Cafezal

Vinho é a nova aposta de cafeicultores brasileiros

Em regiões cafeeiras, produtores encontram no vinho uma nova forma de explorar o terroir e impulsionar o turismo

Por Cristiana Couto

Em regiões conhecidas pela produção de cafés de qualidade, como Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Chapada Diamantina e Região do Pinhal, um novo cultivo vem ganhando espaço: o de uvas para vinhos finos. Graças à combinação de solo, clima e manejo inovador das uvas viníferas, cafeicultores investem na vitivinicultura e desafiam a lógica de que café e vinho não podem dividir o mesmo território.

A Espresso ouviu produtores que conciliam os dois cultivos e enólogos que acompanham essa transformação. Com a adaptação das videiras ao ciclo produtivo tropical, as fronteiras do vinho brasileiro se expandem – e, da mesma maneira, cafeicultores enxergam no cultivo de uvas uma oportunidade de diversificar seus mercados.

Terroir

Termo francês consagrado no mundo do vinho, o terroir reflete a complexa interação entre solo, clima e manejo humano, que determinam as características únicas de cada safra e influenciam diretamente a identidade da bebida.

Em sua caminhada rumo à excelência na xícara, os cafés de qualidade adotaram diversos aprendizados e incorporaram outros tantos conceitos desse universo, e o terroir não ficou de fora. É ele a chave de compreensão para a transformação que vem revolucionando, há duas décadas, o cenário do vinho brasileiro e que está, cada vez mais, entrelaçando-se à identidade sensorial e à valorização de origem do café.

Anos atrás, interessados por vinhos aprenderiam em sala de aula que eles são produzidos em zonas temperadas, enquanto cafés prosperam em climas tropicais. Manejar videiras e cafezais na mesma região – que dirá na mesma fazenda – era impensável até então. Mas paradigmas existem para ser quebrados.

A razão é a dupla poda, manejo que interfere no ciclo de vida das videiras e resulta na produção de vinhos de qualidade em regiões antes consideradas inadequadas. Também denominada poda invertida, a técnica, desenvolvida no Brasil no início dos anos 2000 sob a liderança do pesquisador Murilo de Albuquerque Regina (saiba mais ao fim da reportagem), consiste em fazer duas podas na videira ao ano, o que permite colher uvas no inverno brasileiro (entre maio e agosto) e não no verão, como acontece tradicionalmente no país. Nesta época, em áreas de altitude do sudeste e do centro-oeste, as chuvas de verão prejudicam a qualidade das uvas, ao permitir, por exemplo, o aparecimento de doenças fúngicas.

Mas o manejo dos chamados vinhos de inverno não faz milagre sozinho. “Não adianta plantar videiras na Amazônia e fazer dupla poda, porque lá não existe clima adequado”, lembra o enólogo chileno Christian Sepúlveda, referindo-se aos dias ensolarados e noites frias, comuns nas regiões de altitude no sudeste e centro-oeste do país, e aos solos secos no outono e no inverno, ou seja, à umidade relativa muito baixa.

“Onde se faz café de qualidade faz-se também vinho de qualidade, desde que os dois amadureçam na mesma época e tenham o ciclo de amadurecimento influenciado pelas mesmas condições climáticas”, ensina Murilo Regina, que foi coordenador do Núcleo Técnico Uva e Vinho na Empresa de Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) à época da criação do protocolo da dupla poda. Condições essas que influenciam de forma positiva o amadurecimento tanto da uva quanto do café, atuando na formação e acúmulo de açúcares, na degradação de ácidos e no metabolismo de elementos fenólicos e aromáticos, responsáveis pelas qualidades sensoriais das duas bebidas.

A colheita segue a mesma lógica. “É interessante colher o café quando não chove”, lembra Frederico Novelli, consultor de vitivinicultura da empresa Floeno, referindo-se à sanidade dos cafezais. Novelli lembra que a produção cafeeira na Serra do Rio de Janeiro diminuiu porque chuvas frequentes, mesmo no inverno, favoreciam a fermentação indesejada dos frutos, resultando em cafés de qualidade inferior. “Grandes regiões vitivinícolas do mundo, como Bordeaux, Borgonha e Priorato, têm características de clima muito parecidas com as das regiões dos nossos bons cafés, seja São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais”, emenda. “O que o manejo de dupla poda fez foi transferir a colheita da uva para o inverno, e as regiões mais apropriadas para plantá-las, coincidentemente, eram as mesmas do café”, resume ele, que dá consultoria a produtores de vinhos em áreas cafeeiras mineiras como Patrocínio, Patos de Minas, Lavras e Araxá. “Quando começamos a fazer vinhos de inverno, já tínhamos um mapa pré-traçado pelos produtores de café”.

Assim, os dois cultivos, até então dissociados, começaram a se estabelecer lado a lado. “Ninguém arranca café para plantar uvas”, afirma Sepúlveda. “Vinho e café não concorrem por terras agrícolas”, esclarece Murilo Regina. Segundo ele, o café ocupa as áreas mais altas dos morros, onde a incidência de geadas (às quais ele é sensível) é menor, enquanto as videiras se adaptam melhor às áreas de baixadas. Portanto, as duas culturas não concorrem por espaço e conseguem expressar seu potencial qualitativo no mesmo território.

Novos territórios

Recortada por vales e montanhas, a Serra da Mantiqueira, que se estende por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, é um dos territórios mais propícios à produção de cafés. Próximo a essa região montanhosa e na divisa com terras mineiras está o município paulista Espírito Santo do Pinhal, um dos oito a integrar a indicação de procedência (IP) de cafés Região de Pinhal, obtida em 2016.

A interseção dos fatores naturais – altitudes entre 850 e 1.300 metros e dias quentes e noites frescas – aliada à técnica da dupla poda colocou o município, há vinte anos, no mapa dos novos territórios brasileiros do vinho.

“Produzir vinhos aqui virou uma oportunidade para os que gostam da bebida e uma diversificação para os cafeicultores”, acredita Mariana Del Guerra. Q-Grader e torrefadora, Mariana e o marido, o engenheiro agrônomo especialista em café e sustentabilidade e consultor da Plataforma Global do Café Eduardo Sampaio, conduzem há quatro anos, ao lado de dois sócios, a vinícola Les Amis de Pinhal, um dos mais de cinquenta projetos de vinho da Serra dos Encontros, que abrange quatro municípios entre São Paulo e Minas Gerais.

São 2,9 hectares de vinhas distribuídas entre o sítio San José, no município, e o sítio Aponte, em Albertina (MG), há 15 km dali, onde o casal também planta cafés. “Em Albertina, o terroir é até melhor”, conta Mariana, que vai elaborar suas primeiras garrafas em solo mineiro em 2026.

Em 2024, a vinícola produziu 900 garrafas de sauvignon blanc e mil de syrah, uvas com qualidade já reconhecida na região. “Vamos diversificar para outras uvas que também estão se dando bem por aqui”, explica ela, que pretende expandir os vinhedos para 12 hectares e incluir as castas cabernet franc e chenin blanc.

