Cafezal

Passando o bastão: histórias sobre sucessão familiar na cafeicultura

Reportagem traz histórias que ilustram a necessidade de pensar o processo sucessório da propriedade rural

*Na data de postagem (1/12), essa matéria estava entre as finalistas do 4º Prêmio de Jornalismo Cafés do Brasil do Conselho Nacional do Café (CNC)

Por Lívia Andrade

A sucessão familiar no agronegócio é um tema sensível – e na cafeicultura não é diferente. Nem sempre os filhos crescem acompanhando os pais na lida no campo, especialmente quando se mudam para estudar na cidade. Não por acaso, programas dedicados à sucessão no campo vêm ganhando força em diferentes estados brasileiros. Um exemplo é Herdeiros do Campo, que nasceu no Senar Paraná e hoje também é aplicado no Espírito Santo. Em São Paulo, o Senar desenvolve o Sucessão Familiar Rural e, em Minas Gerais, a Emater lançou este ano o Futuro no Campo, para capacitar jovens e fortalecer a permanência no meio rural.

Para retratar os caminhos – planejados ou não – dessa transição entre gerações, a Espresso ouviu cinco famílias que passaram (ou estão passando) pelo processo de sucessão na cafeicultura.

Há aquelas cujos pais optam, em vida, por repartir a propriedade entre os filhos. Há quem escolha estruturar os bens em holding e organizar as regras de governança a serem seguidas. E há quem só se veja diante da sucessão após a morte dos pais. As histórias a seguir ilustram diferentes formas de lidar com a transição, que é inevitável.

Família Lacerda

O vascaíno Onofre de Lacerda, 78 anos, começou a vida como meeiro, plantando milho, cebola, batata, feijão e criando algumas vacas. Depois de 12 anos, comprou o primeiro pedaço de terra no Caparaó, serra que liga o Espírito Santo a Minas Gerais e abriga o Pico da Bandeira. Assim, ele e a esposa, Maria, criaram oito filhos (cinco mulheres e três homens), que desde cedo ajudavam os pais na lavoura.

Onofre Lacerda (com a camisa do Vasco) e a família, que atualmente está envolvida com o universo cafeeiro

Em 1979, o patriarca deu início ao cultivo de café. “Naquela época, tinha pouco cafezal por aqui, a produtividade era baixa, 12 sacas por hectare”, conta Júlio Barros, extensionista rural da Emater-MG. Mas a instituição mineira iniciou um trabalho voltado ao aumento de produtividade na região. Superada essa etapa, o foco passou a ser a qualidade dos grãos e a organização de concursos.

A virada veio em 2010, quando os Lacerda venceram o 1º concurso da região. De lá para cá, não pararam mais. “Temos mais de 200 prêmios, entre municipais, regionais, estaduais, da Abic e também o Coffee of the Year”, diz Amanda Lacerda, tecnóloga em  cafeicultura e neta de Onofre.

Hoje em dia, sete filhos e três netos trabalham com café especial. Mas nem sempre foi assim. “Em 2000, a família estava quase 100% voltada ao café e veio a baixa dos preços. Nos anos seguintes, fizemos visitas com o Sebrae às Montanhas do Espírito Santo para ver como o pessoal estava driblando a crise”, lembra José Alexandre Lacerda, um dos filhos. “O pai sempre foi uma pessoa antenada e acreditou que daria certo produzir o café especial. Hoje colhemos os resultados”. Além disso, Onofre Lacerda seguiu à risca as orientações da Emater-MG – uma parceria que, segundo a família, o fez sentir-se valorizado como produtor rural.

No início, os filhos não acreditaram. “No primeiro concurso regional da Emater, o pai mandou três amostras e nos convidou para a festa de premiação, mas era período de colheita e não fomos. Achávamos difícil ganhar, eram 400 amostras de mais de 20 municípios”, lembra Zé Alexandre.

À tarde, Onofre e Maria chegaram com a notícia de que tinham ganhado os dois primeiros lugares na categoria descascado e o primeiro na categoria natural. “Então, nosso café é bom!”, comemorou o filho, quando foi advertido. “Pode ter sido acidente, temos que trabalhar para repetir o resultado”, disse Onofre.

Família Lacerda

A guinada da família aconteceu em 2012, com a conquista do 1º lugar no Concurso de Qualidade de Café de Minas Gerais. “Estávamos ganhando concursos desde 2010, mas não tínhamos vendido café com valor agregado. Naquele ano, o café custava R$ 380 a saca e vendemos nove sacas a R$ 1 mil e uma saca a R$ 2,5 mil”, conta Zé Alexandre. O mesmo lote foi vencedor do 9o Concurso da Abic, vendido a R$ 3 mil a saca.

Mesmo em meio às conquistas da família, Onofre mantinha os herdeiros com os pés no chão. “Quem está no topo tende a cair. Temos que trabalhar para não ficar para trás”, repetia o patriarca, que comandou os cafezais até 2020. Naquele ano, decidiu formalizar a sucessão: repartiu os 49 hectares entre os filhos, com tudo registrado em cartório, como manda a lei.

Hoje, cada herdeiro cuida de seu próprio pedaço, mas todos se ajudam na colheita – e os netos de Onofre refinam o trabalho na ponta final. João Vitor, filho de Zé Alexandre, tornou-se Q-Grader e avalia os microlotes da família. Ele e as primas criaram uma marca de café e participam de eventos como o São Paulo Coffee Festival, vendendo diretamente ao consumidor. A família também mantém duas cafeterias no Caparaó e, com apoio do Sebrae, passou a oferecer turismo de experiência, recebendo visitantes para vivenciar a colheita. Onofre continua por perto, espalhando sabedoria – e o amor pelo café e pelo Vasco da Gama. Segundo a esposa, ele só tira a camisa do time para dormir.

