Cafezal

Como as altas temperaturas estão afetando os cafezais no Brasil?

Especialista em fisiologia vegetal explica o funcionamento da planta em clima muito quente; produtores acreditam em mais perdas em 2025

Por Cristiana Couto (colaborou Angela Ruiz)

A seca prolongada e as altas temperaturas vêm preocupando produtores de café pelo país, levantando alertas sobre possíveis quebras, inclusive, na safra de 2026. A Espresso conversou com especialistas e produtores para entender como a condição climática atual está afetando os cafezais, e qual a previsão do tempo para os próximos dias nas diversas regiões produtoras.

O dia em que a chuva parou

“O clima vinha bem até o fim de janeiro, com temperaturas amenas, bom para o desenvolvimento dos frutos, podendo melhorar as previsões da safra de 2025”, resume Jean Vilhena Faleiros, CEO da Eldorado Specialty Coffees, na Alta Mogiana, sobre as dificuldades de 2024 que, entre março e outubro, resultaram em mais de duzentos dias sem chuvas. Mas, no início de fevereiro, as chuvas pararam (4/2, em algumas regiões, 5 e 6/2, em outras). “Alguns lugares alcançaram temperaturas 15% acima da média”, relata Faleiros, que também é presidente do Instituto Brasileiro dos Cafés de Origem e da Associação dos Cafeicultores da Alta Mogiana. 

Em Araxá, no Triângulo Mineiro, Daniela Burger Aguiar, empresária à frente da Fazenda Congonhas, faz relato semelhante. “Nesta época, sempre chovia. Choveu muito em dezembro, mas agora parou. Estamos há 30 dias sem chuva”, preocupa-se ela.

Perdas e torcidas

Desde 2021 o Brasil enfrenta problemas climáticos na cafeicultura, com quebras subsequentes de safra. “Vamos torcer para que o clima fique bom, para vermos como será a de 2026, pois a de 2025 já está comprometida”, diz Faleiros. “Antes, quando ficava muito quente, chovia à noite, refrescando. Agora, nem isso temos. Tem dois anos que o clima está adverso e afetando todas as lavouras, principalmente o café”, relata Daniela, que também produz outras culturas. 

Calor de efeito 

Mas não é só o estresse hídrico que aflige os cafeicultores. As altas temperaturas, que acompanham a falta de chuvas, não só já provocaram perdas na safra atual, que vinha sofrendo danos desde 2024, como podem também afetar a safra de 2026. 

Segundo Paulo Mazzafera, especialista em fisiologia vegetal e professor-sênior do Instituto de Biologia da Unicamp, essa combinação está sendo ruim para a granação (desenvolvimento dos frutos), que acontece nessa época. “Se fosse só a falta de chuva, teríamos grãos pequenos, menores, mas com aumento da temperatura, o que estamos observando é a morte da semente no interior do fruto”, explica ele, referindo-se aos grãos denominados chochos.

“Sempre tivemos veranicos, os períodos com falta de água, mas eles nunca vieram acompanhados de temperaturas tão altas como estamos vendo”. “A questão é que viemos de vários problemas desde a geada [de 2021], que foi grave e um divisor de águas”, emenda Marco Valério Brito, presidente da Coccamig. “O mercado está sensibilizado”, diz.

Como se isso não bastasse, o que se vem observando há algum tempo nas lavouras, conta Mazzafera, é a queima de folhas por conta das temperaturas elevadas. “Quando a folha fecha os estômatos por causa da alta irradiação e por falta de água, a planta deixa de transpirar”, explica. Essa transpiração da água, porém, é um mecanismo de retirada de calor da folha. 

Essa falta de retirada de energia pela transpiração da água, ensina Mazzafera, faz com que a temperatura da folha aumente a níveis realmente muito altos. “Isso começa a gerar a morte de tecidos”, conclui. Além das folhas, diz o especialista, há também relatos da queima de frutos por fora. 

A tal da poliembrionia

Além de grãos chochos, cafeicultores têm observado o aparecimento de grãos concha. “No fruto de café existem duas lojas, e em cada uma contém um ovário”, ensina Mazzafera. Ele diz que, com o aumento de temperatura, dá-se  o fenômeno denominado poliembrionia, ou seja, o aparecimento de mais de uma semente por loja. 

Consequentemente, as sementes ficam entremeadas umas às outras e isso dá o que se convencionou chamar de grão concha. “Além das perdas para o cafeicultor durante o beneficiamento, pelo fato de o grão concha ser menor, ele também atrapalha a torra, pois vai queimar e conferir o gosto amargo ao café”, lembra ele. 

Para o cientista, a perda de café já é certa, apesar das previsões de chuvas que se aproximam. “Seria muito bom se chovesse. Mas esses grãos que já estão morrendo e os que estão formando conchas já são uma perda, não há como reverter”, afirma. 

E a chuva? 

Segundo a Climatempo, algumas áreas cafeicultoras vão se beneficiar da umidade trazida pela chuva nos próximos dias. “Neste final de primeira quinzena de março, estamos observando que a umidade começou a aumentar por causa de áreas de instabilidades que estão se espalhando por São Paulo e sul de Minas Gerais”, explica a meteorologista Nadiara Pereira. Nessas áreas, diz ela, as instabilidades ganham força e trarão chuvas regulares e com volumes “significativos” nos próximos dez dias. 

Essas chuvas mais volumosas, de acordo com a Climatempo, devem cair sobre a zona da Mata Mineira e chegar até o sul do Espírito Santo na próxima semana (entre 18 a 22 de março). 

Aos poucos a chuva vai avançar. “Nas áreas mais ao sul da região sudeste, Alta Mogiana, sul de Minas e as principais áreas de arábica vão sentir uma melhora tanto em condições de temperatura quanto em aumento das chuvas”, prevê a meteorologista. 

Mas esse avanço não deve cobrir todas as áreas cafeeiras. “Espírito Santo, áreas mais ao norte de Minas e interior da Bahia ainda vão continuar com altas temperaturas e tempo mais seco”, diz Nadiara. 

Nem tudo são flores 

Mazzafera diz que vai ser difícil avaliar o impacto da seca em diferentes regiões, já que as plantas reagem de formas distintas. Um exemplo é a diferença na exposição solar: as partes da lavoura que recebem o sol da tarde, mais intenso, tendem a sofrer mais do que aquelas que recebem a luz da manhã, que é mais amena. “É cedo para contabilizar perdas, depende da região”, afirma Brito. “O não enchimento dos frutos pode ter impactado no tamanho do grão. Mas se as chuvas chegarem, vai regular o ciclo do café e minimizar as perdas”, torce ele. 

Além das perdas já computadas com a morte dos frutos, cafeicultores e especialistas temem pela safra de 2026. “Nessa época do ano ocorre a diferenciação das gemas”, explica Mazzafera, referindo-se às estruturas que vão formar as florzinhas do café. 

“Nós veremos isso quando retornarem as chuvas, e não sabemos se essa alta temperatura afetou essa diferenciação. Não dá para ver ainda, e esse é um outro problema que pode acontecer”, alerta. “O negócio agora é esperar que a chuva venha para que aqueles cafés não fiquem com peneira muito baixa por causa de efeito na granação. Não dá pra prever muito bem o que vai acontecer, quantificar, mas que vai haver perda, vai haver perda”, lamenta Mazzafera.

Faleiros preocupa-se com as consequências desse calor para o comércio dos grãos. “O cenário de preços do café e de estoque precisam de uma estabilidade de pelo menos dois anos para mudar”, calcula. “Vínhamos com estoque bom, que supriu o mercado em 2022, após a geada de 2021. Hoje, por causa da quinta safra ruim, não tem estoque em nenhum lugar do mundo”, alerta. 

Apelo à sustentabilidade

Por fim, Mazzafera ressalta, em publicação recente, que esses impactos das altas temperaturas e da escassez de chuvas na fase da frutificação já eram previstos e sugere, nas próximas safras, o uso de práticas integrativas como irrigação, nutrição balanceada, controle de pragas e doenças, utilização de plantas de cobertura, adição de matéria orgânica e de tecnologias que aprofundem o sistema radicular para minimizar as perdas.

“Além disso, práticas conservacionistas bem estabelecidas e a utilização de agentes biológicos, biofertilizantes e bioestimulantes, são pilares indispensáveis para sustentar uma cafeicultura rentável em tempos de desafios climáticos severos”, escreveu. 

Mercado

Exportações brasileiras tem queda de 10,4% em fevereiro, diz Cecafé

Receita, porém, subiu 55,5%; cafés diferenciados representaram 25% das exportações e dobraram o faturamento; exportação de solúvel cresce 16,5%
 

Da Redação

Em fevereiro, o país exportou 3,274 milhões de sacas de café – uma queda de 10,4% em comparação com o mesmo período do ano passado, diz relatório de fevereiro do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgado nesta quinta (13). A receita, porém, é 55,5% maior, um recorde: US$ 1,190 bilhão, reflexo das cotações elevadas no mercado global (para acessar o relatório completo, clique aqui).

As exportações somam 33,452 milhões de sacas nos oito primeiros meses da safra 2024/25, o que gerou divisas de 9,723 bilhões de reais – uma alta recorde de 59,8% em receita cambial se comparada ao mesmo intervalo anterior (julho de 2023 a fevereiro de 2024).

Para Marcio Ferreira, presidente da Cecafé, “embora as bolsas internacionais tenham recuado, os preços atuais e cotações médias dos últimos meses são significativamente maiores do que aqueles praticados no mesmo período do ano anterior”. 

Preços ao consumidor podem subir 

Ferreira lembra, porém, que os canéforas do Brasil na bolsa de Londres não estão com preços competitivos como os do Vietnã, por exemplo, porque estamos na entressafra. Também os arábicas nacionais estão mais caros na bolsa de Nova York.

Sobre a diminuição do comércio de café, Ferreira cita como causas a redução de linha de crédito e um eventual recuo pontual no consumo da bebida. “Novas altas nos preços ao consumidor não devem ser descartadas. Esses potenciais aumentos gerarão uma redução no consumo”, declara. 

Safra 2026/27 pode se recuperar

Segundo Ferreira, se o inverno for sem intempéries e as chuvas retornarem em volume suficiente, a safra 2026/27 poderá ter boa florada e se recuperar. “No momento, a certeza para a safra 2025/26 é de um volume bem menor para o arábica e maior ao conilon”, prevê o presidente do Cecafé. Nesse cenário, diz ele, não será possível bater recordes de exportação, mas o Brasil ainda terá “uma participação representativa”. 

Os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés brasileiros neste primeiro bimestre, importando 1,206 milhão de sacas (16,6% do total). Em seguida vem a Alemanha (878.350 sacas, 12,1% do total), a Itália (531.260 sacas), o Japão (478.844 sacas) e a Turquia (354.904 sacas).

Problemas logísticos

Apesar de Vietnã e Indonésia estarem mais competitivos no primeiro bimestre, ambos — respectivamente, segundo e quarto maiores produtores globais — continuam ampliando a compra de café verde brasileiro. Nos dois primeiros meses do ano, os vietnamitas importaram 72.836 sacas (aumento de 297,3%), enquanto os indonésios adquiriram 47.471 sacas (um crescimento de 29,2%).

Ferreira acredita que muitas dessas exportações correspondem a contratos fechados em 2024, quando os canéforas brasileiros estavam mais competitivos. No entanto, parte desse volume ainda não foi embarcada devido a problemas logísticos –  atrasos de navios, mudanças de escala e rolagens de carga, reflexo da infraestrutura portuária defasada do país.

Solúvel cresce 16,5%

O café arábica manteve a liderança nas exportações brasileiras no primeiro bimestre, com 6,07 milhões de sacas embarcadas ( 83,4% do total). Apesar do volume expressivo, houve queda de 0,7% em relação ao mesmo período de 2024.

Na segunda posição, solúvel registrou um crescimento de 16,5%, com 640.996 sacas exportadas (8,8% do total). Já os canéforas tiveram recuo de 45,5%, somando 559.928 sacas (7,7%), enquanto o café torrado e torrado e moído apresentou o maior crescimento percentual – alta de 63,9%, mas com um volume modesto de 7.993 sacas (0,1% do total).

Os cafés de qualidade superior ou com certificados como sustentáveis representaram 24,8% das exportações, com 1,8 milhão de sacas embarcadas — um crescimento de 14,7% em relação ao mesmo período de 2024.

Com preço médio de US$ 398,47 por saca, os cafés diferenciados geraram uma receita de US$ 717,7 milhões – 28,5% do total obtido com as exportações de café no período. Em relação ao ano anterior, a valorização foi expressiva, com um aumento de 101,1% no faturamento.

Os Estados Unidos lideraram as compras desse tipo de café, adquirindo 351.205 sacas (19,5% do total exportado). Na sequência, aparecem Alemanha (228.840 sacas, 12,7%), Bélgica (179.510 sacas, 10%), Japão (125.646 sacas, 7%) e Holanda (118.806 sacas, 6,6%).

TEXTO Redação

Cafezal

Exportações de café verde em janeiro caem 14,2% no mundo todo, diz OIC

Relatório aponta terceiro mês seguido de queda nas exportações globais; Vietnã lidera recuo, enquanto África cresce; já as exportações de arábica do Brasil recuam 1%

Da Redação

As exportações globais de café verde em janeiro somaram 9,72 milhões de sacas – queda de 14,2% em relação às 11,32 milhões de sacas exportadas no mesmo mês de 2024, diz o relatório mensal da OIC (Organização Internacional do Café), que analisa os eventos recentes na indústria global do café. Foi o terceiro mês seguido de retração, após 12 meses de crescimento (entre novembro de 2023 e outubro de 2024).

