Cafezal

Tem uma abelha no meu café

Pesquisadores comprovam que a biodiversidade é essencial para a manutenção de colmeias, produtividade e qualidade sensorial do café polinizado

Por Cristiana Couto

Mudanças climáticas, degradação de áreas florestais e o consequente declínio da população de abelhas tem motivado pesquisadores de todo o mundo a debruçar-se, nos últimos anos, sobre os efeitos da polinização no café. Depois do interesse pela influência das abelhas sobre a produtividade, a última década viu um incremento nos estudos com foco na biodiversidade da paisagem e na qualidade do café polinizado.

Para entender a importância desses estudos e sua aplicação no campo, a Espresso conversou com cientistas, startups e produtores. A resposta para os dilemas atuais enfrentados pela cafeicultura em
relação às abelhas – os insetos mais importantes na polinização do café – é uma só: integração de manejos.

“O cafeicultor precisa melhorar a paisagem, manejar abelhas e adotar boas práticas no uso de defensivos químicos para aumentar a sustentabilidade da sua produção”, ensina o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP) e especialista em abelhas e polinização Cristiano Menezes. “Se ele fizer um planejamento ótimo, pode equilibrar o máximo de produção e, ainda, restaurar o habitat natural. É uma vertente importante de mudança”, acrescenta.

O café é um dos cultivos mais bem estudados no mundo em polinização. Há trabalhos acadêmicos no Brasil, na Costa Rica e no México, e no continente africano, berço de arábicas e canéforas.

Publicações recentes destacam, por exemplo, que não só as abelhas melíferas ou africanizadas (Apis mellifera) aumentam a produtividade do café, mas uma diversidade de espécies nativas – no Brasil, existem quase 2 mil espécies de abelhas, e cerca de 20 mil espalhadas pelo planeta.

Outro estudo, concluído no segundo semestre de 2024 sobre a introdução de abelhas manejadas em fazendas de café, reforça as evidências de que a polinização assistida – ou seja, a introdução de colmeias de abelhas durante a floração – aumenta a produtividade e a qualidade do café, elevando o sensorial da bebida em até 6 pontos e o valor da saca, em 13,15% (um ganho de US$ 25,40 por saca).

Colmeias em campo

O trabalho foi feito entre 2021 e 2023 em fazendas de arábica em São Paulo e Minas Gerais. “Esse estudo reforça a integração de ações no campo, ao avaliar o impacto do manejo de abelhas na produtividade do café, crucial para milhões de famílias rurais”, diz Menezes, que liderou a pesquisa e contou com a parceria da Agrobee, empresa brasileira que conecta apicultores, meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão do gênero Melipona) e cafeicultores, da empresa de tecnologia agroquímica Sygenta e da Esalq-USP, entre outras.

Mesmo com dados consistentes na literatura sobre as vantagens da biopolinização, há desafios. “Por muito tempo, negligenciou-se o papel dos polinizadores na cadeia do arábica”, diz Guilherme Sousa,
CEO e sócio da Agrobee. “Nos cursos de agronomia, a polinização não é um tema tão bem trabalhado como é o combate às pragas”, reforça a bióloga Marina Wolowsky, também especialista em polinização. Isso, somado ao fato de que o arábica é uma planta autocompatível, ou seja, capaz de se autofecundar, tornou o assunto, muitas vezes, irrelevante.

Por outro lado, vantagens ambientais, sociais e econômicas da biopolinização, claras aos cientistas, vêm cativando, aos poucos, a atenção do setor. “Ser sustentável no café é rentável para o agricultor”, analisa Guilherme Castellar, jornalista da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas, a A.B.E.L.H.A. Pesquisas de mercado pelo mundo indicam, também, que os consumidores de café demandam, cada vez mais, por cafés diferenciados, mais sustentáveis em termos socioambientais.

Uma ferramenta de sustentabilidade

Se a rentabilidade econômica não deixa de pesar na balança do cafeicultor, a vegetação nativa ou a restauração de áreas degradadas é vital para a manutenção – e incremento – sustentável dos seus ganhos. Modelos climáticos indicam que, até 2050, 90% dos municípios brasileiros sofrerão com a perda de polinizadores, comprometendo a polinização de diversas culturas agrícolas – entre elas, o café.

Para mitigar esses efeitos, pesquisas recentes buscam entender as relações entre o ambiente natural, as comunidades de abelhas e a produtividade dos cafezais. Elas geram conhecimento que auxilia projetos como o de Menezes e serviços de aluguel e treinamento de abelhas.

O que os cientistas estudam, ainda, é como são essas complexas relações entre abelhas e plantas em áreas produtoras de arábicas e canéforas do país. Nessa chave, avaliam a polinização da abelha africanizada – que, até até pouco tempo, dominou o conhecimento acadêmico sobre polinização de café – e das espécies nativas.

Produtividade e floresta em pé

Os cientistas já sabem que florestas próximas aos cafezais aumentam a produtividade do plantio. E, se uma revisão acadêmica de 2022, feita por Moureaux e colaboradores e que reuniu publicações científicas sobre vários países produtores, mostrou um incremento de 18% na produção de arábica pela biopolinização, pesquisas brasileiras têm encontrado que a produtividade de uma colheita em sistemas agroflorestais pode chegar a 30% com o apoio delas. “Quanto mais próximo os cafezais estiverem de fragmentos florestais, maior a diversidade de espécies de abelhas e maior a produtividade do café”,
resume Menezes.

Foi o resultado que Marina encontrou ao estudar os cafezais no Sul de Minas. “Descobrimos que quanto mais heterogênea for a paisagem maior será a diversidade de espécies e o número de abelhas que visitam as plantas de café”, explica ela, referindo-se ao termo técnico paisagem como o conjunto composto por área plantada, fontes de água e floresta. “A floresta diversa é importante para que as abelhas se movimentem e explorem outras categorias de paisagem”, detalha.

