Mercado

Pesquisadores brasileiros desenvolvem roda de sabores inédita para o café canéfora

Estudo identifica 103 descritores sensoriais para a espécie, com o objetivo de promover sua valorização no mercado de cafés especiais

Por Cristiana Couto

Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu a primeira roda de sabores dedicada aos cafés da espécie canéfora. O estudo, que acaba de ser publicado na revista Scientific Reports, um braço da Nature, buscou identificar e organizar os descritores sensoriais da espécie, criando uma ferramenta para avaliação de qualidade e promoção no mercado de cafés especiais. A pesquisa foi conduzida por Fabiana Carvalho (The Coffee Sensorium), e teve a participação dos cientistas Lucas Louzada (Instituto Federal do Espírito Santo e projeto Aquarela do Café) e Enrique Alves (Embrapa Rondônia), entre outros.

“Embora a avaliação sensorial de cafés canéfora seja feita por meio de protocolos padronizados, falta no mercado uma ferramenta descritiva específica para a compreensão mais ampla de suas características”, escrevem os autores.

Descrições sensoriais precisas de cafés canéfora são cada vez mais mais importantes num mercado que vem recebendo, nos últimos anos, canéforas brasileiros com qualidade sensorial cada vez maior. Isso porque manejos adequados, melhoramento genético e processos pós-colheita cuidadosos ajudaram a tornar a espécie, que já é mais resistente a pragas, doenças e altas temperaturas, uma alternativa viável ao arábica diante das mudanças climáticas.

A pesquisa sugere, portanto, que a nomenclatura de cafés de alta qualidade deve ser reconsiderada, para incluir os cafés canéforas como de “especialidade”. “A suposição de ‘baixa qualidade’ desviou a captura de C. canephora por mecanismos alternativos da cadeia de suprimentos (por exemplo, comércio justo, comércio direto) e enfraqueceu a motivação para a melhoria da qualidade, comum no mercado de café arábica especial”, dizem os autores. eles também não deixam de pontuar que, ao se tratar de qualidade, deve-se considerar que genoma, composição química, práticas de cultivo e pós-colheita da espécie foram muito menos estudados do que os cafés arábicas – principalmente no que diz respeito a procedimentos-padrão e/ou potenciais marcadores para a qualidade da bebida.

O estudo envolveu 49 avaliadores de café profissionais (produtores do Brasil e importadores da Suíça), em três sessões de degustação. Foram avaliadas 67 amostras de 13 países diferentes (Brasil, Congo, Costa Rica, Cuba, Ecuador, Ghana, Guatemala, India, Indonesia, México, Peru, Uganda e Vietnã), com diferentes processos de pós-colheita (lavados e naturais) e níveis de qualidade (especiais e não-especiais). A roda de aromas resultante, organizada em três níveis (categorias, subcategorias e descritores específicos), contém 103 descritores de aroma e sabor – a posição dos termos na roda foi determinada pela média das pontuações. Entre os descritores mais destacados estão “torrado”, “doce”, “frutado” e “cacau”, enquanto “salgado” apresentou menor frequência.

Segundo os pesquisadores, o protocolo de cupping para canéforas é bastante diferente do protocolo de arábicas, especialmente na avaliação de acidez e doçura, e a padronização é fundamental para a comunicação entre produtores e consumidores.

As amostras selecionadas buscaram representar uma ampla gama de atributos de sabor, e foram transportadas aos avaliadores como grãos de café verde em embalagens a vácuo.

Os autores do trabalho identificaram, ainda, que avaliadores de café de diferentes locais apresentaram diferenças significativas nas classificações de categorias de sabor, como frutado, doce e especiarias, devido às diferenças culturais e de mercado entre europeus e brasileiros. Essas diferenças influenciam a terminologia e a intensidade das notas de sabor. “Avaliadores brasileiros tendem a focar mais em notas doces, enquanto os europeus valorizam notas frutadas”, diz o artigo.

Por exemplo, a categoria “frutado” foi avaliada, em média, em 5,68 pelos avaliadores importadores, mas em 3,84 pelos exportadores. Já a categoria “caramelo” teve a maior média de pontuação, com 21,4. “A interação entre o avaliador e o nível de qualidade do café foi significativa, com importadores avaliando cafés de baixa qualidade mais generosamente”, relatam os autores do artigo.

