Cafezal

A nova idade do arábica

Novo estudo propõe marco temporal mais preciso para o surgimento da espécie e demonstra a diversificação histórica das cultivares modernas

Por Cristiana Couto

Em abril, a revista científica Nature Genetics publicou um artigo que atualiza o surgimento da espécie arábica e a história das suas diversas cultivares modernas. Segundo os 73 autores do trabalho, que reuniu 40 instituições de quase vinte países (entre eles o Brasil), as informações do genoma dos cafés arábica atualmente cultivados no mundo são importantes para voltar no tempo e traçar um caminho mais preciso da longa história evolutiva da espécie – responsável por cerca de 70% da produção mundial de café.

Isso porque a compreensão detalhada das origens e da trajetória do arábica é crucial para desenvolver novas cultivares de espécie mais bem adaptadas às mudanças climáticas. Por isso, Salojärvi,J. et al. fazem um apanhado desse rico itinerário, que move pesquisadores há duas décadas (o novo genoma de referência do arábica permitiu, ainda, a identificação da região que abriga genes responsáveis pela resistência à ferrugem e a área no genoma que os regula). O que a Espresso traz nestas páginas é esse caminho e o novo marco temporal do evento que inaugura a existência do arábica.

A origem do arábica

O arábica é uma espécie híbrida, ou seja, surgiu de um cruzamento (natural) bem sucedido entre duas espécies diferentes, Coffea canephora e Coffea eugenioides. Diferentemente da genética das outras 124 espécies que compõem o gênero Coffea, o arábica recebeu, de cada um dos pais, não apenas um, mas dois conjuntos de cromossomos (a representação científica para esse fenômeno é 2n=4x=44). Essa duplicação genômica não é um evento raro entre os vegetais: espécies como o trigo (Tripticum spp.), o algodão (Gossypium L.) e o repolho (Brassica oleracea) também a apresentam.

A mais recente comprovação dos pais dos cafés arábicas foi feita em 2023, mas essa sugestão de filiação não é nova. Desde o fim dos anos 1990, cientistas tentam atestar esse cruzamento – cujo nome técnico é hibridação –, quando e onde ele ocorreu, e muitos foram os estudos feitos em busca dessas respostas, já que ter garantias inequívocas de quem são os cafés-pais do arábica é fundamental para compreender sua
história evolutiva.

As datas mínimas e máximas atribuídas ao evento de nascimento do arábica, porém, variaram nessas duas décadas entre 10 e 50 mil anos até 543 e 1,08 milhão de anos. Neste novo artigo e na esteira das técnicas mais modernas de análise genômica, os estudiosos propuseram um período menos amplo: entre 350 e 600 mil anos.

A trajetória da espécie

Embora não se saiba onde a hibridação ocorreu, o progenitor selvagem mais próximo foi encontrado no planalto da Etiópia oriental, no vale Great Rift. Depois de milênios na Etiópia, as sementes de plantas da espécie arábica são cultivadas no Iêmen e torradas pelos árabes até começarem a espraiar-se, lentamente, pelo mundo.

No século XVII, chegam à Índia, levadas pelos monges sufi (árabes). Um século depois, os holandeses conseguem plantar a espécie na Indonésia (sudeste da Ásia) – criando, assim, as plantas fundadoras do grupo contemporâneo da linhagem típica. Esse e os movimentos seguintes envolveram, porém, um número pequeno de plantas e sementes. Em 1706, uma dessas plantas viajou até o jardim botânico de Amsterdã, num evento amplamente reproduzido por fontes históricas, e iniciou a propagação de arábicas no Caribe e, posteriormente, na América do Sul.

Enquanto isso e de forma independente, outra potência econômica da época cultivou arábicas na ilha de Bourbon (atual Reunião). Segundo fontes consultadas pelos autores do artigo, uma única planta sobreviveu e, na década de 1720, originou o grupo bourbon. Este grupo e o grupo típica é que criaram a base a partir da qual derivam todas as variedades de arábica que circulam atualmente no planeta – com exceção de algumas poucas variedades silvestres (ou seja, não domesticadas) das florestas subtropicais da Etiópia.

Essa origem “estreita” explica porque as variedades de arábica têm baixa diversidade genética. Mas não é só por esta razão. Pela sua particularidade genética, a espécie arábica tem a capacidade de se autofecundar.

Autocompatibilidade: uma ferramenta evolutiva

A ciência ensina que a duplicação do material genético de um organismo pode originar novas espécies, aumentando a diversidade genética no mundo e conferindo, muitas vezes, novas habilidades para a adaptação a novos ambientes, o que, potencialmente, traz vantagens evolutivas. No gênero Coffea, poucas variedades têm essa habilidade, ou seja, de fecundar a si mesmas, não dependendo, assim, de um parceiro.

Pesquisadores referidos no artigo da Nature Genetics e que estudaram 23 espécies do gênero Coffea acreditam que a quebra da autoincompatibilidade (ou seja, o aparecimento da capacidade de autofecundação a partir de pais auto-incompatíveis) é uma estratégia de sobrevivência que garante a reprodução da espécie quando o número de parceiros disponíveis é limitado – o que aconteceu durante as mudanças ambientais na África Oriental no último milhão de anos, período em que a espécie arábica surgiu. Também sugerem que um dos ancestrais do C. arabica possuía uma certa aptidão para essa mudança, o que já pode ter facilitado sua sobrevivência.

A disponibilidade recente de técnicas acessíveis de sequenciamento genômico em larga escala permitiram a reconstrução, com alta precisão, de eventos de hibridação com base em diferenças sutis na sequência do genoma entre espécies híbridas – como é o caso dos cafés arábica – e seus parentes. Soja e baunilha, por exemplo, tiveram sua origem identificada por técnicas assim, que, por acessarem um grande número de regiões do genoma, fornecem mais informações sobre a história evolutiva de uma espécie do que a análise de sequências de genes individuais. E várias outras técnicas avançadas de filogenia (ramo que estuda a relação evolutiva entre grupos de organismos por meio de sequenciamento de dados moleculares) podem ser combinadas a estas, o que, para os cientistas, projeta cenários promissores.

No caso do arábica, a combinação entre a autocompatibilidade e a replicação da espécie a partir de apenas duas linhagens ao longo de milhares de gerações acabou por resultar em plantas suscetíveis a várias doenças e pestes, como a ferrugem, por exemplo.

Assim, estudiosos sugerem que, como medida de mitigação dos efeitos climáticos sobre os cafés arábica, sejam feitas seleções genéticas observando os parentes selvagens diretos dos arábicas cultivados – familiares estes que, mais próximos, muitas vezes apresentam características mais favoráveis para o melhoramento de uma espécie cultivada do que os que são distantes.

Texto originalmente publicado na edição #85 (setembro, outubro e novembro de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Saiba o que rola na última edição da revista Espresso

Há duas décadas, seria impensável dizer que onde se produz café também se pode cultivar vinhedos. Pois no Brasil, isso é possível. A capa desta edição, escrita por Cristiana Couto, explora como regiões conhecidas pela produção de cafés especiais vêm apostando, também, no plantio de vinhas e na elaboração de rótulos de qualidade. O segredo? Uma combinação entre território e manejo.

A Espresso #87 já está disponível no site da Café Store e nos pontos de venda parceiros. Clique aqui para comprar.

Em outra de nossas reportagens, Mariana Grilli traz à tona a realidade do café net zero, mostrando como produtores brasileiros adaptam suas fazendas às novas exigências ambientais e econômicas do mercado global. O café carbono neutro deixa de ser tendência e torna-se requisito essencial para quem deseja sobreviver em uma cafeicultura cada vez mais competitiva e consciente.

Também nesta edição, Lívia Andrade conta a história do Vale da Grama, uma região incrustada na Serra da Mantiqueira e reconhecida pela produção de cafés de qualidade. Recentemente oficializada como a mais nova indicação geográfica (IG) cafeeira de São Paulo, o Vale da Grama reúne tradição centenária, terroir único e famílias que vêm conquistando os mais prestigiados prêmios do setor.

Examinamos, ainda, o aumento do consumo de cafés solúveis, as pesquisas que buscam produzir cafés em laboratório e as tendências no mercado de cacau de qualidade.

Buscamos, assim, exemplos claros de como inovação e tradição podem caminhar juntas, criando novas oportunidades e estruturando o futuro da agricultura brasileira.

Boa leitura!

TEXTO Redação

Mercado

Campanha quer desmistificar o ristretto

Chamada “O ristretto é nosso”, iniciativa engaja cafeterias e incentiva consumidores a conhecerem mais sobre a bebida

Por Gabriela Kaneto

Você já tomou um ristretto hoje? Com o objetivo de popularizar a bebida e destacar seus sabores, a campanha “O ristretto é nosso”, que vai até o dia 30 deste mês, engaja cafeterias em diferentes partes do Brasil e convida consumidores a provarem e a compararem o ristretto com o já conhecido espresso.

“Criei o evento para dar uma animada no nosso mercado depois de tanta notícia difícil mês após mês”, explica Flávia Pogliani, do The Little Coffee Shop (SP), idealizadora do projeto, referindo-se aos preços do café e às incertezas climáticas na produção. “Mas, também, para desmistificar o ristretto, pois trabalhando no mercado, ouvindo clientes e cafeterias, percebi que haviam alguns preconceitos”, conta.

A campanha conta com 60 cafeterias espalhadas por 19 cidades, de norte a sul do país. Cada uma delas apresenta um duo autoral, composto por um espresso e um ristretto (simples ou duplo), feitos com o mesmo grão de qualidade. “Cada casa prepara o duo com o grão que já usa na operação, então todos eles serão diferentes, o que é ótimo para quem quer fazer um tour. A maioria das cidades tem mais de uma cafeteria participante”, conta Flávia.

Duo do FFV Café – Fotos: Divulgação

Na capital paulista são 23 endereços, como o FFV Café (@ffv_cafe), na Vila Buarque. “A potência e a complexidade do ristretto deveriam ser mais bem exploradas”, comenta Clayton Miranda Silva, barista e sócio-proprietário da casa. “No dia a dia, já temos como hábito sugerir o ristretto para nossos clientes, inclusive em bebidas com leite”.

Justamente para apresentar melhor essa complexidade, o FFV escolheu grãos de catuaí 2SL, de processamento natural, cultivados na Mantiqueira de Minas e torrados pela Dora Coffee Roasters. “Se depender de nós, baristas e cafeterias, e de campanhas como essa, seguiremos um bom caminho para essa valorização”, afirma.  

Já em Belo Horizonte (MG), o Café Magrí (@cafemagri), no bairro Mangabeiras, inova ao ser a única cafeteria da lista a apresentar um duo com grãos canéfora. “Por aqui já estamos desenvolvendo um trabalho com canéforas que precede a campanha e, para nós, não fazia sentido usar outro café”, explica Marília Balzani, sócia e barista. 

Duo do Café Magrí – Fotos: Alexandre Fidelis

O café escolhido para a campanha foi um conilon da Fazenda Venturim, no Espírito Santo, torrado pela Fuzz Cafés Especiais. “Foi desafiador para a equipe, pois temos poucas referências de ristrettos de canéforas no mercado, mas chegamos a um resultado super legal e estamos muito felizes em explorar essa possibilidade e esses novos sabores”, comemora.

Marília conta que, antes da campanha, foram raras as ocasiões em que um cliente havia solicitado um ristretto, já que a maioria dos frequentadores tem como hábito consumir o espresso longo. “A maior parte dos nossos clientes entendem o espresso curto como um espresso de pelo menos 50 ml, e o longo de 80 ml para mais, o que é muito comum em alguns cafés de cápsula e nas tendências estadunidenses”, menciona a sócia. “Isso nos dá a oportunidade de falar mais sobre as opções de bebida, mas também nos confere um desafio em explicar os motivos do ristretto ser menor do que a expectativa deles”, completa.

Para ela, campanhas como essa são importantes para quebrar paradigmas propostos exclusivamente pela indústria do café. “O ristretto está no imaginário das pessoas como uma opção de bebida de cápsula, e criou-se uma visão deturpada do que ele realmente é. Então participar dessa campanha significa reivindicar ao barista a capacidade de apresentar bebidas diferentes, complexas e bem feitas”, ressalta.

O valor dos duos varia entre R$ 10 e R$ 22. “Isso quer dizer então que o ristretto é melhor do que o espresso? Não. Melhor ou pior é um gosto individual. O ristretto é o que ele é”, afirma a criadora da campanha.

TEXTO Gabriela Kaneto

Barista

Campeonato Brasileiro de Brewers começa nesta quinta (20)

A agenda de competições da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) começa a esquentar já nesta semana, com a realização do Campeonato Brasileiro de Brewers, que acontece de 20 a 22 de março, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no interior paulista. Confira aqui os competidores da edição.

Em abril, os holofotes se voltam para outras duas disputas importantes: o Campeonato Brasileiro de Latte Art e o Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits, ambos realizados em Florianópolis, de 4 a 6 de abril.

Os vencedores de cada categoria garantem vaga para representar o Brasil nos campeonatos mundiais organizados pela World Coffee Events (WCE), sendo que o campeão de brewers enfrentará a etapa mundial em Jacarta, na Indonésia, entre 15 e 17 de maio de 2025. Já os campeões de latte art e de coffee in good spirits representarão o Brasil nos campeonatos mundiais que acontecem em Genebra, de 26 a 28 de junho. 

Veja a programação:

Campeonato Brasileiro de Brewers
Quando: 20 a 22 de março de 2025
Onde: Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Campinas, SP

Campeonato Brasileiro de Latte Art
Quando: 4 a 6 de abril de 2025
Onde: Shopping Oka Floripa, Florianópolis, SC 

Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits
Quando: 4 a 6 de abril de 2025
Onde: Shopping Oka Floripa, Florianópolis, SC 

TEXTO Redação

Cafezal

Como as altas temperaturas estão afetando os cafezais no Brasil?

Especialista em fisiologia vegetal explica o funcionamento da planta em clima muito quente; produtores acreditam em mais perdas em 2025

Por Cristiana Couto (colaborou Angela Ruiz)

A seca prolongada e as altas temperaturas vêm preocupando produtores de café pelo país, levantando alertas sobre possíveis quebras, inclusive, na safra de 2026. A Espresso conversou com especialistas e produtores para entender como a condição climática atual está afetando os cafezais, e qual a previsão do tempo para os próximos dias nas diversas regiões produtoras.

O dia em que a chuva parou

“O clima vinha bem até o fim de janeiro, com temperaturas amenas, bom para o desenvolvimento dos frutos, podendo melhorar as previsões da safra de 2025”, resume Jean Vilhena Faleiros, CEO da Eldorado Specialty Coffees, na Alta Mogiana, sobre as dificuldades de 2024 que, entre março e outubro, resultaram em mais de duzentos dias sem chuvas. Mas, no início de fevereiro, as chuvas pararam (4/2, em algumas regiões, 5 e 6/2, em outras). “Alguns lugares alcançaram temperaturas 15% acima da média”, relata Faleiros, que também é presidente do Instituto Brasileiro dos Cafés de Origem e da Associação dos Cafeicultores da Alta Mogiana. 

Em Araxá, no Triângulo Mineiro, Daniela Burger Aguiar, empresária à frente da Fazenda Congonhas, faz relato semelhante. “Nesta época, sempre chovia. Choveu muito em dezembro, mas agora parou. Estamos há 30 dias sem chuva”, preocupa-se ela.

Perdas e torcidas

Desde 2021 o Brasil enfrenta problemas climáticos na cafeicultura, com quebras subsequentes de safra. “Vamos torcer para que o clima fique bom, para vermos como será a de 2026, pois a de 2025 já está comprometida”, diz Faleiros. “Antes, quando ficava muito quente, chovia à noite, refrescando. Agora, nem isso temos. Tem dois anos que o clima está adverso e afetando todas as lavouras, principalmente o café”, relata Daniela, que também produz outras culturas. 

Calor de efeito 

Mas não é só o estresse hídrico que aflige os cafeicultores. As altas temperaturas, que acompanham a falta de chuvas, não só já provocaram perdas na safra atual, que vinha sofrendo danos desde 2024, como podem também afetar a safra de 2026. 

Segundo Paulo Mazzafera, especialista em fisiologia vegetal e professor-sênior do Instituto de Biologia da Unicamp, essa combinação está sendo ruim para a granação (desenvolvimento dos frutos), que acontece nessa época. “Se fosse só a falta de chuva, teríamos grãos pequenos, menores, mas com aumento da temperatura, o que estamos observando é a morte da semente no interior do fruto”, explica ele, referindo-se aos grãos denominados chochos.

“Sempre tivemos veranicos, os períodos com falta de água, mas eles nunca vieram acompanhados de temperaturas tão altas como estamos vendo”. “A questão é que viemos de vários problemas desde a geada [de 2021], que foi grave e um divisor de águas”, emenda Marco Valério Brito, presidente da Coccamig. “O mercado está sensibilizado”, diz.

Como se isso não bastasse, o que se vem observando há algum tempo nas lavouras, conta Mazzafera, é a queima de folhas por conta das temperaturas elevadas. “Quando a folha fecha os estômatos por causa da alta irradiação e por falta de água, a planta deixa de transpirar”, explica. Essa transpiração da água, porém, é um mecanismo de retirada de calor da folha. 

Essa falta de retirada de energia pela transpiração da água, ensina Mazzafera, faz com que a temperatura da folha aumente a níveis realmente muito altos. “Isso começa a gerar a morte de tecidos”, conclui. Além das folhas, diz o especialista, há também relatos da queima de frutos por fora. 

A tal da poliembrionia

Além de grãos chochos, cafeicultores têm observado o aparecimento de grãos concha. “No fruto de café existem duas lojas, e em cada uma contém um ovário”, ensina Mazzafera. Ele diz que, com o aumento de temperatura, dá-se  o fenômeno denominado poliembrionia, ou seja, o aparecimento de mais de uma semente por loja. 

Consequentemente, as sementes ficam entremeadas umas às outras e isso dá o que se convencionou chamar de grão concha. “Além das perdas para o cafeicultor durante o beneficiamento, pelo fato de o grão concha ser menor, ele também atrapalha a torra, pois vai queimar e conferir o gosto amargo ao café”, lembra ele. 

Para o cientista, a perda de café já é certa, apesar das previsões de chuvas que se aproximam. “Seria muito bom se chovesse. Mas esses grãos que já estão morrendo e os que estão formando conchas já são uma perda, não há como reverter”, afirma. 

E a chuva? 

Segundo a Climatempo, algumas áreas cafeicultoras vão se beneficiar da umidade trazida pela chuva nos próximos dias. “Neste final de primeira quinzena de março, estamos observando que a umidade começou a aumentar por causa de áreas de instabilidades que estão se espalhando por São Paulo e sul de Minas Gerais”, explica a meteorologista Nadiara Pereira. Nessas áreas, diz ela, as instabilidades ganham força e trarão chuvas regulares e com volumes “significativos” nos próximos dez dias. 

Essas chuvas mais volumosas, de acordo com a Climatempo, devem cair sobre a zona da Mata Mineira e chegar até o sul do Espírito Santo na próxima semana (entre 18 a 22 de março). 

Aos poucos a chuva vai avançar. “Nas áreas mais ao sul da região sudeste, Alta Mogiana, sul de Minas e as principais áreas de arábica vão sentir uma melhora tanto em condições de temperatura quanto em aumento das chuvas”, prevê a meteorologista. 

Mas esse avanço não deve cobrir todas as áreas cafeeiras. “Espírito Santo, áreas mais ao norte de Minas e interior da Bahia ainda vão continuar com altas temperaturas e tempo mais seco”, diz Nadiara. 

Nem tudo são flores 

Mazzafera diz que vai ser difícil avaliar o impacto da seca em diferentes regiões, já que as plantas reagem de formas distintas. Um exemplo é a diferença na exposição solar: as partes da lavoura que recebem o sol da tarde, mais intenso, tendem a sofrer mais do que aquelas que recebem a luz da manhã, que é mais amena. “É cedo para contabilizar perdas, depende da região”, afirma Brito. “O não enchimento dos frutos pode ter impactado no tamanho do grão. Mas se as chuvas chegarem, vai regular o ciclo do café e minimizar as perdas”, torce ele. 

Além das perdas já computadas com a morte dos frutos, cafeicultores e especialistas temem pela safra de 2026. “Nessa época do ano ocorre a diferenciação das gemas”, explica Mazzafera, referindo-se às estruturas que vão formar as florzinhas do café. 

“Nós veremos isso quando retornarem as chuvas, e não sabemos se essa alta temperatura afetou essa diferenciação. Não dá para ver ainda, e esse é um outro problema que pode acontecer”, alerta. “O negócio agora é esperar que a chuva venha para que aqueles cafés não fiquem com peneira muito baixa por causa de efeito na granação. Não dá pra prever muito bem o que vai acontecer, quantificar, mas que vai haver perda, vai haver perda”, lamenta Mazzafera.

Faleiros preocupa-se com as consequências desse calor para o comércio dos grãos. “O cenário de preços do café e de estoque precisam de uma estabilidade de pelo menos dois anos para mudar”, calcula. “Vínhamos com estoque bom, que supriu o mercado em 2022, após a geada de 2021. Hoje, por causa da quinta safra ruim, não tem estoque em nenhum lugar do mundo”, alerta. 

Apelo à sustentabilidade

Por fim, Mazzafera ressalta, em publicação recente, que esses impactos das altas temperaturas e da escassez de chuvas na fase da frutificação já eram previstos e sugere, nas próximas safras, o uso de práticas integrativas como irrigação, nutrição balanceada, controle de pragas e doenças, utilização de plantas de cobertura, adição de matéria orgânica e de tecnologias que aprofundem o sistema radicular para minimizar as perdas.

“Além disso, práticas conservacionistas bem estabelecidas e a utilização de agentes biológicos, biofertilizantes e bioestimulantes, são pilares indispensáveis para sustentar uma cafeicultura rentável em tempos de desafios climáticos severos”, escreveu. 

Mercado

Exportações brasileiras tem queda de 10,4% em fevereiro, diz Cecafé

Receita, porém, subiu 55,5%; cafés diferenciados representaram 25% das exportações e dobraram o faturamento; exportação de solúvel cresce 16,5%
 

Da Redação

Em fevereiro, o país exportou 3,274 milhões de sacas de café – uma queda de 10,4% em comparação com o mesmo período do ano passado, diz relatório de fevereiro do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgado nesta quinta (13). A receita, porém, é 55,5% maior, um recorde: US$ 1,190 bilhão, reflexo das cotações elevadas no mercado global (para acessar o relatório completo, clique aqui).

As exportações somam 33,452 milhões de sacas nos oito primeiros meses da safra 2024/25, o que gerou divisas de 9,723 bilhões de reais – uma alta recorde de 59,8% em receita cambial se comparada ao mesmo intervalo anterior (julho de 2023 a fevereiro de 2024).

Para Marcio Ferreira, presidente da Cecafé, “embora as bolsas internacionais tenham recuado, os preços atuais e cotações médias dos últimos meses são significativamente maiores do que aqueles praticados no mesmo período do ano anterior”. 

Preços ao consumidor podem subir 

Ferreira lembra, porém, que os canéforas do Brasil na bolsa de Londres não estão com preços competitivos como os do Vietnã, por exemplo, porque estamos na entressafra. Também os arábicas nacionais estão mais caros na bolsa de Nova York.

Sobre a diminuição do comércio de café, Ferreira cita como causas a redução de linha de crédito e um eventual recuo pontual no consumo da bebida. “Novas altas nos preços ao consumidor não devem ser descartadas. Esses potenciais aumentos gerarão uma redução no consumo”, declara. 

Safra 2026/27 pode se recuperar

Segundo Ferreira, se o inverno for sem intempéries e as chuvas retornarem em volume suficiente, a safra 2026/27 poderá ter boa florada e se recuperar. “No momento, a certeza para a safra 2025/26 é de um volume bem menor para o arábica e maior ao conilon”, prevê o presidente do Cecafé. Nesse cenário, diz ele, não será possível bater recordes de exportação, mas o Brasil ainda terá “uma participação representativa”. 

Os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés brasileiros neste primeiro bimestre, importando 1,206 milhão de sacas (16,6% do total). Em seguida vem a Alemanha (878.350 sacas, 12,1% do total), a Itália (531.260 sacas), o Japão (478.844 sacas) e a Turquia (354.904 sacas).

Problemas logísticos

Apesar de Vietnã e Indonésia estarem mais competitivos no primeiro bimestre, ambos — respectivamente, segundo e quarto maiores produtores globais — continuam ampliando a compra de café verde brasileiro. Nos dois primeiros meses do ano, os vietnamitas importaram 72.836 sacas (aumento de 297,3%), enquanto os indonésios adquiriram 47.471 sacas (um crescimento de 29,2%).

Ferreira acredita que muitas dessas exportações correspondem a contratos fechados em 2024, quando os canéforas brasileiros estavam mais competitivos. No entanto, parte desse volume ainda não foi embarcada devido a problemas logísticos –  atrasos de navios, mudanças de escala e rolagens de carga, reflexo da infraestrutura portuária defasada do país.

Solúvel cresce 16,5%

O café arábica manteve a liderança nas exportações brasileiras no primeiro bimestre, com 6,07 milhões de sacas embarcadas ( 83,4% do total). Apesar do volume expressivo, houve queda de 0,7% em relação ao mesmo período de 2024.

Na segunda posição, solúvel registrou um crescimento de 16,5%, com 640.996 sacas exportadas (8,8% do total). Já os canéforas tiveram recuo de 45,5%, somando 559.928 sacas (7,7%), enquanto o café torrado e torrado e moído apresentou o maior crescimento percentual – alta de 63,9%, mas com um volume modesto de 7.993 sacas (0,1% do total).

Os cafés de qualidade superior ou com certificados como sustentáveis representaram 24,8% das exportações, com 1,8 milhão de sacas embarcadas — um crescimento de 14,7% em relação ao mesmo período de 2024.

Com preço médio de US$ 398,47 por saca, os cafés diferenciados geraram uma receita de US$ 717,7 milhões – 28,5% do total obtido com as exportações de café no período. Em relação ao ano anterior, a valorização foi expressiva, com um aumento de 101,1% no faturamento.

Os Estados Unidos lideraram as compras desse tipo de café, adquirindo 351.205 sacas (19,5% do total exportado). Na sequência, aparecem Alemanha (228.840 sacas, 12,7%), Bélgica (179.510 sacas, 10%), Japão (125.646 sacas, 7%) e Holanda (118.806 sacas, 6,6%).

TEXTO Redação

Cafezal

Exportações de café verde em janeiro caem 14,2% no mundo todo, diz OIC

Relatório aponta terceiro mês seguido de queda nas exportações globais; Vietnã lidera recuo, enquanto África cresce; já as exportações de arábica do Brasil recuam 1%

Da Redação

As exportações globais de café verde em janeiro somaram 9,72 milhões de sacas – queda de 14,2% em relação às 11,32 milhões de sacas exportadas no mesmo mês de 2024, diz o relatório mensal da OIC (Organização Internacional do Café), que analisa os eventos recentes na indústria global do café. Foi o terceiro mês seguido de retração, após 12 meses de crescimento (entre novembro de 2023 e outubro de 2024).

A queda recente se explica, diz a OIC, pelo crescimento, no ano cafeeiro 2023/24, de 12,3% das exportações (que atingiram 124,39 milhões de sacas) – o maior volume já registrado pela OIC e o maior aumento absoluto da história, com um acréscimo de 13,63 milhões de sacas.

Já as exportações totais de café (verde, torrado e solúvel) somaram 10,83 milhões de sacas no mesmo mês – uma redução de 13,3% em relação aos 12,49 milhões de sacas exportadas em janeiro de 2024, diz o relatório mensal de fevereiro da OIC (Organização Internacional do Café).

Este é o terceiro mês consecutivo de queda nas exportações globais desses cafés, depois de 13 meses seguidos de crescimento. O resultado disso, segundo o boletim, foi o decréscimo de 4,9% nas exportações acumuladas no ano cafeeiro 2024/25 (42,79 milhões de sacas contra 45,01 milhões no mesmo período do ano anterior), sendo a Ásia e Pacífico os principais responsáveis (27,1% nos 12 meses até janeiro de 2025).

A queda acentuada dos robustas

No mundo, a maior queda das exportações de janeiro foi entre os robustas, que recuaram 27,5% (de 5,1 milhões de sacas em janeiro de 2024 para 3,7 milhões de sacas em janeiro de 2025). Segundo a OIC, essa queda acentuada foi impulsionada pelo Vietnã – responsável por recuar 43,8%. Isso reflete um dado atípico de janeiro do ano passado, quando o Vietnã registrou seu maior volume mensal de exportação de grãos verdes já registrado.

Ajudando a compensar parte dessa queda dos robustas, Indonésia e Uganda tiveram um aumento de 230% (250 mil sacas) e 20,4% (80 mil sacas), respectivamente.

Já as exportações de arábica do Brasil caíram 1% (passando de 3,59 milhões para 3,55 milhões).

Também os estoques certificados de café robusta em Londres diminuíram 4,9% entre janeiro e fevereiro de 2025, fechando fevereiro em 720 mil sacas. Já os de arábica tiveram uma queda mais acentuada – 7,5% (ou 840 mil sacas).

Para saber mais:

Em termos continentais, enquanto as exportações da América do Sul em janeiro caíram 4,2% (de 5,41 para 5,18 milhões de sacas, queda esta impulsionada pelo Peru, que recuou 58,9%), a África cresceu 7,1% (de 1,03 milhão para 1,1 milhão de sacas) e o México e a América Central, 10,9% (atingindo 1,1 milhão de sacas).

O crescimento do volume das exportações na África – o maior desde 1997, quando somaram 1,12 milhão de sacas – foi impulsionado pela Costa do Marfim e por Uganda (os dois maiores exportadores africanos de robusta), cujas exportações combinadas cresceram 28,1%.

Torrado cresce 1,4%

As exportações totais de café solúvel também caíram: o recuo foi de 5,2% em janeiro (1,05 milhão de sacas, em comparação com 1,1 milhão de sacas no mesmo mês em 2024). O mesmo não aconteceu com os cafés torrados, cujo aumento foi de 1,4%, atingindo 60.532 sacas. 

O recorde do I-CIP

O I-CIP atingiu novos recordes em fevereiro –  354.32 centavos de dólar por libra-peso (preços nominais), um aumento de 14,3% em relação a janeiro –, com a maior média mensal já registrada e superando o recorde de março de 1977 (305,13). O I-CIP (Índice Composto de Preços da OIC) representa uma média ponderada dos preços diários dos cafés comercializados no planeta e serve como um indicador de referência para o mercado internacional.

A OIC deu duas possíveis razões para essa retração dos preços iniciada em meados de fevereiro: a primeira delas é que, em 10 de fevereiro, a ICE aumentou os requisitos de margem em até US$ 3.046 para contratos de arábica com vencimento em março de 2027. Isso pode ter levado alguns traders a liquidarem suas posições por conta do aumento dos custos operacionais. A segunda razão é que a divulgação de resultados negativos em pesquisas de negócios e confiança do consumidor feitas em fevereiro nos EUA e na União Europeia impactou negativamente a confiança dos consumidores.

Tudo isso pode ter desencadeado uma realização de lucros, levando a uma retração nos preços. Esse movimento, ainda, foi sustentado por fatores como fluxo de caixa (necessidade de liquidez e o aumento da demanda por créditos comerciais, que elevam os custos e riscos das operações), incertezas resultantes do anúncio de aumentos tarifários pelos EUA, estimativas preliminares aparentemente positivas da safra 2024/25 do Vietnã (que podem ter aliviado preocupações sobre um possível déficit de oferta) e clima favorável (espera-se que o fenômeno La Niña substitua o El Niño intenso de 2024).

Fonte: OIC (Organização Internacional do Café)

TEXTO Redação

Cafeteria & Afins

Elisa Café – Belo Horizonte (MG)

Bem decorado, moderno e acolhedor. A Espresso visitou o Elisa Café, na capital mineira. Inaugurado em 2021 na capital mineira, o Elisa Café é dica certa pra quem deseja tomar um café apreciando o movimento da rua Sergipe, no movimentado bairro Savassi, sentado em sofás e poltronas ou nas mesas que se estendem até a calçada. 

A Espresso visitou a casa no início de 2025. Logo na entrada, diferentes produtos dispostos numa prateleira já chamam a atenção: são cafés servidos na casa, métodos de preparo, xícaras e alguns quitutes mineiros para levar para casa. 

O balcão de preparo das bebidas localiza-se no fundo do salão, e os pedidos são tirados nas mesas. No dia da nossa visita, o cardápio oferecia oito opções de grãos, preparados na aeropress ou na kalita – além do coado do dia, servido no batch brew. 

Escolhemos dois deles – um em cada método – mas acatamos a sugestão do barista de redirecionar os cafés pedidos a uma extração mais adequada a eles. Com isso, tomamos o café Bioma na aeropress e um Vista Alegre na kalita. O primeiro, um arara de processamento natural, tinha notas doces e suaves, com leve toque cítrico de laranja. Um café bem limpo e de acidez baixa, ótima opção para começar o dia. Já o segundo, um catuaí vermelho lavado, destacou-se pelo aroma de chá e sabor que lembrava o limão. Apesar das notas mais presentes, era uma bebida delicada, doce, com alta acidez e corpo cremoso. Os cafés foram servidos em jarras de cerâmica que, apesar de lindas, dificultavam um pouco o manejo por conta da temperatura das bebidas.

Uma fatia de brioche na chapa, com geleia de frutas vermelhas (a oferta do dia) foi o acompanhamento do café Bioma, ao lado de um frangipane, tortinha de inspiração italiana preparada com farinha de amêndoas. Generosa, a fatia de brioche era macia e, com a geleia, fez ótimo par com a bebida. A torta era doce na medida certa e amarrou bem todo o pedido.

Já para acompanhar o Vista Alegre fomos de queijo quente (pão de milho e blend de queijo prato, muçarela e cream cheese) e um bolo caprese – receita da casa feita com farinha de amêndoas, chocolate branco e limão siciliano. As comidas com temperatura e sabor corretos, harmonizaram super bem com o coado. Para fechar, um espresso bem feito, extraído de uma rocket. Àqueles que visitarem Belo Horizonte, vale conhecer o Elisa Café.

Nossa conta: R$ 133,10 (com serviço)
Coado Vista Alegre – R$ 20
Coado Bioma – R$ 20
Tortinha frangipane – R$ 15
Brioche com geleia – R$ 13
Bolo caprese – R$ 19
Queijo quente – R$ 22
Espresso – R$ 12

A equipe da Espresso visitou anonimamente a casa e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Sergipe, 1.236
Bairro Savassi
Cidade Belo Horizonte
Estado Minas Gerais
Website http://https://www.instagram.com/elisa.cafe/
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Cafezal

“Robótica e automação reduzem dependência de trabalho humano no café”, diz especialista em IA

Em entrevista à Espresso, Anderson Rocha explica o que é revolução de convergência e suas diversas aplicações na agricultura cafeeira

Por Cristiana Couto

Você conhece a revolução de convergência? Se nunca ouviu falar deste conceito, esta entrevista vai te ajudar a entendê-lo. “Essa revolução tem um impacto profundo na forma como vivemos, trabalhamos e enfrentamos desafios globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar”, garante Anderson Rocha, professor titular no Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com destacada atuação nas áreas de IA e aprendizado de máquina. 

Cofundador e coordenador do Laboratório de Inteligência Artificial, Recod.ai, da Unicamp, seu trabalho sobre IA tem sido reconhecido internacionalmente. A seguir, ele explica o que é a revolução de convergência e suas aplicações em várias áreas de conhecimento, especialmente na agricultura cafeeira.

Espresso: O que é a revolução de convergência?

Anderson Rocha: Revolução de convergência refere-se à integração de várias tecnologias emergentes – como inteligência artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), biotecnologia, nanotecnologia, robótica e blockchain – para criar soluções interdisciplinares que resolvam problemas complexos e transformem setores econômicos. Essa convergência vai além de avanços isolados; ela potencializa o impacto de cada tecnologia ao combiná-las, permitindo inovações que eram impossíveis anteriormente. Essa revolução tem um impacto profundo na forma como vivemos, trabalhamos e enfrentamos desafios globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar.

Quais as áreas que estão sendo mais impactadas por essa interação de tecnologias e por quê?

Na agricultura, com IoT e IA, sensores monitoram lavouras em tempo real, otimizando o uso de recursos como água e fertilizantes, bem como detectam problemas no solo e nas plantações como pragas e doenças, permitindo a tomada de decisão orientada a dados. Blockchain garante rastreabilidade, enquanto drones e robótica automatizam operações agrícolas. Nesse sentido, por exemplo, temos trabalhado em parceria com a Psyche Aerospace, empresa 100% brasileira, que tem a missão de revolucionar a agricultura a partir da inteligência artificial, robótica (com drones e hovers) e internet das coisas. 

Na área da saúde, a biotecnologia e a IA estão transformando diagnósticos, tratamentos personalizados e o desenvolvimento de medicamentos. Aqui, por exemplo, a hub de inteligência artificial para saúde e bem-estar, Viva Bem, ligada à Recod.ai, nosso lab de IA, procura detectar os primeiros sinais de problemas de saúde para promover o bem-estar. Trabalhamos com a detecção precoce de stress, ansiedade, hipertensão, diabetes e outros problemas.

Tecnologias como IA e IoT melhoram, também, a eficiência das redes elétricas e facilitam o gerenciamento descentralizado de energia renovável. Outro exemplo está numa exploração mais adequada, segura e objetiva do pré-sal brasileiro. Temos pesquisas para o pré-sal em que desenvolvemos soluções para identificar problemas de forma eficiente, resolvê-los pontualmente e maximizar a produção. Tudo a partir de sensores (IoT) e IA.

Já no ramo da indústria e manufatura, a robótica, combinada com IoT e IA, está criando “fábricas inteligentes”, mais eficientes e sustentáveis. Na área das finanças, ainda, a blockchain está revolucionando pagamentos, contratos inteligentes e cadeias de valor globais.

Essas áreas são impactadas porque enfrentam desafios que exigem maior eficiência, automação e transparência, algo que a interação de tecnologias pode oferecer.

De que maneira as tecnologias envolvidas na revolução de convergência podem ser (ou são) aplicadas para melhorar a eficiência e a sustentabilidade na produção do café?

A convergência tecnológica oferece diversas soluções. Uma delas é o monitoramento do solo e do clima a partir da IoT e da IA: sensores e algoritmos preveem padrões climáticos e necessidades do solo, permitindo irrigação e fertilização mais precisas, reduzindo desperdícios, como a Psyche Aerospace busca fazer, por exemplo. Outra solução está no uso de blockchain para a rastreabilidade, que é garantir que o café siga padrões de sustentabilidade e qualidade ao longo da cadeia de suprimentos, aumentando a transparência e fortalecendo o valor do produto para consumidores conscientes. Mais dois exemplos: na automação de colheita e manejo, máquinas inteligentes (robótica e drones) podem realizar a colheita com maior eficiência, reduzindo custos e perdas. Por fim, em termos de redução de impactos ambientais, a IA pode modelar práticas agrícolas que otimizam o uso de energia e reduzem emissões, enquanto a biotecnologia desenvolve variedades de café mais resistentes a pragas e mudanças climáticas.Essas tecnologias melhoram tanto a produtividade quanto a sustentabilidade, respondendo às demandas de consumidores e reguladores.

Quais desafios da agricultura em geral, e da cafeicultura em particular, poderiam ser melhor abordados pela integração de tecnologias emergentes? Há exemplos no Brasil ou globalmente?

Na agricultura, de modo geral, as tecnologias podem ajudar a prever e mitigar impactos climáticos, como secas ou temperaturas extremas. Ao mesmo tempo, soluções baseadas em IoT e IA combatem o uso ineficiente de recursos, ao otimizar o uso de água, energia e insumos. Outro desafio é o desperdício na cadeia de suprimentos, e o uso de blockchain aumenta a eficiência e reduz perdas ao longo do transporte e armazenamento.

Entre os desafios específicos da cafeicultura, a biotecnologia e a IA podem prever surtos de pragas e doenças e desenvolver plantas resistentes. Blockchain e sensores garantem, por sua vez, a manutenção da qualidade nos cafés, via rastreabilidade e padronização. Outra questão importante relaciona-se à sazonalidade e à mão de obra, e a robótica e a automação podem reduzir a dependência de trabalho humano em períodos críticos. No Brasil, o melhor exemplo é a startup Psyche Aerospace, que usa IA e IoT para monitorar condições agrícolas e otimizar a produção de diferentes culturas. Em termos globais, empresas como IBM Food Trust utilizam blockchain para rastreabilidade em cadeias alimentares, incluindo o café.

Uma das tecnologias emergentes é a blockchain, já utilizada na rastreabilidade do café. Mas o que é, como ela funciona e por que é tão importante?

Blockchain é uma tecnologia de registro descentralizado que armazena informações de forma imutável em blocos encadeados. Cada bloco contém dados, um timestamp (marcador de tempo) e um link para o bloco anterior, formando uma cadeia.

Todas as transações são transparentes, ao serem registradas em um livro-razão público ou privado. A tecnologia utiliza criptografia para proteger os dados, tornando quase impossível alterar ou hackear o sistema. Além disso, ela não depende de um único servidor ou autoridade central, o que torna a tecnologia descentralizada. Ela é importante na rastreabilidade do café por que dá transparência, ao permitir que se saiba a origem do café, desde a fazenda até o consumidor final, confiança, ao reduzir fraudes e certificar práticas sustentáveis, além de valorizar o produto, já que dá às marcas uma vantagem competitiva ao promover sustentabilidade e qualidade.

Uma cooperativa de café no Brasil, por exemplo, pode registrar no blockchain informações sobre práticas de cultivo, transporte e certificações, permitindo que compradores internacionais confiem na origem e na qualidade do produto.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Mundialmente conhecido, restaurante Noma agora torra e vende café

O triestrelado restaurante dinamarquês Noma, do chef René Redzepi, acaba de lançar uma assinatura de cafés coados, comprados e torrados por sua equipe em Copenhague. 

Por DKK 300 (cerca de R$ 250 reais), os assinantes do Noma Kaffe recebem dois pacotes de 250 g de café especial em grãos, selecionados pela chef de cafés do Noma, Carolyne Lane, pela sommelier Ava Mees List e pelo torrefador Alastair Hesp.

Em comunicado à imprensa, o restaurante Noma disse que, durante a assinatura, os clientes terão a chance de explorar uma variedade de origens e perfis de torra, o que destaca produtores e suas histórias com o café.  

A assinatura Noma Kaffe está disponível na União Europeia e em mais oito países, como Canadá, Austrália e Japão. Os primeiros grãos de qualidade do programa são das origens México e Etiópia. 

Eleito por várias vezes o melhor restaurante do mundo pela premiação The World’s 50 Best Restaurants e detentor de três estrelas Michelin, o Noma levou mais de dez anos para desenvolver seu programa de café na loja, e teve como parceiro o barista campeão Tim Wendelboe, da torrefação e microcafeteria que leva seu nome em Oslo, na Noruega.  

A partir deste mês, o café servido no restaurante será torrado na torrefação Noma Kaffe, também na capital dinamarquesa.

TEXTO Redação / Fonte: World Coffee Portal • FOTO Divulgação
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