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Cafés cultivados em solo vulcânico

Entre Minas Gerais e São Paulo, existe uma região que consolida-se em solo vulcânico e une gerações em torno da produção de cafés especiais

A Região Vulcânica está em uma área conhecida como caldeira vulcânica – resultado de um vulcão extinto há aproximadamente 80 milhões de anos e que definiu um território de solo vulcânico entre o sul de Minas Gerais e o nordeste de São Paulo. Formada por doze municípios, como Andradas, Botelhos e Poços de Caldas, no estado de Minas Gerais, e Águas da Prata e São Sebastião da Grama, em São Paulo, suas condições de clima e relevo delimitam um “terroir” singular onde são produzidos cafés. 

A vegetação é predominantemente formada por florestas tropicais do tipo Mata Atlântica. As altitudes das lavouras variam entre 700 e 1.300 metros (com uma média de 1.075 metros) e a temperatura anual média na região fica entre 17 e 20ºC. 

“Vimos a importância de a região ter uma associação para agregar valor ao produto e ao local”, explica Leandro Paiva, diretor do Polo Inovação Agroindústria do Café no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, um dos primeiros a incentivar a criação da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica, que conta com cerca de 800 produtores de café – 70% deles praticam agricultura familiar. “As pessoas já comercializavam o café com o nome de Poços de Caldas, Andradas, por exemplo, citando a presença, no local, de vulcões”, comenta. 

Com um histórico de produtos diferenciados por conta do terroir,  a marca Cafés da Região Vulcânica foi lançada oficialmente em 2020, durante a Semana Internacional do Café (SIC). “No começo foi difícil,  levou tempo, principalmente para o produtor entender que todas as ações tinham como propósito mostrar notoriedade, valorizar a terra e, assim, gerar valor para a produção”, destaca Paiva. 

“Nosso intuito é fomentar, mostrar o potencial de cada produtor local. Muitos já mudaram a vida através do nosso trabalho, e é isso que vale, o crescimento e ascensão dos cafés’’, diz Marco Antônio Lobo Sanches, presidente da Região Vulcânica e proprietário da Fazenda Curitiba. 

Marco Antônio Lobo Sanches, presidente da Associação dos Cafés da Região Vulcânica

Primeira parada 

Com o objetivo de plantar e comercializar cafés de referência, o grupo AgroFonte Alta surgiu em 2009. Hoje em dia, os grãos nascem em três fazendas, duas na cidade de Campestre e uma em Machado, no Sul de Minas. “Começamos a pesquisar sobre variedades, processos e cuidados no pós-colheita”, conta Leonardo Custódio, supervisor de qualidade no grupo há mais de dez anos.

Para fortalecer a marca Mantissa, a primeira ideia foi enviar os cafés para concurso. Deu certo. Além de finalistas por diversas vezes do Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso, em março de 2023 o grupo alcançou a quinta colocação, e, em 2022, o primeiro lugar no concurso da Região Vulcânica com o café cereja descascado. 

Atualmente, eles comercializam doze variedades, mas têm um banco com mais de quarenta delas para teste. Segundo Custódio, os testes examinam tecnologia, o modo como o café se comporta, resistência a pragas e doenças e produtividade. “Aqui também ajudamos outros produtores, auxiliando com dicas para melhorar na qualidade e, até, a chegar à final de concursos. Ajudamos nesse avanço para crescermos juntos. Somos uma região privilegiada”, acredita ele. 

Leonardo Custódio é supervisor de qualidade há mais de dez anos

Montanhas, picos e morros tornam a colheita manual a única opção viável. O calor durante o dia e o frio à noite geram cafés mais ácidos e com mais açúcar, segundo Custódio. “Cafés plantados de um lado da montanha não entregam a mesma bebida na xícara que o café plantado do outro lado”, explica.

Foco nos estudos 

Ilma Rosa Corrêa Franco, do Sítio Terra Nova, em Campestre, é uma das maiores promotoras da Região Vulcânica. “Precisamos de divulgação e ajuda. Aceitar que a troca de informações só vai melhorar os cafés da região”, comenta Ilma, cuja dedicação diária aos cafés rendeu a ela o primeiro lugar no concurso organizado pela Prefeitura de Campestre, em 2022. “Eu mesma trabalho no terreiro, no secador, coloco a lona depois que o sol vai embora e faço a torra”, detalha. 

Ilma, da segunda geração de cafeicultores, destaca a importância de cursos para melhorar cada vez mais o café que produz. “Acho que nasci num pé de café”, diz. “Somos sete irmãos e a maioria trabalha com café, cada um em seu espaço”, relata ela, que tem 800 pés de café herdados do pai. Além deles, hoje em dia, ela possui catuaí amarelo, catuaí vermelho, bourbon e mundo novo, totalizando 50 mil pés.

Dona Ilma e sua dedicação ao café especial

Da produção de commodities, Ilma e o marido, João Antunes, migraram para os especiais. “Fui uma das campeãs do concurso Florada, da 3corações, e a premiação foi em Campestre. Já batizei o talhão enviado para esse prêmio de ‘premiado’”, emociona-se. Em 2022, Ilma participou da Semana Internacional do Café e conseguiu compradores para seus grãos. “Criei a marca Rosa Franco. Rosa é meu sobrenome e Franco, o do meu marido, daí descobri na minha árvore genealógica que havia Franco nos meus antepassados, e assim decidimos a marca”, conta. 

A união pelo especial 

Cabo Verde tem altitude (785 e 1.255 metros) e clima (úmido) favoráveis para a produção de cafés especiais. Mas tem também um grupo de produtores dedicados, que faz parte da Associação dos Produtores de Cafés Especiais de Cabo Verde (Assprocafé), fundada em 2014. Atualmente, são trinta cafeicultores cujo objetivo é encontrar melhorias e soluções para valorizar o trabalho no campo e a produção de cafés especiais.

A Assprocafé, em parceria com o Sebrae, quer colocar, ainda, os grãos como referência nacional nesse segmento. Em 2022, cinco cafeicultores da associação estiveram na SIC. 

Henrique Palma Neto, dos sítios São Bartolomeu e dos Palma, conta que sua produção é antiga. Seus antepassados chegaram da Alemanha em 1882, em Santos, foram para São Paulo e, depois, para Cabo Verde. “Aqui compraram o primeiro pedaço de terra. Crescemos no café”, explica ele, que cultiva catuaí e arara. “Queremos desenvolver um projeto de turismo rural, para que as pessoas possam conhecer nossa região”, completa ele, que também produz o destilado de café João Fortes. 

