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Tecnologia e conhecimento num grão de café
O café é, sem dúvida, uma das bebidas mais populares em todo o mundo. Mas você já parou para pensar em toda a ciência e tecnologia envolvidas em um simples grão de café? Não é apenas por trás de smartphones ou carros elétricos que encontramos tecnologia de ponta. Se, de um lado, desenvolvemos semicondutores, velocidade de processamento ou autonomia de bateria, no café, investimos em melhoramento genético, agricultura de precisão, monitoramento do clima, processos de pós-colheita e rastreabilidade.
A planta café, que teve sua origem na Etiópia há milênios, chegou ao Brasil na terceira década do século XVIII. Hoje, se somos o maior produtor, maior exportador e protagonista em qualidade e sustentabilidade do grão, devemos estas conquistas ao investimento robusto em ciência e pesquisa nos últimos 50 anos, aliado a uma vontade inquebrantável de fazer o melhor possível e de sermos personagens fundamentais dessa história.
Marcos importantes na história do café brasileiro foram a fundação do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em 1887, e o trabalho com café da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a partir de 1998, com a formação do Consórcio Pesquisa Café. O IAC, além de promover pesquisas e estudos de diferentes culturas, também foi responsável pela criação de cultivares de café mais produtivas e resistentes a pragas e doenças como, por exemplo, o catuaí amarelo IAC 62, décadas atrás, que se tornou uma das principais no Brasil. Já a Embrapa, que atua no desenvolvimento de tecnologia de cultivo e processamento, além de capacitar produtores, tornou nossas lavouras mais produtivas e competitivas nos mercados nacional e internacional.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Consórcio Pesquisa Café, em 1990, a produtividade média do grão brasileiro era de 8 sacas por hectare. Em 2022, esse número saltou para 28 sacas por hectare, representando um aumento de 250% (há regiões em que a produtividade chega a mais de 50 sacas por hectare). Esse crescimento também é evidente quando se verifica a produção total de cafés no país. Em 1990, o Brasil produziu cerca de 19 milhões de sacas em uma área de 2,4 milhões de hectares, enquanto em 2022 foram 51 milhões de sacas em uma área de 1,87 milhões de hectares, um aumento de 150%. Por fim, em 2022, o Brasil foi responsável por cerca de 30% das exportações mundiais do grão, o que gerou uma receita de quase US$ 9,23 bilhões, conforme dados do Conselho dos Exportadores do Café do Brasil (Cecafé).
Em termos de sustentabilidade, o Brasil também vem apresentando avanços significativos na cafeicultura. Somos um dos líderes na implementação de práticas sustentáveis, como o uso de sistemas agroflorestais, que promovem a diversificação de culturas e a proteção do meio ambiente. A adoção de tecnologias de baixa emissão de carbono, como a utilização de resíduos da colheita como fonte de energia, também tem sido uma realidade nas lavouras nacionais.
Além disso, o Brasil desponta como o principal fornecedor global de cafés sustentáveis, com 33% do volume comercializado neste setor (em 2021, segundo o Cecafé, o total de cafés sustentáveis somou 1,6 milhão de toneladas). O país, por fim, tornou-se referência na produção de grãos de qualidade, com um crescimento expressivo na exportação de especiais – cafés com pontuação superior a 80 pontos (num total de 100) na escala da Associação de Cafés Especiais (SCA). Em 1990, exportamos apenas 483 mil sacas de cafés especiais, mas em 2022 esse número alcançou 10 milhões de sacas – um aumento de mais de 1.970%.
Esses avanços têm contribuído não apenas para o aumento da produção e da qualidade da bebida mas, também, para a preservação do meio ambiente e o incremento das condições socioeconômicas dos cafeicultores nacionais. Dessa forma, o país consolida-se como um dos principais protagonistas do mercado global de cafés, sustentável e de alta qualidade.
Para os cafés do Brasil, continua valendo a máxima: “colhemos o que plantamos” – com muita tecnologia e pesquisa.
Caio Alonso Fontes é formado em administração de empresas e é cofundador da Espresso&CO. Coluna publicada na Espresso #83 (março, abril e maio de 2024).