Mercado

Tarifa de 50% sobre o café pelos EUA compromete competitividade brasileira, dizem analistas

Por Cristiana Couto

O anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros como o café nas exportações aos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, já refletiu no mercado global e provocou nova volatilidade no comércio de futuros do café. A nova tarifa também pode afetar o consumo norte-americano do grão. 

Na manhã de quinta (10), os contratos futuros de arábica negociados em Nova York saltaram mais de 3,5%, fechando o dia a 1,3%. Segundo o New York Post, embora os preços de arábica e robusta tivessem recuado levemente com a expectativa de colheitas melhores, o cenário agora está ameaçado pelas tensões comerciais. 

Em nota divulgada na quinta (10), a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) afirma que a decisão de Trump foi comunicada de forma unilateral e compromete a competitividade do Brasil. “A medida representa um grave retrocesso nas relações comerciais entre os dois países, que pode gerar impactos extremamente negativos e relevantes para toda a cadeia produtiva do café brasileiro”.

Anunciada por Donald Trump no final da tarde de quarta-feira (9) em carta publicada na rede Truth Social, a sobretaxa está vinculada às acusações, feitas pelo presidente dos EUA, de que o governo brasileiro “ataca a liberdade de expressão” e orquestra uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso, de acordo com especialistas do mercado, torna a discussão mais complexa. 

O Brasil é responsável por cerca de 30% das exportações globais de café e por aproximadamente um terço das importações americanas – em 2024, o país  enviou 8,1 milhões de sacas aos Estados Unidos. “Com a nova tarifa, o café brasileiro perde competitividade no mercado americano, uma vez que o aumento de custos para os importadores tende a favorecer outros produtores”, explica Guilherme Morya, analista de café do Rabobank. Para ele, países como Colômbia, Honduras, Etiópia e Vietnã, com taxas menores, devem se beneficiar da nova configuração, especialmente em um contexto de estoques globais apertados.

Os analistas dizem que ainda é cedo para avaliar os efeitos da nova tarifa a longo prazo. “Teremos de aguardar os próximos dias e observar os desdobramentos da imposição de uma taxa que atrapalha e pune os centenários negócios de café entre brasileiros e americanos”, escreveu em seu boletim diário Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, sobre a imposição que considera “tecnicamente incompreensível”. “É uma decisão que não tem ganhadores. Certamente os importadores americanos dos nossos cafés irão trabalhar conosco para tentar reverter essa decisão danosa para os cafeicultores brasileiros e para os consumidores americanos”, completa.

De fato, a medida pode reduzir a demanda americana pelos grãos brasileiros (os EUA consomem, anualmente, cerca de 24 milhões de sacas de café). “Apesar da recente queda nos preços, o consumo segue pressionado por fatores inflacionários e econômicos”, analisa Morya. “Um aumento de 50% nos custos pode agravar esse cenário, tornando o café um produto menos acessível ao consumidor final.” 

“Sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano, e tudo que gera impactos ao consumo é ruim para o fluxo do comércio, é ruim para a indústria, é ruim para o desenvolvimento dos países produtores e consumidores”, afirma Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), que acompanha com atenção as discussões sobre as novas tarifas. 

Matos reforça que o café gera muita riqueza aos Estados Unidos, que agrega valor ao produto no processo de industrialização. O café representa 1,2% do PIB norte-americano e é responsável por 2,2 milhões de empregos no país. Para cada U$ 1 de café importado são gerados US$ 43 na economia americana. 

“Será crucial observar se a tarifa será implementada integralmente e por quanto tempo permanecerá em vigor, pois ela pode reconfigurar os fluxos do comércio internacional de café, com impactos para produtores, exportadores e consumidores”, acrescenta Morya. “Temos esperança de que o bom senso prevaleça”, diz Matos.

TEXTO Cristiana Couto

A onda bege: porque o auge do café RTD ainda pode estar por vir

Por Gustavo Paiva

O segmento de café pronto para beber (RTD, da sigla em inglês ready-to-drink) há muito é alvo de debates. Alguns dizem que já é uma realidade, apontando para a inovação do produto nos últimos anos, a quantidade de capital investido em P&D e comunicação e os hábitos de consumo atuais da Geração Z. 

Mas há quem seja ainda mais otimista e considere ainda os mercados emergentes na Ásia e na África, o aumento natural do poder de compra da Geração Z e sua influência sobre a Geração Alfa. Por fim, há os pessimistas, que consideram a alta nos preços, o fato de que gerações mais velhas e países produtores podem não estar abertos a esse tipo de consumo e que os mercados emergentes não tenham aumento substancial na renda para consumir em grande escala o café pronto para beber.

É praticamente impossível pensar em uma lata de café gelado e não pensar em algumas marcas precisas. Algumas empresas promoveram uma revolução na forma como o café é consumido dentro e fora de suas lojas. Mais do que isso, seu sucesso obrigou outras empresas tradicionais a repensarem suas estratégias e desenvolverem novos produtos para o segmento. As prateleiras refrigeradas dos supermercados exibem hoje uma ampla gama de latas de café pronto para beber até mesmo de companhias que nunca tiveram uma cafeteria. Então, podemos confirmar que isso já é uma realidade?

Não para aqueles que apostam que o melhor ainda está por vir. Segundo Caleb Bryant, diretor associado de alimentos e bebidas da Mintel, a Geração Z lidera a tendência de consumo deste produto. Outra pesquisa, da Suntory Boss Coffee, valida a visão de Bryant. De acordo com o levantamento, 88% da Geração Z já consome café pronto para beber, e entre os que ainda não consomem, 61% consideram experimentá-lo no futuro.

Considerando, a partir dos dados da empresa de inteligência de mercado Technavio, que mais de três quartos dos cafés prontos para beber são consumidos em latas ou garrafas de plástico, estas embalagens permitem uma maior customização, inovação e maneiras alternativas de consumo. Estas três características são essenciais para as novas gerações e irrelevantes para as mais vividas.

Segundo dados da National Coffee Association (NCA), existem vários fatores determinantes para que as gerações mais velhas não se aproximem dos cafés prontos para consumo. E isso não necessariamente tem a ver com hábitos antigos e estabelecidos. Para a NCA, os principais fatores para o consumo dos cafés prontos para beber seriam a comodidade, a conveniência e a possibilidade de ‘levar para viagem’. Além disso, os cafés prontos para beber envolvem um marketing ligado à qualidade do grão e à sustentabilidade da produção, fatores que não são decisivos para as gerações mais velhas. Por último, o café como ritual de preparação dentro de casa ainda é decisivo para consumidores Baby Boomers – aqueles nascidos entre 1945 e 1965.

Contudo, ao analisarmos os países produtores de café, especialmente na América Latina, percebemos que o poder de compra vem crescendo pouco e o consumo de café parece mudar a passos bem mais lentos. No Brasil, maior produtor de arábica e segundo maior consumidor de café, a previsão é de que o consumo de café pronto para beber cresça apenas 2,8% entre 2024 e 2029. Ainda, as mudanças climáticas, a inflação e o aumento nos preços do café terão um impacto notável em uma região onde o poder de compra está estagnado e grande parte da população já luta para não reduzir o consumo de café.

Naturalmente, há grandes expectativas para os mercados asiáticos emergentes. Considerando apenas China, Indonésia e Índia, são nada menos que 3,1 bilhões de pessoas com renda crescente e adotando hábitos ocidentais, como o consumo de café.

Se considerarmos outros países asiáticos ou até africanos, com populações menores mas com crescimento econômico igualmente impressionante, não deveríamos ter motivos para o pessimismo. Importante lembrar que países de consumo tardio tendem a absorver as tendências contemporâneas dos mercados estabelecidos. Ou seja, até mesmo as gerações mais velhas que se dispusessem a tomar café nestes novos mercados, começariam a fazê-lo copiando hábitos de consumo das gerações mais novas de consumidores dos países tradicionais, portanto, incluindo em sua cesta de consumo os produtos prontos para beber.

A consultoria Fortune Business Insights estima que o valor do mercado de café de qualidade seja de US$ 101 bilhões, enquanto o valor do mercado de cafés prontos para beber seria de apenas US$ 3,1 bilhões, mas com perspectiva de crescer 22% até 2032. A América do Norte seria responsável pela maior parte deste crescimento.

Segundo a gigante do setor, Sucafina, a pandemia poderia ter desferido um golpe importante neste tipo de consumo. Mas o que aconteceu foi o contrário:  a empresa identificou um aumento significativo neste tipo de consumo durante os anos de 2020 até 2022. A explicação poderia ser de que cafés RTD reproduzem em casa o estilo de bebida consumidos nas cafeterias, que estiveram fechadas ou com capacidade reduzida durante o lockdown. 

Este aumento expressivo no consumo também é corroborado pela consultoria Nielsen, que identificou um aumento de 61% no consumo de bebidas prontas de café no Reino Unido desde 2020. Por último, a Technavio chegou a conclusões parecidas com as demais pesquisas, porém, ainda mais otimista em relação ao valor de mercado de nicho em questão. Ela estima que as bebidas prontas já movimentem US$ 15 bilhões e prevê um crescimento de quase 9% nos próximos cinco anos, vindos principalmente da América do Norte.

Todos os mercados têm a necessidade e uma certa tentação natural de querer prever o futuro e enxergar o que vem pela frente. Existe uma particularidade no mundo do café: contar ondas para evidenciar alguns marcos nos hábitos de consumo. Mas eu não cairei nessa armadilha, e não ousarei contar as ondas desse mar misterioso. Mas podemos ter a certeza de que, em alguns lugares, existe uma onda bege se aproximando. E talvez seja uma onda gigante.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva

Mercado

“O Brasil tem tudo para aumentar sua liderança no mercado mundial de cafés”, diz Eduardo Carvalhaes

Para o sócio do tradicional Escritório Carvalhaes, de análises, corretagem e serviços no comércio e exportação de café, o país reúne clima, história, conhecimento, pesquisa e técnica, mas corre riscos se não investir em pesquisa, visão estratégica e legislação clara

Eduardo Carvalhaes – Foto: Agência Ophelia

Por Cristiana Couto e Caio Alonso

Com mais de 40 anos no setor cafeeiro e à frente, com o irmão Nelson, do centenário Escritório Carvalhaes, em Santos, Eduardo Carvalhaes é uma das vozes mais respeitadas da cafeicultura brasileira. Na conversa com a Espresso, ele analisa as mudanças que transformaram o comércio do café, o novo papel do exportador e os impactos das novas tecnologias e novas exigências globais. Testemunha ocular da história recente do grão no país, ele acompanhou o fim do Instituto Brasileiro do Café, o surgimento do mercado livre, os anos de inflação alta e a estabilização da economia com o Plano Real.

Entre dados, memórias e visão de futuro, Carvalhaes comenta sobre o Brasil, seu papel como liderança mundial e seus desafios, e revela o sonho de ver os 300 anos da chegada do café ao Brasil sendo devidamente comemorados. Para ele, o país reúne clima, cultura, pesquisa e técnica, mas corre riscos se não investir em pesquisa, leis claras e visão estratégica para enfrentar a realidade do mercado atual. Confira a entrevista a seguir, feita ao vivo em Santos.

Espresso: O Escritório Carvalhaes tem mais de cem anos. Como começou essa história?

Eduardo Carvalhaes: Na década de 1880, meu tio-tataravô, produtor de café no sul de Minas, montou uma comissária exportadora em Santos. Meu bisavô, José Ildefonso Carvalhaes, tornou-se sócio da Vicente Carvalhaes Comissária e Exportadora em 1887. Por volta de 1914, com uma grande inundação no Porto de Santos, o negócio quebrou, e não havia seguro nem nada. Meu avô e seus irmãos, então, entraram na história. Já tinham conhecimento, um nome no mercado de café, e a economia do Brasil era o café. Eles começaram a trabalhar com prestação de serviço, em corretagem, porque não tinham capital para serem exportadores. Foi assim que nós começamos.

Quais são as linhas de negócio do Escritório Carvalhaes?

Hoje, atuamos principalmente com corretagem especializada em cafés de qualidade, com exportação, prestação de serviços para exportadores e cooperativas e com análise de café. Nosso Boletim Semanal circula desde 1933, sem interrupção. Fazemos amostragem, análise sensorial e física de café. Nosso Lab Carvalhaes possui certificação ISO 9001 desde 2003, auditado anualmente pela Fundação Vanzolini, e é credenciado pela Abic [Associação Brasileira da Indústria de Café] para seu Programa de Qualidade de Café. Orientamos, técnica e comercialmente, produtores e compradores de café que buscam um produto diferenciado.

Eduardo Carvalhaes em seu escritório, consultando antigas publicações da empresa – Foto: Agência Ophelia

Como você começou a trabalhar com café?

Sou engenheiro químico e trabalhei por oito anos em um escritório de projetos industriais em São Paulo. Vim para o café em razão da hiperinflação dos anos 1980, que prejudicou a engenharia de projetos industriais brasileira. Na época, 1983, o café estava indo bem e decidi experimentar. Acabei gostando e fiquei.

Eu e meus dois irmãos, Sergio e Nelson, que já estavam no Escritório Carvalhaes, começamos a trabalhar juntos. No final dos anos 1980, o sistema de cotas de exportação acabou, e foi possível registrarmos uma exportadora de café. A nossa foi uma das primeiras, e se chamava Porto de Santos.