O estudo destaca, ainda, a necessidade de reconhecer o potencial dos cafés canéfora, incentivando práticas que valorizem sua qualidade e contribuam para a sustentabilidade da cafeicultura global.

TEXTO Por Cristiana Couto • ILUSTRAÇÃO Divulgação

Mercado

Expocafé 2025 reúne especialistas e debate o futuro da cafeicultura em Três Pontas (MG)

Evento reúne especialistas, produtores e pesquisadores em uma programação técnica que destaca mecanização, sustentabilidade e protagonismo feminino na cafeicultura

A cidade de Três Pontas (MG) recebe, entre os dias 27 e 29 de maio, a 28ª edição da Expocafé, uma das principais feiras do setor cafeeiro no Brasil. Com entrada gratuita, o evento promove encontros técnicos e comerciais que reúnem pesquisadores, consultores e produtores para discutir os desafios e as inovações da cafeicultura, com foco especial em mecanização, sustentabilidade e mudanças climáticas.

O destaque do primeiro dia da feira é o 14º Simpósio de Mecanização da Lavoura, que debate os avanços no uso de máquinas na cafeicultura de montanha. O consultor Guy Carvalho abre o ciclo com uma palestra sobre evolução tecnológica na produção em áreas de relevo, e Fábio Moreira da Silva (Ufla) encerra com uma análise dos desafios e oportunidades da mecanização nesse contexto.

Na quarta-feira (28), o Simpósio Cocatrel/Ufla traz palestrantes como José Donizeti Alves, referência em fisiologia vegetal, que aborda a resiliência do cafeeiro frente às mudanças climáticas, Carlos Eduardo Cerri (Esalq/USP), que trata do balanço de carbono na cafeicultura, e Kaio Dias, que apresenta estratégias para a construção do perfil do solo visando uma produção mais sustentável. O economista Gil Barabach (Puc-RS) encerra o dia com uma análise das tendências do mercado cafeeiro.

A quinta-feira (29) será dedicada ao protagonismo feminino no campo, com a realização da Expocafé Mulheres 2025 e do 8º Encontro Mineiro de Cafeicultoras, fortalecendo o espaço das mulheres em toda a cadeia produtiva do café.

A realização e a promoção comercial do evento são da Cocatrel e da Espresso&Co, com apoio da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Prefeitura de Três Pontas.

Expocafé 2025
Onde: Aeroporto Três Pontas, Três Pontas (MG)
Quando: 27 a 29 de maio de 2025
Quanto: entrada gratuita
Mais informações: www.expocafeoficial.com.br

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Luckin Coffee abre primeira loja nos EUA e desafia Starbucks em Nova York

A Luckin Coffee, maior rede de cafeterias da China, está prestes a inaugurar sua primeira loja nos Estados Unidos, localizada no East Village, em Nova York. A unidade ocupará o número 755 da Broadway, esquina com a East 8th Street, conforme relatado pelo blog local EV Grieve e confirmado pela Nation’s Restaurant News. Embora a data exata de abertura ainda não tenha sido anunciada, a fachada já exibe o letreiro “Opening Soon Luck In New York”, acompanhado do icônico logotipo do cervo azul da marca. 

A expansão para o mercado norte-americano marca um novo capítulo na trajetória da empresa, que superou a Starbucks em número de lojas e receita na China em 2023.  Conforme adiantado pelo Financial Times em outubro de 2024, a Luckin Coffee planejava entrar nos EUA com uma estratégia focada em preços acessíveis, oferecendo bebidas entre US$ 2 e US$ 3, visando competir diretamente com gigantes como a Starbucks. 

Além da loja na Broadway, há indícios de uma segunda unidade em Nova York, na 800 6th Avenue com a 27th Street, embora a empresa ainda não tenha confirmado oficialmente essa informação.

A Luckin Coffee é conhecida por seu modelo de operação sem caixas, priorizando pedidos via aplicativo para retirada e entrega, além de oferecer um ambiente para consumo no local. Seu cardápio inclui bebidas inovadoras, como lattes com leite espesso de Hokkaido e americanos com sabores frutados, características que a empresa pretende introduzir no mercado americano. 

