Mercado

Luckin Coffee abre primeira loja nos EUA e desafia Starbucks em Nova York

A Luckin Coffee, maior rede de cafeterias da China, está prestes a inaugurar sua primeira loja nos Estados Unidos, localizada no East Village, em Nova York. A unidade ocupará o número 755 da Broadway, esquina com a East 8th Street, conforme relatado pelo blog local EV Grieve e confirmado pela Nation’s Restaurant News. Embora a data exata de abertura ainda não tenha sido anunciada, a fachada já exibe o letreiro “Opening Soon Luck In New York”, acompanhado do icônico logotipo do cervo azul da marca. 

A expansão para o mercado norte-americano marca um novo capítulo na trajetória da empresa, que superou a Starbucks em número de lojas e receita na China em 2023.  Conforme adiantado pelo Financial Times em outubro de 2024, a Luckin Coffee planejava entrar nos EUA com uma estratégia focada em preços acessíveis, oferecendo bebidas entre US$ 2 e US$ 3, visando competir diretamente com gigantes como a Starbucks. 

Além da loja na Broadway, há indícios de uma segunda unidade em Nova York, na 800 6th Avenue com a 27th Street, embora a empresa ainda não tenha confirmado oficialmente essa informação.

A Luckin Coffee é conhecida por seu modelo de operação sem caixas, priorizando pedidos via aplicativo para retirada e entrega, além de oferecer um ambiente para consumo no local. Seu cardápio inclui bebidas inovadoras, como lattes com leite espesso de Hokkaido e americanos com sabores frutados, características que a empresa pretende introduzir no mercado americano. 

Após enfrentar um escândalo financeiro em 2020, que resultou na saída de seus principais executivos e em uma multa de US$ 180 milhões, a Luckin Coffee reestruturou sua gestão e retomou seu crescimento. A entrada no mercado dos EUA é um passo significativo em sua estratégia de expansão global, com foco em cidades que possuem grande concentração de estudantes e turistas chineses.

TEXTO Redação / Fontes: Eater NY, Nation's Restaurant News e Financial Times

Café & Preparos

O que são as coffee parties, tendência em cafeterias pelo mundo

“The Coffee Party” realizada em Toronto, no Canadá

Nos últimos meses, ainda que de forma tímida, a cena do café especial brasileiro vem absorvendo uma nova tendência: as coffee parties. Já famosas na Europa, Estados Unidos e Canadá, a festa agita as cafeterias durante as manhãs, quando os visitantes podem curtir uma boa música ao vivo, beber um belo espresso e fazer novas conexões.

Em São Paulo, um dos primeiros lugares a oferecer estas festas vespertinas foi a cafeteria HM Food, que, em fevereiro, fez a AM Sessions em parceria com as marcas Mizzuno, Lágrima Bar e Gop Tun. Em entrevista à Espresso, o proprietário Hesli Carvalho diz que os frequentadores, em sua maioria, são iniciantes no universo dos cafés especiais. “São pessoas que querem se encontrar com amigos para ouvir música, beber um café ou outras bebidas sem álcool’’, aponta.

As coffee parties representam uma mudança na mentalidade jovem: a busca por experiências mais leves e mais saudáveis. A especialização em cafés dos espaços das festas proporcionam interações sociais sem o artifício da bebida alcoólica, o que, na opinião de Carvalho, é mais real e significativo. ‘’Acho que o maior motivo aqui é, com certeza, o social, mas o social do mundo real, não aquele amigo da tela do celular’’, comenta o empresário.

Em Florianópolis (SC), o Café Cultura entrou na onda e também realizou, em 3 de maio, sua coffee party. Chamada de Coffee Club, a ação aconteceu das 10h às 14h. “Acreditamos que o café é, acima de tudo, um ponto de encontro, um conector de pessoas, histórias e experiências”, conta a CEO, Luciana Melo. 

Edição da “Coffee Club”, realizada pelo Café Cultura em Florianópolis (SC) – Foto: Divulgação Café Cultura

Para ela, a proposta das coffee parties está totalmente alinhada a esse espírito: “Ao transformar a cafeteria em um espaço de celebração, criamos uma atmosfera ainda mais acolhedora, que fortalece o senso de comunidade e aproxima a marca do público de forma leve e espontânea”, explica.

Na Bahia, Salvador recebe sua primeira coffee party em 17 de maio. Idealizada pela Xodó Cafés Especiais e pela Rede Amo, a SSA Coffee Session – Vol. 1: Tropical Vibes acontece das 9h às 14h na Casa Castanho. “Sou uma grande frequentadora de cafeterias e, quando eu vi esse movimento, fiquei encantada com a ideia de viver esses espaços de uma outra forma, de uma maneira mais divertida, despretensiosa e super alto astral”, comenta Brenda Matos, curadora da Xodó.

Como surgiram as coffee parties?

A origem bebe na fonte de movimentos mais amplos, como o daybreaker, nascido em 2013, em Nova York, que promove festas diurnas com dança, DJs, meditação e, por quê não, café em lugar do álcool. A ideia tomou corpo e logo se espalhou para grandes metrópoles como Londres, Berlim, Amsterdã, Tóquio e Melbourne.

“The Coffee Party” realizada em Toronto, no Canadá

“Vivemos uma época em que muitas pessoas, especialmente os mais jovens, estão bebendo menos álcool e buscando experiências mais significativas, com propósito. E o café, com sua energia e cultura, tem tudo a ver com isso”, comenta Luciana.

Se o daybreaker é direcionado ao mundo fitness e wellness, a coffee party – uma evolução deste movimento – concentra-se no nicho dos cafés especiais. É,  frequentemente, organizada em cafeterias da terceira onda, que usam esses eventos para atrair um novo público e ampliar a experiência em torno do grão. Para Brenda, o foco da ação é atingir além dos coffee lovers, “aquele público que já cansou das festas noturnas, que não quer mais chegar em casa de ressaca, tarde da noite”.

Como é uma festa de café? 

Feita majoritariamente em cafeterias, esse tipo de encontro também pode incluir espaços culturais ou até galerias de arte. Mas a estrela da festa é o café, portanto, é necessário que haja um serviço de cafeteria, com bebidas sendo preparadas o tempo todo. O cardápio de uma coffee party pode incluir drinques feitos a partir do grão, degustações e extração em métodos de preparo diferentes. Para comer, um menu com cara de brunch, com pães artesanais e pequenos doces. 

O encontro conta com DJs ao vivo, que trazem playlists de músicas eletrônicas leves, jazz lo-fi e, até mesmo, um indie mais agitado. As cafeterias já compartilham até o hábito de, no dia a dia, colocar uma playlist equilibrada, para tornar a experiência do cliente ainda mais prazerosa. 

Para quem passa por perto, a coffee party instiga a dar aquela olhadinha no que acontece lá dentro. ‘’Para a cafeteria é bom, pois proporciona um fluxo maior e, também, atingimos um público que não era da bolha de café’’, afirma Carvalho. 

Luciana concorda que criar eventos como as coffee parties ajuda a movimentar a casa em horários diferentes do habitual e faz com que a loja seja aproveitada ao máximo. “Mais do que pensar só no lucro imediato, vemos essas festas como uma forma deliciosa de nos conectarmos com as pessoas, criar memórias e reforçar o sentimento de comunidade que sempre fez parte do Café Cultura”, expõe.

Para Brenda, estes eventos agitam o espaço e promovem os parceiros. “Ele criam, também, uma comunidade e uma rede de pessoas engajadas com o bem-estar e esse estilo de vida mais slow, que é uma das coisas mais preciosas que nós podemos ver nos últimos tempos”, diz.

Afinal, sair para dançar ou se conectar não precisa, necessariamente, acontecer à noite — e o café se torna o combustível perfeito para essa nova maneira de celebrar. “No fim das contas, esse vínculo verdadeiro com o público é o que gera valor de verdade e faz com que a marca se destaque, com leveza, afeto e um bom café, é claro”, menciona a CEO do Café Cultura.

TEXTO Gabriela Kaneto e Letícia Souza • FOTO Divulgação

Cafezal

Três regiões mineiras se destacam no 34º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café

A illycaffè realizou a cerimônia de premiação do 34º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso na noite de ontem (09), em São Paulo (SP). Minas Gerais foi o destaque da edição, com os três vencedores vindos das regiões Matas de Minas, Chapada de Minas e Sul de Minas.

Dimas Mendes Bastos (Matas de Minas), Fazenda Sequóia (Chapada de Minas) e Leda Terezinha Castellani Pereira Lima (Sul de Minas) vão representar o Brasil no 10º Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy, que será realizado em Roma, no segundo semestre, e que reúne 27 cafeicultores selecionados de 9 países que fornecem grãos para a illycaffè.

Durante a premiação, também foram revelados os produtores vencedores regionais (Cerrado Mineiro, Chapada de Minas, Matas de Minas, Sul de Minas, São Paulo e Região Sul) e os ganhadores do Prêmio Classificador do Ano. 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

“A safra de 2026 vai ser muito mais poderosa”, aposta Andrea Illy

Em visita ao Brasil, o presidente da torrefadora italiana illycaffè afirma que a alta no preço do café é fruto de especulação, que a perda na produção de café este ano não será grande e projeta uma safra mais forte em 2026

Andrea Illy

Por Cristiana Couto

No Brasil para a cerimônia de premiação do 34º prêmio Ernesto Illy na noite desta quinta (8), o presidente da torrefadora italiana illycaffè participou, pela manhã, de entrevista coletiva para jornalistas do setor. 

Fervoroso defensor de práticas sustentáveis na cafeicultura e presença constante em projetos de grande impacto para o setor – como na parceria público-privada anunciada em 2024, na reunião do G7 na Itália, focada na cadeia de valor do café, e no Agorai Innovation Hub, centro de inovação em Trieste focado em soluções com inteligência artificial para áreas como agricultura, saúde e finanças –, Andrea illy se diz um otimista em relação aos desafios atuais. Para ele, a safra brasileira tem condições de bater um novo recorde e as altas de preço do arábica na bolsa de Nova York é fruto de especulação. 

Na conversa com jornalistas, o presidente da illycaffè fala sobre a importância e os resultados dos investimentos em agricultura regenerativa, que busca incentivar e implementar desde 2018 como estratégia para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, das necessidades e oportunidades do Brasil como maior produtor do grão e da volatilidade dos preços do café. A seguir, os principais trechos da coletiva.

A “bola” especulativa

É difícil calcular a queda da produção de café, mas ela não é grande. Não a ponto de justificar o nível de preços que atingimos. Esse preço de 4 dólares por libra não é indicativo do desequilíbrio entre demanda e oferta, mas uma “bola” especulativa gigante, favorecida pelas secas no Vietnã e no Brasil. Devemos filtrar um pouco o que nós podemos ler dos mercados.

2026 será poderoso

Pode ser que o pico [de preços] tenha passado. Esperamos que sim. Historicamente, se olharmos gráficos, depois de 12, 14 meses de um pico máximo, o preço cai cerca de 50%. E 2026 vai ser um ano muito mais poderoso. Há condições climáticas muito favoráveis para a produção máxima possível. Devemos considerar ainda que a produção de mudas aumentou 50%. A safra [2026] tende a ser um recorde. Mas isso não é uma previsão, eu não tenho uma esfera de cristal. É um modo de pensar.

Cop30

Em novembro, o Brasil sediará a COP-30, e a illy pretende apresentar um projeto sobre o uso da inteligência artificial na cafeicultura. A complexidade de aspectos econômicos, ambientais e sociais não pode ser analisada sem uma ferramenta como a inteligência artificial. Esse metassistema sócio-econômico-ambiental vai relacionar, prever e simular impactos da agricultura, produtividade, preços, políticas e ações, e chegar a um modelo sistêmico.

O poder da colaboração

Felizmente, percebemos uma conscientização crescente no setor cafeeiro global. Produtores estão adotando novas práticas, consumidores se mostram mais atentos e exigentes, formuladores de políticas públicas começam a escutar. Acima de tudo, acredito no poder da colaboração e cooperação.

Brasil

O Brasil pode se tornar um laboratório para desenvolver esse tipo de colaboração e ter práticas aplicadas também em outros países no futuro.

Agricultura regenerativa 1

A agricultura regenerativa representa um novo paradigma. Ela permite produzir mais e melhor, com menor custo, menos uso de água, menos emissões de carbono e menos necessidade de defensivos agrícolas. Ao mesmo tempo, promove a preservação e a regeneração do solo, oferecendo um café com mais qualidade e menor custo. Desde então, temos dialogado com os produtores sobre a urgência de adotar esse modelo. O que vimos foi uma resposta rápida e comprometida. Hoje, 70% dos produtores que vendem café para nós adotam práticas regenerativas.

Agricultura regenerativa 2

A agricultura regenerativa está se tornando agora mainstream, e sou um otimista. As três estratégias para criarmos uma agricultura clima-resiliente, são, em sequência, melhorar as práticas agronômicas, renovar lavouras com plantas jovens e de variedades mais resilientes para as temperaturas altas e doenças e desenvolver novas áreas de produção.

É preciso um plano nacional de irrigação

O problema meteorológico principal é a distribuição da chuva, que se torna mais e mais irregular, errática. A única maneira de se adaptar a esse problema é a irrigação. E, no Brasil, somente 10% das áreas cultivadas com café são irrigadas. É urgente falar sobre um planejamento nacional para o desenvolvimento da irrigação do café no Brasil. Não está claro se é possível extrair água de aquíferos – que há em abundância em algumas áreas – e quanto se pode extrair.  Outras áreas não têm aquíferos, e dependem de chuvas e da capacidade de se criar reservas. É preciso que haja regulamentação.

Fit to fight

A Illycaffè fechou 2024 com números recordes, mesmo com o aumento do ano passado do custo de café. Assim, somos preparados para enfrentar desafios, para enfrentar esta crise. E estamos dando um jeito de calibrar o aumento dos preços, de maneira a evitar um pico, que pode causar um choque de elasticidade de consumo. Ao mesmo tempo, estamos investindo muito, dobrando a capacidade produtiva, lançando novos produtos.

Lançamentos sustentáveis

Estamos lançando uma nova cápsula feita com 85% de alumínio reciclável. E a nossa nova Illetta tem um consumo 10% menor do que uma máquina comercial.

China competitiva

A China está mudando muito. Nós estamos lá há quase 20 anos, conhecemos o mercado. Mas a China está mudando muito, particularmente depois da covid. Essa mudança é contínua e bastante rápida. Para os jovens, o café não é uma bebida funcional, é uma experiência. Mas, se a China se tornou um grande consumidor de café, ela tem um consumo per capita muito baixo. Mas está iniciando uma produção local que é muito competitiva. Vamos continuar lá, mas o problema é a geopolítica. 

Geopolítica é o problema

Não temos mais a ordem mundial precedente, mas ainda não temos uma nova ordem mundial. Assim, é difícil [traçar] uma estratégia global. Nós temos ideias claras sobre o desenvolvimento na Europa, nos EUA e na China, mas é preciso ver os próximos anos. A curto prazo, esperamos que a situação se estabilize e comecem a ser recriadas condições de comércio internacional.

Estratégia de crescimento

Eu diria que a palavra mais precisa para descrever a nossa estratégia é a coerência. Continuamos na busca da qualidade, no percurso de conhecimento de toda a cadeia, de uma maneira que haja um consumo maior de café de alta qualidade. Isso implica um modelo de crescimento orgânico baseado na busca de qualidade, em desenvolvimento da marca e em envolver sempre mais consumidores. Essa é a estratégia, mesmo nessas novas condições complexas do mercado.

Empresa regenerativa

A agricultura regenerativa é somente a base de um modelo de toda a empresa. Uma empresa regenerativa produz bem-estar, prosperidade e conservação ambiental. Os lucros são um meio para melhorar o impacto, não são uma finalidade. As áreas prioritárias para esse modelo são ter baixo consumo de recursos naturais e minimizar qualquer forma de produção química ou de emissão de carbono. Isso é o grande capítulo da economia circular.

O futuro do café

Vai ter café até, pelo menos, 2040, 2050. Eu acho que vai ter café sempre, porque tem muitas maneiras de se adaptar às mudanças. Quanto mais estudamos, mais encontramos maneiras de nos adaptarmos. 

Os estoques do grão

Estoques são um fenômeno contingente que causa o equilíbrio entre a produção e a demanda e que podem mudar no próximo ano. E, historicamente, não há visibilidade sobre os estoques, pois eles não são quantificados e não se sabe onde estão alocados. Assim, é difícil de interpretar. Mas são fatores contingentes, que podem mudar no próximo ano. 

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

Mercado

CVA é o novo protocolo de avaliação dos cafés especiais no Brasil

Carmem Lucia Chaves de Brito, presidente da BSCA, e Yannis Apostolopoulos, CEO da SCA, assinam Memorando de Entendimento (MoU)

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e a Specialty Coffee Association (SCA) anunciaram hoje (8) a assinatura do Memorando de Entendimento (MoU, em inglês) para a adoção do sistema Coffee Value Assessment (CVA) como protocolo oficial de avaliação dos cafés especiais do país. O acordo é semelhante ao assinado pela Federação Nacional de Cafeicultores (FNC) da Colômbia na semana passada.

O Brasil é o segundo país a integrar o CVA em sua estrutura nacional de avaliação. A metodologia foi desenvolvida pela SCA para avaliar não apenas o sabor, mas também atributos físicos, afetivos, descritivos e extrínsecos, oferecendo linguagem compartilhada para ajudar produtores e compradores a se conectarem em torno do valor total do café.

Como parte do acordo, a SCA fornecerá suporte técnico para garantir a implementação bem-sucedida do CVA em todo o país, incluindo o treinamento de degustadores e equipes técnicas da BSCA, assistência na coleta e análise de dados e suporte a eventos liderados pela BSCA, com conteúdo e promoção internacional. 

Além da adoção da metodologia, o acordo também foca na educação e no desenvolvimento profissional da comunidade dos cafés especiais. Para isso, a BSCA prevê a expansão do programa “SCA Education” no Brasil, que oferece treinamentos e certificações reconhecidas internacionalmente.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Cafezal

Café regenerativo pode aumentar a renda dos agricultores em 62%, aponta pesquisa

Estudo internacional aponta que práticas regenerativas podem elevar a renda dos cafeicultores brasileiros, reduzir emissões e impulsionar exportações

O Brasil participou de um estudo global, conduzido pela organização internacional TechnoServe, que destaca os benefícios da agricultura regenerativa na produção de café arábica e robusta. O relatório, intitulado “Regenerative Coffee Investment Case” e publicado em abril, analisa nove dos principais países produtores de café e revela como práticas agrícolas sustentáveis podem transformar a cadeia produtiva do setor. 

Além do Brasil, o relatório fornece uma análise detalhada do Vietnã, da Colômbia, de Honduras, Indonésia, Uganda, Etiópia, Peru e Quênia, abrangendo fazendas que produzem cerca de 70% do café mundial.

A iniciativa contou com o apoio de parceiros, como as multinacionais Nestlé e JDE Peet’s, além da Fundação Rudy & Alice Ramsey. Essas colaborações foram fundamentais para viabilizar a pesquisa e promover a adoção de práticas regenerativas em larga escala. 

O estudo aponta que, no Brasil, a implementação de práticas agrícolas regenerativas pode resultar em um aumento de até 62% na renda dos pequenos produtores de café, melhorando significativamente sua qualidade de vida e estabilidade financeira. Também registra uma redução de até 46% nas emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas e, ainda, um incremento de 30% nas exportações de café, impulsionado pela melhora na qualidade e sustentabilidade do produto.

Além disso, o relatório destaca que a transição para práticas regenerativas no Brasil exigiria um investimento médio de US$ 560 milhões por ano durante sete anos, destinado a assistência técnica e financiamento para apoiar os pequenos produtores.

O estudo da TechnoServe no Brasil avaliou o impacto da agricultura regenerativa a partir da modelagem de diferentes perfis de pequenos produtores, com base em produtividade, área cultivada e acesso técnico. Utilizou simulações técnico-econômicas para estimar os efeitos da transição sobre produtividade, custos, renda e emissões, com apoio de dados primários, entrevistas com especialistas, fontes públicas e referências de boas práticas agrícolas.

Impacto global da agricultura regenerativa

Em termos globais, o estudo da TechnoServe revela que a adoção de práticas regenerativas – como cobertura do solo com plantas de cobertura, adubação orgânica e compostagem e manejo integrado de nutrientes – tem o potencial de beneficiar 3,2 milhões de pequenos produtores, aumentar as exportações em US$ 2,6 bilhões e reduzir as emissões em 3,5 milhões de toneladas de CO₂ por ano. Esses números evidenciam o potencial transformador da agricultura regenerativa não apenas para o Brasil, mas para toda a cadeia global de produção de café.

O relatório da TechnoServe, porém, reforça a importância de investimentos estratégicos e parcerias colaborativas para promover uma agricultura mais sustentável e resiliente. 

TEXTO Redação

Café, uma fórmula de sucesso

Por Moisés Stahl 

Por trás de um hábito mundial existe uma longa história de desenvolvimento da economia cafeeira e das relações decorrentes da organização produtiva e social assentada na cafeicultura. Prestes a completar 300 anos de introdução no Brasil (1727-2027), a história desse precioso fruto é de sucesso e hegemonia de um gênero agrícola de exportação.

Desde a década de 1830 o Brasil lidera a produção mundial de café. Isto não é um mero acaso ou fruto, apenas, da natureza prodigiosa, mas resultado de muita ciência. Nas primeiras décadas de produção do grão no século XIX, a fazenda, como organização produtiva, era administrada pelo cafeicultor a partir da sede da instituição.

Ali, o cultivo seguia o ritmo ditado pelos manuais agrícolas, como o Manual do Agricultor Brasileiro. Elaborado por Carlos Augusto Taunay e publicado na década de 1830, a maior parte de seus capítulos aborda a plantação e a colheita do café.

Os manuais agrícolas ou as memórias sobre o café que surgem nessa época são realizações estruturadas dos modos de produzir o fruto e gerir uma fazenda. Afinal, era fundamental sistematizar ideias, a fim de que elas pudessem servir a todos como referência.

Outro documento da época da estruturação da economia cafeeira no país, marcada pela hegemonia produtiva do Vale do Paraíba, foi escrito pelo Barão Paty do Alferes. Trata-se da Memória sobre a Fundação de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro, de 1847. Tanto o manual quanto a memória citados expressam a forma de organizar a fazenda a partir da sistematização pensada pelo fazendeiro cafeicultor ou produtor de outro gênero agrícola.

Nas décadas de 1870 e 1880 houve transformações importantes na sociedade do Brasil Império. Em São Paulo, por exemplo, a expansão da cafeicultura rumo a Oeste (Campinas) e Novo Oeste (Ribeirão Preto), e, sobretudo, a modernização ferroviária fizeram com que as fazendas deixassem de ter a centralidade de outrora: os cafeicultores poderiam residir nas cidades, principalmente na capital paulista, e visitá-las utilizando o transporte ferroviário.

Esse período foi marcado, também, pela reformulação e criação de instituições científicas no Rio de Janeiro – como o Museu Nacional, a Escola Politécnica, o Laboratório de Fisiologia Experimental, o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura – e em São Paulo – como a Imperial Estação Agronômica de Campinas, fundada em 1887 e, posteriormente, denominada Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Desse movimento institucional resultam obras importantes para a compreensão de como o café era, também, um objeto da ciência. Uma delas é Breves Considerações sobre a História e a Cultura do Cafeeiro e Consumo de seu Produto, trabalho de 1873 do médico Nicolau Moreira. Em 1883, o cientista francês Louis Couty publicaria, no Brasil, seu principal estudo, Biologia Industrial do Café – feito após visitar dezessete fazendas produtoras –, além de algumas outras investigações científicas sobre o grão na forma de artigos e relatórios.

Nesse movimento histórico dos manuais aos relatórios, o IAC representa uma instituição que direcionou pesquisas científicas para a análise da planta – ou seja, das raízes às folhas, do solo mais apropriado ao clima propício para o cultivo do café, fazendo dela um objeto de investigação científica.

No último quartel do século XIX, o objetivo geral da ciência voltada à cafeicultura era o de aprimorar a produção para conseguir um produto de melhor qualidade e, com isso, ampliar a venda dos grãos no mercado global. O que atualmente não deixa de ser a mesma coisa, mas já com os avanços da ciência e da tecnologia empregadas na cafeicultura.

De modo geral, a ciência direcionada ao café buscou criar condições para a superação da monocultura nas grandes propriedades, que já era vista como um sistema atrasado de plantio, para uma ordem em que a fronteira da expansão cafeeira não seria mais a busca por terras ricas em nutrientes, mas o laboratório e os campos experimentais locais. Neles, os cientistas desenvolveriam fórmulas de crescimento a partir do uso de insumos, da análise apropriada do solo, do controle de pragas e da condução adequada dos sabores a partir de manejos específicos para cada área e clima.

No início da década de 1900, o engenheiro agrônomo Gustavo D’Utra, diretor do Instituto Agronômico de Campinas, investigou a possibilidade de extrair o álcool do café. Fez isso a partir de estudos laboratoriais, analisando meios de utilizar o café excedente nas lavouras. Porém, concluiu que tal empreitada não seria rentável naquele momento, porque o rendimento desse álcool seria diminuto e não pagaria os custos dos procedimentos para a sua extração.

Depois disso, os estudos em torno do café feitos no IAC focaram na extração da cafeína para fins farmacêuticos. A cafeína já era utilizada, na indústria farmacêutica alemã, para a produção de medicamentos que, à época, tratavam as enxaquecas.

Segundo D’Utra, a fórmula da cafeína foi apresentada por Adolph Strecker a partir de suas análises químicas feitas na Universidade de Giessen, em 1861. Naquele tempo, a fórmula química da cafeína foi assim representada – C8H10AZ4O2 – e definida pelo diretor do IAC como “o que dá aos grãos de café o seu sabor amargo peculiar”. Afinal, estava dentro do escopo científico do Instituto Agronômico ações para ampliar as possibilidades de uso do grão. Ao mesmo tempo, a instituição almejava abrir caminhos para uma atividade industrial.

Atualmente, a fórmula química é C8H10N4O2. O AZ da primeira fórmula significa azoto, nome dado originalmente ao nitrogênio. Sobre o assunto, estudos químicos sobre gases no século XVIII identificaram e classificaram os elementos do ar, e o azoto, ao lado do oxigênio, foi um deles. Em linhas gerais, azoto é a nomenclatura criada por Antoine-Laurent de Lavoisier e outros estudiosos em 1787 para o que, três anos depois, seria chamado por Jean-Antoine Chaptal de nitrogênio.

A fórmula química da cafeína resulta, assim, do valor econômico do café, que conecta a escala de produção em áreas mundiais periféricas às de consumo no centro do sistema econômico capitalista. De fato, a ciência entrou na produção do café e criou melhores condições para cultivá-lo e consumi-lo. Atualmente, além do Instituto Agronômico, que continua a desenvolver pesquisas importantes sobre o fruto, há outras instituições, como a Embrapa Café, cuja missão é desenvolver pesquisas e vislumbrar soluções tecnológicas, bem como sustentáveis, para ele.

Desse modo, o encontro do café com a ciência é, sem dúvida, uma fórmula de sucesso.

TEXTO Moisés Stahl é doutor em história econômica pela USP (Universidade de São Paulo) • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Cafezal

SCA e Federação Colombiana fecham parceria para cafés especiais

Anunciado na Specialty Coffee Expo 2025, acordo prevê uso da metodologia CVA para avaliar o valor do café colombiano, com foco em rastreabilidade, diferenciação e conexão com as tendências globais do mercado

A Associação de Cafés Especiais (SCA) e a Federação Colombiana de Cafeicultores (FNC) assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) com o objetivo de aprimorar a rastreabilidade, a diferenciação e o reconhecimento global dos cafés especiais colombianos.

A parceria, anunciada na Specialty Coffee Expo 2025, em Houston, concentra-se na implementação da metodologia de Avaliação do Valor do Café (CVA) da SCA no setor cafeeiro do país. A FNC treinará equipes técnicas e provadores na aplicação da CVA, integrará a coleta de dados na origem e explorará uma adoção mais ampla dos cafés colombianos. A SCA apoiará esse esforço com assistência técnica, treinamento, aplicação personalizada da CVA e promoção global dos resultados.

Germán Bahamón, CEO da FNC, enfatizou o impacto potencial desta colaboração, afirmando que a adoção de ferramentas inovadoras como a CVA abre caminho para um maior reconhecimento e alinhamento com as preferências do mercado, beneficiando os cafeicultores colombianos.

O acordo inclui, ainda, o desenvolvimento de uma plataforma digital dedicada ao café colombiano, a fim de aprimorar o rastreamento de dados, a análise e a comunicação dos atributos do café. Além disso, a SCA colaborará com a FNC compartilhando dados da CVA para informar os produtores colombianos sobre as tendências e preferências do mercado em evolução.

TEXTO Redação / Fontes: Comunicaffe International, SCA, Qahwa World

Mercado

Melitta adquire as empresas Baristo e Rent a Coffee

Com a compra das duas empresas, a Melitta aposta no crescimento do mercado de café fora do lar e reforça sua presença no setor de food service

A Melitta South America anunciou a aquisição da Baristo, empresa de soluções para o preparo e consumo de café fora do lar, como parte de sua estratégia de expansão no mercado brasileiro. Segundo a companhia, a operação inclui também a Rent a Coffee, totalizando três marcas: Baristo, Orazio e Rent a Coffee.

Presente no Brasil desde 1968, a Melitta liderou o consumo doméstico de café em 2024, de acordo com dados da Nielsen, e agora mira o segmento de food service, que vem crescendo de forma acelerada no país. A Baristo, fundada em 2008, atua no fornecimento de máquinas, insumos e serviços para o setor, com foco nas regiões Sul e Sudeste, e presença em mais de 450 cidades.

Segundo Marcelo Barbieri, CEO da Melitta South America, em comunicado, a escolha da Baristo se deve à sinergia de valores, à eficiência operacional e ao plano de crescimento da empresa. A operação seguirá sob comando de Rafael Bertagnolli, atual diretor-geral, que permanecerá à frente das atividades junto à equipe de mais de 100 colaboradores.

TEXTO Redação • FOTO Marcus Desimoni / NITRO

Mercado

Café e design marcam obra da australiana Lani Kingston

Designing Coffee – New Coffee Places and Branding é o terceiro livro da escritora, especialista em cafés e educadora australiana Lani Kingston. Lançado há pouco mais de um ano pela editora alemã Gestalten, traz 48 cafeterias instaladas em 48 cidades de 29 países.

Lani, que vive no Oregon (EUA) – onde também promove workshops e seminários em festivais nacionais, além de dar aulas sobre antropologia do café –, disse em entrevista ao site Comunicaffe International que “as cafeterias têm sido, por muito tempo, exemplos perfeitos de ‘terceiros lugares’, ou seja, importantes pontos de encontro comunitários fora de casa e do trabalho”, referindo-se ao fato de cafeterias serem locais de fácil acesso e democráticas.

As características mais destacadas por Lani Kingston nas cafeterias que escolheu para compor seu livro são a arquitetura e o design, das embalagens aos logos, de cada lugar. Isso porque, para ela, a proximidade de uma cafeteria não é algo mais importante do que seu layout, que inclui, além de aspectos arquitetônicos e decorativos atrativos, o conforto. E, claro, uma boa experiência sensorial, capaz de levar consumidores pelo mundo a esses locais para encontrar um amigo, ler um livro ou trabalhar em laptops.

Sua preocupação estendeu-se a ponto de atentar-se às condições do fluxo de trabalho dos atendentes nesses espaços, bem como descartar lugares badalados e atraentes, por, por exemplo, desconforto com as almofadas dos sofás ou pelos balcões que não seguiram as diretrizes básicas de organização.

“Acho que muitos negócios de café caíram na armadilha de ‘certificar-se de que isso ficará bom nas redes sociais’, mas não consideraram sua longevidade”, disse a autora na entrevista.

Entre as cafeterias contempladas estão a divertida e colorida Breadway Bakery em Odessa, na Ucrânia, as minimalistas Five Elephants, em Berlim (Alemanha), e Fiftheen Steps Workshop, em Taipei, Taiwan, além do arejado café Rong Bom (na foto) na província de Chiang Mai, Tailândia, fruto da restauração de celeiros de tabaco que se transformaram, também, em dois museus, um restaurante e um anfiteatro ao ar livre em meio a árvores históricas.

Sua atenção à estética das cafeterias reflete um mercado saturado, mas que deu origem, por conta disso, a elementos de design inovadores que se vinculam a ideais estéticos ou culturas de comunidades e países. “Muitos países têm suas próprias culturas de café ricas, diversas e únicas, e cada vez mais vejo novas cafeterias que tentam combinar o histórico ao moderno.”

Designing Coffee – New Coffee Places and Branding
Lani Kigston – Gestalten – R$ 445,90 – travessa.com.br

TEXTO Cristiana Couto
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