O destilado homenageia João Batista Fortes, um homem bem-humorado e muito profissional no trabalho da fazenda. Sempre bem trajado, com chapéu, bota e facão na cintura, ele e seu cavalo Gaúcho cortavam diariamente as lavouras de café das serras de Cabo Verde. No fim de cada dia de trabalho, havia parada garantida em pelo menos um dos bares na rota para casa. Nessas paradas, João Fortes, que apreciava a cachaça, era solidário com o Gaúcho, que também tinha direito a uma dose servida no chapéu do cavaleiro. O café que compõem o destilado é extraído das cerejas, colhidas seletivamente nas lavouras e fermentadas. “Então, extraímos o mosto, secamos e seguimos com o processo de preparo da cachaça”, explica Neto.

Leandro Rodrigues dos Reis, do Sítio Córrego Fundo, da quinta geração de produtores, tem café sombreado em clima ameno, características que proporcionam uma maturação lenta e de qualidade. “Sabia que os nossos grãos tinham qualidade, mas meu pai preferia colher mais café do que ter atenção aos detalhes, então passei a cuidar do especial e seguimos ajudando um ao outro”, lembra. “Ainda temos o café do jacu, do qual produzimos uma leva pequena”, conta ele, que produz caturra, catuaí vermelho e catuaí amarelo, faz colheita seletiva e seca em terreiro suspenso. 

O café alimentou três gerações da família de Laís Podestá, da Fazenda do Córrego. Ela conta que foi para São Paulo estudar e especializou-se em fotografia. Com a pandemia, voltou para a fazenda e passou a se envolver com as divulgações da associação e apresentar seu café. 

Já Marcos Antonio Oliveira Carvalho, da Fazenda Fazendinha e atual presidente da Assprocafé, tem na sua propriedade, a mil metros de altitude, as variedades mundo novo, catuaís amarelo e vermelho, bourbons amarelo e vermelho e catucaí 2SL vermelho. 

A história com o café de Ivan Santana, da Fazenda Jangada, começou aos 11 anos, quando passou a ajudar a mãe, Zilda Goulart, na lavoura. “Aos 13 anos, minha mãe disse que eu precisava estudar e me formei técnico em cafeicultura”, recorda Santana. “Comecei a trabalhar em qualidade e anos depois comprei uma parte da fazenda em que minha mãe trabalhava”, completa. Os primeiros anos foram difíceis, a produção era commodity e eles tiveram que aperfeiçoar cada etapa. Até que, em 2019, ele conseguiu incluir seu café em uma compra coletiva e logo fez parceria com a cafeteria Dude Coffee. 

Santana fez outras parcerias e atualmente torra os cafés e os envia para todo o Brasil. A fazenda cultiva catuaí amarelo, catuaí vermelho, bourbon vermelho, mundo novo, arara e catuaí amarelo.

Companheirismo 

A história de Dulce Vieira Franco de Souza e Ablandino Saturnino de Souza começa com o bisavô e o avô de Dulce no Sítio Belém, em Campestre, quando, em 1878, foram plantados os primeiros pés de café.  Seu pai, Otoniel, não tinha tanto interesse nas produções como os outros irmãos. 

“Meu pai tinha paixão por tecnologia. Quando meu avô dividiu as terras, deixou as melhores partes para os outros filhos, pois acreditava que meu pai seria o primeiro a vendê-las. Ele só não contou com o fato de que minha mãe [Orminda] não concordaria com a venda”, conta Dulce. 

Dona Dulce e Ablandino

Mesmo insistindo, o pai de Dulce não conseguiu vender as terras, e esforçou-se para que os filhos estudassem para não depender da roça. “Mesmo assim, ninguém saiu da roça”. Dulce tornou-se dentista e mudou-se para Botelhos. “Trabalhei por 35 anos. Meu marido é pastor e no final de semana viajávamos muito com a igreja para realizar visitas missionárias, mas onde eu estivesse os pacientes me encontravam”, brinca. 

Ablandino, seu marido, passou a cuidar da propriedade e aprender ainda mais sobre o café. “Comecei a dividir meu tempo e quebrar a cabeça para melhorar a produção”, explica ele, que contou com um funcionário que cuidava de tudo até que o casal assumisse a gerência dos cafés. 

“Dei trabalho para a cooperativa, pois queria aprender cada detalhe, questionava cada valor e desconto, virei uma encrenca”, diverte-se Dulce. 

Com a ajuda de um agrônomo da Educampo, entenderam como dar qualidade ao café. “O profissional nos desafiou a pensar em soluções e começamos a fazer cerejas descascados. Temos um microclima que nos favorece, faltava só alinhar detalhes da produção. Hoje temos em 22 hectares as variedades arara, catiguá, paraíso e plantamos um pouco de geisha”, detalha ela. 

Eles já venceram dois anos seguidos o concurso de Campestre e foram finalistas do Florada Premiada, da 3corações. “Concurso de café é como vestibular, alguém vai passar e pode ser eu, então é sempre bom tentar”, completa a produtora. 

Pioneirismo

João Batista de Abreu, avô de Daniela Abreu da Silveira, da Fazenda Santo Antônio, é famoso em Botelhos por ter iniciado a comercialização de café e expandido a cultura na região. 

Daniela Abreu contou com o incentivo de seu avô para seguir no café

Daniela cresceu na fazenda, sob os ensinamentos do avô. “Em 1970 ele já produzia cafés com qualidade, mas ele era comerciante, casou novinho com a minha avó e tinha tino para o comércio”, conta ela. Desde novo o avô trabalhava numa farmácia da qual virou dono e onde começou a comprar e revender cafés. Até que propôs ao pai de Daniela, quando ainda era noivo de sua mãe, a produzir café de verdade. Compraram uma fazenda pequena. “Meu pai era caminhoneiro e andava pelo Brasil todo. Meu avô quis entender cada detalhe da produção, então eles foram para Santos estudar a Bolsa de Valores, o comércio e todo o universo dos grãos”, detalha ela. 

Daniela vivia na fazenda ajudando o pai, formou-se e fez mestrado em agronomia. “Mas eles não me ouviam, qualquer palpite meu era ignorado. Então, fui fazer outras coisas”, lembra. Ao lado da jornalista Vânia Marques, Daniela fundou o jornal Folha Agrosul. “Isso abriu o meu leque sobre mercado”. 

Em 2009, após a morte de João Batista, a família dividiu a propriedade. A família de Daniela assumiu uma parte, que, além do café, tinha gado. “Fui aprender na prática. Buscamos novas tecnologias e construímos um gado de corte e um de leite. Do café só fui cuidar com meu pai em 2020.”   

