafeicultura brasileira, quase não é usado. Há seis anos os terreiros são suspensos e os resultados são claramente perceptíveis, segundo Felipe. “Conseguimos controlar de maneira mais rigorosa a temperatura da seca, sombreá-la para que seja mais lenta – alguns lotes chegam a ficar 14 dias secando – e assim já obtivemos cafés de notas muito superiores, com mais doçura, mais acidez e mais corpo”, finaliza.

Ficha técnica

Fazenda Ambiental Fortaleza
Localização entre as cidades de Mococa e Tapiratiba Região Mogiana Paulista
Altitude média 1.000 metros
Produção orgânica passiva e ativa
Colheita seletiva
Processamento natural, cereja descascado e lavado
Secagem terreiros suspensos

Variedades bourbon vermelho e amarelo, mundo novo, catuaí, sumatra, pacamara, java, obatã e tupi

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso, em 2012 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Giuliana Bastos • FOTO Marcelo Liso

Mercado

Para compartilhar

fellow A Duo Coffee Steeper, também presente na arrecadação do Kickstarter, foi criada em São Francisco (EUA) por jovens engenheiros apaixonados por café. É uma mescla de filtrado com french press. Sem o uso de papel, apenas com um cesto para o café moído, o equipamento da marca Fellow também foca a praticidade. Basta colocar o café, aguardar alguns minutos de acordo com a preferência de quem prepara e girar a tampa. Ao fazer isso, a trava é aberta (é parecida com a Clever) e o café desce para o compartimento de baixo. Depois é só servir. Faz quase 700 ml de café, para tomar entre amigos. www.fellowproducts.com fellow_02 (Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença, de Seattle, Estados Unidos • FOTO Divulgação

Café & Preparos

O que é Kalita?

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Mais conhecido fora do Brasil, o método Kalita Wave, de marca japonesa, apresenta um suporte para filtro que possui base alargada e três furinhos, o que uniformiza e agiliza a extração. Os filtros de papel que se encaixam nele têm formato wave (de ondinhas), detalhe que contribui para uma extração mais homogênea e uma maior consistência entre xícaras. Para extrações de uma xícara, há também o Kalita Caffe Uno, que tem três furos paralelos e usa filtro de papel tipo Melitta. A dica é sempre escaldar o filtro antes de utilizá-lo e fazer uma pré-infusão de vinte a trinta segundos.

O método Kalita Wave chegou ao País faz um ano e algumas cafeterias já estão servindo nele, como Isso é Café (São Paulo), Café Secreto (Rio de Janeiro), Âncora Coffee House (Poços de Caldas) e Café du Coin (Cascavel), entre outras.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Redação • ILUSTRAÇÃO Luciano Veronezi

Cafeteria & Afins

Starbucks Reserve Roastery & Tasting Room – Seattle (EUA)

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É impossível ir a Seattle e não entrar na Starbucks Reserve Roastery. Para quem é apaixonado por café vale a visita para conhecer um mundo de novidades. Quem sabe mais sobre a história do fundador Howard Schultz, desde a sua primeira loja ali bem próximo, na Pike Place Market, a experiência ganha um lado mais cinematográfico.

O pé-direito da loja de mais de 5 metros anuncia a grandeza. Como em uma engrenagem industrial bem montada, os baristas preparam cafés em diversos métodos e finalizam não nos famosos copos da marca, mas em xícaras rústicas de cerâmica que levam um emblemático “R” com uma estrela em cima. Há balcões para os mais apressados. Mesas confortáveis, sofás e espaços coletivos para leitura para quem quer ficar mais tempo.

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O brew bar tem desde o sifão todo iluminado até a máquina Clover, adquirida pela Starbucks e que se tornou rara nas cafeterias. Há muitas tendências em equipamentos embutidos para extração de espresso e filtrado. Os tubos com grãos aparentes mostram a origem de cada café e parecem flutuar vindo do teto da loja. Entre os grãos, o da Fazenda Sertãozinho, de Botelhos, Sul de Minas, Brasil.