Família Ramos

Do plantão ao plantio. Este é o lema da enfermeira e, agora, produtora rural Érika Fernanda Ramos, 46 anos. Em 2022, a primogênita de José Francisco, o Ica, e Neiva Noemi viu sua vida virar de ponta-cabeça. Com especialização em UTI, nefrologia, auditoria e gestão, Érika vivia uma nova fase profissional como gerente de nutrição clínica da empresa do irmão, no Pará.

Como de costume, foi passar as férias na casa dos pais, no Sítio Três Barras, em Campos Gerais (MG). Lá, percebeu que a pressão de Ica – hipertenso até então controlado – estava alta. Adiou a volta para casa e levou o pai ao cardiologista, que o encaminhou imediatamente para exames. Mas, sem um diagnóstico definido, Ica começou a perder peso, sentir dores e entrou em depressão. Érika insistia com os médicos, que respondiam: “Já fizemos todos os exames de rastreamento. Não há tratamento. Vamos encaminhá-lo para cuidados paliativos, para controle da dor”. Em 90 dias, Ica faleceu, ao lado da esposa e da filha primogênita. Seus outros filhos, Everaldo e Marcela, que moravam no Pará, não chegaram a tempo de se despedir.

Érika e sua mãe, Neiva, que hoje trocam conhecimento sobre gestão do sítio

Após o sepultamento do pai, Érika voltou para a roça e, ao lado da mãe, parou diante do terreiro. O café, com a chuva, tinha mofado. “Não sabia o que fazer, se lavava, se colocava no secador, se espalhava assim mesmo”, lembra ela, que aos seis anos partiu para a cidade estudar e morar com a avó. “Terminamos a safra de 2022 aos trancos e barrancos”.

A enfermeira permaneceu em Campos Gerais, apagando um incêndio atrás do outro. O funcionário do pai pediu demissão. A mãe, ainda em choque, tentava reunir forças para assumir as finanças da família – tarefa difícil, já que o marido era um homem à moda antiga: não usava planilhas, guardava na cabeça todos os custos, gastos e lucros. Por dentro, Érika estava desesperada, mas se manteve firme para transmitir segurança à matriarca. Foi então que estacionou o carro do pai na Cooxupé, cooperativa da qual ele era associado. “Cheguei dirigindo o carro dele e o pessoal veio me abraçar e dizer: ‘Érika, a cooperativa é uma família. Sinta-se em casa, estamos aqui para ajudá-la’”.

O acolhimento ajudou-a a se reerguer. Dois meses depois da morte do pai, contratou um agrônomo. “Abri o jogo com ele: vamos começar do zero, nosso único histórico são os dados da cooperativa e o conhecimento da minha mãe”, relembra. “Percorremos os cafezais para contar os pés, ver a situação da lavoura”.

Com os bens ainda bloqueados, a família entregou o café à cooperativa e fez compras em nome da mãe, também cooperada. Inventário acertado, a família abriu a Agroramos, uma empresa com as cotas de Érika e de Everaldo. “Minha irmã arrendou a parte dela e me tornei a gestora”, diz Érika.

Não foi fácil. A enfermeira enfrentou julgamentos, mas se agarrou ao apoio de quem lhe estendeu a mão. Aos poucos, foi se inteirando da situação da propriedade e organizando tudo em planilhas, para facilitar a gestão. O empenho logo chamou a atenção na Cooxupé: “Lá vem a filha do Ica. Ela é igual a ele – pergunta tudo, faz contas, é o Ica estudado”, diziam os funcionários, em tom de carinho e admiração.

Seu comprometimento rendeu-lhe um convite para representar a unidade de Campos Gerais no Encontro de Mulheres Cooperativistas, realizado em Florianópolis em 2024. Lá, ouviu uma frase que a marcou: “Herdeiro recebe a herança e faz o que quiser com ela. Sucessor arregaça as mangas e dá continuidade ao legado.” Foi o empurrão que faltava. Desde então, Érika se dedica a honrar a tradição da família, já na quarta geração de produtores rurais.

Aos 134 mil pés de café do sítio de 39 hectares, somou mais 60 mil pés. A expectativa era colher 450 sacas este ano, mas a seca derrubou a produção para 200 sacas. “Ano que vem temos a possibilidade de chegar a 1,8 mil sacas”, anima-se. “Embora não fosse minha vocação, me entreguei de boa vontade para aprender e honrar os calos que meus pais criaram nas mãos para me educar”, finaliza.

Família Croce

Inspirar e empoderar é o propósito da Fazenda Ambiental Fortaleza (FAF). A empresa familiar, que cultiva café em sistema agroflorestal, orgânico e regenerativo, criou a FAF Coffees – seu braço de exportação – com uma rede de 450 produtores parceiros, colaboradores e clientes que acreditam ser possível transformar o mundo por meio do café. A história começou em 2001, quando Silvia Barreto herdou a propriedade em Mococa (SP). Na época, ela, o marido, Marcos Croce, e os filhos Daniel, Felipe e Rita viviam nos Estados Unidos.

Silvia Barreto e Marcos Croce

Adepta da alimentação orgânica desde os anos 1980, Silvia converteu a fazenda para o sistema, priorizando a saúde do solo e a produção de alimentos saudáveis, mesmo com a queda inicial na produtividade. Em 2004, Marcos Croce, que trabalhava com comércio exterior, viu potencial para cafés orgânicos no mercado norte-americano e começou a vender para torrefações de cafés especiais, com a ajuda de Felipe na conquista de clientes. O movimento chamou atenção dos vizinhos, que pediram a Marcos para exportar seus cafés.

Enquanto isso, os herdeiros estudavam nos EUA. Felipe cursava empreendedorismo com um professor que tinha uma torrefação de cafés especiais. Empolgado, contou que a família cultivava café, mas ouviu: “Brasil não me interessa, é café barato, usado para saborização”. O choque, no entanto, lhe rendeu um trabalho na torrefação, onde provava café toda semana.

Com a crise financeira de 2007/2008 e o aumento dos custos no Brasil, o negócio da família enfrentava dificuldades. “A fazenda entrou na minha vida de forma caótica. Tranquei a faculdade e fui morar lá em 2009 para ajudar”, conta Felipe. “Meus pais eram do meio ambiente, do orgânico, mas o café bebia inconsistente”.

Nos primeiros anos na fazenda, Felipe focou em qualidade, seguindo a tendência que via nos EUA: pessoas comprando alimentos no mercado e café em torrefações especiais. Enquanto isso, Marcos levava clientes da Suécia, Noruega e EUA para conhecer a FAF. “Meu pai tem a incrível capacidade de unir pessoas e vender um sonho”, diz Felipe.

Jovem, ele achava difícil viver no interior. Mudou-se para São Paulo e passou a dividir o ano entre Brasil e exterior. Formou-se em Portugal, trabalhou na Noruega, Suécia e Austrália, sempre buscando abrir mercado para o café. “O Brasil era esnobado pelos geeks, e os tradicionais impunham um limite de preço”, lembra. A solução foi buscar novos entrantes no setor, sem dogmas. “90% dos nossos clientes começaram em 2010. Crescemos juntos, vendendo sustentabilidade na vertical da qualidade e na horizontal do manejo.”

Para Felipe Croce, é um luxo trabalhar com os pais, pessoas em quem confia

A FAF, que começou exportando café de alguns vizinhos, hoje comercializa a produção de 450 famílias em diferentes estágios de sustentabilidade. Conta com agrônomos convencionais e regenerativos. “O caminho do meio sempre é melhor”, diz Felipe. Eles atuam nas comunidades, implantando unidades de referência como modelo para outros produtores.

Ao longo do percurso, porém, Felipe, único filho com vocação para produtor, pensou em desistir muitas vezes. Ficou até 2013, quando a mãe assumiu o comando. Só retornou em 2018, quando, para evitar desgastes, a fazenda foi dividida em setores. “Hoje, arrendo a parte da fazenda que produz café e tenho minha equipe e maquinários”, diz.

Silvia toca outras produções, como leite, mel, banana e outras frutas que, processados, são oferecidos na hospedaria da fazenda. “Minha mãe quer proporcionar para as pessoas um pouco de sua vivência de infância, saudável, cercada de natureza”, explica.

Nos últimos anos, os Croce iniciaram o processo de sucessão. Felipe passou a cuidar das finanças, das parcerias com produtores e dos contratos. “Estou refinando os processos para ter uma estrutura mais organizada”, diz. Sócio do pai na FAF Coffees, valoriza a presença ativa do patriarca. “Talvez mais do que ele gostaria, mas enfrentamos geadas, secas… e meu pai é ótimo em transmitir essência para as pessoas.”

Com o tempo, Felipe passou a admirar ainda mais os pais. “Filhos querem inovar, pais têm o pé no chão. O equilíbrio está no meio”, diz. “Trabalhar com a família é difícil, a comunicação pode ser complicada, mas é um luxo ter ao lado pessoas em quem se pode confiar.”

Família Germano

Neto de italianos, filho de mineiro e paulista, Antônio Germano da Silva, 58, nasceu no Paraná vendo a família formar cafezais. Em 1984, migraram para o Acre e tentaram plantar café, sem sucesso. Silva montou uma empresa e trabalhou anos na cidade, até ver o casamento e a família ruírem. Lembrou então do conselho do pai sobre a importância de se trabalhar em família.

Casou-se de novo e, em 2009, voltou à propriedade rural em Brasiléia (AC). Tirou o capim, reflorestou 30 hectares, plantou 2 mil castanheiras, árvores medicinais e café conilon, que não se adaptou bem. A retomada da família com o café veio em 2022, ao ver uma propaganda sobre o robusta amazônico e decidir apostar.

Para Antônio Germano, trabalhar junto com os familiares e em harmonia com a natureza é o segredo para uma vida próspera

Hoje, ele, a esposa, Elizângela, e os seis filhos cultivam 20 hectares de café em sistema agroflorestal, consorciado com plantas medicinais como mariri e chacrona – ambas a base do chá ayahuasca, que a família doa a comunidades terapêuticas por seu valor espiritual e medicinal. “Não podemos vender mistérios da natureza”, diz Silva, fundador da Sociedade União do Vegetal Núcleo Cristo Rei, de inspiração cristã e foco em autoconhecimento e educação ambiental.

Nos últimos três anos, passaram a plantar clones de robusta amazônico e hoje somam 60 mil pés. “Este ano, colhemos 25 mil plantas e estimamos 350 sacas beneficiadas”, diz. Os filhos atuam em todas as etapas da produção. “É uma família unida, comprometida e cheia de potencial”, afirma Michelma Neves de Lima, da Seagri (Secretaria de Estado da Agricultura).

Atualmente, todos os filhos moram e trabalham na propriedade, até os casados, com casa e pedaço de terra próprios. Cada um cuida de uma área, mas todos se ajudam no manejo e contratam reforço quando preciso – todo o processo é manual e a secagem, feita no terreiro.

Em 2024, a família entrou no universo dos cafés especiais, participando de cursos da Emater e capacitações da Seagri com a Embrapa. Desde então, conta Michelma, têm se destacado em concursos como o QualiCafé e o Florada Premiada da 3corações.

Para o patriarca, o segredo é ensinar o valor do esforço. “Se o filho recebe o bem sem aprender a dar valor, o ditado ‘pai nobre, filho rico e neto pobre’ vira realidade”, diz. No sistema da família Silva, todos dividem os ganhos e ainda fazem renda extra produzindo clones de café para outros produtores.

