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Nestlé lança nova variedade de café arábica no Brasil

A partir de métodos tradicionais de melhoramento genético, cientistas da Nestlé desenvolveram a star 4, uma nova variedade de café arábica de alto rendimento, “substancialmente superior ao das variedades mais utilizadas”, segundo Jeroen Dijkman, head do Instituto de Ciências Agrícolas da Nestlé.

A nova variedade, de acordo com a multinacional, vem na esteira de mitigar o impacto das mudanças climáticas na cadeia de fornecimento do café, com emissões menores de gases do efeito estufa oriundos do cultivo do grão – segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change, em inglês, ou IPPC), a área para o cultivo de arábica pode ser reduzida em mais de 50% até 2050.

Além disso, a star 4, que já está registrada, é resistente à ferrugem – doença foliar causada por fungos que ameaça as lavouras de café –, e tem grãos maiores. Segundo a empresa, o alto rendimento também contribui para práticas agrícolas mais sustentáveis. A variedade foi desenvolvida em São Paulo e em Minas Gerais, em parceria com a Fundação Procafé. A nova variedade tem, de acordo com a empresa, “sabor característico do café brasileiro”.

Além do desenvolvimento da star 4, a Nestlé desenvolveu, recentemente, duas variedades de canéfora (roubi 1 e roubi 2), que estão sendo lançadas no México.

Em 2022, a multinacional lançou um Quadro de Agricultura Regenerativa, como apoio para alcançar sua meta de sustentabilidade líquida zero até 2050. No mesmo ano, lançou, ainda, seu Plano Nescafé, ao custo de US$ 1 bilhão, com iniciativas para melhorar a sustentabilidade no cultivo de café e auxiliar agricultores na transição para práticas de agricultura regenerativa até 2030.

TEXTO Fonte: Nestlé, ESG Today • FOTO Jéssica Luisa

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Região de Garça: a nova origem do café paulista

O que tem de especial nos grãos de Garça, um dos 15 municípios do centro-oeste paulista que pertence à mais recente Indicação Geográfica do estado, conquistada em 2022

Escultura na entrada de Garça

O ônibus vai se aproximando de Garça e, pela janela, é possível ver os pés de café à beira da estrada. Ao chegar à cidade, as placas já anunciam: “compro café verde”, “vendem-se mudas de café”. Na rotatória, há uma escultura de um trabalhador rural abanando o café na peneira – sinal da sua tradição na produção do grão.

Pelas ruas, muitos caminhões enfileiram-se nos vários armazéns. Eles aguardam para ser carregados de sacas do café, que, antes, era transportado pela estrada de ferro da Linha Tronco Oeste da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF). Por vezes, os trens saíam diretamente do armazém da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para seus destinos. O armazém funciona até hoje, com os trilhos aposentados, e guarda sacas de mais de 60 anos.

Armazém da Conab

A região de Garça é uma das mais recentes das 15 Indicações Geográficas de café do Brasil. A IG, de 2022, abarca 15 municípios do oeste paulista. Um dos maiores polos cafeeiros e de tecnologia (não só) agrícola do estado, Garça vem investindo, cada vez mais, na qualidade de seus cafés.

“Todo lugar planta café bom e café para commodity, a questão é qual o foco que se escolhe trabalhar”, diz Cassiano Tosta, produtor e presidente da Associação dos Cafés Especiais de Garça. Hoje, cerca de 30% do que se colhe na região são cafés especiais, fruto do incentivo trazido pela IG. Desde então, a ideia é identificar as oportunidades para o próximo passo, que é o reconhecimento de características únicas para o pedido de uma Denominação de Origem.

A IG Região de Garça, que é uma Indicação de Procedência, aponta que aquele local tem ligações históricas, vocação para o ofício e que se tornou conhecido como centro de produção de café. A conquista foi possível graças à união de um grupo de produtores, por meio do Conselho do Café da Região de Garça (Congarça), que enxergou que o grão da região merecia ter maior valor agregado. O trabalho com a cadeia produtiva começou a ganhar corpo em 2018, com concursos de qualidade e educação profissional.

Eles estavam certos. Alguns dos cafés inscritos no concurso e avaliados por juízes da Associação Brasileira de Classificadores e Degustadores (ABCD) atingiram 89 pontos. O pedido de IG foi protocolado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2020 e concedido em novembro de 2022. “Agora estamos na fase de capacitar e conceder os selos aos que estão aptos a usá-lo”, explica Tamis Lustri, presidente do Congarça.

Nada mais justo para uma região que tem até uma cidade chamada Cafelândia entre suas localidades, e que teve a primeira cooperativa nacional de produtores a exportar o grão, a Garcafé (as atividades estão suspensas, com planos de retomada nos próximos anos). Já Garça, município que concentra a organização regional e fica a 405 km da capital do estado, tem pouco mais de 44 mil habitantes e café nas artérias e no seu DNA. Prestes a completar cem anos de fundação, a cidade nasceu como povoado com a expansão da cafeicultura para o centro-oeste paulista no fim do século XIX.Foi em Garça que a Espresso conheceu um pouco mais sobre os diferentes modos de trabalhar em busca da qualidade e da identidade da produção local.

Tecnologia e serviços

Além do café – ou por causa dele –, a região é um polo tecnológico no estado de São Paulo. Uma das gigantes do ramo de automação, por exemplo, é de Garça, a PPA. Também é de lá, da cidade de Pompeia, a Jacto, fabricante de maquinário agrícola que revolucionou as lavouras no início dos anos 1980 com a colheitadeira de café que, em terrenos planos ou com pouca inclinação como os do planalto local, substituiu a mão de obra de 30 a 40 pessoas.

Os tubetes para mudas também são crias da região, que agora os utiliza para mudas francas (a partir de uma única cultivar) e enxertadas. A enxertia de robustas nos arábicas é uma das inovações das lavouras locais.