Vinho e café também se cruzam por outros caminhos na região. O casal Fernando Mororó e Raquel Pacagnela, recém-chegados da África do Sul, decidiram fazer vinhos em Espírito Santo do Pinhal e adquiriram um pedaço de terra. “Ficamos encantados com o enoturismo”, diz Mororó. Mas os pés de mundo novo falaram mais alto. “A cidade respira café”, emenda Raquel, sobre a história local, entrelaçada à cultura cafeeira desde a década de 1850, quando os primeiros pés foram plantados na região. A inauguração do ramal ferroviário da Mogiana contribuiu para a prosperidade da cidade. Palacetes, igrejas e instituições culturais construídas no auge do café, entre os séculos XIX e XX, ainda resistem.

Hoje, 40 mil pés de sete variedades de arábica cobrem parte dos oito hectares da fazenda Terra de Kurí, onde Mororó e Raquel produzem cafés especiais e dedicam-se ao turismo de experiência. A fazenda, cujos grãos classificaram-se entre os primeiros lugares em concursos como o Coffee of the Year, tem uma área reservada aos visitantes para a degustação dos cafés, uma pousada e um restaurante. “O vinho veio ocupando esse espaço, trouxe gente para a região e acabou valorizando o café. Café e vinhos são complementares, pode-se aproveitar os dois”, acredita Raquel.

Hospedagem na Terra de Kurí

Sobre vinhos e cafés

Vinhos de inverno e cafés de qualidade compartilham território e clima, mas têm suas particularidades. Enquanto o café exige menos manejo contínuo ao longo do ano, a viticultura demanda cuidados quase diários durante o desenvolvimento das videiras.

“A uva é desafiadora no verão, enquanto o café aguenta mais desaforos”, analisa Mariana, sobre o crescimento vigoroso das videiras na estação quente, o que exige acompanhamento intensivo, como desfolhas para arejar o vinhedo e controlar o microclima dos cachos. “Enquanto no café você pode adiar um trato para a semana seguinte porque choveu, na uva ele tem que ser feito no timing. Se a pulverização dos vinhedos é para ser feita tal dia, é para fazer tal dia”, detalha.

O trabalho intensivo no campo, porém, inverte-se na época da colheita. Se a colheita do café pode alcançar três meses, a da uva é feita em um só dia (os cachos são enviados diretamente para a área de vinificação, onde o vinho é fermentado e engarrafado).

Aliás, uma das vantagens em cultivar uvas e grãos na mesma fazenda é que, com a dupla poda, ambas as culturas são colhidas na mesma época. “Aproveitamos a mesma mão de obra, o mesmo maquinário, o mesmo pulverizador, otimizando o custo”, lembra Flávio Bambini, engenheiro agrônomo e consultor de café do Sebrae Educampo.

Em 2015 e por hobby, Flávio Bambini começou a produzir vinhos na Região do Cerrado Mineiro, na fazenda Cruzeiro da Fortaleza, entre Serra do Salitre e Patrocínio. Em 2017, produziu as primeiras 200 unidades de vinho feito da casta syrah, plantada em um hectare – um dos primeiros rótulos do Cerrado Mineiro.

O projeto-piloto – que atualmente atinge 3 mil garrafas, vendidas localmente ou via Instagram – estimulou-o a fomentar a ideia entre os cafeicultores da região e, no mesmo ano, lançou o projeto Vinhos do Cerrado com a Federação dos Cafeicultores do Cerrado. “Várias pessoas ficaram curiosas”, lembra Bambini. As terras dedicadas aos vinhedos expandem-se ano após ano. Para 2026, a expectativa é a de que, dos atuais 25 hectares de vinhas na região, surjam cerca de 137 mil garrafas, fruto do trabalho de onze produtores – oito deles, também cafeicultores.

As altas altitudes (entre 850 e 1.250 metros), um clima bem definido (inverno seco com baixas temperaturas e verão chuvoso) e boa amplitude térmica, com o auxílio da dupla poda e de irrigação, entregam vinhos de inverno de qualidade.

Assim como em Pinhal, as uvas mais plantadas no Cerrado Mineiro são syrah e sauvignon blanc, mas há experimentos com malbec, marselan, tempranillo e chenin blanc sob a consultoria do Grupo Vitácea Brasil, do qual Murilo Regina é sócio-fundador e diretor. Maior viveiro vitícola do Brasil, a Vitácea surgiu em 2001 e hoje em dia tem um portfólio amplo, com serviços de consultoria e vinificação. “Vendemos para todos os grandes produtores do sul, e 99% das mudas de dupla poda dos produtores do sudeste e centro-oeste são da nossa produção”, explica Matheus Cassimiro, gerente de comunicação e agronegócio do grupo.

Além das variedades de uvas, os produtores do Cerrado e de Espírito Santo do Pinhal compartilham uma visão comum: a necessidade de fazer parcerias e o impulso que o vinho dá ao turismo rural.

Ganha-ganha

No Cerrado, a ideia é fazer uso da governança e da estrutura na produção do grão para impulsionar a viticultura por meio da criação da Associação de Vinicultores do Cerrado Mineiro (Vincer). “Um dos objetivos é ter um espaço dedicado à vinificação, com capacidade para compartilhar enólogo e otimizar equipamentos”, explica Bambini que, assim como outros produtores, vinifica seus vinhos no Núcleo Técnico Uva e Vinho da Epamig, entre outros locais.

As uvas da Les Amis de Pinhal e de produtores próximos também são vinificadas fora das propriedades de origem, em parceria com a vinícola Terra Nossa.

Além de viabilizar a elaboração dos vinhos de pequenos produtores como Mariana, a Terra Nossa fornece consultoria enológica. Criada por ex-funcionários da prestigiada vinícola Guaspari – pioneira no cultivo de vinhas em Espírito Santo do Pinhal, no início dos anos 2000 (a Guaspari também produz cafés e azeites) –, a Terra Nossa nasceu em 2014 para fazer vinho para consumo próprio. Hoje em dia, além de comercializar seus rótulos, a empresa atende 38 produtores da região de Pinhal e tem capacidade para gerar, anualmente, até 300 mil litros da bebida.

“É uma forma democrática de ajudar as pessoas a desenvolverem seus projetos vitivinícolas”, diz Sepúlveda, um dos sócios. Segundo ele, pelo menos 50% dos clientes que atende são, também, cafeicultores. “Mas cem por cento das uvas que cultivamos aqui foram plantadas em regiões em que já se plantou café”, lembra o enólogo.

Montar uma vinícola não é tarefa fácil. “Não é viável investir em uma estrutura de vinificação própria antes de a produção atingir dez hectares”, acredita Mariana, referindo-se ao custo com prensas, bombas hidráulicas e tanques de fermentação.

Plantio de uvas e cafés

Vinho, café e vulcão

No sul de Minas, Andradas se destaca como um polo da cafeicultura de qualidade. Sua geografia particular, marcada por altitudes entre 700 e 1.300 metros e solos de origem vulcânica, ricos em minerais, cria condições ideais para a produção de cafés especiais.

Se o café é hoje a principal atividade econômica de Andradas, a viticultura também faz parte de sua identidade. Essa tradição começou há mais de um século, quando imigrantes portugueses trouxeram uvas da Ilha da Madeira e iniciaram a produção de vinhos simples, para consumo interno. Depois, chegaram os italianos e continuaram o processo. “Nos anos 1960, a cidade chegou a ter setenta vinícolas”, conta o empresário paulistano Luis Augusto Opice. Atualmente, são seis propriedades dedicadas aos vinhos.

