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Torrefadora italiana realiza seminário sobre inovações do cafeicultor

Nesse ano será realizado o 18º Seminário anual da illycaffè e Università Del Caffè Brazil, no dia 16 de março, na Sala da Congregação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

Nos destaques estão a Webinar, que terá como tema “Fazendo mais e melhor: inovações no agronegócio café”, onde o assunto será as inovações desenvolvidas pelo cafeicultor em sua fazenda e as palestras do Dr. Andrea Illy, presidente da illycaffè, e do Prof. Dr. Decio Zylbersztajn, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade/Universidade de São Paulo e fundador do PENSA/FIA.

seminário illycaffè

Conhecida no mundo do café por ter sido a precursora do espresso, a illycaffè possui parcerias que visam a qualidade e a sustentabilidade. Com grãos de nove origens diferentes, incluindo o Brasil, são consumidas mais de 7 milhões de xícaras de café illy por dia em mais de 140 países.

As inscrições são gratuitas e, para aqueles que se inscreverem antecipadamente, o Webinar estará disponível na internet com links em português e inglês. Ver abaixo.

No mesmo dia será realizada a 26ª edição do Prêmio illy de Qualidade do Café para Espresso, em São Paulo. A premiação contará com a presença de alguns cafeicultores nacionais finalistas do concurso, autoridades do segmento, convidados internacionais e parceiros da multinacional italiana, além do Presidente e do CEO da illycaffè para fazer a entrega dos prêmios.

Para se inscrever no Webinar e/ou mais informações, clique aqui.

 

TEXTO Redação • FOTO Lucas Albin/Agência Ophelia

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De volta às origens

A ideia de retornar ao campo começou a se concretizar há treze anos. De lá para cá, a família Moraes vem conquistando outras pontas do agronegócio café.

de volta às origens

A umidade baixa é uma das protagonistas em um trecho produtor paulista. Na região de Marília e Garça, o segundo município se destaca por possuir características que convergem para este fator: altitude média em torno de 600 metros, que condiciona temperaturas médias na faixa de 21 a 22 graus, e solo arenoso.

O outro protagonista desta história? O retorno às    origens. Na equação, o cansaço causado por uma vida tumultuada em um grande centro e a vontade de mudança. E no resultado, nenhuma volta ao mundo como tanto temos visto por aí. No lugar de jogar tudo para o alto e programar uma megaviagem, José Carlos de Moraes Filho, formado engenheiro civil, pegou o caminho da roça. O processo o levou de Vinhedo, na região de Campinas, ao município de Garça, distante 415 quilômetros da capital.

A ideia de retornar ao campo, onde ele guardava suas melhores lembranças da infância, começou a se concretizar há treze anos. Em Garça, José Carlos, apelidado pelos amigos de Zito, adquiriu uma propriedade com características que a destacam no cenário regional. Segundo ele, foi paixão à primeira vista. Mas a esposa, Maria Cristina Beisman de Moraes, também engenheira civil, lembra que foi preciso promover mudanças. “No início, o terreno era muito malcuidado e o Zito promoveu mutirões para pôr tudo em ordem”, diverte-se.

Técnicas modernas

O Sítio Água da Mata tem em sua lavoura o que José Carlos explica ser “uma privilegiada face ensolarada, sem vento sul”. Zito também decidiu plantar o cafezal em linhas que se curvam no sentido que vai de leste para oeste. Quem apresentou a propriedade e a região ao produtor foi Luiz Salutti, corretor de fazendas e de café, e que se tornou amigo da família. “Aqui na região de Garça temos cafeeiros com média de vinte anos de idade. A produtividade do município é geralmente de 35 sacas por hectare”, afirma ele sobre a origem, hoje pouco lembrada no cenário nacional, mas que mantém algo em torno de 12 mil hectares plantados, e entre 20% e 30% das lavouras irrigadas só no município.

Com a casa organizada, veio a busca por técnicas que colaborassem para manter uma produção resistente a baixa umidade. Através de uma técnica chamada enxertia, Zito implantou uma lavoura de raiz e base do conilon, mas que mantém o tronco, a árvore e, claro, seus frutos de café arábica. “A técnica torna o cafezal mais forte e traz menos perda na hora do plantio”, explica ele, que cultiva obatã, mundo novo, ouro verde e iapar.

Os cafeeiros da propriedade têm seis anos, em média, e em 2016 tiveram boa recuperação na produtividade, que, no ano anterior, caiu em decorrência da seca. A lavoura hoje, inclusive, é 100% irrigada e a colheita mecanizada é o carro-chefe. “Enquanto na época em que só havia colheita manual a fazenda precisava de cinquenta trabalhadores dedicados ao processo, hoje são nove pessoas na parte agrícola, contratadas durante todo o ano”, pontua Zito.

Entre as variedades, Zito explica que a obatã é mais tardia e seus frutos amadurecem, em geral, por último. A diversidade de desenvolvimento ajuda a programar a colheita e conseguir concluir praticamente tudo com o maquinário ao longo do terreno, que se mantém entre 700 e 800 metros. O solo arenoso também traz alguma tranquilidade. “A umidade é baixa e por isso o café que cai no chão não apresenta, tão rápido, problemas com fermentação”, explica ele, que credita a esse fator as características de acidez média, que destacam o aroma da bebida final.

Entre o campo e o beneficiamento, Zito descobriu sua vocação para o café. Hoje, o produtor passa boa parte da semana no Sítio Água da Mata

Entre o campo e o beneficiamento, Zito descobriu sua vocação para o café. Hoje, o produtor passa boa parte da semana no Sítio Água da Mata

Antes de chegar à xícara, porém, muita água precisa correr. Embora os cafés da propriedade sejam naturais, na separação é o lavador que trabalha constantemente. Próximo ao maquinário, um terreiro de cimento revestido de asfalto aguarda os cafés. A camada extra ajuda a elevar a temperatura e acelera a secagem dos grãos, que são revolvidos pelo menos a cada trinta minutos por dois trabalhadores em uma moto adaptada para o processo.

O tempo necessário no terreiro varia de acordo com o clima. “Neste ano, os grãos estão secando muito rápido. Tem café que você lava, passa um dia no terreiro e no outro já vai para o secador mecânico.” Os dois equipamentos mecânicos são movidos a gás e a lenha e se revezam no trabalho final dos lotes. “Em três dias, o secador movido a gás seca até 30 mil litros de cafés”, conta Zito, explicando que, para alguns cafés cerejas, o processo consiste apenas em manter a ventilação do equipamento para uma secagem diferenciada.

Por fim, há uma tulha com quatro repartições, onde os cafés descansam após a seca. “A ideia é fazer mais três silos para manter a umidade dos grãos entre 11% e 12%”, afirma Zito. Cada um dos silos hoje armazena até 500 mil litros de café.

Na busca pelo crescimento, a aposta na união entre produtores trouxe bons frutos. Com a assistência técnica de um agrônomo independente, Zito e outros cafeicultores da região se uniram para fazer a compra coletiva de adubos, assim como a venda em conjunto das sacas de café verde. “Ganhamos mais poder de barganha juntos”, pontua. Para fazer valer os investimentos, Zito e Maria Cristina decidiram ir além, no universo da torra. Nesse ponto, não demorou para que ela se pusesse à frente da nova empreitada. “A fazenda é com ele, mas a venda do nosso café eu faço com muito gosto. Valorizo o trabalho porque a gente precisa confiar no produto e levá-lo para todo o mundo”, declara.

Zito revolvendo o volume   de café recém-chegado ao terreiro e detalhe da torra, que acontece na torrefação Lugus

Zito revolvendo o volume de café recém-chegado ao terreiro e a torra, que acontece na torrefação Lugus

Mergulho na torra

Quase uma década se passou com a marca Café Aroma desde a decisão de ingressar na industrialização. “No início, a torra era terceirizada, mas decidimos trazer o processo para perto”, conta Zito. Foi então, há seis anos, que a torrefação Lugus – junção dos nomes dos dois filhos do casal, Luísa e Gustavo – começou a operar na propriedade. Hoje, 60% do café produzido no Sítio é torrado e o próprio Zito decidiu estudar a técnica, quando, em 2015, fez um curso de curva de torra com o consultor especialista em Marketing e Qualidade de Cafés Especiais, Ensei Neto.

Nesse caminho, outro emigrado da cidade grande viu na cultura cafeeira um novo potencial. Rafael Joseph, que havia trabalhado junto a Zito em uma grande empresa, também deixava a vida de escritório quando foi fisgado pelo café. Com a ideia de atuar diretamente na internet, Rafael iniciou um clube de assinaturas voltado para monodoses, o Clube das Cápsulas. Com o amigo produtor ele encontrou uma nova possibilidade para seu público-alvo. “A ideia de trazer uma marca feita pelo produtor dá muito valor à cápsula, traz toda a história do grão para o consumidor”, explica Rafael.

Depois de muito planejamento, tem sido através de encapsulamento terceirizado que os cafés do Sítio Água da Mata entram em mais um segmento da cadeia. “Criamos a cápsula Nonna Cella inspirados na minha avó, matriarca da família, que era uma mulher extremamente forte e independente”, conta Maria Cristina.

A circulação das cápsulas no clube e no mercado começou neste ano, e a família traça planos. “Estamos seguindo as normas da certificação 4C para obter mais sustentabilidade e valorização para o café.” A propriedade  busca também obter outro selo, o da UTZ – que tem auditoria agendada para março de 2017 –, e, a partir da experiência, Zito já mantém preservados 24% da propriedade com áreas de reserva ambiental e área de preservação permanente, as chamadas APP’s.

Entre todos os investimentos e ganhos com o sítio, Zito não deixa de frisar que quanto mais alto chegarem, melhor, mas que o retorno ao campo ainda é o item número 1 para toda a empreitada.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Thais Fernandes • FOTO Lucas Albin / Agência Ophelia

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Fermentação positiva. O que é?

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A expressão café fermentado é usada há décadas para definir café de má qualidade, mas experimentos recentes provam que a fermentação simplesmente ainda tem muita história para contar

Na era dos cafés especiais, cada ponto do cupping final é valioso (na metodologia norte-americana SCAA)! Grãos com pontuação alta podem ter o preço até quatro ou cinco vezes maior que o de mercado. “Já pagamos R$ 2.700 na bica corrida de cereja descascado do Rancho Dantas (Brejetuba-ES). Ele foi campeão do concurso de qualidade que promovemos em 2015 no Espírito Santo e atingiu 91,5 pontos”, conta o trader da Bourbon Specialty Coffees, Thiago Trovo.

Ao entrar no mercado de cafés especiais, o produtor tem mais chance de aumentar seu lucro e ainda não fica refém das oscilações de preço de commodity. É por isso que muitos estão investindo tempo, trabalho e dinheiro no campo e no manejo pós-colheita para melhorar cada vez mais o perfil sensorial dos grãos. É nesse cenário, portanto, que técnicas de fermentação positiva no café estão sendo testadas e estudadas.

Foi com um café de fermentação positiva, por exemplo, que o atual campeão brasileiro de barismo – Leonardo Moço – ganhou seu último título, em 2015. “Usei um lavado (washed) com uma levedura específica que fermenta cervejas tipo ALE, em parceria com o produtor Thiago Mota, da Fazenda Jatobá, na cidade de Patrocínio”, explica Leonardo.

O experimento, porém, foi uma casualidade. Ao saber que o barista procurava um café único para sua apresentação no
campeonato, o representante da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, Juliano Tarabal, sugeriu que ele usasse grãos do Cerrado. Para escolher um perfil sensorial diferente, técnicas de fermentação com levedura de cerveja foram adotadas. Esse café “tinha características de um washed como se fosse colombiano ou da América Central”, recorda Leonardo.

Testes e muitas perdas

Na esperança de produzir cafés que vão surpreender o paladar, testes com diferentes leveduras e de fermentação natural (com micro-organismos presentes na fazenda) estão acontecendo em várias regiões do Brasil. Alguns deram muito errado, poucos continuam com resultados positivos.

Antes de celebrar um aumento de 40% nos preços de sua saca (com cafés de maior pontuação) por meio de técnicas de fermentação, Mariano Martins, produtor da Fazenda Santa Margarida, localizada em São Manuel (SP), amargou grandes prejuízos. “No começo, perdi de 20% a 30% do valor até acertar a mão”, recorda-se. Ele decidiu manipular o processo de fermentação no ano de 2008, quando foi registrado o inverno mais chuvoso de que se tem notícia. “Isso foi logo no começo, quando assumi a fazenda e o café não secava no terreiro de jeito nenhum!”, conta.

As piores crises são berço das melhores ideias e foi assim que Mariano começou a estudar alternativas. Suas respostas foram encontradas na Colômbia, mais especificamente em Huila, região onde as características climáticas eram semelhantes às de sua fazenda, com a única diferença de que os grãos colombianos têm fama no mundo todo. “Para minha surpresa, descobri que os cafés lavados dessa região eram 40% mais caros que o padrão brasileiro”, afirma.

Outro acaso também inspirou o pesquisador da IFRJ Ademário Júnior a estudar os caminhos da fermentação positiva de cafés. Segundo ele, a ideia de pesquisa surgiu quando um cafeicultor da região da Serra do Caparaó esqueceu algumas sacas de plástico cheias de café cereja no campo, na sombra entre os pés de café. Para não jogar fora, Ademário decidiu ir em frente, provou o café e notou que seu sabor estava melhor. Foi assim que um projeto de pesquisa foi
redigido, em conjunto com cafeicultores, provadores de café e pesquisadores, e aprovado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Após longas discussões com os cafeicultores, foi preparado um experimento que controlava: (I) tempo de fermentação nas condições originais, (II) tipo de descascamento (ou não) da polpa e (III) altura de pilha no terreiro para quatro cafeicultores de altitudes diferentes”, explica o pesquisador. Além disso, a temperatura da sacaria em que o café fermentava foi medida durante os sete dias (prazo máximo) de fermentação, de meia em meia hora.

Cada cafeicultor gerou quinze amostras na combinação desses fatores em sacas de plástico. Os cálculos feitos a partir da resposta sensorial por cupping mostraram que havia uma melhora de qualidade. “A resposta não era a mesma e dependia do cafeicultor, mas, de modo geral, quatro dias de fermentação funcionavam bem para todos eles naquela região”, afirma.

Pesquisas e resultados

A cafeicultura do maior produtor do mundo, porém, não pode viver de acasos. Foi por isso que o professor e pesquisador da IFSULDEMINAS Leandro Carlos Paiva começou uma pesquisa em 2015 para mapear diferentes processos de fermentação. “No começo, as experiências buscavam melhoria sensorial na qualidade do café de acordo com a metodologia SCAA. O objetivo era apenas achar um meio de aumentar a pontuação, valorizando o produto final”, explica Leandro.

Nessa primeira fase, o tempo de fermentação estava entre catorze e dezoito horas em caixa d’água de plástico na IFSULDEMINAS e em tanques de concreto nas fazendas. “A ideia era evitar um ambiente laboratorial, onde qualquer parâmetro pode ser controlado. Queremos simular as condições que qualquer produtor terá em sua propriedade”, conclui. Durante os testes, notou-se uma fermentação bem intensa com temperatura máxima do mosto de 28 ºC, e o pH variou entre 5 e 3. Nesse cenário, o café não apresentou nenhum cheiro de ácido acético (vinagre), mas dava para observar que a polpa já havia se desprendido.

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Na Fazenda Santa Margarida, em São Manuel (SP), o produtor Mariano Martins realiza as fermentações em tanques, com medição precisa do pH e da temperatura

Vale lembrar que esse processo é utilizado na Colômbia há mais de cinquenta anos, mas nunca houve um estudo científico que avaliasse os sabores e aromas. Essa técnica é usada por lá para retirar a polpa rapidamente e evitar a fermentação ruim em clima muito úmido. Ou seja, a técnica é a mesma, mas os objetivos são totalmente diferentes entre Colômbia e Brasil. Como conclusão dos experimentos do ano passado, uma novidade bastante inspiradora: “Notamos um aumento médio de 3 pontos na classificação da SCAA”, afirma.

Essa constatação provada cientificamente nos estudos da IFSULDEMINAS já permeava as teorias de Mariano Martins e do barista Leonardo Moço muito antes. Em toda a história da Fazenda Santa Margarida, da família Martins, essa foi a primeira vez que ela produziu cafés com perfis tão diferentes, na safra de 2009.

Mesmo com um café melhor, não houve interessados na compra daquele grão diferentão. “Tive que vender o café como commodity, mas procurei entender o que ele tinha de diferente”, explica Mariano.

Depois de enviar amostras para diferentes degustadores, foi a barista Isabela Raposeiras que incentivou seus experimentos ao provar o café. “Ela me disse: ‘Não sei o que você está fazendo, mas continue fazendo. Eu conheço o café da região e esse está diferente’.’’ Na sequência, ela indicou um comprador em Nova York que adorou o resultado final. “Ele disse que o café tinha uma acidez macia”, afirma Mariano.

Com boas perspectivas no horizonte e sem estudos acadêmicos em mãos, ficou decidido que era necessário compreender esses cafés cientificamente. Foi quando uma parceria com uma universidade da Europa foi fechada e testes de cromatografia (teste laboratorial que mede quantitativamente a presença de ácidos nas unidades por grama) foram realizados.

Desde então, “comecei a modular o tipo de ácido que eu queria no café”, conta Mariano. Para 2016, seu desafio é dominar corpo, textura, maciez e finalização. “Quero acrescentar camada de potência sensorial mais pesada, como foi com o Guaranoia (corpo agradável, licoroso, com potência aromática). Esse é nosso brinquedo mais recente”, conclui.

Lá em Machado, na IFSULDEMINAS, o desafio deste ano é dar sequência à pesquisa com os resultados positivos registrados em 2015. Essa segunda fase, que ainda está em andamento, tem o objetivo de identificar que tipo de levedura será mais eficiente no melhoramento sensorial do café. Três leveduras (cerveja, vinho e champanhe) e dois lactobacilos (thermófilos e mesófilos) estão sendo testadas em intervalos de tempo diferentes: entre sete e cem horas no tanque de fermentação.

Feita em cooperação técnica com as fazendas O’Coffee (Pedregulho/SP), Iracema (Machado/MG) e Santa Jucy (Cassia dos Coqueiros/SP) e a IFSULDEMINAS/Machado, a pesquisa já mostra indícios surpreendentes. De acordo com o pesquisador Leandro, os resultados preliminares indicam que as leveduras tiveram respostas, mas os resultados foram parecidos independentemente do tipo de fermento. “O mais importante na fermentação é dar condições para ela acontecer e saber o momento certo de finalizar. Os parâmetros importantes nessa decisão são temperatura e pH. O ideal é manter entre 25 ºC e 30 ºC e pH entre 3 e 5”, explica.

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Detalhe da mão do produtor com o melado do açúcar natural do fruto do café, que contribui para o sabor final da bebida

Perguntas e respostas

Entre os experimentos que estão acontecendo em diferentes partes do Brasil, alguns fatos foram citados pelos aventureiros que estão apostando na peleja dos cafés fermentados.

Leveduras realmente fazem a diferença? Resultados prévios da IFSULDEMINAS indicam que o uso de leveduras diferentes não representa grandes alterações sensoriais na xícara. De modo geral, elas melhoram o perfil sensorial, mas não conferem características mais frutadas ou mais doces ao grão. Ou seja, uma levedura de cerveja não garante uma nota mais cítrica, por exemplo.

Existe uma fórmula para seguir? Não existe uma “receita de bolo” ou uma padronização de fermentação. Cada região, cada fazenda, cada talhão faz a diferença, principalmente se a fermentação for natural (com micro-organismos do local). Para testar em sua fazenda, o produtor tem que estar disposto a aprender e a perder um pouco de dinheiro em testes. “Você vai ter que estudar muito! Você terá que ser um integrador de conhecimento”, ressalta Mariano.

Fermentação de café versus fermentação de cerveja e vinho? Infelizmente, a fermentação do café não tem as facilidades e os padrões da indústria do vinho e da cerveja. De acordo com o professor Leandro Carlos Paiva, existe um controle melhor de temperatura e pH do vinho e da cerveja e o controle da quantidade de açúcar do mosto do vinho, do lúpulo e do malte da cerveja é mais simples. “Esse controle é mais fácil para decidir o volume de levedura que será adicionado (número correto de micro-organismos que serão inseridos por litro) ao café”, explica.

No café, o controle de açúcar e temperatura não existe. Portanto, fica complicado definir a quantidade exata de levedura (número de micro-organismos por litro de café cereja – que pode ser descascado ou natural).

Além desses parâmetros, o café pode sofrer muita influência na secagem dos grãos e ainda passa por um processo térmico: a torra. Daí a complexidade dos cafés de fermentação positiva. Existem altos riscos de perder toda a qualidade adquirida na fermentação se a secagem for malfeita. O mesmo princípio é válido para a torra. “Por isso, muitas vezes certas fermentações não têm o resultado esperado”, finaliza Leandro.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

TEXTO Kelly Stein • FOTO Divulgação Martins Café/Fazenda Santa Margarida

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Café de 90,95 pontos vence a Prova de Cafés Certificados Imaflora

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A AC Café S/A, empresa exportadora de café, localizada na região do Cerrado Mineiro, apareceu duas vezes entre os vencedores da VIII Prova de Cafés Certificados Imaflora – Rainforest Alliance Certified. O café campeão foi produzido na Fazenda Santa Rosália e, com processado por via úmida (CD), atingiu 90,95 pontos. O grão enviado foi da variedade bourbon amarelo.

Já o lote da Fazenda Santa Lucia, também da AC, foi de café natural e atingiu 90,15 pontos ficou em terceiro lugar. “Tivemos chuva nos meses de maio e junho, mas conseguimos ainda assim uma qualidade excelente nesta safra”, conta Fellipe Pacheco, que representou a AC Café durante a premiação.

Em segundo lugar, o café natural da Fazenda União, do produtor Jose Carlos Grossi, atingiu os 90,45 pontos. O anúncio das 20 melhores amostras foi feito na última quinta feira (27/10), durante o evento de premiação dos melhores cafés Rainforest Alliance Certified do Brasil 2016, na cidade de Patrocínio (MG).

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A Prova, promovida pelo Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, busca mostrar que além da produção sustentável, os produtores certificados têm excelência em qualidade. Foram inscritas 86 amostras, sendo 40 processadas por via úmida (CD) e 46 processadas por via seca (Natural). Todo o processo de classificação foi realizado na Universidade Federal de Lavras (Ufla), coordenada pelo prof. Dr. Flávio Borém.

Veja como foi o anúncio do resultado do concurso:

“A Prova é exclusiva para os empreendimentos que possuem o selo Rainforest Alliance Certified. Nessa edição, decidimos celebrar os resultados junto aos produtores da região do Cerrado, onde existe a maior quantidade de produtoras e produtores certificados” reforça Eduardo Trevisan Gonçalves, secretário executivo adjunto do Imaflora. Para ele, a qualidade e sustentabilidade são fundamentais para a competitividade na cadeia do café.

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Durante a tarde, antes da revelação dos vencedores, houve uma prova às cegas com os 20 melhores cafés. A organização convidou provadores para avaliar os cafés e deixou à disposição amostras para serem levadas e torradas por cada um. “A ideia é que cada um possa torrar e preparar o café a sua maneira e, se se interessar, entrar em contato conosco para saber de quem era o café para comprá-lo”, pontuou Borém.

Veja, no quadro abaixo, a classificação final da VIII Prova de Cafés certificados Imaflora – Rainforest Alliance Certified:

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TEXTO Thais Fernandes, de Patrocínio • FOTO Divulgação

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Prêmio Ernesto Illy anuncia finalistas: mineiros lideram

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Estão definidos os 40 cafeicultores finalistas do 26º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso. Os melhores grãos de café foram selecionados entre um total de 632 amostras, analisadas pela Comissão Julgadora, composta por diretores e classificadores da Experimental Agrícola do Brasil, braço da illycaffè no país.

A lista aponta que Minas Gerais segue sendo o estado com tradicional predominância no concurso. Teve representantes das regiões cafeeiras do Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Chapada de Minas e Sul de Minas, além de um produtor de São Paulo. Os dois Estados têm concentrado os últimos campeões nacionais da premiação.

Especialistas da matriz da torrefadora, na Itália, estão no Brasil para integrar a equipe que selecionará os melhores cafés – entre eles, Anna Illy, diretora da empresa. Além dos campeões da categoria nacional, serão definidos também os vencedores das categorias regionais: Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Chapada de Minas, Matas de Minas, Espírito Santo, Norte/Nordeste, Rio de Janeiro, São Paulo, Sul e Centro-Oeste.

Os três primeiros colocados nacionalmente receberão R$ 10 mil e uma viagem ao exterior para participar do 2º Prêmio Internacional Ernesto Illy, que reconhecerá os melhores cafés dos países fornecedores da empresa. Aos finalistas regionais, além de um montante em dinheiro, serão entregues diplomas. A cerimônia de premiação será realizada no dia 16 de março de 2017, em São Paulo.

Veja, abaixo, a lista dos 40 finalistas (em ordem alfabética):

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Piatã domina categoria Pulped Naturals e Sul de Minas vence Naturals no Cup of Excellence

O Cup of Excellence – Brazil 2016 revelou seis cafés presidenciais – com notas acima de 90 pontos – entre seus campeões. A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) realizou, no último sábado (29), em Santo Antônio da Platina, no Paraná, a cerimônia de premiação do concurso. No total, foram 43 “Cup of Excellence Winners”, sendo 19 na categoria Naturals, que premia cafés naturais (secos com casca), e 24 na Pulped Naturals, para cafés cereja descascados/despolpados.