A queda recente se explica, diz a OIC, pelo crescimento, no ano cafeeiro 2023/24, de 12,3% das exportações (que atingiram 124,39 milhões de sacas) – o maior volume já registrado pela OIC e o maior aumento absoluto da história, com um acréscimo de 13,63 milhões de sacas.

Já as exportações totais de café (verde, torrado e solúvel) somaram 10,83 milhões de sacas no mesmo mês – uma redução de 13,3% em relação aos 12,49 milhões de sacas exportadas em janeiro de 2024, diz o relatório mensal de fevereiro da OIC (Organização Internacional do Café).

Este é o terceiro mês consecutivo de queda nas exportações globais desses cafés, depois de 13 meses seguidos de crescimento. O resultado disso, segundo o boletim, foi o decréscimo de 4,9% nas exportações acumuladas no ano cafeeiro 2024/25 (42,79 milhões de sacas contra 45,01 milhões no mesmo período do ano anterior), sendo a Ásia e Pacífico os principais responsáveis (27,1% nos 12 meses até janeiro de 2025).

A queda acentuada dos robustas

No mundo, a maior queda das exportações de janeiro foi entre os robustas, que recuaram 27,5% (de 5,1 milhões de sacas em janeiro de 2024 para 3,7 milhões de sacas em janeiro de 2025). Segundo a OIC, essa queda acentuada foi impulsionada pelo Vietnã – responsável por recuar 43,8%. Isso reflete um dado atípico de janeiro do ano passado, quando o Vietnã registrou seu maior volume mensal de exportação de grãos verdes já registrado.

Ajudando a compensar parte dessa queda dos robustas, Indonésia e Uganda tiveram um aumento de 230% (250 mil sacas) e 20,4% (80 mil sacas), respectivamente.

Já as exportações de arábica do Brasil caíram 1% (passando de 3,59 milhões para 3,55 milhões).

Também os estoques certificados de café robusta em Londres diminuíram 4,9% entre janeiro e fevereiro de 2025, fechando fevereiro em 720 mil sacas. Já os de arábica tiveram uma queda mais acentuada – 7,5% (ou 840 mil sacas).

Para saber mais:

Em termos continentais, enquanto as exportações da América do Sul em janeiro caíram 4,2% (de 5,41 para 5,18 milhões de sacas, queda esta impulsionada pelo Peru, que recuou 58,9%), a África cresceu 7,1% (de 1,03 milhão para 1,1 milhão de sacas) e o México e a América Central, 10,9% (atingindo 1,1 milhão de sacas).

O crescimento do volume das exportações na África – o maior desde 1997, quando somaram 1,12 milhão de sacas – foi impulsionado pela Costa do Marfim e por Uganda (os dois maiores exportadores africanos de robusta), cujas exportações combinadas cresceram 28,1%.

Torrado cresce 1,4%

As exportações totais de café solúvel também caíram: o recuo foi de 5,2% em janeiro (1,05 milhão de sacas, em comparação com 1,1 milhão de sacas no mesmo mês em 2024). O mesmo não aconteceu com os cafés torrados, cujo aumento foi de 1,4%, atingindo 60.532 sacas. 

O recorde do I-CIP

O I-CIP atingiu novos recordes em fevereiro –  354.32 centavos de dólar por libra-peso (preços nominais), um aumento de 14,3% em relação a janeiro –, com a maior média mensal já registrada e superando o recorde de março de 1977 (305,13). O I-CIP (Índice Composto de Preços da OIC) representa uma média ponderada dos preços diários dos cafés comercializados no planeta e serve como um indicador de referência para o mercado internacional.

A OIC deu duas possíveis razões para essa retração dos preços iniciada em meados de fevereiro: a primeira delas é que, em 10 de fevereiro, a ICE aumentou os requisitos de margem em até US$ 3.046 para contratos de arábica com vencimento em março de 2027. Isso pode ter levado alguns traders a liquidarem suas posições por conta do aumento dos custos operacionais. A segunda razão é que a divulgação de resultados negativos em pesquisas de negócios e confiança do consumidor feitas em fevereiro nos EUA e na União Europeia impactou negativamente a confiança dos consumidores.

Tudo isso pode ter desencadeado uma realização de lucros, levando a uma retração nos preços. Esse movimento, ainda, foi sustentado por fatores como fluxo de caixa (necessidade de liquidez e o aumento da demanda por créditos comerciais, que elevam os custos e riscos das operações), incertezas resultantes do anúncio de aumentos tarifários pelos EUA, estimativas preliminares aparentemente positivas da safra 2024/25 do Vietnã (que podem ter aliviado preocupações sobre um possível déficit de oferta) e clima favorável (espera-se que o fenômeno La Niña substitua o El Niño intenso de 2024).

Fonte: OIC (Organização Internacional do Café)

TEXTO Redação

Cafeteria & Afins

Elisa Café – Belo Horizonte (MG)

Bem decorado, moderno e acolhedor. A Espresso visitou o Elisa Café, na capital mineira. Inaugurado em 2021 na capital mineira, o Elisa Café é dica certa pra quem deseja tomar um café apreciando o movimento da rua Sergipe, no movimentado bairro Savassi, sentado em sofás e poltronas ou nas mesas que se estendem até a calçada. 

A Espresso visitou a casa no início de 2025. Logo na entrada, diferentes produtos dispostos numa prateleira já chamam a atenção: são cafés servidos na casa, métodos de preparo, xícaras e alguns quitutes mineiros para levar para casa. 

O balcão de preparo das bebidas localiza-se no fundo do salão, e os pedidos são tirados nas mesas. No dia da nossa visita, o cardápio oferecia oito opções de grãos, preparados na aeropress ou na kalita – além do coado do dia, servido no batch brew. 

Escolhemos dois deles – um em cada método – mas acatamos a sugestão do barista de redirecionar os cafés pedidos a uma extração mais adequada a eles. Com isso, tomamos o café Bioma na aeropress e um Vista Alegre na kalita. O primeiro, um arara de processamento natural, tinha notas doces e suaves, com leve toque cítrico de laranja. Um café bem limpo e de acidez baixa, ótima opção para começar o dia. Já o segundo, um catuaí vermelho lavado, destacou-se pelo aroma de chá e sabor que lembrava o limão. Apesar das notas mais presentes, era uma bebida delicada, doce, com alta acidez e corpo cremoso. Os cafés foram servidos em jarras de cerâmica que, apesar de lindas, dificultavam um pouco o manejo por conta da temperatura das bebidas.

Uma fatia de brioche na chapa, com geleia de frutas vermelhas (a oferta do dia) foi o acompanhamento do café Bioma, ao lado de um frangipane, tortinha de inspiração italiana preparada com farinha de amêndoas. Generosa, a fatia de brioche era macia e, com a geleia, fez ótimo par com a bebida. A torta era doce na medida certa e amarrou bem todo o pedido.

Já para acompanhar o Vista Alegre fomos de queijo quente (pão de milho e blend de queijo prato, muçarela e cream cheese) e um bolo caprese – receita da casa feita com farinha de amêndoas, chocolate branco e limão siciliano. As comidas com temperatura e sabor corretos, harmonizaram super bem com o coado. Para fechar, um espresso bem feito, extraído de uma rocket. Àqueles que visitarem Belo Horizonte, vale conhecer o Elisa Café.

Nossa conta: R$ 133,10 (com serviço)
Coado Vista Alegre – R$ 20
Coado Bioma – R$ 20
Tortinha frangipane – R$ 15
Brioche com geleia – R$ 13
Bolo caprese – R$ 19
Queijo quente – R$ 22
Espresso – R$ 12

A equipe da Espresso visitou anonimamente a casa e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Sergipe, 1.236
Bairro Savassi
Cidade Belo Horizonte
Estado Minas Gerais
Horário de Atendimento instagram.com/elisa.cafe
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Cafezal

“Robótica e automação reduzem dependência de trabalho humano no café”, diz especialista em IA

Em entrevista à Espresso, Anderson Rocha explica o que é revolução de convergência e suas diversas aplicações na agricultura cafeeira

Por Cristiana Couto

Você conhece a revolução de convergência? Se nunca ouviu falar deste conceito, esta entrevista vai te ajudar a entendê-lo. “Essa revolução tem um impacto profundo na forma como vivemos, trabalhamos e enfrentamos desafios globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar”, garante Anderson Rocha, professor titular no Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com destacada atuação nas áreas de IA e aprendizado de máquina. 

Cofundador e coordenador do Laboratório de Inteligência Artificial, Recod.ai, da Unicamp, seu trabalho sobre IA tem sido reconhecido internacionalmente. A seguir, ele explica o que é a revolução de convergência e suas aplicações em várias áreas de conhecimento, especialmente na agricultura cafeeira.

Espresso: O que é a revolução de convergência?

Anderson Rocha: Revolução de convergência refere-se à integração de várias tecnologias emergentes – como inteligência artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), biotecnologia, nanotecnologia, robótica e blockchain – para criar soluções interdisciplinares que resolvam problemas complexos e transformem setores econômicos. Essa convergência vai além de avanços isolados; ela potencializa o impacto de cada tecnologia ao combiná-las, permitindo inovações que eram impossíveis anteriormente. Essa revolução tem um impacto profundo na forma como vivemos, trabalhamos e enfrentamos desafios globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar.

Quais as áreas que estão sendo mais impactadas por essa interação de tecnologias e por quê?

Na agricultura, com IoT e IA, sensores monitoram lavouras em tempo real, otimizando o uso de recursos como água e fertilizantes, bem como detectam problemas no solo e nas plantações como pragas e doenças, permitindo a tomada de decisão orientada a dados. Blockchain garante rastreabilidade, enquanto drones e robótica automatizam operações agrícolas. Nesse sentido, por exemplo, temos trabalhado em parceria com a Psyche Aerospace, empresa 100% brasileira, que tem a missão de revolucionar a agricultura a partir da inteligência artificial, robótica (com drones e hovers) e internet das coisas. 

Na área da saúde, a biotecnologia e a IA estão transformando diagnósticos, tratamentos personalizados e o desenvolvimento de medicamentos. Aqui, por exemplo, a hub de inteligência artificial para saúde e bem-estar, Viva Bem, ligada à Recod.ai, nosso lab de IA, procura detectar os primeiros sinais de problemas de saúde para promover o bem-estar. Trabalhamos com a detecção precoce de stress, ansiedade, hipertensão, diabetes e outros problemas.

Tecnologias como IA e IoT melhoram, também, a eficiência das redes elétricas e facilitam o gerenciamento descentralizado de energia renovável. Outro exemplo está numa exploração mais adequada, segura e objetiva do pré-sal brasileiro. Temos pesquisas para o pré-sal em que desenvolvemos soluções para identificar problemas de forma eficiente, resolvê-los pontualmente e maximizar a produção. Tudo a partir de sensores (IoT) e IA.

Já no ramo da indústria e manufatura, a robótica, combinada com IoT e IA, está criando “fábricas inteligentes”, mais eficientes e sustentáveis. Na área das finanças, ainda, a blockchain está revolucionando pagamentos, contratos inteligentes e cadeias de valor globais.

Essas áreas são impactadas porque enfrentam desafios que exigem maior eficiência, automação e transparência, algo que a interação de tecnologias pode oferecer.

De que maneira as tecnologias envolvidas na revolução de convergência podem ser (ou são) aplicadas para melhorar a eficiência e a sustentabilidade na produção do café?

A convergência tecnológica oferece diversas soluções. Uma delas é o monitoramento do solo e do clima a partir da IoT e da IA: sensores e algoritmos preveem padrões climáticos e necessidades do solo, permitindo irrigação e fertilização mais precisas, reduzindo desperdícios, como a Psyche Aerospace busca fazer, por exemplo. Outra solução está no uso de blockchain para a rastreabilidade, que é garantir que o café siga padrões de sustentabilidade e qualidade ao longo da cadeia de suprimentos, aumentando a transparência e fortalecendo o valor do produto para consumidores conscientes. Mais dois exemplos: na automação de colheita e manejo, máquinas inteligentes (robótica e drones) podem realizar a colheita com maior eficiência, reduzindo custos e perdas. Por fim, em termos de redução de impactos ambientais, a IA pode modelar práticas agrícolas que otimizam o uso de energia e reduzem emissões, enquanto a biotecnologia desenvolve variedades de café mais resistentes a pragas e mudanças climáticas.Essas tecnologias melhoram tanto a produtividade quanto a sustentabilidade, respondendo às demandas de consumidores e reguladores.

Quais desafios da agricultura em geral, e da cafeicultura em particular, poderiam ser melhor abordados pela integração de tecnologias emergentes? Há exemplos no Brasil ou globalmente?

Na agricultura, de modo geral, as tecnologias podem ajudar a prever e mitigar impactos climáticos, como secas ou temperaturas extremas. Ao mesmo tempo, soluções baseadas em IoT e IA combatem o uso ineficiente de recursos, ao otimizar o uso de água, energia e insumos. Outro desafio é o desperdício na cadeia de suprimentos, e o uso de blockchain aumenta a eficiência e reduz perdas ao longo do transporte e armazenamento.

Entre os desafios específicos da cafeicultura, a biotecnologia e a IA podem prever surtos de pragas e doenças e desenvolver plantas resistentes. Blockchain e sensores garantem, por sua vez, a manutenção da qualidade nos cafés, via rastreabilidade e padronização. Outra questão importante relaciona-se à sazonalidade e à mão de obra, e a robótica e a automação podem reduzir a dependência de trabalho humano em períodos críticos. No Brasil, o melhor exemplo é a startup Psyche Aerospace, que usa IA e IoT para monitorar condições agrícolas e otimizar a produção de diferentes culturas. Em termos globais, empresas como IBM Food Trust utilizam blockchain para rastreabilidade em cadeias alimentares, incluindo o café.

Uma das tecnologias emergentes é a blockchain, já utilizada na rastreabilidade do café. Mas o que é, como ela funciona e por que é tão importante?

Blockchain é uma tecnologia de registro descentralizado que armazena informações de forma imutável em blocos encadeados. Cada bloco contém dados, um timestamp (marcador de tempo) e um link para o bloco anterior, formando uma cadeia.

Todas as transações são transparentes, ao serem registradas em um livro-razão público ou privado. A tecnologia utiliza criptografia para proteger os dados, tornando quase impossível alterar ou hackear o sistema. Além disso, ela não depende de um único servidor ou autoridade central, o que torna a tecnologia descentralizada. Ela é importante na rastreabilidade do café por que dá transparência, ao permitir que se saiba a origem do café, desde a fazenda até o consumidor final, confiança, ao reduzir fraudes e certificar práticas sustentáveis, além de valorizar o produto, já que dá às marcas uma vantagem competitiva ao promover sustentabilidade e qualidade.

Uma cooperativa de café no Brasil, por exemplo, pode registrar no blockchain informações sobre práticas de cultivo, transporte e certificações, permitindo que compradores internacionais confiem na origem e na qualidade do produto.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Mundialmente conhecido, restaurante Noma agora torra e vende café

O triestrelado restaurante dinamarquês Noma, do chef René Redzepi, acaba de lançar uma assinatura de cafés coados, comprados e torrados por sua equipe em Copenhague. 

Por DKK 300 (cerca de R$ 250 reais), os assinantes do Noma Kaffe recebem dois pacotes de 250 g de café especial em grãos, selecionados pela chef de cafés do Noma, Carolyne Lane, pela sommelier Ava Mees List e pelo torrefador Alastair Hesp.

Em comunicado à imprensa, o restaurante Noma disse que, durante a assinatura, os clientes terão a chance de explorar uma variedade de origens e perfis de torra, o que destaca produtores e suas histórias com o café.  

A assinatura Noma Kaffe está disponível na União Europeia e em mais oito países, como Canadá, Austrália e Japão. Os primeiros grãos de qualidade do programa são das origens México e Etiópia. 

Eleito por várias vezes o melhor restaurante do mundo pela premiação The World’s 50 Best Restaurants e detentor de três estrelas Michelin, o Noma levou mais de dez anos para desenvolver seu programa de café na loja, e teve como parceiro o barista campeão Tim Wendelboe, da torrefação e microcafeteria que leva seu nome em Oslo, na Noruega.  

A partir deste mês, o café servido no restaurante será torrado na torrefação Noma Kaffe, também na capital dinamarquesa.

TEXTO Redação / Fonte: World Coffee Portal • FOTO Divulgação

Mercado

Canadá usa café para “rebelar-se silenciosamente” contra EUA

À medida que as tensões entre Estados Unidos e Canadá crescem, as cafeterias canadenses respondem de maneira sutil, mas engraçada: o chamado café “americano” não está mais disponível nos menus. Agora, caso alguém queira tomar a bebida, deve solicitar por um “canadiano”.

O National Post denominou essa mudança “uma rebelião silenciosa” contra as tarifas de importação de 25%, que entram em vigor na próxima semana, e os comentários do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre transformar o Canadá no 51º estado estadunidense.

A tendência de renomear a bebida nas cafeterias espalhou-se pelo país, apesar de alguns proprietários preferirem manter-se fora da política. Tudo começou com uma postagem – já excluída – no Instagram, feita pela empresa de café Kicking Horse Coffee, na Colúmbia Britânica, que incentivava outras cafeterias a mudarem o nome da bebida para algo mais patriótico.

Segundo a marca, eles já chamam o “americano” de “canadiano” desde a inauguração em 2008, mas, agora, decidiram oficializar o nome e convidar cafeterias de todo o país a fazerem o mesmo. E muitas adotaram a ideia.

“Não estamos necessariamente tentando ser políticos”, disse Elizabeth Watson, proprietária do Palisades Cafe, na Colúmbia Britânica, ao Washington Post. “Mas adoramos a ideia de apoiar o orgulho canadense”, completou.

William Oliveira, dono do Café Belém, em Toronto, compartilhou o mesmo sentimento, dizendo que não quer que sua cafeteria se torne um “local político”, mas acredita ser importante demonstrar apoio ao seu país. “É bom para nós simplesmente reafirmarmos quem somos e lembrarmos a outras pessoas que não seremos empurrados ou intimidados por ninguém”, afirmou.

O “canadiano” não é a única maneira dos canadenses expressarem suas frustrações. Durante o torneio 4 Nations Face-Off, da NHL, torcedores canadenses vaiaram a execução do hino nacional dos EUA.

TEXTO Redação / Fonte: New York Post

Mercado

Café na onda sul-coreana

O país tem um dos maiores e mais vibrantes mercados de cafeterias focadas em qualidade do mundo. Mas o que está por trás dessa obsessão da nação do Leste Asiático, e quanto tempo os operadores podem sustentar esse crescimento estratosférico?

Por Tobias Pearce (5THWAVE)

Poucas nações no mundo abraçaram o café e sua cultura com tanto entusiasmo quanto a Coreia do Sul. Dados do governo mostram que, no final de 2023, havia mais de 100 mil cafeterias em todo o país, gerando, coletivamente, ₩ 15.5 trilhões (US$ 11,2 bilhões) em vendas e empregando cerca de 270 mil trabalhadores.

Com uma população de 52 milhões de pessoas, há aproximadamente uma cafeteria para cada 520 cidadãos no país. Cerca de um terço desses estabelecimentos são redes de cafés, e dados do World Coffee
Portal mostram que o segmento cresceu 6,9% e superou 31.130 pontos de venda nos 12 meses até novembro de 2023 – com uma média de quase 10% de crescimento anual nos últimos cinco anos.

A rede de cafés líder de mercado, Ediya Coffee, abriu centenas de unidades nos últimos 12 meses e, agora, opera mais de 4 mil lojas, seguida pela Mega Coffee, com mais de 3 mil estabelecimentos, e pela Compose Coffee, com 2,6 mil pontos. Com 1,9 mil lojas, a Coreia do Sul é o terceiro maior mercado global da Starbucks, atrás dos EUA e da China. Tal é a popularidade dos cartões-presente da Starbucks, especialmente no Natal, que o governo coreano estima que a rede possua cerca de ₩ 318 bilhões (US$ 230 milhões) em saldos pré-pagos. “Podemos dizer que a Starbucks é um banco não regulamentado”, disse Kim Jung-tai, ex-CEO do Hana Financial Group, em 2020.

Uma loja da Ediya Coffee em Myeongdong, Seul

A posição da Coreia do Sul como um dos maiores consumidores de café do mundo é ainda mais notável quando se considera a adoção relativamente recente do café em massa no país. O lançamento da mistura para cappuccino – sachês de café instantâneo e leite em pó – pela gigante alimentícia Dong-suh Foods, em 1976, é considerado o pontapé inicial da obsessão por cafeína no país.

“Esse lançamento teve um impacto duradouro na indústria, contribuindo para uma cultura em que pessoas de várias idades apreciam o café. Essa tendência influenciou a percepção de que a bebida deve ser rápida e doce, impulsionando com sucesso a cultura do café durante a rápida industrialização da Coreia do Sul”, diz Wonjin Cho, colunista de café e coautor do aclamado Korea Specialty Coffee Guide.

Esse impacto duradouro é evidente na tendência viral do Dalgona, que varreu o mundo em 2020. A mistura batida de café instantâneo, açúcar, leite e água quente, nascida em Busan na década de 1960, cativou milhões durante os confinamentos da Covid-19 e continua sendo a indulgência favorita em cafés e cozinhas caseiras.

Hoje em dia, a Coreia do Sul também é um mercado em expansão de cafés especiais, com pioneiros locais como Coffee Libre, Terarosa, Namusairo e Bean Brothers competindo com marcas internacionais
renomadas, incluindo Blue Bottle Coffee e Intelligentsia Coffee (dos EUA), % Arabica (do Japão) e The Barn (da Alemanha).

O amor dos sul-coreanos pela bebida mantém em funcionamento uma enorme quantidade de redes de cafés e operadores independentes – mas o que está por trás dessa obsessão cafeinada, e como as cafeterias podem continuar a prosperar em um mercado tão saturado? As pistas podem ser encontradas na complexa história da nação e em suas ricas tradições culturais.

Fila para pedidos na Starbucks do aeroporto Incheon

Competição e excelência

Para Wonjin Cho, a competição e a busca por excelência caracterizam estruturalmente o sul-coreano. “Esse espírito competitivo impulsionou a concorrência construtiva em várias indústrias, colocando a Coreia do Sul na vanguarda em vários campos”, diz ele.

Cercado pelo Japão a leste, pela China a oeste, e separado da Coreia do Norte pela fronteira mais fortemente militarizada do mundo desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953, é fácil deduzir por que a sociedade sul-coreana valoriza ferozmente a independência e uma ética de trabalho fundida em ferro.

Com o hábito de trabalhar por muitas horas, o café e a cultura das cafeterias tornaram-se parte essencial do cotidiano dos sul-coreanos ao oferecer uma maneira prazerosa e econômica de se revigorar. Só em 2011 a Coreia do Sul adotou oficialmente a semana de trabalho de cinco dias, e, em 2018, o máximo de horas de trabalho semanais foi reduzido de 68 para 52.

Mesmo assim, eles ainda trabalham, em média, 1.915 horas por ano, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em comparação com 1.791 horas nos EUA e 1.607 no Japão.

“O termo ‘competitividade’ pode ter uma conotação negativa, mas também pode ser visto como algo que incorpora um senso de responsabilidade e diligência”, diz Cho.

A busca pela excelência teve papel crucial na transformação do país em um dos principais inovadores industriais e culturais do mundo. Nos anos 1960, a renda per capita da Coreia do Sul era inferior à de
países como Haiti, Etiópia e Iêmen e 40% abaixo da renda per capita da China.

No entanto, o chamado milagre sul-coreano assistiu ao surgimento de conglomerados empresariais (em coreano, chaebol), incluindo a Lucky Chemical Company (que mais tarde se tornou a gigante da eletrônica LG) e a Samsung na década de 1970. Depois disso, o crescimento econômico foi, em média, de 6,4% até 2022. Hoje, a economia de ₩ 2,24 quatrilhões (US$ 1,72 trilhão) da Coreia é a quarta maior da Ásia e a 14a do mundo.

Seguindo a mesma trajetória ascendente, o mercado de cafeterias do país requer um exército de baristas, torrefadores e Q-Graders qualificados para apoiar essa gigantesca indústria. Por isso, a associação de cafés do país é uma das poucas diretamente financiadas pela Speciality Coffee Association (SCA).

Após o lançamento do sistema de diplomas da SCA na Coreia do Sul, em 2011, existem agora cerca de 400 treinadores SCA autorizados (authorized SCA trainers ou ASTs, em inglês), representando um
quinto dos 1,8 mil ASTs no mundo.

O entusiasmo dos sul-coreanos por competições de café é enorme, especialmente depois que Jooyeon Jeon se tornou o primeiro campeão mundial de barista do país, em 2019. Fora das competições, não é
incomum ver donos de cafeterias exibindo certificados e prêmios atrás do balcão como símbolos de sua dedicação à excelência.

“Os sul-coreanos estão dispostos a estudar e aprender mais, por isso o interesse na educação sobre café sempre foi muito grande. Mesmo que as pessoas não trabalhem nesta indústria, elas ainda querem saber mais sobre o que estão bebendo todos os dias”, diz Cera Jung, gerente da SCA na Coreia do Sul.

Prateleiras com cafés ready-to-drink na 7-Eleven

A onda sul-coreana

Os fortes laços econômicos e culturais da Coreia do Sul com os EUA e o ocidente continuam a ressoar profundamente entre os consumidores e têm uma influência significativa nos negócios, na moda, na mídia e nas tendências culinárias.

Criado nos EUA, mas agora vivendo na Coreia do Sul como gerente-geral da Blue Bottle Coffee, Ryan Suh é um exemplo de como o mercado de café da Coreia do Sul é um dos mais vibrantes e bem-sucedidos do mundo. Ele concorda que a curiosidade dos sul-coreanos por tendências estrangeiras desempenhou um papel central na ascensão meteórica das cafeterias. “Essa parte do mundo sempre foi fortemente influenciada pela cultura ocidental, e isso se reflete nas décadas em que marcas multinacionais foram recebidas com uma demanda inicial enorme.”

Suh, que abriu a primeira loja da rede da Califórnia em 2019, diz que ela começou a todo vapor, e ao final do primeiro ano já empregava 80 membros de equipe em tempo integral e gerava cerca de ₩ 8 milhões em vendas.

Ao lembrar de sua primeira viagem ao Japão com a Blue Bottle, em 2017, Suh conta que cerca de 40 a 50% dos clientes do Aoyama Café, em Tóquio, eram visitantes sul-coreanos. “Não tivemos escolha a não
ser entrar na Coreia do Sul, porque os sul-coreanos nos escolheram”, afirma.

No entanto, o país também está traçando seu próprio caminho cultural. Hallyu, ou “onda sul-coreana”, descreve a difusão internacional da cultura desde os anos 1990, após o fim do regime militar e a liberalização da indústria cultural – um desenvolvimento que permitiu que indústrias criativas como cinema, televisão, moda e, claro, o K-pop prosperassem.

Em 2023, mais de 100 milhões de álbuns físicos de K-pop foram vendidos na Coreia do Sul. Doze anos após o sucesso global de Gangnam Style, o gênero continua atraindo o grande público e gera quase US$ 1 bilhão em vendas internacionais todos os anos.

Em julho de 2023, a Starbucks colaborou com o grupo de K-pop Blackpink ao criar um frappuccino temático e uma linha de mercadorias de edição limitada em nove mercados da Ásia-Pacífico, que, dizem, esgotaram em três horas após seu lançamento on-line. Em 2023, a Mega Coffee lançou uma campanha com o grupo de K-pop ITZY, e a Compose Coffee se uniu a Kim Taehyung, estrela do BTS.

Um pôster promocional do Compose Coffee apresentando V do popular grupo de K-Pop BTS

“Os grupos de K-pop foram projetados desde o início para serem exportados para o mundo. Eles são divertidos, nostálgicos e orientados para a comunidade, e eu já vi a influência cultural do K-pop, dos cosméticos e da comida sul-coreana ao redor do planeta”, observa Suh.

Me encontre para um café

Quando a Starbucks entrou no país, em 1999, o conceito de “terceiro lugar” para socializar, realizar reuniões ou simplesmente recarregar as energias conquistou muitos consumidores, já cativados pelo café instantâneo e ansiosos para dar o próximo passo em direção às bebidas premium e à cultura do espresso.

“Historicamente, os sul-coreanos não tinham muitos lugares para passar o tempo fora de casa, em comparação com a sociedade ocidental. Eles não costumam convidar pessoas para suas casas, então a cafeteria se tornou o local para encontrar amigos ou fazer reuniões – tudo pelo preço acessível de uma xícara de café. Isso também trouxe o consumo diário da bebida, que virou um hábito”, explica Matt Lee, gerente-geral da La Marzocco Korea.

Trabalhando com a La Marzocco desde que a empresa começou suas operações na Coreia do Sul, em 2012, Lee testemunhou de perto o rápido desenvolvimento do mercado de café no país. Nos primeiros anos, a La Marzocco encontrou um nicho entre os operadores de cafés especiais, focados na qualidade e no prestígio de possuir uma máquina da empresa. “La Marzocco era considerada uma ‘máquina dos sonhos’ cara naquela época”, diz ele.

“Contudo, à medida que as pessoas começaram a reconhecer a qualidade que nossas máquinas podiam oferecer, vimos cada vez mais clientes querendo ter uma La Marzocco em suas cafeterias. Agora, até mesmo as empresas de franquia querem servir café especial e mostrar aos clientes que também valorizam a qualidade”, completa.

Lee diz que o mercado de cafeterias da Coreia já parecia saturado 12 anos atrás. No entanto, a enorme escala tornou-se mais complexa, com muitas cafeterias especiais introduzindo torrefação de pequenos lotes e bebidas de café infusionadas para se manterem à frente da concorrência.

“O amor dos coreanos pelo café continua crescendo, e a busca por melhor qualidade também. O mercado está saturado, mas continua em expansão – não sei qual o seu limite”, afirma.

Ao destacar que, em 2023, o número de cafeterias superou o de restaurantes fast-food pela primeira vez desde 2013, Wonjin Cho afirma que a criação de novos distritos comerciais e complexos de apartamentos
levou a um excesso de propriedades, que costumam ser ocupadas por cafeterias.

“Esses espaços vagos são frequentemente preenchidos por cafeterias, que são vistas como lucrativas e relativamente fáceis de operar. No entanto, muitas fecham rapidamente se não conseguirem acompanhar as rápidas mudanças nas tendências ou se muitos concorrentes abrirem um estabelecimento nos arredores delas”, diz ele.

Redes focadas em valor

Apesar de sua ascensão aparentemente incontrolável, o mercado de cafeterias da Coreia do Sul não ficou imune aos desafios econômicos mais amplos. O Banco da Coreia do Sul prevê que o crescimento econômico desacelere para uma média de 0,6% na década de 2030 e contraia 0,1% ao ano na década de 2040. Com o envelhecimento da população e o baixo crescimento salarial pressionando as rendas disponíveis, as redes de cafeterias focadas em valor se fortaleceram para garantir que mais coreanos possam continuar consumindo café.

“Muitos previram que o crescimento do café de baixo custo não duraria devido ao aumento dos custos de matérias-primas e mão de obra causados pela inflação. Apesar dessas previsões, a demanda por esse tipo
de café aumentou continuamente por causa da crise econômica prolongada. Esse setor viu um crescimento explosivo nos últimos anos, com adolescentes, incluindo estudantes dos ensinos médio e fundamental, agora participando do mercado”, diz Cho.

A rede de cafés Mega Coffee abriu sua primeira loja em 2015, e expandiu-se rapidamente. Segundo dados da Comissão de Comércio Justo da Coreia do Sul, havia, em 2022, 1.184 locais da Mega Coffee no país, mais de 2.150 em 2023 e 3 mil em maio de 2024. O concorrente focado em valor, Compose Coffee, também viu seu portfólio crescer de 725 lojas licenciadas em 2020 para 2.571 atualmente.

Mega Coffee, uma das maiores cadeias de café da Coreia do Sul

Porém, enquanto grandes redes de café se beneficiam da redução de riscos e das taxas de licenciamento para a expansão de franquias, seus operadores, muitas vezes, deparam-se com descontos agressivos impostos pelas sedes. Em julho de 2024, um proprietário de loja licenciada, que preferiu não se identificar, disse a repórteres sul-coreanos que 38% das receitas geradas por um café americano quente de ₩ 1,500 (US$ 1,10) são perdidas por causa dos custos de produção.

“O modelo de franquia muitas vezes se beneficia por meio da expansão agressiva, aumentando a receita com taxas de franquia, design de interiores e custos de treinamento. No entanto, os franqueados
sofrem com a diminuição dos lucros e o aumento de lojas fechadas devido à intensa concorrência.”

Do leite saborizado de banana ao café com queijo e grain lattes – uma infusão do popular pó multigrãos coreano, Misutgaru –, a inovação de bebidas na Coreia do Sul tem dado mais do que algumas reviravol-
tas estranhas e incríveis ao longo dos anos. “Um aspecto único da cultura sul-coreana é a rapidez com que as tendências vêm e vão, então empreendedores, artistas e criadores estão sempre otimizando para o
próximo grande sucesso”, diz Ryan Suh, da Blue Bottle.

A bebida mais vendida da Blue Bottle no país é o nola float, uma versão inovadora do café gelado de Nova Orleans com sorvete de máquina por cima, que representa cerca de 10% das vendas totais da marca no país.

Cera Jung também observa que o entusiasmo dos consumidores por novas tendências tem sido um catalisador chave para o desenvolvimento da indústria, ao incentivar a experimentação e a inovação em busca da próxima grande novidade no café. “Mesmo que seja caro, as pessoas no país querem experimentar coisas novas para aprimorar sua experiência. Elas gostam de cafés de origem única e sabores distintos, mas também estão interessadas em novos métodos de processamento, como o café infusionado. Qualquer coisa nova, diferente e que valha a pena experimentar, estamos a par e trabalhando para”, diz Jung.

