Ko Goi
Parece matcha, mas é mate! Produto desenvolvido no Brasil originado da erva-mate assimila-se ao chá-verde japonês utilizado em cerimônias orientais em que a bebida é protagonista
Na cerimônia japonesa do chá, o chado ou chanoyu, há muitas regras. Para o preparo do chá na sala apropriada há que se caminhar corretamente, sentar de maneira adequada, usar utensílios específicos para o momento, e o chá oferecido é sempre o mesmo: o matcha. Trata-se de um chá-verde japonês moído bem fino, como se fosse um pó, que pode ser servido com algumas variações – forte ou fraco – dependendo do tipo de ritual a ser praticado. É esta mesma arte milenar cheia de detalhes que também ensina: use o que você tem, adapte, aproprie-se de ferramentas que estão ao seu redor, que são parte da sua cultura, para o preparo da bebida durante a cerimônia. Foi o que fez o empresário Heroldo Secco Junior. Ele adaptou. Olhando para o chanoyu, Heroldo percebeu que as folhas da erva-mate, parte da cultura do brasileiro, poderiam render preparo semelhante e talvez mais conectado com o paladar nacional. Depois de três anos de desenvolvimento, a sua empresa, a Mate Tea from Brasil, lança agora o kõ’gõi, uma infusão elaborada com as folhas da erva-mate, a Ilex paraguariensis, moídas em granulometria finíssima, e que lembram, pelo processamento, pela forma e pela cor, o matcha, o chá-verde utilizado na cerimônia japonesa do chá. “Nós verificamos um espaço no universo dos chás que apenas o matcha japonês estava ocupando. Desenvolvemos um projeto de longo prazo, sabendo que encontraríamos algumas barreiras tradicionalistas ao mate ceremonial, mas queríamos resgatar algo que há 200 anos era mais utilizado no Brasil e ficou esquecido, que era o uso da folha da erva-mate pura”, diz Heroldo.
Do Brasil para o mundo
Para a elaboração do kõ’gõi, segundo ele, ao contrário de como o matcha é feito no Japão, não se utiliza moinho de pedra. A empresa, por enquanto, não revela detalhes do processo porque se está dando seguimento ao registro de patente no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. “É um produto de produção limitada que não pode ser feito em larga escala, pois precisamos ter total controle de qualidade. O equipamento que utilizamos produz apenas 4 quilos de kõ’gõi em cinco horas de operação”, explica ele. Como a proposta da Mate Tea from Brasil é comercializar o produto em embalagens de 40 g ou 50 g, não há preocupação com a quantidade em toneladas, mas sim em vendas de valor agregado pela aplicação e pelo público a que se destina. O mate ceremonial, como também vem sendo chamado, está sendo apresentado no Brasil e também no exterior. No início do mês de maio, Heroldo levou o kõ’gõi à Polônia e ofereceu amostras aos compradores – já clientes da marca na compra de erva-mate especial para a distribuição na Europa – para observar a receptividade desse público. O novo produto também foi divulgado na China, durante a International Tea Culture Fair, para técnicos, avaliadores e especialistas de chá do mundo todo. De acordo com Heroldo, a aceitação do mate moído vem sendo excelente. “As pessoas estão percebendo que erva-mate não é apenas chimarrão”, afirma. Um ponto observado pelos especialistas, entretanto, é que o matcha produz uma espuma enquanto preparado na cerimônia do chá, característica que o kõ’gõi não possui. O empresário explica que, na forma quente, realmente, o mate ceremonial não alcança essa textura, mas, quando preparado gelado, batido em coqueteleira, a espuma aparece e agrada a baristas e bartenders.
O produto está sendo introduzido no mercado com preço de US$ 60 o quilo. Um valor que é, segundo Heroldo, 40% ou 50% inferior ao do matcha japonês. A partir de setembro, o kõ’gõi deverá ganhar as lojas virtuais da Polônia, da Alemanha e da República Checa. Em junho, ele será apresentado oficialmente ao mercado americano na World Tea Expo, em Las Vegas. Quem está ansioso para provar no Brasil deverá esperar até setembro, quando ele estará disponível em lojas on-line.
USOS E PREPAROS
O preparo da bebida pode ser igual ao do matcha, utilizando-se as mesmas medidas e técnicas e os mesmos equipamentos. Ele também pode ser usado em drinques gelados e na confeitaria.
(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)