Mercado

SIC é palco de premiações e empreendedorismo

A Semana Internacional do Café, que começa nesta quarta (22), prevê gerar R$ 60 milhões em negócios

A Semana Internacional do Café (SIC), que começa nesta quarta-feira (20) em Belo Horizonte e é, tradicionalmente, um ponto de encontro para profissionais e empresas do setor cafeeiro no Brasil e na América Latina, também tem se consolidado como um polo estratégico para a geração de negócios, networking e desenvolvimento do mercado. 

O evento, que vai até sexta (22) traz uma agenda repleta de rodadas de negócios, palestras, feiras e concursos, numa plataforma única para conectar empreendedores e executivos a tendências e tecnologias emergentes, impulsionando a competitividade e a sustentabilidade do setor. É um evento essencial para quem busca não apenas expandir suas operações, mas também fortalecer suas redes e explorar oportunidades no mercado cafeeiro nacional e internacional.

Um dos melhores exemplos dessas oportunidades é a 13ª Coffee of the Year 2024, uma celebração que exalta a excelência e a diversidade dos cafés brasileiros, e gera impacto direto no mercado. A seleção dos 10 melhores produtores de arábica e dos cinco melhores de canéfora, feita pelo voto dos visitantes, impulsiona o trabalho dos finalistas, facilitando o acesso a novos mercados e consolidando a presença dos cafés brasileiros em mercados já existentes. 

Esse reconhecimento agrega valor aos cafés não só dos produtores premiados, mas de toda a região, e abre caminho para parcerias e negociações que fortalecem todo o ecossistema. 

Os cafés foram avaliados inicialmente por profissionais Q-Graders e R-Graders, que selecionaram as 180 melhores amostras para serem apresentadas ao público da Semana Internacional do Café. Esses cafés estarão disponíveis em duas salas de cupping, onde compradores e visitantes poderão provar e negociar diretamente com os produtores, criando um ambiente propício para novos negócios.

Novos negócios também acontecem entre os mais de 170 expositores distribuídos por todo o pavilhão da Expominas, que vão mostrar seus produtos, lançar novidades e apontar tendências. A estimativa para esta edição é movimentar cerca de R$ 60 milhões. 

Conectar-se com compradores é, também, um dos principais objetivos das regiões produtoras, que se organizam em estandes para oferecer degustações e informações sobre seus melhores produtos. A SIC, portanto, funciona como uma vitrine estratégica, capaz de abrir portas para novos mercados e oportunidades de negócios, além de impulsionar o desenvolvimento econômico e sustentável de cada território representado.

“A SIC é um importante evento para aproximar os produtores rurais, grandes responsáveis por essa liderança, e os demais elos do setor. Essa conexão viabiliza um terreno propício para parcerias e bons negócios e mostra ao consumidor final a qualidade e a importância dos nossos cafés”, destaca Antônio de Salvo, presidente do Sistema Faemg Senar, uma das entidades realizadoras. 

Oportunidades de negócios serão tratadas, também, em palestras durante a SIC. Uma das mais aguardadas será ministrada pelo especialista Haroldo Bonfá, diretor e consultor da Pharo Consultoria, que vai discorrer sobre o tema “Cenários e perspectivas do mercado de café”. Entre os assuntos abordados na palestra estão a abertura de novos mercados, dados sobre exportação para outros países, denominações de origem e novos consumidores. 

“Os números recordes nas exportações e a abertura de grandes mercados, como a China, são prova de que investir em tecnologia, inovações, assistência técnica e equilíbrio com o meio ambiente dá resultados. E a SIC é uma vitrine de tudo isso”, afirma o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo de Minas Gerais, Thales Fernandes.

Premiações

Além do COY, outras premiações acontecem no evento e são, sempre, uma celebração do trabalho de todos os elos da cadeia. Em sua 6a edição, o concurso Espresso Design tem o objetivo de avaliar e premiar as melhores embalagens de café de 2024, reconhecendo o compromisso das marcas de café que investem em comunicação e que impactam, diretamente, a maneira como o café de qualidade chega ao consumidor. 

Foram mais de 80 embalagens, avaliadas pela Equipe da Espresso e por especialistas convidados nos quesitos identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade. Destas, surgiram as 20 embalagens finalistas, que nos dois primeiros dias de SIC, ficarão expostas e receberão os votos dos nossos visitantes. 

A grande final da competição Torrefação do Ano Brasil 2024, organizada pela Atilla Torradores e com o apoio da SIC, vai acontecer, pela segunda vez, no último dia do evento. Dentre as 20 torrefações finalistas, de mais de 18 estados inscritos, só uma leva o troféu.  

A SIC também é palco do Campeonato Brasileiro Blends de Café, uma realização da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). 

O campeonato, que está em sua segunda edição, promove e fomenta o conhecimento em torno da criação de blends de café, um saber fundamental para o trabalho das torrefações brasileiras. O resultado será conhecido, também, na sexta (22).

Por fim, a agitação do último dia ainda conta com a revelação do vencedor do Campeonato Brasileiro de Barismo, promovido pela BSCA e que acontece nos três dias de SIC. O campeão brasileiro irá representar o Brasil no campaonato mundial da categoria, que acontece em 2025 na Itália. 

Um tributo às regiões brasileiras

Uma obra completa sobre as indicações geográficas (IGs) terá seu lançamento na SIC. A Revolução do Café Brasileiro: Regiões com Indicação Geográfica reúne 14 regiões produtoras de café do Brasil. A obra explora as características de cada uma das áreas, com suas particularidades, métodos de cultivo e processamento dos cafés, além de incluir perfis sensoriais dos grãos. 

O livro surgiu da necessidade de oferecer uma visão abrangente da cadeia produtiva brasileira, desde a plantação até seu consumo. O Sicoob, instituição financeira cooperativa, é patrocinador da obra, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.  

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

Por que o Brasil é a vanguarda da cafeicultura sustentável mundial

Cadeia organizada e proximidade entre seus agentes ajudam a promover boas práticas agrícolas e maior remuneração ao produtor

Atualizada em 18/11/2024, às 14h54

A sustentabilidade na cafeicultura brasileira não é um quadro monocromático. Produtores nacionais estão desenhando o caminho das boas práticas socioambientais, num mosaico de ações de âmbito local e internacional e que sublinham desde iniciativas pessoais até programas públicos, pincelados por projetos que envolvem cooperativas e associações. Há, porém, traços que borram essa tela: não há mensuração precisa de cafés provenientes dessas práticas. As certificadoras não abrem o número exato de cafezais certificados e a rastreabilidade tornou-se um desafio.

Mesmo assim, o Brasil é hoje referência mundial da cafeicultura sustentável. Tal posicionamento é reforçado em termos de escala. “A Costa Rica tem um trabalho interessante, mas numa proporção muito menor, pois exporta menos de 1 milhão de sacas”, diz a brasileira Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). De fato, os números da cafeicultura nacional são superlativos. Maior produtor do mundo, no ano passado o país colheu 55 milhões de sacas, exportou 39,2 milhões delas e consumiu 21,7 milhões. “Muito da produção nacional fica no país. Não é brincadeira não, o que o Brasil destina ao mercado doméstico já é quase o que produz o Vietnã”, explica Vanusia, referindo-se ao país que é o segundo maior produtor do mundo. 

A sustentabilidade econômica que esses números geram tem pinceladas de todos os lados. Nos cenários estadual e federal, as iniciativas voltadas à sustentabilidade são múltiplas (veja em “para saber mais”, ao final da reportagem), como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que dá auxílio financeiro e suporte técnico aos cafeicultores. 

Com uma cadeia muito bem estruturada, o setor cafeeiro tem representações em todos os elos e bom entrosamento entre as esferas pública, privada e terceiro setor. “A gente tem uma política relevante, um centro de pesquisa extremamente importante e temos conseguido aumentar o volume de recursos para a pesquisa no Brasil”, analisa Vanusia, que destaca as ações do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), que destinou R$ 400 milhões para estudos na última década (dados do Conselho Nacional do Café – CNC). “Ainda é pouco, mas temos alcançado resultados muito interessantes”, acrescenta.

Um deles é o aumento da produtividade no café, que, dos anos 1990 para cá, avançou 400% enquanto a área de plantio reduziu 55%, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). O trabalho de várias instituições científicas, como Embrapa e IAC (Instituto Agronômico de Campinas) – que pesquisaram variedades mais produtivas, por exemplo – além do de associações, cooperativas e acesso ao crédito fizeram com que o Brasil saltasse de uma produtividade média de oito sacas por hectare para 30 sacas nos últimos anos.

Segundo o IBGE, há 265 mil estabelecimentos rurais com café em território nacional – 70% deles com área abaixo de 20 hectares e 78% de agricultura familiar. Por isso, ter programas para disseminar sustentabilidade e contar com a proximidade de agentes da cadeia (cooperativas, torrefadoras, tradings e órgãos estaduais de assistência técnica) faz toda a diferença para os pequenos cafeicultores e reflete no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em Minas, municípios com mais de 20 mil hectares de café têm IDH de 0,730, maior que a média de todos os municípios do estado (de 0,682).

Cafezal da Sancoffee, vencedora do 2024 Sustainability Award, da SCA

Sustentabilidade premiada

O cooperativismo faz diferença na difusão do conhecimento. “A profissionalização das cooperativas faz o Brasil estar no universo do ESG num nível de governança diferenciado, que não vemos em outros países”, explica a diretora da OIC. De fato, das 1.185 cooperativas do agro no país, 110 atuam no café (os dados são do Anuário do Cooperativismo do Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB). 

Um bom exemplo é a Sancoffee, cooperativa de Campo das Vertentes (MG), que congrega 17 municípios. Fundada em 2000 por vinte produtores para agregar valor ao café e exportá-lo diretamente, viu-se num dilema em 2013, com demanda maior do que sua capacidade. Abrir capital ou aumentar o número de cooperados não era uma opção. A solução veio do próprio potencial da região. “Fizemos parcerias para criar governança para centenas de pequenos produtores, fomentar o associativismo e gerar treinamentos”, diz Fabrício Andrade, CEO da cooperativa. Assim nasceu o projeto Além das Fronteiras, cujo impacto aumenta ano após ano. Os 57 produtores iniciais e a exportação de 200 sacas transformaram-se, em 2023, em nove associações, 350 cafeicultores e mais de 11 mil sacas – o equivalente a quase 20% dos cafés exportados pela Sancoffee. Em termos de agregação de valor, isso equivale a um ágio (valor líquido) próximo de 28% quando comparado ao commodity. 

Menina dos olhos da Sancoffee, o Além das Fronteiras traz a essência do que é preciso para construir sustentabilidade. “Temos que atrair pessoas para trabalhar e enxergar o café como ferramenta de prosperidade da região”, acredita Andrade. No ano passado, a cooperativa faturou R$ 170 milhões. “Temos um arcabouço estrutural no nosso modelo de negócio que acredita ser possível fazer a diferença por meio do café, ter uma vida bacana e atrair novas gerações, tanto de produtores quanto de trabalhadores”, resume. 

A cooperativa já colhe frutos. “Por causa do uso de tecnologias e acesso ao mercado, temos visto jovens, filhos de pequenos produtores, que tinham feito faculdade e estavam trabalhando em outros lugares, retornar ao campo para ajudar os pais”, diz. Não por acaso, a Sancoffee venceu o 2024 Sustainability Award (categoria For-Profit), um dos principais prêmios de sustentabilidade do mundo, concedido pela Specialty Coffee Association (SCA). 

Entrelinhas 

Outro destaque na premiação foi a Fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo (MG), que ficou entre os seis finalistas na mesma categoria. Referência em cafeicultura regenerativa, a propriedade de Paula Curiacos e Marcelo Urtado tem parcerias com universidades e atrai visitantes do mundo inteiro. O interesse é conhecer as práticas de agricultura climaticamente inteligente da fazenda, que resultaram num balanço negativo de carbono (- 5,16 toneladas por hectare/ano) e nas certificações do Imaflora (Preferred By Nature, Carbon on Track), da Rainforest Alliance e da Regenagri.

Pequena para os padrões do Cerrado Mineiro, a Fazenda Três Meninas tem 40 hectares de cafezais e é a prova de que a sustentabilidade não se restringe aos grandes produtores. Desde que compraram a propriedade em 2016, o casal começou um trabalho minucioso (confira os detalhes no box 2) para reconfigurar a maneira de produzir o grão. 

As entrelinhas do cafezal ganharam o plantio de forrageiras, que mantêm o solo sempre coberto. Quando roçadas, estas plantas transformam-se em adubo verde, que diminui a demanda de fertilizantes nitrogenados, os grandes vilões das emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE). Esse manejo também eliminou o uso de defensivos químicos e resultou na certificação SAT, de produção sem agrotóxicos, emitida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) por meio do Certifica Minas.

Recentemente, sob a orientação da academia, a Três Meninas implantou as “linhas de biodiversidade”. Elas nada mais são que florestas lineares – ruas de árvores e arbustos a cada 40 metros ou 11 ruas de café, que possibilitam a mecanização. “A biodiversidade é a base de uma agricultura equilibrada, porque nela é difícil uma praga se destacar”, ensina Urtado, que é engenheiro agrônomo, citando um dos benefícios dessa prática. O ideal é manter 30% de sombreamento. “Mas plantamos uma quantidade maior”, diz ele, que suprimiu 9% do cafezal para implantar as linhas. Nelas, ele também instalou um meliponário de abelhas nativas, já que a presença destes insetos pode aumentar a produtividade de 20% a 30%.