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Categoria Naturals

Na categoria Naturals, foram 19 vencedores, com quatro lotes se destacando e sendo eleitos cafés presidenciais por obterem nota superior a 90 pontos. O café campeão, que chegou a 90,50 pontos, é do produtor Homero Aguiar Paiva, da Fazenda Guariroba, de Santo Antônio do Amparo, Sul de Minas. Em segundo lugar, ficou Cleverson Daniel da Silva, do Sítio Vargem Alegre, de Cristina, em Mantiqueira de Minas, com um café que atingiu 90,34 pontos.

O terceiro café, de Cristiana Maria Carneiro Bustamante Figueira, do Sítio Paraíso, em Conceição das Pedras, Mantiqueira, ficou com 90,26 pontos. E, o quarto café presidencial da categoria foi de Cristina Dias Sampaio Gerolimich, da Fazenda Caracol, em Araponga, Matas de Minas, teve 90,03 pontos.

Entre os campeões estiveram, ainda, grãos da Chapada Diamantina (BA), da Denominação de Origem do Cerrado Mineiro e da Indicação de Procedência da Alta Mogiana (SP).

Confira quem são os vencedores e suas respectivas notas, abaixo:

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Foram eleitos, ainda, 12 “National Winners”, que foram os cafés que tiveram nota entre 84,0 e 85,99 pontos na avaliação do júri internacional do Cup of Excellence – Brazil 2016. Essas amostras são oriundas da Indicação de Procedência da Mantiqueira de Minas Gerais, da Indicação de Procedência da Alta Mogiana (SP), da Denominação de Origem do Cerrado Mineiro, do Sul de Minas Gerais, das Matas de Minas e da Chapada Diamantina (BA). Os vencedores estão disponíveis no site da BSCA: http://cup.bsca.com.br/file/download/id/2879.

Categoria Pulped Naturals

Já na categoria Pulped Naturals, foram 24 cafés foram eleitos campeões, e foi um município específico que se destacou. Piatã (BA), localizado na região da Chapada Diamantina, dominou a categoria e teve dois lotes obtendo mais de 90 pontos e sendo classificados como cafés presidenciais. O município puxou a Chapada Diamantina, na Bahia, para região que liderou a final e emplacou 19 dos 24 campeões da categoria.

O campeão foi o produtor José Joaquim Oliveira, da Fazenda Santa Bárbara, de Piatã, com um café que atingiu a 91,66 pontos. Em 2º lugar, ficou Anastácio José de Novais, do Sítio Terra Santa, Piatã, com o lote pontuado em 90,21.

As regiões das Montanhas do Espírito Santo, das Matas de Minas e da Indicação de Procedência da Mantiqueira de Minas Gerais também tiveram seus cafés entre os vencedores da Pulped Naturals.

Veja, abaixo, os campeões:

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Outros 10 cafés tiveram notas entre 84,0 e 85,99 pontos na avaliação do júri internacional do CoE – Brazil 2016 e foram eleitos “National Winners”. Esses lotes são originários da Chapada Diamantina (BA), das Matas de Minas Gerais, das Montanhas do Espírito Santo e da Indicação de Procedência da Mantiqueira de Minas Gerais. Os nomes podem ser conhecidos no site da BSCA: http://cup.bsca.com.br/file/download/id/2876.

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Região da Alta Mogiana premia seus melhores cafés da safra

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Em 2013, a região da Alta Mogiana, que possui 23 munícipios produtores de café, conquistou a Indicação de Procedência (IP), um selo que identifica e protege os cafés por suas características, apontando a origem geográfica e as condições de produção, além da história e da cultura.

Neste ano a grande novidade da região, a primeira Indicação Geográfica agrícola do estado de São Paulo, foi unir dois concursos locais, o da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC) com o da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), resultando no 14º Concurso de Qualidade do Café da Região da Alta Mogiana.

O Concurso apresentou três categorias: natural, cereja descascado e microlote e recebeu 235 amostras, dentre elas 201 na categoria natural, 23 na categoria de microlote e 11 na de cereja descascado. Os cafés foram avaliados nos meses de setembro e outubro pela equipe presidida por Elder Moscardini, Irmãos Moscardini Specialty Coffee, e pela provadora e head-judge Georgia Franco de Souza, do Lucca Cafés Especiais, de Curitiba (PR).

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A grande final foi realizada na sexta-feira, dia 14 de outubro, e premiou apenas os cafés aprovados na pré-seleção e que alcançaram acima de 85 pontos, de acordo com a tabela de classificação internacional da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA).

Conheça os premiados:

Campeões da Categoria Natural:
1º Lugar – Lauro Pimenta de Oliveira – Fazenda Mira Flor – Restinga – SP
2º Lugar – Barbara Malta – Sitio Capoeira – Jeriquara – SP
3º Lugar – Fernanda Maciel – Sitio da Mangueira – Pedregulho – SP
4º Lugar – Maria Leonor Guimarães Correa – Fazenda Boa Vista – Cassia – MG
5º Lugar – Elvis Vilhena – Fazenda Eldorado – Ibiraci – MG

Campeões da categoria Microlote:
1º Lugar – José Agostinho Taveira – Fazenda Taveira – Ibiraci-MG
2º Lugar – Guilherme Nassif Ferreira – Fazenda Pouso Alto – Cristais Paulista – SP
3º Lugar – Laura Ferreira – Fazenda MF – Pedregulho – SP

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À esquerda o campeão da categoria Natural, Lauro Pimenta de Oliveira, e à direita, o campeão da categoria Microlote, José Agostinho Taveira.

 

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À esquerda a vice campeã da categoria Natural, Barbara Malta, e à direita, o vice campeão da categoria Microlote, Guilherme Nassif Ferreira.

Mais informações: http://www.amsc.com.br/

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Pesquisa Cafeeira, corremos riscos?

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O instituto de maior referência na área do café e com o maior Banco de Germoplasma do País vive grandes dificuldades e a pesquisa do setor pode ficar prejudicada

O futuro da pesquisa no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) parece ainda ser nebuloso. O IAC não tem concursos públicos há doze anos. Falta manejo adequado do cafezal e do maior Banco de Germoplasma do Brasil, falta pesquisador, falta pessoal de apoio à pesquisa. Em meio a tantas ‘faltas’, como enxergar as saídas possíveis?

“Os concursos têm ocorrido em intervalos muito longos, o mais recente foi em 2003 e o anterior a esse havia sido em 1992. Portanto, a cada dez anos ou mais. Falta pesquisador na área de melhoramento genético e fitotecnia do cafeeiro”, afirma o pesquisador da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, vinculado ao Instituto Agronômico (IAC), e diretor do Centro de Café Alcides Carvalho do IAC, Gerson Giomo. Hoje, o Centro conta com uma equipe de onze pesquisadores, incluindo o diretor.

Em segundo plano, mas não menos importante, está a redução da equipe de apoio à pesquisa, pessoas para a manutenção dos cafezais e para o trabalho em laboratórios. “Nos últimos anos, quatro funcionários de campo se aposentaram e nenhum foi reposto. Não há autorização governamental para a realização de novos concursos”, relata Gerson.

A contratação da equipe de apoio se tornou uma dificuldade mais evidente há, pelo menos, oito anos. O repasse de verbas para a pesquisa é feito através do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), em parceria com o Ministério da Agricultura e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “O problema, contudo, se agravou a partir de 2009, quando houve mudanças no convênio do Funcafé em função da legislação federal. Desde então, a programação de pesquisa foi impactada, com prejuízos na condução de experimentos em campo”, explica o diretor do Centro de Café.

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As mudanças que visavam evitar mau uso dos recursos públicos acabaram impedindo a agilidade do repasse dos recursos pelo convênio, aprovados nos projetos. O ponto tira a autonomia de instituições como o IAC, que passa a ter seus recursos, mesmo extraorçamentários, submetidos à análise jurídica da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. O último convênio do Funcafé a ser firmado com o IAC refere-se a 2013. Três anos mais tarde, porém, ele ainda não foi concluído.

O maior banco de germoplasma do Brasil
A morosidade no processo deve impactar negativamente o Banco de Germoplasma, o maior do Brasil e um dos maiores do mundo. “Há dois anos, os experimentos não são colhidos em sua totalidade, por falta de mão de obra. Na manutenção de cafezais, inclui-se área de preservação de espécies, banco de germoplasma e coleções de plantas, que também não têm recebido manejo adequado.”

O banco é constituído por cerca de 5 mil acessos que envolvem espécies, variedades, mutantes, plantas segregantes, entre outras, totalizando cerca de 30 mil indivíduos. “Tudo isso é necessário para manter a variabilidade genética de interesse ao melhoramento genético do cafeeiro; a grande dificuldade da espécie é que a planta precisa ser mantida viva no campo, com renovação e reposição periódicas, o que gera alto custo de manutenção. Há grande diversidade de espaçamento e tipos de planta que ocupam cerca de 20 hectares. Não fosse essa riqueza do germoplasma constituído e conservado pelo IAC desde 1932, provavelmente o Brasil não teria atualmente tantas cultivares de café arábica registradas para plantio”, enfatiza Gerson.

De acordo com o diretor, cerca de 90% do café comercial brasileiro é obtido a partir de cultivares geradas pelo IAC. “Dada a importância do germoplasma, estão sendo estudadas possibilidades de renovação, adequação, modernização e ampliação para a formatação de projetos que contemplem a preservação do patrimônio genético cafeeiro do IAC. A maior parte do banco de germoplasma foi obtida pelo empenho, pela coordenação e pela supervisão do doutor Alcides Carvalho”, lembra o pesquisador.

Ainda neste ano, o Projeto de Lei nº 328, de 2016, assinado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), propôs a alienação e a venda de 79 imóveis. Pesquisadores do estado vêm se mobilizando em manifestações que encaram a proposta como comprometedora para a produção científica em São Paulo. “Estamos contatando parlamentares para discutir o projeto, como respeita a Constituição, ouvindo a comunidade científica, e estamos contatando a comunidade para nos apoiar na defesa do interesse maior, que é a geração do conhecimento”, afirmou o presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APQC), Joaquim Adelino Azevedo Filho.

Entre as áreas de pesquisa incluídas no PL está o Centro de Engenharia e Automação do IAC, localizado em Jundiaí, porém, a diretoria-geral do Instituto comunicou que as pesquisas em desenvolvimento no local não serão interrompidas e, sim, transferidas para Campinas.

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Por quais saídas seguir
Para superar as atuais dificuldades que o Instituto enfrenta, Gerson defende a quebra de barreiras burocráticas nas contratações, além da flexibilização para as necessidades mais imediatas. “A legislação poderia considerar a realidade da pesquisa cafeeira como atividade de longo prazo e, assim, permitir que recursos pudessem ser utilizados para a realização de serviços prioritários à manutenção da lavoura cafeeira, como era feito até 2009. Há recursos disponíveis de convênios para essa finalidade, mas não podemos contratá-los devido às restrições jurídicas.”

Em última instância há, ainda, uma possibilidade mais delicada: a abertura a uma parceria público-privada. “Não é uma solução plena, mas uma alternativa que pode ser utilizada”, pondera Gerson. “A instituição já realiza esse tipo de parceria em outras áreas e para o café precisa ser intensificada para não ficarmos na dependência de recursos de convênios. Outros setores da pesquisa do IAC, como cana e citricultura, têm bons exemplos de como essas parcerias são viáveis. É provável que algumas atividades já nem existissem mais se não houvesse parceria público-privada.”

Para que uma hipotética parceria se cumprisse seria necessário, ainda, a revisão mais profunda das normas institucionais que hoje vigoram. “O setor café do IAC ainda está moldado em formas de projetos totalmente dependentes de financiamento público, que existia na época do IBC, em que as parcerias eram feitas sem nenhum tipo de aporte financeiro das partes à execução da pesquisa. É necessário inovar e quebrar paradigmas para trilhar novos caminhos e estabelecer parcerias profícuas para todos os envolvidos, com programação técnica e orçamentária coerente com a realidade atual.”

Qualquer que seja a alternativa, o pesquisador destaca que ela precisa incluir o desafio de investir em longo prazo. Ainda assim, é o acesso a recursos que permitem o atendimento imediato das necessidades que pode ser capaz de conferir agilidade ao estudo e, em um futuro não tão distante, a própria viabilidade da pesquisa.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Thais Fernandes • FOTO Paula Rúpolo

Cafezal

Piatã, na Bahia, é grande destaque nos finalistas do Cup of Excellence 2016

Fazenda São Judas Tadeu . divulgação

O concurso Cup of Excellence é realizado desde 1999 no Brasil, quando o País, de forma pioneira, criou o certame. A metodologia do concurso foi introduzida no Brasil pelo norte-americano George Howell, então consultor do projeto, ao lado da especialista Susie Spindler e com a colaboração dos membros da BSCA Marcelo Vieira e Silvio Leite, que desenvolveram o conceito do prêmio.

Desde então muitos foram os premiados no concurso: 14 vezes a região do Sul de Minas/Mantiqueira de Minas, 2 vezes as Matas de Minas, 2 vezes a Mogiana e 3 vezes a Chapada Diamantina.

Todo o ano o resultado dos finalistas é aguardado com muita ansiedade. A primeira fase é julgada por provadores nacionais pré-selecionados. O concurso é desenvolvido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE).

Atualmente o Cup of Excellence possui duas categorias: naturals e pulped naturals, para cafés naturais e cerejas descascados. Os 80 melhores cafés de 2016 foram anunciados nesta sexta-feira (14/10) e o grande destaque está na cidade de Piatã, na Bahia, que emplacou 27 cafés dos 80 selecionados. Somente na categoria cereja descascado foram 25 cafés, dos 40 classificados.

Fazenda Ouro Verde

Já na categoria natural a disputa está mais diversificada, com 30% dos cafés vindo da Indicação de Procedência da Mantiqueira de Minas. Na sequência, vieram o Sul de Minas, com 20%; a Denominação de Origem do Cerrado Mineiro, com 17,5%; as Matas de Minas, com 12,5%; a Indicação de Procedência da Alta Mogiana com 10%; a Chapada Diamantina, com 7,5%; e as Montanhas do Espírito Santo com 2,5%.

Na categoria cereja descascado 62,5% são da Chapada Diamantina, seguida pelas Matas de Minas, com 20%; Montanhas do Espírito Santo, com 10%; Indicação de Procedência da Mantiqueira de Minas com 5%; e Sul de Minas, com 2,5%.

Dentre os classificados há produtores já premiados como Afonso Lacerda (atual campeão do Coffee of the Year 2016), Fabio Protazio de Abreu (terceiro lugar no Coffee of the Year 2016), Antonio Rigno de Oliveira e Cândido Rosa (campeões do Cup of Excellence em 2015 e 2014), Simone Dias Sampaio Silva (campeã no prêmio illy em 2014) e Juliana Armelin (campeã no prêmio illy em 2015).

Essas 80 amostras passarão pelo júri internacional de 23 a 29 de outubro. O concurso avaliará os cafés e os que voltarem a obter nota igual ou superior a 86 serão eleitos “Cup of Excellence Winners” das categorias “Pulped Naturals” e “Naturals” do certame, ganhando o direito de serem comercializados em disputado leilão via internet. O preço mínimo de abertura será de US$ 5,50 por libra peso, ou US$ 727,50 por saca de 60 kg.

 

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Cup of Excellence 2016

Mais informações: www.bsca.com.br

TEXTO Mariana Proença • FOTO Fazenda São Judas Tadeu e Ouro Verde, Piatã (BA)/Divulgação

Cafezal

Josiane Cotrim

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“Há mulheres na cafeicultura brasileira e elas trabalham muito”

Josiane Cotrim Macieira cresceu em uma fazenda de café na mineira Manhumirim e, há seis anos, dedica-se à causa da International Women’s Coffee Alliance (IWCA), a Aliança Internacional das Mulheres do Café, em português. Jornalista, mãe de duas meninas, Malu e Bebel, ela trabalhou por muitos anos na área de Comunicação até juntar-se a um grupo de mulheres do setor agroindustrial do café para criar o capítulo da IWCA Brasil, em 2011. Aos 56 anos, Josiane é casada com um embaixador brasileiro e já morou em seis países: Iraque, França, Irlanda, Suíça, Nicarágua e, agora, Noruega. “Eu brinco com meu marido que vou com ele para qualquer país, produtor ou consumidor de café.”

Apesar de voar muito por este mundo, Josiane é daquelas mulheres que estão enraizadas em seus valores e sabem muito bem conectar as pessoas para a construção daquilo em que acreditam. Nesta entrevista para a Espresso, ela fala a que se dedica em todos esses anos: “O empoderamento feminino contribui para a melhoria de vida da família e da comunidade. Vamos continuar perseguindo o nosso sonho de um mundo de oportunidades iguais para homens e mulheres para que as famílias que vivem do café tenham vida sustentável. Afinal, onde tem café, tem sapato no pé!” Leia os melhores momentos desta entrevista.

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Em 2012, durante a feira Espaço Café Brasil; as mulheres da IWCA fizeram história durante o encontro

Qual é a sua lembrança de infância com café em Manhumirim? São muitas lembranças. Cresci numa fazenda onde a principal atividade era o café. Uma imagem muito viva na minha memória são as apanhadeiras de café na estrada, voltando do trabalho na época da colheita com feixes de lenha na cabeça. Ficava imaginando que elas chegariam em casa, ainda teriam de acender o fogo, cozinhar e começar tudo de novo no dia seguinte. Acho que essa imagem me motiva e inspira neste trabalho com as mulheres, porque sei que é um trabalho duro a produção de café.

Desde que geração sua família é de cafeicultores? Sou descendente, por um lado, dos imigrantes que chegaram ao Brasil no início do século XIX, gente muito simples, do meio rural da Suíça e da Alemanha, agricultores que aqui passaram a se dedicar ao cultivo de café. No início se instalaram em Nova Friburgo e as gerações seguintes adentraram o interior em busca de mais oportunidades. Minha mãe nasceu em Luisburgo, uma região montanhosa, terra de excelentes cafés.

Quando e como você começou a participar do movimento de mulheres? Sempre gostei de trabalhar em grupo. Em 1994, fui morar na França e participei de um grupo de mulheres que era mais voltado para a cultura e a literatura. Foi um aprendizado muito grande conviver com mulheres do mundo todo, de cultura e língua diferentes. Foi ali que perdi o preconceito que tinha com associações e grupos de mulheres.

Quando foi seu primeiro contato com a IWCA internacional? Foi em 2009, em Manágua. Eu tinha acabado de chegar à Nicarágua acompanhando meu marido no seu primeiro posto como embaixador. Meu primo, agrônomo e produtor em Manhumirim, o Sérgio Cotrim D’Alessandro, me falou de um simpósio, o Ramacafé. Fui até lá participar e fui muito bem recebida.
Era a primeira vez que morava em outro país produtor depois do Brasil e estava muito curiosa para conhecer o modo de produção dos cafés de lá, tão diferente daquilo a que eu estava acostumada. Gabriela Hueck, que organizava o evento com o marido, estava com um broche com a logo da IWCA, aquela figura feminina com o grão de café acima da cabeça. Achei muito bonito e significativo. Fiquei interessada, pois já vinha tentando fazer alguma coisa pelas mulheres da minha região. Quando minha mãe ficou viúva, eu me lembro de como foi difícil para ela manter a propriedade. Ela e sua melhor amiga, também viúva, eram sozinhas tentando levar o negócio em frente, sem muito apoio. Os cursos oferecidos eram de culinária, o que ela tinha feito por quarenta anos. Ela precisava aprender gestão, poda, prova. Para ter uma ideia, nas áreas rurais quando uma propriedade está muito descuidada, costuma-se dizer que “parece lavoura de viúva”. Nada respeitoso para com as mulheres.

Como surgiu a ideia de ter uma aliança de mulheres do café no Brasil? A IWCA nasceu na Nicarágua e foi muita sorte poder conhecer de perto como tudo começou; como um encontro de mulheres da indústria com produtoras, em 2003, deu origem a uma organização que hoje conecta mulheres de vinte países com o objetivo de criar oportunidades de aprendizado, contatos e negócios para que elas prosperem com suas famílias.

No início de 2010, fui com minhas amigas nicaraguenses à Guatemala para a Conferência Internacional do Café, evento que a Organização Internacional do Café (OIC) realiza a cada cinco anos. A IWCA teve um painel moderado por Sunalini Menon, pessoa que conhece café como poucas, além de um ser humano incrível. Nessa conferência, conheci várias líderes, inclusive a Mery Santos, hoje presidente da IWCA, que me disse que havia tempos elas tentavam incluir o Brasil. Margaret Swallow, que também conheci na ocasião, me disse que era impossível falar em café e mulheres sem ter o Brasil.

O Sérgio Parreiras me ajudou a identificar lideranças com a sua rede de contatos do setor e me pôs em contato com líderes de diferentes regiões, como a Brígida Salgado, de Piatã, a atual presidente da IWCA Brasil, a Maria Helena e as filhas Ilana e Amanda, do Café Helena, de Dourados, e Débora Fortini, da Academia do Café. O Aymbiré Ferreira e a Maria Amélia Ferrão me instruíram com as estatísticas e a realidade da nossa cafeicultura. Eu conhecia a realidade da minha região, mas não tinha noção do resto do País. Então aceitei o desafio de criar a IWCA no Brasil.

E como foram os primeiros encontros? Meses depois da conferência da Guatemala, visitei minha família em Manhumirim. Meu primo Sérgio me convidou para o lançamento de um projeto, o Foco Competitivo, embrião do Matas de Minas. Ali conheci a Priscilla Lins, do Sebrae MG, que entendeu logo o que eu dizia. Guiado pelo profissionalismo dela e da equipe do agronegócio do Sebrae, esse projeto foi tomando forma para ser um sucesso no 6º Espaço Café Brasil, em outubro de 2011. Antes, em abril, o Brasil foi o país homenageado no evento da SCAA em Houston. Fui convidada para o café da manhã anual da IWCA e lá conheci a Jackeline Uliana do Espírito Santo, além de produtoras da Bahia. E não foi difícil concluir que precisávamos envolver o Brasil inteiro e não apenas o Estado de Minas. O desafio ficou ainda maior.

Por indicação do Marcos Reis, na época no Sebrae, entrei em contato com a Café Editora. Fui a São Paulo e lembro-me perfeitamente desse encontro no Suplicy Cafés, na Alameda Lorena. Caio Fontes, Mariana Proença
e eu tomamos um espresso preparado pela Daniela Capuano. A sinergia foi rápida e mal acabamos o espresso, já estava tudo “alinhado”. E o seminário foi um sucesso. Foram dois dias intensos de muito aprendizado e trabalho conjunto. Linda Smithers (ex-presidente da SCAA), que, junto com Mery Santos, coordenou o seminário, disse à época que em dois dias fizemos o que muitas tinham levado dois anos.

A prova de cafés, o cupping, foi uma experiência única. Mulheres que trabalhavam com café a vida toda e nunca tinham provado. É incrível como o aprendizado contribui para a autoestima; saímos do encontro com muita energia. Mais de sessenta mulheres de diferentes regiões se conhecendo, trocando ideias, muito emocionante. Um ano depois, em 2012, no 7º Espaço Café Brasil, assinamos o Memorando de Entendimento com a vice-presidente da IWCA, Johanna Bot, que viajou especialmente de Houston para isso. Estava criada a IWCA Brasil.

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Em 2012, durante a feira Espaço Café Brasil; as mulheres da IWCA fizeram história durante o encontro

Como avalia a atuação das mulheres depois da IWCA Brasil? Acredito que a visibilidade lhes deu espaço para demonstrar a força que possuem. O fato de pertencerem a uma entidade de cunho internacional, que respeita e reconhece a todas como parte importantíssima da indústria do café, contribui muito para que as mulheres sejam mais pró-ativas, com autoestima e confiança nelas mesmas. Elas sabem que não estão sozinhas. As mulheres estão indo atrás dos recursos que existem e que podem ser acessados, formaram a demanda necessária para que os treinamentos certos cheguem às pessoas certas. Isso porque atuamos em rede e as experiências positivas vão sendo divulgadas e influenciando outras regiões.

A comunicação e a troca de informações vão inspirando a todas. Hoje todas estão conectadas pelas redes sociais não só com o Brasil, mas também com o mundo. E não apenas virtualmente. Participam dos eventos de café de outras regiões e recebem visitas de membros da IWCA internacional.

E, claro, a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, é o principal ponto de encontro. É a nossa SCAA, onde realizamos o café da manhã, como no evento norte-americano, o que permite maior integração, e faz com que todas possam apresentar o trabalho que desenvolvem na sua região.

O que considera essencial para o empoderamento feminino no café? É a geração de negócios, sem dúvida. Sempre achei que produzir café era difícil. Na verdade o mais difícil é comercializar. Estamos chegando lá. Já temos casos de empoderamento feminino graças a treinamentos com impactos consideráveis nas comunidades dessas mulheres.

É preciso acessar o mercado, vender bem o produto para aumentar a renda, para que as condições de vida melhorem e que se possa investir mais no negócio. Isso é um processo. Primeiro vem o conhecimento, o aprendizado, a informação, os treinamentos, os contatos, a mudança de comportamento.

Qual sonho já realizou e qual ainda gostaria de ver realizado? Quando começamos o trabalho de mobilização das mulheres no Brasil, meu sonho era mostrar ao mundo que, sim, há mulheres na cafeicultura brasileira e elas trabalham muito na colheita, na pós-colheita, no barismo, nas cooperativas. Enfim, tornar nossas mulheres visíveis, pois a ideia é que no Brasil a cafeicultura é toda mecanizada e que as mulheres trabalham pouco na lavoura e na colheita. Hoje não há dúvidas de que não é bem assim. Demonstramos isso e posso dizer que realizei meu sonho.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

TEXTO Mariana Proença • FOTO Semana Internacional do Café/Divulgação