Mas as abelhas não visitam os cafezais somente na época da florada. Elas ficam de olho, também, nas flores que nascem nas entrelinhas e bordas dos cafezais – prática comum em agricultura regenerativa e manejos orgânicos. “Essas plantas floridas servem de recurso para as abelhas continuarem forrageando na área de cultivo”, diz Marina, referindo-se às plantas tecnicamente chamadas ruderais, que crescem espontaneamente nesses lugares e que muitos costumam tomar por ervas daninhas. “Queríamos entender melhor o manejo do cultivo de café, por isso, não fizemos o estudo apenas durante os dias de florada”, explica ela, que observou o comportamento das abelhas por trinta meses.

Ao todo, 62 espécies de abelhas visitaram 67 espécies de plantas nas entrelinhas dos pés de café. “Há, portanto, um incremento na produção quando há, também, cobertura vegetativa no entorno do cultivo”, conclui a especialista. Isso porque a cobertura das entrelinhas, aliada à manutenção de florestas e ao uso de áreas inúteis, como barrancos, ajuda a melhorar a construção de ninhos e colmeias. “Esse manejo de paisagem é o que o cafeicultor pode fazer para aumentar a riqueza de polinizadores na produção”, explica Menezes.

Outro manejo importante é o de insumos agrícolas. “Não adianta ter uma paisagem perfeita e aplicar um produto incompatível com a vida das abelhas”, pondera ele. Segundo o cientista, é preciso escolher produtos químicos compatíveis, cujas doses, métodos e cronologia de aplicação em campo sejam adequados – antes ou depois da florada, aplicações no pé e não nas folhas das plantas e no fim do dia
ou de noite são alguns desses parâmetros. “Não estamos pregando que o cafeicultor se torne orgânico, mas que ele use da forma mais racional possível os pesticidas para gerar o mínimo de impacto ambiental”, conclui.

A importância da paisagem na cafeicultura aumenta se soubermos um pouco mais da vida das abelhas. “A paisagem serve de abrigo e oferece recursos nutritivos e relacionados à reprodução delas”, ensina Marina. Além do néctar e do pólen, florestas, matas e outras coberturas vegetais são fonte de resinas e óleos que elas usam para a construção de seus ninhos. Além disso, a distância que elas têm que percorrer para buscar alimento e o tamanho do seu corpo influenciam a visita das abelhas às flores – quase diariamente, elas definem suas rotas. “Mais recursos sustentam maior número de abelhas, e populações maiores polinizam mais”, conclui a pesquisadora.

Abelhas solitárias ou sociais?

Um dos clássicos estudos científicos sobre biopolinização, feito em 2003 por Alexandra-Maria Klein, da Universidade de Friburgo, na Alemanha, já mostrava que abelhas solitárias – definição para um grupo de abelhas que vive em turmas menores e têm comportamentos específicos – são mais eficientes que as africanizadas na polinização dos cafezais. “Esse trabalho foi importante porque a gente tinha uma visão de que as abelhas africanizadas resolveriam tudo”, conta Menezes. “Na verdade, as Apis precisam de muitas visitas às flores para deixar nelas o pólen”, detalha ele.

Por outro lado, as abelhas solitárias compensam seu menor número visitando flores mais rapidamente e num fluxo maior entre uma e outra. “Elas fazem seus ninhos e os abandonam ou simplesmente morrem, sem ter contato com as próximas gerações. Daí a importância do manejo da paisagem, já que várias abelhas solitárias não conseguimos manejar”, explica Menezes (mais de 95% das espécies de abelhas polinizadoras não são criadas).

Jataí em flor de café

Um dos estudos mais recentes comprovou a relação direta entre diversidade de abelhas e de paisagem. Foram estudadas 24 áreas de cultivo de café no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná e em Minas Gerais e encontradas 50 espécies visitantes em flores de arábica e 45 em flores de canéfora. O estudo, de Maria Cristina Gaglianone e outros pesquisadores, compõe o livro digital A Ciência das Abelhas, publicado este ano pela A.B.E.L.H.A. e que reúne pesquisas de 2019 a 2022, numa iniciativa inédita de financiamento público-privado para esse tipo de investigação.

Outro trabalho, feito em 2016 em regiões cafeicultoras do leste paulista, onde há fragmentos de mata atlântica, chegou a resultados semelhantes. Nele, a ecóloga Fernanda Teixeira Saturni destaca que áreas de café próximas a florestas e matas nativas são mais ricas em espécies de abelhas sem ferrão – cuja presença aumentou em 28% a maturação dos frutos.

Trabalhos como estes são importantes porque mapeiam espécies de abelhas em regiões cafeicultoras e ajudam no planejamento do cultivo nessas áreas. Isso é ainda mais urgente com o impacto atual das variações de clima na cultura do café. “Preservar estas áreas de vegetação nativa tem o potencial de melhorar questões como água e temperatura e outros serviços que a biodiversidade pode agregar”,
analisa Marina. “Isso favorece não só a conservação de áreas, mas ajuda também o produtor”, diz ela, sobre a menor necessidade do uso de fertilizantes e do combate às pragas. “O café é um reduto atrativo para as abelhas”, destaca.

Para integrar manutenção de polinizações, sustentabilidade e produtividade no cultivo do café, Menezes e dois pesquisadores buscam, agora, financiamento público para o desenvolvimento de uma ferramenta que reúne os manejos de paisagem, de insumos e de polinizadores aliados à produção e comercialização de cafés.

“Estamos estruturando esses quatro eixos a partir de indicadores de performance, fáceis de monitorar e que trazem qualidade à produção, para auxiliar o cafeicultor”, explica Menezes. A ferramenta é uma reconfiguração do projeto Apoia-novoRural (Avaliação Ponderada de Impacto Ambiental de Atividades do Novo Rural), criado em 2003 pela Embrapa e que auxilia a gestão agrícola sustentável a partir de indicadores. “Vamos começar pelo café pela robustez dos resultados acadêmicos. É colocar o manejo integrado da polinização em prática”, ressalta ele, que pretende começar, no primeiro semestre de 2025, os primeiros exercícios de campo para testar esses indicadores. “O caminho integrativo é mais complexo, mas vai entregar ao agricultor múltiplos benefícios e atingir a tão sonhada sustentabilidade ambiental, econômica e social”, acredita.

Abelhas de aluguel

A polinização assistida é uma estratégia não apenas viável, mas indicada para aumentar a produtividade, a qualidade e a sustentabilidade do café, especialmente em áreas com monoculturas extensas, onde a diversidade de espécies é baixa.

