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A ciência na cafeicultura marca o segundo dia de SIC

A ciência, grande aliada da sustentabilidade, é tema de palestras e debates no evento

A ciência e seus aportes à cafeicultura deram o tom do segundo dia de palestras e painéis da 12ª Semana Internacional do Café, que termina nesta sexta (22), no Expominas, em Belo Horizonte. Não sem colocar em relevância a necessidade do trabalho conjunto dos agentes da cadeia e da multidisciplinaridade do conhecimento, ambos aspectos fundamentais para vencer os desafios das mudanças climáticas. 

“A ciência tem um poder de transformação gigantesco”, provoca Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e pioneiro nas pesquisas em de qualidade dos cafés Robusta Amazônicos, em depoimento à Espresso depois de mediar o painel “A força da ciência nas questões de clima, solo, variedades e consumo”. “Ela envolve tudo que é importante para a produção de cafés, desde commodities até especiais. Envolve questões de solo, de ambiente e de genética, e o domínio desses conhecimentos é importante para extrair o máximo para ter produtividade, qualidade e segurança alimentar”, explica ele,.

A potencialidade da cafeicultura brasileira em termos de tecnologia e ciência para o campo foram debatidos, de fato, ao longo do dia. O painel “Revolução verde: exemplos da nova economia sustentável”, destacou o sucesso na redução da pegada de carbono na cafeicultura em duas situações: em um estudo da potencialidade das práticas regenerativas (em comparação com a agricultura tradicional) em relação ao sequestro de carbono em conilons do Espírito Santo, e no desenvolvimento de um fertilizante verde pela empresa Yara, em parceria com a cooperativa Cooxupé (em Guaxupé, Sul de Minas), que reduziu em até 90% a pegada de carbono na cafeicultura – parceria, aliás, firmada na SIC, em 2022. “A SIC é como um hub, um laboratório de novos negócios, parcerias, inovação e sustentabilidade”, diz Natália Amoedo, fundadora da Pitah e mediadora do painel.  

Painel “Revolução verde: exemplos da nova economia sustentável”

Sustentabilidade essa cujos preceitos são rastreáveis no tempo, conforme mostra Eduardo Sampaio, consultor sênior da Plataforma Global do Café, que recorre à história da agricultura para abrir sua mediação na palestra “ABC do Regenerativo: fundamentos e retornos econômicos para o produtor”, e cuja conexão com a ciência é intrínseca. “Regenerar significa reconstruir”, ensina ele, que nos lembra que é preciso ter um pensamento “sistêmico” e multidisciplinar para encarar os desafios atuais na cafeicultura. “Não há como mudar as mudanças, mas há como minimizar seus impactos através da agricultura regenerativa, acoplada à ciência”, completa Alessandro Hervaz, vice-presidente da cooperativa mineira Coopervass, que há um ano criou o projeto Greencoffee, de práticas de cultivo responsável e que envolve 32 produtores de café. 

As práticas regenerativas são um caminho sem volta, como bem pontuou Adriano Ribeiro, coordenador de sustentabilidade da NKG Stockler, no mesmo painel. E “sua reconexão com a academia é um alicerce maior para as mudanças em vigor”, acredita. 

A agricultura regenerativa não é uma moda passageira. Ela está alicerçada na ciência, que produz dados robustos a seu favor – como os que embasam as falas dos palestrantes de que os que a praticam sofrem menos os desafios climáticos do que aqueles que seguem a agricultura convencional –, e suas práticas, separadamente ou em conjunto,  foram, por exemplo, adotadas rapidamente no Cerrado.

Apesar disso, ainda sofrem barreiras que precisam ser quebradas, e um dos caminhos é a informação correta, segundo Sampaio.  Além disso, a AR ainda não tem uma valoração específica, uma demanda dos produtores que a praticam há quase vinte anos. Isso será compensado em 2025, quando a Rainforest Alliance pretende lançar uma certificação para ela. “Teremos um módulo específico para AR”, promete Yuri Feres, diretor da Rainforest Alliance Brasil.  “Não há dúvidas científicas da resiliência dos cafés que têm práticas regenerativas”, reforça Ribeiro.  

Genética

Outra ferramenta fundamental para enfrentar os desafios climáticos é a genética. Embora com pouco apoio público financeiro – uma das grandes dificuldades das pesquisas nacionais em geral –, a ciência brasileira na área de cafés consegue avançar. É o que apresentaram os pesquisadores Alan Andrade e Luiz Filipe Pereira, da Embrapa Café, e Douglas Domingues, da Esalq, na palestra “Tecnologias genômicas e a transformação da produção de café”. Desde 2002, explicam os pesquisadores, projetos vêm estudando o genoma das duas espécies de café de valor econômico.

Painel “Tecnologias genômicas e a transformação da produção de café”, com os pesquisadores Douglas Domingues, Luiz Filipe Pereira e Alan Andrade

Em 2014, com colaboração internacional, foi desvendado o genoma completo do canéfora. Em 2024, o genoma da espécie arábica foi concluído. A importância disso? Acelerar o trabalho dos melhoristas do café, ajudando a desenvolver novas variedades tolerantes à seca, às doenças e que tenham qualidade sensorial acoplada a partir do uso de marcadores que auxiliam na “construção” de novas variedades. 

“A pesquisa científica está sempre antenada, e com muita antecedência”, lembra Pereira. “Temos referências em outros universos, como o do vinho, facilmente implementáveis no café, agora que temos genomas de referência”, completa Domingues. 

“Qualquer variedade pode entregar bebidas acima de 90 pontos”, garante o pesquisador de cafés especiais do IAC Gerson Giomo, às qualidades intrínsecas dos cafés. “Elas só precisam estar em ambientes favoráveis para expressarem seu potencial genético”, ensina Giomo, que pesquisa o assunto há anos. 

A ciência do solo também está na ordem do dia. Estudos recentes mostram que ele tem características “invisíveis” (referindo-se aos minerais que compõem a argila do solo), identificadas a partir de procedimentos magnéticos e que “impactam na capacidade das plantas em produzir cafés de qualidade”, diz o especialista em solos Diego Siqueira, CEO da Quanticum.

O segundo dia do evento, ainda, trouxe discussões sobre os recentes desdobramentos da EUDR no painel “Brasil e as novas regulamentações da UE: ameaça ou oportunidade?”, o lançamento da plataforma de rastreabilidade das IGs de café pelo Sebrae Nacional e do livro A revolução do café brasileiro – regiões com Indicação Geográfica, patrocinado pelo Sicoob.

Painel “Brasil e as novas regulamentações da UE: ameaça ou oportunidade?”

Se a plataforma – uma ferramenta de rastreabilidade das fazendas de café com IG a partir de tecnologias como blockchain e geolocalização – é, também, uma ferramenta de gestão, o livro explora, por meio de fotografias e textos em português e inglês, a cultura e o valor das 14 indicações geográficas brasileiras (não houve tempo de incluir a recente IP Chapada Diamantina) ao longo de mais de 250 páginas. 

“A obra traz uma abordagem do protagonismo do produtor e das regiões cafeicultoras com IG”, diz o editor Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, referindo-se aos textos que contam a história das regiões e de produtores e detalham as características de terroir e o perfil sensorial dos cafés. “Nossa expectativa é que esse livro seja uma ferramenta de promoção do café braileiro nas regiões com indicação geográfica”, diz ele. “É impossível vender o Brasil como um país único, sem apresentar essa diversidade de cafés”, acredita. 

Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado

TEXTO Cristiana Couto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Primeiro dia de SIC debate clima e novos consumidores

O evento, que vai até sexta (22), destacou, também, a necessidade da união de toda a cadeia

Trabalho conjunto. Seja ele feito a partir da união de toda a cadeia, seja integrando olhares voltados à sustentabilidade, qualidade e valor, a expressão, quase um conceito na cafeicultura atual, permeou as palestras do primeiro dia da 12ª edição da Semana Internacional do Café. 

O evento, que acontece até sexta (22) no Expominas, em Belo Horizonte (MG), teve como tema central “Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café”. As questões sobre o clima alertaram para os desafios enfrentados pela cadeia cafeeira, mas, também, para possíveis soluções. “O Brasil não está conseguindo produzir café suficiente para atender a demanda, mesmo batendo recordes”, alerta o especialista Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria e há 40 anos no ramo do café, na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”. 

Haroldo Bonfá na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”

A questão diz respeito à conjunção desordenada de seca, geada e chuva tardias, tanto no Brasil como no âmbito global. “Acidentes climáticos vão continuar”, frisa Márcio Ferreira, CEO da Tristão. “E medidas isoladas não são a solução”, emenda Marco Valerio Brito, da Cocamig, no painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”. 

Segundo os palestrantes, porém, nunca o setor esteve tão unido. Um exemplo disso é o compartilhamento de sementes de uma nova variedade de arábica –, a star4 (com período menor de crescimento e alta tolerância à ferrugem) desenvolvida pela Nestlé depois de mais de dez anos de pesquisas –, com a cadeia produtiva. “Se antes praticávamos uma agricultura sustentável, hoje incentivamos uma agricultura regenerativa”, diz Valéria Pardal, CEO de cafés da Nestlé Brasil, que participou do mesmo painel, referindo-se aos cuidados com o solo, com a água e à preservação da biodiversidade. 

Painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”, com Marco Valério, Valéria Pardal, Marcio Ferreira e Adriana Mejía

Ao lado dos impactos fortíssimos do clima, que têm se refletido no mercado a “geografia de consumo” também vai mudar. “Rápida e drasticamente”, sentencia Ferreira. “E essa geografia vai demandar mais e mais produção, precisão de tecnologia, ciência e bom preço”, conclui.

Ferreira refere-se aos mercados emergentes. “Temos um potencial tremendo, pois somos competitivos em preço e em qualidade, e temos que valorizar isso nos mercados lá fora”, esclarece Bonfá, referindo-se não só aos mercados emergentes, como China e Índia, como uma oportunidade – são países populosos e que ainda bebem pouco café (a China, por exemplo, bebe 300 g de café per capita ao ano) – mas, também, à manutenção dos países já conquistados. Mas o trabalho, frisou ele, é longo. “Temos todo o espectro de café necessário”, reforça o especialista. 

Trabalho conjunto. Um dos resultados, sem o qual todo ele seria em vão, é o convencimento não só desses novos mercados, mas, também, das novas gerações, quanto ao valor de uma xícara de café brasileiro de qualidade. “A visão do futuro do café é gelada”, aposta Valéria, com relação às bebidas cold brew, segmento que alcançou um crescimento de 40% no último ano. 

É preciso, portanto, entender o consumidor, que tem sede de conhecimento, quer novas experiências mas, também, um café ESG. Rastreabilidade e corresponsabilidade são, assim, conceitos que estão na ordem do dia. 

“Não existe revolução verde no vermelho”, lembra Felipe Salomão. A mitigação da emergência climática e a manutenção e crescimento do mercado não funcionam de maneira isolada. “A agricultura regenerativa é sistêmica”, continua Salomão, gerente-sênior de assuntos públicos da Nestlé Brasil no painel “COP 30: e eu com isso?”. “É preciso gestão, de caixa, de sucessão, de financiamento”, continua. “A cafeicultura sustentável é de um difícil equilíbrio entre produção e sustentabilidade”, ecoa José Donizeti Alves, professor titular da UFLA, ao discorrer sobre o impacto do clima no café sob ambos os aspectos no painel “Desafio climático: seus impactos e soluções verdes para uma nova era sustentável”.

Trabalho integrado. Como converter, por exemplo, economia verde em valor? Este foi o tom de Daniel Vargas, professor da FGV RJ, durante o mesmo painel. São necessários movimentos globais, como as negociações da COP, em nível nacional, como os debates sobre o mercado de carbono, e os movimentos locais, nas trocas voluntárias de carbono. Uma verdadeira aula, difícil de reproduzir nesta síntese. Mas cuja reflexão é necessária e urgente. 