Em 2021, a família ganhou o concurso de Botelhos. No ano seguinte, vieram mais prêmios – o primeiro lugar da Região Vulcânica e entre os finalistas do Florada Premiada. Resultados da mudança no pós-colheita, como cuidado na secagem, feita em lotes. “Escolhi o terreiro, sequei com todo o cuidado e assim conquistamos o prêmio”. As variedades plantadas são catucaí, mundo novo, catuaí vermelho, catuaí 62 e arara.

Fazendo história

Em São Paulo, na divisa dos municípios de Caconde e Divinolândia, há um lugar colorido. É o Sítio Boa Vista do Engano, de Roberta Bazilli, cheio de ilustrações e que produz o café Dinocoffee. 

Roberta faz parte da quinta geração de cafeicultores e, desde 2005, está à frente da marca. A família se dedica à produção desde 1916 e todo o processo é feito artesanalmente, no interior da propriedade. Em 2007, o café de Roberta foi servido ao Papa Bento XVI em sua visita ao Brasil, e, em 2013, ao Papa Francisco, em sua passagem por Aparecida. “Devagar e sempre, vamos fazendo história”, orgulha-se ela.

Quando se formou em hotelaria, em 2002, Roberta decidiu voltar para Caconde, terra dos avós. Pós-graduada em Planejamento e Marketing de Produtos e Destinos Turísticos, técnica em cafeicultura e com cursos na área de barismo, classificação e degustação de cafés, ela decidiu reestruturar a plantação de café commodity da família. “Meu pai foi, aos poucos, adquirindo partes da fazenda. Assim, estruturamos o casarão”, explica. 

Roberta Bazilli e seu filho Theo

Entre 2002 e 2005, trocaram maquinários, mudaram o tipo de colheita, montaram a torrefação e, atualmente, Roberta e a família moram no sítio e enviam seus cafés a cafeterias e supermercados. Em média, são 400 sacas beneficiadas de mundo novo, catuaís amarelo e vermelho, bourbon amarelo e arara, ao lado de alguns pés de gesha. Embora pequeno, o sítio abriga uma cafeteria no mirante, a 11 Café Bar, um verdadeiro cartão-postal. 

Mudanças

Divinolândia nasceu plantando café, mas o empresário Silvio José Ferreira, proprietário das marcas Café Caldense e Pão de Queijo Xodó de Minas, não cultiva o fruto. Ele tem um espaço destinado a cursos, visitas, rebeneficiamento e torra dos grãos. “Aqui, ensinamos prova e torra de cafés”, explica Ferreira. O espaço chama a atenção pela tecnologia que oferece. Exemplos disso são o equipamento Full Collor, que faz a separação de até 100 sacas de café verde por hora, retirando até 99% dos defeitos do cafés, e a máquina de seleção de cafés torrados, com capacidade para mil quilos por hora. 

Antes dessa tecnologia, a seleção de cafés era manual, dificultando a produção de quantidade com qualidade. Boa parte dessa mudança é creditada a Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica. “O trabalho do Ferreira com a região é muito importante, uma forma de unir e apresentar soluções e oportunidades aos produtores’’, elogia. 

Leonardo Custódio e Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica

Ferreira ajudou a alavancar, ainda mais, a região e unir os produtores. Técnico agrícola, Ferreira cursou administração e tem pós-graduação em cafeicultura. Sua família não tem ligação com o café, mas ele sempre se interessou por tudo que envolve a bebida. “Sempre gostei de trabalhar com associações e nossa região tem muitos produtores com potencial”, comenta. “Somos um grupo de pequenos produtores, e temos um trabalho dedicado a trazer a informação e a ajudar no desenvolvimento de cada etapa”, completa Ferreira. 

Fundada em 2005, a Associação dos Cafeicultores de Montanha de Divinolândia (Aprod) também faz suas conexões – entre pequenos produtores e o mercado consumidor através da Fairtrade, um movimento global em busca de mudanças para um comércio justo. O objetivo do movimento é incentivar o pagamento justo e sustentável para o produtor. “O comprador de fairtrade respeita o preço mínimo na hora de adquirir o café. E os produtores são engajados”, explica Francisco Sérgio Lange, conselheiro, consultor do meio ambiente e um dos fundadores da associação. 

Em 2012, a Aprod conquistou a certificação Fairtrade, que conta hoje com 69 associados. Só pode fazer parte quem é do município de Divinolândia e possui, no máximo, 30 hectares. O espaço da Associação foi inaugurado em 2015 e, ali, os produtores podem ter o controle do próprio café, rebeneficiá-los e armazená-los. “É um dos poucos armazéns que trabalham com microlotes”, conta Lange. 

Carmen Silvia de Avila da Costa, presidente da Aprod, ressalta como os produtores aprenderam a entender seus cafés, tanto na produção quanto na xícara. “Nossos produtores estão com a situação financeira equilibrada”, comemora ela. Alguns cafeicultores já estão trabalhando com agricultura regenerativa. Lange alerta para o fato de que eles precisam atentar para as mudanças climáticas, estudar mais sobre isso e como o fenômeno afeta a produção. “Temos um grupo engajado, que sabe que o trabalho não é da noite para o dia, é lento, mas que haverá mudanças. Tudo isso fez e faz a diferença”, explica Carmen. 

A Bourbon Specialty Coffees, exportadora de café verde que envia os grãos para o mundo todo, também ajudou a modificar a Região Vulcânica. Igor Ignacio, supervisor de qualidade, destaca o trabalho de anos até a consolidação da região. “Acompanhei a luta dos presidentes das associações para orientar produtores e refletir sobre as mudanças”, conta Ignacio. “Hoje, temos um trabalho consolidado, uma verdadeira mudança cultural. Os produtores estão sabendo o que estão plantando e não teria como a Bourbon ficar de fora.’’ 

Roberto Pereira, também do setor de supervisão de qualidade da Bourbon, afirma que todas essas ações agregaram conhecimento e  incentivaram cafeicultores a produzir qualidade. “Sentimos a mudança na hora de provar os cafés, e o produtor também sabe identificar sua bebida na xícara.’’ 

Em fevereiro de 2023, houve a primeira exportação dos cafés pela Bourbon com o selo da Região Vulcânica. É uma conquista importante para os cafeicultores da região, que estão há mais de dez anos trabalhando para o reconhecimento dessa origem. O primeiro lote foi para o Japão, país que já busca a origem e reconhece a qualidade dos cafés desse terroir. Para compor os lotes, entraram cafés premiados das Fazendas Santo Antônio, em Botelhos, e da Fazenda Recreio, em São Sebastião da Grama.

