Barista

Will Coffee: na ponta do coração

Em Contagem, casal transformou a casa de família em referência de cafeteria, experiência e atendimento em Minas Gerais: “O café precisa do detalhe”

Um quarto e uma ideia na cabeça. Assim começou o sonho de um casal na região metropolitana de Belo Horizonte. Na própria residência em Contagem, enquanto conversava sobre café e como poderia ganhar a vida, o casal Marcos e Michele teve um impulso: transformar o próprio quarto em que eles dormiam em uma cafeteria. O que pareceu loucura em um primeiro momento se tornou a realidade deles dias depois. Aproveitando o estilo professor Pardal de Marcos, mais conhecido como Will, o espaço diminuto ganhou nova cara: balcão, mesinhas, alguns quadros e muita dedicação ao tema café, ações que deram vida à Cafeteria Will Coffee.

Marcos era técnico de manutenção industrial havia dezessete anos e um estudioso de café. “As pessoas me achavam chato, porque nas rodinhas de amigos, enquanto falavam de futebol, eu queria falar de café.” Como não tinha condições de abrir uma cafeteria nos moldes tradicionais, em ponto movimentado e com grandes investimentos, o casal resolveu: “Vamos abrir aqui mesmo, fora do eixo até da minha cidade”. Eles começaram, em 2012, com uma máquina de cápsulas em um ambiente que continuava com cara de casa e, segundo, Marcos, “não tinha nada de cafeteria”.

“Nos primeiros dias vendemos 115 cápsulas. Eu ia à rua e convidava as pessoas para entrar na minha cafeteria: ‘Você gosta de café?’. Saía com uma garrafa térmica e pão de queijo e oferecia às pessoas até no banco. Elas me viam como ridículo, eu sei. Eu não via, estava fazendo o que meu coração e minha intuição mandavam. Loucura cada um tem uma, a minha loucura conseguia ver lá na frente, mas as outras pessoas não.” Em seis meses a ação de Will deu resultado e as pessoas começaram a visitar a cafeteria, principalmente os jovens da região.

Depois de um ano de cafeteria, Will investiu em uma máquina de espresso superautomática, ao fazer um curso de barista com a profissional Alda Barroso. “Eu não tinha café bom no começo, depois fui evoluindo. Você tem que valorizar cada momento em que está. A minha empolgação é igual até hoje. É muita história que aconteceu aqui em pouco tempo.”

A energia do casal e o brilho nos olhos são percebidos logo ao entrar. Os clientes são conhecidos pelo nome, e ai deles se não forem recebê-los e cumprimentá-los ao entrar e sair da cafeteria. Ali todos querem se sentir parte da família. Aliás, Will é o apelido de Marcos desde pequeno, em homenagem a Will Robinson, da série Perdidos no Espaço, uma família que viajava a bordo de uma nave. Nada peculiar, assim como a história dele.

Experiência de servir
Depois de participar da Semana Internacional do Café, em 2013, Will e Michele começaram a conhecer outros produtos de qualidade e passaram a escolher com minúcia o que iam servir. Will fez cursos na Academia do Café, em Belo Horizonte, e começou a desenvolver os métodos de preparo. Até a cerimônia do café turco eles realizam, com hora marcada, com um utensílio ibrik de 230 anos que ganharam de uma amiga.

A cafeteria tem várias peculiaridades, uma delas é que a porta fica fechada e os clientes chegam por indicação. As mídias sociais ajudam a divulgar e os depoimentos dos consumidores que frequentam são o chamariz para os próximos clientes. Muitos estrangeiros, turistas e moradores da cidade chegam para conhecer o espaço. A experiência começa já ao subir as escadas estreitas que, nas laterais, têm livros sobre o tema. No primeiro salão tudo é feito por Marcos, desde a miniatura da própria cafeteria até quadros e copos customizados. No cômodo ao lado, uma ampliação do projeto original, várias mesas e sofás e fotos de diversos lugares pelo mundo dão um ar aconchegante ao lugar, que funciona das 2 da tarde às 10 da noite.

Os métodos ganham releituras e novos acessórios de madeira auxiliam no momento de preparar a bebida na mesa, uma das experiências de quem visita a casa. “O café, quanto mais você sabe, mais te dá uma sensação de ignorância. Estou sempre procurando novas informações e cursos”, diz Will. As ideias dele para montar as invenções “nascem do nada”, segundo o próprio barista. A aeroprensa foi uma delas: o utensílio é de madeira, onde se encaixa a aeropress e, por meio de uma manivela, o café recebe a pressão e é servido ao cliente.

Michele, esposa de Will há nove anos, está todo o tempo ao lado do barista-artista-inventor. É ela quem faz também o atendimento, drinques e frapês e, claro, controla as finanças do empreendimento. “A Will Coffee não é só uma cafeteria. Ela tem um lado humano muito forte.”

O próximo passo é começar a torrar o próprio café e intensificar os cursos para os apreciadores. Depois de quatro anos de funcionamento, hoje já contam com o primeiro funcionário, o barista Douglas Condé. Para Will, “tudo tinha que acontecer agora, que existe um cenário para o café especial no Brasil”. Ele acredita que talvez a ideia não tivesse vingado anos atrás. Já Michele explica que “o sonho é que a Will Coffee se torne um ponto de encontro”. Vamos avisá-los: esse sonho já foi alcançado, não é mesmo?