Em 2014, Opice comprou o Rancho da Bela Vista, onde produz catuaí, arara e bourbonzinho com foco no mercado de alta qualidade. Em 2023, resolveu substituir cafezais antigos por vinhedos. “Tenho dois talhões de uvas colados aos de café”, diz ele.

O plantio de syrah e viognier foi um sucesso. “Parece que a terra pediu por uma mudança de cultura. São uvas viçosas, sadias, com boa acidez, taninos e teor de açúcar”, comemora. Vinte e três meses depois, colheu a primeira safra, que, no fechamento desta edição, vinificavam na Terra Nossa. A expectativa é engarrafar 5.100 vinhos, e o empresário já investe num segundo talhão e na sua marca, a RBV, de vinhos e cafés.

Sustentabilidade em dobro

Reconhecida pelas suas paisagens exuberantes, a Chapada Diamantina guarda uma tradição cafeicultora pouco conhecida. A cultura do café existe lá há décadas, mas ganhou projeção com o Cup of Excellence (COE) e a denominação de origem (DO) obtida no final de 2024.

Foi na década de 1980 que os Borré migraram do sul para a Bahia. “Em 1984, houve um movimento de produtores sulistas que buscavam áreas de expansão”, conta Fabiano Borré, CEO da vinícola Uvva.

Situada a 1.150 metros de altitude, a vinícola nasceu em 2022, depois de dez anos de investimentos em pesquisas com uvas viníferas – época em que o governo da Bahia, em parceria com a Embrapa Uva e Vinho, fizeram plantios experimentais na região. “Já tínhamos boa estrada com café”, lembra Borré. Isso porque em 2005 a família, que também produz outras culturas, investiu na produção de cafés especiais. Atualmente, a Fazenda Progresso, em Mucugê – um dos 24 municípios da DO –, tem a maior produção de cafés da região. São 550 hectares de catuaí 144 vermelho e topázio amarelo vendidos para nove países, além do mercado interno, sob a marca Latitude 13º.

Na Progresso, a sustentabilidade é um dos pilares da produção de cafés e vinhos – são cerca de 52 hectares de vinhedos que geram tintos, brancos e espumantes. Entre as práticas, o uso de gramíneas como cobertura vegetal, para preservar umidade e reduzir a temperatura do solo, o uso consciente da água e a aposta no controle biológico. “Temos uma biofábrica onde multiplicamos bactérias e fungos. Na uva, mais de 50% do controle é feito dessa forma”, destaca Borré.

O CEO também faz parcerias com cerca de 25 pequenos cafeicultores da região, que utilizam a plataforma de exportação da Progresso. “Quando um cliente nos visita, nós o levamos até a fazenda do pequeno produtor, que vai contar um pouco de sua história e comercializar seu café, que leva o nome da sua fazenda. Isso atrai um pouco a nova geração”, analisa.

No final do ano passado, a Chapada Diamantina ganhou a Rota do Vinho da Bahia. “Além dos outros atrativos, a Chapada é hoje um destino enoturístico também”, diz Maurício Bacelar, secretário do Turismo do Estado da Bahia. A rota percorre as cinco vinícolas da região – a Uvva, em Mucugê, e mais quatro no Morro do Chapéu, município que já abriga outros quatro novos projetos. “Vejo um potencial grande para o vinho na Chapada, que é começar a atrair visitas”, acredita Borré. “Temos que usar um pouco dessa massa turística e apresentar café e outros produtos, que vão ter a mesma origem”, arremata ele. “Onde mais no mundo você pode produzir cafés e uvas lado a lado? Isso coloca o Brasil numa posição diferenciada também”, conclui.

Vinhedos da Uvva

Enoturismo

De fato, a vitivinicultura tem potencial para abrir caminhos para o turismo, impulsionando não só a venda de vinhos mas, também, a valorização dos cafés e de outros produtos locais. Além disso, o turismo em torno dos vinhedos fortalece a rede de comércio regional.

Lançada em 2024, a Rota da Serra dos Encontros – uma das cinco que perfazem o projeto Vinhos de São Paulo, organizado pelo governo do estado para divulgar a produção paulista – ajudou a alavancar os rótulos do Espírito Santo do Pinhal e, de quebra, valorizar os cafés pinhalenses. “O único lugar no mundo que tem uva e café juntos é aqui no sudeste do Brasil”, reforça Sepúlveda. “Os turistas que vêm de fora do país ficam loucos ao ver pés de café ao lado das videiras”.

Segundo Mariana, a logística fácil, como estradas duplicadas e a proximidade do Aeroporto de Viracopos, também ajudou. “Dependemos 90% do turismo”, diz ela, que faz suas vendas de vinhos para restaurantes, empórios e lojas locais e que vê no enoturismo a chance de mostrar seus exemplares aos que chegam ali em busca de experiências.

A ascensão do vinho na região favoreceu comerciantes. Mariana diz que aqueles que vendiam equipamentos e insumos destinados ao café, por exemplo, começaram a vender para o vinho também, e que a viticultura “deu novo gás” à faculdade local, a Unipinhal, que oferece uma pós-graduação em enologia e viticultura e onde Bambini acaba de se formar.

“Sonhando grande, espero que o nosso vinho possa ajudar o café futuramente”, diz Bambini. “As pessoas não saem de São Paulo para vir ao Cerrado tomar um café, mas vêm para visitar vinícolas. Nosso objetivo é fazer tudo junto”, projeta.

Desafios

Produzir vinhos, porém, não é simples para os produtores de café. O intervalo entre a implantação dos vinhedos e o retorno financeiro é longo, e os custos são elevados. “O café é colhido, seco, armazenado e é uma commodity vendida em bolsa; chegou no preço que o produtor quer, ele é vendido”, compara Mariana. No vinho, além dos processos no campo, o mosto (oriundo da maceração das uvas) fica em tanques de inox por até um ano. Assim, o tempo entre a colheita e o engarrafamento e comercialização alcança, no mínimo, doze meses. “O vinho só ganha com o descanso, seja em barril ou em garrafa. Para nós, cafeicultores, é tudo muito novo”, analisa.

Segundo ela, o maior desafio na cidade é a mão de obra que, tradicionalmente acostumada aos processos da cafeicultura, tem que se adaptar. Com o aumento de turistas na região, a demanda por trabalho é maior do que a oferta de braços. “Temos que formar essas pessoas, porque o vinho é um negócio completamente diferente”. O outro é a segurança, que costuma ser ameaçada com o crescimento urbano. “É preciso criar pertencimento”, diz Mariana.

Para Sepúlveda, a tarefa mais difícil é levar vinho e café brasileiros para o mundo. “Se você não falar que tem o melhor café do mundo, ninguém vai falar”, raciocina. “A uva tem que aproveitar a tradição do café, e o café tem que aproveitar a fama da uva, trazer o turista para entender o café”, acredita ele. “O produtor de café também ganha quando turistas buscam os vinhos da região”, emenda Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Café da Região Vulcânica.

