•
Na onda de país produtor
Oliver Strand, jornalista especializado em café, escreveu recentemente um artigo no norte-americano The Wall Street Journal sobre a nova geração de torrefadores dos Estados Unidos que – depois de trabalharem em grandes marcas de cafés especiais como Blue Bottle, Counter Culture, Intelligentsia e Stumptown – estão abrindo o próprio negócio e optando por lugares mais intimistas, onde possam torrar o café e também servi-lo. O aprendizado adquirido nessas marcas de referência ajudou profissionais criativos e empreendedores a ampliar as opções de cafeterias pelo país e, mais do que isso, investir em cidades menores ou com pouca tradição de negócios com esse perfil. E assim crescemos.
E na América do Sul e Central, o que estamos fazendo pelo café especial? Não são poucas as iniciativas de profissionais para ampliar esse mercado. A onda sul-americana e centro-americana é igualmente motivadora. Exemplos não faltam. Baristas locais enxergaram nos mercados emergentes de café do mundo e, na maioria dos casos, países produtores, a oportunidade de investir em negócios de torrefação e cafeteria.
Raul Rodas, campeão mundial em 2012, recentemente inaugurou a Paradigma Café, na capital da Guatemala. Desde 2011 a torrefação, de mesmo nome, funciona com cafés de produtores locais. Desde o início de 2015, o barista tem cafeteria na capital do país com poucas mesas e focada no serviço exclusivo da bebida.
Na mesma pegada, Alejandro Mendez, de El Salvador – o primeiro campeão mundial (2011) de um país produtor –, saiu recentemente da Viva Espresso, do empresário e treinador Federico Bolanos, para empreender na torrefação 4 Monkeys Coffee Roasters. Ele e mais três amigos fundaram o coletivo, que tem como objetivo promover os cafés especiais do país diretamente da capital San Salvador.
Fabrizio Sención Ramírez, o segundo lugar no campeonato mundial de 2012, é outro desta safra talentosa de baristas. Mexicano de Guadalajara, inaugurou recentemente um misto de cafeteria e restaurante, o Café Palreal, com mais três amigos, um deles chef de cozinha, que topou o desafio de servir cafés especiais ao público igualmente aprendiz, como no Brasil. Após ter criado a própria torrefação, a Café Sublime, Fabrizio desenvolveu marca própria, a Café Estelar, que valoriza regiões pouco conhecidas pela produção de cafés no México.
Já o barista Harry Neira, do Peru, campeão nacional em 2013, abriu sua cafeteria em Lima, no delicioso bairro de Miraflores, e um segundo empreendimento, um coffee
truck com seu nome.
Na Colômbia, profissionais têm se mobilizado também para a valorização do café local. É o caso de Jayson Galvis e Manuel Barbosa,
que, provenientes de regiões produtoras, tiveram a ideia de abrir, em Bogotá, uma cafeteria em extensão ao trabalho realizado com cafeicultores locais. Nasceu o Café Azahar, um contêiner supermoderno que serve métodos diversos e faz também um trabalho primoroso com a torra.
Você deve estar se perguntando. E no Brasil, nada? No Brasil, tudo! Há diversos exemplos de projetos que nasceram nessa onda produtiva. Os pioneiros Lucca Cafés Especiais, Coffee Lab, Suplicy Cafés Especiais e Santo Grão foram desbravadores e hoje seus proprietários são referências no mercado de café e formadores de dezenas de profissionais. O conhecimento de café já se espalhou por outras cidades brasileiras e aguçou novos empreendedores. Com uma vantagem: no Brasil há muitos produtores com perfil empresarial. E eles mesmos abrem seus negócios para além da fazenda, mas sem sair da sua região. É o caso de Terroá Cafés Especiais, na Chapada Diamantina (BA), A Cafeteria, em Serra do Caparaó (ES/MG) e Unique Cafés, em São Lourenço (MG), para dar somente alguns exemplos. Os próprios cafeicultores abriram cafeterias em suas pequenas cidades, com produtos regionais e cafés das fazendas, mas sem esquecer das tendências em preparo. Sinal de crescimento do mercado para além das capitais. E que assim seja, para que, finalmente, a vida seja muito curta para tomar tanto café bom.
*Mariana Proença é jornalista. Em 2006 assumiu a direção de conteúdo da Espresso e, meses depois, o café já tinha virado uma paixão, que dura até hoje. Nesta coluna ela aborda diversos temas e experiências sobre a profissão barista. Fale com a colunista: mariana.proenca@cafeeditora.com.br