Mercado

Gesha é vendido por preço recorde de US$ 10.020 o quilo

O café, da Finca Sophia, no Panamá, ultrapassou o recorde da variedade de 2024, de US$ 10.005 o quilo

O valor de US$ 10.020 por quilo pago pelo café geisha da Finca Sophia no leilão inaugural da World of Coffee Dubai 2025, maior feira de café do Oriente Médio que aconteceu entre 10 e 12 de fevereiro, estabeleceu novo recorde para o preço mais alto já pago por essa variedade em leilões internacionais.

O leilão Dubai Multi Commodities Centre (DMCC) Specialty Coffee Auction, realizado pela primeira vez, contou com 16 lotes de 11 produtores de nove países e marcou um novo patamar para o mercado de cafés especiais. Em 2024, durante o Best of Panama, um lote de 25 quilos de gesha da finca Carmen Estates foi vendido por US$ 250.125 – o equivalente a US$ 10.005 por quilo – superando o recorde anterior de 2021.

Além do gesha que estabeleceu um novo recorde de preço para a categoria, outro lote da mesma fazenda panamenha foi vendido por US$ 8.614/kg, confirmando a valorização da variedade geisha entre os apreciadores de cafés especiais.

Destaque, também, foi o kona SL 34, do Havaí, que atingiu US$ 910/kg, oito vezes o valor máximo já pago anteriormente por um café da região, estabelecendo um novo recorde para o café norteamericano.

Outros cafés que quebraram marcas históricas incluem o gesha village oma natural, da  Etiópia, vendido por US$ 1.100 o quilo (novo recorde para cafés etíopes) e o la llama, da produtora Los Rodriguez, da Bolívia, por US$ 350 o quilo (recorde para cafés bolivianos). 

Todos os cafés leiloados receberam notas acima de 92 pontos na escala de 100 pontos da Specialty Coffee Association (SCA).

Os valores recordes são impulsionados por três fatores principais: qualidade excepcional, que são os cafés geralmente acima de 90 em avaliações sensoriais, raridade e terroir exclusivo, que refletem as condições de cultivo únicas e produção em microlotes, e a história do produtor – compradores buscam não apenas qualidade, mas, também, consistência e um storytelling envolvente.

Os principais compradores incluem torrefações boutique e cafeterias especializadas, que vendem esses cafés como edições limitadas. 

TEXTO Fonte: International Comunicaffe

Barista

Campeão mundial Boram Um abre torrefação de cafés no Japão

Com um currículo que soma três títulos nacionais e um mundial no Campeonato de Barista, cultivo de café no Brasil e uma torrefação e cafeteria em São Paulo, o brasileiro inaugura a Ult., sua nova torrefação em Osaka

Por Gabriela Kaneto

Primeiro brasileiro campeão mundial de barista, Boram Um, da cafeteria Um Coffee Co., de São Paulo (SP), expandiu as fronteiras e lançou a Ult. Coffee Roasters, sua nova torrefação na cidade de Osaka, no Japão. A casa foi aberta em janeiro, em sociedade com a brasileira Marcia Yoko, sua mentora na competição, e um sócio local cujo nome não foi divulgado.

Em entrevista à Espresso, o empresário comenta que foram muitas as razões para apostar na Ásia. “O Japão é, de fato, um mercado muito significativo, de altíssima qualidade e expertise. Além disso, Osaka é um hub logístico excelente, com custos baixos de frete para a Ásia toda”, explica. 

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Japão é o quarto principal destino dos grãos brasileiros de qualidade superior ou certificados – em janeiro, importou mais de 67 mil sacas. “Os asiáticos estão cada vez mais consumindo cafés em grãos em casa. Existe uma oportunidade de mercado enorme”, destaca Um.

Café brasileiro do outro lado do mundo

Com foco no interesse dos japoneses, mais da metade da linha da Ult. é de origem brasileira. Os grãos são da Fazenda Um, produção da família do campeão, que tem cafezais em Minas Gerais e no Espírito Santo. “Nosso objetivo é mostrar o nível altíssimo de qualidade dos cafés brasileiros, que dificilmente encontram espaço como single origin no mercado externo”, ressalta ele, que desenvolve os perfis de torra ao lado da equipe. 