“A presença desses polinizadores pode incrementar a produtividade, em média, 18%, o equivalente a 3 sacas por hectare, mas já tivemos casos em que a produtividade chegou a 30%”, diz Sousa, que desde 2018 aluga colmeias de abelhas aos cafeicultores.

Nos últimos anos, a Agrobee vem sendo procurada por empresas do setor, como Nescafé e Nespresso, para a polinização assistida. “A agenda de agricultura sustentável está muito ativa”, explica ele. “A polinização é o maior potencial produtivo sustentável a ser desbloqueado na cafeicultura”, reflete.

As vantagens são muitas. Aumentar a presença de abelhas nos cafezais ajuda a diminuir o abortamento das flores, uniformizar o amadurecimento dos frutos, reduzir grãos chochos e aumentar a peneira, gerando frutos mais doces.

Em setembro, a startup fechou um projeto, em parceria com a Expocaccer e com o Banco do Brasil, que oferece incentivo financeiro para os agricultores que queiram conhecer o serviço de polinização. “Queremos inserir as abelhas nas grandes cadeias agrícolas, e gerar mais receitas para o agricultor e para os criadores de abelhas”, diz Sousa, que já trabalhou em mais de 100 áreas de cultivo em regiões como Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Alta Mogiana e tem mais de 60 mil colmeias cadastradas. A startup oferece, inclusive, um selo de café polinizado para que os produtores os estampem em suas embalagens.

Só para se ter uma ideia da potencialidade do serviço de polinização assistida, cada hectare de café recebe quatro colmeias de abelhas. Se a decisão (sempre baseada em polinizadores que já existem na área de manejo) for pela Apis mellifera – a mais comum na polinização assistida de cafés no Brasil –, as colmeias podem abrigar, até, 200 mil abelhinhas por hectare, que permanecem na lavoura entre 12 e 15 dias. Já seis colmeias da mandaguari (gênero Scaptotrigona), menores, liberam por hectare cerca de 180 mil indivíduos.

Sousa desenvolve seus protocolos de manejo no campo, como número e posicionamento das colmeias, baseado em estudos acadêmicos. O norteador da polinização assistida são os talhões com maior potencial para a bebida. “Precisamos adequar o serviço de polinização à realidade de cada produtor”, explica ele, que já trabalhou com mais de seis espécies, cujas colmeias são monitoradas com um aplicativo combinado à Inteligência Artificial.

Como treinar sua abelha

Abelhas podem ser ensinadas. É isso o que faz o ecólogo e neurocientista João Marcelo Robazzi, da startup brasileira pollintech, criada há três anos. O treinamento de abelhas (denominado polinização guiada) torna a polinização mais eficaz e pode ser uma ajuda e tanto para a polinização assistida.

“Criamos a empresa na esperança de que as abelhas polinizem mais e melhor”, conta Robazzi, que tem como sócias a entomóloga Marcela Barbosa, especialista em polinização, e Maria Imaculada Zucchi, pesquisadora da Apta, e que trabalha com genética de plantas. “É um processo de ganha-ganha: o produtor aumenta a produtividade sem aumentar a área plantada e as abelhas encontram mais alimento e de forma mais rápida”, emenda Marcela. “Usamos a natureza para resolver o problema da produtividade”, completa ela.

Apis mellifera em flor de café

Para conseguir alimento, as abelhas se guiam pelo perfume, formato e cor das flores, criando uma memória olfativa. Mas não é nova a ideia de treinar abelhas: pesquisadores fazem isso desde a década de 1970 e há empresas no Brasil que treinam esses insetos para polinizar culturas de clima temperado. A particularidade da pollintech é treinar abelhas para uma cultura tropical como o café. “A ideia é treinar esse estímulo de odor associado ao açúcar”, explica o neurocientista. “Depois de algum tempo, ela aprende que aquele odor representa alimento”.

Para desenvolver a “isca” para a abelha africanizada – a primeira espécie que pretendem treinar –, a equipe desenvolveu biomoléculas, com odor semelhante ao perfume da flor do cafeeiro, e treinou as abelhas em laboratório. Agora, eles investem nos testes de campo com a biomolécula em duas fazendas no Sul de Minas – Santa Amélia, em Guaxupé, e Três Meninos, em Passos.

As áreas experimentais somam cinco hectares. Ao todo, estão sendo observadas 30 colmeias de Apis, com cerca de 20 mil abelhas cada uma. Até o fechamento desta edição, a equipe aguardava a frutificação dos pés de arábica. O próximo passo é medir a eficiência das abelhas treinadas a partir do número de indivíduos que visitam as flores, da frutificação (pelo tamanho, peso e formato das sementes) e, ainda, fazer a análise química do grão de pólen e do mel.

A expectativa é a de que, nas áreas que tiverem abelhas treinadas, colham-se frutos mais densos, refletindo, consequentemente, na qualidade da bebida. “A ideia é oferecer abelhas treinadas às fazendas para que, quando as flores de café abrirem, elas já saibam o que procurar”, explica o ecólogo.

O apicultor Edson Henrique de Souza, da Fazenda Quilombo, em Altinópolis (MG), que participa do experimento com suas caixas de abelhas, notou a mudança no peso das colônias – sinal de aumento da quantidade de pólen e mel – e no comportamento das abelhas. “Depois de vinte minutos soltas no cafezal, as abelhas campeiras [operárias] já estavam buscando especificamente a flor do café, num ritmo maior de trabalho”, relata ele.

A qualidade na xícara

Até pouco tempo atrás, os efeitos da atividade das abelhas sobre a qualidade do café na xícara não eram explorados pela pesquisa acadêmica. No entanto, os cafeicultores que já utilizavam a biopolinização sabiam que ela resultava em frutos maiores e mais densos, o que dá qualidade à bebida.

Mas essa história vai além. Cafés polinizados por esses insetos têm sua composição química alterada – positivamente. Dois trabalhos brasileiros pioneiros sobre o tema foram feitos em 2022 e 2023 pelas cientistas Solange Cristina Araújo, Aline Theodoro Toci e outros pesquisadores-colaboradores. “Estes são os primeiros trabalhos desse tipo que encontrei na literatura acadêmica”, garante Aline, química especialista em aromas da Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu, Paraná.

As pesquisas mostraram que flores polinizadas por abelhas geram frutos com maior quantidade de compostos bioativos, como ácidos clorogênicos, trigonelina e cafeína, do que as que não foram biopolinizadas. Esses compostos, além de agirem como ferramenta de defesa das plantas, funcionam como precursores de aromas. “Nossa hipótese é que os grãos de café polinizados estão geneticamente melhor preparados para a defesa da cultura contra ataques de agentes externos”, explica ela.

Os resultados obtidos pavimentam o caminho para investigações futuras – avaliar, por exemplo, o efeito da biopolinização na composição dos principais precursores de voláteis e compostos bioativos no café arábica. “O café é uma das bebidas mais aromáticas que existem”, lembra Aline. “Podemos perceber que ele está sendo preparado a 500 metros de distância só pelo aroma”.

Quer ler mais sobre o tema? Clique aqui.

Texto originalmente publicado na edição #86 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Porque a máquina de café full automática A600 da Franke é a solução ideal para seu negócio?

*Publi

No cenário atual, superar desafios, como a escassez de mão de obra e a crescente demanda por café de alta qualidade, é essencial para garantir a satisfação dos clientes. A máquina full automática A600 da Franke Coffee System é a solução ideal, ao combinar inovação de ponta com eficiência operacional para aprimorar tanto a experiência dos clientes quanto a produtividade da equipe.

Projetada com engenharia suíça para simplificar o processo de preparo de café, a Franke A600 é ideal para ambientes com alto fluxo de trabalho e para quaisquer tipos de negócios. Sua tela colorida de 8 polegadas, com toque intuitivo, garante uma operação fácil, seja em sistemas de autoatendimento ou manuseada por sua equipe, permitindo processar os pedidos com apenas um toque e reduzindo erros e desperdícios. Equipada com a tecnologia exclusiva da Franke, o IQFlow, a máquina full automática A600 extrai mais sabor do café do que os sistemas comuns, garantindo padronização e aprimorando a experiência dos clientes xícara após xícara. Além disso, possui sistema simples de uso e processo de limpeza semiautomatizado, liberando os colaboradores para se dedicarem a outros serviços e aos seus clientes, aumentando a eficiência geral.

A versatilidade é outro ponto forte da máquina full automática Franke A600. Ela oferece inúmeras opções para criar uma ampla variedade de bebidas, desde café espresso até café coado, incluindo opções com leite quente ou frio e espuma de leite extremamente cremosa com a qualidade de preparo de um barista profissional. Com recursos opcionais, como o exclusivo Foam Master, e módulos adicionais, como a Flavor Station e o Iced Coffee, é possível expandir o cardápio com bebidas saborizadas e cafés gelados, oferecendo um amplo cardápio para os clientes, o que gera diferenciação e contribui para o aumento das vendas e do ticket médio.

A flexibilidade também é outro destaque da Franke A600. Disponível com conexão fixa de água ou tanque de água portátil, a máquina pode ser facilmente transportada para salas de conferência, áreas externas ou locais onde uma instalação fixa não seja viável. Isso permite oferecer café premium onde quer que seus clientes estejam, seja em ambientes internos ou aproveitando o ar livre.

Além disso, o equipamento também pode trazer mais economia para seu negócio, pois possui um sistema de contagem de doses, o que evita desperdícios e permite que você tenha mais controle das vendas e do seu estoque de café. São máquinas projetadas especialmente para garantir padrão e, portanto, ideais para seu negócio.

Com a Franke A600, você pode proporcionar uma experiência de café excepcional de forma prática, enquanto otimiza o tempo e desloca a energia da sua equipe para outras demandas – sem abrir mão de nada.

Sobre a Franke Coffee Systems

Uma divisão do Grupo Franke, é um dos principais fornecedores globais de soluções em máquinas de café totalmente automáticas para uso profissional. Com uma profunda paixão pelo café, a empresa está comprometida em aprimorar a experiência do cliente por meio de inovações de ponta. 

Para a Franke, café é muito mais do que apenas grãos e máquinas – trata-se de criar momentos especiais, em que um ótimo café servido transforma seus clientes em convidados leais. Com sede na Suíça, a empresa opera com filiais na Alemanha, Reino Unido, Itália, China, Japão e Estados Unidos, com suporte de  uma rede global de serviços e distribuição por mais de 300 parceiros. No Brasil, há dois parceiros credenciados para te assessorar.

Utilize o código FFS25FRAN, cadastre-se no site da Fispal e venha conhecer nossas máquinas automáticas. Esperamos você para um café no Distrito Anhembi, de 27 a 30 de maio, na Rua I – estande 099.

Acesse e saiba mais: franke.com

TEXTO Publi • FOTO Divulgação

Café & Preparos

Nescafé investe R$ 500 milhões para expansão no Brasil

Montante será destinado à ampliação da fábrica em Minas Gerais e à expansão da Nestlé Professional; marca também foca em inovação e campanha que destaca produtores nos rótulos

Por Cristiana Couto

A Nescafé, marca da Nestlé, comunicou que vai investir R$ 500 milhões até 2028 para expandir sua capacidade de produção no Brasil. O anúncio foi dado em coletiva de imprensa feita nesta quinta (22) na sede administrativa da empresa em São Paulo. 

O investimento será direcionado à ampliação da fábrica de cápsulas da marca em Montes Claros (MG) – que produz 1 bilhão de cápsulas por ano – e à expansão no segmento de consumo fora do lar, com o aumento da presença das máquinas de café Nestlé Professional – o maior parque global da companhia, com 26,5 mil máquinas instaladas em escritórios, lojas de conveniência e padarias do país. 

O valor será acrescentado ao investimento de R$ 1 bilhão, anunciado pela marca em 2024, para expansão da fábrica de café solúvel da marca em Araras, interior de São Paulo.