Texto originalmente publicado na edição #79 (março, abril e maio de 2023) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Agência Ophelia

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Inscrições para o Coffee of the Year 2024 encerram em 7 de outubro

Um dos principais concursos da cafeicultura nacional, o Coffee of the Year recebe inscrições e amostras até 7 de outubro. Produtores de todo o Brasil podem inscrever seus melhores cafés nas categorias arábica e canéfora. A cerimônia de premiação será realizada em 22 de novembro, durante a Semana Internacional do Café

Como acontece o COY?

Os produtores interessados devem inscrever suas amostras no Sympla (uma a cada CPF, no valor de R$ 180) e enviá-las (junto com a ficha da amostra preenchida, recebida por e-mail) ao IFSUL DE MINAS – Campus Machado (endereço ao final desta matéria). Confira o regulamento aqui.

A dinâmica do concurso consiste no recebimento das amostras, que serão submetidas a um processo de avaliação por uma Comissão de Julgadores formada por especialistas nacionais (Q-Graders e R-Graders). Do total, serão selecionadas as 180 melhores amostras, sendo 150 de arábica e 30 de canéfora. 

Essas amostras serão disponibilizadas na sala Cupping&Negócios da Semana Internacional do Café, que acontece de 20 a 22 de novembro, em Belo Horizonte. As 10 melhores de arábicas e as 5 melhores de canéforas participam do voto popular através de degustação às cegas, pelo método filtrado, nas garrafas térmicas disponibilizadas nos dois primeiros dias de SIC. A cerimônia de premiação acontece na tarde do último dia, 22 de novembro.

Atenção: A ficha da amostra (enviada por e-mail após a confirmação da inscrição via Sympla e pagamento) deve ser devidamente preenchida (digitada), assinada pelo produtor e encaminhada com a amostra de 4 kg para o endereço abaixo:

Envio das amostras:
IFSULDEMINAS – CAMPUS MACHADO
A/C PROFESSOR LEANDRO PAIVA – NÚCLEO DE QUALIDADE DE CAFÉ CONCURSO COFFEE OF THE YEAR 2024/ SEMANA INTERNACIONAL DO CAFÉ
RODOVIA MACHADO PARAGUAÇU KM 03 – BAIRRO SANTO ANTÔNIO
CEP 37750-000 – MACHADO (MG) 

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Avanza Café quer aumentar em 25% renda familiar de cafeicultores na América Central

O programa Avanza Café é a mais nova parceria para melhorar a produção sustentável de café. Com foco na América Central (Honduras, Guatemala, El Salvador e Nicarágua) o programa envolve a empresa JDE Peet’s (de chá e cafés) e a ong TechnoServe, em parceria com o Programa Food for Progress, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), e um investimento de US$ 15,3 milhões.

A iniciativa busca introduzir técnicas de agricultura regenerativa para melhorar a produtividade nas fazendas de café, ao mesmo tempo em que reduz a pegada de carbono da produção de café e fortalece a resiliência climática nas comunidades produtoras. ao todo, serão treinados mais de O 35 mil pequenos produtores em práticas agrícolas regenerativas, com a meta de aumentar os rendimentos por hectare em 25% e a renda familiar, em 25%.

O Avanza Café é uma continuação do projeto Maximizing Opportunities in Coffee and Cacao in the Americas (MOCCA), liderado pelo USDA e pela TechnoServe, que já ofereceu treinamento para mais de 79 mil cafeicultores (40% deles mulheres) na América Central e no Peru. 

TEXTO Redação

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O ouro verde de Dom Viçoso (MG)

A Espresso passou um dia imersa na cafeicultura do município, um dos 25 que compõem a Denominação de Origem Mantiqueira de Minas

Quando você ouve falar em Mantiqueira de Minas, pensa em Dom Viçoso? Apesar de pequeno, este município tem mostrado potencial quando o assunto é café especial – e neste último sábado (14), à convite da Associação de Produtores Rurais de Dom Viçoso (APRU-DV), nossa equipe pôde conhecer de perto a cafeicultura e as pessoas da região.

“A ideia é colocar Dom Viçoso no radar”

“Nós estamos saindo de São Lourenço rumo a Dom Viçoso, que tem o dobro de tamanho, mas apenas 3.500 habitantes”, disse Alan Fraga, assessor de comunicação da Prefeitura de Dom Viçoso e guia da nossa viagem, no início do roteiro. A cidade faz divisa com São Sebastião do Rio Verde, Virgínia, Maria da Fé, Cristina e, a já famosa no café, Carmo de Minas – inclusive, Dom Viçoso fazia parte de Carmo de Minas até 1953, quando conseguiu sua emancipação. 

Grupo convidado pela Associação de Produtores Rurais de Dom Viçoso (APRU-DV) para conhecer a cafeicultura da cidade

A cafeicultura de Dom Viçoso é constituída por agricultores familiares. Em altitudes que variam de 930 a 1.520 metros, as lavouras produzem, juntas, cerca de 8 mil sacas ao ano, e são compostas, principalmente, por pés de catuaí amarelo e bourbon – que, segundo Fraga, têm sido substituídos aos poucos por variedades como catucaí 2SL e arara. Na xícara, o terroir local costuma apresentar doçura alta e notas de frutas amarelas.

Produção campeã

Apesar de tímido, o cultivo de Dom Viçoso mostra potencial. Um dos exemplos disso foi a nossa parada: a Fazenda Boa Vista, dos irmãos Marcelo e Flávio Ferraz. Nos últimos anos, a propriedade tem sido reconhecida em diversos concursos de qualidade, entre eles o municipal de Dom Viçoso, o regional da Mantiqueira de Minas, o estadual de Minas Gerais e o Cup of Excellence. 

Marcelo Ferraz, um dos proprietários da Fazenda Boa Vista

Desde 2015, quem cuida dos trabalhos na fazenda é Joaquim Noronha. Ele, que tem contato com café desde criança e hoje, além de responsável pela administração na Boa Vista, é proprietário do Sítio Mato Dentro (também em Dom Viçoso), contou à Espresso um pouco sobre a produção do local.

De acordo com Noronha, a Fazenda Boa Vista possui, aproximadamente, 40 hectares de plantação, desde bourbon e catucaí 2SL, até acaía, catuaí amarelo, icatu e catimbor (um cruzamento de caturra com timbor leste). “A Procafé plantou, aqui, algumas outras variedades para testes”, disse ele, referindo-se às 15 cultivares introduzidas na propriedade pela Fundação Procafé, entre elas caturra, siriema e bourbon anão. Depois de colhidos, os cafés da Boa Vista passam por processamento via úmida (cereja descascado).