“Na parte de baixo, como cavalo, usamos uma base de robusta, e, na parte de cima, colocamos as cultivares de arábica”, explica Gabriel Correa, do Viveiro Alta Paulista, que produz exclusivamente mudas de café. O processo é delicado e feito a mão com uso de lâminas de barbear para abrir, no “caule” do robusta, a fenda que receberá o arábica.

Viveiro Alta Paulista

Não há interferência do robusta no sensorial dos grãos arábica, mas a planta, por ter 50% a mais de raízes, é mais resistente a estresses hídricos e a pragas como os nematoides. O resultado, que muitos cafeicultores já atestam, é de um aumento de 50% na produção em relação à muda franca já no primeiro ano.

Na outra ponta, a cidade também tem quem invista na qualidade da armazenagem do café verde, como José Olavo Boechat, da Garça Armazéns. “Meu avô era viveirista de mudas, minha família também é produtora e investimos nesse serviço”, conta Boechat. “Trouxemos um Q-Grader e temos um departamento de rebeneficiamento e de qualidade, pois é uma questão de confiança guardar o café dos outros”, detalha. O galpão, com capacidade para 35 mil sacas, tem atualmente 50 produtores entre os clientes e fica em uma ampla avenida da cidade. O Garça Armazéns chama atenção pelo grafite nas paredes externas, que homenageia a cadeia produtiva do café.

Garça Armazéns

Meio ambiente

A Fazenda Figueira Agroflorestal está na mesma família há quatro gerações e, desde 2018, passa por um processo que enxerga não só café, mas todo um ecossistema que precisa estar em harmonia. A proposta de cultivar café em sistema de agrofloresta vem do casal Larissa Cirillo de Rezende Barbosa e Marcelo de Rezende Barbosa, que busca aplicar os conceitos de sintropia, permacultura e agricultura orgânica e biodinâmica na região.

“Estamos plantando o café consorciado com pupunha e mandioca e sombreado por madeira nativa”, explica Marcelo, que também produz plântulas (embrião que resultará na muda) de espécies nativas e sabe que é preciso tempo e dedicação para obter resultados.

Na busca pela sustentabilidade e vivendo ao lado de uma área de reserva ambiental de mata atlântica de planalto, eles têm em sua propriedade uma zona tampão de proteção para a fauna e a flora locais. Esse convívio é fundamental para preservar as nascentes e a água na região, e para que o café possa integrar-se e se adaptar da melhor forma possível aos efeitos da crise climática.

Campo novo

Em 2014, o pai de Cassiano Tosta estava decidido a vender o sítio da família, onde produzia café desde a década de 1970. Morando e trabalhando com comunicação em São Paulo, Cassiano não concordou com a ideia e resolveu, literalmente, mudar sua atividade para outro campo.

Logo de cara resolveu investir nos cafés especiais e suas possibilidades. “Sempre fui apaixonado por café, ficava tomando em casa e fazendo experiências com canela, casca de laranja… aí, voltei pra minha cidade natal e fui estudar”, recorda.

Cassiano anexou outro sítio à propriedade e, hoje em dia, é um pequeno produtor com 14 hectares de café, que geram 30% de grãos especiais que ele processa, torra e comercializa com a marca Café Alta Paulista. Lá, ele investe nas mudas enxertadas, no pós-colheita e em tudo que possa melhorar a qualidade da bebida na xícara. Como presidente da Associação de Cafés Especiais de Garça e membro do Congarça, Cassiano trabalha pela capacitação de toda a cadeia e pela divulgação da região.

As colheitas têm sido boas: os cafés de sua família já ganharam e ficam sempre bem colocados no concurso local, criado em 2018. No ano passado, ficaram em terceiro lugar no 22o Concurso Estadual de Qualidade do Café, com grãos de 89 pontos.

Produtividade

As linhas dos cafeeiros desenham o horizonte a perder de vista. É deles que Albino Moreira Alves tira uma produtividade de 50 a 60 sacas de café por hectare. Isso é possível graças ao investimento na mecanização, na tecnologia e no manejo: hoje, ele e dois funcionários cuidam dos 80 hectares plantados.

Albino é engenheiro de formação, trabalhava com fibra óptica, mas, assim como Cassiano, resolveu voltar às origens: doze anos atrás, comprou a fazenda e investiu na cafeicultura. “Meus pais eram lavradores e arrendavam terras nessa região”, conta.

Todos os processos são mecanizados, com 100% das lavouras irrigadas e adubação de liberação lenta. A escolha de cultivares distintos permite obter colheitas recentes, medianas e tardias. Todo o processamento é feito na fazenda e os cafés de Albino venceram quatro das seis edições do concurso local, além de boas colocações no estadual.

IG Região de Garça em números e fatos

  • 25 mil ha cultivados
  • 800 unidades produtoras
  • 400 famílias produtoras
  • 15 cidades: Álvaro de Carvalho, Alvinlândia, Cafelândia, Duartina, Fernão, Gália, Garça, Guarantã, Júlio Mesquita, Lucianópolis, Lupércio, Marília, Ocauçu, Pirajuí e Vera Cruz
  • 600 mil sacas/ano, em média
  • 650 m de altitude, em média (Planalto de Marília e Serra dos Agudos)
  • Temperatura entre 17,8°C e 18,5°C
  • Já exportou café para 32 países
  • 1052 nascentes (bacias do Rio do Peixe e do Rio Aguapeí)
  • Cultivares principais: icatu amarelo, ouro verde, mundo novo
  • Características principais na xícara: café encorpado, com acidez equilibrada, doçura natural com notas de chocolate, caramelo, frutadas e cítricas

As 15 IGs de café do Brasil

Matas de Rondônia*, Oeste da Bahia, Região do Cerrado Mineiro*, Mantiqueira de Minas*, Matas de Minas, Campo das Vertentes, Canastra*, Sudoeste de Minas, Região de Pinhal, Montanhas do Espírito Santo*, Espírito Santo, Caparaó*, Alta Mogiana, Região de Garça, Norte Pioneiro do Paraná.