Após enfrentar um escândalo financeiro em 2020, que resultou na saída de seus principais executivos e em uma multa de US$ 180 milhões, a Luckin Coffee reestruturou sua gestão e retomou seu crescimento. A entrada no mercado dos EUA é um passo significativo em sua estratégia de expansão global, com foco em cidades que possuem grande concentração de estudantes e turistas chineses.

TEXTO Redação / Fontes: Eater NY, Nation's Restaurant News e Financial Times

Mercado

“A safra de 2026 vai ser muito mais poderosa”, aposta Andrea Illy

Em visita ao Brasil, o presidente da torrefadora italiana illycaffè afirma que a alta no preço do café é fruto de especulação, que a perda na produção de café este ano não será grande e projeta uma safra mais forte em 2026

Andrea Illy

Por Cristiana Couto

No Brasil para a cerimônia de premiação do 34º prêmio Ernesto Illy na noite desta quinta (8), o presidente da torrefadora italiana illycaffè participou, pela manhã, de entrevista coletiva para jornalistas do setor. 

Fervoroso defensor de práticas sustentáveis na cafeicultura e presença constante em projetos de grande impacto para o setor – como na parceria público-privada anunciada em 2024, na reunião do G7 na Itália, focada na cadeia de valor do café, e no Agorai Innovation Hub, centro de inovação em Trieste focado em soluções com inteligência artificial para áreas como agricultura, saúde e finanças –, Andrea illy se diz um otimista em relação aos desafios atuais. Para ele, a safra brasileira tem condições de bater um novo recorde e as altas de preço do arábica na bolsa de Nova York é fruto de especulação. 

Na conversa com jornalistas, o presidente da illycaffè fala sobre a importância e os resultados dos investimentos em agricultura regenerativa, que busca incentivar e implementar desde 2018 como estratégia para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, das necessidades e oportunidades do Brasil como maior produtor do grão e da volatilidade dos preços do café. A seguir, os principais trechos da coletiva.

A “bola” especulativa

É difícil calcular a queda da produção de café, mas ela não é grande. Não a ponto de justificar o nível de preços que atingimos. Esse preço de 4 dólares por libra não é indicativo do desequilíbrio entre demanda e oferta, mas uma “bola” especulativa gigante, favorecida pelas secas no Vietnã e no Brasil. Devemos filtrar um pouco o que nós podemos ler dos mercados.

2026 será poderoso

Pode ser que o pico [de preços] tenha passado. Esperamos que sim. Historicamente, se olharmos gráficos, depois de 12, 14 meses de um pico máximo, o preço cai cerca de 50%. E 2026 vai ser um ano muito mais poderoso. Há condições climáticas muito favoráveis para a produção máxima possível. Devemos considerar ainda que a produção de mudas aumentou 50%. A safra [2026] tende a ser um recorde. Mas isso não é uma previsão, eu não tenho uma esfera de cristal. É um modo de pensar.

Cop30

Em novembro, o Brasil sediará a COP-30, e a illy pretende apresentar um projeto sobre o uso da inteligência artificial na cafeicultura. A complexidade de aspectos econômicos, ambientais e sociais não pode ser analisada sem uma ferramenta como a inteligência artificial. Esse metassistema sócio-econômico-ambiental vai relacionar, prever e simular impactos da agricultura, produtividade, preços, políticas e ações, e chegar a um modelo sistêmico.

O poder da colaboração

Felizmente, percebemos uma conscientização crescente no setor cafeeiro global. Produtores estão adotando novas práticas, consumidores se mostram mais atentos e exigentes, formuladores de políticas públicas começam a escutar. Acima de tudo, acredito no poder da colaboração e cooperação.

Brasil

O Brasil pode se tornar um laboratório para desenvolver esse tipo de colaboração e ter práticas aplicadas também em outros países no futuro.

Agricultura regenerativa 1

A agricultura regenerativa representa um novo paradigma. Ela permite produzir mais e melhor, com menor custo, menos uso de água, menos emissões de carbono e menos necessidade de defensivos agrícolas. Ao mesmo tempo, promove a preservação e a regeneração do solo, oferecendo um café com mais qualidade e menor custo. Desde então, temos dialogado com os produtores sobre a urgência de adotar esse modelo. O que vimos foi uma resposta rápida e comprometida. Hoje, 70% dos produtores que vendem café para nós adotam práticas regenerativas.