A visita contou, ainda, com um cupping dos dez melhores cafés do 3º Concurso de Cafés Especiais de Dom Viçoso. Os convidados – entre eles mestres de torra, provadores e donos de cafeterias e torrefações de diferentes regiões do país – puderam degustar, às cegas, as amostras finalistas.

Cupping dos dez melhores cafés do 3º Concurso de Cafés Especiais de Dom Viçoso

Após a parada na Fazenda Boa Vista, nosso roteiro contou com um almoço elaborado por Marco Morais, gastrônomo que se dedica a pesquisar os terroirs do café e do vinho. Ele, que há dez anos acompanha a cafeicultura de Dom Viçoso, é o criador do Projeto Cidade Criativa e Inovadora, que vai até propriedades e espaços públicos para falar sobre terroir, gastronomia e desenvolvimento local através da capacitação e valorização da produção, com o objetivo de promover a inclusão social, o aumento da capacidade produtiva e a sustentabilidade.

3º Festival de Café Especial de Dom Viçoso e Região

Ao fim, nossa última parada foi o Festival de Café Especial de Dom Viçoso e Região, que este ano está em sua 3ª edição. Além de estandes de cafés e outros insumos regionais, o segundo dia de evento contou com a premiação e o leilão dos cafés vencedores do 3º Concurso de Cafés Especiais de Dom Viçoso. Joaquim Noronha foi o campeão, seguido pelos cafeicultores Paulo Henrique Corrêa e Flávio Ferraz.

Joaquim Noronha, do Sítio Mato Dentro, é o ganhador do 3º Concurso de Cafés Especiais de Dom Viçoso

O 3º Festival de Café Especial de Dom Viçoso e Região aconteceu de 13 a 15 de setembro e contou com o patrocínio da Cemig, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais/Descentra Cultura, apoio da Associação de Produtores Rurais de Dom Viçoso, Minas Criativa, Sebrae e Sicredi, e realização de Patrícia Rodrigues, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e Governo de Minas Gerais.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Associação de Produtores Rurais de Dom Viçoso (APRU-DV)

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Produtores de cacau do Pará visitam cooperativas de café no Sul de Minas

De acordo com dados do o IBGE, o Pará tem 30 mil propriedades rurais que produzem cacau. O fruto se espalha por quase 1,250 milhão de km² – área maior do que a soma dos territórios da Itália, da Alemanha e da França. 

Esta dimensão territorial, porém, dificulta o escoamento da produção, o que tem motivado cacauicultores a reunirem-se em cooperativas para facilitar tanto a compra coletiva de insumos quanto a comercialização das amêndoas (pese-se o fato, ainda, de que boa parte dos cacauicultores concentrarem-se na região da Transamazônica). 

Foi isso que motivou a missão técnica CacauCoop Pará 2024 a visitar cooperativas de café no Sul de Minas. Para conhecer melhor bons exemplos de cooperativismo, um grupo de  30 pessoas, de 12 cooperativas de cacau de diferentes regiões do Pará, viajou ao estado sob o comando da CocoaAction Brasil, iniciativa público-privada pré-competitiva, e da OCB-PA Organização das Cooperativas Brasileiras – Pará).

Nos encontros, os participantes conversam com gerentes de todas as áreas da Coomap (Cooperativa Mista Agropecuária de Paraguaçu), e visitam dois produtores cooperados. O destaque dessas visitas foi a solução criada para agilizar o transporte de implementos, com adaptações feitas para motos. Segundo os  visitantes, a ideia poderia ser praticada no cacau, aumentando a eficiência e diminuindo a demanda por mão de obra. 

O segundo ponto de parada foi a Cooxupé (Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé), maior cooperativa de cafés do mundo, com 19 mil cooperados – muitos deles, pequenos produtores. A comitiva trocou experiências com o presidente, Carlos Augusto de Melo, e o vice, Osvaldo Bachião, que detalharam a trajetória da Cooxupé. A caravana também visitou o Complexo Japy, que concentra as operações de armazenagem dos grãos, rebenefício e estufagem de contêineres para exportação.

Um dos principais ensinamentos, segundo Ney Ralison, presidente da Coopercau (Cooperativa dos Produtores de Cacau e Desenvolvimento Agrícola da Amazônia) foi a importância de ter uma equipe responsável pela assistência técnica rural e a oferta de benefícios atrativos para fidelizar cooperados.

Para o grupo, também, aspectos como gestão profissional, com objetivos e caminhos claros, e departamento técnico organizado foram destacados. 

A missão CacauCoop Pará 2024 teve o apoio dos órgãos IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Solidaridad, rede mundial que busca contribuir para estratégias globais de organização, e GIZ, empresa estatal alemã para cooperação técnica que atua no Brasil na promoção do desenvolvimento sustentável. 

TEXTO Redação

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Projeto Fazedores de Café capacita jovens para sucessão familiar na Bahia

De 9 a 13 de setembro, 45 jovens de Eunápolis, na Bahia, participam do projeto Fazedores de Café, realizado pelo Sofá Café em parceria com a Nescafé. A iniciativa, que começou com a capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade social na profissão de barista, estendeu-se, em 2019, para além da capital paulista, suprindo também uma necessidade na cafeicultura em relação à sucessão familiar. 

Vindos de cidades como Teixeira de Freitas, Itamaraju, Porto Seguro, Eunápolis, Itabela, Barra do Choça, Salvador, Vera Cruz, Ibicoara, Itabepi, Uruçuca e Prado, os alunos assistirão aulas teóricas e práticas sobre classificação de cafés verdes e análise de defeitos, novas formas de produção, cafeicultura regenerativa, percepção multissensorial, torra de cafés especiais e técnicas de barismo, ministradas por profissionais do setor.

“Na Nestlé, reconhecemos a importância dos projetos de qualificação profissional que abrangem toda a cadeia, do grão à xícara”, destaca Taissara Martins, head de sustentabilidade de cafés da Nestlé. “Por meio do Fazedores de Café, conseguimos conectar jovens e fazer com que eles entendam todas as possibilidades dentro da cadeia do café”, completa.