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Torra como foco
A torrefação é capítulo à parte. Conhecida pelo padrão de torra bem escura para os cafés da marca, a Starbucks inovou com equipamentos supermodernos revestidos de cobre para o processo de torra. Tubos transparentes e acessórios que lembram parafusos fazem com que os cafés deslizem por toda a loja, num barulho constante e hipnotizante. Ali a torra é bem mais clara e os grãos são vendidos por peso. A grande atração é o café do Sítio Baixadão, do produtor Sebastião Afonso da Silva, campeão brasileiro do Cup of Excellence, da cidade de Cristina, Sul de Minas, e que alcançou pontuação recorde de 95,18 pontos.

Não deixe de olhar os produtos à venda, que oferecem desde os mesmos aventais estilosos dos baristas até moinhos portáteis, colheres de prova e mugs coloridas.

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(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

Informações sobre a Cafeteria

Endereço 1124 Pike Street – Capitol Hill,
Cidade Seattle
Estado Washington
País Estados Unidos
Website http://www.roastery.starbucks.com
Telefone (206) 624-0173
Horário de Atendimento Diariamente, das 7h às 23h.
TEXTO Mariana proença • FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Úrbici – Fortaleza (CE)

Cafeteria Urbici

Uma cafeteria instalada em uma antiga banca de jornal, sob uma mangueira, e próximo a duas importantes avenidas com ciclofaixas no centro da cidade. Essa localização inspirou o nome e o modelo do café de Diego Hermys, Úrbici – mistura de urbanidade (urbe) e ciclismo (bici) –, que oferece estacionamento adequado para bicicletas e água filtrada com gelo grátis.

Cafeteria Urbici

Em apenas 8 metros quadrados, o dono da Úrbici serve Bike Café na forma de espresso (extraído de uma Futurete Oberon) e filtrado na Hario V60, Aeropress, Clever e prensa francesa, acompanhados de pão de queijo, biscoito de polvilho, o típico cuscuz nordestino (com manteiga ou queijo), brownie com castanhas-de-caju e bolo do dia, tudo sempre fresco.

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De acordo com Diego, o bolo de leite Ninho e o “sem preço” – o cliente paga pela fatia quanto acha que vale seguindo o modelo dos cafés solidários –, além da cajuína (refrigerante feito de caju, tradicional na Região Nordeste), estão entre os itens de maior sucesso. Há outras bebidas para acompanhar o cardápio, como o café com o nome da casa, que leva água com gás aromatizada com limão, gelo e espresso, refrescante para o calor de Fortaleza.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da revista Espresso, referente aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro de 2016. Sugerimos consultar o lugar para horários de funcionamento e mais informações)

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Avenida Antônio Sales, 1.357
Bairro Joaquim Távora
Cidade Fortaleza
Estado Ceará
País Brasil
Website http://www.urbici.com
Telefone (85) 98824-5462
Horário de Atendimento De segunda a quarta, das 7h às 20h; de quinta a sexta, das 7h às 22h
TEXTO Janice Kiss • FOTO Divulgação

Receitas

Cambones

drinque de Thiago Nego

Ingredientes
• 30 ml da calda de picles de tangerina*
• 60 ml de cold brew (Sugestão de café: True Coffee Brasil)
• 25 ml de calda de cereja
• 2 cerejas

Preparo
Bata todos os ingredientes em uma coqueteleira com oito pedras de gelo. Sirva em um copo e complete com gelo, se precisar.

*Picles de tangerina
• 450 ml de água
• 800 ml de vinagre de maçã
• 20 g de açúcar
• 20 g de sal
• 3 g de cravo
• 5 g de anis-estrelado
• 6 tangerinas inteiras, cortadas em rodelas

Preparo
Em um pote esterilizado e com tampa, distribua as rodelas de tangerina e reserve. Separadamente, em uma panela, junte a água e o vinagre e leve ao fogo. Acrescente o sal e o açúcar e mexa até diluir. A seguir, coloque as especiarias. Antes de começar a ferver, retire do fogo e despeje o líquido em cima das rodelas de tangerina, deixando o pote aberto até que esfrie. Quando estiver em temperatura ambiente, tampe e aguarde por cinco dias antes de servir.