“O futuro é a integração entre saúde e bem estar, sustentabilidade e sabor”, reflete Stefan Dierks, diretor de estratégia de sustentabilidade do grupo Melitta da Alemanha, que abriu o painel “O impacto das megatendências no consumo de café. “E a única forma de alcançarmos isso é trabalhando juntos”.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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SIC é palco de premiações e empreendedorismo

A Semana Internacional do Café, que começa nesta quarta (22), prevê gerar R$ 60 milhões em negócios

A Semana Internacional do Café (SIC), que começa nesta quarta-feira (20) em Belo Horizonte e é, tradicionalmente, um ponto de encontro para profissionais e empresas do setor cafeeiro no Brasil e na América Latina, também tem se consolidado como um polo estratégico para a geração de negócios, networking e desenvolvimento do mercado. 

O evento, que vai até sexta (22) traz uma agenda repleta de rodadas de negócios, palestras, feiras e concursos, numa plataforma única para conectar empreendedores e executivos a tendências e tecnologias emergentes, impulsionando a competitividade e a sustentabilidade do setor. É um evento essencial para quem busca não apenas expandir suas operações, mas também fortalecer suas redes e explorar oportunidades no mercado cafeeiro nacional e internacional.

Um dos melhores exemplos dessas oportunidades é a 13ª Coffee of the Year 2024, uma celebração que exalta a excelência e a diversidade dos cafés brasileiros, e gera impacto direto no mercado. A seleção dos 10 melhores produtores de arábica e dos cinco melhores de canéfora, feita pelo voto dos visitantes, impulsiona o trabalho dos finalistas, facilitando o acesso a novos mercados e consolidando a presença dos cafés brasileiros em mercados já existentes. 

Esse reconhecimento agrega valor aos cafés não só dos produtores premiados, mas de toda a região, e abre caminho para parcerias e negociações que fortalecem todo o ecossistema. 

Os cafés foram avaliados inicialmente por profissionais Q-Graders e R-Graders, que selecionaram as 180 melhores amostras para serem apresentadas ao público da Semana Internacional do Café. Esses cafés estarão disponíveis em duas salas de cupping, onde compradores e visitantes poderão provar e negociar diretamente com os produtores, criando um ambiente propício para novos negócios.

Novos negócios também acontecem entre os mais de 170 expositores distribuídos por todo o pavilhão da Expominas, que vão mostrar seus produtos, lançar novidades e apontar tendências. A estimativa para esta edição é movimentar cerca de R$ 60 milhões. 

Conectar-se com compradores é, também, um dos principais objetivos das regiões produtoras, que se organizam em estandes para oferecer degustações e informações sobre seus melhores produtos. A SIC, portanto, funciona como uma vitrine estratégica, capaz de abrir portas para novos mercados e oportunidades de negócios, além de impulsionar o desenvolvimento econômico e sustentável de cada território representado.

“A SIC é um importante evento para aproximar os produtores rurais, grandes responsáveis por essa liderança, e os demais elos do setor. Essa conexão viabiliza um terreno propício para parcerias e bons negócios e mostra ao consumidor final a qualidade e a importância dos nossos cafés”, destaca Antônio de Salvo, presidente do Sistema Faemg Senar, uma das entidades realizadoras. 

Oportunidades de negócios serão tratadas, também, em palestras durante a SIC. Uma das mais aguardadas será ministrada pelo especialista Haroldo Bonfá, diretor e consultor da Pharo Consultoria, que vai discorrer sobre o tema “Cenários e perspectivas do mercado de café”. Entre os assuntos abordados na palestra estão a abertura de novos mercados, dados sobre exportação para outros países, denominações de origem e novos consumidores. 

“Os números recordes nas exportações e a abertura de grandes mercados, como a China, são prova de que investir em tecnologia, inovações, assistência técnica e equilíbrio com o meio ambiente dá resultados. E a SIC é uma vitrine de tudo isso”, afirma o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo de Minas Gerais, Thales Fernandes.

Premiações

Além do COY, outras premiações acontecem no evento e são, sempre, uma celebração do trabalho de todos os elos da cadeia. Em sua 6a edição, o concurso Espresso Design tem o objetivo de avaliar e premiar as melhores embalagens de café de 2024, reconhecendo o compromisso das marcas de café que investem em comunicação e que impactam, diretamente, a maneira como o café de qualidade chega ao consumidor. 

Foram mais de 80 embalagens, avaliadas pela Equipe da Espresso e por especialistas convidados nos quesitos identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade. Destas, surgiram as 20 embalagens finalistas, que nos dois primeiros dias de SIC, ficarão expostas e receberão os votos dos nossos visitantes. 

A grande final da competição Torrefação do Ano Brasil 2024, organizada pela Atilla Torradores e com o apoio da SIC, vai acontecer, pela segunda vez, no último dia do evento. Dentre as 20 torrefações finalistas, de mais de 18 estados inscritos, só uma leva o troféu.  

A SIC também é palco do Campeonato Brasileiro Blends de Café, uma realização da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). 

O campeonato, que está em sua segunda edição, promove e fomenta o conhecimento em torno da criação de blends de café, um saber fundamental para o trabalho das torrefações brasileiras. O resultado será conhecido, também, na sexta (22).

Por fim, a agitação do último dia ainda conta com a revelação do vencedor do Campeonato Brasileiro de Barismo, promovido pela BSCA e que acontece nos três dias de SIC. O campeão brasileiro irá representar o Brasil no campaonato mundial da categoria, que acontece em 2025 na Itália. 

Um tributo às regiões brasileiras

Uma obra completa sobre as indicações geográficas (IGs) terá seu lançamento na SIC. A Revolução do Café Brasileiro: Regiões com Indicação Geográfica reúne 14 regiões produtoras de café do Brasil. A obra explora as características de cada uma das áreas, com suas particularidades, métodos de cultivo e processamento dos cafés, além de incluir perfis sensoriais dos grãos. 

O livro surgiu da necessidade de oferecer uma visão abrangente da cadeia produtiva brasileira, desde a plantação até seu consumo. O Sicoob, instituição financeira cooperativa, é patrocinador da obra, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.  

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Lei Antidesmatamento é adiada por um ano no parlamento europeu

O Parlamento Europeu aprovou, nesta quinta (14), o adiamento de um ano para a entrada em vigor da lei antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês). Foram 371 votos a favor, 240 contra e 30 abstenções. Agora, só falta o texto ser endossado pelo Conselho e pelo Parlamento e publicado no Jornal Oficial da UE.  

A votação fez com que grandes e médias empresas entrem em conformidade com as regras da EUDR até 30 de dezembro de 2025, enquanto pequenas empresas têm até 30 de junho de 2026 para se adequar a elas. 

Além disso, o Parlamento Europeu criou uma nova categoria, denominada “sem risco”, para países considerados como de desenvolvimento de área florestal estável ou crescente, que, consequentemente, passarão a enfrentar requisitos menos rigorosos do que as categorias já existentes (risco “baixo”, “padrão” e “alto”).

Em outubro, a Comissão Europeia havia proposto o adiamento de 12 meses, após reclamações de um grupo de 20 países da UE, algumas empresas e países fora da UE, como Brasil, Indonésia e Estados Unidos.

Porém, não foram propostas alterações no conteúdo da lei, posição esta apoiada pelos governos da União Europeia. Segundo a agência de notícias Reuters, a votação apertada do parlamento para adicionar a nova categoria de países “sem risco” aumenta a incerteza sobre a regulamentação da  EUDR. 

A EUDR (European Union Deforestation Regulation) é uma regulamentação da União Europeia que visa combater o desmatamento global associado a sete produtos importados, como o café. Ela exige que empresas que importam para a UE comprovem que esses produtos não estão ligados ao desmatamento, nem ao uso de terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020. 

TEXTO Redação • FOTO Simon Gibson

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Brasil vence o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy

É a segunda vez consecutiva que o país é eleito na categoria Best the Best, desta vez, com a Fazenda Serra do Boné, nas Matas de Minas

O café despolpado da Fazenda Serra do Boné, de Matheus Lopes Sanglard, ganhou ontem, em Nova York, o prêmio Best of the Best, distinção concedida pela illycafè no âmbito do 9o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. O café campeão é um despolpado produzido em Araponga, nas Matas de Minas.

É a segunda vez consecutiva que o Brasil vence o prêmio da torrefadora italiana, que já existe há trinta anos e elege os melhores cafés sustentáveis entre seus fornecedores pelo mundo. A fazenda, que fornece grãos para a illy desde 2013, fica entre mil e 1,4 mil metros de altitude, em área montanhosa, o que exige colheita manual ou semimecanizada dos grãos. 

Os irmãos Sanglard, no recebimento do prêmio nesta quarta (12), em Nova York

O prêmio tem um painel independente de nove especialistas – este ano, contou com o estrelado chef italiano Massimo Bottura, da Osteria Francescana, em Módena –, que avaliaram os melhores lotes de café entre as nove origens únicas do blend da illycaffè. Além do Brasil foram avaliados cafés de Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda. Participaram do júri, também, Felipe Rodrigues, chef do Complexo Rosewood, em São Paulo, e Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). 

 Outro prêmio, o Coffee Lovers’ Choice, ficou para o SMS Cluster ECOM, da Nicarágua. O Coffee Lovers’ Choice, como já sugere o nome, é resultado da votação dos consumidores pelo mundo que, semanas antes da premiação, provaram às cegas as mesmas amostras.

Práticas regenerativas 

“Nossas práticas agrícolas respeitam o meio ambiente”, afirmou Matheus Sanglard, em comunicado oficial da illy. Na Fazenda Serra do Boné, o uso de fertilizantes orgânicos, controle biológico e reutilização dos produtos de processamento (como a palha do café) preservam a saúde do solo, a biodiversidade e as fontes de água. Fazemos o plantio do café de forma a minimizar o impacto ambiental, utilizando roçadas ou capinas no lugar de herbicidas sempre que possível e realizando pulverizações contra doenças e pragas apenas quando necessário, de forma pontual”.

Para Andrea Illy, presidente da illycaffè, a empresa está “mais uma vez, notando sinais importantes que confirmam como a agricultura regenerativa é o caminho certo para uma produção mais resiliente, capaz de garantir produtividade e qualidade superior”.

No mesmo dia do evento, na sede das Nações Unidas, em Nova York, representantes de toda a cadeia de fornecimento do grão reuniram-se para a mesa redonda “Aliança Global do Café: Mobilizando um Fundo Público-Privado para Combater as Mudanças Climáticas”, que explorou iniciativas para promover a produção sustentável de café diante dos desafios climáticos.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Feira é vitrine para cafeicultores na SIC

Cafés premiados são destaque nos estandes de regiões produtoras, que promovem a diversidade da bebida com degustações e muita história para contar

Não faltarão regiões produtoras de café de qualidade para os apreciadores conhecerem durante a Semana Internacional do Café, que acontece de 20 a 22 de novembro no Expominas, em Belo Horizonte (MG). Se o tema das origens produtoras, escolhido como mote do evento de 2023, reforçou a sustentabilidade e a qualidade dos cafés, nesta edição, vários estandes continuam a pavimentar esse caminho com mais experiências sensoriais e informativas em torno do grão e suas singularidades. Desde 2013 – quando se deu o primeiro evento em solo mineiro –, é a edição com mais regiões produtoras, distribuídas em espaços específicos ou representadas por meio de cooperativas. Estarão lá municípios e cafeicultores da Bahia, Espírito Santo, Ceará, Rondônia, Acre, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Estreia

Novidade este ano, o estande dos robustas do Acre apresenta os 15 produtores melhor posicionados no concurso de qualidade II Qualicafé Estadual de Cafés Especiais. “A participação na SIC é a virada de chave para os produtores e o estado”, comemora Michelma Lima, coordenadora do núcleo da cafeicultura da Secretaria de Estado da Agricultura.

Produtora Eliane Lara, de Acrelândia, finalista do Florada Premiada e que estará no estande dos robustas do Acre

Num espaço de 47 m2, esses produtores e produtoras – estas, ainda, finalistas entre as vinte melhores do concurso Florada Premiada, promovido pela 3corações e cuja premiação acontece no terceiro dia do evento – estarão apresentando seus grãos aos visitantes, auxiliados por três baristas. Brasileia, Acrelândia e Epitaciolândia são alguns dos municípios representativos dos grãos da tríplice fronteira acreana. “O objetivo é promover a marca dos cafés do Acre, pois, apesar da pouca área produtiva e da pequena quantidade, temos qualidade”, assegura Michelma, referindo-se às mil famílias cafeicultoras e aos cerca de mil hectares plantados no estado. “Com a cafeicultura, estamos recuperando áreas antropizadas, degradadas”, conta ela – o Acre preserva mais de 80% de suas florestas.

O município do Alto Caparaó, que há anos participa do evento, também estará bem representado. Em uma área de 24 m2, cerca de 20 cafeicultores do município mineiro vão servir seus cafés – quase todos eles premiados, como os dez melhores do ano do 11º Concurso de Qualidade dos Cafés Especiais de Alto Caparaó e quatro vencedores do COY (Coffee of the Year), premiação criada pelos realizadores da SIC e que elege, desde 2012, os melhores arábicas e canéforas do país. 

Imagem de lavouras de café do Alto Caparaó

Mais premiados

Cidade cuja principal renda é a cafeicultura e o turismo, o Alto Caparaó venceu o COY pela primeira vez em 2014, e tem, entre os 150 finalistas de cafés arábica da atual edição, oito representantes. “O COY foi o primeiro concurso do qual participamos. Desde então, nossos cafés especiais têm ganhado notoriedade”, comemora Ramiro Horst de Aguiar, secretário de turismo e cultura do Alto Caparaó. “Para o município, a SIC é uma grande vitrine para os nossos cafés”, acredita Aguiar.

“Queremos levar a identidade territorial e cultural da cidade”, emenda Andyara Machado, Secretária de Turismo e Cultura da Prefeitura Municipal de Caparaó. Caparaó, que assim como a cidade de Ramiro, está inserida em duas indicações geográficas (denominação de origem Caparaó e indicação de procedência Matas de Minas), participa pelo segundo ano do evento com 12 produtores, degustações e comercialização dos cafés, também conhecidos nacionalmente. “Sabemos que nossos cafés são mais que meros pontos de encontro, são momentos de partilha”, acredita Andyara, que vê na SIC, ainda, um fator determinante na comercialização dos grãos mineiros.

Estande do Caparaó na Semana internacional do Café 2023

Com mais de 300 produtores, o estande da Região do Cerrado Mineiro, primeira denominação de origem de cafés no Brasil, participa pela sétima vez da SIC. “É importante estar no evento pois encontramos o público torrefador e o público consumidor, inclusive internacional”, destaca Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. “Além disso, há a exposição da nossa denominação de origem, da nossa marca, da nossa estratégia”, completa Tarabal, citando a integração da promoção da federação pela presença de seis cooperativas e sete associações no espaço, de 80 m2. Degustações dos nove melhores cafés da safra e dos dois campeões do COE (Cup of Excellence) dividirão as atenções com outras atividades, como o game Cerrado The Wall, instalado numa das paredes do estande, com direito a camisetas e pulseiras para os vencedores do jogo.

Muitos e melhores

“Sentimos uma grande necessidade de explorar nossa marca no evento, que é um dos maiores do mundo”, elogia Klayrton Alves de Souza, secretário de comunicação da prefeitura de Manhuaçu, município no leste mineiro cuja maior riqueza também é o café – 83% oriundo de agricultura familiar. Com o estande e uma segunda participação consecutiva na SIC, o município espera fomentar a marca cafés de Manhuaçu. O estande vai ser temático, com foco no 11º Concurso Municipal de Qualidade de Café. Os produtores premiados vão estar ali, e os cafés campeões serão servidos por baristas. Ilustrações que remetem às lavouras de café locais e ao Castelo do Café, importante atração turística, decoram o espaço de Manhuaçu, que na última safra produziu 565 mil sacas de café, em uma área de 24 mil hectares.

A SIC também faz parte da história de evolução da cafeicultura em Rondônia, que marca presença novamente com um estande dedicado aos robustas amazônicos. “Iniciamos nossa participação como expositores em 2016 e, no início, causamos estranheza”, relembra o pesquisador da Embrapa Rondônia Enrique Alves, que está entre os organizadores da caravana de 60 expositores até a capital mineira, a maioria deles, cafeicultores da denominação de origem Matas de Rondônia. 

Foto: Gustavo Baxter/Semana Internacional do Café

“Este ano somos muitos e melhores. Nossos cafés nunca beberam tão bem, os preços nunca estiveram tão altos”, comemora Alves. A celebração aos cafés, inclusive, se estende no espaço da feira com o animado nome “Its gonna be SIC!”, um happy hour em que os inscritos terão oportunidade de degustar “robustas reserva” – cafés que aprimoraram sensorialmente ao longo dos anos –, acompanhados de meis oriundos de abelhas das lavouras cafeeiras, cookies feitos com farinha de casca de café e drinques à base da bebida. “A SIC é nosso lugar de pertencimento”, alegra-se Alves. “Os jornais, tvs e sites já ficam em expectativa para saber qual cafeicultor de Rondônia será destaque no COY”, relata. 

Histórias e aprendizado

A SIC permite que os profissionais e entusiastas conheçam não apenas os sabores do café, mas as histórias e os desafios de quem está por trás de cada grão. Num estande com três balcões, nove produtores de Espera Feliz (MG) se revezam no serviço de seus cafés, coados e no método espresso. Os cafés de mais de uma dezena de produtores também serão vendidos ali. A expectativa é grande. “Participar do evento é dar visibilidade às histórias, aos produtores e suas propriedades. É o momento de celebrar e destacar aqueles que fazem toda esta história acontecer”, reforça Mariana Aparecida Correia, secretária de agricultura do município, que, assim como Alto Caparaó e Caparaó, situa-se na área delimitada pela DO Caparaó e pela IP Matas de Minas. Este ano, Espera Feliz pretende colher 228 mil sacas dos 9,5 mil pés em produção. “Nossa economia gira em torno do café”, arremata Mariana. 

Piatã – que acaba de entrar para o rol das IGs como um dos sete municípios da indicação de procedência Chapada Diamantina, na Bahia –, também estará no evento. Seu representante oficial é o produtor Euvaldo José da Costa Jonis, da Fazenda Riacho da Tapera. Jonis estará na SIC em nome dos 55 associados da Coopiatã, a cooperativa local, que inclui produtores também dos municípios de Abaíra e Rio de Contas. No espaço destinado à cooperativa, serão servidos blends próprios das linhas gourmet e especial. “Encontramos na SIC todas as pessoas do universo do café. É uma oportunidade para visitar outras regiões e aprender um pouco”, conclui Jonis.

TEXTO Cristiana Couto

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Café ganha transporte em navio movido à vela e a energia solar

Uma remessa de café brasileiro especial começa a ser embarcada nesta segunda-feira (11) no Porto de São Sebastião, com destino a Le Havre, na França. Serão 588 toneladas de grãos, cultivados com práticas sustentáveis em várias regiões do Brasil. A novidade? O transporte será feito pelo cargueiro à vela Artemis, uma embarcação de tecnologia sustentável recém-construída na França.

A operação, conduzida pela Seaforte em parceria com a FAFCoffees, a Belco e a TOWT, marca a primeira exportação de café especial para a Europa utilizando um navio sem motor, movido apenas por velas e energia solar, sem emissão de carbono. Ao todo, serão 700 pallets com 14 sacas de café em cada, totalizando 9.800 sacas.

Além do café verde – que será torrado e moído na Europa para atender à crescente demanda por produtos de alta qualidade e rastreabilidade ambiental –, também serão embarcados pallets com sementes de cacau brasileiro, destinados à indústria de chocolates.

Transporte sustentável e impacto ambiental

O transporte à vela integra uma cadeia sustentável, onde o próprio modal marítimo contribui para a redução de emissões de poluentes. O café brasileiro, cultivado sob rígidos padrões de sustentabilidade, encontra agora um transporte igualmente responsável, reforçando o compromisso ambiental em todas as etapas.

Sobre o navio Artemis

Com 81 metros de comprimento e 12 de largura, o Artemis tem uma viagem estimada em 20 dias até a França e contará com uma tripulação de pelo menos oito pessoas. A embarcação chega ao Porto de São Sebastião nesta segunda-feira (11), com a partida rumo à Europa programada para quinta-feira (14), às 12h.

TEXTO Redação / Fonte: Radar Litoral

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SIC 2024 discute clima, ciência e novos consumidores

 

Reunindo questões candentes no cenário cafeeiro atual, este ano da Semana Internacional do Café – SIC privilegia o clima, a ciência e os novos consumidores como pauta de discussões durante os dias 20 e 22 de novembro no Expominas, em Belo Horizonte.

Em sua 12ª edição, a SIC, um dos maiores e mais importantes eventos do mercado cafeeiro do Brasil e do mundo, espera receber 20 mil pessoas, de 40 países, para assistir a painéis, palestras e workshops em torno do tema “Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café”, além de movimentar cerca de 60 milhões de reais em negócios.

Para discutir os atuais desafios do setor estarão presentes Márcio Ferreira, CEO da Tristão e Valéria Pardal, diretora-executiva de cafés da Nestlé Brasil, no primeiro dia do evento, no DNA Café, espaço dedicado à paineis e palestras sobre tendências, desafios e ações para o futuro do café (com tradução simultânea para o inglês).

Soluções verdes para mitigar os impactos climáticos é tema de outro painel, no mesmo espaço, conduzido pelo engenheiro agrônomo José Donizeti Alves, professor titular da Ufla (Universidade Federal de Lavras), e pelo especialista em transição verde Daniel Vargas, da Fundação Getúlio Vargas – RJ.

O segundo dia da SIC tem como um dos destaques os trabalhos desenvolvidos no Fórum da Cafeicultura Sustentável, criado em 2014 para discutir práticas, inovações e desafios relacionados à sustentabilidade na cafeicultura. Este ano, o fórum abre com um painel sobre os desafios e oportunidades da EUDR (Regulamento de Desflorestação da União Europeia), integrado por Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé (Conselho dos Expositores de Café do Brasil), Adriana Mejía Cuartas, presidente do Conselho da Plataforma Global do Café (GCP) e Sueme Mori, diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Revolução Verde e discussões sobre agricultura regenerativa também encontram lugar no segundo dia do fórum, que discute, ainda, os avanços científicos na cafeicultura no painel “A força da ciência nas questões de clima, solo, variedades e consumo” (confira mais detalhes da programação no site da SIC)

Na cafeteria modelo, um ponto de encontro já tradicional entre baristas e outros profissionais do setor com o público, a programação segue intensa. Palestras sobre os novos protocolos ABIC para cafés torrados e CVA (Avaliação de Valor do Café, em português) da SCA, programado para entrar em vigor em 2025, dividem as atenções com temas como a influência da água no perfil de cafés e cafés infusionados, além do painel sobre “Diversidade, equidade, inclusão e pertencimento (DEIP) como impacto de ESG na xícara”.

Com objetivo de conectar e gerar oportunidades para toda a cadeia do café brasileiro no acesso a mercados e negócios, a programação da SIC abriga, também, campeonatos, degustações e premiações importantes, além de uma feira com mais de 170 expositores.

O já conhecido Concurso Florada Premiada, iniciativa do Grupo 3corações em parceria com a BSCA, acontece, como de praxe, no último dia SIC. O concurso, que busca dar visibilidade ao trabalho de cafeicultoras mulheres e oferecer acesso às melhores práticas na produção de cafés especiais, é coordenado pelo especialista em qualidade de cafés Silvio Leite, e já impactou mais de 4 mil famílias de mulheres cafeicultoras.

Também fechando o evento acontece a final do Campeonato Brasileiro de Barista 2024, cujo campeão entre os seis semifinalistas irá representar o Brasil no campeonato mundial em 2025 em Milão, na Itália.

“A SIC estabeleceu-se como a principal plataforma para a promoção, acesso a mercados, e negócios do café brasileiro”, diz Caio Alonso, diretor da Espresso&CO, um dos realizadores do evento. “A SIC é um importante evento para aproximar os produtores rurais, grandes responsáveis por essa liderança, e os demais elos do setor”, reforça Antônio de Salvo, presidente do Sistema Faemg Senar, uma das entidades realizadoras do evento.

O evento é gratuito para produtores rurais, empresas da área (visitantes com CNPJ) e visitantes internacionais. O ingresso para outros visitantes custa R$ 70 para os três dias, e pode ser adquirido no site.

12ª Semana Internacional do Café – SIC
Quando: 20, 21 e 22 de novembro de 2024, das 10h às 19h
Onde: Expominas – Av. Amazonas, 6.200, Gameleira, Belo Horizonte, MG
Quanto: R$ 70 (para os três dias). Visitante com CNPJ, produtor rural e visitante internacional tem entrada gratuita.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

Sabores universais do cacau

De olho na qualidade, pesquisadores e organizações públicas e privadas desenvolvem um guia para padronizar a avaliação do fruto amazônico

Q uais são as características de um cacau de excelência? A resposta pode parecer simples, mas diante da complexidade entre variedades, terroirs, métodos de cultivo e de beneficiamento, exige rigor e consistência. É a partir desses dois fundamentos que cacauicultores brasileiros acabam de se destacar num dos mais importantes concursos do mundo e que um protocolo recém-lançado promete ser o primeiro a normatizar, em nível global, a avaliação de amêndoas de cacau.

Em março deste ano, o Guide for the Assessment of Cacao Quality and Flavour (Guia para avaliação da qualidade e do sabor do cacau), lançado em setembro de 2023 pela plataforma global Cacao of Excellence, foi atualizado. A publicação do guia, que consumiu sete anos de estudos e discussões, integrou diferentes organizações públicas e privadas, especialistas e representantes da indústria cacaueira no mundo.

Já os brasileiros Miriam Vieira, de Medicilândia, no Pará, e Luciano Ramos, de Ilhéus, na Bahia, ganharam em outubro passado medalhas de ouro no Cacao of Excellence Awards – a avaliação baseada na nova publicação e que traz, entre outros parâmetros analíticos, uma roda de sabores do fruto.

Com o crescimento do consumo mundial de chocolate e diante das críticas quanto à qualidade da indústria, a necessidade de avaliar o cacau de excelência – ou fino – tornou-se o objetivo de várias entidades e organizações mundiais.

“Há cada vez mais pessoas interessadas no cacau especial, assim como aconteceu com o café trinta anos atrás”, compara Julien Simonis, gerente de programa da plataforma Cacao of Excellence, liderada pela Alliance of Bioversity International e pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT). “Então, montamos um comitê com especialistas de todo o mundo para desenvolvermos uma linguagem comum para comunicar os sabores e gostos do cacau”, conta ele, referindo-se à publicação de 216 páginas e que pode ser acessada gratuitamente no site da Cacao of Excellence.

Além da sistematização da roda de sabores do cacau, a obra traz informações técnicas que vão da análise física das amêndoas e seu processamento até a avaliação sensorial de amêndoas não torradas, da massa de cacau e do chocolate amargo. Instruções de como armazenar o fruto amazônico, de quais instrumentos e equipamentos utilizar para torra, além de um formulário de avaliação das amostras completam o guia, disponibilizado na plataforma em inglês, espanhol, francês e italiano.

Foram necessários 12 anos de provas sensoriais para desenvolver a roda de sabores, fruto da experiência nas análises de amostras de cacau de todo o universo produtor para a Cacao of Excellence Awards, uma das mais importantes competições de amêndoas de cacau do mundo.

Para a avaliação, os atributos de sabor foram divididos em três grupos. Os atributos principais são características esperadas na amêndoa e que incluem acidez, amargor, adstringência e grau de torra. Os sabores complementares são os que podem ou não ser percebidos nas amostras de cacau. Há descritivos como sabores de frutas frescas, vegetal, floral, amadeirado, de especiarias, amendoado e caramelo, além de doçura – este último, só para o chocolate amargo; e os off-flavours, que resultam de defeitos que podem ou não ser notados nas amêndoas.

Não que a roda de sabores fosse inédita no mercado cacaueiro até então. “Empresas, cooperativas e produtores usam seus métodos de análise sensorial. Mas se duas pessoas diferentes falam que o cacau é frutado, por exemplo, não dá para garantir que se trata do mesmo sabor. E isso é um grande problema”, analisa Simonis, que espera que a nova roda seja, em breve, adotada como parâmetro de sabores oficial no mercado. “Não é todo mundo que quer usar a roda, mas se quiser se comunicar de forma ‘universal’,
precisará dela”, analisa.

Os critérios aplicados à nova roda de sabores do cacau se assemelham aos do café, mas a análise sensorial tem suas particularidades. “Quando você prova o cacau, é 100% puro, não é igual ao café, que é diluído”, relata Simonis. “Então levamos muito mais tempo para analisar as amostras, que vão da amêndoa até o chocolate amargo.”

O longo tempo de reflexão e concentração fazem parte da rotina dos avaliadores do Cacao of Excellence Awards, que, na última edição, em 2023, recebeu 222 amostras de amêndoas de 52 regiões de origem, divididas entre África e Oceano Índico, Ásia e Pacífico, América Central e Caribe e América do Sul. “Primeiro, fazemos a massa de cacau e escolhemos as 50 mais bem pontuadas para elaborarmos o chocolate amargo e a avaliação final de cada amostra”, explica ele sobre a dinâmica do concurso às cegas, ou seja, sem que se conheça a origem e o produtor.

O Brasil tem direito a enviar sete amostras, selecionadas de acordo com as competições nacionais. Isso porque o número de vagas é determinado pelo volume de produção de cacau no mundo. Já os líderes Gana e Costa do Marfim, na África, têm presença maior no Cacao of Excellence Awards. Mas, se nos últimos três concursos, um país conquistar mais medalhas de ouro, pode levar mais amostras na competição seguinte (o concurso é anual). “Assim, vemos que há um aumento na qualidade do cacau e queremos encorajar os produtores locais”, diz Simonis.

É ouro

Se considerar a edição de 2023, o Brasil pode comemorar, pois foi o melhor resultado já alcançado pelo país na premiação. Três pequenos agricultores familiares foram condecorados: Miriam Federicci Vieira, do Sítio Alvorada, em Medicilândia (PA), com um forastero da cultivar alvorada 01, e Luciano Ramos, da Fazenda São Sebastião, de Ilhéus (BA), com um trinitário da cultivar BN 34, ganharam a medalha de ouro; e Robson Brogni, Sítio Ascurra, também de Medicilândia (PA), conquistou a prata com o híbrido
blend MA 15.

“Nunca havíamos ouvido falar do concurso, foi um amigo que nos incentivou, mas estávamos desconfiados”, revela Miriam que, com seu esposo Leomar, cuida de 10 mil pés de cacau na cidade paraense, reconhecida pelo cultivo de qualidade. Depois de ser premiada com a medalha de prata por dois anos seguidos – em 2022 e 2023, com seus Alvorada 1 e Alvorada 3, respectivamente – no Concurso Nacional de Cacau Especial – Sustentabilidade e Qualidade, a dupla foi surpreendida com o ouro no campeonato mundial. “Hoje já estamos sendo procurados por empresas no Brasil e no exterior”, revela Miriam, que possui somente 500 pés do cacau alvorada 1, que rendem cerca de 300 kg de amêndoas secas e fermentadas. “Para dar uma qualidade muito boa ao chocolate, o cacau tem que ser fermentado. E precisa ser colhido bem maduro”, ensina a produtora.

Para os avaliadores do concurso brasileiro, entre as principaiscaracter ísticas encontradas no alvorada 1 estão a acidez frutada, com frutas cítricas, amarelas e tropicais; ao lado de notas florais, vegetais, de tabaco e nozes discretas; amargor e adstringência (que, no cacau, são atributos positivos) somam-se a uma agradável e longa finalização de caramelo, além de mel e sabores florais no retrogosto.

Já o cacau de Luciano Ramos foi descrito como um chocolate único, suave e cremoso, com notas florais, toque de acidez e combinação de frutas frescas e browned fruits. Na boca, traz ervas e notas lenhosas, com leve doçura, amargor equilibrado e uma adstringência persistente. “O cacau brasileiro tem um futuro grandioso, que vai superar seu passado glorioso”, acredita Ramos, que tem sua vida marcada pela vassoura-de-bruxa no sítio que foi do pai, em Ilhéus, e pela perseverança em retomar o cultivo na região. “Reiniciei o plantio pensando em melhoramento genético”, relembra o agrônomo, que escolheu a variedade BN34 pela “resistência fabulosa” à praga, que assolou a produção cacaueira no Brasil em 1989. “Até os anos 2000, diziam que o Brasil só produzia cacau commodity, mas de lá pra cá tivemos muitos cacaus premiados. Estamos quebrando esse paradigma”, conclui.

O único ponto importante e que não mereceu, ainda, consideração na avaliação do Cacao of Excellence é a sustentabilidade. Saber como o cacau é produzido e qual o impacto socioambiental de seu cultivo causa preocupações nos dias de hoje. “Estamos discutindo amplamente como acrescentar [a sustentabilidade na avaliação], pois essa não é a nossa expertise, mas, sim, qualidade e sabor”, alerta Simonis. “Mas sabemos que, de alguma forma, ela será incluída”, promete. Quando isso acontecer, o Brasil terá todo o potencial para carregar mais medalhas para casa.

Crise na produção mundial de cacau

O mercado cacaueiro tem chamado a atenção com as recentes quedas de produção em Gana e Costa do
Marfim – países que, juntos, são responsáveis por cerca de dois terços do cacau comercializado no mundo. Ambos têm sofrido com questões climáticas e de doenças nas plantas, e a escassez do fruto fez com que seu valor aumentasse globalmente.

A notícia pode até parecer boa para o Brasil, mas não necessariamente para o cacau fino, já que os altos
preços da commodity afugentam investimentos e geram custo maior para se ter amêndoa de valor agregado. “Agora ninguém está querendo pagar caro”, comenta Miriam, do Sítio Alvorada.

Simonis acredita que há uma desconexão entre produto e preço pela especulação financeira e que os preços tendem a baixar, mas sem prever quando. “É uma situação muito perigosa, porque não há incentivo para produzir alta qualidade, já que o produtor ganhará bem por qualquer que seja o cacau”, diz.

Cacau em números

Segundo a International Cocoa Organization (ICCO), a produção mundial de amêndoas de cacau em 2023 foi de 4,449 milhões de toneladas, uma queda em relação a 2022, que foi de 4,996 milhões de toneladas. O Brasil, que ocupa a sétima posição no ranking, é responsável por 220 mil toneladas, e se manteve estável nos últimos anos. O Pará é o maior produtor nacional – foram produzidas 149.396 toneladas de amêndoas em 2023, de acordo com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

Texto originalmente publicado na edição #84 (junho, julho e agosto de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Beatriz Marques • ILUSTRAÇÃO Pamella Moreno

Mercado

UE propõe adiar novas regras de desmatamento após pressão de governos e agricultores

O período adicional de 12 meses serve como fase de transição para garantir a eficácia de implementação da lei

A União Europeia sugeriu, nesta quarta-feira, postergar em um ano a implementação de novas regulamentações que proibiriam a comercialização de produtos ligados ao desmatamento, após receber críticas de diversos governos, que alegam que a medida pode prejudicar o comércio e impactar negativamente os pequenos agricultores.

A Comissão Europeia, órgão executivo da UE, indicou que a nova legislação poderá ser aplicada a partir de 30 de dezembro de 2025 para grandes empresas e de 30 de junho de 2026 para micro e pequenas empresas, caso os 27 países membros e o Parlamento Europeu aprovem a proposta.

A regulamentação abrange uma gama ampla de produtos, incluindo cacau, café, soja, gado, óleo de palma, borracha, madeira e derivados. 

Os críticos afirmam que a medida pode ser prejudicial para países com vastos recursos florestais, comprometendo suas exportações. Já os defensores argumentam que a regulamentação é essencial para proteger as florestas globalmente, uma vez que o desmatamento é a segunda maior fonte de emissões de carbono, ficando atrás apenas dos combustíveis fósseis.

Ao propor o adiamento de um ano, a Comissão Europeia justificou a decisão citando as preocupações de vários parceiros internacionais sobre sua capacidade de adaptação, destacadas recentemente durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York.

A Comissão também sugeriu que o período adicional de 12 meses funcionaria como uma fase de transição para garantir que a implementação da lei seja realizada de forma eficaz, dado que as ferramentas técnicas já estão prontas. A medida depende agora da aprovação do Parlamento Europeu e do Conselho.

TEXTO Redação / Fonte: Associated Press