*Denominação de Origem (DO). Fonte: INPI

Texto originalmente publicado na edição #83 (março, abril e maio de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cintia Marcucci • FOTO Agência Ophelia

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Cafés especiais de mulheres do Norte Pioneiro do PR são expostos no Chile

Neste ano, os participantes da Expo Café Chile, feira realizada na capital Santiago, terão a oportunidade de provar os cafés especiais produzidos por mulheres do Norte Pioneiro do Paraná. Os grãos com Indicação Geográfica (IG) estarão disponíveis entre os dias 13 e 14 de julho, no estande da Embaixada do Brasil.

Uma das marcas presentes será a Branca Flor, de Pinhalão, comandada por Rafaela Mazzottini Silva. “Fico agradecida pela oportunidade de levar o café do Norte Pioneiro para fora do país”, comemorou. Para a ocasião, a produtora levará embalagens personalizadas que contam a sua história na cafeicultura. “A IG tem uma importância enorme e acrescentou muito na propriedade e nas nossas vidas”, conta. 

A cafeicultora Rafaela Mazzottini Silva vai representar as mulheres do distrito Lavrinha, de Pinhalão – Foto: Arthur Guerino

Claudionira Inocência de Souza, cafeicultora e coordenadora do grupo das mulheres do café de Matão, em Tomazina, vai acompanhar Rafaela na feira. Ela conta que o projeto Mulheres do Café começou em 2013, no Norte Pioneiro do Paraná. Hoje, a Região concentra em torno de 150 cafeicultoras, que têm acesso a cursos, oficinas e capacitações pelo Sebrae/PR, além de assistência técnica do IDR-Paraná. 

Formalizada em 2010, a associação de cafeicultores do Matão, que até então era formada apenas por homens, ganhou mais um “P” a partir de 2014, e se tornou a Associação de Produtores e Produtoras de Cafés Especiais do Matão (Approcem) com a chegada das mulheres.

“As pessoas não sabem o tamanho da importância daquele ‘P’ nas nossas vidas”, afirma Claudionira, que por quatro anos também foi presidente da Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro (Amucafé). “Já havia um trabalho muito bom dos homens e não foi difícil, para nós, trabalharmos com cafés especiais. Tivemos ajuda da família e construímos um grupo forte, com visibilidade. As mulheres chegaram para somar”.

Claudionira de Souza diz que as mulheres chegaram para somar na cafeicultura do norte pioneiro do Paraná

Ela conta que a maioria dos cafés especiais, na forma crua, é exportada para a Europa e Austrália. Durante o ano, as propriedades recebem de cinco a seis visitas de compradores do exterior. Agora, com a oportunidade aberta a partir da Expo Café Chile, a expectativa é conseguir um novo parceiro comercial. “Somos da agricultura familiar. Não éramos reconhecidas e valorizadas. Hoje, ter esse reconhecimento é bom demais. Faz muita diferença em nossas vidas, famílias e para o norte pioneiro”, agradece a cafeicultora.

Para Odemir Capello, consultor do Sebrae/PR, a participação no evento representa uma oportunidade de levar os cafés com IG do Norte Pioneiro para mais um país e, ao mesmo tempo, valorizar o trabalho das mulheres cafeicultoras da região. “A IG cumpre o seu papel de gerar desenvolvimento e dar visibilidade para o norte pioneiro, atraindo compradores do Brasil e do exterior”, acrescenta. Além dos cafés do Norte Pioneiro do Paraná, estarão representados, no estande brasileiro, grãos de São Paulo, Minas Gerais e Rondônia. 

TEXTO Redação

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Fábrica de biochar é inaugurada em Brejetuba (ES)

A green tech francesa NetZero anunciou a inauguração da sua terceira fábrica de biochar, desta vez no Espírito Santo. Após as unidades de Camarões (África) e Lajinha (Minas Gerais), a cidade de Brejetuba recebe as operações a partir desta sexta (28). 

A nova fábrica está a menos de 40 km da unidade de Lajinha, que funciona desde o ano passado. Seu endereço também é estrategicamente próximo da Coocafé, cooperativa regional que conta com mais de 10 mil produtores de café, dos quais 250 fornecerão a biomassa necessária para a operação da nova usina. 

O local pretende produzir 4 mil toneladas de biochar por ano a partir de resíduos da casca do café, removendo mais de 6 mil toneladas de CO2 equivalente da atmosfera, além de oferecer uma solução para melhorar, de forma sustentável, a fertilidade do solo. 

Para marcar a inauguração da unidade, a NetZero também anuncia o início da construção de uma nova fábrica em Minas Gerais, que começará em algumas semanas. 

O que é biochar?

O biochar é um carvão vegetal feito a partir de resíduos enriquecidos do café. Mas, ao contrário do carvão vegetal tradicional, a produção do biochar é feita em um processo muito rápido, em torno de vinte minutos, dentro de um reator com mínima presença de oxigênio. É dentro deste reator que acontecerá a pirólise, um processo de decomposição térmica. Atualmente, a NetZero trabalha com resíduos de café, mas o biochar pode ser feito a partir de qualquer composto orgânico, até mesmo sobras de cozinha. 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Origens brasileiras participam do maior evento global de café

Copenhague, capital da Dinamarca – Foto: Nick Karvounis

A partir desta quinta (27) e até dia 29, o World of Coffee, que este ano acontece em Copenhague, Dinamarca, terá cores mais vivas. Cafeicultores de 14 regiões brasileiras com Indicação Geográfica estão chegando ao evento, maior congresso e feira de negócios do café da Europa e um dos mais importantes do mundo. 

