Créd: Felipe Gombossy
Estudo coordenado por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) aponta que o mercado consumidor de cafés especiais no Brasil é composto por pessoas interessadas por novos métodos de preparo, origens e sustentabilidade, cada vez mais dispostas a buscar aprendizado e a ensinar outros consumidores sobre o caminho deste universo particular. A pesquisa aconteceu em 2017, em parceria com estudiosos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Em fase de publicação científica, o estudo traz informações inéditas sobre o mercado nacional de cafés especiais.
Por meio da aplicação de 834 questionários, buscou-se estabelecer o perfil dos consumidores brasileiros de cafés especiais e propor um modelo de segmentação para esse mercado, de forma a melhor atendê-lo e orientar as estratégias de todos os atores dessa cadeia, públicos ou privados.
No mercado brasileiro observam-se diferentes conceitos de café especial, especialmente pelo histórico de desenvolvimento da indústria nacional e pelo ainda restrito (porém crescente) conhecimento do público acerca dos critérios de qualidade do produto. Assim, neste estudo, consideraram-se especiais aqueles cafés com claros atributos de diferenciação na perspectiva do consumidor, seja por características organolépticas da bebida (sabor, aroma, corpo) ou por atributos ligados ao sistema de produção e preparo (certificações, orgânicos, entre outros).
Créd: Gui Gomes
Os principais critérios para identificação e diferenciação dos cafés especiais, na percepção dos respondentes, foram: sabor e aroma da bebida; qualidade superior; torras mais claras e bebida mais suave; disponibilidade de informações sobre a origem, cafeicultores e formas de produção; presença de certificações e outras garantias da adoção de práticas sustentáveis; e maior proximidade dos cafeicultores.
Embora muitos bebam cafés da categoria tradicional, a tendência é reduzir ou mesmo eliminar o consumo desse tipo entre os consumidores de cafés especiais. Eles já fazem parte da rotina diária da maioria dos respondentes – cerca de 60% dos entrevistados. Além disso, 74% dos respondentes declararam intenção de aumentar o consumo de cafés especiais, o que demonstra o grande potencial de crescimento desse mercado no Brasil.
Os principais locais de consumo são o ambiente doméstico e as cafeterias especializadas, especialmente pela qualidade dos produtos e pela disponibilidade de métodos de preparo da bebida. A curiosidade por tais formatos (Chemex, Hario v60, French Press, entre outros) e envolvimento do consumidor com o preparo da bebida são tão grandes que aproximadamente três em cada quatro respondentes declararam ter adquirido algum deles para consumo doméstico. Quanto aos formatos de café adquirido, destacam-se o torrado em grãos, seguido do torrado e moído, das cápsulas e, por fim, dos grãos verdes. Os resultados apontam que a busca pela diferenciação se dá não apenas nos tipos de bebida e origens, mas também nas formas de preparo.
Créd: Felipe Gombossy
Dentre as principais motivações para consumo dos cafés especiais estão o sabor e aroma da bebida, o prazer em seu consumo, o conhecimento sobre história e origem dos grãos e o apoio a iniciativas ambiental e socialmente responsáveis. A importância da comunicação dessas características ao consumidor final é evidenciada pela disposição de mais de 70% dos respondentes em aumentar seus gastos com cafés especiais, desde que mais informações relacionadas ao produto fossem disponibilizadas. Atualmente, as principais formas de acesso aos dados são a embalagem do produto, via online ou diretamente com um barista ou outro profissional da área. Para os profissionais, a dica é comunicar informações precisas e detalhadas, sempre com fotos e boas histórias.
A comunicação dos diferenciais dos cafés sustentáveis e certificados faz parte desta estratégia, e, de acordo com a pesquisa, mais de 80% dos respondentes consomem estes produtos. Suas principais motivações são a proximidade do cafeicultor e a garantia de preços mais justos, possibilitando melhoria de qualidade de vida, preocupação ambiental (fauna, flora e recursos naturais), rastreabilidade do produto, não utilização de agrotóxicos e maior segurança alimentar, com garantia de condições de trabalho justas e adequadas.
Créd: Alexia Santi/Agência Ophelia
Outro destaque da pesquisa é o grande percentual de respondentes com ligações profissionais ao mercado de café (commodity ou especial), nas áreas de produção, torra, cafeterias/varejo, ensino ou pesquisa. Isso poderia indicar tanto uma abertura maior entre os profissionais do café para experimentação dos cafés especiais, ou a busca por profissionalização neste mercado por consumidores apaixonados.
Com base nessas informações, identificaram-se três segmentos de mercado, diferenciados essencialmente por suas motivações para o consumo de cafés especiais e critérios utilizados na seleção e aquisição do produto. Novas informações serão divulgadas em breve, após publicação do estudo em periódico científico de alto impacto.
TEXTO Msc. Elisa Reis Guimarães, Prof. Dr. Paulo Henrique Leme, Prof. Dr. Daniel Carvalho de Rezende, Dr. Sérgio Parreiras Pereira e Prof. Dr. Antônio Carlos dos Santos.