Em busca da origem

A busca por origem das duas bebidas também caminha em paralelo. Criada em 2022, a associação Avvine tem como objetivo elevar a Região de Pinhal a uma denominação de vinhos.

Em busca de proteção da origem dos grãos especiais e atenta ao crescimento do cultivo de uvas (entre outros produtos, como azeites e queijos), a Associação dos Produtores de Café da Região Vulcânica está expandindo a marca coletiva – adquirida em 2021 e usada para os cafés – também para os rótulos. “Esperamos este ano já ter os primeiros vinhos comercializados com a marca Região Vulcânica”, diz Oliveira.

De acordo com seus cálculos, dos cerca de 25 projetos dedicados ao vinho, 30% são tocados por cafeicultores – a região, que engloba doze municípios, contabiliza 12 mil produtores de café. A expansão, acredita ele, está só no começo. “Essa nossa retomada da produção de vinhos acontece pela recente qualidade da bebida e para agregar valor ao turismo”, completa.

Para saber mais: A técnica que transformou a viticultura brasileira

Nas décadas de 1940 e 1950, Minas Gerais e São Paulo produziam vinhos, mas a qualidade era baixa graças ao verão, cuja umidade excessiva favorecia a proliferação de fungos, e os solos encharcados diluíam os compostos das uvas. Como resultado, os vinhos tinham baixo teor de açúcar e, consequentemente, pouco álcool. Com as rodovias, que facilitaram o acesso ao Rio Grande do Sul, a produção no sudeste praticamente desapareceu.

A reviravolta veio nos anos 2000, quando Murilo Regina, então pesquisador da Epamig, trouxe para a viticultura brasileira uma técnica já utilizada em frutíferas: a dupla poda. Durante seu pós-doutorado na França, ele percebeu que o verão europeu tinha condições climáticas semelhantes ao outono-inverno brasileiro: amplitude térmica, dias quentes, noites frias e solo seco. Então, desenvolveu um protocolo para aplicar a dupla poda nos vinhedos.

O primeiro experimento foi em 2001, na Fazenda Santa Fé, em Três Corações (MG), onde o pesquisador encontrou condições ideais para testar a técnica. A primeira safra experimental veio em 2003, e a uva escolhida foi a syrah que, com excelente sanidade e produtividade, tornou-se a principal variedade no manejo de dupla poda – ao lado da sauvignon blanc, cabernet franc e chenin blanc, que têm se destacado nos últimos anos. Graças ao protocolo de Murilo Regina, regiões no sudeste e centro-oeste do país produzem vinhos de alta qualidade.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

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Baristas disputam final da Copa Hario 2025 em São Paulo

Campeão ganha uma viagem ao Japão para disputar a Hario Brewers Cup World Championship e conhecer a fábrica da marca

Na próxima segunda (14), São Paulo sedia a etapa final da Copa Hario Brasil 2025. A disputa acontece na Casa Hario (rua Manuel Guedes, 426 – Itaim Bibi). A marca japonesa levará o vencedor para competir na Hario Brewers Cup World Championship, que acontece na SCAJ 2025 em setembro, em Tóquio, no Japão.

Em março, foram realizadas etapas regionais em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro. Dos 80 participantes, a comissão julgadora selecionou cinco competidores de cada cidade, que agora buscam o título nacional. Para isso, eles utilizarão produtos Hario e o café oficial da edição, escolhido pela organização. Clique aqui e confira os baristas selecionados para a final.

A avaliação, tanto nas fases regionais quanto na final, leva em consideração corpo, doçura, acidez e finalização da bebida, além do cumprimento do tempo limite de execução. Além da viagem, onde também conhecerá a fábrica da Hario, o campeão leva prêmio em dinheiro, assim como o segundo e o terceiro lugares.

TEXTO Redação • FOTO Off Contest

Barista

“Quero ver até onde consigo chegar”, diz Eduardo Olímpio, bicampeão brasileiro de Latte Art

Barista de Curitiba fez os melhores desenhos na etapa nacional e retorna para o mundial da categoria em junho, na Suíça

Por Gabriela Kaneto

No último domingo (6), Florianópolis (SC) acompanhou de perto a final do Campeonato Brasileiro de Latte Art. Eduardo Olímpio, da Naveia, de Curitiba (PR), fez os melhores desenhos com leite e café e tornou-se bicampeão na categoria.

Ele, que já representou o Brasil no mundial de 2023 – em que alcançou a 11ª posição –, comemora por ter a oportunidade de participar da disputa novamente. “Quero explorar o meu limite”, projeta. Leia a entrevista, exclusiva para a Espresso:

Espresso: Qual é a sensação de ganhar, pela segunda vez, o campeonato de Latte Art?

Eduardo Olímpio: É uma sensação maluca. Senti um nervosismo muito grande, acho que até maior do que no meu primeiro campeonato. Mas foi uma sensação muito gratificante, por já ter competido um mundial e agora ter a possibilidade de voltar e competir novamente. Estamos indo mais preparados, eu queria muito ter novamente essa oportunidade 

E: Quais foram os desenhos que você apresentou aos juízes na competição e por que os escolheu? Os três desenhos são criações suas?

EO: A estratégia era trazer desenhos que tinham técnica, mas que fossem visuais. Por isso levei o cavalo, o chimpanzé e o grande urso. Criei dois deles, que é o chimpanzé e o grande urso, e, para o cavalo, usei uma referência de um competidor asiático. 

E: Quais são suas expectativas para o campeonato mundial, em junho? 

EO: Quero ir muito bem! Já estamos pirando e pensando em várias coisas. Queremos mirar o topo, quero explorar o meu máximo. Eu queria muito ter outra oportunidade de competir no mundial para explorar o meu limite e ver até onde eu consigo chegar.

E: Você pretende competir novamente no brasileiro de Latte Art nos próximos anos? E em outras modalidades, tem planos de competir também?

EO: Para mim é muito bom, com certeza vou competir no Latte Art de novo. E se eu fosse competir em uma outra categoria, eu iria talvez para o Brewers. Mas ainda estou pensando a respeito.

Clique aqui e assista à apresentação final de Eduardo Olímpio, no Campeonato Brasileiro de Latte Art.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Arquivo pessoal

Cafezal

Brejo paraibano revitaliza sua cafeicultura e faz primeiro evento de café

A iniciativa, liderada pela UFPB, ganha força e será apresentada nos dias 9 e 10 de abril, durante o 1º Encontro de Cafeicultura da região, em Areia (PB), reunindo produtores, pesquisadores e especialistas de todo o país

Colheita de café no campo experimental da UFPB

Por Cristiana Couto

Há um século, a região conhecida como Brejo Paraibano foi um pólo nordestino importante na produção de café. O grão, que praticamente desapareceu na década de 1920, volta agora a ser o centro das atenções do engenheiro agrônomo Guilherme Silva de Podestá: o pesquisador e sua equipe da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) estão, desde 2017, revitalizando a cafeicultura da região. E, nos dias 9 e 10 de abril, um evento reunirá produtores, pesquisadores e estudantes para apresentar os primeiros resultados desse esforço e discutir os rumos da cafeicultura local.

Bem servida de chuvas (1.200-1.300 mm por ano) e a 560 m de altitude, o Brejo Paraibano, que abrange cidades como Areias, Alagoa Nova, Bananeiras e Serraria, chegou a ter seis milhões de pés de café. “Algumas fontes dizem que esse volume foi só na cidade de Areia”, pontua Podestá. De qualquer modo, relatos garantem que um produtor desta cidade – sede da antiga Escola de Agronomia da Paraíba (fundada em 1934) – chegou a ter entre 420 e 500 mil pés da planta. 

O vilão da história, dizem os escritos antigos (que são poucos), foi a cochonilha vermelha do café (Cerococcus parahybensis), que ocorre na região (também em Pernambuco e no Ceará). “Acreditamos que não foi somente a praga”, diz Podestá, professor do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais da UFPB, que atribui a decadência da cafeicultura local, também, à falta de investimento e assistência técnica para corrigir o solo e devolver a ele os nutrientes necessários. “Também há o nosso veranico, que é muito forte em alguns anos”, acrescenta ele. 

Tentativas de revitalizar Areia e arredores foram feitas depois, sem sucesso. Em 2016, Podestá foi contratado pela UFPB e, com o tempo, soube da história e resolveu investir no potencial da região para retomar a produção – desta vez, com qualidade. 

Guilherme Podestá (o quarto da esq. para a dir., sentado) e equipe

Com o projeto “Resgate da cafeicultura no Brejo Paraibano”, Podestá – que também é orientador do Necaf (Núcleo de Estudos em Cafeicultura), do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da universidade – firmou parceria com a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), que forneceu sementes de 21 genótipos de Coffea arabica. “O intuito da pesquisa era saber se a espécie se adaptaria à região e quais genótipos se adaptariam melhor”, explica o pesquisador (o projeto, que permite a prática no campo dos estudantes da UFPB, também inclui oficinas, palestras e acompanhamento técnico a agricultores de municípios como Areia, Bananeiras e Alagoa Nova).

Em 2020, foram plantadas seis variedades de arábica, das quais se destacaram arara, catucaí 24137, catuaí vermelho e catuaí amarelo. A produtividade boa e o potencial de qualidade dos primeiros plantios gerou mais parcerias e investimento em cultivo e processamento do grão. “Dá pra fazermos café especial por aqui”, afirma Podestá, que vem recebendo laudos que pontuam os cafés das fazendas experimentais da universidade acima de 82 pontos. “Ontem, recebi um áudio de um Q-Grader que avaliou um arara nosso, com fermentação de 24 horas, em 85,7 pontos”, comemora.

Não é à toa que, em setembro de 2024, a universidade lançou a marca Grãos da Parahyba, que está em fase final de registro no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). A marca vem incentivando ainda mais o cultivo entre os produtores locais. Hoje, são cerca de 40 pequenos cafeicultores que já apostam nos cafés selecionados pela equipe do pesquisador, totalizando 4,5 hectares plantados. “Estamos tendo muita procura do pessoal, que vem adquirir mudas com a gente”, conta ele, que tem parceria com outros departamentos da universidade em aspectos como gestão de resíduos do café e estudos de fermentação. Segundo o pesquisador, os recursos da venda dos Grãos da Parahyba vão servir para investimento em mais pesquisas e experimentos.

Atualmente, a equipe trabalha com 53 materiais genéticos de arábica oriundos de parcerias, e o próximo passo é cultivar robustas amazônicos. “São seis clones que serão plantados daqui a alguns dias”, anuncia Podestá. 

O primeiro encontro

Nos dias 9 e 10 de abril, o 1º Encontro de Cafeicultura do Brejo Paraibano, em Areia, pretende compartilhar essas iniciativas e trocar experiências sobre temas relevantes para a cafeicultura. O evento vai reunir em torno de 20 especialistas do Nordeste e de outras regiões do Brasil. 

A programação inclui palestras, painéis e visitas técnicas a propriedades, abordando temas como qualidade e produtividade, fermentação, torra e degustação de cafés, agregação de valor e o papel das mulheres na cafeicultura.

A UFPB será sede do evento, realizado pelo (Necaf/UFPB) e pela Associação de Turismo Rural e Cultural de Areia (Atura), além de ter como parceiros diversas entidades, como Embrapa Alimentos e Territórios, Governo da Paraíba e Sebrae Paraíba. 

Café e turismo

A cafeicultura local tem sido vista não só como uma oportunidade para a geração de renda, mas também como um atrativo para o turismo rural e gastronômico. “Está-se criando a Rota do Café por Areia, que é um ponto turístico importante”, diz Podestá, referindo-se aos casarões históricos da cidade que é, também, a capital paraibana da cachaça, com 11 engenhos registrados. “O café vai ser mais uma opção”, promete o pesquisador.

TEXTO Cristiana Couto

Cafezal

Governo do Estado lança Rotas do Café de São Paulo

Iniciativa tem por objetivo transformar o café em um atrativo turístico, valorizando o produto, a história e impulsionando o desenvolvimento rural sustentável

Por Lívia Andrade

Hoje (8), às 15h, no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, faz o lançamento oficial das Rotas do Café de São Paulo, uma iniciativa para promover as regiões cafeeiras do estado, que une as secretarias do Turismo, Cultura, Agricultura, Desenvolvimento Econômico, Casa Civil e a Agência Investe SP. “A Rota do Vinho, lançada no ano passado, nos inspirou a dar prosseguimento com outras cadeias. Apresentamos a proposta do café ao Turismo e eles gostaram, porque queriam há algum tempo impulsionar o turismo rural”, diz José Carlos de Faria Júnior, coordenador das Câmaras Setoriais e Temáticas da Agricultura.

A cadeia do café foi escolhida por sua importância para o estado. Historicamente, o grão está relacionado ao desenvolvimento econômico, à colonização e à fundação dos municípios de São Paulo. Segundo dados governamentais, em 2024 a produção de café no estado foi avaliada em 5,4 milhões de sacas beneficiadas. “Nos últimos anos, São Paulo perdeu protagonismo para os outros estados. A rota faz parte deste movimento de apresentar os cafés de qualidade do estado, os cafés especiais, e as pessoas que fazem a diferença em cada região”, diz Raquel Nakazato Pinotti, assessora de pesquisas das Câmaras Setoriais.

Neste primeiro momento, as regiões que serão exploradas nos roteiros turísticos são: Mogiana, Mantiqueira Vulcânica, Circuito das Águas, Cuesta e Alta Paulista. Além dessas, há os destinos cafeeiros e outras vivências do café, que englobam experiências de integração com a natureza, turismo de negócios e fazendas-modelo, como as de café canéfora no oeste do estado, que fazem parte do Programa Estadual de Incentivo ao Cultivo de Coffea Canephora.

O processo de seleção das propriedades rurais que integram as Rotas do Café começou em agosto de 2024, quando a Secretaria de Agricultura enviou para as regiões cafeeiras um questionário para saber quais cafeicultores tinham interesse em abrir o sítio ou a fazenda para o turismo rural. 

Na sequência, a Secretaria de Turismo fez um filtro das informações, selecionando e categorizando 141 propriedades rurais aptas a abrir as portas para o turismo. “Desde o início, as Rotas do Café têm por objetivo ajudar os produtores, especialmente os pequenos e médios, a ter uma renda a mais com a propriedade e promover o desenvolvimento regional com o turismo, que fomenta outros setores, como hotelaria e gastronomia”, diz Faria Júnior. Juntamente com uma rota vem outros benefícios, como verbas para melhoria da infraestrutura de estrada, asfaltos, placas de sinalização etc.

Na ocasião, a produtora Daniella Pelosini, do Sítio Daniella, de Pardinho (SP), entregou um kit de cafés cultivados no estado para o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas

Na tarde desta terça, será lançado o livro Rotas de Café de São Paulo com a contextualização histórica da importância da cultura cafeeira para o estado ser, hoje, a capital financeira do Brasil e referenciais turísticos e agronômicos da cadeia produtiva do café. Só para se ter uma ideia, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem o maior banco de germoplasma de café do Brasil, um dos principais do mundo. E o Instituto Biológico de São Paulo está entre os pontos turísticos por abrigar o maior cafezal urbano do mundo. Todo ano, a instituição organiza o evento Portas Abertas, que marca o início da colheita do café, convidando o público urbano para colher o grão e fazer uma imersão no universo cafeeiro.

O potencial do turismo interno, turismo de experiências, veio à tona na pandemia. “São Paulo tem uma característica que facilita muito o deslocamento. Percorrendo 100, 200, 300 km, você roda por 30 cidades”, diz Faria Júnior. E, além disso, há regiões que concentram várias cadeias produtivas. Em algumas cidades, o turista poderá conhecer uma fazenda de café, uma vinícola, um lagar de azeite, um laticínio etc.

Com tanta diversidade, a ideia é catalisar o turismo rural no estado. “Até o fim do ano, queremos lançar as rotas da cachaça, do queijo e do mel”, finaliza José Carlos de Faria Júnior, Coordenador das Câmaras Setoriais e Temáticas da Agricultura.

TEXTO Lívia Andrade

Barista

“Isso prova para mim mesmo que eu consigo”, comemora Leo Oliva, vencedor do Coffee in Good Spirits

Barista de Curitiba vence etapa nacional e representa o Brasil no mundial da categoria, marcado para acontecer em junho, na Suíça

Por Gabriela Kaneto

Ontem (6), a cidade de Florianópolis (SC) sediou a final do Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits. A competição, que julga os melhores preparos de bebidas alcoólicas com café, teve como campeão o “baristender” Leo Oliva, do Mykola Bar, de Curitiba (PR), que pautou sua apresentação nas semelhanças entre os processamentos do café e da cachaça. 

Competindo pela segunda vez consecutiva, Oliva levou a melhor após alcançar a terceira posição na edição de 2024. “É muito gratificante poder estar no pódio”, comemora. Agora, a disputa acontece em Genebra, na Suíça: o campeão nacional representará o Brasil no mundial de Coffee in Good Spirits marcado para junho, na World of Coffee.

Em entrevista à Espresso, Leo Oliva fala sobre as receitas que criou para o campeonato e seus próximos passos. 

Espresso: Qual é a sensação de ganhar, pela primeira vez, o Coffee in Good Spirits?

Leo Oliva: Eu estou em choque até agora, com cara de choro de felicidade. É muito gratificante poder estar no pódio ao lado de dois caras que tenho como inspiração e referência há tempos [os baristas Daniel Munari e Emerson Nascimento]. Mas, acima de tudo, isso só prova pra mim mesmo que eu consigo. Que eram apenas vozes da minha cabeça que diziam outras coisas. Deu certo!

E: Sobre o drinque gelado, como foi o desenvolvimento da sua receita e o que te fez escolher o café que você usou?

LO: Como era um coquetel em que queria falar sobre a fermentação da cachaça através do café, eu já tinha dois ingredientes obrigatórios, o café e o caldo de cana. A partir daí, pesquisei e provei muitas bebidas que tivessem fermentação para poder contar essa história. E, claro, foram muitos erros e acertos até finalmente achar as melhores combinações.

Neste drinque, extraí um espresso utilizando grãos da variedade arara, fermentados, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Ibiraci (MG), na Alta Mogiana, e torrados pelo Lucca Cafés Especiais. Para esta receita, busquei um café no qual a acidez brilhasse, para equilibrar com os ingredientes mais doces.

Além dos drinques quentes e frios de criação própria, Leo Oliva apresentou também sua versão do irish coffee

E: Sobre o drinque quente, como você chegou à receita final e por que escolheu ela para apresentar aos juízes?

LO: No meu coquetel quente, eu precisava falar sobre a destilação da cachaça. É nesta etapa que a cachaça passa a existir. Por isso, busquei as melhores cachaças para essa história. Um dos meus ingredientes eu queria muito que, de alguma forma, fosse destilado por mim, até que lembrei de uns estudos e testes de destilação a frio em cajuína que estive desenvolvendo. Ela foi perfeita para amarrar tudo o que faltava. Sinceramente, foi o meu drinque favorito.

Usei um catuaí vermelho IAC 99, de fermentação natural, cultivado pelo produtor Gabriel Nunes em Patrocínio (MG) e também torrado pelo Lucca Cafés Especiais. Quando provei este café, eu e a Amanda Albuquerque [coach de Leo Oliva na competição] nos olhamos e falamos: “é esse!”. Ele entrega todo o corpo e a doçura que eu precisava, juntamente com as notas tártáricas.

E: Quais são suas expectativas para o campeonato mundial em junho?

LO: Confesso que não parei muito para pensar nisso, mas comecei a me preparar no mesmo dia. Com certeza o Brasil será bem representado e vai ser incrível.

Clique aqui e assista à apresentação final de Leo Oliva, no Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

Mercado

Cafeterias de marca crescem 4,7% na Europa

Propostas com foco em qualidade e maior valor agregado impulsionam o crescimento do mercado de especial na França, Alemanha e Península Ibérica, segundo relatório da World Coffee Portal

O mercado europeu de cafeterias de marca cresceu 4,7% nos últimos 12 meses, alcançando 51.042 estabelecimentos — o maior aumento líquido de novas lojas em cinco anos. Os dados são do relatório anual Project Café Europe 2025, publicado pelo World Coffee Portal, que analisou 50 mercados do setor no continente. Mesmo diante de uma conjuntura marcada por inflação, custos operacionais elevados e preços recordes do café verde, 33 mercados expandiram o número de estabelecimentos, incluindo 15 dos 20 maiores.

O Reino Unido segue como líder absoluto, com 11.456 cafeterias de marca, seguido pela Alemanha (7.428) e pela Rússia (5.157). Entre as principais cadeias atuantes no continente, o McCafé mantém a liderança, com 3.983 lojas em 26 países, à frente do Starbucks (3.534) e do Costa Coffee (3.097).

A demanda por café fora de casa continua forte em toda a Europa, impulsionando o avanço das cadeias, apesar da queda na confiança do consumidor em diversos países. Mercados como Reino Unido, Alemanha, França e Rússia registraram, cada um, a abertura de mais de 100 novas lojas. Segundo o relatório, essa resiliência demonstra o apetite contínuo dos europeus por experiências premium em cafeterias, mesmo em cenários econômicos desafiadores.

Por outro lado, os altos preços do café verde, somados ao aumento de custos de energia e matérias-primas, têm pressionado os operadores. Como resposta, muitos elevaram os preços das bebidas. Um cappuccino regular, por exemplo, custa atualmente em média €3,69 — um aumento de 7,6% em relação ao ano anterior. Com isso, 31% dos líderes do setor classificaram o ambiente de negócios como “difícil”, frente a 19% na pesquisa anterior.

Ainda assim, os cafés diferenciados vêm ganhando espaço. As propostas de maior valor agregado e foco em qualidade estão impulsionando o crescimento dos mercados de café especial na França, Alemanha e Península Ibérica. Segundo o relatório, essa tendência pode abrir novas oportunidades para operadores que investem em hospitalidade-boutique e experiências sensoriais mais refinadas.

Apesar do otimismo generalizado entre os líderes do setor — 75% veem forte potencial de crescimento das cafeterias de marca na Europa —, alguns mercados sentiram a pressão. A Polônia, por exemplo, fechou 26 lojas, interrompendo cinco anos de crescimento contínuo. Suíça e Suécia também apresentaram retração de 6,3% e 5,7%, respectivamente.

Em contrapartida, a Turquia viu seu mercado de cafeterias de marca crescer 12,6%, ultrapassando 3,8 mil estabelecimentos, mesmo sob uma inflação que superou os 44% em 2024. Na Ucrânia, em meio à guerra, o setor teve expansão de 8%, superando 350 unidades.

O relatório conclui que o setor europeu de cafeterias de marca segue saudável, com mercados estabelecidos — como Reino Unido, Alemanha, França, Espanha e Itália — mantendo crescimento sustentado. Mercados menores como Croácia, Lituânia e Armênia também vêm se destacando.

A projeção do World Coffee Portal é de que o número total de cafeterias de marca na Europa chegue a 53.200 unidades nos próximos 12 meses e ultrapasse 60,9 mil estabelecimentos até março de 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 3,6%. Para Jeffrey Young, fundador e CEO do Allegra Group, o cenário é desafiador, mas promissor: “Mesmo com tensões geopolíticas, inflação e preços recordes do café verde, há uma demanda vibrante por café e cultura de cafeterias, capaz de sustentar um mercado europeu próspero nos próximos anos”.

TEXTO Redação / Fontes: Allegra Coffee Portal e International Comunicaffe • FOTO Divulgação

Mercado

A ascensão do café solúvel

Como o aumento do consumo nos últimos anos pode representar um novo mercado a ser explorado, tanto no Brasil como em nível global

Por Gabriela Kaneto

“Você viu o preço do café?”. Talvez esta seja a pergunta do momento. Em 2024, o custo do grão para o consumidor cresceu 37,4%, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Estoques baixos nos países produtores e nos consumidores, problemas climáticos – com projeções de que as condições devem persistir em 2025 – e a alta do dólar são algumas justificativas para o aumento de preços.

Com um café tradicional de 250 g superando a marca dos R$ 30 na gôndola, uma simples xícara cotidiana da bebida, tão comum aos brasileiros, pode parecer estar em jogo. Mas, em meio ao cenário incerto do torrado e moído, outros produtos registraram bons números nos últimos meses.

Patinho feio por muitos anos, o café solúvel está em ascensão. Segundo a AbicsData, plataforma da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), em 2024 o Brasil registrou não só recordes nas exportações como, também, no consumo interno, que bateu seu maior nível da história: 1,069 milhão de sacas.

“O solúvel está sendo inserido como mais uma forma de tomar café em determinados momentos do cotidiano”, afirma Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Abics. “No mundo, hoje, o solúvel representa 28% do consumo total. No Brasil, este número está em 5%, mas vem crescendo”, menciona ele, que tem como referência a série histórica da Abics.

Cenário internacional

Esta série, que acompanha desde 2016 a evolução do consumo de solúvel no país, destaca uma média de crescimento de 3,6% ao ano. Ao redor do mundo, a busca pelo produto também cresceu significativamente. É o caso da Irlanda, cujo consumo de solúvel aumentou 14% em dois anos. “Na Irlanda, entre 2005 e 2021, foi registrado uma diminuição do marketing share do solúvel, de 54% para 25%. Agora, de 2021 para 2023, voltou para 39%”, explica Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). “Essa é uma tendência. Em países que não têm indústria, o que eles recebem de solúvel é importado e a reexportação é pequena. Então, para uma análise geral, o que eles importam, eles consomem”, completa.

Não é coincidência que o aumento da busca pelo instantâneo se dê justamente na época em que os preços do café estão nas alturas. “À medida que o preço vai subindo, sobe também o consumo de solúvel”, analisa Vanusia. Em alguns casos, o consumo total de café apresenta queda, mas o de solúvel continua crescendo. “Em muitos países, principalmente nos emergentes, onde há um gap maior entre as classes, com a diminuição do poder aquisitivo, as classes menos privilegiadas procuram por produtos que possam ser mais acessíveis”, comenta a diretora-executiva da OIC.

Para ela, outro fator importante – e uma oportunidade de mercado a ser explorada – é a boa aceitação do solúvel em países tradicionalmente consumidores de chá. “Preparar o solúvel está muito mais ligado à cultura deles do que parar para filtrar o café ou procurar por uma máquina de espresso”, destaca Vanusia, que aposta que mercados emergentes e consumidores de chá, como os asiáticos, são a grande oportunidade do solúvel a médio e longo prazos. “E não estou falando só de China, estou falando também de Vietnã, Índia, de mercados emergentes e com uma concentração populacional enorme. São tomadores de chá, mas os jovens estão introduzindo o café no dia a dia”, detalha.

Para Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o solúvel, além de ser uma referência e um hábito de diversas culturas ao redor do mundo, é também aquele que permite o consumo do café seguir resiliente. “Estamos vendo, inclusive em mercados tradicionais, que o consumo de café solúvel se destaca em tempos de alta de preços, o que impacta, com certeza, o bolso do consumidor”, afirma. “Por ter uma característica de antecipação de contratos, ou seja, de vendas muito antecipadas, suaviza essas grandes volatilidades do mercado, e também permite que o consumo se fortaleça mesmo diante de volatilidades e cotações em termos de bolsas internacionais da commodity do café”, diz ele.

Solúvel não é tudo igual

No mercado interno, as projeções são otimistas para os próximos anos. “O Brasil, como segundo maior consumidor de café, tem muito espaço para crescer no consumo de solúvel, e isto está ligado à nossa capacidade de transmitir para os consumidores que café solúvel não é tudo igual”, avalia Lima. Hoje em dia, é possível encontrar uma diversidade maior de blends, processos (aglomerado, spray dried e freeze dried ou liofilizado) e embalagens nas prateleiras.

Para a gigante Nescafé, é visível que a versatilidade do produto está diretamente ligada ao seu crescente consumo. “Acreditamos que a categoria continuará evoluindo, impulsionada por tendências como café gelado, personalização do consumo, interesse por cafés premium e a busca por preparos práticos, sem abrir mão do sabor”, comenta Gabriela Monsanto, gerente de marketing da Nescafé. De olho neste mercado em expansão e nos novos consumidores, a tradicional marca de solúvel lançou, em novembro de 2024, o Nescafé ICE, desenvolvido com tecnologia que permite a dissolução instantânea em água ou leite gelados. “Essa inovação representa um avanço significativo na categoria e chega ao mercado para atender a uma demanda crescente por cafés gelados, que já são uma tendência consolidada em diversos países e vêm ganhando força no Brasil”, explica.

Empresas que originalmente trabalham com cafés especiais em grãos também enxergam no produto uma oportunidade de mercado, como é o caso da Tocaya. A torrefação mineira pretende lançar, ainda no primeiro semestre de 2025, seu primeiro café solúvel liofilizado, feito com grãos 100% arábica do próprio portfólio. A ideia surgiu depois que a fundadora e mestre de torras, Juliana Ganan, viajou para o exterior e provou solúveis feitos com diferentes cafés de qualidade.

E por que não aplicar a ideia aqui? O desenvolvimento foi minucioso para chegar ao padrão de qualidade desejado. “O processo do nosso liofilizado envolve encontrar uma receita ideal para cada batelada de café, extraindo somente os atributos desejáveis daquele lote. Em seguida, passa para o congelamento e só depois para o liofilizador, que opera também em temperaturas extremamente baixas”, explica. De acordo com ela, este processo preserva os aromas e sabores originais da bebida, resultando em um perfil mais complexo.

“Acreditamos que o produto vá servir para os consumidores de cafés especiais quando eles não tiverem acesso a uma cafeteria com bons cafés, ou estiverem viajando e sem acesso ao seu aparato particular para fazer um café do zero”, comenta Juliana. “Como somos pequenos, a produção vai ser em pequena escala e bastante cuidadosa, para que o resultado se reflita em cada pacote”, projeta.

As inovações no mercado são fruto de uma melhor percepção do consumidor e vice-versa. “O que a gente tem visto é o aumento do consumo justamente quando se tem cafés que traduzem melhor qualidade”, aponta Eliana Relvas, cafeóloga e consultora da Abics. “Ele acaba não substituindo [o filtrado e o espresso], mas sendo uma alternativa, por sua praticidade e validade. Até porque um café solúvel pode durar até dois anos se embalado corretamente, enquanto que o torrado e moído tem uma validade menor, pois oxida mais rápido”, menciona. “Lembrando que café solúvel é só café e água, não tem nenhum tipo de aditivo e nem conservante”, completa a especialista.

Apesar dos avanços, há um longo caminho a percorrer. “O nosso maior desafio ainda é ter uma comunicação com os consumidores para que se quebre esse preconceito, esse paradigma de dizer que solúvel não é um café de qualidade, que só pode ser misturado com leite”, destaca Lima. Neste sentido, uma das ações mais recentes da Abics foi o lançamento do site descubracafesoluvel.com. No ar desde 20 de fevereiro, a página traz informações sobre os processos de fabricação do solúvel, as diferenças entre os selos das categorias de qualidade, suas variações de preparo, entre outros conteúdos.

Para Vanusia, tanto para o mercado interno quanto externo, é preciso continuar mostrando que pode existir qualidade no solúvel. “Estamos quebrando barreiras, mas elas ainda existem”.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Felipe Gombossy

Barista

Curitiba domina pódios dos Campeonatos Brasileiros de Latte Art e CIGS

Pódio do Campeonato Brasileiro de Latte Art

Florianópolis (SC) sediou, de 4 a 6 de abril, duas modalidades dos campeonatos brasileiros de barista. Realizadas pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) no Shopping Oka Floripa, as disputas de Latte Art e Coffee in Good Spirits contaram com baristas da cena de Curitiba (PR) no topo dos pódios: Eduardo Olímpio e Leo Oliva.

A competição que avalia as técnicas na execução de desenhos com leite e café contou, este ano, com 16 participantes. Além de Olímpio, os baristas Isis Correa, Joabner Santana, Tiago Rocha, Vinicius Dias e Wesley Oliveira classificaram-se para a final, que foi disputada no domingo (6). Eduardo Olímpio, da Naveia, levou a melhor e tornou-se bicampeão da categoria, seguido por Tiago Rocha (Naveia, de Curitiba), em segundo, e Vinicius Dias (Over Coffee Roasters, de São Paulo), em terceiro.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits

Já a disputa de drinques alcoólicos com café contou com 11 baristas na arena. A final foi composta por Leo Oliva, Daniel Munari, Emerson Nascimento, Gustavo Leão, Lucas Almeida e Lucas Biss. Após alcançar a terceira colocação em 2024, Leo Oliva, do Mykola Bar, conquistou o primeiro lugar neste ano. Na sequência vieram dois nomes de peso: em segundo, Daniel Munari (Royalty Quality Coffee, de Curitiba), vencedor em 2023 e em 2024, e, em terceiro, Emerson Nascimento (Coffee Five, do Rio de Janeiro), que já levou o troféu nos anos de 2017 e 2020.

A próxima etapa acontece de 26 a 28 de junho, quando os campeões nacionais representarão o Brasil nos Campeonatos Mundiais de Latte Art e Coffee in Good Spirits, que acontecem na World of Coffee, em Genebra, Suíça.

TEXTO Redação • FOTO BSCA

Cafezal

Mantiqueira de Minas alcança 1 milhão de embalagens comercializadas com IG

A Região Mantiqueira de Minas alcançou, em março, a marca de 1 milhão de embalagens de café torrado comercializadas com o selo de Indicação Geográfica (IG).

Localizada no lado mineiro da Serra da Mantiqueira, no sul do estado, a região cafeeira – que recebeu seu IP em 2011 e a DO em 2020 – reúne 25 municípios, com cerca de 8 mil cafeicultores, 83% deles sendo pequenos agricultores. O cultivo de café na região se espalha por 55 mil hectares, responsável por entregar anualmente, em média, 1.150 milhões de sacas do grão (60 kg), segundo dados de 2024 da Emater.

De acordo com Lília Maria Dias Junqueira, gerente administrativa da Aprocam, entidade gestora da DO, a marca de um milhão de embalagens refere-se aos cafés com pontuação mínima de 83 pontos (e que cumprem todos os critérios técnicos), comercializados no mercado interno para todo o país. “Pela leitura do QR Code, na plataforma digital, o consumidor pode ter acesso a todas as informações de cada um desses lotes, como localização geográfica, histórias, fotos e perfil sensorial dos cafés”, diz Lilian. “É uma conquista dos produtores, que plantam, cuidam e trabalham com dedicação para obter um produto diferenciado”, completa ela.

Saiba mais:

O café é cultivado na Mantiqueira de Minas, no sul do Estado de Minas Gerais, desde meados do século XIX, e teve uma expansão significativa entre 1913 e 1925.

A partir de 1996, a região passou por um processo de aprimoramento tecnológico, com a introdução de novas cultivares e modernização da infraestrutura pós-colheita, tornando-se uma das principais produtoras de cafés de qualidade no Brasil.

Entre as variedades mais plantadas estão os arábicas bourbon, arara, catuaí, catucaí e mundo novo, mas produtores vêm buscando novas variedades.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação
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