Alguns desses produtores, como Lucas Venturim, da Fazenda Venturim, em São Domingos do Norte (ES), e Cassiano Tosta, com propriedade na IP Região de Garça (SP), passaram pelo São Paulo Coffee Festival, que terminou neste domingo (23), de malas prontas para embarcar para a capital norueguesa. 

Cafeicultura na Região de Garça – Foto: Agência Ophelia

“Degustaremos uma garrafa de café de cada região, contando a história de cada uma delas no evento”, explica Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação de Cafeicultores do Cerrado, referindo-se ao acordo de cooperação entre o Instituto Regiões Produtoras de Café do Brasil com Indicação Geográfica – IG, que reúne essas regiões, e a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais) que abriu seu estande para promover as origens produtoras do Brasil (leia mais sobre o instituto ao fim do artigo). A barista responsável pelos cafés é a Q-Grader Carol Franco, da empresa curitibana Lucca Cafés Especiais, que já ganhou diversos campeonatos nacionais de prova de cafés (cupping).

Organizado anualmente pela Specialty Coffee Association (SCA), o World of Coffee 2024 reúne os principais especialistas, torrefações, exportadores, importadores e expositores de mais de 130 países no Bella Center, um dos maiores centros de conferências e exposições da Escandinávia.

A edição de 2024 conta também com uma série de campeonatos mundiais, como o de Latte Art, Coffee in Good Spirits, Coffee Roasting e o de Ibrik. Além das competições, há diversas atividades e atrações para os entusiastas e profissionais da área. Entre elas, destacam-se as salas de cupping e as palestras da SCA

Workshops e palestras

Um dos temas mais aguardados desta edição está no workshop de quinta (27) pela manhã, “Avanços na prova e avaliação de Café: a avaliação de Valor do Café da SCA”. Neste ano, a SCA adota oficialmente a Avaliação de Valor do Café (CVA, sigla para Coffee Value Assessment), que inclui avanços em ciência sensorial e econômica no sistema de prova e avaliação de café da entidade. A palestra será comandada por Peter Giuliano, diretor-executivo da Coffee Science Foundation e diretor de pesquisa da Specialty Coffee Association (SCA).

Na sexta (28), ganha os holofotes o tema da economia circular  – sistema que busca conservar e regenerar recursos naturais e ecossistemas, promover o bem-estar de produtores e oferecer oportunidades econômicas para toda a cadeia de café –, com o painel “Circular Economy: (Re)Generating Value Throughout the Coffee Circle”. Formado por cinco especialistas, o painel destaca exemplos práticos de economia circular na cadeira cafeeira estudados pelo grupo do ITC que forma o Centro para a Economia Circular no Café, uma plataforma global pré-competitiva para acelerar a transição de economia linear para circular. O centro baseia-se na Rede do Guia do Café do ITC e busca divulgar processos de impacto positivo e adição de valor à cadeia cafeeira global. 

Outras atrações incluem, por exemplo, o Best New Product Competition, que premia as inovações no mercado de café. Há também vilas de torrefação, onde pequenos torrefadores exibem seus produtos e se conectam com compradores e entusiastas.

Este ano, o país-destaque é o Peru. Além do Brasil, Colômbia, Etiópia e Quênia estarão fortemente representados.

Sobre o Instituto 

Fundado no final de maio em evento em Franca (SP), o Instituto Regiões Produtoras de Café do Brasil com Indicação Geográfica – IG reúne 14 das 15 regiões produtoras registradas no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) que, por sua vez, compõem o projeto Origem Controlada Café (a única que não participa é a IP Oeste da Bahia). O projeto, que tem como objetivo desenvolver uma plataforma de rastreabilidade para cafés de origem, dedica-se atualmente à comunicação e ao marketing integrado dessas regiões que reúnem 369 municípios e mais de 187 mil cafeicultores.  

TEXTO Redação

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Documentário acompanha trabalho nas lavouras de café do Brasil

O Fundo Visão Zero da International Labor Organization (Organização Internacional do Trabalho) vai lançar em Bruxelas, no próximo dia 25, o documentário From Beans to Brew: A journey into the lives of coffee workers (Dos grãos à bebida: uma jornada na vida dos trabalhadores do café).

Foram entrevistados cafeicultores e outros atores do Brasil, de Uganda e do Vietnã, além de insights fornecidos pela ILO, Organização Internacional do Café (ICO) e da Comissão Europeia (CE), o documentário explora as complexidades da indústria do café, os desafios do trabalho com o grão e como a comunidade internacional aborda essas questões (veja o trailer aqui).

O documentário foi produzido como parte da campanha #CoffeePeople lançada em 2023 pelo Fundo Visão Zero da OIT, co-financiada pela União Europeia e que, segundo a International Comunicaffe, alcançou cerca de 25 milhões de pessoas em mais de 50 países. O objetivo é incrementar a estratégia global da OIT sobre segurança e saúde ocupacional.

A segunda exibição, presencial como a primeira (ainda não há notícias sobre quando irá acontecer online), acontece no evento World of Coffee Copenhague (Dinamarca), em 28 de junho.

TEXTO Fonte: International Comunicaffe.

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Testes globais de café arábica mostram a complexa influência de genética e clima na qualidade

Estudos da WCR avaliam potencial de cultivares em diversas regiões para impulsionar programas de melhoramento genético orientados pela demanda do mercado

Após provas sensoriais de dez variedades de café em sete regiões do mundo por três anos (entre 2021 e 2023), pesquisadores da World Coffee Research (WCR) demonstraram de que maneiras a interação entre genótipo e ambiente impacta na qualidade e no perfil de sabor da bebida. Ao mesmo tempo, querem refinar o ensaio, tirando da equação fatores como pós-colheita e torra, que interferem no sensorial da bebida.

Os primeiros resultados do maior teste de variedades do mundo, segundo a própria instituição científica, foram divulgados em junho. O objetivo é compreender o alcance dessas interações entre DNA e condições de cultivo, para que essas informações possam ajudar os países participantes a definir variedades com maior potencial de qualidade. Além disso, os resultados servirão de base para novos experimentos em qualidade.

A pesquisa faz parte do projeto International Multilocation Variety Trial ou IMLVT (Teste Internacional de Variedades em Multilocais, em português) que testa 31 variedades de café de alto desempenho em mais de 15 países, entre eles Peru, Zâmbia e Austrália.

Para isto, participaram Q-Graders de 57 empresas membro, que provaram variedades, como pacamara e batian (veja o rol completo na fig. 1), em regiões específicas da Nicarágua, do Congo, do Peru, do Quênia, da Indonésia, de Ruanda e da Índia. Os caracteres avaliados foram rendimento, resistência a pragas e doenças e qualidade da xícara.

Além de medir o desempenho das plantas em cada lugar, o ensaio também mensurou quão estáveis ou variáveis são essas três características selecionadas nos diferentes ambientes – efeito conhecido como interação GxE.

“Estamos identificando como as principais variedades respondem às variações climáticas e agronômicas e quais são mais amplamente adaptadas ou apresentam melhor desempenho a condições específicas”, explica Jorge Berny, doutor em melhoramento e genômica, no site da WCR. Segundo ele, isso estabelece bases para o melhoramento de variedades mais resilientes, produtivas e de melhor qualidade sensorial e para que o setor cafeeiro tome decisões mais bem informadas sobre quais variedades cultivar e onde as plantar.

Algumas cultivares, como a H1 centroamericano e a marsellesa (sarchimor), tiveram bom desempenho na xícara e se mantiveram estáveis mesmo quando cultivadas em diferentes ambientes.

Figura 1 – Estabilidade estimada de qualidade na xícara de dez variedades cultivadas em sete regiões entre 2021 e 2023

Outras, como SL28 e Batian, adaptam-se melhor a condições de ambiente de cultivo específicas, e, em ambientes semelhantes, produziram resultados de degustação também similares.

Figura 2 – Média de três anos de dados de cupping das 10 variedades cultivadas em sete regiões entre 2021 e 2023

Em média, porém, os dados demonstram que algumas variedades têm maior variação de qualidade (por pontuação) em diferentes ambientes e períodos de avaliação. As causas disso são o pós-colheita e as preferências sensoriais – difíceis de padronizar e controlar em um experimento feito em diversos países.

Se variações de safra podem ser explicadas por fatores biológicos, como idade da planta, outros fatores não biológicos, como método de processamento, podem mascarar essas características inatas no conjunto de dados.

Figura 3 – Médias dos resultados de pontuação de diferentes variedades e regiões

Por isso, o ensaio será reestruturado. Centralizar o processamento dos frutos e a torra dos grãos serão medidas adotadas para produzir resultados mais definitivos.

Os pesquisadores também planejam avaliar as variedades por mais cinco anos em seis países (Indonésia, Nicarágua, Peru, Malawi, Quênia e Índia), para aumentar a confiabilidade nas recomendações de variedades e avaliar o desempenho delas antes e depois da poda das plantas.

Ainda que ajustes neste ensaio se façam necessários, no Peru, a WCR já está plantando lotes de sementes das variedades parainema e IPR107, selecionadas no projeto IMLVT e alinhadas às necessidades dos cafeicultores.

Os resultados também serão cruzados com dados sobre modelagem climática produzidos pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), para auxiliar essas escolhas no futuro. No redesenho da nova fase das avaliações de qualidade do IMLVT, a pesquisadora brasileira Verônica Belchior, contratada em março pela organização como cientista-pesquisadora para avaliação da qualidade do café, pretende abordar a qualidade do café em escala global, para que os programas de melhoramento em muitas origens atendam às necessidades da indústria. “Os resultados dos atributos sensoriais de nossos experimentos de degustação seguem as mesmas tendências que definem a qualidade no mercado de cafés especiais”, diz Verônica na mesma reportagem. “Mesmo assim, as preferências de sabor em diferentes regiões são muito amplas e é preciso entender isso melhor”.

TEXTO World Coffee Research • FOTO World Coffee Research

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Sustentabilidade e ESG: como o café se enquadra nesses temas?

Claudia Leite tem mais de 25 anos no ramo de comunicação e sustentabilidade e se tornou referência no tema, consolidando a estratégia global e catalisando ações relevantes

Claudia Leite – Foto: Wilian Jackson

O café fazia parte da sua vida desde a infância, lá no sudoeste de Minas Gerais. Ela cresceu em meio às produções de café. Dali, Claudia Leite iniciou uma carreira promissora, até se tornar diretora da Hilo Estratégia e Propósito.

“Vim de São Sebastião do Paraíso, e na minha infância e adolescência eu tive contato com a realidade da cafeicultura, com diferentes produtores e produtoras e tudo que eu pude estudar depois, no Brasil e no exterior, foi importante, mas nada se compara a entender o dia a dia desses produtores, saber os desafios que realmente temos. Isso me trouxe afeição e identificação com o café, depois eu consegui me reconectar com isso na minha trajetória profissional, mas no sentido de buscar cada vez mais valorizar as origens dos cafés, as histórias e as pessoas que existem por trás dessa cultura que a gente bebe”, conta a especialista.

Ela que sempre focou a sustentabilidade conta que em 2006 já trabalhava havia dez anos na Nestlé, quando então foi convidada a trazer a Nespresso para a América Latina. O objetivo da marca era ter cafés de alta qualidade, sustentáveis, já porcionados, e ali se dedicou a estudar muito sobre como vender café a quem mais produz café, que é o Brasil.