No entanto, o café gelado é o campeão indiscutível do mercado de cafeterias na Coreia do Sul. A Starbucks Coreia relata que mais de três quartos de todas as bebidas servidas são frias ou com gelo, com esse número ainda em torno de 60% durante os meses de inverno. “Tudo gira em torno de bebidas geladas quando o assunto é café ou até mesmo bebidas não cafeinadas”, afirma Jung.

O trabalho árduo, a competição e o desejo de descobrir as últimas tendências transformou a paixão dos sul-coreanos pelo café em uma indústria de causar inveja no mundo.

Seja como arte a ser dominada, bebida a ser saboreada, marca para inspirar ou uma bebida para construir relações, o café é o ponto focal de inúmeras interações na sociedade coreana – e uma obsessão nacional que não mostra sinais de desacelerar.

Texto originalmente publicado na edição #86 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Tobias Pearce (5THWAVE)

Mercado

Marca carioca produz licor de cafés especiais

“O Cabra Lab veio de uma ideia que surgiu há mais de cinco anos”, conta Gabriel Collares, sócio da Degusto Brands, holding de destilados que detém o Cabra Lab e as marcas de cachaça Quero Chuva e Cafuné.

Diferentemente das cachaças, o Cabra Lab produz e comercializa licor de café, feito com grãos de qualidade. “Eu gosto muito de café e achei que faltava no mercado um licor que desse protagonismo a ele, com dulçor equilibrado, sem interferência de notas da base alcoólica e sem adição de aromas”, comenta.

A marca, que começou os testes em 2020 mas só fez seu primeiro lançamento no ano passado, produz o licor com um blend de grãos arábica da Fazenda Tassinari, no Rio de Janeiro, e de canéfora da Fazenda Venturim, no Espírito Santo. “O café é torrado e moído poucos dias antes da extração a frio, o que garante frescor e intensidade”, explica Collares.

A base alcoólica, neutra, é feita com álcool de cereais e possui 25% de álcool, e a doçura do Cabra Lab está bem abaixo da média dos licores de café no mercado. É um produto para ser tomado puro ou em coquetéis. “Se puro, sugerimos que esteja gelado ou em um copo com gelo. Já em coquetéis, é versátil e fica perfeito no Espresso Martini”, recomenda.

O Cabra Lab está em mais de 80 casas de coquetelaria do Rio de Janeiro, mas também é possível encontrá-lo no e-commerce da marca, no Mercado Livre e na Amazon, por R$ 189 (750 ml).

TEXTO Redação • FOTO Umami.mkt

Cafezal

Conheça os 10 países que mais produzem café no continente africano

O café ocupa uma posição importante na economia da África, sendo a segunda maior fonte de receita para muitos países, atrás apenas do petróleo bruto. 

Como o continente africano produz 12% do café mundial – em 2022, as exportações do produto foram avaliadas em mais de US$ 3,6 bilhões –, sua influência no mercado global é inegável. 

O futuro do café africano parece promissor, tanto economicamente quanto culturalmente. O continente é conhecido por sua grande diversidade de sabores, moldada pelos diferentes climas e práticas de cultivo.

Etiópia

A Etiópia desempenha um papel fundamental na produção global. Como maior produtor do continente, o país produz 472 mil toneladas de café anualmente, ocupando a 5ª posição mundial.

Famosa por sua região de Sidamo, a Etiópia contribui com 4,5% da produção global de café, cerca de 7,6 milhões de sacas. O café etíope não é apenas um produto, mas também uma parte essencial da cultura do país.

Uganda

O país ocupa a décima posição entre os maiores produtores de café do mundo, com uma produção anual de 209 mil toneladas.

Cerca de 80% do café cultivado é da variedade robusta, que cresce em regiões de baixa altitude. Apesar dos desafios climáticos enfrentados por seus cafeicultores, além das pragas, a Uganda continua sendo importante na indústria global do café.

Ruanda

Em 2023, o país produziu 250 mil sacas e cerca de 98% de seu café é arábica, cultivado principalmente nas regiões de Kivu Lake Borders, Central Plateau, Eastern Plateau e Mayaga.

Muito valorizado em mercados como EUA, Europa e Ásia, o café ruandês representa 24% das exportações agrícolas do país e sustenta em torno de 400 mil pequenos produtores.

Quênia

O país ocupa a 19ª posição no ranking global e é conhecido principalmente por seu arábica de alta qualidade.

O setor cafeeiro queniano conquistou forte reputação devido ao seu rigoroso processamento em estações de lavagem. Com mais de 600 mil pequenos agricultores, o cultivo se dá em altitudes elevadas no Monte Quênia e na Cordilheira Aberdare.

Tanzânia

Em 2023, o país ocupou a 15ª posição mundial na produção de café, mas, de acordo com o USDA, a previsão é de que a Tanzânia alcance 1,3 milhão de sacas até 2028.

Embora o setor tenha passado por períodos de crescimento lento desde 1995, os recentes aumentos na produção foram impulsionados pela reabilitação de plantações antigas e pela demanda consistente da União Europeia.

Costa do Marfim

Apesar da queda na produção, a Costa do Marfim ainda é um dos maiores produtores de café da África.

Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), a produção média anual do país gira em torno de 120 mil toneladas. Entre 2020 e 2021, caiu para cerca de 100 mil toneladas, mas em 2023/2024 voltou a crescer, alcançando 1,3 milhão de sacas, segundo o USDA.

Burundi

A cafeicultura fornece renda para cerca de 600 mil famílias, o que representa 40% da população. Embora sua produção seja menor que a de outros países da África Oriental, o café burundinense é altamente valorizado por sua qualidade e sabor diferenciado.

No entanto, estima-se que o cultivo do país caia até 2028, passando de 139 mil sacas em 2023 para apenas 91 mil sacas, uma redução média anual de 6,7%.

Guiné

Em 2020, a Guiné ocupou a 34ª posição no ranking global de produtores de café. Apesar de modesto, seu cultivo é essencial para muitos cafeicultores locais. As principais regiões produtoras incluem Fouta Djallon Plateau, Ziama Massif e Monte Nimba.

Grande parte da produção guineense é de robusta, mas algumas fazendas menores também cultivam arábica.

República Democrática do Congo

O país produz 13% arábica e 87% robusta. Nos anos 1980, o café foi a segunda commodity mais lucrativa, atrás apenas do cobre. No entanto, conflitos violentos e instabilidade política levaram à queda drástica da produção.

Em 1993, a RDC produzia 120 mil toneladas de café, mas esse número despencou para apenas 8 mil toneladas em 2016.

Camarões

O país desempenha um papel modesto na produção global de café, ocupando a 54ª posição em volume de vendas. Entre 2018 e 2022, sua participação foi de apenas 0,1%.

Mesmo assim, os cafés camaronenses são bastante procurados em países como Argélia, França, Bélgica e Portugal. O país, que cultiva tanto arábica quanto robusta, tem seus arábicas altamente valorizados pelos sabores delicados e aromas florais.

TEXTO Redação / Fonte: www.businessday.ng