Silva também plantou 2 mil castanheiras, uma espécie de poupança para o futuro. “Quando começarem a produzir, meu filho mais novo ainda terá 20 anos. É uma segurança, porque o clima está mudando”, diz, lembrando que a lata é vendida a cerca de R$ 250 e algumas árvores chegam a render 15 latas. Assim, trabalhando com os filhos na agricultura familiar, ele vive o presente enquanto planta as sementes do amanhã.

Família Baracat Sanchez

Evandro Sanchez, filho de usineiro de Catanduva (SP), depois de suceder o pai nos negócios de açúcar e etanol, expandiu seus ganhos com o café na Fazenda Dois Irmãos, no Cerrado Mineiro, hoje com 300 hectares. Desde cedo, incutiu nos cinco filhos o gosto pela terra. Maria Gabriela Baracat Sanchez, a terceira filha, herdou esse apreço. “Nas férias, ele nos levava para andar pelas fazendas”, conta. Não à toa, cursou agronomia em Viçosa e, durante uma greve na universidade, levou as amigas para trabalhar no café.

Gabriela herdou do pai, Evandro, a paixão pelos cafezais e hoje é a gestora da Fazenda Dois Irmãos, no Cerrado Mineiro

Percebendo seu entusiasmo, o pai ensinou-lhe como funcionava a fazenda tão logo ela se formou. “A gente sai da faculdade com muita teoria e pouca prática”, destaca. Em 2001, apresentou-a aos fornecedores como gestora da Dois Irmãos. Desde então, fez pós-graduação em matemática aplicada, mestrado em produção vegetal e aperfeiçoou-se na gestão da propriedade. “Hoje, a fazenda é uma empresa”, orgulha-se Gabriela, que também se tornou Q-Grader, ensinou seus funcionários a provarem cafés e direcionou o negócio para a produção de especiais. “O comprador pode vir aqui todos os anos que vai comprar um café tão bom ou melhor do que o anterior, porque temos controle, processos”, explica.

Há cinco anos, Evandro começou o processo sucessório. Chamou advogado, solicitou levantamento patrimonial e reuniu os herdeiros. “Dessas reuniões só participavam os filhos. Meu pai nunca permitiu a interferência dos cônjuges”, detalha ela.

Após muitas conversas, os irmãos organizaram os bens em holdings, das quais são sócios-herdeiros. “A ideia é que, no evento sucessório, a produção continue com a holding, não mais em nome de pessoas físicas”, explica o advogado Fernando Castellani, especialista em sucessão. “O dono da fazenda original pode manter 100% das cotas em vida e transferi-las depois, ou ainda repassá-las antes de morrer.”

Segundo Castellani, a estrutura de holding patrimonial ou de empresas operacionais ajuda a disciplinar o processo sucessório, trazendo tranquilidade, previsibilidade e regulação de conflitos. Foi exatamente o que Evandro fez: organizou os bens da família em várias holdings. “Tem a holding da parte da terra, a holding da parte industrial, cada setor é uma holding”, explica Gabriela. “Meu pai escolheu esse caminho para preservar não só o patrimônio, mas, o mais importante, a união dos irmãos”, acrescenta.

Gabriela conta que organizar uma holding é um gasto gigantesco – mas menor do que seria uma divisão por herança. Inclusive, a família correu para finalizar o processo ainda este ano, temendo a reforma tributária, que deve aumentar o imposto de sucessão. “Outra vantagem dessa estruturação é direcionar as cotas para os filhos por intermédio de um instrumento societário, chamado acordo de sócios, que estabelece as regras de governança: qual filho manda, quais assuntos são decididos por maioria, quais dependem da opinião de um terceiro, como se age em caso de conflito, como funciona para tomar dívida, pagar, vender, decisões estratégicas”, explica o advogado.

Tudo isso resguarda o patrimônio da família. “Se algum irmão quiser vender, não pode ofertar a terceiros, tem que vender para os sócios e esperar, no mínimo, um ano para o pagamento”, diz Gabriela. Outra trava é que, em caso de morte de um dos sócios, os herdeiros terão direito aos dividendos, não à gestão.

“Me sinto aliviada por estarmos nesse caminho”, conta. “Meu pai sempre ensinou o prazer do trabalho, de cuidar e preservar o patrimônio. E, mais do que isso, o sonho dele é que a gente possa aumentá-lo”, conclui.

Texto originalmente publicado na edição #89 (setembro, outubro e novembro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Lívia Andrade • FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Brim – São Paulo (SP)

Quase no cruzamento entre as famosas avenidas Ipiranga e São Luís está o Brim – um café e bar, como os donos da casa denominam o lugar. Repaginado no primeiro semestre do ano, o espaço, com uma fachada de vidro na frente, parece discreto à primeira vista, mas surpreende da porta para dentro. 

A casa é ampla e dividida em dois ambientes, ligados por um grande balcão. O ambiente logo na entrada tem ar contemporâneo, com sofás, poltronas e mobília modernos. Já as mesas estão dispostas no espaço mais ao fundo, decorado com plantas, paredes de cimento queimado e detalhes em estilo industrial. A música de fundo é baixa, o que permite uma boa conversa entre os visitantes.

Fomos atendidos pelo Felipe, que nos explicou a rotatividade dos grãos da casa. Segundo ele, o Brim tem de 5 a 6 opções, com diferentes perfis sensoriais, mas apenas um é escolhido pelo barista para ser o café do dia. Em nossa visita, o grão da vez era um catuaí vermelho cultivado na Mantiqueira de Minas e torrado pela torrefação paulistana Garagem do Café. Aumentar a escolha para 2 ou 3 grãos por dia, porém, daria ao cliente mais poder de escolha. 

