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Campeonato Brasileiro de Cup Tasters começa hoje em Varginha (MG)

O campeão brasileiro irá disputar a final em Genebra, Suíça, em junho de 2025

O Campeonato Brasileiro de Cup Tasters começa hoje (25) e vai até 27 de novembro no Centro de Excelência em Cafeicultura (Senar), em Varginha, Sul de Minas. O provador brasileiro campeão vai representar o país no mundial de 2025, que acontece entre 26 e 28 de junho, durante o World of Coffee de Genebra, na Suíça. 

Dionatan Almeida, atual campeão mundial, está como juiz principal da competição brasileira, que conta com 40 participantes. O campeonato avalia a habilidade dos provadores em distinguir diferentes cafés por meio de degustações às cegas, no menor tempo possível.  Cada competidor tem oito minutos para separar a xícara diferente em uma sequência de oito trincas de cafés. 

O brasileiro Dionatan Almeida na competição mundial de Cup Tasters

O evento faz parte das ações do projeto “Brazil. The Coffee Nation”, desenvolvido pela BSCA em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). A competição está sendo transmitida ao vivo pela BSCA (@bsca_specialtycoffee).

O evento é gratuito e a grande final acontece no dia 27, às 18h30.

Saiba mais

Em 2023, o campeonato aconteceu de 22 a 24 de setembro. Dionatan Antunes de Almeida, provador das Fazendas Caxambu e Aracaçu, de Três Pontas (MG), sagrou-se campeão brasileiro ao superar 39 concorrentes, além de conquistar o título inédito para o Brasil ao vencer provadores de 33 países no Campeonato Mundial de Cup Tasters em abril deste ano, durante a Specialty Coffee Expo, em Chicago, EUA. Seu tempo para identificar corretamente as oito xícaras propostas foi de 2 minutos e 19 segundos, superando por 10 segundos a segunda colocada, a alemã Aurore Ceretta.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Caparaó (ES) e Sul do ES vencem o Coffee of the Year 2024

Um dos momentos mais esperados da Semana Internacional do Café, o Prêmio Coffee of the Year celebrou a sua 13ª edição, com 570 inscrições vindas de 13 regiões diferentes. Em mais um ano, o estado do Espírito Santo levou a melhor, alcançando a primeira posição nas categorias arábica e canéfora.

No arábica, o grande campeão da vez foi o produtor Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, de Divino de São Lourenço (ES), Caparaó, com um café que pontuou, na primeira fase do concurso, 90.25 pontos. Na sequência ficou Gabriel Lamounier Vieira, da Fazenda Guariroba II, de Santo Antônio do Amparo (MG), Campo das Vertentes, em segundo lugar, e Douglas Dutra Vieira, do Sítio Cordilheiras, de Iúna (ES), Caparaó, em terceiro.

Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, de Divino de São Lourenço (ES), Caparaó, vencedor da categoria arábica

Na categoria canéfora, o vencedor foi Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro (ES), Sul do Espírito Santo, com um café que registrou 86,42 pontos na primeira fase de provas. O Sítio Grãos de Ouro, de Muqui (ES), Sul do Espírito Santo, levou o segundo e o terceiro lugares, com Neusa Maria da Silva de Souza e Talles da Silva de Souza, respectivamente.

Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro (ES), Sul do Espírito Santo, vencedor da categoria canéfora

Confira o pódio completo das duas categorias:

Arábica

1 lugar Paulo Roberto Alves – Sítio Campo Azul – Divino de São Lourenço (ES) – Caparaó
2º lugar Gabriel Lamounier Vieira – Fazenda Guariroba II – Santo Antônio do Amparo (MG) – Campo das Vertentes
3º lugar Douglas Dutra Vieira – Sítio Cordilheiras – Iúna (ES) – Caparaó
4º lugar Afonso Lacerda – Sítio Forquilha do Rio – Dores do Rio Preto (ES) – Caparaó
5º lugar Sergio Meirelles Filho – Fazenda Alvorada – Aricanduva (MG) – Chapada de Minas
6º lugar Gisa Portilho – Sítio dos Portilhos – Luisburgo (MG) – Matas de Minas
7º lugar Deneval Miranda Vieira – Sítio Cordilheiras – Iúna (ES) – Caparaó
8º lugar Angelica de Fátima da Costa – Sítio Pedro Varinha – Manhuaçu (MG) – Matas de Minas
9º lugar João Vithor Medeiros Lacerda – Sítio Forquilha do Rio – Espera Feliz (MG) – Caparaó
10º lugar Carlos Alberto Monteiro – Fazenda Harmonia – Alto Jequitibá (MG) – Caparaó

Canéfora

1º lugar Antônio Cezar Demartini Landi – Sítio do Pedrão – Jeronimo Monteiro (ES) – Sul do Espírito Santo
2º lugar Neusa Maria da Silva de Souza – Sítio Grãos de Ouro – Muqui (ES) – Sul do Espírito Santo
3º lugar Talles da Silva de Souza – Sítio Grãos de Ouro – Muqui (ES) – Sul do Espírito Santo
4º lugar Nicole Nedel Duarte – Chácara Deodápolis – Nova Brasilândia do Oeste (RO) – Matas de Rondônia
5º lugar Luiz Claudio de Souza – Sítio Grãos de Ouro – Muqui (ES) – Sul do Espírito Santo

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Coffee of the Year divulga lista dos 65 finalistas de 2024

Após um segundo dia intenso de muito conhecimento e conexão na Semana Internacional do Café, foram divulgadas as 65 amostras finalistas do Coffee of the Year 2024. Clique aqui e confira os produtores classificados e suas regiões.

