Coluna Café por Convidados Especiais

Do campo à xícara, profissionais convidados refletem sobre o setor

Qual é o segredo?

O café brasileiro está em momento interessante no cenário internacional: depois de muitos anos sendo esnobado por torrefações de cafés especiais graças à fama de ter baixa qualidade, os profissionais gringos agora veem o café brasileiro como uma aventura a ser explorada, e estão em busca de verdadeiros tesouros.

Esse fenômeno tem mais de um motivo: em primeiro lugar, os esforços dos produtores em melhorias genéticas e processos de pós-colheita geraram um grande avanço na qualidade do café. Um segundo motivo – ou seria uma consequência? – é a presença mais frequente de cafés brasileiros nos campeonatos de barista. Nessas competições os melhores profissionais apresentam os melhores cafés do mundo e, por muitos anos, os palcos foram dominados por cafés de Panamá, Colômbia e Etiópia. Nos últimos anos já ficou mais comum encontrar cafés made in Brazil nas competições e, às vezes, até no primeiro lugar do pódio.

Uma das fazendas brasileiras mais procuradas por baristas em busca de cafés para competição é a Daterra, no Cerrado Mineiro. Em 2018 e 2019 dezenas de competidores usaram os cafés da fazenda em regionais, e três deles nos mundiais sediados em Boston, Estados Unidos. Ao longo da história, três competidores foram campeões mundiais com cafés da Daterra.

Em 2005, o dinamarquês Troels Poulsen levou um café da Daterra ao 1º lugar do mundial de Barista. Em 2006, o também dinamarquês Klaus Thomsen tornou-se o barista campeão com um blend que continha cafés do Brasil e da Costa Rica, sendo 60% de café Sweet Collection, da Daterra. Mas como será que dois baristas da Dinamarca chegaram a uma fazenda brasileira?

Klaus conheceu a Daterra através do torrefador George Howell, que já era cliente, e deu a dica de que ali se produziam cafés diferenciados. O barista visitou a propriedade e lá encontrou o café. Alguns anos depois ele fundou a famosa The Coffee Collective, que até hoje serve o Sweet Collection.

O campeonato vencido por Klaus aconteceu na Suíça, e, por coincidência, foi lá que mais uma barista fez bonito com café brasileiro: Emi Fukahori venceu o campeonato mundial de cafés filtrados em 2018 com o nanolote Frevo, da Daterra. Essa foi a primeira vez na história que um café brasileiro ganhou o World Brewers Cup.

A história da Emi é um exemplo perfeito de como os vínculos entre toda a cadeia fazem a força: em 2018, o francês Mathieu Theis foi convidado a vir ao Brasil para conhecer a Daterra – esse era um prêmio oferecido aos finalistas. Mathieu, terceiro colocado na época, tinha uma missão secreta: encontrar um café incrível para levar para sua companheira, Emi, que competiria em Belo Horizonte pelo título do Brewers Cup. Ele se encantou com o Frevo, um lote feito a partir da variedade de café laurina, que nasceu nas Ilhas Reunião, mas que tem sido pesquisada pela Daterra há mais de doze anos.

Emi conta que seu treinador, o campeão de 2016, Tetsu Kasuya, ficou desconfiado. Ela então organizou uma prova às cegas com dezenas de cafés que havia selecionado, e pediu que Tetsu escolhesse o seu favorito – ele de cara escolheu o Frevo, e ficou surpreso ao saber que aquele era o tal café brasileiro. “Eu sinto que hoje mais pessoas que amam café se interessam pelo brasileiro. Muita gente, incluindo eu, acreditava que o café brasileiro só tinha sabores de nozes e chocolate – o que não é algo ruim, mas acredito que com o Frevo eu pude mostrar a complexidade e a qualidade do café brasileiro, e isso deixou as pessoas muito animadas para conhecer mais” conta Emi. “Fiquei muito, muito surpresa quando conheci o laurina”. A amizade com a Daterra fez o café aparecer, de novo, no ranking do Campeonato Mundial de Barista: seu companheiro, Mathieu, foi o sexto colocado na competição de 2019, usando o mesmo lote que fez de Emi campeã.

Essas histórias servem para mostrar que uma ligação mais estreita entre os elos da cadeia pode melhorar o café no Brasil: para o produtor, o contato com o barista é fonte de conhecimento das tendências que rolam na cultura de cafeteria, afinal, é para o barista que o consumidor revela seus gostos, e é o barista que educa o consumidor sobre o universo dos cafés especiais. Talvez a receita para continuar mudando a imagem do café brasileiro pelo mundo seja esta: compartilhar, conectar e construir juntos.

*Juliana Sorati é Assessora de Marketing na Daterra Coffee. Este conteúdo foi desenvolvido em parceria com a empresa.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses dezembro, janeiro e fevereiro de 2019 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Juliana Sorati • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

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