Linhas de biodiversidade nos cafezais da Fazenda Três Meninas

Quando as árvores estiverem adultas – e, se necessário –, algumas podem ser retiradas. Urtado não se preocupa com a perda. “Prefiro pensar que estamos garantindo a produção de 91% [dos pés de café]”. Segundo ele, estudos apontam que, com uma arborização adequada, mais do que manter, é possível aumentar a produtividade. Na Três Meninas, ela é de 54 sacas por hectare em média.

Na dianteira

Sim, a Fazenda Três Meninas faz muito além do habitual, mas, quando se trata dos aspectos socioambientais, o Brasil está numa posição de vanguarda. Todas as propriedades cafeeiras precisam seguir a Constituição Federal, que tem regras claras definidas pelo Código Florestal e pela Consolidação das Leis Trabalhistas. Este aparato legal é mandatório e tem um nível de exigência superior a vários países produtores.

Além disso, o setor cafeeiro tem se unido em ações pré-competitivas – aquelas em que empresas concorrentes trabalham juntas em pontos que preocupam a todos. Atendendo a demandas da cadeia cafeeira, a Plataforma Global do Café (GCP, na sigla em inglês) coordena duas delas (e que são prioritárias), como o “uso responsável de agroquímicos” e “trabalho e bem-estar na cafeicultura”. No primeiro caso, um dos vários ensinamentos oferecidos aos produtores pela Plataforma – associação internacional com mais de 40 membros no Brasil – é identificar e monitorar pragas e doenças para a tomada de decisão. “Se o ataque de broca for inferior a 5%, não causa prejuízo e não é preciso pulverizar”, detalha Eduardo Matavelli, consultor técnico da GCP. Quanto à iniciativa social, a plataforma esclarece sobre questões trabalhistas, saúde, segurança, remuneração e frentes de trabalho no campo.

Mas, afinal, por que o café do Brasil se destaca pela sustentabilidade? Um dos motivos é o ambiente institucional organizado, que permite ao produtor receber quase a totalidade do preço FOB do café exportado. “Os índices são 84,5% no arábica e 93% no conilon”, contabiliza Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O único país produtor com um índice similar é o Vietnã, com uma transferência de 90%. “Nos outros países, a porcentagem varia entre 40% e 50%”, detalha Matos. A Etiópia, por exemplo, é conhecida por ter muitos atravessadores. Segundo Vanusia, as autoridades etíopes estão tentando mudar a sistemática para um modelo de compra mais direta. “Aquelas [cooperativas] que estão aplicando o novo modelo dizem que estão transferindo para os produtores os mesmos níveis de Brasil e Vietnã”, diz a diretora da OIC.

Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café

Números incertos

A quantidade de cafés sustentáveis produzida em território nacional, porém, ainda é incerta. Segundo o Cecafé, 18,6% dos grãos exportados no ano safra 23/24 enquadram-se no segmento de cafés diferenciados, que agregam valor por qualidade e/ou sustentabilidade (certificações).  “Mas este número não necessariamente representa a realidade, porque este campo de preenchimento na certificação de origem da OIC é voluntário”, comenta Matos. E, embora as fazendas de café brasileiras adotem várias certificações (Rainforest, FairTrade, IBD, 4C), falta transparência por parte das certificadoras quanto ao número de propriedades e área de cafezais auditados no país. 

Uma tendência é a criação de programas próprios de sustentabilidade pelas cooperativas e exportadores, como o Guaxupé Planet e o GMT Green. Elaborados, respectivamente, pela Exportadora de Café Guaxupé e pelo Grupo Montesanto Tavares, ambos seguem o processo denominado “mecanismo de equivalência” da GCP. Esse processo avalia se o programa está de acordo com um Código de Sustentabilidade, linguagem global de alinhamento da sustentabilidade no café desenvolvido pela plataforma. Nele, há pontos críticos que devem ser seguidos pelos cafeicultores. “Um deles é ter um programa de melhoria contínua, uma análise de riscos das propriedades e as ações para remediar riscos identificados, gerando melhores condições de vida ao produtor e beneficiando toda a cadeia”, explica Matavelli.

Na ponta final dela, não há dúvidas de que o consumidor olha cada dia mais para aspectos socioambientais ao decidir o que comprar. Prova disso é o relatório de Compras de Cafés Sustentáveis, recém-divulgado pela GCP. No ano passado, nove grandes torrefadoras e varejistas (JDE Peet’s, Julius Meinl, Melitta, Keurig Dr Pepper, Nestlé, Supracafé, Taylors, Tesco e Westrock) adquiriram 31,4 milhões de sacas de café de 39 países, sendo mais de 23 milhões delas, de grãos sustentáveis. O volume de cafés sustentáveis que representava 35% em 2019 passou para 74% em 2023.

À frente desse mosaico de sustentabilidade que é a cafeicultura brasileira está o desafio de se adequar ao EUDR (confira box 3), o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento, e de continuar o enfrentamento das mudanças climáticas. A cada seis safras, aponta o Cecafé, o Brasil perde uma por questões climáticas. Isso exige, cada vez mais, esforços conjuntos da cadeia para aprimorar as práticas de agricultura regenerativa e desenvolver novas cultivares resistentes ao estresse hídrico, para minimizar o impacto do aumento da temperatura global na produção cafeeira.

Rastreabilidade que desafia

No final de abril, em Bruxelas, o Brasil apresentou a autoridades do bloco europeu a Plataforma de Monitoramento Socioambiental Cafés do Brasil, desenvolvida pela Serasa Experian em parceria com o Cecafé. A ferramenta de rastreabilidade utiliza mais de 200 bancos de dados disponíveis para fazer o monitoramento socioambiental dos cafeicultores – incluindo a geolocalização de propriedades cafeeiras do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de compor um banco de dados de informações ambientais de propriedades para controle, monitoramento e combate ao desmatamento.

Todas as legislações do Brasil, programas do governo de sustentabilidade na agricultura e ações e programas de sustentabilidade dos membros do Cecafé e de cooperativas e empresas nacionais e globais são reunidas numa pirâmide, cuja checagem por 24 horas é feita pela plataforma. “Costumo dizer que 40 milhões de cafés que a gente exporta são sustentáveis”, acredita Matos. 

Mas, então, qual é o receio do Brasil? A União Europeia exige rastreabilidade – a geolocalização dos produtos importados –, o que demanda uma força-tarefa nacional para fazer dois mapas desse tipo do parque cafeeiro: o de 31 de dezembro de 2020, data de corte do EUDR, e o atual. Sem isso, o Brasil terá que usar o que a Europa fornece, o mapa JRC (Joint Research Center), que avalia a cobertura florestal no mundo todo. “Por ser global, essa escala fica prejudicada e o mapa indica desmatamento em áreas de café consolidadas há mais de duas décadas”, problematiza Matos. É por isso que o Brasil e outros países produtores solicitaram às autoridades europeias a flexibilização da EUDR.

Para saber mais:

Agenda ESG 

No contexto federal, há várias ações na Agenda ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança). Além do Pronaf, outra iniciativa que merece destaque é a do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que, só em 2023, capacitou 12,942 mil pessoas em 1,187 mil cursos presenciais sobre cafeicultura. A entidade também conta com um curso de ensino à distância (EAD) de sustentabilidade na produção cafeeira. São 5.421 matriculados desde o lançamento da plataforma Senar Play, em 2021.

E não para por aí. Há o programa Certifica Minas Café (MG), por exemplo, que orienta, em nível estadual, os cafeicultores sobre as boas práticas agrícolas reconhecidas internacionalmente e que já auditou e concedeu o selo para mil propriedades. Outro exemplo é a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), cujo foco em gestão e boas práticas agronômicas atende, em média, 40 mil cafeicultores mineiros por ano. Já o governo do Espírito Santo lançou, no ano passado, o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura Capixaba, que vai aportar R$ 5,45 milhões em ações de extensão rural para alcançar 8 mil produtores até 2026.

Biodiversidade na Três Meninas (MG)

O pontapé inicial rumo à sustentabilidade foi o plantio das forrageiras, cuja escolha depende da estação do ano e da finalidade desejada. O trigo mourisco, por exemplo, atrai os inimigos naturais de pragas do cafezal, como bicho-mineiro e broca-do-café. Quanto ao milheto, ele reduz os nematóides (vermes do solo que derrubam a produtividade), enquanto o nabo forrageiro descompacta o solo com suas raízes grossas, ajudando a infiltração da água. 

Já a arborização de um cafezal atenua os ventos, diminui a transmissão de doenças e cria um microclima propício para a produção cafeeira. Seguindo os ensinamentos da agricultura regenerativa, Urtado e Paula plantaram diversas espécies de árvores e arbustos. Ingá, erva baleeira, fedegosinho e fedegosão atraem inimigos naturais das pragas do café. A guapuruvu fixa nitrogênio e descontamina o solo, enquanto o jequitibá-rosa é uma espécie madeireira. 

A EUDR

O Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) – que proíbe a importação de produtos (entre eles, o café) provenientes de áreas desmatadas a partir de 31 de dezembro 2020 – está dependendo  da votação (que será em 17 de dezembro) dos órgãos regulatórios da União Europeia sobre um pacote de emendas, que irá definir se a lei entrará em vigor no final deste ano ou se será postergada. A União Europeia já publicou o guia de implementação (guidance), que orienta os países produtores sobre as medidas a serem adotadas. “Alguns pontos foram um pouco mais esclarecidos, outros seguem nebulosos, como a classificação de risco, que vai dizer qual país será de baixo, médio ou alto risco. A gente trabalha com a regionalização do risco, para que o problema da Amazônia não afete o nosso negócio”, diz Matos.

Números superlativos do café no Brasil 

  • 55 milhões de sacas colhidas (Conab)
  • 39,2 milhões de sacas exportadas (Cecafé)
  • 21,7 milhões de sacas consumidas no mercado interno (Abic)
  • R$ 400 milhões destinados à pesquisa cafeeira pelo Funcafé na última década

Representantes da cadeia cafeeira 

  • do setor produtivo: CNC (Conselho Nacional do Café) 
  • dos produtores: CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária)
  • dos exportadores: Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) 
  • das cooperativas: OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) 

TEXTO Lívia Andrade • FOTO Divulgação

Mercado

Lei Antidesmatamento é adiada por um ano no parlamento europeu

O Parlamento Europeu aprovou, nesta quinta (14), o adiamento de um ano para a entrada em vigor da lei antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês). Foram 371 votos a favor, 240 contra e 30 abstenções. Agora, só falta o texto ser endossado pelo Conselho e pelo Parlamento e publicado no Jornal Oficial da UE.  

A votação fez com que grandes e médias empresas entrem em conformidade com as regras da EUDR até 30 de dezembro de 2025, enquanto pequenas empresas têm até 30 de junho de 2026 para se adequar a elas. 

Além disso, o Parlamento Europeu criou uma nova categoria, denominada “sem risco”, para países considerados como de desenvolvimento de área florestal estável ou crescente, que, consequentemente, passarão a enfrentar requisitos menos rigorosos do que as categorias já existentes (risco “baixo”, “padrão” e “alto”).

Em outubro, a Comissão Europeia havia proposto o adiamento de 12 meses, após reclamações de um grupo de 20 países da UE, algumas empresas e países fora da UE, como Brasil, Indonésia e Estados Unidos.

Porém, não foram propostas alterações no conteúdo da lei, posição esta apoiada pelos governos da União Europeia. Segundo a agência de notícias Reuters, a votação apertada do parlamento para adicionar a nova categoria de países “sem risco” aumenta a incerteza sobre a regulamentação da  EUDR. 

A EUDR (European Union Deforestation Regulation) é uma regulamentação da União Europeia que visa combater o desmatamento global associado a sete produtos importados, como o café. Ela exige que empresas que importam para a UE comprovem que esses produtos não estão ligados ao desmatamento, nem ao uso de terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020. 

TEXTO Redação • FOTO Simon Gibson

Cafezal

Cafés da Fazenda Sertãozinho vencem as três categorias do 4º Concurso do Terroir Vulcânico

A Fazenda Sertãozinho foi o destaque do 4º Concurso do Terroir Vulcânico, que premiou os melhores cafeicultores da região no último sábado (9), em Botelhos (MG). A fazenda, propriedade da Orfeu Cafés Especiais, levou o primeiro lugar nas três categorias premiadas: natural, cereja descascado e fermentado – esta última, novidade da edição. 

Ao todo foram 12 municípios participantes e 65 amostras finalistas. “Este ano, a qualidade foi superior”, aponta Ulisses Oliveira, diretor-executivo da Associação de Produtores do Café da Região Vulcânica. “O concurso agrega para o produtor, abre mercado. Eles têm reconhecimento pelo trabalho feito”, afirma. 

Na categoria natural, a Fazenda Sertãozinho, de Botelhos, levou a melhor com um café de 89,5 pontos. Já nas categorias cereja descascado e fermentado, os cafés da propriedade obtiveram 86 e 87 pontos, respectivamente. 

Homero Teixeira, da Fazenda Recreio, do Vale da Grama, foi o segundo colocado na categoria natural, com um café de 87,75 pontos. Ele foi seguido por Luiz Augusto Dezena, da Fazenda Santa Maria, em Águas da Prata, que alcançou 87,25 pontos.

Quanto ao cereja descascado, o segundo e o terceiro lugares foram para o Vale da Grama, com o produtor Arnaldo Alves Vieira, da Fazenda Baobá, que pontuou 85,15 no seu café, e com a produtora Patrícia Guerra, cujo grão registrou 84,85 pontos.

Já na nova categoria fermentado, a Fazenda Baobá também levou a segunda colocação com grãos de 86,5 pontos, seguida por Eliandro Zanetti, da Agripoços (Vale da Grama), com 85,5 pontos.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Mercado

Brasil vence o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy

É a segunda vez consecutiva que o país é eleito na categoria Best the Best, desta vez, com a Fazenda Serra do Boné, nas Matas de Minas

O café despolpado da Fazenda Serra do Boné, de Matheus Lopes Sanglard, ganhou ontem, em Nova York, o prêmio Best of the Best, distinção concedida pela illycafè no âmbito do 9o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. O café campeão é um despolpado produzido em Araponga, nas Matas de Minas.

É a segunda vez consecutiva que o Brasil vence o prêmio da torrefadora italiana, que já existe há trinta anos e elege os melhores cafés sustentáveis entre seus fornecedores pelo mundo. A fazenda, que fornece grãos para a illy desde 2013, fica entre mil e 1,4 mil metros de altitude, em área montanhosa, o que exige colheita manual ou semimecanizada dos grãos. 

Os irmãos Sanglard, no recebimento do prêmio nesta quarta (12), em Nova York

O prêmio tem um painel independente de nove especialistas – este ano, contou com o estrelado chef italiano Massimo Bottura, da Osteria Francescana, em Módena –, que avaliaram os melhores lotes de café entre as nove origens únicas do blend da illycaffè. Além do Brasil foram avaliados cafés de Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda. Participaram do júri, também, Felipe Rodrigues, chef do Complexo Rosewood, em São Paulo, e Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). 

 Outro prêmio, o Coffee Lovers’ Choice, ficou para o SMS Cluster ECOM, da Nicarágua. O Coffee Lovers’ Choice, como já sugere o nome, é resultado da votação dos consumidores pelo mundo que, semanas antes da premiação, provaram às cegas as mesmas amostras.

Práticas regenerativas 

“Nossas práticas agrícolas respeitam o meio ambiente”, afirmou Matheus Sanglard, em comunicado oficial da illy. Na Fazenda Serra do Boné, o uso de fertilizantes orgânicos, controle biológico e reutilização dos produtos de processamento (como a palha do café) preservam a saúde do solo, a biodiversidade e as fontes de água. Fazemos o plantio do café de forma a minimizar o impacto ambiental, utilizando roçadas ou capinas no lugar de herbicidas sempre que possível e realizando pulverizações contra doenças e pragas apenas quando necessário, de forma pontual”.

Para Andrea Illy, presidente da illycaffè, a empresa está “mais uma vez, notando sinais importantes que confirmam como a agricultura regenerativa é o caminho certo para uma produção mais resiliente, capaz de garantir produtividade e qualidade superior”.

No mesmo dia do evento, na sede das Nações Unidas, em Nova York, representantes de toda a cadeia de fornecimento do grão reuniram-se para a mesa redonda “Aliança Global do Café: Mobilizando um Fundo Público-Privado para Combater as Mudanças Climáticas”, que explorou iniciativas para promover a produção sustentável de café diante dos desafios climáticos.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Feira é vitrine para cafeicultores na SIC

Cafés premiados são destaque nos estandes de regiões produtoras, que promovem a diversidade da bebida com degustações e muita história para contar

Não faltarão regiões produtoras de café de qualidade para os apreciadores conhecerem durante a Semana Internacional do Café, que acontece de 20 a 22 de novembro no Expominas, em Belo Horizonte (MG). Se o tema das origens produtoras, escolhido como mote do evento de 2023, reforçou a sustentabilidade e a qualidade dos cafés, nesta edição, vários estandes continuam a pavimentar esse caminho com mais experiências sensoriais e informativas em torno do grão e suas singularidades. Desde 2013 – quando se deu o primeiro evento em solo mineiro –, é a edição com mais regiões produtoras, distribuídas em espaços específicos ou representadas por meio de cooperativas. Estarão lá municípios e cafeicultores da Bahia, Espírito Santo, Ceará, Rondônia, Acre, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Estreia

Novidade este ano, o estande dos robustas do Acre apresenta os 15 produtores melhor posicionados no concurso de qualidade II Qualicafé Estadual de Cafés Especiais. “A participação na SIC é a virada de chave para os produtores e o estado”, comemora Michelma Lima, coordenadora do núcleo da cafeicultura da Secretaria de Estado da Agricultura.

Produtora Eliane Lara, de Acrelândia, finalista do Florada Premiada e que estará no estande dos robustas do Acre

Num espaço de 47 m2, esses produtores e produtoras – estas, ainda, finalistas entre as vinte melhores do concurso Florada Premiada, promovido pela 3corações e cuja premiação acontece no terceiro dia do evento – estarão apresentando seus grãos aos visitantes, auxiliados por três baristas. Brasileia, Acrelândia e Epitaciolândia são alguns dos municípios representativos dos grãos da tríplice fronteira acreana. “O objetivo é promover a marca dos cafés do Acre, pois, apesar da pouca área produtiva e da pequena quantidade, temos qualidade”, assegura Michelma, referindo-se às mil famílias cafeicultoras e aos cerca de mil hectares plantados no estado. “Com a cafeicultura, estamos recuperando áreas antropizadas, degradadas”, conta ela – o Acre preserva mais de 80% de suas florestas.

O município do Alto Caparaó, que há anos participa do evento, também estará bem representado. Em uma área de 24 m2, cerca de 20 cafeicultores do município mineiro vão servir seus cafés – quase todos eles premiados, como os dez melhores do ano do 11º Concurso de Qualidade dos Cafés Especiais de Alto Caparaó e quatro vencedores do COY (Coffee of the Year), premiação criada pelos realizadores da SIC e que elege, desde 2012, os melhores arábicas e canéforas do país. 

Imagem de lavouras de café do Alto Caparaó

Mais premiados

Cidade cuja principal renda é a cafeicultura e o turismo, o Alto Caparaó venceu o COY pela primeira vez em 2014, e tem, entre os 150 finalistas de cafés arábica da atual edição, oito representantes. “O COY foi o primeiro concurso do qual participamos. Desde então, nossos cafés especiais têm ganhado notoriedade”, comemora Ramiro Horst de Aguiar, secretário de turismo e cultura do Alto Caparaó. “Para o município, a SIC é uma grande vitrine para os nossos cafés”, acredita Aguiar.

“Queremos levar a identidade territorial e cultural da cidade”, emenda Andyara Machado, Secretária de Turismo e Cultura da Prefeitura Municipal de Caparaó. Caparaó, que assim como a cidade de Ramiro, está inserida em duas indicações geográficas (denominação de origem Caparaó e indicação de procedência Matas de Minas), participa pelo segundo ano do evento com 12 produtores, degustações e comercialização dos cafés, também conhecidos nacionalmente. “Sabemos que nossos cafés são mais que meros pontos de encontro, são momentos de partilha”, acredita Andyara, que vê na SIC, ainda, um fator determinante na comercialização dos grãos mineiros.

Estande do Caparaó na Semana internacional do Café 2023

Com mais de 300 produtores, o estande da Região do Cerrado Mineiro, primeira denominação de origem de cafés no Brasil, participa pela sétima vez da SIC. “É importante estar no evento pois encontramos o público torrefador e o público consumidor, inclusive internacional”, destaca Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. “Além disso, há a exposição da nossa denominação de origem, da nossa marca, da nossa estratégia”, completa Tarabal, citando a integração da promoção da federação pela presença de seis cooperativas e sete associações no espaço, de 80 m2. Degustações dos nove melhores cafés da safra e dos dois campeões do COE (Cup of Excellence) dividirão as atenções com outras atividades, como o game Cerrado The Wall, instalado numa das paredes do estande, com direito a camisetas e pulseiras para os vencedores do jogo.

Muitos e melhores

“Sentimos uma grande necessidade de explorar nossa marca no evento, que é um dos maiores do mundo”, elogia Klayrton Alves de Souza, secretário de comunicação da prefeitura de Manhuaçu, município no leste mineiro cuja maior riqueza também é o café – 83% oriundo de agricultura familiar. Com o estande e uma segunda participação consecutiva na SIC, o município espera fomentar a marca cafés de Manhuaçu. O estande vai ser temático, com foco no 11º Concurso Municipal de Qualidade de Café. Os produtores premiados vão estar ali, e os cafés campeões serão servidos por baristas. Ilustrações que remetem às lavouras de café locais e ao Castelo do Café, importante atração turística, decoram o espaço de Manhuaçu, que na última safra produziu 565 mil sacas de café, em uma área de 24 mil hectares.

A SIC também faz parte da história de evolução da cafeicultura em Rondônia, que marca presença novamente com um estande dedicado aos robustas amazônicos. “Iniciamos nossa participação como expositores em 2016 e, no início, causamos estranheza”, relembra o pesquisador da Embrapa Rondônia Enrique Alves, que está entre os organizadores da caravana de 60 expositores até a capital mineira, a maioria deles, cafeicultores da denominação de origem Matas de Rondônia. 

Foto: Gustavo Baxter/Semana Internacional do Café

“Este ano somos muitos e melhores. Nossos cafés nunca beberam tão bem, os preços nunca estiveram tão altos”, comemora Alves. A celebração aos cafés, inclusive, se estende no espaço da feira com o animado nome “Its gonna be SIC!”, um happy hour em que os inscritos terão oportunidade de degustar “robustas reserva” – cafés que aprimoraram sensorialmente ao longo dos anos –, acompanhados de meis oriundos de abelhas das lavouras cafeeiras, cookies feitos com farinha de casca de café e drinques à base da bebida. “A SIC é nosso lugar de pertencimento”, alegra-se Alves. “Os jornais, tvs e sites já ficam em expectativa para saber qual cafeicultor de Rondônia será destaque no COY”, relata. 

Histórias e aprendizado

A SIC permite que os profissionais e entusiastas conheçam não apenas os sabores do café, mas as histórias e os desafios de quem está por trás de cada grão. Num estande com três balcões, nove produtores de Espera Feliz (MG) se revezam no serviço de seus cafés, coados e no método espresso. Os cafés de mais de uma dezena de produtores também serão vendidos ali. A expectativa é grande. “Participar do evento é dar visibilidade às histórias, aos produtores e suas propriedades. É o momento de celebrar e destacar aqueles que fazem toda esta história acontecer”, reforça Mariana Aparecida Correia, secretária de agricultura do município, que, assim como Alto Caparaó e Caparaó, situa-se na área delimitada pela DO Caparaó e pela IP Matas de Minas. Este ano, Espera Feliz pretende colher 228 mil sacas dos 9,5 mil pés em produção. “Nossa economia gira em torno do café”, arremata Mariana. 

Piatã – que acaba de entrar para o rol das IGs como um dos sete municípios da indicação de procedência Chapada Diamantina, na Bahia –, também estará no evento. Seu representante oficial é o produtor Euvaldo José da Costa Jonis, da Fazenda Riacho da Tapera. Jonis estará na SIC em nome dos 55 associados da Coopiatã, a cooperativa local, que inclui produtores também dos municípios de Abaíra e Rio de Contas. No espaço destinado à cooperativa, serão servidos blends próprios das linhas gourmet e especial. “Encontramos na SIC todas as pessoas do universo do café. É uma oportunidade para visitar outras regiões e aprender um pouco”, conclui Jonis.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Café ganha transporte em navio movido à vela e a energia solar

Uma remessa de café brasileiro especial começa a ser embarcada nesta segunda-feira (11) no Porto de São Sebastião, com destino a Le Havre, na França. Serão 588 toneladas de grãos, cultivados com práticas sustentáveis em várias regiões do Brasil. A novidade? O transporte será feito pelo cargueiro à vela Artemis, uma embarcação de tecnologia sustentável recém-construída na França.

A operação, conduzida pela Seaforte em parceria com a FAFCoffees, a Belco e a TOWT, marca a primeira exportação de café especial para a Europa utilizando um navio sem motor, movido apenas por velas e energia solar, sem emissão de carbono. Ao todo, serão 700 pallets com 14 sacas de café em cada, totalizando 9.800 sacas.

Além do café verde – que será torrado e moído na Europa para atender à crescente demanda por produtos de alta qualidade e rastreabilidade ambiental –, também serão embarcados pallets com sementes de cacau brasileiro, destinados à indústria de chocolates.

Transporte sustentável e impacto ambiental

O transporte à vela integra uma cadeia sustentável, onde o próprio modal marítimo contribui para a redução de emissões de poluentes. O café brasileiro, cultivado sob rígidos padrões de sustentabilidade, encontra agora um transporte igualmente responsável, reforçando o compromisso ambiental em todas as etapas.

Sobre o navio Artemis

Com 81 metros de comprimento e 12 de largura, o Artemis tem uma viagem estimada em 20 dias até a França e contará com uma tripulação de pelo menos oito pessoas. A embarcação chega ao Porto de São Sebastião nesta segunda-feira (11), com a partida rumo à Europa programada para quinta-feira (14), às 12h.

TEXTO Redação / Fonte: Radar Litoral

Trump, a COP 16 e a virtude da ignorância

Comecei a escrever este artigo em Cali, na Colômbia, onde, durante as últimas semanas, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade – a COP 16. A sede foi escolhida depois da desistência da Turquia em sediar o evento, em julho de 2023. 

O tema é relevante para o produtor de café, pois a Colômbia é o terceiro colocado mundial em biodiversidade e na produção de café. Nos dois casos, um dos únicos países a estar à frente dos colombianos é o Brasil. 

Neste ranking geral de biodiversidade, elaborado pela organização norte-americana Conservation International, dezessete países no mundo podem ser considerados megadiversos. Destes, nada menos do que oito são produtores relevantes de café, e outros cinco foram produtores relevantes no passado e ainda produzem café em menor quantidade.

Os cafeicultores já sabem que produzem um dos cultivos mais amigáveis ao clima, mesmo quando se avalia o impacto ambiental total da cadeia. Esse cultivo (o café) é ainda mais amigável quando feito em baixa intensidade, em sistemas agroflorestais e com uso mínimo de produtos químicos. Por mais que esta não seja (e nem há meios de ser) a realidade do produtor brasileiro, é a realidade da imensa maioria de produtores de café no restante do mundo. 

Portanto, a valorização da sustentabilidade ambiental nas cadeias agrícolas tende a penalizar cultivos agressivos e a premiar cultivos amigáveis, como o café. Principalmente o café brasileiro, que, apesar de tudo e de todos, ainda é mais amigável do que a maioria das outras cadeias agrícolas no mundo, como por exemplo, o cultivo de cereais nos Estados Unidos.

Nestas últimas semanas, seria de se esperar que o produtor brasileiro estivesse atento ao desfecho da conferência internacional na Colômbia e às eleições norte-americanas. Seria natural que houvesse uma grande torcida por medidas ambientais arrojadas, no desfecho da COP16, que favorecessem o produtor de café, e que, igualmente, houvesse uma vitória do campo político norte-americano que favorecesse as exportações para o maior comprador de café do mundo.

Pouco ou nada disso aconteceu. O café ainda não foi considerado o protagonista que é na preservação da biodiversidade. Nos Estados Unidos, venceu o campo político que tende a implementar péssimas medidas para o produtor agrícola. E, no final das contas, tampouco houve o engajamento merecido por parte do setor produtivo.

Por mais que ainda seja cedo para avaliar os impactos de um segundo mandato de Donald Trump para os EUA com relação ao comércio do café ou de qualquer outro produto agrícola, alguns alertas são, evidentemente, negativos. E eles contrastam com o otimismo e a euforia dos produtores, políticos e organizações aqui do interior de Minas, de onde eu continuo a  escrever este artigo.

Em 2024, Trump fez várias promessas muito parecidas com as de 2016, porém mais radicais. Algumas delas foram totalmente esquecidas durante o primeiro mandato, seja por inviabilidade política, seja porque se tratava de mero discurso de campanha. 

Vale nos concentrarmos, agora, naquelas que foram de certo modo cumpridas ou que podem impactar o produtor de café brasileiro: medidas protecionistas, redução de impostos, deportação em massa, suspensão de incentivos à economia verde e controle ideológico dos departamentos de saúde e de agricultura.

As medidas protecionistas devem afetar o Brasil em campos onde somos concorrentes dos produtos de lá, como aviões, peças e produtos agrícolas, como soja, milho, algodão, etanol e suco de laranja. Porém, medidas protetivas geram pressão inflacionária, pois originam menor disponibilidade de produtos em um setor produtivo que já tem um preço, muitas vezes, pouco competitivo. 

Mas o cenário pode ser ainda pior, pois o país vive um desemprego historicamente baixo. Se medidas protetivas forem adotadas conjuntamente às que restringem a mão de obra (como, por exemplo, dificultar a entrega de vistos de trabalho e deportar em massa), os EUA passariam a viver em um território desconhecido. 

Outra bandeira de campanha – a reforma tributária com redução expressiva de impostos a empresas e indivíduos de alta renda – adicionaria ingredientes extras a uma mistura que já é explosiva.

Por fim, temos ainda duas medidas que foram citadas frequentemente no discurso de Trump, mas que não são tão centrais como as que acabei de me referir: a retirada de incentivos a setores da economia verde e o controle ideológico dos dados emitidos pelo governo norte-americano. 

Robert F. Kennedy foi um dos concorrentes à Casa Branca este ano, até que se retirou da disputa e anunciou apoio a Donald Trump. Na última semana de outubro, Kennedy afirmou que recebeu a promessa de controlar instituições, como os departamentos de saúde e de agricultura, em um eventual governo Trump. Kennedy seria do núcleo ideológico do governo – entre outras coisas, negou a pandemia de Covid e a eficácia de vacinas. Caso controle o departamento de agricultura, controlará, também, as estatísticas elaboradas pelo USDA. Entre elas estão os dados sobre consumo e importação de café nos EUA, que acabam sendo os fundamentos mais importantes na avaliação da produção e no preço pago ao produtor na bolsa de Nova Iorque. 

Fazendo parte de um governo ultraconservador e nacionalista, as chances de que as estatíscas futuras sejam favoráreis aos países produtores de café são risíveis.  

Portanto, estamos diante de um governo que promete repetir ações que já foram implementadas no passado, resultando em um aumento relevante da inflação e na queda no poder de compra do cidadão médio dos EUA. Menos poder de compra implica menor consumo de bens e serviços – como o café propriamente dito ou o café fora de casa. Suspensão de incentivos a produtos de baixa emissão de carbono implica uma ainda menor possibilidade de renda extra aos cafeicultores, que deveriam vir a ser pagas pelos serviços ambientais prestados. Controles ideológicos e pouco técnicos dos números de produção e consumo de café envolvem uma oportunidade, para a indústria e compradores americanos, em manipular e especular o preço e a produção de café. 

Absolutamente nenhuma destas medidas traz ganhos ao produtor rural brasileiro, especialmente o de café, nem deve ser motivo de comemoração para eles. Todas elas são prejudiciais ao consumidor final de lá e benéficas apenas aos grandes importadores e comerciantes de café. Mesmo assim, existe um alinhamento ideológico automático e, porque não dizer, uma paixão pela figura de Donald Trump nos campos brasileiros e nas zonas rurais norte-americanas. 

Em um dos atos dedicados à campanha de Kamala Harris, o ex-presidente Barack Obama ressaltou algumas falas, nas quais Trump dizia se orgulhar da própria ignorância. Obama argumentou que a ignorância não deveria ser nunca um motivo de orgulho de ninguém. Nem para quem não consegue entender os fatos, nem para quem se recusa a vê-los como são. 

Exemplificando em bom português, temos o velho ditado de que o pior cego é o que não quer ver. Se existe alguém que não é cego e nem ignorante nesta história é Donald Trump. Melhor para ele, e pior para quem não quer ver.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

Universidade Cornell e World Coffee Research anunciam parceria de cinco anos

Programa irá concentrar-se no desenvolvimento de variedades de café resilientes e de alta qualidade para impulsionar a produtividade e os meios de subsistência entre cafeicultores 

A Universidade Cornell, em Nova York, e o World Coffee Research (WCR) acabam de lançar uma nova iniciativa para melhorar a resiliência climática e a produtividade entre pequenos produtores de café ao redor do mundo.

O Coffee Improvement Program tem duração de cinco anos e conta com o apoio de mais de US$ 5 milhões da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O programa é liderado pelo Innovation Lab for Crop Improvement (Laboratório de Inovação para Melhoria de Culturas) da Cornell.

Em um comunicado à imprensa, as instituições afirmaram que o programa vai desenvolver ferramentas para aumentar a precisão e a velocidade do melhoramento genético do café. O objetivo principal é identificar marcadores genéticos para a ferrugem (Hemileia vastatrix) e a antracnose, ambas grandes ameaças para a produtividade do café.

De acordo com o WCR, mais de 12 milhões de pequenos cafeicultores no mundo produzem, atualmente, 60% do café consumido globalmente. No entanto, esses produtores enfrentam riscos crescentes devido às mudanças climáticas e lidam com desafios adicionais para a rentabilidade e o crescimento da produtividade devido à limitação de acesso à inovação agrícola.

“O café é parte integrante da economia global. Garantir a resiliência dos pequenos produtores de café é essencial tanto para as economias locais quanto para as cadeias de suprimento globais. Esta colaboração com a Cornell irá acelerar o desenvolvimento da próxima geração de variedades de café, beneficiando tanto os pequenos produtores quanto a indústria cafeeira”, disse Vern Long, CEO do WCR.

O ILCI da Cornell foi estabelecido em 2019 com uma doação inicial de US$ 25 milhões da USAID. Em outubro de 2024, o departamento de pesquisa recebeu uma segunda doação de cinco anos no valor de US$ 25 milhões da USAID para apoiar programas de melhoria de culturas voltados para a demanda em regiões-chave do mundo.

TEXTO Redação / Fonte: Allegra World Coffee Portal

Cafeteria & Afins

Aizomê Café mescla influências japonesas e brasileiras em cardápio na Japan House São Paulo

O Japão é um importante país consumidor de café. Além de ser berço de grandes referências de extração, como a hario v60 e a kalita, também está entre os dez maiores importadores de café do mundo. Quando o assunto é a produção brasileira, o país asiático é o quinto principal destino dos nossos grãos, responsável pela compra de 1,633 milhão de sacas entre janeiro e setembro deste ano, de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Em São Paulo (SP), a chef Telma Shiraishi conecta as duas culturas no cardápio do Aizomê Café, na Japan House, e num ambiente que oferece uma imersão no cotidiano nipônico, com detalhes de literatura e moda, por exemplo. A Espresso foi convidada para conhecer a cafeteria e provar este interessante mix no cardápio. 

Importante elemento no menu – e o nosso principal interesse –, o café escolhido para ser servido na casa é do produtor Tomio Fukuda, que cultiva o fruto desde 1984 na Fazenda Baú, em Patos de Minas (MG). Com torra feita pela própria Baú, as opções no Aizomê são as variedades catuaí vermelho, bourbon vermelho e santa rosa, preparadas no espresso ou na v60. 

Em nossa visita, guiada pelos baristas Joel Sanka e Willian Matsuguma, escolhemos o catuaí vermelho no espresso (R$ 10), que entregou uma bebida de corpo médio, acidez alta, doçura equilibrada e com notas frutadas. Além dele, pedimos o santa rosa no filtrado na v60 (R$ 22), que estava bem extraído, suave e equilibrado, e foi servido em uma xícara que, apesar de não ter alça, estava em uma temperatura confortável para segurar.

Nosso pedido: bolo floresta verde, karepan, porção de moochese, café filtrado, espresso e drinque Midori Fizz

Para acompanhar os cafés, pedimos uma mescla perfeita entre a cultura brasileira e a japonesa: o “mocheese” (R$ 15), uma porção de minipães de queijo feitos com mochi (arroz glutinoso) e queijo canastra. O único defeito é não vir em um balde para comer de monte. Escolhemos também o karepan (R$ 18), um pãozinho frito recheado com carne e legumes ao curry. Apesar de frito, não é nada pesado e tem sabor delicado. Uma boa escolha para comer à tarde.

Ainda provando a combinação de influências, escolhemos o bolo floresta verde (R$ 29). Com inspiração no clássico floresta negra (um ícone dos anos 1980 nas confeitarias paulistanas), leva matchá na massa, ganache de chocolate branco, cereja amarena e cranberries marinadas no umeshu (licor de ameixa japonesa). Doce na medida certa, carrega um equilíbrio perfeito entre os ingredientes, e harmoniza muito bem com os cafés que pedimos.

Um dos pontos altos da casa no dia de nossa visita é o drinque autoral Midori Fizz (R$ 29). Feito com limão siciliano, xarope de açúcar, água tônica, matchá e folha de shisô (que lembra hortelã), a bebida gelada é refrescante e equilibrada – dá vontade de tomar litros e litros. 

Para finalizar nossa visita, o barista Willian Matsuguma preparou um matcha latte (R$ 20). O desenho de cavalo marinho, que ele disse estar treinando atualmente, rende uma bela foto no Instagram. Além disso, a combinação delicada entre o matcha e o leite torna o matcha latte uma bebida confortável, principalmente nos dias frios. Há, também, opção de leite de aveia.

Desenho de cavalo marinho desenhado no matcha latte, feito pelo barista Willian Matsuguma

Para quem passa pela avenida Paulista e busca uma boa experiência gastronômica, vale a pena a parada na Japan House e no Aizomê Café. É uma imersão, literalmente, deliciosa na cultura japonesa. 

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Avenida Paulista, 52 Térreo
Bairro Bela Vista
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
País Brasil
Website http://www.instagram.com/aizomerestaurante
Telefone (11) 2222-1176
Horário de Atendimento De terça a sexta, das 10h às 18h; Sábado, domingo e feriados, das 10h às 19h
TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Gabriela Kaneto
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