Barista

Will Coffee: na ponta do coração

Em Contagem, casal transformou a casa de família em referência de cafeteria, experiência e atendimento em Minas Gerais: “O café precisa do detalhe”

Um quarto e uma ideia na cabeça. Assim começou o sonho de um casal na região metropolitana de Belo Horizonte. Na própria residência em Contagem, enquanto conversava sobre café e como poderia ganhar a vida, o casal Marcos e Michele teve um impulso: transformar o próprio quarto em que eles dormiam em uma cafeteria. O que pareceu loucura em um primeiro momento se tornou a realidade deles dias depois. Aproveitando o estilo professor Pardal de Marcos, mais conhecido como Will, o espaço diminuto ganhou nova cara: balcão, mesinhas, alguns quadros e muita dedicação ao tema café, ações que deram vida à Cafeteria Will Coffee.

Marcos era técnico de manutenção industrial havia dezessete anos e um estudioso de café. “As pessoas me achavam chato, porque nas rodinhas de amigos, enquanto falavam de futebol, eu queria falar de café.” Como não tinha condições de abrir uma cafeteria nos moldes tradicionais, em ponto movimentado e com grandes investimentos, o casal resolveu: “Vamos abrir aqui mesmo, fora do eixo até da minha cidade”. Eles começaram, em 2012, com uma máquina de cápsulas em um ambiente que continuava com cara de casa e, segundo, Marcos, “não tinha nada de cafeteria”.

“Nos primeiros dias vendemos 115 cápsulas. Eu ia à rua e convidava as pessoas para entrar na minha cafeteria: ‘Você gosta de café?’. Saía com uma garrafa térmica e pão de queijo e oferecia às pessoas até no banco. Elas me viam como ridículo, eu sei. Eu não via, estava fazendo o que meu coração e minha intuição mandavam. Loucura cada um tem uma, a minha loucura conseguia ver lá na frente, mas as outras pessoas não.” Em seis meses a ação de Will deu resultado e as pessoas começaram a visitar a cafeteria, principalmente os jovens da região.

Depois de um ano de cafeteria, Will investiu em uma máquina de espresso superautomática, ao fazer um curso de barista com a profissional Alda Barroso. “Eu não tinha café bom no começo, depois fui evoluindo. Você tem que valorizar cada momento em que está. A minha empolgação é igual até hoje. É muita história que aconteceu aqui em pouco tempo.”

A energia do casal e o brilho nos olhos são percebidos logo ao entrar. Os clientes são conhecidos pelo nome, e ai deles se não forem recebê-los e cumprimentá-los ao entrar e sair da cafeteria. Ali todos querem se sentir parte da família. Aliás, Will é o apelido de Marcos desde pequeno, em homenagem a Will Robinson, da série Perdidos no Espaço, uma família que viajava a bordo de uma nave. Nada peculiar, assim como a história dele.

Experiência de servir
Depois de participar da Semana Internacional do Café, em 2013, Will e Michele começaram a conhecer outros produtos de qualidade e passaram a escolher com minúcia o que iam servir. Will fez cursos na Academia do Café, em Belo Horizonte, e começou a desenvolver os métodos de preparo. Até a cerimônia do café turco eles realizam, com hora marcada, com um utensílio ibrik de 230 anos que ganharam de uma amiga.

A cafeteria tem várias peculiaridades, uma delas é que a porta fica fechada e os clientes chegam por indicação. As mídias sociais ajudam a divulgar e os depoimentos dos consumidores que frequentam são o chamariz para os próximos clientes. Muitos estrangeiros, turistas e moradores da cidade chegam para conhecer o espaço. A experiência começa já ao subir as escadas estreitas que, nas laterais, têm livros sobre o tema. No primeiro salão tudo é feito por Marcos, desde a miniatura da própria cafeteria até quadros e copos customizados. No cômodo ao lado, uma ampliação do projeto original, várias mesas e sofás e fotos de diversos lugares pelo mundo dão um ar aconchegante ao lugar, que funciona das 2 da tarde às 10 da noite.

Os métodos ganham releituras e novos acessórios de madeira auxiliam no momento de preparar a bebida na mesa, uma das experiências de quem visita a casa. “O café, quanto mais você sabe, mais te dá uma sensação de ignorância. Estou sempre procurando novas informações e cursos”, diz Will. As ideias dele para montar as invenções “nascem do nada”, segundo o próprio barista. A aeroprensa foi uma delas: o utensílio é de madeira, onde se encaixa a aeropress e, por meio de uma manivela, o café recebe a pressão e é servido ao cliente.

Michele, esposa de Will há nove anos, está todo o tempo ao lado do barista-artista-inventor. É ela quem faz também o atendimento, drinques e frapês e, claro, controla as finanças do empreendimento. “A Will Coffee não é só uma cafeteria. Ela tem um lado humano muito forte.”

O próximo passo é começar a torrar o próprio café e intensificar os cursos para os apreciadores. Depois de quatro anos de funcionamento, hoje já contam com o primeiro funcionário, o barista Douglas Condé. Para Will, “tudo tinha que acontecer agora, que existe um cenário para o café especial no Brasil”. Ele acredita que talvez a ideia não tivesse vingado anos atrás. Já Michele explica que “o sonho é que a Will Coffee se torne um ponto de encontro”. Vamos avisá-los: esse sonho já foi alcançado, não é mesmo?

ONDE ENCONTRAR O BARISTA
Rua Rio Marabá, 146 – Contagem (MG)
cafeteriawillcoffeebrasil

(Texto originalmente publicado em 2015 na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Bruno Lavorato

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