Com a nova injeção financeira, a empresa prevê chegar a 30 mil equipamentos até o fim do ano e investir ainda mais na incorporação de telemetria, que permite o monitoramento remoto e em tempo real do desempenho e consumo das máquinas de café instaladas. “O Brasil carece de dados sobre alimentação fora do lar”, disse José Argolo, diretor-executivo da Nestlé Professional.

Valeria Pardal, diretora-executiva de negócios de bebidas de café da Nestlé, está otimista em relação às oportunidades de crescimento do setor. “Nos últimos cinco anos, a categoria de cafés em cápsula da Nestlé cresceu em torno de 20%. Estamos assumindo que a categoria vai continuar a crescer a duplo dígito nos próximos anos”, afirmou Valéria. “Então realmente acreditamos, e somos muito otimistas, que o crescimento do negócio de café aqui no Brasil vai ser pela premiunização e variedade”, aposta a executiva.

Valeria Pardal, diretora-executiva de negócios de bebidas de café da Nestlé

O anúncio da Nestlé vem num momento em que as vendas de café no varejo caíram 5,13% nos quatro primeiros meses do ano, segundo a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), resultado dos preços mais altos do grão. Em abril, a queda foi ainda maior – quase 16% em relação ao mesmo mês em 2024.

A retração no consumo vem na esteira da escalada de preços do café – 80% nos últimos 12 meses –, o maior aumento dos últimos 30 anos. Todas as categorias de café foram afetadas, sendo a de café solúvel a mais atingida, com 85%.

Aliás, é no solúvel que a Nestlé continua a apostar suas fichas. Segundo Valéria, a estimativa da Nestlé é que, nos próximos 20 anos, 20% do consumo de café no Brasil será da bebida gelada. Não à toa, a empresa comercializa, desde dezembro passado, o Nescafé Gelado, seu primeiro café solúvel desenvolvido para preparo com água ou leite gelados.

Agora, lança uma campanha que traz quatro famílias de cafeicultores nos rótulos de edição especial de sua linha de café solúvel, incluindo veiculação de um filme nos canais da marca e na mídia OOH. A campanha Fazedores, criada pela agência DPZ, integra a plataforma global Make Your World (Faça seu Mundo, no Brasil), lançada em 2024, e busca aproximar o consumidor da origem do produto e reforçar o compromisso da marca com a sustentabilidade.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Consumo de café cai quase 16% em abril, diz Abic

Os dados do primeiro quadrimestre do ano de consumo do café no varejo apontam queda no consumo da bebida de 5,13% no país, segundo levantamento feito pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) feito na quinta (22). O consumo de café no varejo representa de 73% a 78% do consumo interno brasileiro.

Em março, a queda foi de 4,87% em relação ao mesmo mês de 2024 e, em abril, a queda foi bem mais acentuada – 15,96%, na comparação com abril do ano passado. 

Os preços subiram em todas as categorias de café. No período de 12 meses até abril deste ano, o café solúvel aumentou 49,85%, o gourmet, 56,62%, e o Tradicional/Extraforte, 85,08%. O menor impacto recaiu sobre os cafés especiais – 29,13% de aumento. A categoria de cápsulas, por outro lado, teve queda de 8,11% no preço médio em relação a abril do ano passado. 

Problemas climáticos, baixos estoques de café e dificuldades logísticas estão entre os fatores responsáveis pelo aumento dos preços dos grãos. Segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o café ficou 80,2% mais caro entre abril de 2024 e abril de 2025 – o maior aumento em 30 anos. 

TEXTO Redação

Libertação de quem?

Por Gustavo Paiva

Nas últimas semanas testemunhamos uma inédita variação do mercado por conta do comportamento vacilante do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em meio a tantas tarifas, idas e vindas e tantas explicações de especialistas, seria normal ficar confuso neste cenário. Pertinente lembrar que a coluna está sendo escrita em um momento de recuo do presidente norte-americano, com o anúncio do congelamento das novas taxas e a perspectiva de um acordo com a China. Seria quase desrespeitoso com o leitor anunciar um prognóstico e tentar prever os próximos passos.

Sem entrar no mérito econômico ou patológico por trás de tais estratégias, é importante frisar que os argumentos de Donald Trump e de seus apoiadores, lá e aqui, são paradoxais e não se sustentam em qualquer período de tempo. A alegação básica é a de que os Estados Unidos vêm sendo explorados pela China e seus parceiros ideológicos e, ainda, pela Europa, que se aproveita da generosidade norte-americana para financiar a segurança do continente.

Aqueles que compram a ideia de que Trump está trabalhando pelos interesses do próprio povo, defendem que, em primeiro lugar, não haverá aumento de preços e inflação, já que os produtores internacionais serão obrigados a absorver os custos extras. Depois, que os consumidores norte-americanos irão passar a consumir mais produtos locais e, finalmente, que haverá aumento na arrecadação por conta das taxas.

São medidas que não acontecerão na prática por que elas não podem existir ao mesmo tempo. Se não houver aumento nos preços, por que os consumidores passarão automaticamente a comprar produtos locais? Se os consumidores comprarem mais produtos locais, as importações diminuirão. Então, como será possível arrecadar um valor extraordinário com taxas de importação? Impondo taxas a praticamente todos os países do mundo, qual seria o interesse de todos eles em aceitarem as taxas em vez de buscarem novos mercados? Portanto, são propostas contraditórias, que se anulam e não possuem nenhuma conexão com a realidade.

Uma das principais causas da queda de popularidade de Joe Biden e a consequente derrota nas eleições presidenciais de 2024 foi, justamente, o aumento da inflação e do custo de vida. Não existe a mínima coerência em taxar importações, reindustrializar os Estados Unidos e expulsar mão de obra imigrante. E pior, ainda esperar a queda no custo de vida e o controle da inflação local.

E o café no meio disso tudo? As medidas caíram como uma bomba no mercado, pressionando os preços e levando a uma queda que chegou a quase 20% em menos de dez dias nos contratos negociados em Nova York. Notícia ruim para o produtor e péssima para a indústria cafeeira norte-americana, que, em um cenário de preços altos e oferta apertada, terá que lidar com uma cadeia de suprimentos instável e consumidores com menor poder de compra.