Além do espresso, a cafeteria serve café em mais quatro métodos: v60, switch, aeropress e clever. Escolhemos um espresso duplo e um café na aeropress. Em ambas as xícaras a bebida apresentou corpo leve, sabor de chocolate e caramelo, acidez levemente cítrica e retrogosto limpo. Um café doce para qualquer hora do dia.

Como a casa funciona de manhã até o fim da tarde, o cardápio de comidas é variado, de pão de queijo a lanches, pratos e saladas. Para acompanhar os cafés, pedimos um sanduíche eggdrop (brioche, ovo mexido cremoso com queijo, bacon e molho especial da casa) e um tostex QXC (brioche na chapa e queijo derretido com cebola caramelizada). Os pedidos, bem servidos, chegaram rapidamente à mesa, com sabores que combinavam entre si e uma boa apresentação.

O clássico tiramisú, um dos destaques do menu do Brim, e minitorta de limão fecharam a refeição. O tiramisú estava equilibrado – sem doçura demais e com discreta presença de café. Uma boa sugestão, mas que não surpreende pelo sabor. Já a tortinha de limão tinha sabor marcante, com a doçura do merengue equilibrada pela acidez do limão sobre uma base de brownie de chocolate. 

Sanduíche eggdrop à esquerda e tostex de cebola caramelizada à direita

Com um ambiente agradável para colocar o papo em dia, o Brim é um estabelecimento que vale conhecer em qualquer dia e hora – além dos cafés, tem uma carta de drinques clássicos e autorais. Nossa experiência foi positiva e saborosa, e já pensamos em voltar para experimentar coisas novas.

Nossa conta: R$ 168,37 (com taxa de serviço)
Espresso duplo – R$ 15
Aeropress – R$ 20
Sanduíche eggdrop – R$ 36
Tostex QXC – R$ 26
Tiramisù – R$ 34
Minitorta de limão – R$ 18

A equipe da Espresso visitou a casa anonimamente e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Avenida São Luís, 84
Bairro República
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
País Brasil
Website http://www.instagram.com/brim_sp
Horário de Atendimento Todos os dias, das 9h às 18h
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Mercado

AeroPress lança moedor manual compacto ideal para viagens

Reconhecida mundialmente pelo método de preparo que leva seu nome, a AeroPress acaba de ampliar o portfólio com o lançamento de um moedor manual slim, feito de metal. Com 580 g, o Manual Grinder foi projetado para se encaixar no êmbolo da AeroPress, o que torna o transporte mais prático e permite moer café em qualquer lugar.

Equipado com lâminas cônicas de 38 mm revestidas de titânio, o moedor traz rolamentos ao redor do eixo, o que garante giro suave e alinhamento preciso. Segundo a fabricante, o equipamento oferece mais de 60 níveis de moagem e comporta até 25 g de café. No design, o modelo traz ranhuras externas que facilitam a pegada e ímãs laterais que mantêm a manivela presa ao corpo quando não está em uso.

É o primeiro produto da AeroPress com distribuição global simultânea. O Manual Grinder está disponível no site oficial desde 4 de novembro por US$ 199,95.

Todos os modelos da AeroPress acomodam o moedor dentro do êmbolo – com exceção da versão Premium, de vidro, menos indicada para viagens e equipada com um êmbolo metálico ligeiramente mais estreito.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

CafezalMercado

Parlamento Europeu adia em um ano aplicação da Lei Antidesmatamento

Emenda retira obrigatoriedade de due diligence para operadores que vendem o produto após a entrada no mercado europeu

O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta (26) o adiamento da aplicação da lei antidesmatamento para 30 de dezembro de 2026. O adiamento é uma das diversas emendas que simplificam a EUDR. Para micro e pequenas empresas, a prorrogação segue até junho de 2027.

Segundo comunicado divulgado para a imprensa pelo Parlamento, o prazo adicional busca “garantir uma transição tranquila” e permitir a implementação de medidas para reforçar o sistema de TI (criado pela União Europeia para implementação da lei e utilizado por operadores, comerciantes e representantes para emissão das declarações eletrônicas de diligência).

Além do adiamento, uma das emendas votadas estabelece que a responsabilidade de apresentar a declaração de due diligence recai sobre empresas que colocam o produto no mercado europeu pela primeira vez, retirando essa obrigatoriedade dos operadores que comercializam os produtos posteriormente. Também alivia as exigências para micro e pequenos produtores, que passam a entregar apenas uma declaração simplificada.

O texto foi aprovado por 402 votos a favor, 250 votos contra e 8 abstenções. A negociação segue agora para os representantes dos Estados-Membros no Conselho Europeu, e a versão final deve ser aprovada pelo Parlamento e pelo Conselho e publicada antes do final deste ano para que entre em vigor.

TEXTO Redação

CafezalMercado

Saca de café do Cerrado Mineiro é vendida por R$ 200 mil

Campeã da categoria cereja descascado, saca produzida por Eduardo Pinheiro Campos, da Fazenda Dona Nenem, quebra recorde nacional

Durante o 13º Prêmio Região do Cerrado Mineiro, que aconteceu na quarta (19) em Uberlândia (MG), a saca campeã da categoria cereja descascado, produzida por Eduardo Pinheiro Campos, da Fazenda Dona Nenem, em Presidente Olegário, foi arrematada por R$ 200 mil.

Este foi o maior valor já pago por uma saca de café em um leilão nacional – o último recorde foi a venda de uma saca a R$ 115 mil em 2024, no mesmo concurso – e o lance  foi dado pelo consórcio formado por Expocacer, Veloso Green Coffee, Marex e Nucoffee. “É uma honra e um orgulho enorme para nossa equipe alcançar esse resultado. Eles são quem realmente colocam a mão na massa, nós apenas orientamos o caminho para chegar a esse nível de excelência”, comemorou Campos, cujo café alcançou 90,59 pontos. “A emoção é muito grande, porque são muitos anos de trabalho, conquistas e prêmios”.

O segundo maior lance, de R$ 100 mil, foi feito pela Louis Dreyfus Company para o café campeão da categoria natural, produzido pela Agropecuária São Gotardo Ltda. Reunindo nove lotes das categorias vencedoras, o leilão movimentou um total de R$ 562 mil, com média total por saca de R$ 62 mil. 

“Este recorde é uma soma de reputações. A do Eduardo Pinheiro Campos, como maior campeão da história do Prêmio Cerrado Mineiro, e a reputação de nossa região, que completa 20 anos como Indicação Geográfica e se consagra líder no segmento de origem controlada”, destacou Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado.

TEXTO Redação

O fracasso da onipotência

Por Celso Vegro

O pensamento verdadeiramente liberal não pode ceder às tentações populistas que, por arbítrio, instauram desgoverno e instabilizam os mercados. Eis o posicionamento de Ronald Reagan, um liberal histórico, em discurso proferido em 1987:

“Quando alguém diz ‘vamos impor tarifas sobre importações estrangeiras’, parece que está fazendo algo patriótico, protegendo os produtos e os empregos americanos. E, às vezes, por um curto período, isso funciona — mas apenas por um tempo. O que eventualmente acontece é que as indústrias nacionais começam a depender da proteção do governo na forma de tarifas altas. Elas param de competir e deixam de fazer as mudanças inovadoras na gestão e na tecnologia de que precisam para ter sucesso nos mercados globais. Enquanto tudo isso está acontecendo, algo ainda pior ocorre: tarifas altas inevitavelmente levam à retaliação por parte de países estrangeiros e ao desencadeamento de intensas guerras comerciais. O resultado são mais e mais tarifas, barreiras comerciais cada vez mais altas e menos concorrência. Então, em pouco tempo, devido aos preços artificialmente elevados pelas tarifas — que subsidiam a ineficiência e a má gestão —, as pessoas param de comprar. E então acontece o pior: os mercados encolhem e colapsam, empresas e indústrias fecham e milhões de pessoas perdem seus empregos. A memória de tudo isso, nos anos 30, me fez determinado, quando cheguei a Washington, a poupar o povo americano da legislação protecionista que destrói a prosperidade. Agora, nem sempre tem sido fácil. Há aqueles no Congresso, assim como havia nos anos 1930, que querem buscar a vantagem política rápida, arriscando a prosperidade da América em prol de um apelo de curto prazo a algum grupo de interesse especial.”

Essa longa digressão corrobora toda a teoria econômica construída em torno do uso de tarifas para proteger a produção interna. O Brasil, no século passado, foi exímio praticante desse tipo de política, por meio do esforço de industrialização baseado na substituição de importações. Essa estratégia desenvolvimentista provocou a chamada década perdida (anos 1980 sem crescimento do PIB) e os conhecidos voos de galinha (anos 1990 e parte dos anos 2010). Ademais, tornou o país um dos mais fechados ao comércio internacional entre as nações de maior corrente de comércio.

Deve-se enaltecer a postura firme do governo brasileiro, que em nenhum momento ameaçou retaliar a escalada tarifária imposta contra o país. Nesse ponto, o mandatário brasileiro cumpriu exatamente o que Nietzsche profetizou: “O que luta com monstros deve ter cuidado para não se tornar um monstro.”

A parcimônia diplomática e o passar do tempo foram decisivos para a revogação das tarifas, parte importante da pauta exportadora brasileira aos EUA. As duas conversas entre os mandatários, seguidas pelos encontros do vice-presidente e do chanceler brasileiro com seus congêneres americanos, representam momentos cruciais na reversão do tarifaço.

Sem dúvida, o mandatário estadunidense compreendeu que comprou uma briga perdida. A pressão inflacionária no mercado doméstico corroeu sua popularidade e colocou em risco a dominância republicana sobre a política interna. 

Enquanto Marco Rubio subsidiou decisões equivocadas para Trump, Richard Grenell (enviado especial do Trump) trouxe outra análise dos fatos do Brasil para seu presidente. O comunicado oficial menciona explicitamente que a reversão do tarifaço constitui um “puxão de orelhas” do mandatário estadunidense sobre sua diplomacia (Rubio), mencionando explicitamente que a retirada do tarifaço foi conquistada pelo excelente diálogo entre as autoridades de ambos os países.

Tudo que os EUA não compraram do Brasil, outros mercados passaram a comprar – uma dança das cadeiras. Ser taxado pelos EUA permitiu ao Brasil diversificar ainda mais seus clientes internacionais e incrementar a presença brasileira no rol das nações cruciais para a estabilidade e paz mundial, algo cada vez mais decisivo na produção maior e mais sustentável de riqueza para a população.

A revogação do tarifaço para 120 itens agrega US$ 5 bilhões às exportações brasileiras. Porém, as negociações ainda durarão ao menos 90 dias para que toda a pauta comercial seja desbloqueada, e dependerá da desoneração de produtos americanos atualmente aqui taxados. 

Há uma expressão latina que diz muito sobre a forma do presidente americano governar: Ad nutum, ou seja, governar segundo a vontade, pelo arbítrio. Estado não é empresa, e a lógica da conciliação por meio da política bem praticada é o caminho para o avanço civilizatório.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Café & Preparos

Tarifa sobre o café solúvel brasileiro continua em 50%

A manutenção da sobretaxa sobre o café solúvel — apesar da isenção para o café verde anunciada por Trump — acende alerta no setor

A decisão do governo Donald Trump de zerar, na quinta (20), as tarifas adicionais de 40% impostas ao café brasileiro (e outros produtos) não incluiu o café solúvel. Para o produto, segue em vigor a sobretaxa de 40% somada à tarifa-base de 10% — um custo total de 50% que, segundo o setor, ameaça a posição histórica do Brasil no mercado norte-americano.

Em comunicado divulgado nesta sexta (21), a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) afirmou que “o mercado dos EUA é de vital importância estratégica para o Brasil” e chamou a atenção para um ponto considerado crítico: “A Abics alerta para o risco iminente de que o café solúvel brasileiro seja permanentemente substituído por produtos de outros destinos nas prateleiras dos supermercados americanos”.

A entidade reforça que, se isso ocorrer, “a recuperação futura será uma missão extremamente difícil, com perdas duradouras para toda a cadeia produtiva nacional, desde os cafeicultores até as indústrias e seus trabalhadores.”

Pela primeira vez na série histórica, os EUA deixaram de ser o principal destino do café solúvel brasileiro em outubro, cedendo lugar à Rússia. Desde agosto, início da vigência da tarifa extra, os embarques para o mercado americano caíram mais de 52% em volume.

A dimensão do mercado explica a preocupação. Em 2024, o Brasil respondeu por 38% das importações totais de solúvel dos EUA, um domínio construído ao longo de décadas. O país também representa cerca de 20% do volume total das exportações brasileiras de solúvel, gerando aproximadamente US$ 200 milhões por ano em receitas.

Com o café verde liberado das sobretaxas, mas o solúvel mantido em patamar elevado, o setor agora pressiona Brasília e Washington para uma negociação específica que evite o que classifica como um dano estrutural: perder, em poucos meses, um mercado conquistado ao longo de gerações.

TEXTO Redação

Cafeteria & Afins

Doceria Fantasias inaugura loja conceito na alameda Lorena

Os apaixonados por doces têm um novo destino para adoçar o dia. A Doceria Fantasias, em funcionamento na capital paulista desde 1989, acaba de inaugurar sua mais recente unidade na alameda Lorena, 1.430, no Jardins – em frente ao tradicional Empório Santa Luzia. A nova loja chega como uma unidade-conceito, com ambiente mais amplo, decoração elegante e atmosfera aconchegante, pensada para receber com conforto quem deseja um momento de pausa entre um compromisso e outro.

Além das sobremesas clássicas da marca, o espaço oferece novidades no cardápio, como opções de tortas acompanhadas de salada, ideais para um almoço leve e rápido. A casa abre diariamente, das 9h às 20h (fase de ajuste).

Entre os destaques do menu de bebidas estão os grãos da Orfeu Cafés Especiais, disponíveis em versão tradicional e na linha Varietais. Produzido em Minas Gerais, os cafés passam por todas as etapas, do cultivo à torra, na própria fazenda, garantindo rastreabilidade e controle total de qualidade. “Todos os anos visitamos a propriedade para acompanhar a colheita e a torra, além de ver como estão os parâmetros de qualidade, para garantir que o café que os nossos clientes estão tomando seja sempre o melhor”, explica Vinícius Oliveira, sócio e segunda geração à frente do negócio, que destaca que o cuidado segue com os demais produtos do menu, produzidos da própria cozinha.

Na nova unidade, o café pode ser apreciado no espresso e no coador de pano, feito na mesa. Há também uma seleção de chás especiais, além de bebidas como matcha e cappuccinos, todos disponíveis com diferentes tipos de leite, conforme a preferência dos clientes. Itens como pacotes de café e métodos de preparo são vendidos na loja para quem quiser ampliar a experiência para casa.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Alameda Lorena, 1.430
Bairro Jardins
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
País Brasil
Website http://www.instagram.com/doceriafantasias
TEXTO #Publicidade

Mercado

“Há uma decepção”, diz Cecafé após isenção parcial de tarifas sobre o café

Com a retirada apenas da tarifa de 10%, mas não dos 40% adicionais aplicados ao Brasil pelos EUA, entidades do setor afirmam que a decisão mantém desvantagens competitivas 

Por Cristiana Couto e Caio Alonso Fontes

“O setor esperava já virar essa página.” A avaliação é de Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, ao comentar hoje pela manhã à Espresso a decisão dos Estados Unidos de retirar as tarifas de importação sobre o café de todos os países. “Nossa situação é pior [do que a de outros países] porque todos os nossos concorrentes já têm acordos bilaterais firmados ou só tinham a tarifa de 10% e que, agora, ficam zerados. A gente está com 40%”, analisa Matos, referindo-se, respectivamente, aos acordos firmados com Vietnã e Indonésia –que já operavam com tarifas menores –, à isenção total das tarifas para Colômbia, Etiópia e Costa Rica, e à ordem executiva 14.323, referente ao Brasil e que impôs uma tarifa adicional de 40%, vigente desde agosto.

A Casa Branca anunciou ontem (14) a isenção das “tarifas recíprocas” impostas pela ordem executiva 14.257, que fixava uma alíquota básica de 10% sobre café e outros produtos desde 5 de abril, com taxas específicas por país vigentes a partir de 9 de abril. Para Matos, a decisão deixou “uma decepção” no setor. Ele informou ter conversado ontem por telefone com o vice-presidente Geraldo Alckmin e disse ver agora necessidade de “foco total para a negociação acelerar”. Segundo ele, se a estratégia de isentar todos os produtos por 90 dias não avançar “porque há produtos que têm resistência”, o caminho deve ser negociar caso a caso e buscar a liberação imediata do café.

Em comunicado, a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais) lamentou que a nova ordenação não inclua a retirada total das tarifas de 50% aplicadas aos cafés do Brasil, “especialmente aos cafés especiais”. Para a entidade, a manutenção dos 40% “amplia distorções no comércio e tende a intensificar, no curto prazo, a queda nas exportações de cafés especiais aos Estados Unidos”

A ruína das altas cotações

Por Celso Vegro

Nas duas últimas safras de café no Brasil, observou-se cotações do café nas bolsas de mercadorias em contínua elevação, alcançando para arábica, recentemente, patamares acima de US$ 4,00 por libra-peso (em Nova York, oscilando desde então ao redor desse nível de preços. Provocada pela escassez global do produto, houve, também, ascensão dos preços do canéfora no mercado interno, que alcançaram o patamar de R$ 1.500 a saca.

Desde a safra de 2020/21, em que se contabilizou colheita ao redor das 65 milhões de sacas, a rentabilidade na atividade não se mostrava satisfatória, especialmente em decorrência dos distúrbios climáticos que intervieram no andamento da safra (granizo, altas temperaturas, veranico e geada).

Ademais, muitos cafeicultores que praticavam a gestão de risco, contratando hedge de preço –, porém, sem seguro (esse último elemento de garantia de participação do cafeicultor na alta) –, tiveram dificuldades em honrar seus contratos, seja por frustração de safra, como por interesse em se beneficiar dos altos preços que passaram a vigorar após a geada de 2021.

Nesse contexto inicia-se um agravamento da arquitetura financeira desenvolvida, visando pleno funcionamento desse mercado (compartilhamento do risco). Surge um trade-off para os exportadores comprometidos com entregas futuras aos seus clientes, que, devidamente travados tanto na cotação do café como no risco cambial, não apenas ficaram sem o produto, como também, foram ainda demandados pelas corretoras a aportar margem aos contratos não quitados.

As altas cotações também criaram outro comportamento oportunístico. Contratos de compras futuras realizadas por exportadores são quitados com produto de bebida inferior e/ou maior número de defeitos, comparativamente ao previamente estabelecido (adquiriu Fine Cups ou Good Cups e recebeu Rio Minas ou, ainda, contratou com 10% de cata e recebeu produto com o dobro disso). Tal comportamento implica a necessidade de aquisição no mercado spot (que está invertido), exigindo do exportador um desencaixe adicional de recursos para cumprir com seus embarques.

Sim, houve má gestão de poucas empresas exportadoras na condução de seus negócios (construção de pirâmides), mas a maior parte delas encontra-se sob fluxo tenso, ou seja, entre a necessidade de cumprir as entregas internacionais e a insegurança quanto ao recebimento do produto, nos preços e qualidades ajustados entre as partes. Situação agravada pelo encolhimento da oferta de crédito por parte do sistema financeiro, destinado às empresas exportadoras, devido aos riscos atualmente por elas carregados.

O desmonte da arquitetura financeira de gestão do risco da comercialização do café trará desafios econômicos para os cafeicultores. A perda de liquidez por aversão dos investidores a esse mercado torna mais instáveis as cotações (aumento da volatilidade) e os fenômenos incompreensíveis, como preço do físico acima das cotações futuras (inversão mencionada). Sem essa estrutura financeira operando, reduzem-se os horizontes econômicos para o planejamento da atividade.

Bons preços favorecem a expansão da cafeicultura do mundo todo. No Brasil, viveiristas contabilizam como principal destino das mudas os novos plantios frente a talhões em processo de renovação. Ademais, os bons resultados econômicos obtidos permitiram a expansão das tecnologias aportadas às lavouras, como irrigação, nutrição e sanidade de alta eficiência agronômica e podas de condução – que, em conjunto ou isoladamente, prepararão a cultura para incrementar a oferta de curto prazo do produto. Ou seja, o contexto atual prepara o seu oposto, representado pelo inevitável ciclo de baixa.

Tanto o governo capixaba como o rondoniense aceleram seus programas de expansão do plantio de canéfora (conilon e robusta). Em São Paulo, há imenso esforço público, que se soma ao privado, pela expansão da oferta local de robusta. Há estimativas consistentes de que, na próxima década, o Brasil passe a deter também o título de maior produtor de canéfora do mundo, ultrapassando as 30 milhões de sacas vietnamitas.

Ainda que a procura pela bebida seja incrementada por taxas superiores e possibilidades e capacidades de ampliação da oferta (considerando que os distúrbios climáticos já estejam afetando a potencialidade das lavouras), tal ritmo de expansão do cultivo empurrará as cotações para baixo – ainda mais, com a força adicional do segmento canéfora.

Uma marca consolidada dos mercados de commodities está em seu regime cíclico de preços. Sendo uma cultura perene, a lavoura cafeeira exige entre três e quatro anos para que se obtenham colheitas significativas e, considerando o prazo de produção tanto da obtenção das sementes como da formação das mudas, esse ciclo ainda pode contabilizar ondas de cinco a sete anos entre os picos de preços e seu acentuado declínio.

Tanto exportadores como cafeicultores terão que reposicionar suas estratégias e seu planejamento comercial. No primeiro caso, buscar por mecanismos de garantia de suprimento futuro por meio de contratos e por outros mecanismos de aproximação com os cafeicultores. Para o segundo grupo, somente melhorar a qualidade e a produtividade das lavouras para incrementar a competitividade do produto. Felizmente, a cafeicultura brasileira tem sido capaz de dar mostras de que, com tecnologias agronômicas e aplicação de protocolos de sustentabilidade, alcançará patamares produtivos ainda mais robustos.

Como limitação dessa análise, deve-se alertar que a construção de cenários plausíveis a partir das tendências pregressas ficou seriamente comprometida após o surgimento da pandemia de covid-19. Muitos indicadores perderam aderência ao funcionamento real das estruturas socioeconômicas, dificultando muito as possibilidades de projetar o futuro desse ou de qualquer outro mercado.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
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