ONDE ENCONTRAR O BARISTA
Rua Rio Marabá, 146 – Contagem (MG)
cafeteriawillcoffeebrasil

(Texto originalmente publicado em 2015 na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Bruno Lavorato

Cafeteria & Afins

Senhor Espresso – São José do Rio Pardo (SP)

Próximo à praça da igreja matriz, a casa trabalha com grãos selecionados e comprados diretamente pelo dono do estabelecimento, que desempenha as funções de provador, mestre de torra e barista. As variedades encontradas por lá são bastante diversificadas (mundo novo, catuaí amarelo e vermelho, catucaí vermelho, obatã, etc.), assim como os métodos (hario V60, chemex, prensa francesa, sifão, aeropress) e o tradicional espresso.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Silva Jardim, 216
Bairro Centro
Cidade São José do Rio Pardo
Estado São Paulo
País Brasil
Website http://www.senhorespresso.com.br
Telefone (19) 3608-2728
Horário de Atendimento De seg. a sáb., 8h/19h. Fecha dom. e feriados
FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Vimi Café – Três Pontas (MG)

Aconchego, Carinho, Abraço, Cafuné, Beijoca, Chamego. Mais do que originalidade, o nome dos blends criados e servidos na Vimi Café refletem os sentimentos que essa bebida deseja despertar em quem a consome. A proposta é ousada: microtorrefação e cafeteria em uma cidade de muitos produtores de café mas que ainda é principiante no consumo de cafés especiais. Luciano de Faria, 36 anos, é classificador de café e, depois de comprar um torrador para fazer experiências em casa para consumo próprio, juntou-se à mulher, Lidiane, e à sogra, Denize, a fim de dividir com a cidade as suas descobertas.

A inauguração ocorreu em maio de 2016 após um ano de planejamento de negócios. Hoje na casa são torrados pelo barista e mestre de torra Jefferson Faria de Moura, em um Carmomaq Caloratto S10, oito tipos de café que misturam grãos de cinco propriedades divididos em duas famílias. A Linha Sentimentos trata a bebida como um afago. “Acreditamos que a Vimi é um carinho em forma de café”. Há nomes como Quero Beijoca, Quero Cafuné, Quero Abraço, Quero Chamego, Quero Aconchego e Quero Carinho. Já a linha Super Especiais se divide em Afro Honey e Cherry Bomb. Nos preparos, dá para escolher entre espresso, latte, hario v60, kalitta, clever, chemex, aeropress, coador de pano, syphon hario, cold brew e cupping, além de drinques alcoólicos e chocolate quente.

Tudo no cardápio sai da cozinha da casa, feito de maneira artesanal, com foco nos lanches e quitutes rápidos. O mais pedido é o toast, que pode ser de queijo com presunto ou peito de peru e marguerita. Os pães de queijo e a torta de churro também fazem sucesso.


(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso, referente aos meses setembro, outubro e novembro de 2017 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Ítalo Tomagnini, 213 A
Bairro Centro
Cidade Três Pontas
Estado Minas Gerais
País Brasil
Website http://www.vimicafe.com.br
Telefone (35) 3265-3906
Horário de Atendimento De seg. a sáb., 10h/20h
TEXTO Cíntia Marcucci • FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Zayin Café – Vitória (ES)

Grãos provenientes de microlotes são servidos em preparos como espresso, extraído de uma La Spaziale, coado (filtro tradicional e hario V60) e aeropress para os amantes de cafés e frequentadores da casa que buscam um ambiente agradável e aconchegante no centro da cidade de Vitória. Sanduíches, saladas, doces, bolos e pequenas refeições completam o cardápio.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Graciano Neves, 99 loja 5
Bairro Centro
Cidade Vitória
Estado Espírito Santo
País Brasil
Website http://www.zayincafe.com.br
Telefone (27) 3102-9818
Horário de Atendimento De seg. a qui. 9h/18h30; sex. 9h/16h. Fecha sáb., dom. e feriados
TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Prepare-se para a Páscoa!

A Páscoa está chegando e com ela vem as novidades no mundo do chocolate. Para te deixar a par do assunto, selecionamos não apenas ovos e doces, mas também dicas de acessórios e oficinas para você se divertir nessa época do ano. Confira!

Nutella Crocante, por Genoveva Doçaria

A doçaria preparou novidades para a páscoa, dentre elas está o ovo de nutella crocante, com recheio de creme de avelã e crocantes de wafer. Preço: R$ 75 (500g) Onde encontrar: Alameda Itu, 1306, Cerqueira César – São Paulo (SP). Mais informações: www.genovevadoces.com.br

Caixa Clássicos, por Ofner

Da famosa marca Ofner, a caixa vem com três tipos de bombom: amêndoas coberto com chocolate meio amargo e meia amêndoa, nozes coberto com chocolate meio amargo e meia noz e praline de avelã coberto com chocolate ao leite e meia avelã. Preço: R$ 89,50 (250g) Mais informações: www.ofner.com.br

Gato Fino, por ASSEAMA

Esses lindos gatinhos possuem dois sabores a sua escolha: chocolate belga meio amargo ou chocolate ao leite de soja com blend belga exclusivo da chocolateria. Preço: R$ 21 (100g) Onde encontrar: Rua França Pinto, 78, Vila Mariana – São Paulo (SP) Mais informações: www.asseama.org.br

Kit de páscoa, por Starbucks

A cafeteria está com uma novidade para os fãs da marca. O kit de páscoa vem com uma caneca de 355 ml da Starbucks e um ovo de chocolate ao leite belga recheado com bolinhas de chocolate branco e ao leite. Preço: R$ 59,90 (250g) Mais informações: www.starbucks.com.br

Ovo de páscoa, por Água de Coco

A grife cearense está com lançamentos que contam com embalagens especiais e desenvolvidas com tema praiano, dentre eles o branco velvet com pistache, feito com chocolate belga. Preço: R$ 119 (350g) Onde encontrar: A linha está disponível em apenas 3 cidades brasileiras: Fortaleza (Rio Mar e Iguatemi), João Pessoa (Manaíra Shopping) e São Paulo (Oscar Freire). Mais informações: www.aguadecoco.com.br

Ovo de chocolate com café, por Café Épico

Misturando o clima da páscoa e a matéria-prima da casa, a cafeteria criou um ovo de páscoa feito com chocolate amargo e café. Além disso, o ovo vem recheado com quatro pastilhas de chocolate que formam a palavra “café”. Preço: R$ 45 (250g) Onde encontrar: Av. Mem de Sá, 144, Lapa – Rio de Janeiro (RJ) Mais informações: www.cafeepico.com.br

Saquinho de coelhinho, por Le Délice

O saquinho acompanha sete ovinhos sortidos nos sabores chocolate ao leite, crocante e branco. Todos são feitos com chocolate belga. Preço: R$ 38 (100g) Mais informações: www.ledelice.com.br

Ovo de colher, por KKO Gourmet

Para fugir do tradicional ovo de chocolate, a confeitaria está com 14 sabores diferentes de ovos de colher, como cenoura trufado, brownie, palha italiana, pão de mel, entre outros. Preço: De R$ 28 a R$ 80, dependendo do sabor (150g, 250g e 500g) Mais informações: www.facebook.com/kkogourmet

Ovo de páscoa Hello Kitty, por Ofner e Sanrio

Para a criançada e os fãs da Hello Kitty, o ovo de chocolate ao leite recheado de língua de gato acompanha uma pelúcia da personagem de 25x30cm. Preço: R$ 85 (150g) Mais informações: www.ofner.com.br

Ovos de colher, por Padaria Brasileira

Para esta páscoa a Padaria Brasileira está trazendo uma novidade nos ovos de colher: o ovo recheado com brigadeiro de oreo. Com casca de chocolate ao leite, o ovo é todo decorado com biscoitos oreo. Preço: R$ 12,90 (80g) e R$ 53 (560g) Mais informações: www.padariabrasileira.com.br

Make Capricho, por Cacau Show

Para quem ama maquiagem, a caixa Make Capricho é ótima. Com ovinhos de chocolate ao leite com recheio sabor iogurte de morango, o kit conta também com um jogo de pincéis para make. Preço: 39,90 Mais informações: www.cacaushow.com.br

Ovo Dulce Encanto, por Havanna e Pandora

Em parceria, a Havanna e a joalheria Pandora lançaram a coleção exclusiva e limitada de páscoa: o ovo Dulce Encanto. São quatro mini ovos de chocolate de 50g recheados com doce de leite que acompanham um bracelete de couro preto com fecho de prata. Preço: R$ 215 Mais informações: www.pandorajoias.com.br

Mochila com coelho de pelúcia, por Le Délice

A bolsa de rodinha com coelhinho de pelúcia conta com um ovo de chocolate belga de 200g, kit de bolinha de sabão e massinha de modelar. Preço: R$ 105 Mais informações: www.ledelice.com.br

Prato com tampa, por Tok&Stok

A linha de páscoa da Tok&Stok mistura atualidade e tradição, abusando do amarelo, preto e grafismo. Feito de cerâmica, o prato com tampa é perfeito para decorar e servir a mesa da festa. Preço: R$ 69,90 Mais informações: www.tokstok.com.br

Oficina especial de Páscoa, Shopping Penha
Do dia 30 de março a 30 de abril, o Shopping Penha contará com uma oficina de páscoa para as crianças rechearem e confeitarem cupcakes e minipizzas ou preparar e confeitar brigadeiros.  Preço: gratuito Endereço: Espaço Kids – Piso Térreo – Rua Dr. João Ribeiro, 304, Penha – São Paulo (SP) Mais informações: de quinta a sábado, das 12h às 20h; domingos, das 14h às 20h. Duração de 30 min.

DICA: Truck Ofner

Para quem está na cidade de São Paulo, o Truck Ofner volta para a páscoa desse ano. Até o dia 15 de abril, o serviço passará por diversos pontos da cidade, disponibilizando as delícias da loja a preço de fábrica. Com toda a linha de ovos de páscoa, incluindo os lançamentos, o Truck Ofner ficará em áreas comerciais durante a semana e em condomínios residenciais nos fins de semana, oferecendo produtos a partir de R$ 19,90. Mais informações: www.facebook.com/LojasOfnerSP

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Cafezal

Um Só Caparaó

Escalando ladeiras íngremes, cafés da Serra do Caparaó chegam ao topo da qualidade e têm proporcionado a união entre os produtores.

Lá em cima, os cafés da região do Caparaó. Os cafeeiros vivem a mais de mil metros. Os produtores colhem ladeira acima. Os técnicos também escalam. Os provadores sobem as notas lá para o topo. Os cafés da região do Caparaó estão metade de um lado, metade do outro. Os cafeeiros, com talhões em Minas Gerais e talhões no Espírito Santo. Cafeicultores, com sítios nos dois estados. Os técnicos, os provadores, todos capixabas e mineiros. A força do Caparaó não é bruta, mas, de grão em grão, se soma. Cada passo na região é um degrau acima na ladeira. Também é um passo para o lado. Divisa entre estados, a região tem características próprias que são motivo de união. “Aqui não tem muito isso de capixaba ou mineiro. Nós somos do Caparaó”, explica o produtor Fábio Protazio de Abreu, que cultiva no Sítio Forquilha Café, em Espera Feliz (MG). Mas ele também tem talhões em Dores do Rio Preto (ES). “É o rio que corta a propriedade e a divide entre os dois municípios, eu tenho café dos dois”, diverte-se.

Cortando o Caparaó, o Rio Preto divide os municípios de Espera Feliz (MG) e Dores do Rio Preto (ES)

As duas realidades se completam e, em meio ao Parque Nacional do Caparaó, seus maiores símbolos se mostram, imponentes. O Pico da Bandeira, com seus 2.892 metros de altitude, o terceiro mais alto do País, e, entre os produtores, a Pedra Menina, a 2.037 metros. “O ponto mais alto de cafeicultura que acompanhamos está a 1.400 metros. Já temos produtores querendo levar a 1.500 metros”, revela João Batista Pavesi, professor do Ifes-Campus de Alegre, no Espírito Santo.

É o instituto que atende boa parte da demanda por técnicos na região. Foi lá que surgiu o Curso de Tecnologia em Cafeicultura, o primeiro nesse formato no Brasil. Também nasceu lá a Caparaó Jr., empresa que conecta alunos orientados por professores para prestar serviço de agronomia e consultoria aos produtores.

Para a cafeicultura local, os últimos seis anos foram decisivos. Eles marcaram o início do ponto de virada dessa história. “Os concursos mostraram que tínhamos potencial. Depois que os cafeicultores do Caparaó ganharam por anos subsequentes, descobriram que o café era, de fato, muito bom”, conta Pavesi, que também orienta a empresa júnior.

Com esse incentivo, uma dúvida mudou o rumo do trabalho da Caparaó Jr., que até 2012 só atuava com manejo. “Foi o seu Manoel Protasio, pai do Fábio, quem me perguntou por que eles estavam ganhando concursos, se o café era mesmo bom, se aquilo era uma coincidência. Como saber o que os tornou campeões?”, lembra Pavesi. “Com essa pergunta, nós começamos a investigar o que o Caparaó tem”, completa.

Para a investigação, os pesquisadores criaram, em 2013, o projeto Grãos do Caparaó, e, por dois anos, fizeram investigações com o apoio do IFSULDEMINAS, câmpus Muzambinho, que avaliou a qualidade com três Q-Graders. “Nós selecionamos 110 propriedades e vasculhamos de ponta a ponta a estrutura e a condição socioeconômica do produtor, características de topografia, manejo e solo”, relembra Pavesi.

O pequeno produtor Fábio Protazio de Abreu cultiva suas terrar em conjunto com toda a família. Seu pai, Manoel Protasio, é um dos entusiastas do café especial do Caparaó

Da pesquisa à base
A pesquisa descobriu o que hoje muitos mais já sabem. “No primeiro ano, 94 cafés beberam 80 pontos acima. Por isso, hoje nós buscamos a Denominação de Origem para o Caparaó, porque a região mostra que existe, além do pertencimento, uma característica do café”, explica o professor.

A Denominação de Origem (DO) para o Café do Caparaó deve incluir, em princípio, quinze municípios localizados no entorno do Parque Nacional do Caparaó, sendo nove do Espírito Santo (Dores do Rio Preto, Divino de São Lourenço, Guaçuí, Alegre, Muniz Freire, Ibitirama, Iúna, Irupi e Ibatiba) e seis de Minas Gerais (Espera Feliz, Caparaó, Alto Caparaó, Manhumirim, Alto Jequitibá e Martins Soares). A iniciativa tem apoio do Sebrae.

Em Pedra Menina, distrito de Dores do Rio Preto, encontra-se a comunidade de Forquilha do Rio, que reúne produtores como o próprio Fábio e seu primo Afonso Lacerda. Em comum, eles têm também o rio, que corta as propriedades, e a vida de agricultores familiares, cujo trabalho diário nas lavouras divididas entre as famílias conta com esposas, pais e irmãos e agora o pódio do concurso Coffee of the Year de 2016, que aconteceu durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG). A competição é conhecida da Serra do Caparaó, que já tem Clayton Barrossa Monteiro, da Fazenda Ninho da Águia, como bicampeão.

Agora foi a vez de Afonso Lacerda sagrar-se campeão. Fábio alcançou o terceiro lugar. No Sítio Pedra Menina, Afonso produz 600 sacas por ano, sendo cerca de 80% de cafés especiais. No processo, ele cuida da lavoura, e sua esposa, Altilina Lacerda, trabalha com o desafio que a família decidiu encarar: a torra dos cafés. Assim, eles passaram a investir no marketing do seu produto enquanto o viam nascer nos cafezais. “Criar nossa própria marca foi um avanço bacana para alavancar a identidade, daí o nome Café Forquilha do Rio”, conta o produtor.

O campeão, Afonso Lacerda, manteve o ciclo de vitória do Caparaó no concurso Coffee of the Year 2016

O passo culminou em novo investimento. Observando a oportunidade de turismo na região, os Lacerda decidiram abrir, em 2015, a Cafeteria Onofre, nome que homenageia o pai de Afonso. “Aqui, as pessoas podem ver a qualidade de nossos cafés. Normalmente gostam e compram, pois temos um grande fluxo de turismo”, revela.

Nas lavouras vizinhas, Fábio atua em parceria com a esposa, Hélia Luiz Vieira Abreu, que seca os grãos com cuidado. Eles veem agora seus frutos de catuaí vermelho e caparaó amarelo ser enaltecidos desde que o reconhecimento da região veio. “Este ano foi muito bom se ver valorizado! O turismo também está aumentando muito, estamos com até 50% mais por causa dos concursos.”

Além da porteira
Hoje, a região, que já precisou pedir auxílio de provadores de fora, conta com pelo menos sete Q-Graders. Entre eles, Jhone Lacerda, produtor e estudante do Ifes-Campus de Alegre. No Sítio Santa Rita, em Espera Feliz (MG), ao lado da esposa, do pai, da irmã e do cunhado, ele cultiva mundo novo, catuaí, catiguá, topázio, icatu, caturra, obatã, bourbon e caparaó amarelo. A última variedade é considerada nova pelos produtores e técnicos. “Nenhum fisiologista conseguiu identificar ainda”, pontua Jhone.

No sítio, o produtor e seu pai, Tarcísio Lacerda, desenvolvem mais do que cafés. Eles projetam novos equipamentos voltados para a qualidade. “Patenteamos um secador para microlotes feito de madeira reflorestada da propriedade. Mas, a todos os produtores que vêm aqui, nós explicamos como funciona e como ele pode montar um também. A ideia é difundir esse conhecimento mesmo”, conta.

Jhone e seu pai, Tarcísio Lacerda, secam em terreiro suspenso e produzem café fermentado

Com capacidade total de 30 mil litros e divisórias para separar os lotes, o objetivo da invenção é possibilitar a seca de microlotes em uma região que é muito úmida. A dupla também criou uma esteira para facilitar a separação dos grãos, e um software para medir a temperatura e criar um inovador perfil de fermentação.

Entre uma criação e outra, Jhone se dedica à prova. “Os outros produtores também costumam trazer café aqui e ajudamos. De quatro anos pra cá, dei seis minicursos de classificação e degustação na região. Já existe uma relação de produtor para produtor então a linguagem é a mesma”, pontua.

O trabalho se desdobra também na marca própria, a Sítio Santa Rita, e o espaço onde servem os grãos, A Cafeteria. Ambos ficam sob os cuidados da irmã de Jhone, Miriam, e seu marido Fred Ayres. “Nós fazemos experiências com fermentação e damos um nome especial a cada lote, de acordo com a característica que apresenta na prova. Toda a parte de identidade da marca é com o Fred”, conta Jhone, sobre a divisão na família que respira café em todas as pontas.

Miriam e Fred Ayres

Conhecida na região, Cecilia Nakao, Q-Grader, também guiou Afonso e sua família em seus primeiros passos na arte da torra. Para ela, a relação com o Parque do Caparaó se iniciou ainda em 2004. “Comecei com turismo, quando inauguramos a Pousada Villa Januária. Na propriedade, já havia um pé de café, então isso despertou a vontade de trabalhar com café”, conta.

Ainda em 2005, ela decidiu seguir sua intuição. “Sem entender direito, já imaginava que tinha um microclima específico e que podia trabalhar com qualidade e fazer experimento. Fui uma das primeiras a tentar colheita seletiva e usar descascador manual.”

As experiências abriram caminho para ideias que pudessem caminhar com a identidade local. “Comecei a fazer a cultura orgânica. Como a gente vivia direto no Parque do Caparaó, fazia mais sentido”, conta ela, que oferece grãos para os consumidores e fica próxima à entrada do Parque. Cecilia criou amplo contato com os cafeicultores familiares que a rodeiam. “Eles são tidos como guardiões do parque, porque as propriedades formam um cinturão e os produtores têm agricultura sustentável. A presença deles inibe a entrada de madeireiros ou caçadores”, afirma.

Cecília Nakao

Um dos produtores em quem Cecilia viu potencial, Edson Abreu Oliveira, de 27 anos, o Edinho, também teve seu produto destacado em um concurso, mas de maneira diferente. Ele é dono do café do Sítio Oliveira, utilizado por Lucas Salomão, vencedor da 5ª Copa Barista, ainda durante a Semana Internacional do Café (SIC), neste ano.

“Eu comecei há cerca de quatro anos a mexer com cafés especiais. Nós tivemos a ajuda da Associação de Produtores Rurais de Pedra Menina, que ganhou um descascador comunitário grande. Então, começamos a processar esses cafés”, revela Edinho.

Vendo a vitória de conterrâneos, ele sentiu-se incentivado a prosseguir com a produção, que hoje rende de 15 a 20 sacas de seletiva por ano. “Os meninos do seu Onofre começaram a ganhar todas as premiações. Então os olhos do mundo se voltaram para lá nos cafés especiais. Isso incentivou os produtores, começamos a trabalhar e estamos na luta!”

Edson Abreu em sua lavoura, onde realiza colheita seletiva

Do sonho ao reconhecimento, os grãos do produtor foram comprados por Cecilia, passaram pelas mãos dos torrefadores da Wolff Café, para depois chegarem ao barista e, por fim, vencerem a competição. “Eu conheci o Lucas e ele falou que o café ficou espetacular, com notas sensoriais muito altas”, afirma Edinho. As histórias se entrelaçam pela força da região em busca da qualidade.

As flores de março
Dos laços estabelecidos entre os produtores, a colheita se destaca pela vivacidade. “Buscamos colher seletivamente, porque, para nós, que somos familiares, compensa. Conseguimos apanhar os frutos bem maduros”, conta Afonso. A colheita acontece com intensidade na região entre os meses de junho e novembro, explica Pavesi. “De 2014 pra cá, o valor do fruto advindo da florada de março – colhido agora em novembro – vem crescendo”, revela.

O professor João Batista Pavesi acompanhou de perto o desenvolvimento da região e busca hoje reunir informações para o Caparaó conquistar a Denominação de Origem

O cafeeiro tem floradas entre setembro e outubro no Caparaó, mas, quando chega março, o fruto que estava no pé, ainda aquoso, ganha a companhia de novas flores. Até 2014, o professor conta que todo o café era derriçado quando se colhia o café da florada tradicional, e esse frutinho menor não era utilizado.

Agora, a realidade mudou e o que era problema se tornou solução. “Os produtores começaram a levar esses cafés da ponta do ramo, colhido em novembro, para concurso e degustação e ele chamou atenção. O Japão está comprando também”, completa Pavesi.

Edinho, por exemplo, tem na florada de março de seu catuaí vermelho a maior expectativa da safra, que colhe apenas em novembro. “Modifica-se a colheita para ser mais lenta, mas paga-se mais e, como o café começou a ter uma aceitação, isso está mudando tudo aqui. É uma pedra preciosa”, pondera o professor.

Só pela Caparaó Jr. são 1.670 propriedades atendidas, com perfil de agricultura familiar, e média de 100 a 200 sacas ao ano. Identificar o que compõe a região tem sido a prioridade dos envolvidos na cadeia local, de produtores a pesquisadores. “Nós temos hoje uma ideia melhor a respeito de altitude, umidade, temperatura, precocidade na colheita e colheitas tardias”. Os resultados vêm apresentando componentes de ambiente, topografia, planta, manejo e clima que proporcionam qualidade. A força da região, cercada por Mata Atlântica, picos e pedras, conhece agora o potencial da união de histórias e sonhos.


(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Thais Fernandes • FOTO Bruno Lavorato

A Semana Internacional é, antes de tudo, uma celebração do café

A Semana Internacional do Café (SIC) promove anualmente, no mês de setembro, o encontro de profissionais dedicados a fomentar o mercado, que cresce cada vez mais e apaixona os apreciadores da bebida. A escolha de Belo Horizonte para sediar o evento nos últimos quatro anos foi um presente para a cidade e fez jus à importância de Minas Gerais na produção de café no cenário nacional e no internacional.

O café especial vem ocupando um espaço maior nos últimos anos na capital mineira e o interesse por esse nicho merece atenção. O consumo da bebida diferenciada é uma experiência e muitos a transformam em um ritual.

A abertura de novas cafeterias, a formação e capacitação de profissionais e o interesse maior do público formador de opinião têm sido um movimento crescente. Vejo como tendência muito forte a preocupação com a qualidade do produto, que não se limita à bebida na xícara, mas engloba todos os elos da cadeia, do plantio à mesa.

O café é o protagonista desse universo, mas a cultura em torno da bebida ultrapassa as expectativas do que ela oferece como produto. A sua excelência flerta diretamente com o que está ao seu redor, principalmente durante o seu consumo – a apresentação deve ser coerente com a sua qualidade.

A preocupação com a sustentabilidade da produção, que impacta no âmbito social, econômico e ambiental, é constante. A história do café também tem se tornado muito relevante, já que o público do café especial está cada vez mais exigente e sedento de informações.

Nesse contexto, a Semana Internacional do Café contribui grandemente para o fomento da economia local, ao apresentar possibilidades e facilitar a interação de potenciais empreendedores.

O universo do café me influencia e me inspira de diversas maneiras. Tenho a bebida como uma “companheira”, presente diariamente em minha vida, e acredito que ela seja um agente importante no dia a dia de outras pessoas também. Sou frequentador assíduo de cafeterias e consumidor de cafés especiais. Observo de perto o crescimento desse mercado em Belo Horizonte e um interesse cada vez maior por parte de leigos, os coffee lovers, coffee geeks, que desejam explorar mais essa cultura. A Semana Internacional do Café favorece esse movimento, não somente como realizadora de negócios, mas também como um agente educador.

Diante desse cenário, destaco ainda as relações humanas, nas quais o café funciona como um grande provedor de negócios e amizades. Nesse aspecto, a SIC se tornou um grande ponto de encontro daqueles que vivem do café e pelo café. Ter a oportunidade de encontrar profissionais que atuam pelo País, quiçá pelo mundo, conhecer as suas trajetórias e empenho em promover um trabalho dedicado ao desenvolvimento do mercado é motivador e relevante para que cresça o interesse pelo produto.

Na última edição da SIC, tive a oportunidade de observar de perto a sinergia desse mercado e como é interessante participar e interagir com pessoas que compreendem o que significa trabalhar com café. Vai além do profissional, muitas vezes está no sangue de famílias que têm o café como tradição.

A SIC veio para agregar e tem cumprido sua missão com bastante competência. É assim que observo essa iniciativa, que aproxima pessoas, profissionais e empreendimentos focados em um só objetivo: o café!

*Renato Falci é apaixonado por café. Empreendedor com formação em Comunicação Social e Gestão de Projetos, é o fundador do CoffeeLook, escritório onde desenvolve projetos de branding e design para o mercado de café, e que transcende as artes e o seu estilo de vida. Fale com este colunista pelo e-mail colunacafe@cafeeditora.com.br ou renatofalci@coffeelook.com.br

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Renato Falci • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Mercado

Café com preço fixo? É a ideia dessa cafeteria

Já pensou em pagar um preço fixo por qualquer produto em um estabelecimento? Essa é a ideia da cafeteria israelense Cofix. Lá, cada item que está a venda custa 5 NIS, aproximadamente US$ 1,65 (R$ 5,14) e isso vale não apenas para os cafés mas também para sucos, sobremesas e até comidinhas.

Segundo o fundador da rede, Avi Katz, a ideia surgiu quando ele estava cruzando o país e decidiu parar em uma loja de conveniência com apenas alguns trocados no bolso. Após fazer seu pedido pensou: porque uma pessoa que está na estrada gasta tanto em apenas um café e um sanduíche?

Daí surgiu a Cofix. No começo, muitos não acreditavam no potencial da ideia, principalmente os concorrentes, que chegaram a dizer que o café servido era de má qualidade. Mas, como o logo da rede diz “fresh coffee, fixed price” que significa “café fresco, preço fixo”, os israelenses viram que não passavam de boatos, já que a cafeteria serve café de boa qualidade e moído na hora.

Para eliminar os custos nas lojas, a rede optou pela qualidade dos produtos ao invés do conforto. É difícil achar um lugar para se sentar ou algum garçom para te servir, porém, isso não foi um impedimento para os consumidores da cafeteria.

Sendo a primeira rede de cafés israelenses a ter ações na Bolsa de Valores de Tel Aviv, a Cofix conta com mais de 100 cafeterias espalhadas por Israel e mais outras dezenas que irão abrir em breve. A rede também abriu recentemente o primeiro supermercado Cofix, onde quase tudo custa 5 NIS. São 29 supermercados que ainda dão prejuízo à empresa, mas a expectativa é que chegue a 35 lojas e saia do vermelho.

Mas eles não param por aí, o grande objetivo da empresa é conquistar o mercado internacional com suas cafeterias.

As primeiras lojas fora do país estão na Rússia, onde a gigante norte-americana Starbucks predomina. Mesmo assim a rede israelense não se abala e acredita que seu modo de venda irá ganhar o mercado russo, já que o cappuccino oferecido por eles custa em média um dólar, enquanto o da Starbucks custa cinco vezes mais.

A meta da Cofix é abrir cem lojas na Rússia até 2018 e mil até 2022 e, pensando mais além, a rede já está mirando países europeus como a Inglaterra e cidades grandes como Nova York, onde o preço do café é alto. Segundo o CEO da empresa, Haim Aharon, “onde quer que nos instalemos, todos ao redor têm de baratear o cafezinho, e os clientes gostam muito disso”.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

Regra de Ouro

O ex-diretor financeiro Hugo Delgado é um personagem importante na gastronomia paulistana. Natural do México, Delgado chegou ao Brasil em 1999, e ajudou a mudar o perfil da cozinha mexicana na cidade. Em 2003, inaugurou com sócios o restaurante Obá, no bairro dos Jardins. O cardápio da casa combina as cozinhas italiana, brasileira e tailandesa, mas dá relevância aos pratos mexicanos, que nada lembram a cozinha tex-mex que se espraiou pela cidade.