“De todas as estratégias comerciais e de comunicação que eu recebi como incumbência na época, um dos maiores desafios foi entender e conhecer mais sobre sustentabilidade, e apoiar no desenvolvimento desse conceito considerando a realidade local do Brasil como o maior produtor mundial e o maior fornecedor para a marca, além de saber como isso poderia ser entendido, potencializado e também comunicado. Eu já realizava muitas atividades como cidadã no meu dia a dia, mas isso é distinto de uma abordagem profissional como responsabilidade dentro de uma grande indústria. Entendi como tudo funcionava na prática. É diferente de hoje, que todo mundo fala de sustentabilidade, de ESG (sigla em inglês para responsabilidade social, ambiental e de governança). Na época não tinha toda essa importância e destaque, mas eu consegui mostrar como o tema poderia funcionar na cadeia do café.’’

O tema sustentabilidade é debatido em diversos eventos e palestras. Claudia diz que ele sempre existiu e foi ganhando diferentes contornos ao longo da história, e que é uma nova forma de fazer negócios, atender a demandas e garantir que as próximas gerações possam usufruir de uma sociedade em equilíbrio. A visão é complexa e de longo prazo.

“Isso envolve redução da pegada de carbono, conservação de água, energia e recursos, direitos humanos, responsabilidade social e corporativa, criação de novos produtos e serviços como um diferenciador para os nossos negócios. Já o ESG eu entendo como uma forma muito didática de trazer um conjunto específico de critérios ambientais, sociais e de governança para obter métricas específicas. Seu foco é o impacto, o risco da natureza do nosso negócio e da operação, características do nosso setor. Podemos definir como investimento responsável – já que a sigla veio originalmente do mercado financeiro –, que identifica os retornos ajustados ao risco e a oportunidades de investimentos. Hoje o ESG já é aplicado em outros setores, que estão nessa busca para que seus negócios sejam cada vez mais sustentáveis em termos ambientais, de gestão de pessoas e com boa governança e transparência.’’

E o café?

Claudia destaca que o produtor sabe que tem uma relação muito próxima com o meio ambiente, o solo, pois é de baixo para cima e de dentro para fora que os nutrientes são levados para a planta ter a melhor produção em termos de volume e qualidade, além desse olhar para as condições do entorno. Por manter essa relação de longa data naturalmente, a especialista enxerga a produção do café como favorável a boas práticas de sustentabilidade também.

“Em termos de governança, a propriedade rural é um empreendimento, uma empresa. Então, se não fizer direito, vai haver prejuízos e riscos de dar errado. Recomendo sempre começar pelo básico bem-feito, pois não é algo pedido só pelo café especial ou por fazendas grandes, está sendo demandado por todo mundo, e se a gente conseguir medir esse controle e essa gestão profissional por meio da governança – e sei que isso é um desafio pra quem está no campo –, vamos saber o impacto do trabalho da cafeicultura na geração de renda, no desenvolvimento local, que são benefícios que a gente tem com a produção de café.”

Em relação ao meio ambiente, Claudia destaca o fato de que o Brasil conta com um código florestal bastante claro, mas que, em alguns pontos, ainda pode deixar o produtor receoso do que pode ser feito ou posto em prática. Nesse sentido, o caminho é fazer o melhor uso do meio e restaurar a paisagem na qual você está, cuidando do solo, da água, dos recursos naturais, evitando erosão, e assim manter um ambiente equilibrado.

No que diz respeito ao lado social, a legislação no Brasil é rigorosa. Por isso é importante entendê-la. Some-se a isso a pressão e a restrição de mercados que querem saber como a produção está sendo feita, e que portanto criam barreiras caso as regras não estejam sendo respeitadas. Ter acesso à informação e à assistência técnica é fundamental e ajuda nesse trabalho para que as pessoas sejam tratadas com respeito e tenham seus direitos preservados. Um descuido pode pôr em risco toda a credibilidade do setor.

“O produtor pensa muito na manutenção financeira, mais operacional, e a isso se soma a responsabilidade do seu negócio de garantir formação e capacitação contínua, além de fazer análise do solo, usar corretamente os adubos, reduzir o uso de compostos nitrogenados, manejar matéria orgânica, garantir a ciclagem de nutrientes para ter biomassa de carbono, ter cuidado com erosão – principalmente em regiões de montanhas – e, na parte social, o compromisso que se tem de cuidar das pessoas, antecipar problemas e não ter o produtor como um agente isolado desse problema. Todos são interdependentes e devem contribuir, pois fazem parte da solução: cooperativas, sindicatos, torrefadores, empresas.”

Crédito de carbono

A especialista explica que isso movimenta milhões no mundo hoje e funciona da seguinte maneira: uma organização que emite os gases paga para outra que gera créditos para neutralizá-lo. Assim, o carbono que foi emitido em um lado acaba sendo compensado no outro. Por isso ele tende a se comportar como uma commodity mesmo, trazendo oportunidade de novos negócios e até de fonte de renda para diferentes públicos, como pequenos produtores rurais, comunidades tradicionais, o que fortalece as cadeias produtivas.

E esse mercado deve crescer ainda mais, pois organizações e até mesmo países precisam compensar o que produzem enquanto outros são capazes de sequestrar o carbono. “Tem um estudo da WayCarbon que mostra que há segmentos com grande potencial e oportunidades para o Brasil e que podem movimentar algo entre cerca de 500 milhões de dólares e 100 bilhões de dólares, e gerar 8,5 milhões de empregos até 2050. A regulação no País é de maio de 2022 e estamos entendendo como podemos participar desse mercado’’, pontua.

Agricultura regenerativa

Claudia fala muito de práticas que tenham o olhar para a recuperação de solos empobrecidos e a garantia de bom uso dos mesmos. Ela valoriza os micro-organismos que estão presentes no solo, que são fundamentais para a vida na terra, ainda que não se possa ver essa microbiota a olho nu.