Brasil e Colômbia, apesar de estarem em espectros ideológicos opostos ao presidente norte-americano, foram poupados. Cada um obteve uma taxa suplementar de 10% em todos os seus produtos comercializados. Mas o mais interessante neste caso, para o café, seriam as exorbitantes taxas aplicadas ao Vietnã, Indonésia e México.

Pelo lado mexicano, as tarifas aplicadas poderiam representar uma oportunidade para os produtos brasileiros no mercado americano. Apesar de o México produzir em torno de 4 milhões de sacas de café, o país é um dos maiores fornecedores de café descafeinado dos Estados Unidos.

Em relação aos países asiáticos citados, eles produzem juntos pouco mais de 40 milhões de sacas, principalmente robustas. Ambos estão entre os quatro maiores produtores de café. Se, por um lado, os baixistas do mercado sentiram alívio nos preços no curto prazo, por outro, esta medida pode representar um tiro no pé para quem aposta em uma queda no longo prazo. Acontece que Indonésia e Vietnã, além de produtores, são consumidores emergentes de café. Havendo um excesso de oferta e uma queda no preço do café no mercado local, a imensa população terá maior acesso ao grão e o consumo ficará mais acessível em países em que os salários e os padrões de consumo têm aumentado consistentemente. Os dois países já respondem por um consumo de algo em torno de 8 milhões de sacas para uma população combinada de quase 390 milhões de pessoas.

Apesar de todos os holofotes estarem na guerra comercial entre China e Estados Unidos, fica evidente a necessidade dos Estados Unidos forçarem os países vizinhos da China para a mesa de negociação. Isso se deve à considerável preocupação dos EUA em manter a zona de influência ao redor da China, e obrigar os vizinhos dos chineses a cumprirem com as vontades norte-americanas – em um comportamento de pressão política e comercial que, de certo modo, lembra o dispensado à Ucrânia na década passada. Portanto, é normal que todos os países do extremo oriente estejam preocupados e refletindo os próximos passos com a calculadora em mãos.

Não só os asiáticos, como todos os outros alvos das tarifas parecem estar cientes das perdas e ganhos em jogo. No “dia da libertação’’ anunciado por Donald Trump, o único que pareceu não entender dos riscos em jogo foi o próprio, já que pode ser o início de um isolamento histórico dos EUA. Ao final do processo, o planeta estaria livre de Trump.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

Brasil deve colher 65 milhões de sacas de café em 2025/26, projeta USDA

Alta de 0,5% sobre a safra anterior é puxada pelo avanço do robusta no Espírito Santo e na Bahia; clima extremo reduz arábica no Brasil e chuvas afetam produção na Colômbia

A produção total de café do Brasil para o ano-safra 2025/26 está estimada em 65 milhões de sacas, segundo relatório anual do USDA. O volume representa um aumento de 0,5% em relação à safra anterior (64,7 milhões).

A produção de arábica está estimada em 40,9 milhões de sacas — uma redução de 6,4% em relação ao ciclo anterior — enquanto a de robusta/conilon deve alcançar 24,1 milhões de sacas.

A leve alta na produção total é atribuída ao crescimento do robusta na Bahia e no Espírito Santo — avanço de 15% sobre os 21 milhões de sacas registrados em 2024/25 — graças ao clima favorável e ao uso crescente da irrigação. Esse incremento deve compensar a queda no arábica, cujas principais regiões produtoras — especialmente Minas Gerais — enfrentaram seca severa e temperaturas extremamente altas até o final de 2024 e início de 2025.

A produção de arábica também foi afetada por um ano negativo do ciclo bienal, quando a planta apresenta floração mais fraca como forma de recuperação da safra anterior.

Líder nacional na produção de robusta (com cerca de 70% do total brasileiro e 20% da oferta global), o Espírito Santo deve registrar uma safra recorde, com aproximadamente 70% das lavouras irrigadas.

No Vietnã, a produção está estimada em 31 milhões de sacas, impulsionada por investimentos no manejo da cultura e no uso de insumos. As exportações devem crescer, resultado da expansão nos envios de café torrado e solúvel para os mercados asiáticos – 3,3 milhões de sacas. A previsão da produção vietnamita inclui 30 milhões de sacas de robusta e apenas 1 milhão de arábica.

Já na Colômbia, a produção de arábica deve cair 5,3% – para 12,5 milhões de sacas, devido principalmente às fortes chuvas. Essa retração ocorre após uma fase de recuperação impulsionada pelo fenômeno El Niño, que acelerou o crescimento dos cafeeiros e favoreceu a umidade do solo em sistemas jovens. Como consequência, as exportações colombianas devem recuar para 11,8 milhões de sacas.

TEXTO Redação

Barista

Barista da China vence o World Brewers Cup 2025, em Jacarta

George Jinyang Peng, da China, conquistou o título de campeão do World Brewers Cup 2025, realizado durante o evento World of Coffee em Jacarta, Indonésia, de 15 a 17 de maio.

A competição deste ano foi histórica, contando com a maior quantidade de participantes e juízes já registrada no evento. Após três dias de disputas entre 51 competidores do mundo todo, os nove finalistas foram:

  1. George Jinyang Peng (China)
  2. Bayu Prawiro (Indonésia)
  3. Carlos Escobar (Colômbia)
  4. Elysia Tan (Singapura)
  5. Andrea Batacchi (Itália)
  6. Justin Bull (Estados Unidos)
  7. Lakis Psomas (Suécia)
  8. Alireza (Turquia)
  9. Raul Rodas (Guatemala)

Peng, proprietário da marca Captain George Coffee Roasters em Guiyang, província de Guizhou, na China, preparou-se por seis meses para a competição. Sua apresentação na fase “open service” teve como tema “a temperatura no café”, explorando o grão desde o cultivo até o momento de servir.

Thiago Sabino no World Brewers Cup 2025

O brasileiro Thiago Sabino, da Sabino Torrefação (SP), ficou em 11º lugar. “Competi em uma arena contra pessoas que eu sempre admirei de longe, então ficar na 11ª colocação é uma sensação fora deste mundo”, escreveu o barista em suas redes sociais. 

O World Brewers Cup é uma competição internacional que celebra a habilidade na preparação manual de café filtrado. 

