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Inscrições abertas para 2ª edição do Concurso Florada Premiada

O grupo 3corações, em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), realiza a 2ª edição do Concurso Florada Premiada, voltado para as mulheres produtoras de café arábica. As amostras devem ser enviadas até 20 de setembro.

A iniciativa tem como objetivos oferecer acesso às melhores práticas na produção de cafés especiais através do programa de capacitação gratuito Florada Educa, reconhecer e valorizar os microlotes cultivados por elas ao promover o Concurso, e conectar quem produz com quem consome, uma vez que proporciona, por meio da campanha “Junte-se a elas”, a oportunidade para o consumidor fazer parte do projeto, já que ao adquirir um dos Microlotes, o lucro total retorna para as cafeicultoras. Com isso, a 3corações completa o ciclo sustentável do Projeto Florada.

A cerimônia de premiação acontecerá na Semana Internacional do Café, no dia 22 de novembro, em Belo Horizonte (MG). Serão premiadas as seis campeãs (primeiros três lugares de cada categoria – via úmida e via seca), além dos 100 melhores cafés do concurso e também o melhor de cada região inscrita.

Premiação da 1ª edição do Concurso Florada Premiada, realizada na Semana Internacional do Café 2018 – Foto: Bruno Correa / NITRO

As grandes campeãs receberão R$ 25 mil, terão seus lotes comprados pelo dobro da cotação e ganharão uma missão técnica para a Costa Rica em uma viagem de sete dias com direito a um acompanhante. As segundas colocadas receberão R$ 15 mil e mais a compra do lote pelo dobro da cotação. As produtoras classificadas em terceiro lugar serão premiadas com R$ 10 mil e compra do lote pelo dobro da cotação.

Os melhores cafés de cada região serão adquiridos pelo dobro da cotação, enquanto que os 100 melhores lotes poderão ser comercializados com o Grupo 3corações, com um prêmio por saca de café de R$ 300 acima da cotação.

“O Projeto Florada é uma grande obra que estará sempre em construção, pois se trata de um projeto de longo prazo em que criamos laços duradouros com as produtoras do Brasil e com toda a cadeia do café. O Concurso Florada Premiada é uma importante iniciativa para reconhecer e valorizar o trabalho das cafeicultoras e também para proporcionar aos consumidores uma nova experiência com raros cafés que carregam histórias únicas por trás de cada xícara”, afirma Pedro Lima, presidente da 3corações.

O regulamento completo do concurso e o link para as inscrições estão disponíveis no site do Projeto Florada e da BSCA.

TEXTO Redação • FOTO Café Editora

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Conhece a Nossa Senhora do Café?

Grande parte dos brasileiros não sabe, mas existe uma padroeira dos cafeicultores. A história é bem curiosa e, segundo relatos, começou em 1964, quando a cafeicultora Ana Negrini, da cidade de Espírito Santo do Pinhal (SP), escreveu um artigo relatando as dificuldades da época. O texto, que levou o título de “Minha Nossa Senhora do Café”, relacionava o grão com Nossa Senhora Aparecida e foi publicado em um boletim que circulava na Igreja dos Capuchinhos.

Em 2001, com o setor cafeeiro enfrentando novas dificuldades, Ana escreveu um novo artigo em que abordava as aflições dos cafeicultores e os apelos à padroeira do Brasil para que olhasse por eles. Nesta publicação, ela fez uma conexão entre Nossa Senhora Aparecida e sua “cor de café”, colocando o mesmo título do primeiro texto.

A segunda matéria foi publicada no boletim da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Pinhal (Coopinhal) e chegou até o professor Albertino Fonseca que, inspirado no Espírito Santo, padroeiro da cidade de Ana, idealizou uma Nossa Senhora com a descrição “Nossa Senhora do Café do Brasil”.

A partir daí surgiu uma devoção na região. O dia 9 de agosto foi escolhido por ser a data de fundação da Coopinhal. A cooperativa chegou a construir uma capela, cuja planta, feita pelo arquiteto pinhalense Alexandre Vitta, é uma réplica de um armazém de café do século 18. Sua imagem foi esculpida pelo escultor Pedro Carlos de Oliveira e carrega as cores do café: o manto tem cor de café torrado, já a túnica e o véu contam com tonalidade de café cru. A padroeira também possui uma oração dedicada a ela:

Nossa Senhora do Café Brasileiro
Abençoadas por Tuas Mãos, as mãos que colhem
e as bocas que bebem a bebida dos grãos,
assim sejam transformadas por inteiro:
no gesto de juntar todas as mãos, 
no gosto de tomar café com pão.
Amém!

A imagem teve grande divulgação em 2004, durante a realização da feira religiosa ExpoCatólica. Hoje, a santa conta com fiéis em várias regiões brasileiras, principalmente aquelas que produzem os grãos. Na cidade de São Paulo (SP), é possível ver a obra no Instituto Biológico (IB). A imagem exposta fica próxima ao cafezal e foi doada pelo produtor Henrique Gallucci, de Espírito Santo do Pinhal.

Para quem quiser obter a Nossa Senhora do Café, é possível através deste site.

TEXTO Redação • FOTO Giulianna Iannaco

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Fórum Mundial de Produtores de Café é palco de debates difíceis sobre o futuro da cafeicultura

Realizado entre os dias 10 e 11 de julho, em Campinas (SP), no Royal Palm Plaza, o evento bianual chegou à segunda edição com muitos desafios. Depois de ser lançado na Colômbia, organizado pela Federação de Cafeicultores daquele país, o Fórum Mundial de Produtores de Café veio ao Brasil com a intenção de debater os principais desafios da cafeicultura mundial. Em um momento em que o preço do café está muito baixo, este foi o principal tema nos corredores e nas palestras. Com realidades bem distintas entre as 25 milhões de famílias que cultivam café ao redor do mundo, no chamado cinturão cafeeiro, as soluções não poderiam ser genéricas.

Por isso a missão dada ao economista Jeffrey Sachs, Diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Instituto de la Tierra da Universidade de Columbia, era bem desafiadora: criar proposições para melhorar os rendimentos dos pequenos produtores de café através de uma análise econômica e política. A conclusão dada pelo consultor foi de que “os preços de café atuais não estão distantes do equilíbrio entre oferta-demanda de longo prazo”. Sua análise foi baseada no crescimento de Brasil e Vietnã, que tiveram juntos 83% de aumento de produtividade desde 1995 enquanto outras regiões estagnaram em produtividade.

Jeffrey Sachs, Diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Instituto de la Tierra da Universidade de Columbia

Com as mudanças climáticas e o aquecimento global de 0,3 graus em dez anos, Sachs prevê que “se houver um aumento de temperatura de 2 graus celsius até 2050 será impossível produzir café. Se isso acontecer, grandes áreas serão prejudicadas. Colômbia, Índia, Malásia, Costa Rica, Madagascar e Tailândia serão os países mais afetados com a crise climática”. E chegamos ao ponto crucial da proposta de Sachs: “Quem tiver capital para fazer essa transformação é quem vai conseguir mudar. Se o aquecimento global continuar, muitos países sairão da produção.”

O grande momento esperado da apresentação de Sachs eram as soluções para a melhoria de rendimento de produtores. Eis que a proposta do consultor foi inesperada pela maioria: a sugestão de criar um Fundo Global do Café, que seria co-financiado por empresas privadas e públicas em busca de cumprir, em todas as áreas produtivas de café, com as metas leia mais…

TEXTO Por Mariana Proença, colaborou Natália Camoleze, de Campinas (SP) • FOTO Mariana Proença

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Programa da Nespresso busca recuperar cafés com risco de extinção

Buscando ajudar cafeicultores a recuperar os cultivos de café que possuem risco de desaparecer por conta de fatores como conflitos armados, crises econômicas e desastres naturais, a Nespresso, por meio do programa AAA Sustainable Quality, anunciou o lançamento da plataforma Reviving Origins.

Através de um investimento de mais de oito milhões de euros, a marca pretende, nos próximos cinco anos, implementar a parceria com produtores de países como a Colômbia e Zimbábue, ajudando-os a estabelecer práticas agrícolas sustentáveis. O objetivo é que, com a ajuda de diferentes especialistas e a aplicação de novas técnicas de processamento, o setor cafeeiro local possa ser recuperado. Como parte deste projeto, a Nespresso apresentará anualmente uma edição limitada do café proveniente destas áreas.

A plataforma nasceu da experiência da empresa no Sudão do Sul, em 2011, quando foi descoberto o potencial de voltar a promover um café já esquecido. As cápsulas Suluja ti Sudão do Sul, uma edição limitada que ajudou a diversificar a base econômica do país africano, nasceram desta iniciativa.

Com base nessa experiência e com o programa AAA Sustainable Quality, a Nespresso fez uma parceria com os cafeicultores no leste do Zimbábue e na região de Caquetá, na Colômbia, para recuperar e impulsionar os cafés exclusivos dessas áreas. Como resultado da iniciativa, introduziu duas novas variedades de café: Tamuka mu Zimbabwe e Esperanza de Colômbia.

FOTO Café Editora

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Amigos lançam guia turístico por fazendas mineiras produtoras de café

Clesio Barbosa e Patrícia Soutto Mayor Assumpção são amigos de longa data e dividem uma paixão: a cultura mineira. Ao longo de 15 anos de parceria, já percorreram mais de 30 mil quilômetros por Minas Gerais em busca da história rural, cultura de cada região e das delícias dos pratos produzidos por cozinheiras, grandes chefs e amigos.

Possuem quatro obras publicadas, sendo duas delas premiadas internacionalmente. Nos livros, Clesio escreve sobre a história de fazendas mineiras, ilustradas com muitas fotos de paisagens e casas sedes. Além disso, uma seleção de receitas culinárias, feita por Patrícia, e fotos de pratinhos deliciosos.

O último livro lançado tem o título Rota do Café – Fazendas de Minas Gerais, um guia turístico que conta com informações sobre trinta fazendas produtoras, atrações turísticas dos municípios, mapas ilustrativos e belíssimas fotos das fazendas.

Para Clesio, as informações deste guia servem para aqueles que querem percorrer as trilhas de uma das maiores riquezas do nosso estado: o café. Flavio Borém, Professor Titular do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Lavras, especialista em Pós-colheita e Qualidade de Café, afirma que neste guia os leitores irão viajar pelos vales, campos e serras de Minas e saborear um pouco do cafezinho mineiro.

O livro conta com o patrocínio do Governo de Minas Gerais, Cemig, BDMG, Montesanto Tavares Group, Cafebrás, Atlântica Coffee. Você o encontra na Livraria Leitura, ou no site www.rotadocafe.com.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Aproveite o período da colheita do café!

Junho é um mês importante para a cafeicultura. Mês de colheita, onde as lavouras estão a todo vapor, obtendo o melhor café. Para aproveitar este clima, algumas fazendas e empresas organizam roteiros que podem aproximar os apaixonados por todo o processo pelo qual o grão passa. Reserve na agenda!

Foto: Fazenda Santo Antônio da Bela Vista

Fazenda Santo Antônio da Bela Vista

Localizada na cidade paulista de Itu, a Fazenda Santo Antônio da Bela Vista organiza passeios periodicamente que visam mostrar aos participantes as diferentes etapas do café. As programações contam com passeios à lavoura e acompanhamento de processos como colheita, secagem, beneficiamento, torra e moagem do café.

Mais informações: www.facebook.com/fazendadocafe

Cafezal em Flor

No dia 15 de junho, a Cafezal em Flor irá realizar a “Festa da Colheita”. O evento irá apresentar a história do café e os participantes poderão conhecer a lavoura, o processo de colheita, os terreiros, o processo de classificação, torrefação e mais informações sobre os métodos de preparo. O convidado especial da ocasião será o Dr. Sérgio Parreiras Pereira, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Mais informações: www.instagram.com/cafezalemflorcafe

Vou Pra Roça

O próximo roteiro da agência de turismo rural Vou Pra Roça será nos dias 20 e 21 de junho. Com saída no Rio de Janeiro, o destino é a cidade mineira de São Lourenço. Além de conhecer os costumes e pontos turísticos da região, a programação conta com vivência rural e café na roça, com o especialista Adalberto Junior.

Mais informações: www.instagram.com/boupraroca

Rota do Café

Todo sábado acontece visitas guiadas pelo pessoal da Rota do Café, também na região de São Lourenço, Sul de Minas. A agenda envolve cursos, treinamentos e visitas a fazendas, onde os visitantes terão explicações sobre toda a cadeia produtiva, desde o pé até a xícara.

Mais informações: www.uniquecafes.com.br/c/rota-do-cafe

TEXTO Redação

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Tesouro das Matas de Minas

A história de um paulistano que deixou a vida urbana para se dedicar à produção de cafés em Alto Caparaó e se tornar referência em qualidade na região

A BR-262 é a estrada que liga Vitória, no Espírito Santo, ao Alto Caparaó, em Minas Gerais, pequeno município situado na divisa entre os estados. Pelo trajeto, inúmeros cafezais mostram que o plantio dos grãos é símbolo da economia da região. Passando pela cidade de Pedra Azul (ES) e por outras graciosas cidades capixabas, após cinco horas de viagem, chega-se a solo mineiro, na Zona da Mata, ou melhor, na região de Matas de Minas, como é chamada. É lá que está a Fazenda Ninho da Águia, batizada assim por ser reduto de oficiais da aeronáutica no passado. A propriedade vem ganhando destaque no mercado de cafés pela qualidade dos grãos produzidos em altitude elevada, média de 1.300 metros. As terras da fazenda fazem fronteira com o Parque Nacional do Caparaó, onde está situado o Pico da Bandeira, um dos pontos mais altos do País. E, embora a geada e o tempo frio sejam companheiros de quem mora por lá, a paisagem cinematográfica e o solo fértil não deixam dúvidas de que se trata de um bom lugar para viver.

A história da fazenda começa com Aides Gomes Monteiro. Nascido em Alto Caparaó, ele migrou para São Paulo na década de 1960 para tentar a vida na capital. A ideia também era buscar reconhecimento das montanhas de Caparaó e depois voltar para o leia mais…

TEXTO Amanda Ivanov • FOTO Alexia Santi

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Abertas as inscrições para a 2ª edição do concurso Florada Premiada

Após receber mais de 650 amostras em sua 1ª edição, o concurso Florada Premiada, realizado pela 3corações em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), acaba de abrir as inscrições para este ano.

Mulheres produtoras de cafés 100% arábica de todo o Brasil podem se inscrever individualmente nas duas categorias disponíveis, com até uma amostra em cada uma: arábica via úmida (cereja descascado) e arábica via seca (natural). As inscrições devem ser feitas aqui e as amostras podem ser enviadas até o dia 20 de setembro.

Cada amostra deverá conter 3 quilos de café peneira 16 ou acima. A quantidade mínima para participar é de três sacas e a máxima é de 10 beneficiadas. Os 40 lotes finalistas (20 de cada categoria) seguirão para a fase classificatória.

Serão premiados os três melhores cafés dos dois grupos, os 100 melhores grãos e também a melhor amostra de cada região participante. Todos estes receberão a garantia de compra da 3corações. As premiações acontecerão no dia 22 de novembro, durante a Semana Internacional do Café, feira que acontece de 20 a 22, em Belo Horizonte (MG).

Novidades da 2ª edição

Além da compra dos lotes pelo dobro do valor da cotação, as campeãs de cada categoria ganharão R$ 25 mil e uma viagem para a Costa Rica, a fim de trocarem experiências e conhecerem as plantações de café do país.

As cafeicultoras que produzirem o 2º melhor café em cada categoria ganharão R$ 15 mil e as terceiras colocadas, R$ 10 mil. Ambas as posições (e as melhores amostras de cada região) poderão comercializar seus lotes pelo dobro do preço. Já as 100 melhores produtoras do concurso terão a chance de vender seus grãos por R$ 300 a mais que o valor de mercado.

Mais informações: www.projetoflorada.com.br

TEXTO Redação • FOTO Vitor Barão

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Canéfora: mistura amazônica

Uma jornada por Rondônia apresenta agricultura familiar, desenvolvimento de novas plantas e foco na qualidade do grão. Bem-vindo ao céu azul e ao aroma de café rondoniense

Quando em outubro de 2017 três produtores de Rondônia foram anunciados finalistas do concurso Coffee of the Year na categoria Conilon, muitos especialistas voltaram os olhos para a região. Eu, do palco, vi no rosto dos premiados cafeicultores a grande emoção de estarem ali na Semana Internacional do Café (SIC). Meses depois estaria eu, quem diria, conhecendo pessoalmente as lavouras de Tiago, André e Sérgio. E muito mais. Teria contato com toda a estrutura de ações público-privadas que alçaram o Estado de Rondônia a referência nacional recente na produção da espécie Coffea canephora. A canéfora – palavra usada para se referir aos grupos botânicos conilon e robusta – foi a primeira informação assimilada. Na região da Amazônia, as lavouras são formadas por variedades híbridas, resultado de cruzamento entre plantas diferentes.

Em meio às ruas das propriedades, veem-se folhas enormes e outras menores. A mistura, que é privilégio não só das plantas, ocorreu também na fundação do estado. Pessoas oriundas de diversas partes do Brasil deram à população de Rondônia características muito próprias. A maior parte, de paranaenses, paulistas e mineiros, formou cidades no interior rondoniense, no Norte do País. Muitas dessas famílias já vinham da cultura do café em seus estados de origem. A capital, Porto Velho, mais populosa, tem pouco mais de 500 mil habitantes. Banhada pelo Rio Madeira, a cidade foi o ponto de partida para a viagem de uma semana pela região produtora de café, que fica no centro de Rondônia.

“É muita gota de suor derramado. Não é de um dia para outro que a gente conquista”, Sergio Kalk – ao lado do irmão André no terreiro suspenso

Décadas de pesquisa

São muitas horas na estrada pela BR-364, descendo sentido sul do estado, para encontrar os primeiros pés de café. Pelo caminho, Enrique Anástacio Alves, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Rondônia, conta que é mineiro de Viçosa e se mudou para o Norte do País com a missão de dar continuidade aos estudos sobre colheita e pós-colheita de café. Os resultados do trabalho tem motivado os produtores a investir na qualidade do grão. Fotos que circulam pelo Brasil mostrando os pés carregados de frutos fazem Rondônia ser reconhecida pela alta produtividade dos seus cafezais. Os cafeicultores, então, trabalham para unir a alta quantidade de frutos com uma melhoria na qualidade do que se colhe.

Junto nessa missão há mais tempo está Gilvan de Oliveira Ferro, técnico agrícola há 35 anos trabalhando na Embrapa Rondônia. Em 2005, ele assumiu a responsabilidade pelos experimentos realizados no campo de Ouro Preto do Oeste desde 1975, que ajudam na seleção dos clones mais produtivos e resistentes que serão enviados aos produtores como referência para uso na propriedade. Com o crescimento do café no estado – hoje sua produção é calculada em 2 milhões de sacas de 60 quilos –, a pesquisa com o fruto passou a ser mais valorizada: “Plantamos 153 clones diferentes, selecionamos 49, depois 28 e, na sequência, 15 finais para lançamento das variedades. Os clones foram avaliados por dezoito anos, depois de sete safras com produtividade média de 70 sacas/hectare, sem irrigação”, explica Gilvan.

Esse estudo dos clones faz parte de um trabalho maior da Embrapa Rondônia, que realiza pesquisas de compatibilidade entre as plantas. De acordo com Alexsandro Lara Teixeira, chefe adjunto de pesquisa da instituição, o canéfora tem como característica principal ser uma espécie alógama, com fecundação cruzada. Nesse caso, as sementes da planta são formadas a partir do pólen de outra planta, gerando uma variabilidade genética maior quando comparada ao café arábica. “Por causa dessa característica, os produtores começaram a fazer os próprios materiais e clones. Havia uma alta demanda, e hoje há doze materiais clonais bem difundidos nas lavouras”, afirma Alexsandro. Em 2012, a Embrapa Rondônia lançou a variedade oficial clonal BRS Ouro Preto, um conjunto de quinze clones. “Nosso projeto é lançar,em 2019, as cultivares individuais, para cada produtor montar sua lavoura de acordo com a vontade dele: produção, qualidade e resistência.”

A alta produtividade na região é a realidade aferida por pesquisadores que analisam os clines que mais se adaptaram ao clima de Rondônia e que chegam a produzir até 180 sacas por hectare, enquanto a média do País é de cerca de 30 sacas

Hoje em Rondônia, 65% das lavouras são seminais e somente 35% são clonais. Mas esses números tendem a mudar em breve, com a atual produção de 15 milhões de mudas por ano, num total de 29,6 mil propriedades de café no estado. Quem também faz esse mapeamento e atua diretamente no campo é a Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia – Emater-RO, que está em todos os 52 municípios e vem incentivando os produtores a participar do concurso de qualidade – Concafé –, que, em 2018, chega à terceira edição.

Na cidade de Alto Alegre dos Parecis, a família do produtor Marcelo Braun conquistou o terceiro lugar no concurso estadual em 2016 com o café da Chácara Boa Esperança. Com vinte materiais diferentes, entre clones e híbridos, Marcelo virou referência na região. Com produção alta de 125 sacas/hectare em 2017, neste ano o cafeicultor pretende chegar a impressionantes 180 sacas por hectare. Ele pertence à terceira geração da família, que veio do Espírito Santo e manteve a cultura do café. “Faz oito anos que estamos desenvolvendo essas variedades de clone. Estamos testando a produção e a qualidade. Vamos separando as linhas e colhemos os materiais maduros. Descobrimos grandes vantagens, com produção alta e menor gasto”, diz Marcelo, que hoje recebe grupos em visita de campo para mostrar o trabalho que vem realizando na propriedade.Outra característica da região é a floresta nativa no entorno das lavouras e a abundância de água e de chuva, situação típica da região amazônica.

O produtor Marcelo Braun mostra com orgulho os seus pés de café na Chácara Boa Esperança, grãos premiados em 2016 no Concafé – concurso do estado

Para Leandro Dias Martins, da recém-criada Cooperativa dos Agricultores Familiares da Amazônia (LaCoop), “o potencial é muito grande, pois o perfil da agricultura de Rondônia é de famílias com 3 a 6 hectares, em média”. Para ele, o principal foco serão a qualidade e a certificação das propriedades para levar o nome da Amazônia para os mercados interno e internacional. Leandro nasceu em Cacoal, hoje a segunda maior cidade na produção do grão. Conhecida como a Capital do Café, o nome do município é uma homenagem ao cacau e ao café.

E foi em Cacoal que despontou a propriedade Sítio Cafezal dos irmãos Kalk, como são conhecidos Sérgio e André Kalk. Tiago Novais Duarte, o meeiro da fazenda, foi o grande campeão do estado em 2017. Os pais foram do Espírito Santo para Rondônia em 1998. Já plantavam café, em Colatina (ES), e a paixão pelo fruto continuou. Em 16 hectares de café, os jovens irmãos investiram em terreiro suspenso e de chão para melhorar a pós-colheita. O resultado veio logo. Conquistaram o segundo, o terceiro e o quarto lugares no Coffee of the Year 2017, durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG).

“Estamos até hoje com as pernas meio bambas. Nunca imaginei que um café robusta fosse dar bebida.” Sergio se refere às mudas de robusta que plantou. Foram 2 mil no início, o que resultou em grande produtividade. Ele alterou toda a propriedade para clones de robusta, o que também gerou qualidade. Os clones de robusta se adaptaram muito bem à região dos Kalk, pois, segundo eles, para que a planta produza e tenha qualidade, é necessário um estresse hídrico a fim de gerar uma florada homogênea, o que resulta em frutos com a mesma maturação. “O produtor rural tem que usar a matemática, senão fica patinando”, orienta Sergio. “É muita gota de suor derramado. Não é de um dia para outro que a gente conquista. Agradeço muito ao meu pai por ter conseguido levar o nome de Rondônia para o mundo.”

As lavouras precisam ter variedades de clines bem definidas, como nesta propriedade em Alto Alegre dos Parecis

Industrialização do café

Na ponta da comercialização do produto, Rondônia ainda está engatinhando. Com o nome Café da Amazônia e o apelo de marca para um produto da floresta, alguns empresários vêm investindo nesse mercado promissor. Um deles é Lucas Borghi, presidente da Café Nova Era, na cidade de Cacoal. Fundada em 2012, a marca hoje investe em uma linha de especiais com torra própria e venda on-line. Com uma rede de produtores locais, a marca esteve recentemente na Coreia do Sul a fim de negociar a extração do óleo do café verde para uma fábrica de cosméticos que deve se instalar na cidade rondoniense. A família de Borghi está há 35 anos no Estado de Rondônia e passou da produção de café ao setor industrial.

A 500 quilômetros dali, já em Porto Velho, está a família de Bruno Assis, jovem empreendedor que está à frente da Juninho Soft Café, a primeira cafeteria a servir café 100% robusta, o Amazônia Coffee. Os empreendedores resolveram servir o café do estado depois que clientes procuravam provar os grãos da região. No ano passado, Bruno já conseguiu comprar sacas premiadas e fazer microlotes dos grãos que torra e envasa no local.

O mercado de hoje está bem distante daquele que Ezequias Braz da Silva Neto, o Tuta, encontrou quando chegou a Rondônia, em 1971. Desbravador da região de Cacoal e presidente da Câmara Setorial do Café do Estado de Rondônia, ele lembra que “a terra era tão boa que não precisava de adubo. Colhíamos o café e não tínhamos a quem vender”, diz ele ao citar o pioneiro na região Clodoaldo Nunes de Almeida, que chegou com as primeiras mudas no fim da década de 1960. De uma produção que chegou a 3,5 milhões de sacas entre os anos 1980 e 1990, Tuta comemora que a previsão para 2020 seja de 4 milhões de sacas. Desafios que estão postos e que, se depender do empenho do povo rondoniense, como diz o hino do estado: “Exaltaremos enquanto nos palpita o coração”.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses junho, julho e agosto de 2018 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Renata Silva e Enrique Alves

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A união que faz o café

Diferentes histórias de vida juntaram-se por um projeto maior: o de retomar o café do Norte Pioneiro, no Paraná. Conheça famílias que abraçaram a ideia e têm feito uma revolução na qualidade do produto.

Uma região marcada pelo recomeço. Assim podemos definir o Norte do Paraná quando nos referimos à cafeicultura local. De uma enorme geada na década de 1970, que dizimou grande parte da produção, renasceu uma vontade enorme nos agricultores de retomarem suas vidas e permanecerem no cultivo do café. Nem todos conseguiram e muitos migraram para outros Estados brasileiros, já que a situação era de extrema dificuldade. Mas os que ficaram lembram-se da situação como um grande marco na vida: “antes ou depois da geada de 1975…”

Após mais de 35 anos, a região vive um momento único, de pessoas empenhadas em trabalhar o mercado do café de uma forma moderna, com qualidade, mas sem esquecer as raízes locais formadas por pequenos produtores.

Fomos conhecer algumas dessas histórias em cidades produtoras: Ribeirão Claro e Abatiá, pequenos munícipios que ainda guardam o ar bucólico, a calmaria e muito trabalho na lavoura. Ficam a mais de 350 quilômetros de São Paulo e, ao cruzar a Represa de Chavantes, a vista descortina uma região de montanhas não muito altas e alguns cafezais beirando a estrada. Em toda a região, 88% dos cafeicultores são pequenos produtores, que plantam entre 2 e 10 hectares de café. A produção local era vendida anteriormente para comerciantes da própria região e pouco se sabia sobre a qualidade do café.

Em um trabalho que começou há pouco mais de quatro anos, produtores se uniram em busca de um melhor preço e para se mostrarem aos mercados internacionais. Descobriram, então, em eventos e viagens ao exterior, que havia um mundo à parte para os cafés especiais. Percorremos quatro propriedades, para mostrar essa realidade e constatar o trabalho sério do café do Norte Pioneiro.

“Hoje a gente capricha mais”

Augusto Serafim e sua esposa Ornesta Rissá Serafim vivem “na cidade”, em Ribeirão Claro. Mas a vida toda moraram no Sítio Santo Antônio, terras que herdaram da família. Há mais de 50 anos a história começou por ali e, hoje, o filho Cleomilson e a nora Daiana, vivem e zelam mais de perto pelos 6 hectares da fazenda, a 650 metros de altitude. Seu Augusto e a família são parte integrante do projeto de certificação Fair Trade, que mudou o dia a dia no sítio e fez com que todas as práticas agrícolas passassem a ser controladas de muito perto. Em 2 hectares de café eles colheram, em 2011, 350 sacas de variedades como mundo novo, bourbon vermelho, catuaí amarelo, em processamento cereja descascado e natural. Com maquinários recém-adquiridos em programas de incentivo ao pequeno produtor, há desde despolpador até secador automático, tudo aguardando pela nova safra. Além dos equipamentos, novos terreiros suspensos muito organizados estão à disposição dos cafés colhidos.

Apenas pai e filho e mais dois temporários fazem todo o trabalho de colheita e benefício do café. Para seu Augusto, “a secagem é o que manda na qualidade do café”, por isso, ela merece atenção redobrada. Ele conta que mudou seu jeito de pensar e que o cuidado com o meio ambiente é prioridade. É possível ver o entusiasmo nos olhos deles, motivação decorrente do alcance do dobro do preço de venda da saca, que passou de 390 reais em tempos passados, para 640 reais, em 2011. Seu Augusto ainda conta com orgulho das duas sacas premiadas no Estado, que vendeu ao Lucca Cafés Especiais, de Curitiba (PR), pelo valor de mil reais, cada. “O café, segundo eles, estava com notas de doce de leite, caramelo e frutado”, ele lembra. Para completar a renda, mais de 2 mil orquídeas são cultivadas por dona Ornesta e vendidas durante o ano, além de bolos e tortas. Uma vida simples, de muito trabalho e muito florida.

“O que eles fizeram a vida inteira”

No Sítio Santa Clara, em Ribeirão Claro, os descendentes de italianos Ademir Baggio e Joana Denobi Baggio são casados há mais de 60 anos. Sozinhos, eles vivem na propriedade de 5 hectares, sendo metade dela destinada à plantação de café. Com um sorriso largo no rosto, o casal trabalha duro na colheita. O café ali é só do tipo natural, com a casca, que vai para o terreiro suspenso após passar por um sistema simples, porém essencial: o lavador. Em uma pequena tina de plástico, o café recém-colhido é despejado para uma pré-seleção. Os mais pesados afundam e os mais leves, boiam – daí o nome – ficam na superfície. Os boias são separados dos demais e considerados de menor qualidade.

Desde os treinamentos realizados durante a certificação, o casal aprendeu que essa ação faz uma grande diferença. Pioneiros na região, em 2011 os Baggio produziram 50 sacas. Querem dobrar nesta safra, empolgados com o retorno do preço mais alto conseguido no ano anterior. Seu Ademir acredita muito no trabalho de união dos cafeicultores da região: “em 60 anos de trabalho meus pais morreram sem nada. Em três anos vamos fazer o que eles levaram a vida inteira para conquistar”.

“Estamos vendo resultado”

José Avilar Rissá Filho é meeiro na propriedade de João Fernandes, na parte baixa da cidade de Ribeirão Claro. No Sítio Maranata há 4 hectares de café e um terreiro suspenso muito peculiar, com vários andares e cobertura para proteger da chuva durante a época da colheita.

A troca de serviço é prática comum nesta região, e seu José ainda cuida de uma grande horta orgânica que tem desde lindas alfaces com um verde raro de se ver, até berinjela e brócolis. Com sete pessoas trabalhando na época da safra, o agricultor colhe as mais de 120 sacas de café. A esposa, Maria de Lourdes da Silva Rissá, é responsável pelo cuidado dos legumes e verduras. Mas é o café que tem sido a menina dos olhos deles: “estamos vendo resultado e vendendo para o exterior”, diz seu José.

“Não consigo mais beber café ruim”

Chegar à casa de Hugo Raul da Silva é uma aventura para quem vive nos centros urbanos. Muitos pedregulhos e lindas paisagens depois, o Sítio São Francisco desponta em meio a curvas tortuosas de Abatiá. Com uma área de 26 hectares, o produtor é um exemplo da grande mudança na mentalidade dos cafeicultores locais, após o investimento em qualidade.

Com o pai, ele aprendeu a lidar com café e replicou as antigas regras ao negócio. Após mais de 20 cursos técnicos, do plantio, e até de degustação de cafés, Hugo viu “o que fazia de errado”. Determinado, passou a aplicar todas as dicas aprendidas. Hoje seu café já conquistou 82 pontos na escala de 0 a 100 da SCAA e todo o maquinário está pronto para a próxima safra. Até uma “komboza”, como diz, o produtor financiou para trazer os 14 funcionários que o ajudarão na colheita. Em 2011, 20% do seu café foi vendido para a certificadora Fair Trade. Neste ano, Hugo tem a meta de vender 80%. Ele e a esposa Rosineia Aparecida Pereira da Silva moram em um sítio que mais parece uma casa de boneca. Tudo organizado para a próxima colheita e com o desejo de que venham excelentes resultados.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses junho, julho e agosto de 2012 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Érico Hiller