Mercado •
Brasil toma o centro das atenções e dos desafios do café global no primeiro dia do Coffee Dinner & Summit 2025
Produtividade brasileira, estoques apertados, geopolítica e exigências de sustentabilidade pautam discussões em Campinas

Vanusia Nogueira, da OIC, em palestra de encerramento do primeiro dia do Coffee Dinner&Summit, em Campinas
Por Cristiana Couto
O primeiro dia do 10º Coffee Dinner&Summit colocou os cafés do Brasil no centro das discussões. Elogiada de várias maneiras, a cafeicultura brasileira também foi destacada como uma produção que deve ter suas responsabilidades no cenário global.
Foram discutidos também os desafios econômicos enfrentados por produtores de café no mundo, as estratégias ESG para garantir acesso sustentável ao mercado europeu e manter a competitividade do país no setor e a necessidade de reforçar o diálogo entre governo, setor e representantes do mercado para fortalecer ações integradas na cafeicultura.
No painel “CEO’s & Lideranças do Agronegócio Café Global”, que abriu o primeiro dia (3) de palestras do evento realizado pelo Cecafé e que termina nesta sexta (4) em Campinas (SP), foram discutidas questões como produção, níveis de estoque do grão e seu consumo. Para os painelistas, a reposição dos estoques de café pelo mundo não vai ser feita nos próximos doze meses, e o consumo, na Ásia e no Leste Europeu, vai continuar a crescer. “Entre 2020 e 2024, houve de 20 a 25 milhões de sacas de déficit, uma pequena safra vietnamita”, dimensionou Ben Clarkson, chefe da Plataforma de Café da Louis Dreyfus Company. “E isso vai continuar pelos próximos 12 meses. É difícil estimar o nível de estoques futuro, pois este é o mais baixo dos últimos 20 anos”, analisou o empresário.
Quanto ao Brasil, depois de elogios dos painelistas quanto à alta produtividade dos cafés e à dignidade que o Brasil conferiu aos seus cafeicultores, surgiram questões. Para David Neumann, CEO do grupo Neumann, o Brasil facilmente alcançará a marca das cem milhões de sacas de café. “Porém, a pergunta é: é inteligente o país chegar a cem milhões”, indagou ele, referindo-se à preocupação que o maior produtor do mundo já é para outros países produtores do grão.
Em “Geopolítica Global”, temas prioritários para a cadeia cafeeira emergiram diante das incertezas político-tarifárias contemporâneas, como segurança alimentar, mudanças energéticas e alterações climáticas. Para um dos palestrantes, o empresário e economista Ingo Plöger, presidente da Ceal e conselheiro de várias empresas nacionais e internacionais, a sustentabilidade é uma condição global que veio para ficar, mas “não se pode ter sustentabilidade social e ambiental sem sustentabilidade econômica”. Para ele, também, o Brasil vai ter ressonância global em temas como energia e segurança alimentar. “Há sinais de novas demandas que vamos poder atender”, disse. Outros assuntos em pauta foram a manutenção dos preços elevados no café e o crescimento do consumo. Luís Rua, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, defendeu que é preciso manter os mercados tradicionais de café, mas também diversificar a pauta exportadora brasileira. “Há espaço para o café estar mais presente no mundo. É preciso acessar mais mercados”, disse ele, lembrando que a China importa apenas 3% do que a União Europeia compra do Brasil.
No painel “Organizações Globais do Café: EUDR e Novas Regras em Tempos de ESG”, Eileen Gordon, Secretária Geral da Federação Europeia do Café, lembrou a posição estratégica dos cafés brasileiros para a União Europeia – 44% das importações são de café brasileiro – e a necessidade de simplificação das regras da EUDR. Também comentou outros desafios, como a geolocalização, problemática nos países africanos, a dificuldade na documentação e comprovação da rastreabilidade dos cafés e da devida diligência, ou seja, comprovar que a UE está em conformidade com as leis de outros países e a questão do café solúvel, que não está no escopo da EUDR. Há, ainda, o temor de os EUA comprem todo o café brasileiro. “A cada dia, tudo muda, então temos que continuar nos comunicando”, alertou ela.
No painel de encerramento, sobre “Futuro da Cafeicultura Sustentável”, a palestrante Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC) lembrou a história da entidade, uma das mais antigas entidades de commodities criadas no mundo e cujo lema de sustentabilidade econômica e social sempre estive em seu escopo, implicita e explicitamente. “Temos hoje uma base de preços confortável para o Brasil, mas não está bom para todos, porque muitos produtores em muitos países produtores, continuam a receber 30% do preço FOB”, argumentou. Vanusia também citou desafios como tamanho da terra – de 0,4 hectares para muitos cafeicultores. “Uma renda digna para o produtor está ligada a preço e produtividade”, disse, lembrando a discrepância entre os países produtores. “Temos que pensar em modelos de negócio, senão a conta não fecha”. “É preciso ajudar os países menos adiantados, somos ponte para isso, para facilitar esse diálogo”.
Para Marcos Mattos, diretor geral do Cecafé (Conselho de Exportação do Café Brasileiro), o evento reuniu os principais temas da cafeicultura mundial. “Queremos que todas as pessoas que estiverem discutindo assuntos do mercado global de café busquem por informações. Tenho sempre em mente que o Brasil, que é o país maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor da bebida, é também o que promove o evento mais importante da cafeicultura global”.
O evento, que acontece a cada dois anos, reuniu lideranças de diversos países, como Alemanha e EUA, entidades brasileiras, como Cooxupé, Embrapa e Sebrae, imprensa e atores do setor.
Deixe seu comentário