Rende 1 porção

(Receita originalmente publicada na edição impressa da Revista Espresso, referente aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro de 2016).

FOTO Daniel Ozana/Studio Oz/Café Editora • RECEITA Thiago Nego, barista e responsável pela cachaça Samba Nego

Café & Preparos

Denise Fraga

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“Faço o meu café sempre como manda a tradição: sem pressa e no coador.”

A atriz não torce o nariz quando lhe oferecem um café. Fora de casa geralmente pede um “carioca”. Mas confessa que, para ela, café bom mesmo é o que ela faz. Preparado sempre como manda a tradição: sem pressa e no coador. “O meu segredo é nunca colocar a água fervente e sempre esperar uns segundinhos para ela não entrar muito quente e queimar o café.” Além dos cuidados com a água, dica que recebeu de um fazendeiro produtor de café, também gosta de acrescentar um gostinho de limão à bebida, costume que lembra a tradição dos romanos, que não dispensam umas raspinhas do limão-siciliano ao lado do espresso.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Maria Eugênia de Menezes • FOTO Guilherme Gomes

Cafezal

Terra fértil para o café

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O empreendedorismo de Arthur Moscofian Jr. transformou o solo degradado da Fazenda Santa Mônica, em Machado, no Sul de Minas, em terreno produtivo para os grãos de qualidade

Arthur Moscofian Jr. poderia não ter se tornado cafeicultor se tivesse se deixado abalar pelo que viu há exatos quarenta anos: a geada que dizimou os cafeeiros de seu pai, no Paraná, e diminuiu as extensões dessa lavoura no estado que encontrou ao longo do tempo outras vocações agrícolas. Na época, Arthur filho, como é chamado pela família, tinha apenas 15 anos de idade e acompanhar o pai de São Paulo ao Paraná era a grande viagem de sua vida. Não poderia supor que um dia rodaria o mundo.

Por teima, devoção a São Jorge (o santo protetor de toda a sua família, de origem armênia) ou espírito empreendedor, o produtor de cafés especiais alcançou altos índices de produtividade (80 sacas por hectare) e abre a porteira da Fazenda Santa Mônica, em Machado, no Sul de Minas, com o propósito de contar em detalhes como chegou a colher 5 mil sacas por safra de uma bebida que atinge em média 82 pontos – a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) classifica o café com pontuação acima de 80 na categoria especial. “Trabalho agora para alcançar os 90 pontos”, revela.

Os resultados que Arthur colhe agora são fruto de uma observação sagaz do passado, do emprego de tecnologia e de nenhum receio de ousadia. Há vinte anos, o produtor, que era dono de vários restaurantes em São Paulo, escutava sempre a mesma resposta quando perguntava aos clientes se haviam gostado do cardápio. “A comida é ótima, mas o café…”, diziam.

De tanto ouvir a mesma frase, Arthur decidiu ele próprio cuidar do café, do plantio à bebida que iria oferecer em seus restaurantes. “Embora estivesse em outro ramo, a família nunca abriu mão de se dedicar à agricultura, com plantações que iam do café à folha de uva para charutos”, comenta.

Para conseguir o café desejado, o produtor começou sua tarefa do zero. Adquiriu a propriedade em Machado – rebatizada de Fazenda Santa Mônica – sob olhares desconfiados. Afinal, o que queria ele com aquela terra de solo pobre e degradado, voltado para a pecuária leiteira e com poucos pés de cafés, velhos e malcuidados? “Eu queria o ‘terroir’ da região, que proporciona à bebida aroma intenso, açúcares e óleos essenciais”, explica.