Para o futuro da cafeicultura, Claudia Leite acredita na visibilidade do que já é feito de bom e no fortalecimento do que temos de destaque. “Planejar as ações com intencionalidade e medir o bom impacto gerado pela produção de cafés, seja para as pessoas, seja para o meio ambiente, buscando sempre o equilíbrio na produção. É fundamental melhorar a comunicação da porteira pra dentro e da porteira pra fora, para valorizar o orgulho que a gente tem de produzir café, de estar envolvido em toda essa cadeia, gerando dignidade, bem-estar, autoestima em tantas pessoas que estão envolvidas em todo esse processo, reconhecendo o valor dessa cultura que a gente bebe’’, finaliza.

Atente para:

• Realizar rotação de culturas, evitar o cultivo excessivo de mais uma planta na mesma terra, cobrir a terra de cultivos o ano todo para protegê-la, reduzir a evaporação e a perda de água, e para não haver pouso na entressafra, evitando a erosão.

• Arar menos os campos, reduzir drasticamente o uso de fertilizantes e pesticidas e pensar no bem-estar animal e em práticas justas de trabalho para os produtores.

• Um estudo do Instituto Rodale concluiu que os benefícios são grandes, levando-se em conta somente a produção de alimentos. O agronegócio vai ser capaz de sequestrar 100% das emissões de carbono de todo o mundo, pois o alimento tem a capacidade de reverter as mudanças climáticas.

• Manter boas práticas de cultivo, conhecer as dinâmicas de produção, saber que a planta e o solo são vivos e que as necessidades podem variar entre os anos.

• Fazer correções de nutrientes de um ano para outro pode ser necessário para melhorar a saúde da planta, além de fazer uso eficiente de produtos, manejo de solo e uso racional de recursos hídricos.

• Planejar bem a colheita e o pós-colheita para garantir que não se perca o trabalho de um ano todo.

• Além de tudo isso, trabalhar a possibilidade de redução de custos e de mais qualidade.

Texto originalmente publicado na edição #80 (junho, julho e agosto de 2023) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Natália Camoleze

Cafezal

Práticas sustentáveis ampliam retenção de carbono na cafeicultura capixaba

Estudo liderado pelo Cecafé avalia o impacto das práticas agrícolas conservacionistas no balanço de carbono da produção conilon, demonstrando melhorias significativas na retenção de CO2

Pesquisa sobre a produção de conilon no Espírito Santo mostra que práticas sustentáveis podem aumentar significativamente a retenção de carbono. Se a produção tradicional deste grão no estado já retém mais carbono do que emite – os dados apontaram para uma remoção de 3 toneladas de CO2 por hectare ao ano – com práticas sustentáveis, essa capacidade sobe para 8,24 toneladas.

O estudo “Balanço de GEE do Café Conilon Capixaba”, liderado pelo Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) e apresentado nesta quarta, 29, analisou as mudanças no manejo agrícola para práticas mais conservacionistas, resultando em um impacto positivo significativo no balanço de carbono.

Em colaboração com o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do ES (a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca) e sob condução científica do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e de Carlos Eduardo Cerri, da Esalq, o estudo destaca a eficácia de técnicas como o retorno de resíduos pós-colheita ao solo e o uso de adubos orgânicos, contribuindo ainda mais para um balanço carbono negativo e para um impacto ambiental positivo.

A pesquisa não só demonstra a eficácia das práticas sustentáveis na cafeicultura, como também aborda as mudanças no uso do solo – como a de pastagens para o plantio de conilon –, que ampliam ainda mais a retenção de carbono. O estudo avaliou as emissões de gases de efeito estufa e o sequestro de carbono nas propriedades.

Além de destacar o papel da cafeicultura capixaba na mitigação das mudanças climáticas, a pesquisa sublinha a importância de adaptações nas práticas agrícolas frente às novas regulamentações globais antidesmatamento e às exigências de mercados sustentáveis, como a EUDR.

O estudo reforça, ainda, a relevância do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, lançado e tocado pelo estado capixaba desde 2022, e que vem fomentando práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) com o objetivo é adequar as propriedades à sustentabilidade. O programa, com 27 projetos, pretende adaptar 8 mil propriedades até 2026 com um investimento de R$ 5,45 milhões, promovendo práticas sustentáveis e ESG. Essas ações buscam melhorar o desempenho econômico dos produtores, conservar recursos naturais e atender à demanda global por produtos sustentáveis, com destaque para a capacidade de sequestro de carbono das fazendas avaliadas.

Para concluir, os resultados do estudo também ressaltam o potencial de sinergia entre a cafeicultura e os investimentos verdes. Iniciativas como a recuperação de pastagens degradadas não apenas reforçam o compromisso ambiental, mas também posicionam o Espírito Santo como um líder em práticas de café sustentável globalmente. Este esforço coletivo demonstra o papel vital do setor agrícola no enfrentamento dos desafios climáticos e na preservação de recursos naturais para as futuras gerações.

Confira a apresentação dos resultados aqui. O texto completo está no site do Cecafé.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

“Nosso negócio é uma fábrica a céu aberto, vulnerável ao clima”, diz o cafeicultor Lucas Venturim

Em entrevista à Espresso sobre a quebra de safra no Espírito Santo, o premiado produtor de conilons capixaba diz que os preços de canéfora no mercado têm que subir, senão os cafeicultores terão de “fechar a porteira”

Lucas Venturim, cafeicultor na Fazenda Venturim

O mercado interno e as bolsas internacionais começam a sentir os efeitos das mudanças climáticas na safra 2024/25 no Espírito Santo. Em entrevista à Espresso, Lucas Venturim que, ao lado do irmão Isaac, produz premiados conilons na fazenda que carrega o sobrenome da família, em São Domingos do Norte, traça um panorama dos efeitos das mudanças climáticas na região, por calor e chuva fora de época.  

O que está acontecendo para que haja a quebra de safra no Espírito Santo?

Venturim: Este ano, estamos enfrentando as consequências da quebra de safra. Em julho do ano passado, no final do inverno e durante nossa colheita no Espírito Santo, em lugar do típico inverno seco, as chuvas caíram entre julho e agosto. Isso fez com que os pés de café, já estressados pela seca nos meses mais frios de maio e junho, “pensassem” que a primavera estava começando e iniciaram a floração.

Contudo, as chuvas não pararam, o que é prejudicial para nós que cultivamos conilon. Ao contrário do arábica, o conilon depende fortemente da polinização cruzada, seja por abelhas ou pelo vento. Chuva sobre as flores abertas significa que o pólen é lavado – dizemos que a chuva “mela” a flor. Além disso, as abelhas e outros insetos polinizadores não voam nesse tempo. O resultado é que essa chuva precoce comprometeu a polinização dessas floradas, que foram frequentes devido às chuvas irregulares. Em muitas delas, a chuva causou danos tanto à qualidade do café, por falta de homogeneidade na frutificação, quanto à efetividade da polinização.

Quando esperávamos que começasse a chover, no início da primavera e do verão, não choveu. Parou de chover em um período que, geralmente, é chuvoso. Novembro e dezembro são os meses mais chuvosos do ano para nós, assim como janeiro. E enfrentamos uma grande estiagem, de setembro até meados de dezembro. Foram meses extremamente quentes, sem nenhuma chuva. Isso causou abortamento e má formação dos frutos que tinham sido polinizados. Vimos muitos frutos caindo logo depois, em janeiro. As chuvas voltaram ao normal em janeiro e fevereiro, mas já era tarde demais, pois muitos frutos já haviam sido perdidos ou estavam mal formados. Portanto, o que estamos colhendo agora reflete essas anomalias que tivemos no meio do ano passado, resultando, infelizmente, em uma safra ruim, como esperado.

O que vocês estariam fazendo e obtendo, nessa época do ano, em  uma safra regular?

V: Em termos das atividades, tudo está acontecendo conforme o esperado.

Iniciamos a colheita no período habitual. No entanto, estamos observando uma quantidade significativa de frutos mal formados. Frequentemente, ao colher um fruto aparentemente maduro, descobrimos que ele está sem semente ou com a semente murcha e mal formada, o que é especialmente evidente no processo de descasque do café.

Estamos enfrentando uma perda considerável durante o processamento. Há muitos frutos compostos apenas por casca, sem qualquer semente presente.

Além da má formação, já enfrentávamos problemas com a frutificação e a polinização, o que dificultou a fixação das floradas. 

Trata-se de uma combinação de fatores que está impactando o rendimento de modo negativo.

Quais as consequências para os produtores e para os mercados nacional e internacional?

V: A consequência é isso, a frustração de safra. Nós já vínhamos de uma safra pequena no ano anterior. Então, esperávamos que esse ano a safra fosse boa, porque as plantas estavam descansadas, vamos dizer assim. E realmente a lavoura está bonita, porque choveu bem em janeiro e fevereiro, como disse. Mas não tem realmente muitos frutos. E vamos ter uma quebra de safra considerável na região (eu não saberia dizer em termos de Brasil). Nossa economia gira em torno do café, porque todos aqui produzem o grão.

Essa quebra já começou a refletir nos mercados nacional e internacional. Só este ano, a bolsa de valores em Londres, que é referência para os cafés canéfora, chegou a subir 45%. Acredito que o Vietnã vai enfrentar o mesmo problema, porque o período de florada já passou com a seca forte que enfrentaram. Então, quando eles forem colher os frutos, mais perto da virada do ano, acredito que essas mudanças climáticas irão interferir. 

O pessoal diz que o preço do canéfora subiu. Mas não subiu tanto a ponto de compensar uma frustração de safra nos dois últimos anos. Nós perdemos meia safra. Se somarmos a perda do ano passado e a perda mínima deste ano, que ainda vai ser apurada (pelo que já vimos, será de pelo menos meia safra), é uma quebra considerável. E não temos margem para absorver isso. Então, o preço de mercado tem que subir para compensar o produtor, senão ele terá que fechar a porteira, porque não vai ter mais como tocar a fazenda.

A gente tenta compensar, caprichando nos cafés que conseguimos colher. Vamos tentar fazer o melhor possível quanto à qualidade para poder tirar dos frutos seu melhor potencial. É o que dá para fazer.

Lucas e seu irmão, Isaac Venturim (à esq.)

Quais as soluções para minimizar efeitos assim no futuro?

V: É difícil dizer, principalmente devido à questão climática, sobre a qual temos pouca influência. Mesmo com previsões meteorológicas que não oferecem muita antecedência, as opções de ação são limitadas. Por exemplo, nossa lavoura é totalmente irrigada.

Utilizamos sistemas de irrigação avançados, do tipo israelense, que maximizam o uso da água e otimizam a fertirrigação, com nutrientes aplicados por meio da água, como se fosse uma hidroponia. Também intercalamos árvores entre as culturas para reduzir a temperatura média e a evapotranspiração, além de adotar diversas práticas de preservação de água e sustentabilidade.

Trabalhamos com polinização assistida, introduzindo mais abelhas durante a florada para melhorar a polinização. Mas, frente ao clima, essas medidas apenas mitigam o problema e não oferecem soluções definitivas. Por exemplo, a irrigação melhora a situação em comparação a sistemas não irrigados, mas não substitui a sombra natural das nuvens. Mesmo irrigando os cafezais, se a temperatura atingir 42ºC ou 43ºC, a técnica não fará milagres – os frutos serão danificados de qualquer forma.

Continuamos a trabalhar com limitações como esta, conscientes de que estamos à mercê da natureza. Nosso negócio é como uma fábrica a céu aberto, extremamente vulnerável a fatores climáticos.

“A luta também deve ser por uma política de seguro rural mais robusta no país. Atualmente, ela é insuficiente, e deixa o produtor rural totalmente exposto a essas condições climáticas imprevisíveis.”

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia