Mercado

Evento busca conectar mulheres do setor de produção de alimentos

Aproveitando que estamos no mês da mulher, o Food Female – mulheres que se conectam busca engrandecer aquelas que produzem, cozinham, servem, criam e cooperam para alimentar o mundo.

Realizado no dia 19/3, das 10h às 21h30, na cidade de São Paulo (SP), o evento pretende unir diversas frentes da cadeia de produção do alimento para entender as lacunas existentes, falar com a indústria e conectar os participantes.

A programação contará com entrevistas e palestras, com mulheres especialistas; rodadas de negócios, para quem quer ser empreendedor no setor; loja colaborativa, com marcas feitas por mulheres; e um happy hour, momento para trocar cartões e fechar negócios. Confira os horários abaixo:

Palestras e conversas:
10h00 Regerando a terra e o homem | Keila Malvezzi, Comida Da Floresta
Convidadas: Sandra Maria (Pesquisadora) e Valéria Paschoal (Nutricionista)
11h00 Cozinha Social Ambiental | Daniela Leite, Comida Invisível
Convidadas: Lis Cereja (Enoteca San VinSaint) e Cláudia Visoni (Jornalista e ambientalista)
12h00 Precisamos falar sobre nossa relação com a comida | Manoela Figueiredo
Convidadas: Marle Alvarenga (Nutricionista) e Helena Jacob (Jornalista e professora)
13h às 14h30 Almoço
14h35 Educação: Rosa Moraes (Laureate International Universities)
Convidadas: Janaína Rueda (Bar da Dona Onça), Adélia Rodrigues (Gastronomia Periférica) e Aline Cardoso (Secretaria Municipal do Desenvolvimento – SP)
15h35 Indústria | Convidada em confirmação*
16h15 Coffee break
16h30 Novos negócios na era digital – Thaís Azevedo, UBER EATS
17h15 Repense seu formato| Patrícia Abbondanza Food Lab
Convidadas: Helena Mattar (Assessora de comunicação gastronômica) e Camila Dutra (Feito com Amor)
16h30 Do serviço | Gabriela Monteleone (D.O.M)
Convidadas: Patrícia Durães (Clandestino Restaurante) e Valéria Gonçalves (Giulietta)

Rodadas de negócios:
10h às 11h30 Turma I
14h30 às 16h Turma II

Happy hour: 19h às 21h30

Serviço
Food Female – Mulheres que se conectam
Quando: 19/3
Horário: das 10h às 21h30
Onde: Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2500 – São Paulo (SP)
Mais informações: www.foodpass.com.br/evento/talks-food-famale-2019

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Barista

Agnieszka Rojewska, primeira barista campeã no Mundial

Aga trabalha há mais de dez anos no mundo do café. Engana-se quem pensa que ela parou um dia e pensou: vou trabalhar com isso. “Eu não decidi trabalhar com café, estava apenas procurando uma ocupação de férias no verão em uma lanchonete na estação ferroviária de Poznań, na Polônia. A ideia era que, com o término do verão, eu deixasse aquele trabalho, mas nunca o fiz”, conta.

Tudo na vida de Aga foi por acaso. Sua entrada nos campeonatos foi através de um gerente da cafeteria em que trabalhava. Ele a encorajou, e desde 2011 ela tem participado de diversas competições. “Se não fosse esse incentivo, eu nunca teria começado a disputar. Era muito tímida para estar no palco, isso me tirou da zona de conforto”. O ano de 2018 não foi o primeiro ano que Aga participou de um Campeonato Mundial de Barista. Em 2015, em Seattle, ela ficou em 34º lugar, e, no ano seguinte, em Dublin, ficou na mesma posição. Deu uma pausa em 2017, para voltar em 2018 como campeã.

Foram dois meses de preparação para o Nacional e o Mundial. “Contei com a ajuda das minhas colegas de equipe, Paula e Kamila, e dos meninos do Project Origin e ONA Coffee, Yanina, Sasa, Sam, Hugh, Matthew, Gus”. Sam Corra, que faz parte da equipe de treinamento de Aga e da empresa ONA Coffee, conta que foi um prazer trabalhar com ela.

“Agnieszka foi quem transformou sua performance vencedora. Nós éramos apenas um meio para ela ter sucesso e mostrar seu talento”. Na competição, Aga optou por um café da Etiópia, que, segundo ela, foi o melhor que pôde escolher, com característica intensa de frutas amarelas e doçura. O café foi torrado pela ONA Coffee.

Aga, ao receber o troféu de Campeã Mundial de Barista: “Eu não tenho uma memória muito clara daquela hora, só lembro que olhei para o meu time nos bastidores e eles estavam pulando de alegria. Na minha cabeça havia apenas: o quê? Eu ganhei?”

Em sua apresentação, Aga foi minimalista, com poucos objetos, e mostrou aos jurados como ajustar o estilo de serviço ao nível de experiência que o cliente tem com cafés especiais, compartilhando apenas as informações certas sobre a bebida. “Eu queria oferecer um bom atendimento e, para isso, precisava de uma excelente conexão com meus clientes – também conhecidos como juízes. Para fazer isso, optei por estar na frente deles a maior parte do tempo, não lhes virar as costas e não correr para outras mesas. Acho que é bom durante a apresentação incorporar elementos criativos, desde que se tenha um motivo”.

Aga afirma que não tem como controlar o nervosismo durante uma competição. “Você só precisa saber como seu corpo se comporta sob o estresse. O jeito é repetir o treino, repetir e repetir”. Já no quesito bom profissional, Aga acredita que manter a hospitalidade e as habilidades no atendimento ao cliente, além de sempre aprender coisas novas, é fundamental. “Nós, como baristas, precisamos do mais importante: educação com nossos clientes e um serviço extraordinário, que proporcionará conhecimento e uma grande experiência no momento da degustação do café”.

Sobre o Brasil

Aga participou do Barista Farmer de 2016, que aconteceu na Fazenda do grupo O’Coffee, em Pedregulho, na Alta Mogiana (SP), e confirma a qualidade altíssima dos cafés brasileiros. “Acredito que algumas pessoas subestimam o café brasileiro. Para mim são cafés que trazem uma tendência de sabores em uma direção diferente. No Barista Farmer fiz ótimas amizades”.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses setembro, outubro e novembro de 2018 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Jeff Hann para a WCE

Mercado

Dia Internacional da Mulher: 6 ações para comemorar

Hoje, 8 de março, é o Dia Internacional da Mulher. Essa data especial, comemorada em muitas partes do mundo, serve para marcar e relembrar as lutas e conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, que buscam espaço e reconhecimento até os dias atuais.

Para promover e celebrar todos os avanços conquistados até hoje, muitas ações estão sendo realizadas pelo Brasil. Separamos seis programações para você aproveitar o dia e dar muito valor às mulheres que fazem deste mundo um lugar melhor e mais justo. Girl power!

1- Octavio Café

Foto: Daniel Ozana/Studio Oz

Chamada de “Presenteie uma mulher com um café especial”, a ação tem como objetivo estimular a troca de gentilezas e fortalecer o sentimento de conexão.  A ideia é que os clientes que estiverem em qualquer unidade da rede no dia 8/3 tenham a opção de pagar R$ 10 e escrever um bilhete para presentear qualquer mulher que for à loja no dia.

As mulheres que entrarem na loja serão abordadas pelo barista, que explicará que há um café pago esperando por elas. Recebendo o bilhete, as presenteadas podem escolher qual método deseja tomar.

Serviço
Presenteie uma mulher com um café especial
Quando: 8/3
Onde: – Avenida Brg. Faria Lima, 2996 – Jardim Paulistano – São Paulo (SP)
– Avenida Magalhães de Castro, 1200 – Morumbi – São Paulo (SP)
– Avenida Rebouças, 3970 – Pinheiros – São Paulo (SP)
– Rodovia Santos Dumont, km 66 – Parque Viracopos – Campinas (SP)
Mais informações: www.octaviocafe.com.br

2- Museu do Café

Foto: Ian Lopes

Buscando difundir a história das catadeiras, mulheres que desempenharam um papel essencial na cadeia produtiva do café, a curadoria do Museu do Café apresenta a exposição temporária “Pianistas de armazém: trabalho feminino na catação de café”.

Inaugurada em 2018, a mostra ficará disponível até o mês de abril. Os visitantes podem conhecer as memórias do ofício e das personagens através de recursos audiovisuais que incluem imagens, depoimentos, trechos de notícias e vídeos, tudo isso em um ambiente temático. Gratuita aos sábados, o ingresso custa R$ 10.

Serviço
Pianistas de armazém: trabalho feminino na catação de café
Quando: até o mês de abril
Onde: Rua XV de Novembro, 95 – Centro Histórico – Santos (SP)
Mais informações: www.museudocafe.org.br

3- Sterna Café

Foto: Daniel Ozana/Studio Oz

Para homenagear o Dia Internacional do Café, a rede de cafeterias Sterna Café organizou um café da manhã especial que acontece amanhã, dia 9 de março, na unidade Sumaré. Na ocasião também serão realizados uma degustação dos métodos de extração da casa e um bate-papo com Cristiane Zancanaro, empreendedora do ramo de cafés especiais. Não é necessário fazer reservas.

Serviço
Café da manhã e bate-papo
Quando: 9/3, às 10h
Onde: Rua Dr. Cândido Espinheira, 338 – loja 3 – Sumaré/Perdizes – São Paulo (SP)
Mais informações: www.sternacafe.com.br

4- Futuro Refeitório

Foto: Lucas Albin/Agência Ophelia

Quer aprender ou aperfeiçoar seu café feito em casa? Conduzido pela barista e torradora Natália Braga, o curso “Coando café em casa”, realizado pela cafeteria Futuro Refeitório, apresenta os grãos da casa e dois métodos coados: Melitta e Hario v60.

A oficina abordará assuntos como diferenças técnicas entre os filtros, importância dos tipos de moagem e processo de extração. Também será realizado um cupping às cegas com quatro lotes da safra 2018/2019.

Serviço
Coando café em casa
Quando: 16/3, às 10h
Onde: Rua Cônego Eugenio Leite, 808 – Pinheiros – São Paulo (SP)
Mais informações: www.futurorefeitorio.com.br

5- Zel Café

Foto: Divulgação

Em parceria com a Livraria do Comendador, a cafeteria paulistana Zel Café está com uma exposição composta por obras do arquiteto, ilustrador, gravurista e fotógrafo Rogerio Bessa Gonçalves. Com o foco da produção sendo a figura feminina, uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, os desenhos são feitos com aquarela, carvão e café. Todas as artes estarão à venda.

Serviço
Arte com café
Quando: de 8 de março a 8 de abril
Onde: Rua Pamplona, 145 – Jardim Paulista – São Paulo (SP)
Mais informações: www.zelcafe.com.br

6- 3corações

Foto: Vitor Barão

Fruto do Projeto Florada, que engaja toda a cadeia produtiva do café em prol da valorização do trabalho de mulheres cafeicultoras do Brasil, a campanha “Junte-se a elas” oferece a oportunidade de ter uma experiência diferenciada com cafés especiais produzidos por elas, além de conhecer histórias reais de mulheres do setor. Os cafés estão à venda por meio da loja Online Florada. O lucro será revertido igualmente para as 50 produtoras mais bem colocadas na 2ª edição do Concurso Florada Premiada.

Serviço
Junte-se a elas
Onde comprar: www.loja.projetoflorada.com.br

TEXTO Redação

Cafezal

II Fórum Mundial de Produtores de Café já tem data marcada

Durante os dias 10 e 11 de julho, a cidade de Campinas, no interior de São Paulo, será palco do II Fórum Mundial de Produtores de Café. O evento reunirá produtores, exportadores, importadores, compradores, torradores, distribuidores e amantes do café.

Com objetivo de buscar caminhos mais sustentáveis para a atividade cafeeira global, serão debatidos temas como a renda dos cafeicultores, questões socioambientais, clima e sustentabilidade.

Palestras e painéis serão dirigidos por grandes nomes do setor, como Jeffrey D. Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável de la Tierra da Universidade de Columbia; Silas Brasileiro, presidente executivo do Conselho Nacional do Café (CNC); e Vanusia Nogueira, diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

Além disso, o encontro contará com workshops e sessões de design thinking com temáticas voltadas para assuntos do setor: mercado, preços e promoção e aumento de consumo.

O II Fórum Mundial de Produtores de Café é uma realização entre BSCA, Minasul e Conselho Nacional do Café (CNC). Com valor de R$ 850 (incluindo almoço e coffee break), o ingresso pode ser adquirido no site do evento. A Revista Espresso e o portal de notícias do setor CaféPoint são as mídias oficiais do evento.

Serviço
II Fórum Mundial de Produtores de Café
Quando: 10 e 11 de julho
Horário: 6h30 às 19h (dia 10), 8h às 17h (dia 11)
Onde: Royal Palm Hall – Campinas (SP)
Mais informações: www.worldcoffeeproducersforum.com.br

TEXTO Redação • FOTO Vitor Barão

Barista

1ª edição da Copa Koar acontece no final do mês

Pela primeira vez, a rede de cafeterias IL Barista Cafés Especiais organiza uma competição em que o personagem principal é a criação pernambucana Koar. Chamado de Copa Koar, o evento será realizado no dia 28 de março, às 19h, no IL Barista Escola do Café.

A disputa contará com 30 participantes, quem fizer o melhor preparo no coador de cerâmica vitrificada ganha. Os participantes terão livre escolha para fazer sua própria receita, decidindo sobre a moagem; quantidade de pó e água; temperatura da água; e filtro de papel. Não será necessário explicar durante a apresentação.

Os três primeiros colocados ganharão:

1° lugar
– Viagem para Recife (4 dias de hotel e aéreo)
– 1 kit Koar
– 250 gramas do café usado

2° e 3° lugares
– 1 kit Koar
– 250 gramas do café usado

A IL Barista fornecerá o café torrado, a torre de água Bunn, a chaleira, o filtro de papel, as canecas e o método Koar. O café oficial será o Rio Brilhante, do produtor Inácio Carlos Urban, cultivado no Cerrado Mineiro. Para treinar, os competidores terão 150 gramas do café.

Aos interessados, é necessário realizar a inscrição através do e-mail eventos@ilbarista.com.br, no valor de R$ 60. O evento conta com apoio do Kaffe Torrefação e Treinamento, Atilla, Bunn e Koar. A Revista Espresso é mídia oficial.

Serviço
Copa Koar
Quando: 28/3, às 19h
Onde: Rua do Consórcio, 191 – Vila Nova Conceição – São Paulo (SP)
Mais informações: www.ilbarista.com.br

TEXTO Redação • FOTO Eudes Santana

Mercado

Morre empresário do café Américo Sato

Américo Sato, fundador do Café do Ponto e ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), faleceu na manhã do último domingo (03), aos 88 anos, após um infarto. O empresário, que lutou pela qualidade e aumento do consumo de café no Brasil, era uma das lideranças mais importantes do setor. Confira abaixo uma entrevista exclusiva dada por Américo à equipe da Revista Espresso, em março de 2007.

Quando Américo Sato assumiu a diretoria comercial da pequena torrefadora Café do Ponto, em 1957, o café vivia uma época de supersafras, armazéns lotados e concorrência baseada apenas nos preços, sem diferenciação. Apesar do cenário pouco favorável e da falta de experiência como industrial, Américo conhecia os mecanismos da lavoura e soube apostar na qualidade para construir um negócio de sucesso. Ao lado do irmão mais velho, deu início a uma das primeiras redes de cafeterias do Brasil, que chegou a ter 200 lojas licenciadas e a vender, na loja paulistana do Shopping Ibirapuera, quase 2 mil xícaras de café em um dia.

Mas o empresário foi além do sucesso pessoal. Ajudou a divulgar pelo País a importância da qualidade, transformando a visão de toda a cadeia cafeeira, de produtores a consumidores. “Existe um desafio muito grande para todos aqueles que trabalham com café. É uma bebida que exige atenção constante”. Nos anos 90, assumiu a presidência da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e foi um dos idealizadores do Selo de Pureza Abic, criado em 1989 para auto regulamentar o setor. A partir do programa, foi possível identificar marcas fraudadoras – que adicionavam ao café produtos como milho, palha e cevada –, na época, um total de 30%.

A ligação com o café começou cedo na vida de Américo – nome que adotou para facilitar os negócios, já que a pronúncia de Takamitsu, como foi registrado, dificultava o entendimento dos clientes. Vinda do Japão, a família Sato desembarcou no Brasil em 1926, em busca de “terras dadivosas, que dariam muito dinheiro”. Ao contrário disso, encontrou trabalho demais e salário de menos, em fazendas na cidade de Cafelândia, interior de São Paulo. De lá, seguiu para o norte do Paraná, que despontava no cultivo de café, mas acabou se fixando em Suzano, município paulista onde se dedicou ao plantio de hortaliças.

O ouro verde, porém, despertou o verdadeiro interesse de Américo. Durante os 41 anos em que esteve à frente do Café do Ponto, inovou com produtos diversos, como a embalagem tipo almofada e os cafés descafeinado e aromático. Em 1998, vendeu a empresa para a norte-americana Sara Lee e, depois de seis anos fora do mercado, voltou como sócio do Café Floresta. A marca santista lançou há pouco o Café Gourmet de Origem Controlada (das regiões de Mogiana, Sul de Minas e Cerrado Mineiro), inaugurando nova fase no ciclo da qualidade. Américo Sato recebeu a Espresso no seu escritório, em São Paulo, onde contou sobre sua trajetória pessoal e traçou um panorama do mercado nacional de café.

Como surgiu a ideia de montar uma rede de cafeterias com a marca Café do Ponto?
Meu irmão mais velho, Kiyoshi Sato, deu início a uma indústria de torrefação na cidade de Cafelândia, e quando decidiu transferi-la para São Paulo, me chamou para ajudar. Nós desenvolvemos a marca e vimos que era necessário fazer um café de melhor qualidade e vendê-lo em um lugar exclusivo. Na época [década de 70], os cafés eram consumidos basicamente em restaurantes e lanchonetes como um produto secundário, que perdia para os sanduíches e refrigerantes. Decidimos então montar uma cafeteria, um lugar especial para se beber café. No começo, as lojas serviam o espresso e também o tradicional, de coador. Mas o espresso pegou mais.

A primeira loja foi inaugurada dentro de um shopping center?
Nós implantamos a primeira cafeteria no Shopping Ibirapuera, em 1976, época em que estava começando a surgir shopping centers em São Paulo. Todos me chamaram de louco. Perguntavam como eu ia vender café dentro de um shopping, lugar onde só se vendia coisa cara, com valor agregado alto. Mas eu estava decidido a apostar nesse novo empreendimento e, no final, foi um sucesso. Essa loja do Shopping Ibirapuera chegou a vender quase 2 mil xícaras num único dia, enquanto uma boa cafeteria vende, em média, 500 xícaras. Hoje, os pontos de café são os mais disputados nos shoppings e nós ajudamos a criar esse conceito.

E a partir daí a rede se expandiu rapidamente…
O Café do Ponto teve tanto sucesso que chegou a ter cerca de 200 lojas licenciadas. Decidimos pelo licenciamento em vez do sistema de franquias, já que a empresa não teria condições de fornecer a infraestrutura necessária ao franqueado. Nós dávamos o layout da loja e deixávamos a pessoa fazer por conta própria. Passamos a ter procura até de outros estados, principalmente para lojas dentro de shoppings, pois as regiões seguiam o modelo dos empreendimentos de São Paulo.

Você também foi um dos primeiros a apostar na venda de cafés em supermercados.
No início, ninguém queria vender para o autosserviço, com medo de fazer negócio a prazo. O comércio só funcionava à vista, inclusive o de café. Mas eu sentia que os supermercados tinham futuro. Mesmo que fosse a prazo e no começo acontecessem alguns desfalques, eu sabia que precisava entrar nesse ramo para crescer. Comecei a vender para o Pão de Açúcar e para o Peg&Pag, duas das primeiras redes inauguradas na cidade de São Paulo.

Como funcionou o programa Selo de Pureza Abic?
Em 1988, a Abic [Associação Brasileira da Indústria de Café] realizou uma pesquisa sobre o consumo no Brasil, para descobrir por que estava caindo. O estudo revelou que 67% dos brasileiros acreditavam que o café puro era exportado e que o consumido internamente era sempre fraudado. Decidiu-se, então, criar o Selo de Pureza Abic, um programa de autofiscalização das indústrias, que controlasse a pureza dos grãos. A indústria que escolhesse participar era monitorada. Os cafés eram recolhidos nos pontos-de-venda e enviados para análise – aqueles que tinham o café puro recebiam o selo. No começo, houve certa resistência, a maioria dos associados achava que não ia funcionar e que teria que gastar muito dinheiro para o consumidor brasileiro saber da existência do selo. Mas um dos segredos do bom marketing é comunicar uma verdade que favoreça o próprio usuário, e foi isso que fizemos. Produzimos alguns comerciais com o Tarcísio Meira, astro da época, em que ele aconselhava o consumidor a exigir o selo da Abic. Foi uma das campanhas com maior índice de aprovação e contribuiu bastante para o sucesso do programa.

Que outros aspectos foram trabalhados para resgatar a confiança do consumidor?
Decidimos acabar com o mito de que café faz mal à saúde. Primeiro, investimos em pesquisas e divulgação no Brasil, depois levamos a ideia à OIC [Organização Internacional do Café] e passamos a fazer estudos em universidades de diversos países. Hoje, muitos médicos e consumidores em geral reconhecem os efeitos benéficos do café. Tivemos ainda dois outros aspectos. O primeiro foi lembrar que o café traz prazer, isto é, cria um ambiente favorável à união das pessoas e melhora a qualidade de vida. O outro consistiu em reaproximar o café do jovem, que se identificava mais com o achocolatado e o refrigerante, enquanto o café era tido como coisa de velho. Em países como Japão e Inglaterra, onde o chá é bebida tradicional, acontece o contrário: o café é a bebida dos jovens, enquanto o chá é relacionado aos mais velhos. Quando eu estava no Café do Ponto, lançamos os aromatizados exatamente para sair da mesmice e atrair o público jovem.

Em relação ao café gourmet, pode-se dizer que a pureza e a qualidade já foram alcançadas. Qual seria o próximo passo?
Eu acho que ainda há espaço para os cafés finos. Apesar do surgimento de muitas cafeterias e do “oba-oba” em cima dos gourmets, o consumo ainda é pequeno. É preciso estimular o consumidor a apreciar o sabor do café, caso contrário, parece tudo igual. E não basta os grãos serem de qualidade. Tem que saber preparar a bebida e ter o equipamento adequado.

O papel da indústria é ajudar na elucidação e educação do consumidor, oferecendo produtos adequados e informações fidedignas. Não se pode dizer que é gourmet quando não é. Deve-se informar sobre as diferenças de paladar, que variam de acordo com a região produtora, da forma como foi cultivado, da variedade, da terra etc. – comunicação que pode ser melhorada pela embalagem. Por último, e não menos importante, tornar o preço mais acessível.

Como foi retornar ao mercado e assumir o Café Floresta?
Depois da venda do Café do Ponto, fiquei parado durante seis anos por causa do contrato de não-concorrência. Nesse tempo, recebi vários convites para ser produtor de café em fazendas do Cerrado e Sul de Minas Gerais. Mas busquei uma empresa onde pudesse realizar as coisas que deixei de fazer no Café do Ponto e acabei acertando com o Café Floresta. Agora, estamos lançando cafés de três regiões: Mogiana, Sul de Minas e Cerrado Mineiro. Colocamos no rótulo informações sobre o lugar onde é produzido e as suas características. Isto é, estamos tentando levar o máximo de informação ao consumidor.

Como a chegada da Starbucks irá afetar o mercado brasileiro?
Eu acho que será muito positivo, pois as cafeterias serão obrigadas a se mexer. Foi o que aconteceu nos anos 80 com a entrada do McDonald’s. O nível de algumas lanchonetes subiu, o de outras caiu, mas graças a isso hoje temos sanduicherias de primeira linha. A Starbucks vai mudar o mercado de cafés, não tenho dúvida. A empresa tem um marketing muito apurado. Daqui a pouco, vocês verão na novela jovens tomando café em uma Starbucks, e todos vão querer experimentar. Mas acho que o sucesso não será tão grande como nos Estados Unidos, onde tem uma loja em cada esquina. O preço vai elitizar o consumo e limitar as vendas.

Cada vez mais produtores têm lançado sua marca própria de café. No seu ponto de vista, essa verticalização é benéfica?
A minha filosofia é “cada macaco no seu galho”. Eu acho que essa questão de produtor montar indústria de café só serve para pequenos nichos. Tem que pensar na bianualidade e em todos os fatores climáticos a que a lavoura está sujeita. A falta de constância é o grande problema. No meu caso, como industrial, posso comprar de várias regiões, não fico preso a uma única propriedade. Verifico se a qualidade está adequada ao nosso padrão e se não estiver compro do vizinho. Não sou contra a verticalização, mas acho que dá mais resultado especializando e investindo em qualidade e produtividade na fazenda.

Fazendo uma projeção, como estará o mercado de café no Brasil daqui a dez anos?
Acho que o consumo de café gourmet vai crescer e espero que o nível de qualidade continue melhorando. Mas o poder aquisitivo da população brasileira é um atravancador para esse crescimento e irá limitá-lo futuramente. Por essa razão, não vejo o consumo de cafés finos atingindo 20% dentro de dez anos. Sem dúvida que o Brasil está caminhando, mas é preciso diminuir essa diferença social. Afinal de contas, o café gourmet é um luxo barato, que faz as pessoas se sentirem bem e cria um momento especial – todos deveriam ter acesso a ele.

TEXTO Bianca Pinto Lima e Mariana Proença • FOTO Carol Fontes

Cafezal

Araponga canta alto

Cidade encravada na mineira Serra do Brigadeiro acumula prêmios de melhor café e tem a primeira produtora mulher do Coffee of the Year

A primeira vez em que ouvi uma referência à cidade de Araponga foi no prêmio da torrefação italiana illycaffè, realizado há mais de 25 anos aqui no Brasil. Ano a ano (desde 2006, quando comecei a acompanhar), a cidade, encravada em meio à Serra do Brigadeiro, emplaca cafés nas finais do concurso. O nome da ave que batiza o município é de pronúncia forte assim como o canto do animal, conhecido por ser bem alto e um dos mais potentes entre as espécies.

O canto forte parece também inspirar os moradores da região. Em uma cidade de pouco mais de 8 mil habitantes, a principal atividade é o café. Com grande potencial para o turismo, por causa do Parque Estadual que permeia o entorno, é ainda pouco visitada. Araponga está a 262 quilômetros de Belo Horizonte (MG), próximo a Viçosa, onde se encontra uma das principais instituições educacionais do País na área de agricultura, a Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Em um passado não muito distante, a região era conhecida como área de cafés ruins, a Zona da Mata. A mudança de posicionamento veio a partir de 2011, quando lideranças regionais passaram a realizar o trabalho de identificação dos grãos de qualidade plantados ali. Pequenos produtores espalhados em 63 municípios somam 36 mil cafeicultores, e a maioria – 80% deles – tem menos de 20 hectares de café. A necessidade de criar uma identidade nova resultou, depois de um trabalho conjunto de Sebrae Minas, Faemg, Emater, sindicatos, associações e cooperativas locais, além de profissionais autônomos, no Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas. A nova governança, capacitação e união dos produtores em busca da qualidade deram nova cara à região das Matas, como é carinhosamente chamada, e proporcionaram a mudança na avaliação dos cafés.

Esse é o caso da produtora Sandra Lelis da Silva, uma das responsáveis por nossa visita à cidade, pela conquista inédita. Campeã do Coffee of the Year 2017, a professora há mais de trinta anos e cafeicultora junto com a família no Sítio Caminho da Serra, foi a primeira mulher a receber o prêmio, criado em 2012. A realidade do produtor de café em uma região montanhosa é de muito trabalho. Preocupados com o preço do grão nos últimos anos, Paulo Miranda e o filho Paulo Henrique decidiram arrancar os pés de café e plantar eucalipto. Ficaram somente com três lavouras produtivas de café.

A professora e produtora Sandra mostra com orgulho os frutos quase maduros da nova safra.

Essa decisão não tão rara em propriedades brasileiras vem levando agricultores a trocar o café por culturas extrativistas. “A gente se arrependeu e voltou a plantar café. Na primeira colheita depois disso, no ano passado, ganhamos o prêmio”, lembra feliz Paulo Henrique. A descoberta do caminho da qualidade e a vitória da família de Sandra incentivaram outros produtores da região. Orgulhosa, ela mostra o talhão que deu a eles o primeiro lugar no concurso. Sombreado por cedros, os cafezais ficam em uma área mais afastada da fazenda, na microrregião de Serra das Cabeças.

É na própria cidade que eles processam o café cereja descascado (CD) – a maioria – e um pouco do natural (seco com a casca). Eles estão planejando construir no próprio sítio um local adequado para isso, o que demandaria menos deslocamento do café, que vai da lavoura até o centro de Araponga. O terreiro suspenso de dois andares é mexido de vinte em vinte minutos durante a colheita. “Para fazer café especial não pode ter preguiça. Não tem dia santo, nem sábado e domingo”, alerta Sandra enquanto manuseia o terreiro. O marido, Paulo, complementa: “Café especial é para quem gosta. E ele também gosta de mão, para mexer o tempo todo”. A dedicação deu resultado. O café campeão foi vendido para compradores internacionais e nacionais. “Logo depois da Semana Internacional do Café, um comprador francês veio direto aqui para o nosso sítio atrás do café. Ficamos mais conhecidos”, relembra Sandra, e depois, segunda ela, muitos outros se interessaram pelos lotes da propriedade.

Suspensos para todo o lado

O terreiro suspenso virou uma marca nas propriedades que investem em qualidade por ali. Por onde caminhamos a aposta é nessa forma de secar o café. “Os parâmetros estão mudando muito”, analisa o produtor Edinho Miranda, filho do cafeicultor cujo nome batiza a propriedade, Fazenda Edio Miranda, antigo Sítio da Matinha e Sítio Santo Antônio do Prado. A área de 40 hectares de café emociona a quem chega ao lugar. Aos 76 anos, seu Edio conta com orgulho a história de menino, quando andava 12 quilômetros a pé para chegar à escola. Levava duas horas. A esposa, Aparecida Milagres Miranda, pilota com maestria o carro da família e também ajuda na pós-colheita.

A “panha” na região é feita por derriça manual ou mecânica, pois não é possível utilizar colheitadeira por ali. Envolto por montanhas e sombreado por abacateiros, os pés de café nascem com um verde mais brilhante. Na época da colheita, em torno de quinze colaboradores auxiliam nos trabalhos. Um dos destaques dessa safra foi o “terreiro suspenso de roda”, criado por Edio depois que viu na televisão um semelhante para cacau. A filha, Andreia Milagres, explica que “se der certo, vão investir mais na próxima”. Os carrinhos entram e saem do galpão de acordo com o sol. “Além de investir para testar a bebida do café, ainda fica bonito, né?”, comemora seu Edio.

Edio Miranda e a família mostram cuidado na execução das tarefas do dia a dia, na busca incessante pela qualidade

A proximidade com a natureza e o conhecimento do clima local auxiliam muito os produtores na qualidade do café e na identidade artesanal. A fazenda foi premiada com o primeiro lugar em dois anos pela illycaffè, 2007 e 2013, e ficou entre os finalistas do Coffee of the Year, em 2014 e em 2015. “O café não pode secar rápido, senão não dá boa qualidade. Tempos atrás ficava doido para tirar logo o café do terreiro. Mas agora tem que ter esse cuidado.”

Seu Edio mostra com orgulho a casa dentro do lago, construída com muito esforço por anos, uma surpresa à época para a esposa, Cida. Ela conta que ele vinha todo dia à propriedade, mas ela não imaginava que estaria também fazendo uma casa para a família. Hoje a construção simples é um dos símbolos do lugar, e chama a atenção de quem chega. Além do capricho deles na decoração de todo o entorno, há a presença abundante de água, um recurso natural que não está em falta em toda a localidade.

Parede de prêmios

Quando se entra na casa térrea da fazenda de Raimundo Dimas Santana, a quantidade de certificados na parede chama atenção. São dezenas de prêmios entre as fotos de família e muitas lembranças de safras passadas. O terceiro de catorze irmãos, Raimundo está há quarenta anos na Fazenda Santo Antônio. Em lugar privilegiado da cidade – está hoje praticamente dentro do município -, a área fica entre formações rochosas e tem topografia que auxilia na produção do café, com até 1.300 metros de altitude. Assim como os demais produtores da região, o foco é o cereja descascado, que, até o ano passado, era seco somente em terreiro de cimento. “Começamos neste ano também com o terreiro suspenso” explica o filho, Raimundo Dimas Santana Filho, presente na fazenda e entusiasmado com os resultados que a nova forma de secar pode trazer. Os 200 mil pés de café da família mostram que, apesar de a colheita ter adiantado neste ano, há muito trabalho. Desde 2002 são fornecedores da illycaffè, o que já lhes rendeu os tantos prêmios expostos na parede. Entre eles os mais recentes da torrefação italiana, em 2018, como Campeão de Qualidade da região das Matas de Minas e finalista no 27º Concurso de Qualidade do Café, que levará os vencedores para a disputa mundial, em Nova York.

Os premiados Raimundo Dimas Santana e o filho, estrando neste ano a secagem em terreiro suspenso, estão entusiasmados com os resultados

“Não tem receita de bolo”

Muitos pontos chamam a atenção do visitante quando ele chega à Fazenda Serra do Boné. Com dezenas de visitas a propriedades pelo Brasil e no mundo na bagagem, tranquilamente posso afirmar que a propriedade da família Sanglard é exemplar raro no meio do café. Com mais de sessenta terreiros suspensos enfileirados um a um pelas áreas da fazenda, as variedades catuaí vermelho e amarelo, catucaí vermelho e amarelo, mundo novo e bourbon amarelo passam por diversos processos até chegar a alguma torrefação do nosso planeta. São mais de 3 mil metros quadrados de telas para sustentar 5.300 metros quadrados de terreiros em alvenaria, que são remexidos por até seis pessoas diariamente. Matheus Sanglard, jovem de 25 anos, é exemplo de sucessão familiar junto com seu irmão Nathan, 20 anos. Distante 13 quilômetros da cidade, a fazenda tem uma vista de tirar o fôlego, em meio a cachoeiras, montanhas e muito verde. Em 2003, a propriedade foi campeã do Cup of Excellence – concurso organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). O lote obteve pontuação de 95,35 na época da premiação.

Mais de sessenta terreiros suspensos são a marca da família Sanglard, cujo trabalho primoroso rendeu o segundo lugar no Coffee of the Year 2017

Carlos Sérgio Sanglard chegou ao local em 1988, ainda não tinha 30 anos e assumiu o cultivo de 8 mil pés de café. Hoje está com 480 mil pés espalhados em 125 hectares. Ele explica que o ano em que ganhou o Cup of Excellence foi o primeiro em que “descascou o café”, e um ano antes, em 2002, havia feito o primeiro terreiro suspenso de madeira. Autodidata e muito focado na realização de novos testes com os cafés, Carlos detalha que quer chegar a 600 mil pés em cinco anos. Nascido em Manhumirim, cidade também produtora de café, fala que veio fazer um trabalho em Araponga quando conheceu a esposa, Sônia. Rindo eles contam que Carlos não tinha projetos de morar ali, mas que voltou pela namorada e então futura mãe dos filhos. Orgulhoso, ele diz que ambos os meninos seguiram a carreira da agronomia. Em 2017, o café da família de Carlos ficou em segundo lugar no Coffee of the Year, com a variedade catucaí vermelho.

“Entre 2004 e 2011, fiz o cultivo orgânico aqui.” Hoje o grande destaque da propriedade é o café fermentado naturalmente. Matheus explica que, após colhido, o café fica por dois a três dias no saco na lavoura; depois ele é descascado em máquinas e volta para o saco, onde fica por dezoito horas. Então é levado para o terreiro suspenso. Lá fica por dois dias e, depois de seco, eles fecham o terreiro e os grãos ficam quinze dias em descanso. Aos poucos eles retiram alguns lotes para provar o café e acompanhar os resultados. Apesar de Matheus dizer que não tem receita de bolo para o café e que “café especial dá muito trabalho para separar os lotes”, a organização impecável da propriedade mostra que eles encontraram o caminho certo.

Do alto da Serra do Brigadeiro

Simone Dias Sampaio Silva, nossa cicerone em Araponga, junto com o marido, João da Silva Neto, é produtora de café no Sítio Jardim das Oliveiras. Eles moram na cidade desde 2011. Ela, onze irmãos, filha de cafeicultor, sempre viu sua família viver do rendimento do café.

O casal estudou na UFV, onde se conheceu. Ela se formou em Nutrição, e João, em Engenharia de Alimentos. Cansados da vida na cidade grande, depois de morarem em muitos lugares pelo Brasil e pelo mundo trabalhando em grandes empresas, decidiram investir no sítio.

A produtora Simone Sampaio é liderança na região e exemplo de produção sem o uso de agroquímicos, juntamente com o marido, João

“Era um sonho dele, eu tinha medo de voltar”, lembra Simone. Mas hoje ela é uma das mais atuantes e motivadas dentro da região. Sem o uso de agroquímicos, apenas adubo, Simone explica que tem “baixa produtividade, mas alta qualidade”.

Para isso separa todos os lotes e, desde 2017, começou a investir em terreiro suspenso. João também tem se aprofundado no estudo da torra do café, e eles instalaram um torrador na propriedade. Muito interessado em todos os subprodutos que o café pode gerar, informa estar estudando tirar etanol da casca do café após despolpá-lo, baseado em pesquisas do professor Juarez de Souza e Silva, da UFV.

No Jardim das Oliveiras, a especialidade é microlote: “São mais de cem”, garante Simone. Tanta dedicação rendeu dezenas de prêmios nos 43 hectares. Em 2011, ano em que se mudaram para Araponga, levaram o terceiro lugar no prêmio concorridíssimo da Emater-MG: “Ficamos apaixonados por concursos”, brinca Simone. Tamanha vontade de participar já lhes rendeu o quinto lugar por duas vezes no Coffee of the Year, em 2015 e em 2017.

Além do sítio, o casal inaugurou a Pousada Dias Felizes, em uma casa histórica de 140 anos, onde recebe visitantes do café e também turistas em geral. O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, por exemplo, que engloba onze municípios da região, atrai pessoas para fazer trilhas.

A tarde cai e já estamos indo embora. O café, suspenso no alto das montanhas ao cair do sol, cria um lindo cinturão verde emoldurando as rochas e fazendo-nos lembrar como é bonito e importante ser às vezes só um pequeno ponto no meio daquela imensidão.

O canto da Araponga – que faz referência ao som do martelo ao bater incessantemente – nos mostra que é preciso persistência para seguir no cultivo do café, mas que muitas vezes é possível ouvir bem alto e longe o fruto de tanto trabalho naquela região.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos setembro, outubro e novembro de 2018 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Vitor Barão

Café & Preparos

Preparo de coado é tema de curso em São Paulo

Quer melhorar suas técnicas na hora de preparar um café coado? No dia 16 de março, das 10h às 13h, a torradora Natália Braga irá conduzir a oficina “Coando café em casa”, no Futuro Refeitório, em São Paulo (SP).

Na ocasião serão apresentados os grãos da casa e dois métodos de preparo: o Melitta e a Hario v60. A aula começará com um cupping às cegas de quatro lotes da safra 2018/2019 (selecionados, torrados e servidos/vendidos na cafeteria). Após isso, cada participante irá escolher um dos cafés para preparar em um dos dois equipamentos.

A oficina abordará assuntos como diferenças técnicas entre os filtros, importância dos tipos de moagem e processo de extração. Também funcionará como um encontro para provar cafés distintos e tirar eventuais dúvidas.

Se interessou? O curso tem o valor de R$ 200 e as inscrições podem ser feitas no site da casa. Mas corra, são apenas 8 vagas!

Serviço
Coando café em casa
Quando: 16/3, das 10h às 13h
Onde: Rua Cônego Eugenio Leite, 808 – Pinheiros – São Paulo (SP)
Mais informações: www.futurorefeitorio.com.br

TEXTO Redação • FOTO Lucas Albin/Agência Ophelia

Receitas

Qanela qrumble

Ingredientes
– 1 cápsula Delta Q Qanela (preparado em modo longo)
– Biscoito de canela ou maisena triturados
– 1 maçã média
– Açúcar mascavo a gosto
– Chantilly

Preparo
Corte a maçã em cubos, coloque em um refratário, cubra com açúcar mascavo e leve ao forno a 180 graus, por 5 minutos para ficar dourada. Quebre o biscoito de canela ou maizena em pedaços e coloque no copo formando uma base. Acrescente a maçã caramelizada por cima e despeje o espresso longo Delta Q Qanela. Finalize com chantilly e pedaços de bolacha.

Rende 1 porção

TEXTO Delta Q • FOTO Delta Q

Cafezal

De pai para filho, de filho para pai

A família que produziu o café vencedor do Cup of Excellence 2017 une a experiência de Osmar Nunes Júnior, cafeicultor há trinta anos, ao conhecimento acadêmico do filho, Gabriel Nunes

“Eu tomei as duas melhores decisões da minha vida no mesmo dia, 24 de novembro de 1984: resolvi plantar café e pedi a Celinha em namoro”, lembra o técnico agrícola Osmar Nunes Júnior, de 52 anos. Mal esperava ele, entre tantas outras alegrias, que as decisões resultariam no primeiro lugar do Cup of Excellence 2017 para a sua propriedade, a Fazenda Bom Jardim.

A família Nunes é original de Patrocínio (MG), o maior município brasileiro produtor de café. No entanto, há quatro décadas, o cenário da região era bem diferente. Osmar Nunes, o patriarca, era a terceira geração da família a se dedicar à pecuária, ramo com o qual o filho, Osmar Júnior, trabalhou até a chegada dos imigrantes a Minas Gerais. Os novos habitantes, vindos do sul do País, instalaram-se no Cerrado Mineiro e começaram a plantar café.

Encantado com a cultura, Juninho, como é chamado pelos antigos da cidade, desafiou os planos do pai, Osmar, e começou a plantar os primeiros pés, em 1984. Ele tinha uma fazenda de apenas 10 hectares, com produção de arábica. O solo fértil do Cerrado e o clima ameno da região mineira – com as estações de chuva e de seca bem demarcadas e coincidentes com as necessidades do ciclo do café – contribuíram para o bom desenvolvimento das plantações na região.

Juninho deixou de ser apenas filho e se tornou pai em 1989, ano em que nasceu Gabriel. Celinha sonhava com um filho médico, enquanto o marido vislumbrava para o garoto simplesmente um futuro fora da fazenda. Gabriel teve uma infância muito especial na propriedade da família, entre trilhas a cavalo, banhos de cachoeira, pescaria, guerras de lama e outras tantas brincadeiras. Contava os dias para as férias, quando podia acampar com os amigos na fazenda.

Tal avô, tal pai, tal filho

A relação de Gabriel e Juninho é, desde o início, harmoniosa. “Nós dois sempre fomos muito amigos. Meu pai era muito presente, acho que em uma tentativa de repetir comigo a relação bacana que ele teve com o meu avô. Quando passei a trabalhar com café, nós nos aproximamos ainda mais”, conta Gabriel Nunes, engenheiro agrônomo de 28 anos.

O início, no entanto, não se deu sem dificuldade. Quando Gabriel decidiu cursar Agronomia, Juninho se opôs: queria que o filho fizesse outra coisa, saísse da fazenda. “Naquela época, a agropecuária estava tão ruim que eu não queria que ele cursasse Agronomia. Mas ele fez, e hoje eu tenho o maior orgulho”, emociona-se o pai. O rapaz passou no vestibular da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e cruzou Minas Gerais em busca de formação.

Apaixonado tanto pelo café quanto pelos bichos, Gabriel passou metade do curso em dúvida sobre estudar pecuária ou agricultura. “Como meu pai mexia com café, eu fazia disciplinas relacionadas ao assunto sempre que podia. Fui me entrosando com isso desde o início, mesmo em dúvida”, lembra o jovem. A paixão pelo solo falou mais alto e ele não tardou a intensificar as buscas pela formação específica.

“Ele dava pitaco na plantação desde a faculdade. Em todas as férias que tirava, fazia um estágio em uma fazenda diferente. Ele via os nossos erros e trazia novidades”, lembra Juninho. Sempre muito adepto a novas técnicas e tecnologias, o pai deu ao filho a possibilidade de inovar na propriedade. “É o maior prazer ver um filho tocar o negócio da família, querer aprimorar a produção”, orgulha-se Juninho.

A Revolução de 2013

Gabriel levou algumas novidades para o cafezal dos Nunes durante a graduação, mas foi quando ele se formou, em 2013, que a Fazenda Bom Jardim passou por uma verdadeira revolução em sua produção. “Quando o Gabriel voltou formado, ele quis investir em cafés especiais. Dei todo o apoio e desde 2014 a gente vem ganhando prêmios. Ele trouxe novos métodos, aumentou a qualidade do produto. Renovamos a lavoura, trocamos plantas e materiais”, descreve Juninho.

Mesmo com o rápido progresso, o primeiro lugar no Cup of Excellence foi uma surpresa. O concurso, que conta com juízes de todos os cantos do mundo e é o mais concorrido entre os cafeicultores brasileiros, premiou um bourbon amarelo, de primeira safra, que pai e filho cultivaram a 930 metros de altitude. Os Nunes não só atingiram esse bom resultado, como bateram o recorde mundial no leilão do evento: venderam cada saca de 60 quilos a R$ 55 mil.

Para Gabriel, o que fez o café vencedor foi a prova dos cafés antes da colheita oficial — fase da qual ele mesmo se encarrega, na companhia de um Q-grader. “Eu testo cada talhão para ver o potencial de cada café. Vario modos de secagem e de fermentação e vou provando um a um, pouco antes de colher. Assim, cada café vai ser colhido e vai passar pelo processo que destaca melhor suas características. É desse jeito que eu consigo um grão de alta qualidade”, ensina o engenheiro agrônomo, cujo café campeão atingiu 92 pontos.

“Vencer o concurso foi muito gratificante. A gente não esperava ficar em primeiro, quanto mais ganhar um prêmio histórico. Foi o primeiro café do Cerrado a alcançar essa marca, e o concurso já acontece há dezoito anos. Muita gente achava que a região não tinha potencial para ganhar esse prêmio, dizia que aqui é só quantidade, não qualidade”, comenta Gabriel.

A má impressão que se tem do Cerrado Mineiro é equivocada. É a única região cafeeira do País que possui Denominação de Origem, ou seja, é um território de onde sai um produto com características específicas, que não são encontradas em qualquer outro lugar. Exemplos famosos de produtos assim no mundo são o queijo Roquefort e o Champanhe.

A história da conquista da Denominação de Origem tem ligação direta com o relacionamento harmonioso, de parceria, que os produtores do Cerrado mantêm. “Temos muito orgulho da região porque demos um passo à frente em relação às outras, consideradas as pioneiras do País. O Cerrado sempre teve essa visão empresarial, e eu não tenho segredo com meus colegas. Fazemos cursos juntos, trocamos cafés, estamos prontos para crescer ainda mais”, garante Gabriel.

Construção futura

Em oposição a muitas fazendas dedicadas ao plantio de café, a propriedade da Fazenda Bom Jardim não conta com uma estrutura muito intrincada. Além das máquinas e do complexo de secagem e de fermentação, as construções do local são, por enquanto, um depósito de máquinas e uma área de criação de porcos, de onde provém parte do adubo usado na produção.

Os Nunes preferiram investir na qualidade do café antes de trabalhar a estrutura física da fazenda. O resultado é evidenciado com o recorde mundial atingido em apenas cinco anos de melhorias. Com o dinheiro que conseguiu com a venda das seis sacas do café campeão, a dupla vai investir em uma estrutura física moderna, com espaço para receber clientes, fazer provas com Q-graders e até mesmo para uma cafeteria com barista.

Para Gabriel, o próximo passo é se formar Q-grader. Ele se arrisca a fazer provas, mas quer procurar formação específica. Pai e filho se dedicam muito aos estudos sobre lavoura, produção, café. Conseguiram elaborar um sistema de escalonamento de safra, reduzindo a mudança que a bienalidade do café acarreta. “Geralmente não temos muita alteração nos números, conseguimos fazer com que a produção da safra alta tenha, no máximo, uma diferença de 40% em relação à do ano anterior”, explica Juninho.

Os pés de café que deram os grãos campeões se aproximam dos 3 metros de altura e estão carregados de frutos e promessas. Os Nunes plantam não apenas o bourbon amarelo; eles também trabalham com cultivares como  arara e catuaí. A dupla tem se arriscado inclusive a plantar geisha, que deve ter sua segunda colheita em 2020. Eles ainda não sabem quais cafés levarão para o Cup of Excellence 2018, mas não deixam dúvida quanto à sua participação na próxima edição.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses março, abril e maio de 2018 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Clara Campoli • FOTO Murilo Gharrber
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