O programa Fazedores de Café por Nescafé faz parte da plataforma global “Iniciativa Pelos Jovens da Nestlé”, que neste ano completou 24 anos e visa impulsionar o desenvolvimento social para aumentar a empregabilidade e a capacitação por meio de ferramentas de desenvolvimento e empregabilidade. 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Entidades querem visibilidade internacional à sustentabilidade dos cafés capixabas

A Fazenda Camocim, que fez parte do rol de visitas da comitiva à cafeicultura do Espírito Santo, é a primeira do Brasil a receber selo internacional de agricultura regenerativa orgânica

Uma comitiva de representantes das principais entidades do setor cafeeiro e da ApexBrasil acaba de visitar a região de produção de cafés arábica e conilon do Espírito Santo (a informação é do site Em Dia ES).  

A jornada feita pela comitiva – com integrantes da ABICS (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel), ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) e Embrapa Rondônia – tem como objetivo aprofundar-se no conhecimento que envolve a qualidade de ambos os grãos e as práticas sustentáveis de seu cultivo no estado.  

Isso incluiu contato com cooperativas (Coabriel, Nater Coop e Cafesul) e visita a indústrias e propriedades cafeicultoras, como a Fazenda Camocim, em Domingos Martins, que acaba de receber um selo internacional de práticas regenerativas.

Concedida pela norte-americana Regenerative Organic Alliance (ROA), a certificação é um reconhecimento importante no mercado de cafés especiais, e é a primeira para os grãos no Brasil (há outras cinco fazendas certificadas pela ROA no Brasil para acerola, cana-de-açúcar e erva-mate). 

A ROA – organização sem fins lucrativos estabelecida em 2017 por um grupo de agricultores, líderes empresariais e especialistas em saúde do solo – certifica práticas agrícolas que regeneram o solo, preservam recursos hídricos, promovem o bem-estar animal e asseguram justiça e equidade sociais. 

O reconhecimento conquistado pela Camocim está em diálogo direto com o interesse global por práticas agrícolas sustentáveis e com a iniciativa das entidades do setor. 

Promovida pelo governo do Espírito Santo por meio da Seag (Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca) e do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a visita da comitiva é parte do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura Capixaba, que planeja uma série de ações. Entre elas, impulsionar as exportações de cafés do estado por meio da sustentabilidade, especialmente com as novas exigências ambientais da União Europeia que entram em vigor a partir de 2025.

“O Brasil precisa urgentemente assumir a narrativa sobre seus cafés mundo afora”, acredita o subsecretário de Desenvolvimento Rural, Michel Tesch. Para ele, há muitas “coisas não adequadas” sendo faladas sobre a realidade dos cafés brasileiros, tanto canéforas quanto arábicas. “Dizem que o Brasil é composto por grandes produtores mecanizados, mas 75% das propriedades no Espírito Santo são de pequenos produtores familiares”, ressalta.   

Tesch também reforçou o caráter integrativo da visita. “A partir dessa visita, podemos construir uma agenda conjunta para posicionar internacionalmente o Brasil com uma história completa”, acredita ele.

O ES tem na cafeicultura sua principal atividade agrícola (quase 70% das propriedades rurais são dedicadas ao cultivo do café), e foi responsável, ano passado, pela produção de 11,5 milhões de sacas de café conilon (o estado é o segundo maior produtor de canéfora do mundo) e 1,7 milhão de sacas de arábica, de acordo com a Conab. “O Espírito Santo tem qualquer perfil de café que qualquer mercado consumidor precisa”, garante Tesch. “Além disso, temos pessoas diversas, dedicadas e que têm o compromisso com a sustentabilidade, com entregar os melhores cafés do mundo”, aposta.   

Para o subsecretário, o ambiente global está “extremamente favorável”. “É o momento crucial para o Brasil assumir a liderança da cafeicultura mundial, se posicionando como uma origem de cafés sustentáveis”, estimula. “Vamos contribuir muito e seguramente seremos responsáveis pela manutenção dos cafés nos principais mercados mundiais”.

A viagem da comitiva incluiu visitas, também, à Realcafé, tradicional indústria do solúvel e ao Centro de Cafés Especiais do Espírito Santo – que, entre outras atividades, faz os cuppings dos principais cafés de concurso da região. 

Dois outros produtores foram contemplados com a visita: Marcelo Coelho, produtor de conilons de qualidade e sustentáveis em Aracruz, e a família Avanci, parceira de pesquisas do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural) com materiais de arábica mais produtivos e tolerantes a doenças, em Venda Nova do Imigrante. 

Camocim: orgânica e regenerativa 

Uma particularidade da ROA é que ela certifica somente fazendas orgânicas, ou seja, que não utilizam fertilizantes oriundos do petróleo, por exemplo. “A certificação pelo ROA tem o detalhe de considerar o caráter holístico de uma fazenda aliado à obrigação de que ela seja orgânica”, resume Henrique Sloper, proprietário da Camocim, que segue práticas biodinâmicas. 

O processo iniciou-se há mais de um ano e, com o selo em mãos desde junho, Sloper conseguiu mais oportunidades no mercado internacional. “Hoje em dia, compradores grandes internacionais, como Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, já exigem certificação regenerativa também”, explica Sloper, que aumentou sua presença no exterior ao entrar no mercado de cafés do Vale do Silício, norte da Califórnia (EUA), conhecido por ser o maior centro de inovação tecnológica e de empreendedorismo do mundo.

Diferentemente da ROA, certificações orgânicas e biodinâmicas não têm certificação para condições sociais. “Há um código de conduta, que não é fiscalizado”, explica o produtor. “A certificação do ROA é importante para quem tem preocupação social. Esse tipo de certificação vai espalhar-se pela Europa”, aposta. 

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

Do gado ao café

Sítio da Torre, em Carmo de Minas, é conduzido pela quarta geração da família Coli

A história do Sítio da Torre, em Carmo de Minas (MG), remonta ao final do século XIX. Antônio Coli, imigrante italiano, envolveu-se com a agricultura ao comprar terras na região e plantar os primeiros pés de café para consumo próprio. 

A propriedade passou de mão em mão até que Paulo Coli, quarta geração da família, assumiu e passou a cuidar da criação de gado e cavalos. Um dia, resolveu investir na pequena lavoura de café. “Meu pai cuidava de tudo, até que, em 1993, sofreu um acidente e perdeu completamente a visão. Optou, então, por dividir o sítio entre os sete filhos”, conta Álvaro Coli. 

Quatro dos sete irmãos se uniram, compraram as partes dos demais e fundaram o Sítio da Torre. Com cuidados básicos nas fases de pré e pós-colheita, os irmãos Álvaro, Marisa, Lilian e Maria Elisa, além de seus cônjuges, passaram a analisar cada detalhe do solo, embora o café fosse vendido como commodity.

