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Pesquisa da Universidade do Café Brasil e illycaffè traz discussão sobre gênero na cafeicultura

A Universidade do Café Brasil, alinhada ao posicionamento da illycaffè, realiza há mais de duas décadas pesquisas de excelência, com definição de temas que sejam relevantes e agreguem valor para os participantes do agronegócio do café. Essa é a 16ª edição.

A inclusão de gênero, é um tema, que despertou a atenção da UDC Brasil e da illycaffè para a realização de uma pesquisa com enfoque na abordagem da questão do desequilíbrio de gênero na cafeicultura. A pesquisa realizada pela UDC apresenta um tema desafiante para o setor: Desequilíbrio de gênero no agronegócio café.

“Nos últimos anos, houve um expressivo aumento da mobilização e sensibilização de mulheres ligadas à cafeicultura no país, o que possibilitou maior acesso a informações, capacitação profissional e, inclusive, melhoria na qualidade do café.”, revela a Profa. Dra. Christiane Leles Rezende De Vita, da Universidade do Café Brasil e PENSA-Centro de Conhecimento em Agronegócios.

De acordo com a pesquisa, apesar dos avanços, a diferença de gênero ainda predomina nas regiões agrícolas do país, na qual os homens têm mais acesso à informação, à assistência técnica, linhas de créditos e, consequentemente, maior produtividade.

O número de homens que participam de cooperativas também é expressivamente maior, o que também está relacionado ao desequilíbrio de gênero que ainda persiste no cenário da cafeicultura brasileira. Dados de uma pesquisa realizada em 2017 com as maiores cooperativas de café no Brasil apontam que em mais de 80% destas, o número de mulheres entre o total de cooperados, não passa de 20%.

A criação de cooperativas é uma valiosa ferramenta para o fortalecimento, valorização e crescimento das mulheres no cultivo de café. A empresa destaca iniciativas com resultados muito interessantes, como por exemplo, a Coolabore (Cooperativa Regional de Indústria e Comércio de Produtos Agrícolas Artesanais) que está transformando a vida das produtoras da região de Carangola, em Minas Gerais.

De cafés torrados de forma caseira e até arcaica, que acabavam queimados em fornos a lenha ou fogueiras improvisadas nos quintais e que de quebra ainda prejudicavam a saúde das pequenas cafeicultoras, à criação de um selo de café que participou de alguns eventos representando o Brasil. Foi e ainda é um longo e árduo caminho explica Julenia Maria Lopes da Silva, cafeicultora, fundadora e presidente da Coolabore.

Após viver anos na Europa, a brasileira decidiu voltar à sua cidade natal, mas ficou desolada com a situação das mulheres na região, que possui apenas um posto de saúde, com atendimento médico uma vez por semana. Julenia e o marido ficaram preocupados com a inalação de fumaça durante o processo antigo de torra do café. A primeira providência foi batalhar por uma máquina de torra, que pudesse atender as produtoras locais.  Após conseguir a máquina, que permite a torra comunitária, a presidente da cooperativa notou que ainda tinha muito a se fazer pelas mulheres.

Ao perceber que muitas perdiam a colheita pela manhã, porque precisavam arrumar seus filhos para a escola e ainda adiantar o almoço de seus maridos, a fundadora da Coolabore, conseguiu alterar o horário de entrada na colheita, passando das 7h para às 9h30 e com isso muito mais mulheres tiveram acesso à colheita e automaticamente aumento de suas rendas.

Graças ao incentivo, acesso à informação e apoio da cooperativa, as pequenas produtoras da região de Carangola passaram de um café queimado a um produto diferenciado. Com participação de 142 cooperadas, a produção da comunidade gira em torno de 60 mil sacas por ano. “A participação em feira também nos ajuda a divulgar e comercializar nosso café. Também participamos do Programa Nacional de Alimentação Escolar, onde entregamos frutas e legumes cultivados na entressafra do café”, releva.

Na Coopfam – Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo, Minas Gerais, um grupo de mulheres produz café com certificação Fairtrade. “Esta iniciativa contribui significativamente para o empoderamento das mulheres da agricultura familiar e pode ser considerada uma estratégia que promove a Justiça Social, uma vez que assegura a dignidade do trabalho e a equidade para todas, também ajuda a remover práticas e crenças discriminatórias”, explica a Prof. Dra. Raquel Santos Soares Menezes, professora da Universidade Federal de Viçosa, especialista no tema, que integrou a equipe da Universidade do Café.

Segundo os dados obtidos na pesquisa é possível constatar que se trata de um problema complexo e que envolve a mobilização de múltiplos fatores e instituições. “O equilíbrio de gênero no Sistema Agroindustrial Café não será alcançado a partir de ações isoladas. É necessário que haja uma coalizão de forças entre os diversos setores (público, privado e sociedade civil) para que se estabeleça metas e ações”, destaca a professora.

De acordo com o último Censo Agropecuário, realizado em 2017, cerca de 947 mil mulheres são responsáveis pela gestão de propriedades rurais. O Brasil tem um total de 5.073.324 de estabelecimentos agropecuários, sendo 18,7% deles geridos por mulheres.

“Ao segmentarmos apenas as propriedades com produção de café, o percentual de propriedades geridas por mulheres é de 13,2% ocupando uma área de 815 mil hectares (ha), o que corresponde a 9,1% do total de área com produção de café no Brasil. Também percebemos que é necessário desconstruir estereótipos da mulher “sensível”, “detalhista”, “cuidadora” ou qualquer outro rótulo que diminua a relevância ou as competências profissionais femininas. O fato de esperar, por exemplo, que o café vindo de uma fazenda administrada por mulheres seja de melhor qualidade já demostra um preconceito e uma pressão desnecessária sobre elas, pois obviamente as mulheres possuem características e habilidades diferentes, como todos”, destaca a Profa. Dra. Raquel.

A professora Christiane explica que a mobilização tem ajudado muitas produtoras rurais, não só no Brasil, como no mundo. “Uma pesquisa com cooperativas de crédito na Albânia, Índia e África mostrou que ao incluir as mulheres como parte da estratégia da cooperativa, nos processos de crédito e de tomada de decisão, o resultado foi não apenas o acesso ao crédito, mas também maior participação das mulheres nas cooperativas e na sociedade em geral. A pesquisa aponta que cooperativas de crédito têm, historicamente, um papel importante na inclusão financeira e na capacitação econômica de populações vulneráveis, especialmente aquelas que vivem em áreas rurais”, conta.

A pesquisa completa está disponível para download no site da Universidade do Café Brasil.

TEXTO illycafé/ Redação • FOTO Divulgação

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