Para Boram Um, ter uma torrefação no Japão com 60% de cafés brasileiros “causa um impacto positivo no mercado e na percepção de qualidade”. Hoje, além das opções made in Brazil, o Instagram da casa divulga um segundo blend, com grãos da Costa Rica, Honduras e Brasil. A intenção é expandir o leque e trabalhar com produtores de outras origens, como Panamá.

Prove antes de levar

Seguindo o conceito de roastery/bean shop, os cafés da Ult. são servidos no espresso e no coado. A ideia é que o cliente possa prová-los para decidir qual prefere levar para casa. “Temos um sistema automatizado Eversys para o espresso. Servimos, também, cafés coados na hora, onde todo o nosso cardápio de grãos está disponível”, explica. 

Por enquanto, os cafés da Ult. estão disponíveis apenas na loja física. Mas os consumidores brasileiros podem se animar: em breve, os grãos serão vendidos on-line e entregues, também, fora do Japão.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

Cafezal

Fevereiro quente preocupa cafeicultores e pode impactar safra

Pesquisadores do Cepea apontam que as chuvas frequentes desde outubro de 2024 têm favorecido o desenvolvimento da safra 2025/26. No entanto, as previsões para fevereiro indicam um cenário preocupante: precipitações abaixo da média e temperaturas elevadas, fatores que podem comprometer o ciclo final da produção.

Embora as chuvas recentes tragam otimismo, a safra já foi impactada pelo calor e pela seca ao longo de 2024, e a evolução das temperaturas nos próximos meses será determinante para a qualidade do café colhido. O excesso de calor, além de prejudicar o perfil sensorial dos grãos – que demandam noites amenas para desenvolver uma bebida equilibrada –, pode acelerar a secagem dos frutos ainda no pé, comprometendo a produtividade e a rentabilidade dos cafeicultores.

Diante desse cenário, o setor segue atento às condições climáticas, ciente de que a estabilidade térmica nos próximos meses será essencial para garantir uma safra de qualidade.

TEXTO Redação

Mercado

Museu do Café ganha nova identidade visual

Com papel fundamental na preservação da história do café e na disseminação do conhecimento sobre o grão, o Museu do Café apresentou seu novo posicionamento institucional. 

“O propósito dessa mudança é estabelecer uma conexão emocional e de afetividade com diversos públicos, desconstruindo a imagem intimidante e elitista [do museu]”, explica a diretora-executiva do Museu do Café, Alessandra Almeida.

Em processo desde 2021, o rebranding, desenvolvido em conjunto com o Istituto Superiore per le Industrie Artistiche Roma (ISIA Roma Design), incluiu o lançamento de uma nova identidade visual que destaca o lado humano e social do café além da xícara, trazendo assuntos como gênero, raça e imigração. 

Para isso, os novos atributos adotados pelo Museu do Café nesta fase (vivo, participativo, internacional, socialmente responsável e afetivo) serviram de base para a atualização da identidade visual, que utilizava a mesma logomarca desde a fundação, em 1998.

O novo logotipo foi inspirado em movimentos orgânicos e circulares que fazem parte da cadeia de produção e consumo, influenciado, também, por traços e elementos do prédio que abriga o Museu, como Salão do Pregão, a cúpula, o relógio da torre e as colunas greco-romanas. 

“A forma circular da xícara vista de cima vai ao encontro do sinal dinâmico da gota. O resultado é uma letra C suave”, explica Massimiliano Datii, professor do ISIA. “Os rostos dos produtores e consumidores, os elementos naturais, os rituais nas diversas partes do planeta, as cores do mundo do café, cada detalhe é integrado ao sistema visual e contribui para enriquecer a imagem do Museu”, completa.

A nova identidade pode ser vista pelo público no site do Museu do Café – que foi totalmente reformulado –, nas redes sociais e no vídeo da campanha institucional

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Café & Preparos

Café é tema de exposições em São Paulo e no Rio de Janeiro

Exposição “Café através dos sentidos”, que acontece até o dia 22 de fevereiro, no Polo Cultural ItanianoRio

Até o dia 22 de fevereiro, na cidade do Rio de Janeiro, o Polo Cultural ItalianoRio (av. Pres. Antônio Carlos, 40 – Centro) oferece a exposição gratuita Café através dos sentidos. A experiência imersiva busca fazer com que o visitante explore os sentidos através de vídeos e itens em exposição, que vão desde a produção, como grãos de café, até informações sobre o tradicional espresso italiano e os utensílios históricos utilizados na cerimônia do café na Etiópia. 

Um dos destaques da mostra é a reprodução da pintura “Colheita de café” (1958), de Candido Portinari, que retrata uma cena de trabalho nos cafezais. Especialmente no dia 20 de fevereiro, a exposição recebe João Candido Portinari, filho do artista, que fará uma palestra sobre a relação de seu pai com o café, esmiuçando a arte e as culturas brasileira e italiana. 

Exposição “Passione Italiana: l’arte dell’espresso”, que acontece a partir de 21 de fevereiro, no Museu da Imigração

Já em São Paulo (SP), o Museu da Imigração (rua Visconde de Parnaíba, 1316 – Mooca) recebe, a partir do dia 21 de fevereiro, a exposição Passione Italiana: l’arte dell’espresso, que aborda a evolução do design e da tecnologia dos artefatos de café, relacionando os itens à imigração italiana para o Brasil. A mostra gratuita, que esteve no Museu do Café, em Santos, reúne 60 máquinas para uso doméstico e profissional, além de um acervo de xícaras. 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Como o preço do café pode impactar o mercado e o consumo

A escalada de preços abre espaço para alternativas de consumo, como as bebidas ready-to-drink e o café solúvel

Foto: Agência Ophelia

Por Gabriela Kaneto

Nos últimos meses, a alta expressiva dos preços do café tem sido um assunto em debate. Em 2024, o custo do grão para o consumidor cresceu 37,4%, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em coletiva realizada na última quarta (5). Estoques baixos, tanto nos países produtores quanto nos consumidores, problemas climáticos – com projeções de que as condições devem persistir em 2025 – e a alta do dólar são algumas justificativas para essa valorização. 

Estimativas de produção para o próximo ciclo também impactam os preços. Em 28 de janeiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua primeira estimativa para a safra brasileira de café 2025, indicando uma produção de 51,8 milhões de sacas, queda de 4,4% em relação ao ano anterior. 

Enquanto isso, nas gôndolas, um simples café de mercado está na casa dos R$ 30 – e a previsão não é animadora. “Devemos ter aumento adicional no preço final. A indústria não tem como evitar esse aumento e repassou os valores para os intermediários e consumidores finais”, disse Pavel Cardoso, presidente da Abic, na coletiva. “Nos próximos dois meses, devemos ter um aumento de 25%”, acrescentou.

Foto: Agência Ophelia

Entre a produção e o cliente

Alex Lima, fundador da Torra Fresca Cafés, de Mococa (SP), sente os efeitos da rápida escalada. Em entrevista à Espresso, ele comenta que cerca de 15% dos clientes deixaram de comprar café nos últimos meses. “Fizemos um repasse de 50% entre novembro e janeiro. Os clientes assustam, tentam manobrar e, em alguns casos, deixam de comprar”, explica.

À frente da torrefação há 11 anos, Lima trabalha não apenas com café especial, mas também com gourmet – produto que tem sido uma alternativa para quem busca manter certo padrão de qualidade. “O gourmet apresentou aumento nas vendas. Antes, o cliente comprava dois especiais. Hoje, tem comprado um especial e um gourmet”, relata. 

No norte do país, em Belém, no Pará, o empresário Bruno Wariss, da Alquimista Bebidas Especiais, também se reinventa para driblar a situação. “É importante ser flexível”, pontua. Ele, que vem de família que trabalha com café há décadas, relembra outros momentos difíceis: “Entre 2015 e 2016, em que tivemos impeachment de presidente e caminhões parados, os produtos não chegavam e a gente precisou se adaptar. Depois veio a covid-19, três meses totalmente fechados, sem funcionar, não estávamos vendendo café. Mas precisamos nos adaptar ao mercado”.

Foto: Agência Ophelia

Wariss explica que o repasse para o cliente se faz necessário para manter o negócio funcionando. “Nós tentamos segurar o preço, mas infelizmente tem que repassar. Antes eu vendia, para cafeterias, um café de 82 pontos, para espresso, a R$ 75 o kg. No momento está custando R$ 120, mas vem escalando de dez em dez reais a cada 15 dias. É a nova realidade. Não adianta segurarmos o preço, senão vamos ter que fechar a empresa”, aponta o empresário.

Ele também comenta que o fato de estar longe de grandes centros produtores, como Minas Gerais e Espírito Santo, o obriga a comprar quantidades maiores de café por vez – o que financeiramente não tem sido um negócio fácil. “Há 12 meses, com 100 mil reais, comprávamos 60 sacas de 60 kg. Agora, com 100 mil reais, conseguimos comprar 28 sacas. Antes, o produtor dava 120 dias de prazo, agora ele dá 30”, relata. “Então é uma adaptação completa, até da minha vida pessoal. Meu pró labore diminuiu 30% para que a gente possa se adequar às novas compras de café. É um estudo financeiro, de gerência e de venda, e ao mesmo tempo uma relação com o produtor”, detalha.

Foto: Agência Ophelia

Em contrapartida, para manter o interesse do público nos cafés de qualidade, Weriss tem investido na educação do público com treinamentos que acontecem em seu espaço. “Treinamos de duas a três mil pessoas por ano, entre baristas, coffee lovers e donos de cafeterias, e com isso o consumidor fica cada vez mais esperto sobre o real valor do café, no sentido sensorial, e já sabe reconhecer muito bem o que é o café especial”, destaca. 

Ele também faz parcerias com empresas de consultoria. “Elas oferecem aos meus clientes uma palestra gratuita e depois, caso queiram, eles acabam fechando negócio. Ou seja, essas empresas se aproveitam do meu networking para fechar possíveis contratos, e, ao mesmo tempo, fomentam meus clientes a serem melhores profissionais. Mantemos o terreno fértil aqui”, explica.

Novas formas de se consumir a bebida

Claro que o café filtrado não será substituído, mas a escalada de preços pode impactar a forma de consumo, dando margem para que novas bebidas entrem no jogo, como as bebidas ready-to-drink e o café solúvel. “O solúvel está sendo inserido como mais uma forma de se tomar café em determinados momentos do cotidiano”, afirma Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics). 

Café solúvel – Foto: Felipe Gombossy

Nos últimos meses, o produto teve bom desempenho, como indica a atualização do AbicsData, plataforma da Abics, divulgada no final de janeiro. Segundo os dados, o Brasil registrou aumentos recordes tanto nas exportações quanto no consumo interno. Em 2024, os envios de café solúvel somaram 4,093 milhões de sacas – crescimento de 13% na comparação com o ano anterior. No mesmo período, o consumo nacional alcançou o seu maior nível histórico: 1,069 milhão de sacas. Para Lima, a melhora da qualidade e o leque de opções são fatores que justificam a maior demanda pelo produto. “São vários blends de canéforas e arábicas, além da diversificação dos processos, como o aglomerado, o spray dried ou o freeze dried, que tem várias aplicações, e também os muitos tipos de embalagens. Com isso criou-se uma prateleira maior para os consumidores”, explica. 

Na prática, a versatilidade, o preço da dose e sua maior vida útil também são fatores a favor do solúvel, como menciona a consultora da Abics, Eliana Relvas: “no caso do solúvel, não tem desperdício. O consumidor faz doses únicas, geralmente 1g ou 1,5g por xícara, misturado com leite ou água. Além disso, pode durar até dois anos se embalado corretamente. Já o torrado e moído tem uma validade menor, pois oxida mais rápido”, comenta. “Lembrando que o café solúvel é só café e água. Usamos só pressão e temperatura em sua produção”, destaca.

Hoje, o solúvel representa 28% do consumo total global e 5% no cenário brasileiro – número este que vem crescendo nos últimos anos, como mostra a série histórica da Abics (veja imagem abaixo), que os acompanha desde 2016. 

“Como segundo maior consumidor de café, o Brasil tem muito espaço para crescer no consumo do produto, e isso está muito ligado à nossa capacidade de transmitir aos consumidores que o café solúvel não é tudo igual, que tem, sim, várias aplicações”, afirma Lima. “As expectativas são as melhores e devemos seguir crescendo no Brasil a um ritmo bastante interessante”, completa.

TEXTO Gabriela Kaneto

Barista

Casa Hario oferece workshops sobre preparo de café

Localizada em São Paulo (SP), a Casa Hario, primeira e única cafeteria da marca japonesa Hario no mundo, oferece três workshops que abordam o preparo da bebida. Ministradas pela educadora e mestre de torra Regina Machado, as aulas acontecem na própria cafeteria, nos primeiros três sábados do mês, com duração de 3h. As vagas são limitadas (de 6 a 8 alunos por turma) e as inscrições podem ser feitas aqui.

Ideal para iniciantes, o workshop “Introdução aos cafés especiais” (R$ 390) mostra as principais diferenças entre cafés tradicionais e especiais, além de ensinar o preparo da bebida nos métodos v60 e switch. Para quem deseja expandir os conhecimentos, o “Mundo café Hario” (R$ 390) explora a teoria e a prática dos métodos, como v60, sifão, french press. Por último, o “Laboratório Hario” (R$ 490) é voltado para aqueles que têm experiência e querem se aprofundar em conteúdos técnicos com foco em ajuste de variáveis, como moagem, temperatura e tempo de preparo. 

Serviço
Workshops Casa Hario
Onde: Casa Hario – rua Manuel Guedes, 426 – Itaim Bibi – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento da casa: seg. a sáb., das 9h às 23h; dom., das 11h às 18h
Inscrições: www.eventbrite.com
Mais informações: www.instagram.com/casahario 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

A fatura do caos

“A inflação é o caos em sua forma mais eficiente e arrasadora”
Monica de Bolle

A Torre de Babel, na narrativa bíblica, trata do mito sobre a construção de uma torre que deveria alcançar o céu. Diante dessa arrogância humana, Deus, indignado, criou os diversos idiomas, impedindo-os de continuar a obra proposta, pois se tornaram incapazes de mutuamente se entender. O mito narra o surgimento do caos no seio da civilização, ou melhor, uma imagem de sua barbárie.

Parte dos cidadãos estadunidenses celebram os primeiros dez dias de novo presidente, e a outra parte começa a se posicionar contrariamente aos seus atos iniciais. Entretanto, dois tópicos despertam a atenção de toda a humanidade: a elevação dos impostos para os produtos importados pelos EUA e a radicalização da política imigratória com repatriações em massa.

Ambas as políticas terão impactos significativos no bem-estar dos estadunidenses. Sem a força de trabalho representada pelos imigrantes (documentados ou não), muitos ramos econômicos serão estressados. A agropecuária, os serviços em hotéis, bares e restaurantes, as obras de infraestrutura, a construção civil, entre outros, estão afetados pelo temor dos imigrantes trabalhadores de serem caçados, algemados e repatriados, em algumas situações, com requintes de crueldade e sevícia.

Paralelamente, a imposição de taxas para as mercadorias importadas pode desencadear uma guerra comercial planetária, com enorme potencial de reduzir a expansão econômica das nações, uma vez que o crescimento econômico e o avanço do comércio internacional possuem covariância positiva, ou seja, quando um cresce, o outro também e vice-versa.

A liderança econômica/militar global dos EUA vem, progressivamente, sendo corroída, gerando um sentimento de declínio enquanto potência mundial. Tal sentimento concede ensejo para o surgimento de políticos populistas, oferecendo soluções fáceis, porém erradas, para problemas complexos.

Conjugadas, ambas as políticas tendem a resultar em elevação dos preços, ou seja, mais inflação. O desdobramento de processos inflacionários corroem as capacidades de governabilidade das nações, ou seja, preparando um contexto para a produção do caos.

Quando surgem processos inflacionários generalizados, abrangendo todos os continentes (desdobramento da mútua imposição de tarifas alfandegárias), a riqueza representada pelas moedas é dilapidada, redirecionando o interesse em buscar proteção patrimonial nas mercadorias, especialmente, aquelas negociadas em Bolsa de Valores, como, por exemplo, o café.

Atualmente, o mercado mundial de café atravessa severa restrição de oferta. Decorrentes de problemas originados pelas mudanças climáticas, os principais países produtores exibiram substancial redução de oferta, o que levou a um paulatino consumo dos estoques remanescentes. Porém, para fazer frente a um incessante aumento da demanda, sendo o caso recente mais emblemático a procura por café pelos chineses, os estoques se exauriram e todo o mercado passou a atuar, no jargão comercial, da “mão para a boca”. 

Tal situação foi antecipada pelo mercado de cacau, outro produto tropical que, em menos de vinte e quatro meses, registrou elevação de cinco vezes em sua cotação média histórica. No mercado de café, esse mesmo cenário se repetiu com o registro de cotações em máximas históricas (similares às alcançadas quando da geada negra de 1975). Assim, se soma ao contexto de suprimento limitado e a demanda aquecida o fator econômico da pressão inflacionária.

A Bolsa de Nova York, no ano civil, movimenta em papeis dez safras mundiais de café. A busca por proteção patrimonial por meio da aquisição de contratos representados pelas mercadorias transacionadas será pressionada em detrimento da corroída moeda. A consequência imediata consiste na manutenção das cotações com possíveis novas altas, pressionada pelo crescente número de contratos de compra em aberto.

O ambiente de negócios sempre navegou em cenários de incerteza e de risco. A cafeicultura enfrentou o lockdown imposto pela pandemia; em seguida, houve as três ondas de massa polar com geadas generalizadas pelos cinturões cafeeiros; as altas temperaturas prejudicando o pegamento (ramos banguelas) e diminuindo o tamanho dos grãos e, na atual safra, a longa estiagem de 2024 que, em muitos casos, trouxe perdas de 30% a 40% na produção antes esperada.

Às incertezas e riscos intrínsecos de uma indústria a céu aberto se soma, neste momento, a incerteza de natureza política (uma verdadeira marcha da insensatez) e o medo (repatriação dos imigrantes). Formou-se o caos. A resposta imediata do FED estadunidense será subir juros para conter a inflação. Frente ao caos há somente uma solução, a fatura dos malfadados juros altos. Nisso, as autoridades monetárias brasileiras são useiras e vezeiras. Pois que venham os estadunidenses tomar cá algumas lições.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro - Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA - celvegro@sp.gov.br 

Mercado

O consumo de café no Brasil cresceu 1,11%

Dados coletados pela Abic até outubro do ano passado revelam também que o consumo per capita diminuiu 2,2% no país; quanto à falta de café no mercado, o país está preparado para o enfrentamento

O consumo de café no Brasil cresceu 1,11% em 2024, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apresentados em coletiva de imprensa nesta quarta (5). Isso significa que os brasileiros consumiram 21,92 milhões de sacas em 2024, contra 21,67 milhões em 2023.

Já o consumo per capita de café torrado e moído entre 2023 e 2024 caiu 2,2% (de 5,12 kg por habitante por ano para 5,01), por conta do crescimento da população (a Abic utilizou a base populacional feita pelo IBGE, que cresceu). Os dados acima foram coletados entre novembro/outubro de 2023 e novembro/outubro de 2024.

Questionado pela Espresso se faltará café no mercado interno por conta da pequena oferta atual, Pavel Cardoso, presidente da Abic, nega que tenhamos problemas. “Sempre há estoques reguladores nos países produtores e exportadores. Por conta da EUDR, as importações europeias foram aceleradas para estoque”, diz ele.

Embora a safra brasileira de 2025 seja “ligeiramente menor”, nas palavras de Cardoso, para Fábio Sato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) e que também participou da coletiva, a safra brasileira poderá trazer alívio para essa baixa oferta. Segundo Edvaldo Frasson, presidente do Sindicafé-SP, “a indústria está preparada”.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Mercado

Lançamentos da Carmomaq para torrefação e empacotamento de café

Várias marcas do mercado aproveitam a Semana Internacional do Café para fazer seus lançamentos. A Carmomaq, que atua no setor de equipamentos, apresentou três novidades. Uma delas foi a empacotadora Exatto, que visa facilitar o trabalho de envase de pacotes de café nas microtorrefações e cafeterias. Em vez de realizar um processo manual de dosagem dos grãos, o equipamento, que comporta de 15 a 20 kg de café, permite que o usuário programe a quantidade desejada por pacote e faça um empacotamento sequencial.

Além da Exatto, as outras duas novidades são os torradores Caloratto Pro Roaster e Stratto Lab. O Caloratto, disponível em versões para 5 kg, 10 kg, 15 kg e 30 kg, tem sistema de automação embarcado, que permite ao usuário pernalização e maior controle. Já o Stratto Lab, 100% elétrico, é portátil, com capacidade para 250 g, ideal para torras de amostras e pequenos lotes.

Mais informações: www.carmomaq.com.br

TEXTO Redação • FOTO Divulgação
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