“A gente começou a investir dinheiro, sem muito retorno, até 2000, quando ouvimos sobre o especial”, conta ele, elogiando a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais), que os ajudou nesta nova percepção. “Fomos pesquisando e aprendendo com outros produtores”, conta Álvaro Coli. 

Gustavo, Andressa, Adila, Álvaro e Jaqueline Coli unidos na produção dos cafés especiais

Rumo aos especiais

Foi assim que a família apostou na mudança para os grãos especiais, um processo longo e que deveria ser compreendido por todos os que atuam em cada etapa da produção. 

“Começamos com 15 mil pés, espaçamento de forma antiga, com mil plantas por hectare”, diz Álvaro (em nossa visita para esta reportagem, já haviam sido redimensionados para 5 mil por hectare). Substituíram as lavouras e, em 2003, participaram do Cup of Excellence, com cafés descascados. Foi a primeira vez que participaram de um concurso, ficando entre os trinta melhores. Em 2015, conquistaram o sétimo lugar.

A dedicação e a busca constante por melhores processos de plantio, colheita e pós-colheita trouxeram reconhecimento ao Sítio da Torre, contribuindo com a produção na região. Álvaro é quem acompanha cada detalhe da produção. “Coloco para cada talhão o nome, espaçamento, variedade, análise de solo, qual foi esqueletado, e analisamos tudo”, explica ele, com seu pequeno caderno em mãos. “Geralmente, comparamos com os três anos anteriores e conseguimos validar o que precisa ser melhorado, ao lado do engenheiro agrônomo da Cocarive [cooperativa onde Álvaro trabalha] e de técnicos.” 

O Sítio da Torre cultiva diversas variedades de arábica – como bourbons amarelo e vermelho, arara, gesha e acaiá –, nos processos natural e descascado, e exporta para outros países. Em parceria com a Unique Cafés, recebe visitas guiadas, nas quais se conhece cada detalhe da produção e torrefação. 

Há dois anos inaugurou o cabana, um chalé para hospedagem no meio dos pés de café (atualmente, são dois deles). O lugar conta, até, com uma minicozinha – uma ótima oportunidade de desfrutar a vista durante o preparo de um café, por exemplo. 

A região 

Carmo de Minas conta com pouco mais de 15 mil habitantes. A região se destaca pelo cultivo de café, seguido de leite e milho. A malha rodoviária conecta a sede municipal a vários centros econômicos importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 

Informações oficiais indicam que, entre março de 1812 e fevereiro de 1814, foram doados terrenos à Nossa Senhora do Carmo para a fundação do arraial e da freguesia do mesmo nome. Essas terras, hoje em dia, constituem a cidade, que naquele tempo pertencia ao município de Pouso Alto. Ao ser elevada a distrito, em 1841, a denominação mudou para Carmo do Rio Verde. Foi emancipada em 1901 e mudou o nome para Silvestre Ferraz, até 1953.

Em 2011, a Mantiqueira de Minas foi reconhecida como Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP) e, em 2020, como Denominação de Origem (DO), pela tradição e reputação em produzir cafés especiais com perfil sensorial diferenciado. 

Entre os seus municípios, destaca-se Carmo de Minas, que conquistou muitos prêmios. Na região, outras cidades de relevância na produção são Conceição das Pedras, Paraisópolis, Jesuânia, Lambari, Cristina, Dom Viçoso e Pedralva.  

Para saber mais:

Sítio da Torre
Onde: Carmo de Minas (MG)
Região: Mantiqueira de Minas
Variedades: bourbon amarelo, bourbon vermelho, catuaí amarelo, catuaí amarelo 62, catuaí vermelho, catucaí amarelo 2 SL, catucaí amarelo 24/137, catucaí amarelo 785, gesha, arara amarelo, obatã vermelho e acaiá
Colheita: manual, manual seletiva e derriçadeira
Altitude: 1.100 a 1.300
Processamentos: CD, natural, lavado
Sacas por ano: 1.500 (em média)
Área plantada: 65 hectares (45 ha de cafés)

Texto originalmente publicado na edição #78 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2023) da Revista Espresso e editado em setembro de 2024. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Tribus Studio

Cafezal

Saiba mais sobre polinização por abelhas no café

Quantas abelhas têm no meu café?

A polinização – transferência de pólen entre as partes masculinas e femininas das flores, permitindo a fertilização e a reprodução – pode ocorrer pelo vento, pela água ou por animais. Entre os polinizadores mais importantes estão as abelhas. 

Estima-se que existam mais de 20 mil espécies – 2 mil no Brasil –, sendo que apenas 50 são manejadas em escala comercial, com cerca de uma dezena amplamente utilizada para a polinização agrícola. De 75 culturas de interesse econômico estudadas no Brasil, 87% são polinizadas por abelhas. Nas plantações de café, as mais comuns são a africanizada e as nativas irapuã ou arapuá (Trigona spinipes) e jataí (Tetragonisca angustula), mas não se sabe quantas espécies visitam os cafezais no mundo. Culturas polinizadas por animais costumam atingir preços de venda mais altos no mercado.

3,2,1… vai! 

Quando o alimento compensa a visita de uma abelha, ou seja, a distância que ela percorreu entre as flores e a colmeia (ninho) ou o esforço feito remexendo a flor para consegui-lo, elas estabelecem uma rota para explorá-los.

O teste clássico que inaugurou estudos sobre condicionamento animal foi feito pelo médico russo Ivan Pavlov no fim da década de 1920 com cachorros, associando um sinal (sineta) a uma recompensa (alimento), um processo básico de aprendizagem.

O treinamento das abelhas é simples. Na primeira etapa, ela é apresentada ao cheiro, que é reforçado pelo açúcar. Na segunda, a abelha toma contato com as biomoléculas, mas, também, com outros cenários possíveis, ainda sem recompensas. Odores não são percebidos diretamente como os estímulos visuais das flores (cores e formatos), pois dependem de sua dispersão pelo vento, podendo se misturar a outros cheiros (o termo adequado é fragrância, um “blend” único de cada espécie – neste caso, de plantas). Elas os percebem por meio de sensores químicos nas antenas, codificando-os no cérebro. Conseguem discriminar, inclusive, compostos voláteis e misturas de compostos (fonte: João Marcelo Robazzi e colaboradores em “Como treinar sua abelha”).

Comportamento e diversidade

Geralmente recobertas por pelos adaptados para coletar e transportar pólen, além de estruturas nas patinhas, as abelhas também têm comportamentos distintos. Algumas têm paladar mais curioso, enquanto outras visitam somente flores da mesma espécie. Abelhas nativas costumam ser fieis – algumas podem visitar a mesma flor várias vezes, enquanto ela tiver recursos alimentares. Bom para ela, que não precisa deslocar-se muito, bom para a flor, que aumenta suas chances de reprodução. 

A prática de alugar colmeias ou criar abelhas nas áreas de produção, quer sejam apiários ou meliponários (de abelhas sem ferrão), tem sido cada vez mais comum. Há, também, uma tendência internacional crescente, os hotéeis de abelhas solitárias (no Brasil, o serviço ocorre apenas em âmbito acadêmico). Isso porque as solitárias representam a maior diversidade entre as abelhas catalogadas no mundo. Diferentemente das abelhas sociais, que mantêm seus ninhos ativos o ano todo e são generalistas (visitam diversas espécies de flores), as solitárias tendem a ser mais especialistas, muitas vezes visitando uma única espécie floral.

Os comportamentos são quase tão variados quanto a diversidade de espécies. Abelhas como a mandaçaia (Melipona quadrifasciata), por exemplo, são conhecidas por vibrar o tórax enquanto coletam pólen. Condições externas, como temperatura e umidade, influenciam diretamente o comportamento de forrageamento das abelhas, que de modo geral, trabalham durante o dia. 

As abelhas planejam, quase que diariamente, sua rota de voo. Enquanto jataís voam num raio de até 500 m, mandaguaris podem forragear num raio duas cinco vezes maior. A comunicação entre flores e polinizadores, baseada em sinais como cor, forma e fragrância, é peça-chave nesse processo. Cores vibrantes são percebidas rapidamente pelas abelhas, mesmo a longas distâncias, ajudando-as a identificar recursos antes mesmo de pousar na flor. Há até plantas que secretam cafeína no néctar para viciar abelhas.

As Apis também são mais agressivas e altamente competitivas e, por isso, tanto na polinização assistida quanto na polinização guiada, demoram-se pouco no campo – o tempo de duração da florada, que leva de três a cinco dias.

Por que preservar a paisagem 

Matas nativas preservadas ou áreas degradadas recuperadas não atraem apenas abelhas. Existem as possibilidades de o produtor de cafés ser remunerado por estes serviços ambientais. “Ele pode receber pagamento em função das áreas preservadas (Pagamento por Serviço Ambiental), créditos de carbono pela mata que restaurou ou pelo carbono fixado no solo pela cultura que ele plantou nas áreas desocupadas”, enfatiza Menezes. 

Outra novidade é poder receber créditos de biodiversidade. “É um negócio supernovo, proposto na COP Canadá em 2022 e que já está estabelecido pela ONU como uma meta”, lembra o cientista. Ou seja, o cafeicultor que restaura uma área natural pode receber por isso: assim como créditos de carbono compensam emissões de gases de efeito estufa, os créditos de biodiversidade incentivam a proteção de habitats, a recuperação de espécies ameaçadas e a manutenção de serviços ecossistêmicos, criando valor econômico para a preservação ambiental.

Outro grande canal de retorno econômico para o produtor são os processos de certificação e agregação de valor do café. “Quando ele investe em ser sustentável, com métricas e parâmetros claros, ele vai acessar mercados sustentáveis, terá seu café valorizado. É a chance do Brasil rebater as críticas que temos de nossa agricultura”, diz Menezes. 

TEXTO Cristiana Couto

Cafezal

Origens do café participam de evento em Gramado (RS)

Foto: Rafael Cavalli

Doze origens de café participam da segunda edição do Connection Terroirs do Brasil, evento que acontece em Gramado (RS) até dia 31 (sábado) e que reúne 51 das 118 indicações geográficas brasileiras (confira a lista dos grãos participantes no fim do texto).

Além do café, produtos como espumantes (de Altos de Pinto Bandeira), queijo (da Serra da Canastra), arroz (do litoral gaúcho) e cacau de Rondônia estão arranjados em estandes distribuídos na rua Coberta, onde acontece a feira de negócios do evento, que conta ainda com workshops de gastronomia e palestras – estas, alocadas no Cine Embaixador, onde acontece o aclamado Festival de Cinema da cidade.

“As indicações geográficas são um instrumento de promoção ao desenvolvimento econômico, cultural e social”, resume Maria Isabel Guimarães, gestora estadual das indicações geográficas do Sebrae Paraná. O Sebrae é correalizador do Connection Terroirs do Brasil, organizado pela Rossi e Zorzanello. É um evento para promover os produtos de origem”, define Eduardo Zorzanello, CEO do evento.

Em sua palestra na manhã desta quinta (29), Maria Isabel destacou que, só em seu estado, 12 novos produtos estão com pedidos de indicação geográfica depositados no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).

Essa busca paranaense mostra a relevância que as indicações geográficas ganharam no país. Denominações de Origem, Indicações de Procedência ou Marcas Coletivas são estratégias que, cada qual a seu modo, criam valor para os produtos locais, preservam patrimônios culturais e desenvolvem o turismo local – este último, o outro cerne do evento, que busca interligar turismo às origens (cerca de setenta setores estão envolvidos na cadeia do turismo).

Mas, para um produto adquirir e manter seu valor, é preciso rastreabilidade. “O coração de uma indicação geográfica é o controle”, ensina Hulda Giesbrecht, coordenadora de negócios de base tecnológica e PI do Sebrae Nacional, em sua palestra “A origem é o nosso destino”, em que destacou a importância de uma plataforma de controle. “Esta plataforma começou com o café [produto que conta atualmente com 15 indicações geográficas] e a ideia é expandi-la para outros produtos, como mel e queijo”, explica Hulda.

A Digitalização das IGs de Café, iniciativa inédita no Brasil, é um sistema para controle e a rastreabilidade das regiões produtoras de café, além de servir como referência para a qualidade e origem dos grãos produzidos no país. Na quinta, a divulgação das origens do café contou com a presença da campeã brasileira de barismo de 2019, Martha Grill, e Carolina Franco, que degustou com o público as indicações geográficas do grão.

Para quem visitar o Connection Terroirs do Brasil (inscrições e mais informações aqui), há ainda um circuito gastronômico, e a credencial permite acesso gratuito em mais de dez parques da região – uma das muitas belezas de Gramado.

IGs de Café participantes:

  • Alta Mogiana
  • Canastra
  • Caparaó
  • Mantiqueira de Minas
  • Matas de Minas
  • Matas de Rondônia
  • Montanhas do Espírito Santo
  • Norte Pioneiro do Paraná
  • Região de Barça
  • Região de Pinhal
  • Região do Cerrado Mineiro (DO)
  • Sudoeste de Minas

TEXTO Cristiana Couto