Agricultura regenerativa 2

A agricultura regenerativa está se tornando agora mainstream, e sou um otimista. As três estratégias para criarmos uma agricultura clima-resiliente, são, em sequência, melhorar as práticas agronômicas, renovar lavouras com plantas jovens e de variedades mais resilientes para as temperaturas altas e doenças e desenvolver novas áreas de produção.

É preciso um plano nacional de irrigação

O problema meteorológico principal é a distribuição da chuva, que se torna mais e mais irregular, errática. A única maneira de se adaptar a esse problema é a irrigação. E, no Brasil, somente 10% das áreas cultivadas com café são irrigadas. É urgente falar sobre um planejamento nacional para o desenvolvimento da irrigação do café no Brasil. Não está claro se é possível extrair água de aquíferos – que há em abundância em algumas áreas – e quanto se pode extrair.  Outras áreas não têm aquíferos, e dependem de chuvas e da capacidade de se criar reservas. É preciso que haja regulamentação.

Fit to fight

A Illycaffè fechou 2024 com números recordes, mesmo com o aumento do ano passado do custo de café. Assim, somos preparados para enfrentar desafios, para enfrentar esta crise. E estamos dando um jeito de calibrar o aumento dos preços, de maneira a evitar um pico, que pode causar um choque de elasticidade de consumo. Ao mesmo tempo, estamos investindo muito, dobrando a capacidade produtiva, lançando novos produtos.

Lançamentos sustentáveis

Estamos lançando uma nova cápsula feita com 85% de alumínio reciclável. E a nossa nova Illetta tem um consumo 10% menor do que uma máquina comercial.

China competitiva

A China está mudando muito. Nós estamos lá há quase 20 anos, conhecemos o mercado. Mas a China está mudando muito, particularmente depois da covid. Essa mudança é contínua e bastante rápida. Para os jovens, o café não é uma bebida funcional, é uma experiência. Mas, se a China se tornou um grande consumidor de café, ela tem um consumo per capita muito baixo. Mas está iniciando uma produção local que é muito competitiva. Vamos continuar lá, mas o problema é a geopolítica. 

Geopolítica é o problema

Não temos mais a ordem mundial precedente, mas ainda não temos uma nova ordem mundial. Assim, é difícil [traçar] uma estratégia global. Nós temos ideias claras sobre o desenvolvimento na Europa, nos EUA e na China, mas é preciso ver os próximos anos. A curto prazo, esperamos que a situação se estabilize e comecem a ser recriadas condições de comércio internacional.

Estratégia de crescimento

Eu diria que a palavra mais precisa para descrever a nossa estratégia é a coerência. Continuamos na busca da qualidade, no percurso de conhecimento de toda a cadeia, de uma maneira que haja um consumo maior de café de alta qualidade. Isso implica um modelo de crescimento orgânico baseado na busca de qualidade, em desenvolvimento da marca e em envolver sempre mais consumidores. Essa é a estratégia, mesmo nessas novas condições complexas do mercado.

Empresa regenerativa

A agricultura regenerativa é somente a base de um modelo de toda a empresa. Uma empresa regenerativa produz bem-estar, prosperidade e conservação ambiental. Os lucros são um meio para melhorar o impacto, não são uma finalidade. As áreas prioritárias para esse modelo são ter baixo consumo de recursos naturais e minimizar qualquer forma de produção química ou de emissão de carbono. Isso é o grande capítulo da economia circular.

O futuro do café

Vai ter café até, pelo menos, 2040, 2050. Eu acho que vai ter café sempre, porque tem muitas maneiras de se adaptar às mudanças. Quanto mais estudamos, mais encontramos maneiras de nos adaptarmos. 

Os estoques do grão

Estoques são um fenômeno contingente que causa o equilíbrio entre a produção e a demanda e que podem mudar no próximo ano. E, historicamente, não há visibilidade sobre os estoques, pois eles não são quantificados e não se sabe onde estão alocados. Assim, é difícil de interpretar. Mas são fatores contingentes, que podem mudar no próximo ano. 

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

Mercado

CVA é o novo protocolo de avaliação dos cafés especiais no Brasil

Carmem Lucia Chaves de Brito, presidente da BSCA, e Yannis Apostolopoulos, CEO da SCA, assinam Memorando de Entendimento (MoU)

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e a Specialty Coffee Association (SCA) anunciaram hoje (8) a assinatura do Memorando de Entendimento (MoU, em inglês) para a adoção do sistema Coffee Value Assessment (CVA) como protocolo oficial de avaliação dos cafés especiais do país. O acordo é semelhante ao assinado pela Federação Nacional de Cafeicultores (FNC) da Colômbia na semana passada.

O Brasil é o segundo país a integrar o CVA em sua estrutura nacional de avaliação. A metodologia foi desenvolvida pela SCA para avaliar não apenas o sabor, mas também atributos físicos, afetivos, descritivos e extrínsecos, oferecendo linguagem compartilhada para ajudar produtores e compradores a se conectarem em torno do valor total do café.

Como parte do acordo, a SCA fornecerá suporte técnico para garantir a implementação bem-sucedida do CVA em todo o país, incluindo o treinamento de degustadores e equipes técnicas da BSCA, assistência na coleta e análise de dados e suporte a eventos liderados pela BSCA, com conteúdo e promoção internacional. 

Além da adoção da metodologia, o acordo também foca na educação e no desenvolvimento profissional da comunidade dos cafés especiais. Para isso, a BSCA prevê a expansão do programa “SCA Education” no Brasil, que oferece treinamentos e certificações reconhecidas internacionalmente.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Melitta adquire as empresas Baristo e Rent a Coffee

Com a compra das duas empresas, a Melitta aposta no crescimento do mercado de café fora do lar e reforça sua presença no setor de food service

A Melitta South America anunciou a aquisição da Baristo, empresa de soluções para o preparo e consumo de café fora do lar, como parte de sua estratégia de expansão no mercado brasileiro. Segundo a companhia, a operação inclui também a Rent a Coffee, totalizando três marcas: Baristo, Orazio e Rent a Coffee.

Presente no Brasil desde 1968, a Melitta liderou o consumo doméstico de café em 2024, de acordo com dados da Nielsen, e agora mira o segmento de food service, que vem crescendo de forma acelerada no país. A Baristo, fundada em 2008, atua no fornecimento de máquinas, insumos e serviços para o setor, com foco nas regiões Sul e Sudeste, e presença em mais de 450 cidades.

Segundo Marcelo Barbieri, CEO da Melitta South America, em comunicado, a escolha da Baristo se deve à sinergia de valores, à eficiência operacional e ao plano de crescimento da empresa. A operação seguirá sob comando de Rafael Bertagnolli, atual diretor-geral, que permanecerá à frente das atividades junto à equipe de mais de 100 colaboradores.

TEXTO Redação • FOTO Marcus Desimoni / NITRO

Mercado

Café e design marcam obra da australiana Lani Kingston

Designing Coffee – New Coffee Places and Branding é o terceiro livro da escritora, especialista em cafés e educadora australiana Lani Kingston. Lançado há pouco mais de um ano pela editora alemã Gestalten, traz 48 cafeterias instaladas em 48 cidades de 29 países.

Lani, que vive no Oregon (EUA) – onde também promove workshops e seminários em festivais nacionais, além de dar aulas sobre antropologia do café –, disse em entrevista ao site Comunicaffe International que “as cafeterias têm sido, por muito tempo, exemplos perfeitos de ‘terceiros lugares’, ou seja, importantes pontos de encontro comunitários fora de casa e do trabalho”, referindo-se ao fato de cafeterias serem locais de fácil acesso e democráticas.

As características mais destacadas por Lani Kingston nas cafeterias que escolheu para compor seu livro são a arquitetura e o design, das embalagens aos logos, de cada lugar. Isso porque, para ela, a proximidade de uma cafeteria não é algo mais importante do que seu layout, que inclui, além de aspectos arquitetônicos e decorativos atrativos, o conforto. E, claro, uma boa experiência sensorial, capaz de levar consumidores pelo mundo a esses locais para encontrar um amigo, ler um livro ou trabalhar em laptops.

Sua preocupação estendeu-se a ponto de atentar-se às condições do fluxo de trabalho dos atendentes nesses espaços, bem como descartar lugares badalados e atraentes, por, por exemplo, desconforto com as almofadas dos sofás ou pelos balcões que não seguiram as diretrizes básicas de organização.

“Acho que muitos negócios de café caíram na armadilha de ‘certificar-se de que isso ficará bom nas redes sociais’, mas não consideraram sua longevidade”, disse a autora na entrevista.