TEXTO Redação / Fonte: WCC Coffee e Comunicaffe International  

Barista

Inscreva-se para a 9ª Copa Barista!

Quer participar da Copa Barista deste ano? Preencha a ficha de inscrição com as suas informações.

Os 20 primeiros formulários recebidos serão selecionados para a competição.
 
Atente-se! Este ano temos mudanças no regulamento. Clique aqui para acessá-lo.
 
Importante:
Caso você esteja entre os 20 selecionados, a organização entrará em contato no dia 19 de maio para que você realize o pagamento da inscrição (R$ 120) até a data limite (confira no regulamento) e garanta a sua vaga.

TEXTO Redação • ILUSTRAÇÃO Serifa

Uma bebida resiliente

Por Celso Vegro

No Brasil, o varejo de alimentos é representado por vários perfis de estabelecimentos, sendo os mais emblemáticos os super e hipermercados. Porém, outros tipos também coexistem com essas instalações como: lojas de vizinhança e de conveniência, atacarejo, mercearias e hortifrutis, varejo digital e lojas autônomas em condomínios. Aproximadamente, 424 mil dessas lojas encontram-se distribuídas pelo território brasileiro. Em 2024, o faturamento, considerando as vendas no varejo alimentar para as famílias brasileiras, alcançou R$ 1.067 trilhão, representando evolução de 6,5% em relação ao ano anterior.1

O desempenho das vendas de varejo alimentar, contabilizado em 2024, compôs 9,12% do PIB do país, sendo que os trinta maiores estabelecimentos em faturamento responderam por 77% das vendas totais. Os cinco primeiros perfizeram 26,14% desse total, denotando que o segmento possui baixa concentração econômica, mantendo, portanto, estrutura competitiva.

Dentre os 240 mil SKU’s (Stock Keeping Unit, ou seja, o “CPF” de cada item distribuído pelos supermercados), a participação relativa do café alcançou 2,70% do total das vendas, considerando todos os tipos (torrado e moído, torrado em grãos e solúvel). Em 2024, esse percentual na composição do faturamento do segmento supermercadista brasileiro, de R$10,67 bilhões, representou crescimento de 35,50% no faturamento em relação ao ano anterior.

Há que se reconhecer que esse resultado é, em parte, caudatário de ação realizada, em 2003, quando, então, o Grupo Pão de Açúcar elaborou um protocolo de cooperação com seus fornecedores, abarcando as indústrias responsáveis pela torrefação e moagem do café2 por meio da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Como vetor norteador, o protocolo visava aprimorar a relação comercial, lastreada por princípios de qualidade e de sustentabilidade. 

Assim, foi acordado junto aos fornecedores: a) promover a qualidade e segurança dos produtos oferecidos; b) adoção de práticas sustentáveis ao longo da cadeia de produção e distribuição; c) desenvolvimento da cadeia de suprimentos através do apoio na busca por melhorias contínuas e ampliação do acesso aos mercados e tecnologias; d) promover a ética, a transparência e a responsabilidade social em todas as transações comerciais

Para o caso do café, as mudanças foram muito significativas. Em primeiro lugar, saiu a questão do preço para assumir a qualidade com cuidadosa valorização da categoria. Houve um reposicionamento do produto nas gôndolas, trazendo mais ousadia na exibição das marcas de café, associada a momentos de degustação e de palestras para os clientes apreciadores da bebida. Portanto, tratou-se de um conjunto de ações assertivas que estimularam vendas por meio da educação dos consumidores.

Desde o lançamento desse protocolo do varejo, outras inovações foram cruciais para o incremento da demanda pelo produto. A popularização das máquinas de preparação de cápsulas de café foi, talvez, a mais icônica. Esse formato elevou a um outro patamar a comodidade e praticidade da apreciação da bebida, especialmente entre famílias mononucleadas.

Após esse longo parênteses, voltemos à discussão sobre a explosiva elevação dos preços do café no varejo. Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), para a cidade de São Paulo, entre março de 24 a março de 2025, o café torrado e moído exibiu incremento de 85,78%, saltando de R$ 18,17 (pacote de 500g) para R$ 33,75 (pacote de 500g)3. Essa alta nos preços foi a maior registrada no período para o conjunto de 101 itens pesquisados pelo IEA.

Em contrapartida, segundo a mesma fonte, o café solúvel teve uma elevação menos expressiva, contabilizando 44,06%. Frente aos preços do torrado e moído, a alternativa mais factível de substituição do produto tem sido o solúvel. Com menos perdas e muito adequado quando misturado ao leite, o solúvel tem exibido demanda alavancada, conforme noticiou a Associação da Indústria Brasileira de Café Solúvel4 (Abics).

O café é uma bebida, reconhecidamente, de demanda inelástica, ou seja, variações de preços não são acompanhadas na mesma proporção por variações na procura. Segundo os dados apresentados pela Abras, a comercialização do café no primeiro trimestre de 2025, apesar do expressivo aumento nos preços do produto, cresceu 5,1% em volume e 3,6% em quilos. Até 13 de abril, o faturamento do café nos supermercados já alcançava R$ 4,73 bilhões.

Pelo registro das vendas nos check outs dos supermercadistas, os cinco maiores torrefadores em termos de vendas de café em pó foram Melitta, seguida por Pilão/JDE, Três Corações, Santa Clara e Maratá. Juntos, esses torrefadores compuseram 55,6% das vendas totais.

A expansão das vendas de café nos supermercados relaciona-se mais diretamente  ao consumo que ocorre no lar. Já o consumo de café fora do lar (cafeterias, quiosques, lanchonetes, bares, restaurantes, hotéis, consultórios etc.) pode ter caído em decorrência da menor oferta por parte desses estabelecimentos, devido ao incremento dos preços do produto. 

Como perspectivas para a evolução do consumo de café, duas medidas em análise no Congresso Nacional poderão impulsionar a demanda pela bebida. A primeira refere-se à configuração da cesta básica nacional que, com isenção de tributos, poderá promover baixa de preços do produto. Na maior parte dos casos, o café é tributado em 7%, mas, em alguns estados, o ICMS alcança percentuais bem maiores, como 20,5% na Bahia ou 20,0% nos estados do Amazonas, de Roraima e da Paraíba. 

Uma das ações do governo federal, apoiada pela Abras, consiste na revisão para baixo das taxas administrativas das empresas de voucher de alimentação e a possibilidade de concessão do benefício por meio de pix no holerite dos beneficiários, entre outras ações que indicam o incremento de até R$ 10 bilhões ao ano nas contas dos trabalhadores. 

Diante de todo o contexto estatístico exposto, surpreende a capacidade do café em exibir tenaz inelasticidade. Preços nos atuais patamares, associados ao vigoroso crescimento da demanda, constituem parâmetro que vale para o Brasil, assim como para todos os demais países produtores e importadores da bebida.

1 Os dados contidos nesta coluna foram apresentados por João Galassi & Márcio Milan, presidente e vice-presidente de Relações Institucionais e Administrativo da Abas. Encafé 2025 – Campinas/SP. 24 a 26/04/2025.

2 Informação recolhida por meio de consulta de Inteligência Artificial após busca com a seguinte expressão: “protocolo de cooperação GPA 2003”.

3 Os preços médios no varejo da cidade de São Paulo são levantados todos os dias (segunda a sexta-feira), presencialmente, em 370 equipamentos varejistas divididos em: 169 supermercados; 69 feiras-livres; 40 açougues; 79 quitandas, sacolões, hortifrutis e 13 padarias.
Ver: https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/varejo.php. Acesso em 06/04/2025.

4 Segundo a associação, no primeiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período do ano anterior, houve elevação de 6,2% na demanda por solúvel. Disponível em: https://abics.com.br/continua-escalada-no-consumo-de-cafe-soluvel/

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro - Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico VI do IEA - celvegro@sp.gov.br • FOTO Agência Ophelia

Mercado

Pesquisadores brasileiros desenvolvem roda de sabores inédita para o café canéfora

Estudo identifica 103 descritores sensoriais para a espécie, com o objetivo de promover sua valorização no mercado de cafés especiais

Por Cristiana Couto

Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu a primeira roda de sabores dedicada aos cafés da espécie canéfora. O estudo, que acaba de ser publicado na revista Scientific Reports, um braço da Nature, buscou identificar e organizar os descritores sensoriais da espécie, criando uma ferramenta para avaliação de qualidade e promoção no mercado de cafés especiais. A pesquisa foi conduzida por Fabiana Carvalho (The Coffee Sensorium), e teve a participação dos cientistas Enrique Alves (Embrapa Rondônia) e Lucas Louzada, entre outros.

“Embora a avaliação sensorial de cafés canéfora seja feita por meio de protocolos padronizados, falta no mercado uma ferramenta descritiva específica para a compreensão mais ampla de suas características”, escrevem os autores.

Descrições sensoriais precisas de cafés canéfora são cada vez mais mais importantes num mercado que vem recebendo, nos últimos anos, canéforas brasileiros com qualidade sensorial cada vez maior. Isso porque manejos adequados, melhoramento genético e processos pós-colheita cuidadosos ajudaram a tornar a espécie, que já é mais resistente a pragas, doenças e altas temperaturas, uma alternativa viável ao arábica diante das mudanças climáticas.

A pesquisa sugere, portanto, que a nomenclatura de cafés de alta qualidade deve ser reconsiderada, para incluir os cafés canéforas como de “especialidade”. “A suposição de ‘baixa qualidade’ desviou a captura de C. canephora por mecanismos alternativos da cadeia de suprimentos (por exemplo, comércio justo, comércio direto) e enfraqueceu a motivação para a melhoria da qualidade, comum no mercado de café arábica especial”, dizem os autores. Eles também não deixam de pontuar que, ao se tratar de qualidade, deve-se considerar que genoma, composição química, práticas de cultivo e pós-colheita da espécie foram muito menos estudados do que os cafés arábicas – principalmente no que diz respeito a procedimentos-padrão e/ou potenciais marcadores para a qualidade da bebida.

O estudo envolveu 49 avaliadores de café profissionais (produtores do Brasil e importadores da Suíça), em três sessões de degustação. Foram avaliadas 67 amostras de 13 países diferentes (Brasil, Congo, Costa Rica, Cuba, Equador, Gana, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Peru, Uganda e Vietnã), com diferentes processos de pós-colheita (lavados e naturais) e níveis de qualidade (especiais e não-especiais). A roda de aromas resultante, organizada em três níveis (categorias, subcategorias e descritores específicos), contém 103 descritores de aroma e sabor – a posição dos termos na roda foi determinada pela média das pontuações. Entre os descritores mais destacados estão “torrado”, “doce”, “frutado” e “cacau”, enquanto “salgado” apresentou menor frequência.

Segundo os pesquisadores, o protocolo de cupping para canéforas é bastante diferente do protocolo de arábicas, especialmente na avaliação de acidez e doçura, e a padronização é fundamental para a comunicação entre produtores e consumidores.

As amostras selecionadas buscaram representar uma ampla gama de atributos de sabor, e foram transportadas aos avaliadores como grãos de café verde em embalagens a vácuo.

Os autores do trabalho identificaram, ainda, que avaliadores de café de diferentes locais apresentaram diferenças significativas nas classificações de categorias de sabor, como frutado, doce e especiarias, devido às diferenças culturais e de mercado entre europeus e brasileiros. Essas diferenças influenciam a terminologia e a intensidade das notas de sabor. “Avaliadores brasileiros tendem a focar mais em notas doces, enquanto os europeus valorizam notas frutadas”, diz o artigo.

Por exemplo, a categoria “frutado” foi avaliada, em média, em 5,68 pelos avaliadores importadores, mas em 3,84 pelos exportadores. Já a categoria “caramelo” teve a maior média de pontuação, com 21,4. “A interação entre o avaliador e o nível de qualidade do café foi significativa, com importadores avaliando cafés de baixa qualidade mais generosamente”, relatam os autores do artigo.

O estudo destaca, ainda, a necessidade de reconhecer o potencial dos cafés canéfora, incentivando práticas que valorizem sua qualidade e contribuam para a sustentabilidade da cafeicultura global.

TEXTO Por Cristiana Couto • ILUSTRAÇÃO Divulgação
Popup Plugin