Como construíram a parceria com a illycaffè?

No início de 1990, recebemos a visita de Ernesto Illy, presidente da illycaffé, que queria montar um negócio de café diferente. A illy, em termos mundiais, não era grande, mas era muito respeitada pela qualidade de seus cafés. Ernesto disse que comprava café brasileiro, um dos melhores para espresso. Ele vinha ao Brasil, experimentava o café, comprava, e o que chegava lá era diferente. Disse que pretendia fazer um concurso de qualidade para café no Brasil, para localizar e estimular a produção de cafés de qualidade para espresso, e que precisava de uma empresa que comprasse esses cafés.

Naquela época, já trabalhávamos no mercado de café gourmet. Inicialmente, fizemos um contrato para comprar os cafés do concurso e Nelson ficou à frente da nossa exportadora. Paralelamente, enviávamos amostras de cafés brasileiros finos para ele, e o negócio cresceu. A illy foi a primeira a comprar cafés descascados brasileiros, ainda nos anos 1990. Comprávamos pequenos lotes, pagando um preço acima do pago para os naturais. Embarcávamos tudo separadamente, e eles faziam os blends. Com os bons preços, a produção de CD foi aumentando, e o Ernesto, comprando, e outros compradores começaram a adquirir os nossos CDs, e produção e exportação cresceram rapidamente. Dos anos 1990 aos 2000, a illy pagava os maiores preços do mercado, estimulando a produção de cafés finos no Brasil.

Qual foi a grande transformação que aconteceu no mercado nas últimas décadas?

Foi o fim do Instituto Brasileiro do Café [IBC], em 1989, no dia da posse do Fernando Collor como presidente. Até 1960, mais de 50% da nossa receita vinha do café. O fim do IBC desmanchou uma rede de armazéns e técnicos de qualidade. A parte boa é que liberou o comércio de café no Brasil, e nossa produção e exportação cresceram exponencialmente. Muitos quebraram, gente que vendia seus estoques e produção para o governo, e muito cafeicultor saiu do negócio. Mas quem se adaptou, cresceu. Houve força para extinguir o IBC porque o Brasil já não dependia mais só do café. A industrialização avançava e a produção agrícola e a economia diversificavam. Essa decisão do Collor mudou tudo. Em 1999, o Brasil atingiu 20 milhões de sacas exportadas, depois 30 milhões em 2009, em 2019, 40 milhões e, no ano passado, mais de 50 milhões. Isso mostra como a liberdade de mercado e a qualidade do café elevaram a competitividade dos cafés do Brasil.

Foto: Agência Ophelia

Santos já foi uma grande praça de comercialização. Hoje, esses lugares estão mais próximos das plantações?

Digo que a história do comércio de café é a história da evolução da comunicação e sua velocidade. Temos uma fotografia de Santos, do início da década de 1950, na rua XV [de Novembro], lotada de gente durante o dia. Era assim porque era na rua que a gente tinha a informação. A comunicação com o interior era feita somente por telegrama, que demorava para chegar e para voltar – levava uma semana, no mínimo, para completar. Só então podíamos vender o café. Às vezes, o mercado já tinha mudado.

Nós tínhamos uma ordem para vender por X e o valor já estava em “X mais dois”; vendíamos por “X mais dois” e entregávamos o dinheiro para o produtor. Mas havia quem vendesse por X e embolsas se o “mais dois”. Muitos fizeram fortuna assim. Também, não havia cooperativas no interior, mas existia o maquinista, alguém com capital que fazia esse papel. Ele comprava o café de produtores pequenos, rebeneficiava, fazia um lote grande e mandava para o corretor dele.

Só produtores maiores negociavam diretamente com o exportador. Na praça santista, o exportador era o primeiro a ter a informação, e comprava. Levava um tempo para a notícia se espalhar. O maquinista punha um rádio nos escritórios dos corretores, ficava sabendo o que acontecia no mercado e comprava. Me lembro de acordar e dormir com meu pai ao telefone, porque as linhas eram poucas e viviam congestionadas. Depois, vieram o DDD, o aparelho de telex, o computador, o fax, o e-mail, o whatsapp, a comunicação em rede, instantânea e a custo quase zero. Agora, convivemos com a inteligência artificial. Na pandemia, descobri que só preciso estar fisicamente no escritório para provar e analisar café. Fomos pioneiros no mercado de café no uso do computador, do telex, do fax, do celular. A cada ano, a grande praça de comercialização de café é a internet, as redes sociais. Hoje, trabalhamos com produtores e compradores de café de todo o Brasil. A nova rua XV do comércio de café é a internet.

E aí, com essa movimentação toda…

Naquela época, os sindicatos eram fortes. Tinha sindicato para quem carregava as sacas de café, para quem costurava as sacas, para quem fazia as sacas… Os sindicatos não perceberam que as coisas mudavam com as mudanças na comunicação. Esses serviços começaram a ficar caros, e as cidades do interior queriam fazer esses serviços. Já tínhamos as ferrovias e a via Anchieta. E, um por um, os armazéns foram embora da praça de Santos.

O que mais interfere no preço do café? Clima, câmbio ou política?

Tudo. O mundo globalizou. Se Donald Trump insistir na tentativa de desglobalização, pode tirar os Estados Unidos da liderança do mundo. Acho que não vai acontecer. A globalização, com esse nível de comunicação, não anda para trás.

O clima também mudou. São tantas variáveis que não é possível enxergar a resultante delas. Como toda essa mudança na economia mundial, por exemplo, vai influenciar o consumo? No tempo do IBC, o Brasil tinha estoques enormes. Quando houve a geada de 1975, nós tínhamos mais de uma safra estocada. Mas era outro mundo, não adianta olhar para trás e querer repetir a mesma coisa.

Com o consumo crescendo, o que vai acontecer a médio e longo prazos com os preços?

A produção de café no Brasil tem concorrência e disputa por terras com outros produtos agrícolas. E ele é muito mais trabalhoso do que outras culturas. Você não pode ser produtor de café como há 40 anos, morando na cidade e indo à fazenda só no fim de semana. Tem que estar presente, senão vai perder dinheiro. Por isso, acho que se não tivermos bons preços para o café, muitos podem migrar para outras culturas. O investimento em café é alto, e a maioria dos produtores está diversificando.

Tem também o clima. Termos saído de 20 milhões para 50 milhões de sacas em 25 anos acabou com nossos estoques de café. Nesse tempo, tivemos safras boas e ruins, e sempre crescemos porque havia estoque. Agora não temos mais. E quanto temos de estoque de passagem da safra 2024? Os exportadores acham que existe mais do que eu acredito, e as cooperativas reconhecem que os armazéns nunca estiveram tão vazios.

Antes, havia café de 10 anos guardado. Hoje em dia, é raro. O produtor vende tudo na safra, ou guarda um pouco se a próxima for pequena. O problema é que não temos estoques, nem aqui nem no restante do mundo, e o clima está irregular. Todo o resto deriva disso.

Além disso, não existe mais aquele pregão tradicional, nem nas bolsas de valores, nem nas de café. Tudo é eletrônico. E o que interessa para as bolsas é gerar corretagem: para isso, facilitam o giro. Existem milhares de pequenos investidores no mundo, e não dá para prever como vão reagir. Sai uma notícia nas redes sociais de que o Trump vai fazer algo e já começa a mudança de posição para garantir os lucros. Isso é novo.

Vejo análises com gráficos e projeções de mercado em bolsa, mas acho isso perigoso. O mundo mudou. As análises atuais consideram padrões que já não servem mais, ou servem muito pouco.

Foto: Agência Ophelia

Como você vê o papel do Brasil nessas próximas décadas?

Há uma grande oportunidade para o Brasil. Nós temos terra, temos clima. Temos que continuar investindo em pesquisa. Vamos continuar crescendo. Se trabalharmos direito, vamos chegar a 50% da produção mundial. Não vejo, nos outros países, um movimento assim. Temos novas regiões, novos produtores, como em Rondônia. Existem, claro, barreiras. Há dificuldade de fazer com que os filhos voltem para o campo, e temos, também, que resolver os problemas da legislação trabalhista. Agora, se resolvermos esses problemas, vamos continuar sendo o celeiro do mundo. O mundo vai precisar de alimento. E o Brasil tem tudo para estar entre os principais produtores. No café, sabemos produzir, temos a cultura de produção, conhecimento e história.

Qual a sua opinião sobre os efeitos globais da EUDR?

Isso é uma guerra econômica. A grande maioria dos nossos cafeicultores segue a lei. O Cecafé [Conselho dos Exportadores de Café do Brasil] divulga regularmente no mercado uma lista denunciando produtores que não seguem a lei, para que exportadores não comprem deles, mostrando que está trabalhando nisso. São poucos, se considerarmos o universo de produtores. A EUDR vai ficar mais branda, mas temos que mostrar números. Sempre falamos em agregar valor ao café brasileiro. Mas até para prova de café e selo de qualidade, estamos mandando dinheiro para fora do Brasil.

Temos de reunir todos os segmentos – indústria, produção, comércio, exportação – e atualizar as provas e normas da Classificação Oficial Brasileira, para provas do tipo SCA, com notas. Outra coisa é selo de qualidade. Temos as leis trabalhistas mais rigorosas do mundo, e elas precisam ser claras. Também temos as leis ambientais mais rigorosas. Temos que criar um selo dizendo que aquele café que embarcamos é de um produtor que segue as leis brasileiras. Com a informatização, ficou muito fácil fazer rastreabilidade, já estamos fazendo. No começo, podem não aceitar os selos, mas com o tempo, trazendo compradores e imprensa para as fazendas, isso mudará. Mas precisamos de leis claras.

Então, no fundo, a EUDR é uma oportunidade para o Brasil.

Acho que é. Temos que ver quais são as intenções deles. Estamos numa situação boa em relação a nossos concorrentes, e temos que mostrar isso para o mundo.

Mas precisamos melhorar, sempre. E temos condições. Todo café embarcado passa por agências que emitem certificado de origem, comprovando que o café foi produzido no Brasil. Se montarmos um sistema de fiscalização, essas agências podem emitir o certificado de sustentabilidade, com rastreamento.

O que me entusiasma é ver as regiões produtoras começando a montar certificações de origem. Embora o prêmio ainda seja pequeno, estão construindo algo sólido para a próxima geração. É um movimento mais demorado, mas acho que o Brasil tem tudo para liderar nessa área.

A sustentabilidade no café é só um movimento de marketing ou é uma necessidade?

Alguns fazem por necessidade, mas as novas gerações acreditam nisso. Há um movimento, de uma geração para outra. As fazendas estão mantendo áreas de proteção. E o rigor da lei é bom, é um estímulo a mais. Temos exemplos belíssimos, como a Daterra. Conhecemos bem a Daterra, cuidamos, desde o início, dos serviços em Santos para suas exportações. Eles são um exemplo de sustentabilidade de verdade, de vontade. Eles exportam pacotes de 20 quilos para pequenas torrefações e cafeterias. É um modelo muito bom. E existem outros. Sustentabilidade é uma necessidade, não pode ser só discurso. É prática, no dia a dia, é fiscalização, é clareza nas regras e princípios.

Como você vê o papel do exportador no futuro?

Acho que as rápidas mudanças nas comunicações devem mudar a arquitetura comercial do café. Para grandes torrefações do mundo, o exportador sempre vai ser importante, porque é ele quem compra grandes volumes de café, monta os blends, cuida do embarque. O exportador de café, hoje, está preparando os embarques de daqui a três meses. Mas, com a facilidade de comunicação, surgem produtores que se transformam em pequenos exportadores, e isso está crescendo. Se você tem uma pequena torrefação dominando uma região ou uma pequena rede de cafeterias, você tem que ter um produto diferenciado, para os clientes irem até você e não até uma grande rede como a Starbucks. A cada dia ouve-se falar mais de pequenas indústrias de fora que estão estabelecendo contatos com produtores no Brasil. Esse movimento, de ir atrás de exclusividade, deve continuar. Nesse sentido, os concursos de qualidade de cafés foram muito importantes, e os de barista também. Levaram a imagem de qualidade do café brasileiro para fora.

Você tem algum sonho que ainda gostaria de realizar com o café?

Minha preocupação maior hoje é com a sucessão nas entidades de que faço parte, como o Museu do Café. Passar o bastão para as novas gerações. É preciso treinar as próximas gerações. Isso vale também para as fazendas. Em algumas regiões, há dificuldades para convencer os filhos a voltarem para o campo. Em outros setores, houve renovação.

Se quero algo, é ver essa transição acontecer. Outro sonho de curto prazo é comemorarmos dignamente os 300 anos da chegada do café no Brasil [em 2027]. Já estamos trabalhando nisso.

Clique aqui para ler a matéria completa.

TEXTO Cristiana Couto e Caio Fontes • FOTO Agência Ophelia

Mercado

Brasil toma o centro das atenções e dos desafios do café global no primeiro dia do Coffee Dinner & Summit 2025

Produtividade brasileira, estoques apertados, geopolítica e exigências de sustentabilidade pautam discussões em Campinas

Vanusia Nogueira, da OIC, em palestra de encerramento do primeiro dia do Coffee Dinner&Summit, em Campinas

Por Cristiana Couto

O primeiro dia do 10º Coffee Dinner&Summit colocou os cafés do Brasil no centro das discussões. Elogiada de várias maneiras, a cafeicultura brasileira também foi destacada como uma produção que deve ter suas responsabilidades no cenário global. 

Foram discutidos também os desafios econômicos enfrentados por produtores de café no mundo, as estratégias ESG para garantir acesso sustentável ao mercado europeu e manter a competitividade do país no setor e a necessidade de reforçar o diálogo entre governo, setor e representantes do mercado para fortalecer ações integradas na cafeicultura.

No painel “CEO’s & Lideranças do Agronegócio Café Global”, que abriu o primeiro dia (3) de palestras do evento realizado pelo Cecafé e que termina nesta sexta (4) em Campinas (SP), foram discutidas questões como produção, níveis de estoque do grão e seu consumo. Para os painelistas, a reposição dos estoques de café pelo mundo não vai ser feita nos próximos doze meses, e o consumo, na Ásia e no Leste Europeu, vai continuar a crescer. “Entre 2020 e 2024,  houve de 20 a 25 milhões de sacas de déficit, uma pequena safra vietnamita”, dimensionou Ben Clarkson, chefe da Plataforma de Café da Louis Dreyfus Company. “E isso vai continuar pelos próximos 12 meses. É difícil estimar o nível de estoques futuro, pois este é o mais baixo dos últimos 20 anos”, analisou o empresário. 

Quanto ao Brasil, depois de elogios dos painelistas quanto à alta produtividade dos cafés e à dignidade que o Brasil conferiu aos seus cafeicultores, surgiram questões. Para David Neumann, CEO do grupo Neumann, o Brasil facilmente alcançará a marca das cem milhões de sacas de café. “Porém, a pergunta é: é inteligente o país chegar a cem milhões”, indagou ele, referindo-se à preocupação que o maior produtor do mundo já é para outros países produtores do grão.

Em “Geopolítica Global”, temas prioritários para a cadeia cafeeira emergiram diante das incertezas político-tarifárias contemporâneas, como segurança alimentar, mudanças energéticas e alterações climáticas. Para um dos palestrantes, o empresário e economista Ingo Plöger, presidente da Ceal e conselheiro de várias empresas nacionais e internacionais, a sustentabilidade é uma condição global que veio para ficar, mas “não se pode ter sustentabilidade social e ambiental sem sustentabilidade econômica”. Para ele, também, o Brasil vai ter ressonância global em temas como energia e segurança alimentar. “Há sinais de novas demandas que vamos poder atender”, disse. Outros assuntos em pauta foram a manutenção dos preços elevados no café e o crescimento do consumo. Luís Rua, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, defendeu que é preciso manter os mercados tradicionais de café, mas também diversificar a pauta exportadora brasileira. “Há espaço para o café estar mais presente no mundo. É preciso acessar mais mercados”, disse ele, lembrando que a China importa apenas 3% do que a União Europeia compra do Brasil. 

No painel “Organizações Globais do Café: EUDR e Novas Regras em Tempos de ESG”, Eileen Gordon, Secretária Geral da Federação Europeia do Café, lembrou a posição estratégica dos cafés brasileiros para a União Europeia – 44% das importações são de café brasileiro – e a necessidade de simplificação das regras da EUDR. Também comentou outros desafios, como a geolocalização, problemática nos países africanos, a dificuldade na documentação e comprovação da rastreabilidade dos cafés e da devida diligência, ou seja, comprovar que a UE está em conformidade com as leis de outros países e a questão do café solúvel, que não está no escopo da EUDR. Há, ainda, o temor de os EUA comprem todo o café brasileiro. “A cada dia, tudo muda, então temos que continuar nos comunicando”, alertou ela. 

No painel de encerramento, sobre “Futuro da Cafeicultura Sustentável”, a palestrante Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC) lembrou a história da entidade, uma das mais antigas entidades de commodities criadas no mundo e cujo lema de sustentabilidade econômica e social sempre estive em seu escopo, implicita e explicitamente. “Temos hoje uma base de preços confortável para o Brasil, mas não está bom para todos, porque muitos produtores em muitos países produtores, continuam a receber 30% do preço FOB”, argumentou. Vanusia também citou desafios como tamanho da terra – de 0,4 hectares para muitos cafeicultores. “Uma renda digna para o produtor está ligada a preço e produtividade”, disse, lembrando a discrepância entre os países produtores. “Temos que pensar em modelos de negócio, senão a conta não fecha”. “É preciso ajudar os países menos adiantados, somos ponte para isso, para facilitar esse diálogo”.  

Para Marcos Mattos, diretor geral do Cecafé (Conselho de Exportação do Café Brasileiro), o evento reuniu os principais temas da cafeicultura mundial. “Queremos que todas as pessoas que estiverem discutindo assuntos do mercado global de café busquem por informações. Tenho sempre em mente que o Brasil, que é o país maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor da bebida, é também o que promove o evento mais importante da cafeicultura global”.

O evento, que acontece a cada dois anos, reuniu lideranças de diversos países, como Alemanha e EUA, entidades brasileiras, como Cooxupé, Embrapa e Sebrae, imprensa e atores do setor. 

TEXTO Cristiana Couto

Café & Preparos

São Paulo Coffee Festival bate recorde de público e prepara expansão para América Latina

 edição do evento recebeu mais de 16 mil pessoas e 150 expositores e já tem data para 2026

A Espresso&CO, realizadora do São Paulo Coffee Festival em parceria com a empresa inglesa Allegra Events, anunciou que vai expandir a franquia Coffee Festival para outras capitais na América Latina. A previsão é que os novos países, ainda não divulgados, comecem a receber o festival em 2026. Na capital paulista, o evento já tem data confirmada para o ano que vem – nos dias 26, 27 e 28 de junho. 

A 4a edição do evento, que aconteceu entre 27 e 29 de junho, trouxe para o pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera 150 expositores – 15% a mais do que em 2025 – e mais de 16 mil pessoas, um recorde. “O São Paulo Coffee Festival impulsiona o consumo de cafés especiais ao aproximar o público de quem produz e transforma. Ao movimentar a cadeia e ampliar a demanda por qualidade, o festival gera valor para o mercado e fortalece a posição do Brasil como referência global”, analisa Caio Alonso Fontes, CEO da Espresso&CO.

Espaço Sensory Experience

Além de grandes marcas de cafés, torrefações, acessórios e outros produtos relacionados à bebida, a edição deste ano destacou-se por atrair um número maior de pequenos produtores do grão e de marcas de chocolate bean to bar, além de promover o encontro do público com diversas origens brasileiras do café, celebradas no estande do Sebrae – que compareceu com oito regiões cafeeiras de São Paulo e Minas – e no espaço dedicado às Rotas do Café de SP. 

Ao mesmo tempo, o público disputou lugares nas diversas atividades, como workshops e palestras, além de curtir boa música e ter à disposição uma área com diversos restaurantes. No espaço dedicado a experiências sensoriais com café, o destaque foi a atividade “O invisível revelado: uma jornada pelos sentidos do café”, uma dinâmica com duas experiências sensoriais que explorou a diversidade olfativa dos cafés de qualidade e os sabores de uma mesma bebida em diferentes contextos, para mostrar como diferentes situações de consumo podem alterar a percepção da bebida. 

O evento também reforçou sua conexão com a arte: o painel de abertura e da rampa da Bienal foram pintados ao vivo por Felipe Risada e Mauro Neri (na foto), artistas urbanos que propuseram um diálogo criativo entre café, cultura e cidade.  

O festival ainda apresentou a 9ª edição da Copa Barista, que premiou os melhores competidores na preparação de espressos, cappuccinos e filtrados. Daniel Vaz, da Five Roasters (RJ), foi bicampeão na competição (confira detalhes aqui). 

O São Paulo Coffee Festival, realização Allegra Events e Espresso&CO, tem patrocínio café master de 3corações e Café Orfeu, patrocínio Oster e Sebrae, apoio de A Tal da Castanha, Café Store, Nescafé, Nespresso, Philips Walita, Prima Qualitá, Senac e União, água oficial Fonte Platina e apoio Institucional da Prefeitura da cidade de São Paulo por meio da Secretaria Municipal de Turismo.

TEXTO Redação

Barista

Daniel Vaz, da Five Roasters (RJ), é bicampeão na 9ª Copa Barista

O São Paulo Coffee Festival reuniu baristas e apaixonados por café em três dias de Copa Barista, na Bienal do Ibirapuera, na capital paulista. A competição, que chegou à sua nona edição entre 27 e 29 de junho, contou com 20 profissionais de diferentes cidades do Brasil e teve como campeão o carioca Daniel Vaz, da Five Roasters (RJ).

Este ano o desafio foi entregar, em 14 minutos, uma dupla de filtrado no método Melitta, uma dupla de cappuccino na xícara Stanley e uma dupla de um drinque autoral feito com espresso e Licor 43 Original. Além do sensorial, os competidores também foram avaliados tecnicamente durante suas apresentações.

Vaz, que agora é bicampeão da Copa Barista (2023 e 2025), escolheu grãos de catuaí 785 amarelo, da Fazenda Vista do Brigadeiro, nas Matas de Minas, para preparar os cafés entregues na competição – inclusive a dose de espresso de seu drinque de assinatura, composto também por 20 ml de Licor 43 Original, 20 ml de cordial de cogumelo, 20 ml de mel de cacau e 5 ml de limão siciliano.

“Para mim, ganhar a Copa Barista é muito importante, porque é um campeonato dinâmico e desafiador. Você está lidando com os maiores baristas do Brasil, em um duelo que não tem meio termo, ou a sua bebida é a melhor ou não é”, contou Vaz à Espresso. “E, como proprietário de uma torrefação, ser campeão agrega muito valor”, destacou.

O segundo lugar ficou com Renan Dantas, da Dantas Coffee Company, de São Paulo (SP), seguido por André Phillipe dos Santos, da Ristto Coffee, do Rio de Janeiro (RJ), que competiu na Copa Barista pela primeira vez.

“Participar duas vezes e ganhar duas vezes é uma sensação única de dever cumprido”, disse o campeão, que recebeu como premiação R$ 6,5 mil em dinheiro, R$ 550 em vale-compras no site da Café Store, uma Melitta Amano, uma cafeteira espresso Oster Perfect Brew Máxima, um kit da Licor 43 e uma garrafa Transit e uma mug da Stanley.

A 9ª Copa Barista contou com patrocínio de Melitta, Storm, Licor 43, Stanley e Fonte Platina, e apoio de Café Store e Oster.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia/SPCF

Cafezal

Mandaguari conquista selo de origem para seu café especial

Com a Denominação de Origem concedida pelo INPI, região no Noroeste do Paraná torna-se o 18º território reconhecido pela qualidade do café e aposta no turismo rural para fortalecer sua identidade

O Café de Mandaguari, no Noroeste do Paraná, recebeu nesta terça (1) o selo de Indicação Geográfica (IG) na categoria Denominação de Origem (DO), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O reconhecimento consolida a reputação da região como produtora de cafés especiais e valoriza o trabalho de cerca de 200 propriedades familiares distribuídas nos municípios de Mandaguari, Marialva, Jandaia do Sul, Apucarana, Cambira e Arapongas.

Com mais este selo, o Brasil chega a 137 IGs registradas – 18 delas dedicadas ao café, o produto com mais indicações geográficas. 

O selo é resultado de um trabalho iniciado em 2022, com apoio do Sebrae/PR, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), da Secretaria da Agricultura (Seab), da UTFPR e da recém-formada Associação dos Produtores de Café de Mandaguari (Cafeman). As Indicações Geográficas (IGs) são instrumentos coletivos que valorizam produtos tradicionais intimamente ligados a um território. No caso de uma denominação de origem, as qualidades ou características do produto são essencialmente atribuídas ao ambiente natural e humano da região — como solo, clima, altitude e saber-fazer local.

A Indicação Geográfica (IG) traz diversas vantagens às regiões produtoras, como o resgate e a valorização da cultura local, estimulando o envolvimento dos agricultores com a atividade e incentivando que as novas gerações permaneçam no campo, garantindo renda e sustentabilidade dentro das propriedades. Além disso, a IG fortalece a articulação entre lideranças locais, produtores e associações na preservação do patrimônio regional, ao mesmo tempo em que amplia o acesso a mercados nacionais e internacionais, promovendo o desenvolvimento econômico e social do território.

Quanto a Mandaguari, a região aposta no turismo rural como forma de consolidar sua imagem no setor cafeeiro, com iniciativas como a Rota do Café, que permite ao visitante conhecer todo o ciclo produtivo do grão.

TEXTO Redação

Mercado

Campinas sedia a partir desta quarta (2) a 10ª edição do Coffee & Dinner Summit

O evento, que acontece a cada dois anos, foca em sustentabilidade, mercado global e protagonismo do café brasileiro

Com o tema “O futuro do fluxo do comércio: protagonismo e liderança dos Cafés do Brasil”, o 10º Coffee Dinner & Summit reunirá representantes de todos os elos da cadeia cafeeira nacional e internacional entre os dias 2 e 4 de julho de 2025, no Royal Palm Hall, em Campinas (SP). Promovido pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o evento bienal chega à sua 10ª edição propondo reflexões sobre sustentabilidade, desafios logísticos globais, tendências de mercado e o papel estratégico do Brasil como líder confiável no comércio mundial de café.

Após a abertura nesta quarta (2) à noite, o dia 3 será marcado por debates de peso. A palestra técnica “EUDR & ICE Commodity Traceability (ICE CoT) Service” (8h30), discute a plataforma tecnológica que promove a rastreabilidade detalhada das cadeias produtivas do café, e terá a presença de Clive de Ruig (ICE), Toby Brandon (IBA, ICE Group Company), Anthony Mangnall (ICE), o acadêmico Ed Mitchard, da Universidade de Edimburgo, e a engenheira ambiental Camila Marques. 

À tarde, o painel Organizações Globais do Café: EUDR e Novas Regras em Tempos de ESG” (14h) reúne líderes como Marcos Matos (Cecafé), Bill Murray (National Coffee Association), Paul Rooke (British Coffee Association) e Hannelore Beerlandt (European Coffee Federation) para discutir os impactos do regulamento europeu antidesmatamento (EUDR) e as exigências de ESG no comércio global do café. Destaque também para o painel “Futuro da Cafeicultura Sustentável” (15h30) com representantes da Embrapa, OIC, German Coffee Association e a exportadora Guaxupé.

A sexta (dia 4) começa às 8h30 com a palestra técnica “Espírito Santo – novos investimentos para alavancar soluções logísticas”, com os palestrantes Júlio César Lourenço (Portocel), Carla Rios do Amaral (Vports – Autoridade Portuária) e Claudio Pinheiro Melim (Imetame Logística Porto). 

Na sequência, o painel “Desafios Logísticos no Abastecimento de Café” (11h), moderado por Eduardo Heron (Cecafé), contará com a participação de Claudio Oliveira, do Brasil Terminal Portuário (BTP), Elber Justo, da MSC – Mediterranean Shipping do Brasil, Priscila Ceolin, da JDE Peet’s Brazil e Casemiro Tércio, da 4Infra. E, na parte da tarde, vale assistir ao painel “Tendências de Consumo de Café”, com a participação de Pavel Cardoso, da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Bill Murray, da National Coffee Association dos Estados Unidos, Stefan Dierks, do Melitta Group, Ryo Satomi, da UCC Japan, e Marcel Motta, que discutirão as principais tendências e transformações no consumo de café ao redor do mundo. A programação se encerra com um jantar às 19h.

10º Coffee & Dinner Summit
Quando: 2 a 4 de julho de 2025
Onde: Royal Palm Hall – Campinas (SP)
Mais informações e inscrições neste link. 

TEXTO Redação

Mercado

Sobre cafés e cogumelos: conheça essa nova onda

Com promessa de aumentar o foco e a longevidade, a bebida funcional de cogumelos é a aposta da vez

Por Letícia Souza

Quem escuta pela primeira vez o termo “café com cogumelo” pode pensar que se trata de algo ilícito ou secreto – e que deve ser dito em voz baixa. Afinal, o fungo tem propósitos já muito conhecidos, como o de agregar o gosto umami a preparos culinários ou oferecer uma viagem mental intensa e lúdica por meio das variedades alucinógenas.

Nem uma coisa, nem outra: nos últimos anos, essa combinação – um café misturado a um extrato de cogumelo – tem chamado a atenção da indústria de café pelo viés da saúde. Com diversas marcas já disponíveis, os cafés com cogumelo, também chamados cogumelos funcionais, prometem melhorar o foco e dar mais energia aos consumidores, além de reduzir o estresse, regular a imunidade e, até, combater inflamações.

A demanda por esse tipo de produto vem na esteira de tendências saudáveis, de mudanças nas preferências de consumo e do crescimento de bebidas e comidas plant-based ou funcionais.

Para produzir o café funcional de cogumelo, as empresas vêm explorando diversos fungos, o que resulta em produtos finais com características sensoriais distintas na xícara.

As variedades reishi (Ganoderma lucidum) e juba-de-leão (Hericium erinaceus), além das do gênero cordyceps, são as mais usadas no café e são conhecidas como cogumelos adaptógenos. O termo refere-se a substâncias que aumentam a resistência física ao estresse, influenciando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (eixo HPA), o principal sistema humano de resposta ao estresse. Desde os anos 1970, pesquisadores interessam-se pelos potenciais benefícios à saúde dessas variedades.

O juba-de-leão, por exemplo, é fácil de cultivar e é encontrado em vários países – o que ajuda a reduzir os custos de produção da bebida. Na xícara, o sabor do fungo é descrito como adocicado. Já o chaga (Inonotus obliquus), de sabor terroso, acastanhado e doce, combina bem com café.

Café com cogumelo é uma dupla bem popular nos Estados Unidos e na Coreia do Sul e vem ganhando, também, o mercado brasileiro, impulsionado pelas bebidas alternativas ao café tradicional.

O que diz a ciência

Enquanto cresce a procura por alimentos e bebidas que prometem melhorar a função cognitiva, alguns profissionais da saúde têm visto o consumo de café com cogumelo com ceticismo. “Não há evidências científicas que demonstrem que o café com cogumelos pode melhorar a clareza mental mais do que o café sem cogumelos”, diz o microbiologista Nicholas P. Money, da Universidade de Miami. “É apenas uma trend – mas uma trend lucrativa para algumas empresas’’, destaca.

Em artigo de maio sobre o tema, o Medical News Today, site de saúde reconhecido por publicar conteúdos baseados em estudos científicos revisados por especialistas, destaca que benefícios como suporte ao sistema imunológico e propriedades anti-inflamatórias são promissores, mas reconhece que são necessárias mais pesquisas para confirmar esses efeitos em humanos. Também o Healthline, outro site global de saúde de renome, ressaltou, em texto de 2024, que muitas das alegações de benefícios à saúde dos cafés com cogumelos ainda carecem de evidências científicas robustas.

Money ressalta, porém, que a ciência vem dando atenção aos efeitos dos cogumelos no organismo. “Existem estudos interessantes sobre os efeitos de compostos químicos específicos, extraídos de cogumelos, no desenvolvimento de células nervosas cultivadas em cultura”, conta o microbiologista. Mas esses estudos, alerta, não têm qualquer relação com os benefícios de beber café com cogumelos.

O que reforça ainda mais a desconfiança do microbiologista e de profissionais de saúde é o efeito de outros ingredientes que também podem ser acrescentados à bebida, como canela, gengibre, cardamomo, pimenta-preta e extrato de guaraná em pó — todos com propriedades benéficas reconhecidas, resultantes da presença de ômega-3 e das vitaminas D e B12.

Para Money, a única maneira de saber se gengibre ou cardamomo têm efeitos diferentes dos extratos de cogumelo no café é fazer experimentos nos quais um desses ingredientes esteja ausente. Ainda que taxativo, ele não acha que o uso de café com cogumelos deva ser proibido. “Se o cliente acredita que esse placebo tem efeito positivo sobre ele e se sente melhor após consumi-lo, tudo bem”.