Entre as cafeterias contempladas estão a divertida e colorida Breadway Bakery em Odessa, na Ucrânia, as minimalistas Five Elephants, em Berlim (Alemanha), e Fiftheen Steps Workshop, em Taipei, Taiwan, além do arejado café Rong Bom (na foto) na província de Chiang Mai, Tailândia, fruto da restauração de celeiros de tabaco que se transformaram, também, em dois museus, um restaurante e um anfiteatro ao ar livre em meio a árvores históricas.

Sua atenção à estética das cafeterias reflete um mercado saturado, mas que deu origem, por conta disso, a elementos de design inovadores que se vinculam a ideais estéticos ou culturas de comunidades e países. “Muitos países têm suas próprias culturas de café ricas, diversas e únicas, e cada vez mais vejo novas cafeterias que tentam combinar o histórico ao moderno.”

Designing Coffee – New Coffee Places and Branding
Lani Kigston – Gestalten – R$ 445,90 – travessa.com.br

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Consumo de café solúvel no Brasil segue em crescimento em 2025

O Brasil apresentou crescimento de 6,2% no consumo de café solúvel no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), foram 5,558 mil toneladas (240.851 sacas de 60 kg) consumidas neste ano.

O tipo mais consumido foi o freeze dried (liofilizado), que registrou um crescimento de 44,9%, para 1,013 mil toneladas. Na sequência está o spray dried (em pó), com avanço de 0,2%, para 4,545 mil toneladas.

Os embarques de solúvel pelo Brasil cresceram no acumulado do primeiro trimestre de 2025. De acordo com a Abics, de janeiro ao fim de março, foram enviadas 977.659 sacas a 72 países, 7,9% a mais na comparação com o mesmo período de 2024.

Os Estados Unidos seguem como principal destino do solúvel brasileiro, com a aquisição de 153.320 sacas no primeiro trimestre deste ano. Em seguida aparecem Argentina (77.081 sacas), Rússia (64.822), México (51.767) e Chile (50.620).

TEXTO Redação

Mercado

ENCAFÉ 2025, que começa na quarta (23), discute futuro da indústria com sustentabilidade e inovação

A 30ª edição do Encontro Nacional do Café (Encafé), promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), acontece de 23 a 25 de abril, no Royal Palm Hall, em Campinas (SP), com expectativa de reunir cerca de 3 mil participantes. O evento, que celebra três décadas de história, ganha novo formato e traz uma programação robusta, com mais de 50 palestrantes, experiências sensoriais, competições e debates estratégicos para o setor cafeeiro.

Além de painéis e workshops, o Encafé sediará a etapa Campinas/São Paulo do Campeonato Brasileiro de Blends e a segunda edição da Olimpíada do Café, que reunirá os 20 melhores profissionais do país em provas de conhecimento, preparo e avaliação sensorial.

Destaques da programação

Entre os temas centrais está as tendências globais e práticas inovadoras no setor cafeeiro, com nomes como o economista e diplomata Marcos Troyjo, e o presidente da NCA (National Coffee Association dos EUA), William (Bill) Murray, que apresentará um panorama do mercado norte-americano. A pauta de sustentabilidade será tratada pela especialista da KPMG Brasil Nelmara Arbex, com a palestra Desmistificando o ESG.

O evento também abordará o futuro do marketing e do consumo com painéis como Café sem fake, que une ciência e comunicação, e Desmarketize-se, com o ex-VP de Marketing do McDonald’s, João Branco. A palestra “O empreendedorismo muda o mundo”, com Wilton Bezerra (Cheirin Bão), e a fala de João Galassi, presidente da ABRAS, sobre o varejo no Brasil, completam o bloco de destaques.

Entre as novidades desta edição estão a assinatura de um termo de parceria entre a ABIC e a IWCA Brasil (Aliança Internacional das Mulheres do Café), durante o painel “Mulheres do Café – Liderança e Empreendedorismo”, que contará com lideranças femininas de destaque no setor.

Outra novidade estará no painel sobre sustentabilidade, que traz o lançamento de um aplicativo inédito que simula a pegada de carbono do café torrado, fruto de estudo conduzido pela TSW Consultoria e pela ABIC.

O evento também reafirma seu compromisso ambiental com a neutralização de emissões de carbono, em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), com o plantio de árvores em Niquelândia (GO).