Quanto ao intenso trabalho para pôr tudo no jeito, como desejava, a propriedade foi uma boa escolha, segundo ele. “Comecei do zero, mas com o projeto que imaginei”, conta o produtor que não teme grandes obras. No seu currículo de engenheiro civil (profissão que tocava paralelamente aos restaurantes) constam 620 construções entre pontes, escolas, hospitais e postos de saúde.

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Dividir para entender
Como havia planejado, o cafeicultor fez da Santa Mônica sua fazenda modelo ao começar a corrigir o solo em busca de fertilidade. Depois dividiu a propriedade em sete setores (a fim de ter um diagnóstico mais preciso do desempenho das áreas de lavoura) e escolheu as variedades mundo novo, catuaí amarelo e vermelho. Os pés são plantados no sistema semiadensado, com uma distância de 70 centímetros entre eles e espaçamento de 3,8 metros entre as ruas. Análises de solo e foliar são feitas duas vezes por ano para que o cafezal não seja surpreendido por um desequilíbrio nutricional.

Para que os cafeeiros se desenvolvessem e de certa maneira se blindassem contra a seca que castigou as regiões produtoras dessa cultura nos dois últimos anos, o produtor já havia implantado a fertirrigação – irrigação por gotejamento acompanhada de uma mistura de adubo e agroquímica.

O produtor adotou também o sistema safra zero, difundido nos dias de hoje, mas que na época não era bem-visto entre os cafeicultores tradicionais. Trata-se de uma técnica de poda da ponteira e das laterais dos cafezais após a colheita do ano da safra alta. Como se sabe, o café é marcado por sua bianualidade – um ano farto e outro mais fraco. Com o safra zero, implantado de forma alternada, os pés ficam um ano sem produzir, mas rendem o dobro no período seguinte, segundo ele. A intenção do produtor é aumentar a produtividade sem expandir a área. “Meta mesmo é continuar plantando cem frutíferas por ano para repovoar a área com pássaros, bugios e gatos-do-mato”, conta.

Para o ano que vem, ele planeja suspender a lavagem e separação de grãos da fazenda feita pelo lavador e usar apenas o seletor óptico, equipamento que separa os grãos cereja, verde e boia por meio do reconhecimento da cor deles. Conforme o produtor, a vantagem está na economia de água, na diminuição do tempo de secagem e na seleção perfeita dos grãos, o que influenciará na qualidade da bebida.

No entanto, todo esse modelo para alcançar cafezais produtivos e chegar à bebida desejada desembocou em outra vocação de Arthur Moscofian Jr. – o empreendedorismo. “Se eu precisava de um café especial para atender aos meus restaurantes, outros haviam de passar pelo mesmo”, comenta. Ao focar esse nicho de mercado, o produtor-empresário investiu em uma torrefação e hoje fornece para mais de 2 mil pontos de vendas entre restaurantes, cafés e padarias.

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Arthur quer tornar mais visível a produção de queijos da região

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Doce combina com café e é impossível resistir a parada na Reserva de Minas

Perto do cafezal
Arthur faz questão de aproximar seus clientes do campo. Com muita frequência, ele promove visitas à propriedade, quando não abre mão de mostrar os plantios, falar das técnicas de um jeito simples para a fácil compreensão de todos e reforçar que a fazenda só trabalha com o café ao natural, cujo grão seca com a casca, o que permite que os açúcares da polpa migrem para a semente. “Depois de seco e beneficiado, o café descansa até seguir para a torrefação ou exportação”, diz.

Cerca de 70% do café produzido pela fazenda tem o comércio internacional como destino (ele pretende dar início à venda de uma pequena parcela de café torrado em 2016) e os outros 30% ficam no mercado interno que, desde julho, passou a receber cápsulas do café Santa Mônica.

Os grãos da fazenda ficam guardados em big bags na Cooperativa Agrária de Machado (Coopama), na qual o produtor integra a lista de 1.800 cooperados, e aonde suas visitas também são levadas para um tour. “É importante que o cliente se dê conta de que existe uma rede até o café chegar ao estabelecimento dele. Ninguém faz nada nesta vida sozinho”, diz.

Arthur podia estar com o “burro amarrado na sombra” – ditado antigo para quem já alcançou uma vida confortável –, mas não consegue ter sossego. Ele procura disseminar suas ideias empreendedoras por potenciais negócios na cidade e que não necessariamente estão relacionados ao ramo da cafeicultura.

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Colheita mecanizada na propriedade, que tem área plantada de 96 hectares

Café com queijo
A amiga Albany Salles Dias não se arrepende do dia em que ela e o marido convidaram o cafeicultor e o pai dele (o Arthur pai) para almoçarem em sua casa. Na hora da sobremesa, ela serviu um doce de nata que costumava fazer com a sobra do leite da fazenda. Na mesma hora, pai e filho perguntaram por que ela não começava a vender aquela iguaria. “Fazia apenas para os de casa e não sabia reconhecer o potencial de receitas tradicionais”, conta.

Mas Albany prestou bem atenção no conselho dos amigos e aos poucos passou a comercializar os seus doces caseiros. Foi dessa forma que nasceu há dezoito anos a Reserva de Minas, que hoje conta com 4 mil pontos de venda em todo o País. O campeão continua sendo o doce de nata, mas tem também o de leite, o de frutas, a cocada, etc.

Hoje, quase toda a família está envolvida no negócio e a “pequena portinha” que montaram no Km 445 da BR 267 se tornou um empreendimento que conta agora com 108 funcionários, fábrica em processo de ampliação e posto de parada para os viajantes. “Passamos nossos dias aqui, neste pedaço doce”, diz Albany.

Agora, Arthur quer motivar os amigos da Cooperativa Regional de Produtores de Leite de Serrania (Corples), município vizinho a Machado, a tornar mais visível a produção de queijos, incluindo tipo parmesão, frescal, requeijão, manteiga e o próprio leite, para além das cercanias da cidade. “Os produtos são de excelente qualidade e não têm por que ficar conhecidos apenas por aqui”, comenta.

Segundo o diretor da cooperativa, João Batista de Figueiredo, os 350 produtores associados entregam, em média, 100 mil litros de leite por dia – 60% são direcionados para grandes laticínios e o restante é industrializado pela Corples. “Acho boa a ideia de nos mostrar mais ao mercado, pois estamos no ramo há 38 anos”, diz Figueiredo.

Para Arthur, basta que a cooperativa comece a participar de algumas exposições e até mesmo do próprio setor da cafeicultura. “É só juntar o café com o queijo, a mais deliciosa das combinações mineiras”, aconselha o cafeicultor, que às 5 da manhã já se encontra pronto para a lida.

Ficha técnica

FAZENDA Santa Mônica
LOCALIZAÇÃO Machado (MG)
REGIÃO Sul de Minas
ALTITUDE MÉDIA 1.000 metros
PRODUÇÃO ANUAL 5 mil sacas
ÁREA TOTAL 150 hectares
ÁREA PLANTADA 96 hectares
NÚMERO DE CAFEEIROS 432 mil
COLHEITA mecanizada
PROCESSAMENTO natural
SECAGEM terreiro (pátios de secagem) e secador mecânico
VARIEDADES mundo novo, catuaí vermelho e amarelo
CERTIFICAÇÕES UTZ Certified, Certifica Minas Café e Ascafea

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Janice Kiss • FOTO Alexia Santi, Agência Ophelia

Mercado

A aeropress ficou mais fácil

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Esse produto chama atenção logo de cara, pelo formato e pela proposta.

Uma espécie de “abridor de garrafas” criado para facilitar o uso da aeropress. Muitas pessoas dizem que o método criado por Alan Adler exige força. Realmente. A Spressa criou então a Mezzo, que reduz de 30% a 40% a pressão necessária para que a “seringa” vá até o final. O projeto alcançou êxito também no Kickstarter e a empresa de Seattle começou a comercializar no fim de 2014. Fizemos o teste e funciona bem. www.spressa.us

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café.
Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

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