A tendência bilionária do bem-estar

O fato de não haver comprovação científica sobre os efeitos fisiológicos do café com cogumelos parece não ter afetado as finanças dos que investem na sua comercialização. Segundo relatório da Strategic Market Research, em 2023, o segmento de café com cogumelo foi avaliado em US$ 2,3 bilhões e pode atingir US$ 4,5 bilhões até 2030 – o que representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 9,8% entre 2024 e 2030.

Outro levantamento, feito em 2024 pela IndustryARC, estima um cenário futuro mais modesto: US$ 4 bilhões até 2030, com crescimento anual de 4,2% no mesmo período.

Lançada em 2024, a marca brasileira Cafellow comercializa cafés com cogumelos sem aditivos. Depois de conhecer o produto nos Estados Unidos, a proprietária Paula Veloso estudou o mercado cafeeiro brasileiro e decidiu comercializá-lo por aqui. À época, conta ela, não havia nenhuma marca do gênero. “Aqui existem diversas marcas de café. Se quisesse me diferenciar delas, teria que criar um produto original – afinal de contas, os cafés da minha família são vendidos lá fora, então eu tinha que pensar em algo que fosse diferente, pra valer a pena’’, conta ela, cujos familiares têm cafezais na região do Cerrado Mineiro.

A ideia da empresária incluiu a comercialização do produto em sachê. “Ele é bem mais prático, você pode fazer dentro do avião, por exemplo. O drip você tem que rasgá-lo, ajustar na borda da xícara e passar o café. O sachê, você mergulha diretamente na água quente’’, diz ela, que processa os saquinhos, feitos à base de milho, na fábrica da família, em Carmo do Paranaíba (MG), e vende-os online em seu site.

“Pessoas que não abrem mão de um bom café ou que estão começando a tomá-lo, depois que provam o nosso, adoram e dizem que o sabor é muito suave, que quase não dá pra notar o cogumelo’’, garante Paula.

As normas regulatórias da Anvisa, porém, permitem apenas extrato da variedade Agaricus bisporus, o popular champignon, como suplemento alimentar.

Entusiasta de um estilo de vida mais saudável, a psicóloga brasileira Marina Camargo, CEO da Mushin,
acompanhou de perto o mercado norte-americano de café com cogumelos ao viver no país e decidiu explorá-lo no Brasil. “A marca surgiu com foco em comunidade, saúde mental e sustentabilidade. Isso precedeu a ideia do produto, que leva outros ingredientes funcionais na composição”, explica ela, que abriu a empresa de suplementos funcionais à base de cogumelos em 2022.

Mas, em lugar de atribuir aos cogumelos uma melhora na concentração humana, a marca prefere atribuir o benefício a outros ingredientes acrescentados à bebida, como cacau, extrato de guaraná e gengibre, além de a própria cafeína do café. “Acredito na ciência”, diz ela, ao concordar que, quanto à maioria das variedades, não há nada que comprove melhora em foco ou concentração. “De acordo
com as pesquisas que estão começando fora, o único cogumelo capaz disso, pois contém uma molécula relacionada a esses dois atributos, é o juba-de-leão. Mas no Brasil, essa variedade não é permitida’’, comenta a CEO. “Os estudos sobre cogumelos estão avançando muito, é só uma questão de tempo para que a gente  tenha mais opções disponíveis no mercado’’, aposta.

O café da Mushin vem de um pequeno produtor no interior de Minas Gerais, e o extrato de cogumelo, de uma empresa da Filadélfia. O processo de refinamento torna seu sabor e aroma praticamente imperceptíveis. Isso ajuda na fabricação de café funcional que, segundo Marina, lembra um cappuccino.

Texto originalmente publicado na edição #88 (junho, julho e agosto de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Letícia Souza

Barista

China e Indonésia vencem os Mundiais de Latte Art e Coffee in Good Spirits

Leo Oliva, representante brasileiro no Coffee in Good Spirits

Chen Zhuohao, da China, e Georgius Audrey Teja, da Indonésia, são, respectivamente, os atuais vencedores dos Campeonatos Mundiais de Latte Art e Coffee in Good Spirits. As disputas aconteceram na World of Coffee, de 26 a 28 de junho, em Genebra, na Suíça.

O barista chinês da Moment Coffee Academy manteve-se na 1ª posição do ranking em todos os rounds, apresentando a maior pontuação entre 36 profissionais. Na final, disputada com outros cinco baristas, Zhuohao levou a melhor com 539 pontos. 

1º lugar Chen Zhuohao – Momento Coffee Academy – China
2º Ryusei Nozawa – Sarutahiko Coffee – Japão
3º Elly (Jiyu Lee) – ONEWAY – Coreia do Sul
4º JiaMin – The Populus Cafe – Singapura
5º Bank Sarawut – CP-Meiji Thailand – Tailândia
6º Ming Wan – Ona Coffee – Austrália

Na categoria Coffee in Good Spirits, que avalia drinques alcoólicos com café, o barista da Omakafé disputou com outros 22 profissionais de diferentes partes do mundo e ganhou com 378 pontos na final. 

1º Georgius Audrey Teja – Omakafé – Indonésia
2º Danny Wilson – ONA Coffee – Austrália
3º Van Lin – GABEE – Taiwan
4º Christos Klouvatos – Taf – Grécia
5º Vladyslav Demonenko – Kolo Coffee – Alemanha
6º Gary Au – Urban Coffee Roasters – Hong Kong

O Brasil contou com representantes nas duas categorias. O bicampeão brasileiro Eduardo Olímpio, da Naveia, de Curitiba (PR), ficou na 27ª posição, com 258 pontos. Já Leo Oliva, do Mykola Lab Bar, também da capital paranaense, terminou a competição em 21º lugar, com 253 pontos.

Os melhores do cupping

Além do preparo de cafés, drinques e desenhos, a World of Coffee Genebra também foi sede do Mundial de Cup Tasters 2025, competição que reúne os melhores provadores de café do mundo. O campeão deste ano foi Chatchalerm (Aka Boss), da Tailândia, que na final acertou os oito trios em um tempo de 3 minutos e 24 segundos. O mineiro Bruno Megda chegou até a semifinal e terminou a competição em 8º lugar, com 5 acertos em 4 minutos e 12 segundos.

1º Chatchalerm (Aka Boss) – Tailândia – 8 acertos em 3:24
2º Max Mak – China – 7 acertos em 3:04
3º Huamin Chen – Canadá – 7 acertos em 3:32
4º Hiroaki Nitta – Japão – 6 acertos em 3:01

TEXTO Redação • FOTO WCC
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