Sou conhecido por alguns amigos gringos como o brasileiro que foi descobrir o café na África. Calma, eu explico. Obviamente, como todo brasileiro, tive contato com a bebida café desde criança e também com as histórias que meu pai contava sobre minha mãe nas lavouras de café ajudando meu avô, que trabalhava em fazendas no noroeste do Paraná. Porém, meu conhecimento do café e sua origem foi esse durante muito tempo. Até que, a faculdade de Direito na UFPR, lá em 2003, me levou a frequentar uma das primeiras cafeterias de café especial de Curitiba, a Exprèx Caffè, da Simone Yamaguchi, localizada em frente ao campus, e, logo depois, a Lucca Cafés Especiais, conhecida de todos. Foi onde de fato virou a primeira chave da minha relação com o café. Passei a apreciar a bebida que era só mais um produto qualquer da minha casa até então. Mas ainda faltava virar a maior chave de todas: a origem.
Tudo mudou quando, em 2014, surgiu um convite pra fazer um estudo de viabilidade de um projeto para instalação de uma torrefação na Tanzânia, leste africano. Depois de 11 anos cuidando dos negócios da minha família, que foram vendidos para uma multinacional no mesmo ano, estava aí a minha oportunidade de recomeçar minha carreira trabalhando em algo que eu realmente amava. A primeira viagem pra valer foi para o Quênia e foi nessa ocasião em que tive a certeza de que iria viver do café para o resto da minha vida. Estava no carro, indo pela primeira vez conhecer uma fazenda de café e não conseguia esconder a minha euforia. No caminho fiquei admirando a savana africana e algo divino falava muito forte ao meu coração que eu tinha encontrado aquilo que estava buscando. Senti paz. No final do dia longo, já no hotel em Nairóbi, entendi o motivo que me fazia querer me jogar de cabeça nesse universo incrível do café: as pessoas. Todos que tivessem (ou que ainda viriam a ter) alguma relação com o café, seriam o foco do meu trabalho dali pra frente.
Como o projeto na Tanzânia não andava, decidi convidar um dos meus melhores amigos e grande publicitário brasileiro para ser meu sócio no negócio, que seria responsável por algumas pequenas revoluções no mercado brasileiro de cafés especiais. Numa conversa em uma pizzaria, fomos rabiscando tudo que a gente idealizava em uma empresa que surgiria para causar impacto na vida de todos envolvidos de alguma forma com o café, desde o produtor até o consumidor final. Assim surgiu a Supernova Coffee Roasters, que tem seu nome inspirado nas estrelas que implodem para dar origem a outras estrelas. Este seria sempre o nosso principal fundamento, a empresa nunca seria maior que as pessoas, ela teria que criar novas estrelas do café, sempre. Essa inspiração, inclusive, se tornou filme, um documentário que mostra as histórias das pessoas que estão por trás de uma xícara de café.
Embora o projeto na Tanzânia tenha iniciado em 2014, um ano antes eu já vinha estudando sobre torra de café, que foi e ainda é a minha principal atividade como profissional e a que mais me fascina. Em 2015 e 2016 fiz minha certificação em Roasting e Sensory da SCA, em 2017 a de instrutor AST e, finalmente, em 2019, a de Q- Grader. Hoje, sigo a frente do Supernova, mantendo os mesmos princípios que norteiam seus ideais, dentre eles a inovação e criatividade constantes, tanto que permanece a busca incessante pela vanguarda nas várias áreas do café.
Luiz Eduardo Melo, torrefação e cafeteria na Supernova Coffee Roasters – Curitiba (PR) @luizsup