Aquilo que atualmente chamamos de comida tex-mex tem suas raízes no estado norte-americano do Texas e em alguns outros localizados próximos à fronteira com o México, onde há forte presença desses imigrantes. “Nas últimas décadas, a cozinha tex-mex sofreu uma transformação industrial ao integrar-se à corrente de fast-food estadunidense”, lembra o restaurateur.

A cozinha “mex-mex”, por outro lado, é uma das mais antigas do planeta, mas reproduzi-la fora de seu lugar de origem não é tarefa fácil. “Por depender de ingredientes, utensílios e técnicas muito específicos, a cozinha mexicana nem sempre viaja bem”, explica Delgado. Por isso, o mexicano conta com parceiros importantes para abastecer o restaurante Obá, como a pernambucana Jerusa, que aprendeu os segredos da elaboração de uma boa tortilla – massa artesanal chata e circular feita de milho, em que se colocam diversos recheios – e fornece o produto ao restaurante há anos. Outros colaboradores são Cyro Abumussi, do Projeto Agro, que lhe vende chiles (as pimentas mexicanas) colhidos em solo brasileiro, e a empresa Jaguacy, responsável pelos avocados, abacate típico do país, de tamanho menor e sabor mais marcante.

Esses ingredientes também aparecem em outro empreendimento de Delgado e seus sócios – a Taquería La Sabrosa. Aberta na agitada Rua Augusta há dois anos, a pequena casa procura reproduzir as tradicionais taquerías de seu país. “Uma taquería é basicamente um lugar onde se comem diversos tipos de comida envoltos em nossas tortillas”, explica o cozinheiro. “No México, esse lugar pode significar desde pessoas ao redor de uma mulher que vende tacos na rua ou em um pequeno balcão até um grande restaurante, com centenas de clientes”, completa. Para Hugo, se o taco sempre matou a fome dos mexicanos em qualquer horário do dia, tornou-se uma boa solução para a fome apressada dos paulistanos. “Fazer um taco no México é como fazer um pastel de feira no Brasil”, compara.

O cardápio da La Sabrosa contou com a ajuda da chef mexicana Lourdes Hernández, que viveu em São Paulo por mais de uma década. A cozinheira, ao lado da também mexicana Antonieta Pozas, do restaurante La Mexicana, ajudou Hugo a construir o conhecimento e a apreciação da verdadeira cozinha mexicana na capital paulista.

A atuação de Delgado, porém, não se restringe a servir comida original de seu país. Todos os anos, ele e seus sócios comemoram as tradições das nações que inspiraram as cozinhas do Obá. “A cozinha de um país está vinculada à cultura local, e por isso oferecemos aos nossos clientes a experiência de vivenciar cada uma delas”, conta ele, que já preparou diversos festivais gastronômicos no restaurante. Entre os mais famosos estão o Festival de Iemanjá, em 1o de fevereiro, o Ano-Novo Tailandês, no mês de abril, o Festival da Gastronomia Mexicana e da Tequila, sempre em julho e, e em novembro, o festival do Día de los Muertos. Esse último é uma boa oportunidade para conhecer uma das festas mais tradicionais do México; além disso, ele oferece um olhar diferente sobre a vida e a morte. “Nós, mexicanos, acreditamos que nossos mortos, nesse período, recebem permissão para nos visitar e, para podermos comemorar com eles, preparamos uma linda festa”, explica Hugo.

Seu amor pela comida nasceu do convívio familiar. Hugo teve duas avós que cozinhavam muito bem e um pai formado em hotelaria. Todos os dias, na hora do almoço, ele chegava da escola e ia direto para o fogão mexer nas panelas. Aprendeu com a avó materna o preparo de tortillas de trigo, feitas diariamente. Em casa, almoçava pratos chineses, italianos e franceses. “Meus pais viajavam muito para comer e eram grandes anfitriões. Cresci com essa cultura do comer bem, de receber à mesa com velas, flores e louças”, recorda. No Obá, portanto, comer bem é uma regra de ouro.

*Cristiana Couto é jornalista especializada em gastronomia e autora de Alimentação no Brasil Imperial, Educ, São Paulo, 2015.
Fale com a colunista pelo e-mail  nacozinha@cafeeditora.com.br

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Cristiana Couto • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Receitas

Torta de cappuccino

Ingredientes
Base
• 1 pacote (150 gramas) de bolacha doce, sem recheio
• 50 g de manteiga sem sal e derretida

Recheio 1
• 300 g de chocolate branco
• 300 ml de creme de leite fresco
• 60 ml de glucose de milho (ou mel)
• 50 g de manteiga
• 75 g de açúcar mascavo
• 5 ovos
• 1 espresso curto (20 ml)
• 1 pitada de sal

Recheio 2
• 400 g de chocolate ao leite (ou meio amargo)
• 50 g de manteiga
• 250 ml de leite leia mais…

FOTO Daniel Ozana / Studio Oz • RECEITA Carole Crema, da doceria Carole crema
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