30º Encontro Nacional do Café (Encafé)
Quando: 23 a 25 de abril de 2025
Onde: Royal Palm Hall – Campinas (SP)
Inscrições: encafe.com.br

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Mercado

A Espresso provou cafés da variedade arara

Num dia distante de 1987, em Ibaiti, no Paraná, três plantinhas de café de frutos amarelos surgiram num cafezal repleto de sarchimor vermelho. Assim nascia a arara, variedade de arábica que é um híbrido natural da sarchimor, variedade desenvolvida em Angola por pesquisadores portugueses e introduzida na década de 1970 no Brasil. “Ela deve ter cruzado com a variedade icatu, por ter características semelhantes, como ramos grossos”, relembra o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, principal desenvolvedor da variedade e um dos coordenadores da Fundação Procafé, instituição de pesquisa e desenvolvimento para a cafeicultura.

Enviada pela instituição para sua fazenda experimental de Varginha (MG) e estudada por anos até ser lançada em 2012, a variedade arara despertou o interesse de cafeicultores de arábica. Além do porte baixo (que facilita o manejo), da alta produtividade e da resistência a doenças como a ferrugem, a variedade tem grãos graúdos e entrega qualidade na xícara.

Sob os cuidados da Fazenda Sertãozinho, em Botelhos (SP), em 2017 venceu as categorias de processamento úmido e seco no prestigiado concurso Cup of Excellence Brazil. A variedade tem sido extensivamente plantada no Cerrado Mineiro e no Sul de Minas, e nos últimos anos, a busca por ela só cresceu. “Hoje é o nosso material mais plantado”, orgulha-se o engenheiro. Segundo seus cálculos, perfaz quase 50% de todas as sementes de variedades fornecidas pela instituição para plantio.

A Espresso provou cinco cafés arara com base no Protocolo Brasileiro de Cafés Torrados desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Os critérios considerados foram complexidade de odor e de sabor, características sensoriais, doçura, corpo, acidez e intensidade, esta última definida pelo protocolo como “percepção de persistência de sabor na boca”. Confira nossas anotações:

Morena Café – SM Cafés

Arara produzido por Lilia Garcia no Caparaó (MG), a 980 metros de altitude, e torrado por SM Cafés.
Complexidade de odor: média
Complexidade de sabor: média/alta
Notas descritivas: frutado, cacau, doce
Doçura: média/alta
Corpo: alto
Acidez: alta, equilibrada
Intensidade: média
www.instagram.com/sm_cafes

Arara – Café Fazenda Floresta

Café da Fazenda Floresta, de São Sebastião da Grama, na região do Vale da Grama – Mogiana (SP), cultivado a 1.100 metros de altitude.
Complexidade de odor: média
Complexidade de sabor: média
Notas descritivas: mel, chocolate, caramelo
Doçura: média
Corpo: médio/alto
Acidez: média
Intensidade: média/alta
www.instagram.com/cafefazendafloresta

Pausa Pro Café – Café POR ELAS

Grãos da variedade arara processados pelo método natural, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e torrados por Café por Elas.
Complexidade de odor: alta
Complexidade de sabor: média/alta
Notas descritivas: mel, cereal, especiaria
Duçura: média/alta
Corpo: médio/alto
Acidez: média, delicada
Intensidade: média/alta
www.instagram.com/cafe_porelas

Varietais Arara – Orfeu Cafés Especiais

Grãos da Orfeu Cafés Especiais, cultivados no Sul de Minas, a 1.020 metros de altitude.
Complexidade de odor: alta
Complexidade de sabir: média/alta
Notas descritivas: chocolate, caramelo, amadeirado
Doçura: média
Corpo: alto, aveludado
Acidez: média, prazerosa
Intensidade: alta, presente
www.instagram.com/orfeucafes

Adocica – Over Coffee Roasters

Arara de processamento natural, cultivado a 1.200 metros por Jean Faleiros, na Fazenda Boa Esperança, na região da Alta Mogiana (SP), e torrado por Over Coffee Roasters.
Complexidade de odor: média
Complexidade de sabor: média
Notas descritivas: caramelo, castanha, chocolate
Doçura: média/pouco doce
Corpo: médio
Acidez: média
Intensidade: alta
www.instagram.com/overcoffeeroasters

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia