Coluna Café por Convidados Especiais

Do campo à xícara, profissionais convidados refletem sobre o setor

A competitividade, a renda e a própria produtividade do cafeicultor dependem muito do que acontece fora da porteira

O ambiente facilitador é um conjunto de condições comerciais, organizacionais e legais que ajudam os cafeicultores a produzirem com maior eficiência (mais café a um custo menor) e a se apropriarem de uma porcentagem maior do preço de exportação FOB do café produzido.

O ambiente facilitador é composto, mas não se restringe a:

– Disponibilidade de serviços eficientes de extensão e treinamento em Boas Práticas Agrícolas Sustentáveis;
– Organizações de produtores e associações da cadeia de abastecimento fortes
– Mercados eficientes para insumos, equipamento e, especialmente, café;
– Disponibilidade de financiamento a taxas compatíveis com as atividades agrícolas;
– Sistema de impostos e taxas que não interfira na competitividade internacional do produto;
– Logística eficiente;
– Oportunidades de obter renda fora da produção de café.

É fato que os países produtores de café mais competitivos, como o Brasil e o Vietnã, têm ambientes facilitadores mais eficientes. Portanto, os países produtores menos competitivos devem melhorar seus ambientes facilitadores para aumentar a renda dos produtores como um primeiro passo para ter melhores condições sociais e ambientais.

O próprio Brasil ainda tem bastante espaço para melhorar, como sabemos. Porém, não é fácil enfrentar este desafio devido às práticas estabelecidas, aos interesses públicos e privados e aos recursos limitados disponíveis. Além disto, é difícil avaliar a melhoria no ambiente facilitador. Pode-se pensar em Indicadores-Chave de Desempenho (KPIs, por suas iniciais em inglês), como produtividade e a porcentagem do preço de exportação FOB que chega à fazenda. Mas, como é possível associar estas melhorias em KPIs com iniciativas relativas do ambiente facilitador provenientes de vários dos componentes listados acima?

Talvez seja o caso de estabelecer indicadores separados para cada um destes componentes. Sugestões para estes indicadores estão descritas abaixo:

1. Serviços de extensão e treinamento

– número de técnicos disponíveis
– número de produtores atendidos por cada técnico
– número total e porcentagem de produtores que recebem assistência técnica
– produtividade
– porcentagem do PIB utilizado em serviços de apoio à agricultura

(isso deve ser analisado segundo as perspectivas presencial e também digital, onde celulares estão disponíveis em áreas produtoras de café)

2. Organizações de produtores e associações da cadeia de abastecimento

– número de cooperativas de café
– número e porcentagem de membros de cooperativas

3. Mercado de insumos e equipamentos

– competitividade (número de vendedores por categoria: fertilizantes, agroquímicos, equipamentos, etc.)
– diferença de preço pago por pequenos vs. grandes produtores tanto por fertilizantes e agroquímicos como pelo(s) equipamento(s) mais usado(s)
– disponibilidade de negócios de barter

4. Mercado de café

– competitividade (número de compradores)
– diferença de preço recebida por pequenos vs. grandes produtores
– tempo entre a entrega do café e o pagamento
– número de vezes que o café muda de mãos entre a fazenda e o porto

5. Financiamento

– volume
– acessibilidade
– taxa de juros
– disponibilidade de escrituras (para garantia)
– restrição à venda de café atrelada a ofertas de financiamento
– disponibilidade de barter para insumos e equipamentos

6. Associações da cadeia de abastecimento de café

– número e setor(es) das associações
– porcentagem do setor que participa de associações
– idade média das associações

7. Impostos e taxas

– porcentagens
– comparação com referências internacionais

8. Ambiente regulatório

– leis que garantam a livre concorrência
– mercados competitivos para todas as atividades relacionadas ao café

(café em si, insumos, equipamentos, processamento, transporte, financiamento, etc.)

9. Logística

– custo de processamento
– custo de transporte da fazenda ao porto
– custo dos serviços portuários
– tempo gasto da fazenda ao porto
– tempo de espera (disponibilidade de containers, caminhões, trens e navios)

10. Oportunidades para ganhar dinheiro fora do café

– viabilidade de cultivo de outros produtos agrícolas
– viabilidade de outros negócios não relacionados ao café (por exemplo: turismo)
– disponibilidade de empregos urbanos não relacionados ao café, em tempo integral ou parcial

TEXTO Carlos Henrique Jorge Brando • FOTO Café Editora

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