O concurso deste ano recebeu 570 amostras, vindas de diferentes regiões do Brasil. Na primeira fase, esses cafés passaram por avaliação de Q-Graders e R-Graders. Já na segunda, os dez primeiros arábica e os cinco primeiros canéfora ficaram disponíveis em garrafas térmicas codificadas para que os visitantes da SIC pudessem provar e votar em sua favorita de cada categoria, nesses dois primeiros dias de evento.

O anúncio dos nomes e da ordem final de classificação, além da premiação dos melhores cafés arábica e canéfora, acontece amanhã (22), último dia de Semana Internacional do Café, às 15h, no Grande Auditório.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Por que o Brasil é a vanguarda da cafeicultura sustentável mundial

Cadeia organizada e proximidade entre seus agentes ajudam a promover boas práticas agrícolas e maior remuneração ao produtor

Atualizada em 18/11/2024, às 14h54

A sustentabilidade na cafeicultura brasileira não é um quadro monocromático. Produtores nacionais estão desenhando o caminho das boas práticas socioambientais, num mosaico de ações de âmbito local e internacional e que sublinham desde iniciativas pessoais até programas públicos, pincelados por projetos que envolvem cooperativas e associações. Há, porém, traços que borram essa tela: não há mensuração precisa de cafés provenientes dessas práticas. As certificadoras não abrem o número exato de cafezais certificados e a rastreabilidade tornou-se um desafio.

Mesmo assim, o Brasil é hoje referência mundial da cafeicultura sustentável. Tal posicionamento é reforçado em termos de escala. “A Costa Rica tem um trabalho interessante, mas numa proporção muito menor, pois exporta menos de 1 milhão de sacas”, diz a brasileira Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). De fato, os números da cafeicultura nacional são superlativos. Maior produtor do mundo, no ano passado o país colheu 55 milhões de sacas, exportou 39,2 milhões delas e consumiu 21,7 milhões. “Muito da produção nacional fica no país. Não é brincadeira não, o que o Brasil destina ao mercado doméstico já é quase o que produz o Vietnã”, explica Vanusia, referindo-se ao país que é o segundo maior produtor do mundo. 

A sustentabilidade econômica que esses números geram tem pinceladas de todos os lados. Nos cenários estadual e federal, as iniciativas voltadas à sustentabilidade são múltiplas (veja em “para saber mais”, ao final da reportagem), como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que dá auxílio financeiro e suporte técnico aos cafeicultores. 

Com uma cadeia muito bem estruturada, o setor cafeeiro tem representações em todos os elos e bom entrosamento entre as esferas pública, privada e terceiro setor. “A gente tem uma política relevante, um centro de pesquisa extremamente importante e temos conseguido aumentar o volume de recursos para a pesquisa no Brasil”, analisa Vanusia, que destaca as ações do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), que destinou R$ 400 milhões para estudos na última década (dados do Conselho Nacional do Café – CNC). “Ainda é pouco, mas temos alcançado resultados muito interessantes”, acrescenta.

Um deles é o aumento da produtividade no café, que, dos anos 1990 para cá, avançou 400% enquanto a área de plantio reduziu 55%, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). O trabalho de várias instituições científicas, como Embrapa e IAC (Instituto Agronômico de Campinas) – que pesquisaram variedades mais produtivas, por exemplo – além do de associações, cooperativas e acesso ao crédito fizeram com que o Brasil saltasse de uma produtividade média de oito sacas por hectare para 30 sacas nos últimos anos.

Segundo o IBGE, há 265 mil estabelecimentos rurais com café em território nacional – 70% deles com área abaixo de 20 hectares e 78% de agricultura familiar. Por isso, ter programas para disseminar sustentabilidade e contar com a proximidade de agentes da cadeia (cooperativas, torrefadoras, tradings e órgãos estaduais de assistência técnica) faz toda a diferença para os pequenos cafeicultores e reflete no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em Minas, municípios com mais de 20 mil hectares de café têm IDH de 0,730, maior que a média de todos os municípios do estado (de 0,682).

Cafezal da Sancoffee, vencedora do 2024 Sustainability Award, da SCA

Sustentabilidade premiada

O cooperativismo faz diferença na difusão do conhecimento. “A profissionalização das cooperativas faz o Brasil estar no universo do ESG num nível de governança diferenciado, que não vemos em outros países”, explica a diretora da OIC. De fato, das 1.185 cooperativas do agro no país, 110 atuam no café (os dados são do Anuário do Cooperativismo do Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB). 

Um bom exemplo é a Sancoffee, cooperativa de Campo das Vertentes (MG), que congrega 17 municípios. Fundada em 2000 por vinte produtores para agregar valor ao café e exportá-lo diretamente, viu-se num dilema em 2013, com demanda maior do que sua capacidade. Abrir capital ou aumentar o número de cooperados não era uma opção. A solução veio do próprio potencial da região. “Fizemos parcerias para criar governança para centenas de pequenos produtores, fomentar o associativismo e gerar treinamentos”, diz Fabrício Andrade, CEO da cooperativa. Assim nasceu o projeto Além das Fronteiras, cujo impacto aumenta ano após ano. Os 57 produtores iniciais e a exportação de 200 sacas transformaram-se, em 2023, em nove associações, 350 cafeicultores e mais de 11 mil sacas – o equivalente a quase 20% dos cafés exportados pela Sancoffee. Em termos de agregação de valor, isso equivale a um ágio (valor líquido) próximo de 28% quando comparado ao commodity. 

Menina dos olhos da Sancoffee, o Além das Fronteiras traz a essência do que é preciso para construir sustentabilidade. “Temos que atrair pessoas para trabalhar e enxergar o café como ferramenta de prosperidade da região”, acredita Andrade. No ano passado, a cooperativa faturou R$ 170 milhões. “Temos um arcabouço estrutural no nosso modelo de negócio que acredita ser possível fazer a diferença por meio do café, ter uma vida bacana e atrair novas gerações, tanto de produtores quanto de trabalhadores”, resume. 

A cooperativa já colhe frutos. “Por causa do uso de tecnologias e acesso ao mercado, temos visto jovens, filhos de pequenos produtores, que tinham feito faculdade e estavam trabalhando em outros lugares, retornar ao campo para ajudar os pais”, diz. Não por acaso, a Sancoffee venceu o 2024 Sustainability Award (categoria For-Profit), um dos principais prêmios de sustentabilidade do mundo, concedido pela Specialty Coffee Association (SCA). 

Entrelinhas 

Outro destaque na premiação foi a Fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo (MG), que ficou entre os seis finalistas na mesma categoria. Referência em cafeicultura regenerativa, a propriedade de Paula Curiacos e Marcelo Urtado tem parcerias com universidades e atrai visitantes do mundo inteiro. O interesse é conhecer as práticas de agricultura climaticamente inteligente da fazenda, que resultaram num balanço negativo de carbono (- 5,16 toneladas por hectare/ano) e nas certificações do Imaflora (Preferred By Nature, Carbon on Track), da Rainforest Alliance e da Regenagri.

Pequena para os padrões do Cerrado Mineiro, a Fazenda Três Meninas tem 40 hectares de cafezais e é a prova de que a sustentabilidade não se restringe aos grandes produtores. Desde que compraram a propriedade em 2016, o casal começou um trabalho minucioso (confira os detalhes no box 2) para reconfigurar a maneira de produzir o grão. 

As entrelinhas do cafezal ganharam o plantio de forrageiras, que mantêm o solo sempre coberto. Quando roçadas, estas plantas transformam-se em adubo verde, que diminui a demanda de fertilizantes nitrogenados, os grandes vilões das emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE). Esse manejo também eliminou o uso de defensivos químicos e resultou na certificação SAT, de produção sem agrotóxicos, emitida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) por meio do Certifica Minas.

Recentemente, sob a orientação da academia, a Três Meninas implantou as “linhas de biodiversidade”. Elas nada mais são que florestas lineares – ruas de árvores e arbustos a cada 40 metros ou 11 ruas de café, que possibilitam a mecanização. “A biodiversidade é a base de uma agricultura equilibrada, porque nela é difícil uma praga se destacar”, ensina Urtado, que é engenheiro agrônomo, citando um dos benefícios dessa prática. O ideal é manter 30% de sombreamento. “Mas plantamos uma quantidade maior”, diz ele, que suprimiu 9% do cafezal para implantar as linhas. Nelas, ele também instalou um meliponário de abelhas nativas, já que a presença destes insetos pode aumentar a produtividade de 20% a 30%.

Linhas de biodiversidade nos cafezais da Fazenda Três Meninas

Quando as árvores estiverem adultas – e, se necessário –, algumas podem ser retiradas. Urtado não se preocupa com a perda. “Prefiro pensar que estamos garantindo a produção de 91% [dos pés de café]”. Segundo ele, estudos apontam que, com uma arborização adequada, mais do que manter, é possível aumentar a produtividade. Na Três Meninas, ela é de 54 sacas por hectare em média.

Na dianteira

Sim, a Fazenda Três Meninas faz muito além do habitual, mas, quando se trata dos aspectos socioambientais, o Brasil está numa posição de vanguarda. Todas as propriedades cafeeiras precisam seguir a Constituição Federal, que tem regras claras definidas pelo Código Florestal e pela Consolidação das Leis Trabalhistas. Este aparato legal é mandatório e tem um nível de exigência superior a vários países produtores.

Além disso, o setor cafeeiro tem se unido em ações pré-competitivas – aquelas em que empresas concorrentes trabalham juntas em pontos que preocupam a todos. Atendendo a demandas da cadeia cafeeira, a Plataforma Global do Café (GCP, na sigla em inglês) coordena duas delas (e que são prioritárias), como o “uso responsável de agroquímicos” e “trabalho e bem-estar na cafeicultura”. No primeiro caso, um dos vários ensinamentos oferecidos aos produtores pela Plataforma – associação internacional com mais de 40 membros no Brasil – é identificar e monitorar pragas e doenças para a tomada de decisão. “Se o ataque de broca for inferior a 5%, não causa prejuízo e não é preciso pulverizar”, detalha Eduardo Matavelli, consultor técnico da GCP. Quanto à iniciativa social, a plataforma esclarece sobre questões trabalhistas, saúde, segurança, remuneração e frentes de trabalho no campo.

Mas, afinal, por que o café do Brasil se destaca pela sustentabilidade? Um dos motivos é o ambiente institucional organizado, que permite ao produtor receber quase a totalidade do preço FOB do café exportado. “Os índices são 84,5% no arábica e 93% no conilon”, contabiliza Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O único país produtor com um índice similar é o Vietnã, com uma transferência de 90%. “Nos outros países, a porcentagem varia entre 40% e 50%”, detalha Matos. A Etiópia, por exemplo, é conhecida por ter muitos atravessadores. Segundo Vanusia, as autoridades etíopes estão tentando mudar a sistemática para um modelo de compra mais direta. “Aquelas [cooperativas] que estão aplicando o novo modelo dizem que estão transferindo para os produtores os mesmos níveis de Brasil e Vietnã”, diz a diretora da OIC.

Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café

Números incertos

A quantidade de cafés sustentáveis produzida em território nacional, porém, ainda é incerta. Segundo o Cecafé, 18,6% dos grãos exportados no ano safra 23/24 enquadram-se no segmento de cafés diferenciados, que agregam valor por qualidade e/ou sustentabilidade (certificações).  “Mas este número não necessariamente representa a realidade, porque este campo de preenchimento na certificação de origem da OIC é voluntário”, comenta Matos. E, embora as fazendas de café brasileiras adotem várias certificações (Rainforest, FairTrade, IBD, 4C), falta transparência por parte das certificadoras quanto ao número de propriedades e área de cafezais auditados no país. 

Uma tendência é a criação de programas próprios de sustentabilidade pelas cooperativas e exportadores, como o Guaxupé Planet e o GMT Green. Elaborados, respectivamente, pela Exportadora de Café Guaxupé e pelo Grupo Montesanto Tavares, ambos seguem o processo denominado “mecanismo de equivalência” da GCP. Esse processo avalia se o programa está de acordo com um Código de Sustentabilidade, linguagem global de alinhamento da sustentabilidade no café desenvolvido pela plataforma. Nele, há pontos críticos que devem ser seguidos pelos cafeicultores. “Um deles é ter um programa de melhoria contínua, uma análise de riscos das propriedades e as ações para remediar riscos identificados, gerando melhores condições de vida ao produtor e beneficiando toda a cadeia”, explica Matavelli.

Na ponta final dela, não há dúvidas de que o consumidor olha cada dia mais para aspectos socioambientais ao decidir o que comprar. Prova disso é o relatório de Compras de Cafés Sustentáveis, recém-divulgado pela GCP. No ano passado, nove grandes torrefadoras e varejistas (JDE Peet’s, Julius Meinl, Melitta, Keurig Dr Pepper, Nestlé, Supracafé, Taylors, Tesco e Westrock) adquiriram 31,4 milhões de sacas de café de 39 países, sendo mais de 23 milhões delas, de grãos sustentáveis. O volume de cafés sustentáveis que representava 35% em 2019 passou para 74% em 2023.

À frente desse mosaico de sustentabilidade que é a cafeicultura brasileira está o desafio de se adequar ao EUDR (confira box 3), o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento, e de continuar o enfrentamento das mudanças climáticas. A cada seis safras, aponta o Cecafé, o Brasil perde uma por questões climáticas. Isso exige, cada vez mais, esforços conjuntos da cadeia para aprimorar as práticas de agricultura regenerativa e desenvolver novas cultivares resistentes ao estresse hídrico, para minimizar o impacto do aumento da temperatura global na produção cafeeira.

Rastreabilidade que desafia

No final de abril, em Bruxelas, o Brasil apresentou a autoridades do bloco europeu a Plataforma de Monitoramento Socioambiental Cafés do Brasil, desenvolvida pela Serasa Experian em parceria com o Cecafé. A ferramenta de rastreabilidade utiliza mais de 200 bancos de dados disponíveis para fazer o monitoramento socioambiental dos cafeicultores – incluindo a geolocalização de propriedades cafeeiras do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de compor um banco de dados de informações ambientais de propriedades para controle, monitoramento e combate ao desmatamento.

Todas as legislações do Brasil, programas do governo de sustentabilidade na agricultura e ações e programas de sustentabilidade dos membros do Cecafé e de cooperativas e empresas nacionais e globais são reunidas numa pirâmide, cuja checagem por 24 horas é feita pela plataforma. “Costumo dizer que 40 milhões de cafés que a gente exporta são sustentáveis”, acredita Matos. 

Mas, então, qual é o receio do Brasil? A União Europeia exige rastreabilidade – a geolocalização dos produtos importados –, o que demanda uma força-tarefa nacional para fazer dois mapas desse tipo do parque cafeeiro: o de 31 de dezembro de 2020, data de corte do EUDR, e o atual. Sem isso, o Brasil terá que usar o que a Europa fornece, o mapa JRC (Joint Research Center), que avalia a cobertura florestal no mundo todo. “Por ser global, essa escala fica prejudicada e o mapa indica desmatamento em áreas de café consolidadas há mais de duas décadas”, problematiza Matos. É por isso que o Brasil e outros países produtores solicitaram às autoridades europeias a flexibilização da EUDR.

Para saber mais:

Agenda ESG 

No contexto federal, há várias ações na Agenda ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança). Além do Pronaf, outra iniciativa que merece destaque é a do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que, só em 2023, capacitou 12,942 mil pessoas em 1,187 mil cursos presenciais sobre cafeicultura. A entidade também conta com um curso de ensino à distância (EAD) de sustentabilidade na produção cafeeira. São 5.421 matriculados desde o lançamento da plataforma Senar Play, em 2021.

E não para por aí. Há o programa Certifica Minas Café (MG), por exemplo, que orienta, em nível estadual, os cafeicultores sobre as boas práticas agrícolas reconhecidas internacionalmente e que já auditou e concedeu o selo para mil propriedades. Outro exemplo é a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), cujo foco em gestão e boas práticas agronômicas atende, em média, 40 mil cafeicultores mineiros por ano. Já o governo do Espírito Santo lançou, no ano passado, o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura Capixaba, que vai aportar R$ 5,45 milhões em ações de extensão rural para alcançar 8 mil produtores até 2026.

Biodiversidade na Três Meninas (MG)

O pontapé inicial rumo à sustentabilidade foi o plantio das forrageiras, cuja escolha depende da estação do ano e da finalidade desejada. O trigo mourisco, por exemplo, atrai os inimigos naturais de pragas do cafezal, como bicho-mineiro e broca-do-café. Quanto ao milheto, ele reduz os nematóides (vermes do solo que derrubam a produtividade), enquanto o nabo forrageiro descompacta o solo com suas raízes grossas, ajudando a infiltração da água. 

Já a arborização de um cafezal atenua os ventos, diminui a transmissão de doenças e cria um microclima propício para a produção cafeeira. Seguindo os ensinamentos da agricultura regenerativa, Urtado e Paula plantaram diversas espécies de árvores e arbustos. Ingá, erva baleeira, fedegosinho e fedegosão atraem inimigos naturais das pragas do café. A guapuruvu fixa nitrogênio e descontamina o solo, enquanto o jequitibá-rosa é uma espécie madeireira. 

A EUDR

O Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) – que proíbe a importação de produtos (entre eles, o café) provenientes de áreas desmatadas a partir de 31 de dezembro 2020 – está dependendo  da votação (que será em 17 de dezembro) dos órgãos regulatórios da União Europeia sobre um pacote de emendas, que irá definir se a lei entrará em vigor no final deste ano ou se será postergada. A União Europeia já publicou o guia de implementação (guidance), que orienta os países produtores sobre as medidas a serem adotadas. “Alguns pontos foram um pouco mais esclarecidos, outros seguem nebulosos, como a classificação de risco, que vai dizer qual país será de baixo, médio ou alto risco. A gente trabalha com a regionalização do risco, para que o problema da Amazônia não afete o nosso negócio”, diz Matos.

Números superlativos do café no Brasil 

  • 55 milhões de sacas colhidas (Conab)
  • 39,2 milhões de sacas exportadas (Cecafé)
  • 21,7 milhões de sacas consumidas no mercado interno (Abic)
  • R$ 400 milhões destinados à pesquisa cafeeira pelo Funcafé na última década

Representantes da cadeia cafeeira 

  • do setor produtivo: CNC (Conselho Nacional do Café) 
  • dos produtores: CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária)
  • dos exportadores: Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) 
  • das cooperativas: OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) 

TEXTO Lívia Andrade • FOTO Divulgação

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Cafés da Fazenda Sertãozinho vencem as três categorias do 4º Concurso do Terroir Vulcânico

A Fazenda Sertãozinho foi o destaque do 4º Concurso do Terroir Vulcânico, que premiou os melhores cafeicultores da região no último sábado (9), em Botelhos (MG). A fazenda, propriedade da Orfeu Cafés Especiais, levou o primeiro lugar nas três categorias premiadas: natural, cereja descascado e fermentado – esta última, novidade da edição. 

Ao todo foram 12 municípios participantes e 65 amostras finalistas. “Este ano, a qualidade foi superior”, aponta Ulisses Oliveira, diretor-executivo da Associação de Produtores do Café da Região Vulcânica. “O concurso agrega para o produtor, abre mercado. Eles têm reconhecimento pelo trabalho feito”, afirma. 

Na categoria natural, a Fazenda Sertãozinho, de Botelhos, levou a melhor com um café de 89,5 pontos. Já nas categorias cereja descascado e fermentado, os cafés da propriedade obtiveram 86 e 87 pontos, respectivamente. 

Homero Teixeira, da Fazenda Recreio, do Vale da Grama, foi o segundo colocado na categoria natural, com um café de 87,75 pontos. Ele foi seguido por Luiz Augusto Dezena, da Fazenda Santa Maria, em Águas da Prata, que alcançou 87,25 pontos.

Quanto ao cereja descascado, o segundo e o terceiro lugares foram para o Vale da Grama, com o produtor Arnaldo Alves Vieira, da Fazenda Baobá, que pontuou 85,15 no seu café, e com a produtora Patrícia Guerra, cujo grão registrou 84,85 pontos.

Já na nova categoria fermentado, a Fazenda Baobá também levou a segunda colocação com grãos de 86,5 pontos, seguida por Eliandro Zanetti, da Agripoços (Vale da Grama), com 85,5 pontos.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

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Universidade Cornell e World Coffee Research anunciam parceria de cinco anos

Programa irá concentrar-se no desenvolvimento de variedades de café resilientes e de alta qualidade para impulsionar a produtividade e os meios de subsistência entre cafeicultores 

A Universidade Cornell, em Nova York, e o World Coffee Research (WCR) acabam de lançar uma nova iniciativa para melhorar a resiliência climática e a produtividade entre pequenos produtores de café ao redor do mundo.

O Coffee Improvement Program tem duração de cinco anos e conta com o apoio de mais de US$ 5 milhões da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O programa é liderado pelo Innovation Lab for Crop Improvement (Laboratório de Inovação para Melhoria de Culturas) da Cornell.

Em um comunicado à imprensa, as instituições afirmaram que o programa vai desenvolver ferramentas para aumentar a precisão e a velocidade do melhoramento genético do café. O objetivo principal é identificar marcadores genéticos para a ferrugem (Hemileia vastatrix) e a antracnose, ambas grandes ameaças para a produtividade do café.

De acordo com o WCR, mais de 12 milhões de pequenos cafeicultores no mundo produzem, atualmente, 60% do café consumido globalmente. No entanto, esses produtores enfrentam riscos crescentes devido às mudanças climáticas e lidam com desafios adicionais para a rentabilidade e o crescimento da produtividade devido à limitação de acesso à inovação agrícola.

“O café é parte integrante da economia global. Garantir a resiliência dos pequenos produtores de café é essencial tanto para as economias locais quanto para as cadeias de suprimento globais. Esta colaboração com a Cornell irá acelerar o desenvolvimento da próxima geração de variedades de café, beneficiando tanto os pequenos produtores quanto a indústria cafeeira”, disse Vern Long, CEO do WCR.

O ILCI da Cornell foi estabelecido em 2019 com uma doação inicial de US$ 25 milhões da USAID. Em outubro de 2024, o departamento de pesquisa recebeu uma segunda doação de cinco anos no valor de US$ 25 milhões da USAID para apoiar programas de melhoria de culturas voltados para a demanda em regiões-chave do mundo.

TEXTO Redação / Fonte: Allegra World Coffee Portal

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Cafés do Cerrado Mineiro e da Mantiqueira de Minas destacam-se no Cup of Excellence 2024

No último sábado (2), o Cup of Excellence realizou a cerimônia de premiação da edição de 2024. Minas Gerais foi o grande destaque e levou os primeiros lugares das três categorias (via úmida, via seca e experimental). Clique aqui para conferir a lista dos vencedores.

O produtor Vitor Marcelo Queiroz Barbosa, da Fazenda Sobro e Bonito de Cima, de Coromandel, no Cerrado Mineiro, foi o vencedor da categoria via úmida, com 91.93 pontos. Ele foi seguido por Flávio Marcio Ferreira da Silva, da Fazenda Olhos D’Água, de Campos Altos, também no Cerrado Mineiro, com 90.89 pontos.

Na categoria via seca, o ganhador de 2024 foi Ronaldo da Silva, do Sítio Santa Luzia, de Cristina, Mantiqueira de Minas, com 92.32 pontos. O segundo lugar ficou com o grupo da Fazenda Sertãozinho com a Fazenda Rainha, de São Sebastião da Grama, na Região Vulcânica, com 91.89 pontos.

Já o Grupo Bioma Café levou a melhor na categoria experimental, com um café de 93.14 pontos da M&F Coffee, de Campos Altos, no Cerrado Mineiro. Na sequência ficou a produtora Carmen Lydia Junqueira Puliti Meirelles, da Fazenda Santa Rita do Xicao, de São Gonçalo do Sapucaí, Mantiqueira de Minas, com 91 pontos.

A competição também teve cafés eleitos “vencedores nacionais”, que consistem em lotes selecionados para a fase internacional, mas que ficaram abaixo dos 30 primeiros colocados.

TEXTO Redação

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Coffee of the Year 2024 divulga lista das 180 amostras finalistas

Foi divulgada a lista dos finalistas do Coffee of the Year 2024 e as rodadas de cupping. Nesta fase do concurso são selecionados os 180 produtores mais bem pontuados pelos Q-Graders e R-Graders da comissão avaliadora: 150 da categoria arábica e 30 de canéfora. Clique aqui e confira os nomes.

Oportunidade para produtores e compradores se conectarem, estas 180 melhores amostras classificadas participam de rodadas de cuppings durante os três dias de Semana Internacional do Café, que este ano acontece de 20 a 22 de novembro, em Belo Horizonte (MG). É importante que o produtor esteja presente na rodada de sua amostra, pois é neste momento que compradores de diversas partes do Brasil e do mundo provam os cafés classificados e surgem oportunidades de negócio.

Além dos cuppings, os 10 primeiros cafés de arábica e os 5 primeiros de canéfora ficarão disponíveis para voto popular em garrafas térmicas codificadas, ou seja, os visitantes da SIC poderão prová-los e votar no favorito de cada categoria.

Os campeões do COY 2024 e a ordem final entre os finalistas serão conhecidos em cerimônia de premiação no último dia de SIC, às 15h, no Grande Auditório.

Serviço
Semana Internacional do Café 2024
Onde: Expominas – Av. Amazonas, 6.200, Gameleira, Belo Horizonte (MG)
Quando: 20 a 22 de novembro, das 10h às 19h
Quanto: R$ 70 (pessoa física, para os três dias). Grátis para pessoas jurídicas, produtores e visitantes internacionais
Mais informações e credenciamento: www.semanainternacionaldocafe.com.br

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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1º leilão do Prêmio Chapada de Minas tem lance de R$ 5.500 em café campeão

A Região da Chapada de Minas premiou seus melhores cafés na noite de ontem (24), com a realização do Prêmio Chapada de Minas. A convite do Sebrae-MG, a Espresso acompanhou de perto a cerimônia em Capelinha (MG). A edição reuniu 73 amostras, divididas nas categorias natural, natural microlote e cereja descascado, e contou com a 1ª edição do leilão dos cafés campeões, que trouxe compradores de diferentes lugares do país.

Na categoria natural, o primeiro lugar foi para Rodrigo Crimaldo Mendes, da Fazenda Sequóia, com grãos de amarelão – variedade descoberta na própria Chapada de Minas – que alcançaram 89,06 pontos. A sequência foi composta por Ronaldo Morais Pena Filho, da Fazenda Primavera, em segundo, e por Sérgio Meirelles Filho, da Fazenda Alvorada, em terceiro. O café de Rodrigo foi arrematado pela 3corações, por R$ 5.200. Já o café de Sérgio foi vendido por R$ 4.600 para a Sabino Torrefação (SP).

Vencedores da categoria natural

Novidade este ano, a categoria microlote abrange cafés naturais de até 20 hectares. O vencedor foi o catuaí de 87,31 pontos do produtor Tarcísio Costa Barbosa, da Fazenda Mamoeiro. Ele foi seguido por José Cunha Fernandes, da Fazenda Brejo da Cunha, em segundo, e por Gilson Pereira da Silva, da Fazenda ODA, em terceiro. O café campeão foi arrematado pela torrefação paraense Alquimista – Bebidas Especiais, por R$ 4.600. A 3corações foi quem levou o segundo melhor café da categoria, por R$ 3.700, enquanto que o terceiro colocado foi comercializado por R$ 3.100 para a carioca Café Ao Leu.

Vencedores da categoria microlotes naturais

A Fazenda Primavera e a Fazenda Sequóia levaram mais um pódio na noite, consagrando-se, respectivamente, campeã e vice-campeã na categoria cereja descascado. O terceiro lugar foi para Matheus Lettieri Junqueira, da Fazenda Riviera. O café vencedor da Fazenda Primavera, da variedade gesha, de 89,38 pontos, foi o que recebeu o maior lance da noite: R$ 5.500, dado pela torrefação Torra Fresca, de Mococa (SP). O segundo lugar foi vendido por R$ 3.800 para a 3corações, e o terceiro foi comercializado por R$ 3.400.

Vencedores da categoria cereja descascado

A 3ª edição do Prêmio Chapada de Minas é uma realização da Região Chapada de Minas e do Sebrae, com patrocínio do Sicoob Credijequitinhonha e apoio do Sistema Faemg/Senar.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Sebrae/Marlon Fernandes

Cafezal

Provamos 6 cafés exóticos do banco de germoplasma do IAC

O que são cafés exóticos? Para explicá-los (e prová-los), a Espresso convidou Gerson Giomo, engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Giomo trouxe na mala seis deles. “São cafés com aromas e sabores diferentes do que estamos acostumados”, ensina ele, que é especialista em tecnologia de processamento pós-colheita e qualidade do café.

Os cafés denominados exóticos saíram, todos, do banco de germoplasma do IAC, que desde 1930 reúne
esses raros cafés (tecnicamente chamados acessos, ou seja, amostras de materiais genéticos coletadas e
catalogadas para fins de pesquisa e preservação). “O IAC tem mais de cinco mil acessos de 15 espécies de
café”, orgulha-se Giomo.

Esses grãos são considerados exóticos por duas razões: são tanto cafés que foram introduzidos (legalmente) no país e que nunca foram cultivados (ou seja, são silvestres ou selvagens) quanto plantas híbridas, quer dizer, obtidas a partir de cruzamentos de cultivares brasileiras importantes com esses materiais estrangeiros e que, por um motivo ou outro, acabaram sendo “arquivadas”.

Gerson Giomo, pesquisador do IAC convidado para a nossa degustação

No primeiro caso, foram provados três cafés que chegaram da Etiópia e do Sudão entre 1952 e 1953. “São
variedades legais que foram introduzidas, ficaram em quarentena e depois saíram do laboratório para o campo”, resume o agrônomo, referindo-se à autorização do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) para a entrada desses materiais, desde que destinados a pesquisas.

Os três outros exemplares desta degustação são cruzamentos de cultivares de arábica, desenvolvidos
pelo instituto, com cafés introduzidos. “São híbridos em que se buscava maior resistência à ferrugem, mas que não foram para a frente nesse sentido”, explica ele. Essas plantas permanecem no banco genético do IAC e, às vezes, têm ótima qualidade sensorial.

Os seis cafés com sabores exóticos são fruto de uma linha de pesquisa do Programa de Cafés Especiais, que prospecta qualidade no banco de germoplasma. O principal objetivo do programa é identificar plantas com capacidade de produzir frutos com características sensoriais distintas e que, por isso, tenham potencial para se tornarem novas cultivares e atender a demandas específicas do mercado de cafés especiais.

Os seis cafés provados estão sendo estudados em algumas das vinte áreas experimentais do IAC, foram colhidos em meados do ano e processados pelo método natural.

A raridade das amostras tornou nossa costumeira degustação para a Espresso um evento pra lá de especial, com aromas e sabores enriquecidos pelo nosso experiente convidado, que há tempos acompanha sistematicamente essas duas características, intrínsecas à variedade de um café.

Equipe Espresso degustando os cafés do Instituto Agronômico (IAC)

Variedade exótica 1 (IAC-1158)

Um café exótico descendente da variedade rume sudan, do Sudão, introduzida entre 1952 e 1953. As plantas experimentais estão na Fazenda Recreio, em São Sebastião da Grama (SP), Região Vulcânica, a 1.200 m de altitude.

Aromas e sabores: doce, floral, delicado, frutado, mel e tabaco (tem marmelada também!)
Acidez: média, brilhante
Corpo: aveludado
Finalização: agradável
Avaliação final: redondo e complexo, para começar bem o dia

Variedade exótica 2 (IAC-1137)

Um café descendente da variedade gesha, originária da Etiópia, que chegou ao IAC entre 1952 e 1953. As plantas experimentais também estão na Fazenda Recreio, a 1.200 m de altitude.

Aromas e sabores: doce, castanhas, especiarias (pimenta-rosa), nibs de cacau, floral, umami
Acidez: média/alta, cítrica
Corpo: médio
Finalização: limpa, gostosa
Avaliação final: fácil de tomar, uma ótima pedida a qualquer hora

Variedade exótica 3 (IAC-2080)

Um material selvagem obtido também entre 1952 e 1953. Originário da Etiópia, as plantas experimentais estão na Fazenda Limeira, em Altinópolis (SP), Alta Mogiana, a 1.000 m de altitude.

Aromas e sabores: especiarias, ervas medicinais, chocolate amargo, castanhas, amadeirado
Acidez: delicada
Corpo: médio
Finalização: presente, mas curta
Avaliação final: para tomar o dia todo

Equipe Espresso degustando os cafés do Instituto Agronômico (IAC)

Variedade híbrida (IAC-H8113)

Um cruzamento entre catuaí vermelho e um material selvagem (Kaffa) originário da Etiópia. As plantas experimentais estão na Fazenda São João, em Nova Resende (MG), Sul de Minas, a 1.000 m de altitude.

Aromas e sabores: cítrico (laranja, lima-da-pérsia), terroso, chá de cáscara, amadeirado e melado
Acidez: média/alta, cítrica
Corpo: encorpado, macio
Finalização: curta, agradável
Avaliação final: um café de experiência

Variedade híbrida 2 (IAC-H8427)

Um cruzamento da variedade mundo novo com outro material selvagem da Índia (BA10). As plantas experimentais também estão na Fazenda São João, à altitude de 1.000 metros.

Aromas e sabores: ervas medicinais, especiarias, mamão, melado
Acidez: boa, brilhante
Corpo: médio
Finalização: curta, limpa
Avaliação final: sensorialmente interessante e diferente

Variedade híbrida 3 (IAC-H8089)

Um cruzamento entre catuaí vermelho e um gesha originário da Etiópia. As plantas experimentais estão na Fazenda Recreio, em São Sebastião da Grama (SP), a 1.200 m de altitude.

Aromas e sabores: doce (rapadura), frutado, floral, laranja caramelizada
Acidez: média, brilhante
Corpo: cremoso
Finalização: presente, com notas de melado
Avaliação final: agradável, com doçura alta, para tomar a qualquer hora

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia