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Poços de Caldas realiza 1ª Festa do Café com concursos de qualidade e terroir

Evento é palco das premiações do 18º Concurso de Qualidade dos Cafés de Poços de Caldas e do 5º Concurso do Terroir da Região Vulcânica

Nos dias 18 e 19 de outubro acontece a primeira edição da Festa do Café de Poços de Caldas, um evento que celebra a tradição e a força da cafeicultura local. Entre os destaques da programação estão as premiações do 18º Concurso de Qualidade dos Cafés de Poços de Caldas e do 5º Concurso do Terroir da Região Vulcânica, que reúnem produtores e especialistas para reconhecer os melhores cafés da safra 2025 na região.

“Esperamos que o evento consolide todo o trabalho dos produtores, das prefeituras e dos parceiros para que a gente possa valorizar a cafeicultura de Poços de Caldas e região”, destaca Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Café da Região Vulcânica. “A região vem crescendo muito e tem se desenvolvido, tanto na produção quanto no desenvolvimento de marcas e atendimento em cafeterias. Vivemos um momento muito importante e essa festa vem para coroar e consolidar todo esse trabalho”, conclui.

Quanto aos concursos, Ferreira cita o salto de qualidade e quantidade dos cafés, pois as edições deste ano receberam quase o dobro de amostras em relação ao ano passado. “Ficamos muito satisfeitos com a qualidade dos cafés campeões que serão anunciados no sábado, tanto no Concurso de Poços de Caldas quanto no da Região Vulcânica. Batemos recorde em pontuações, com cafés atingindo mais de 90 pontos”, detalha.

A programação do evento inclui ainda exposição de marcas, produtos e maquinários, degustações, workshops, leilões dos melhores cafés, atrações gastronômicas e apresentações culturais.

1ª Festa do Café de Poços de Caldas
Quando: 18 e 19 de novembro
Onde: Alameda Poços (ao lado do teleférico)
Mais informações: www.instagram.com/festadocafe_pocos_de_caldas/
Quanto: grátis

TEXTO Redação

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SIC 2025 traz debates sobre inovação e sustentabilidade nos espaços DNA Café e Fórum Sustentável

Um dos paineis do Fórum da Cafeicultura Sustentável na SIC 2024 – Foto: Nitro/SIC

No coração da Semana Internacional do Café, o Simpósio DNA Café e o Fórum da Cafeicultura Sustentável prometem ser o epicentro das ideias que estão moldando o futuro do setor. Com o tema “Café em transformação: inovação, sustentabilidade e oferta do mercado global”, o evento, que acontece de 5 a 7 de novembro em Belo Horizonte, inaugura nesta edição a Arena SIC — um espaço aberto e integrado aos expositores, criado para aproximar marcas, produtores e profissionais dos grandes debates da cafeicultura.

A programação do Simpósio DNA Café, no primeiro dia, começa às 13h com o painel “Brasil e COP 30: mudanças climáticas, sustentabilidade e protagonismo global”, discutido pelos especialistas Marcos Matos (Cecafé), Fabrício Andrade (CNA) e Natalia Carr (Cooxupé). Em seguida, às 14h, o palco recebe Pavel Cardoso (Abic), Aguinaldo Lima (Abics) e Flavia Barbosa (Exportadora Guaxupé) para comentarem o “Mercado global em transformação: dinâmicas e caminhos”. 

O dia segue com o painel “Capital verde & ESG: uma oportunidade para o mercado de café”, às 15h30, com Felipe Vignoli (Nature Investment Lab), Daniel Baeta (Luxor Agro) e Luisa Lembi (BDMG). Às 16h30, a Arena SIC traz o debate “Agricultura 5.0: integração inteligente de tecnologias, dados e sustentabilidade”. O dia na Arena termina às 18h, com “O DNA do café do futuro: como a genética molda a cafeicultura”, que conta com a participação de Fabiano Tristão (Incaper), Eveline Caixeta (Embrapa), Gladyston Carvalho (Epamig) e Sergio Parreira (IAC).

No dia 6, a Arena SIC recebe a programação do tradicional Fórum da Cafeicultura Sustentável, criado em 2014, e que abre o dia com discussão sobre “Transição para uma cafeicultura regenerativa: custos para o produtor, viabilidade e balanço de carbono”, às 11h, com Eduardo Sampaio (GCP), Bruno Ribeiro (JDE), Victor Monseff (Ribersolo), Gabriel Dedini (Solidaridad) e Vinícius Figueiredo (GCP). Depois, às 12h, Thiago Machado (Ocemg), José Fidelis (Ocemg), Valdean Teófilo (Coocafé), Mariana Velloso (Expocacer) e Jacques Fagundes (Cocatrel) debatem o tema “Da terra à transformação: o valor ESG das cooperativas do café”.

Às 14h30, Luc Villain (Cirad), Daniel Frobel (Fazenda Mata do Lobo) e Jorge Pereira Souza (do Sítio Raízes da Floresta, no Acre) conversam sobre “Café e bioeconomia: novos caminhos para gerar valor com sustentabilidade”. Já o papo em torno do tema “Café carbono neutro: práticas, métricas e mercado” acontece às 15h45, seguido do tema “Gestão no campo: decisão com dados, ação com propósito”, marcado para às 17h. O painel “Gestão hídrica e energias renováveis na fazenda” encerra o dia, trazendo a experiência de Fabiane Carvalho (Consórcio Cerrado das Águas) e de Lucas Venturim (Fazenda Venturim). 

A Semana Internacional do Café 2025 é realizada por Espresso&CO, Sistema Faemg/Senar, Governo do Estado de Minas Gerais e Sebrae, e conta com apoio institucional do Sistema Ocemg, patrocínio oficial de Codemge e Governo do Estado de Minas Gerais, patrocínio diamante de 3corações Rituais, patrocínio ouro de Anysort e Sicoob e patrocínio bronze de Yara. Apoiam o evento Abic, Abrasel, IWCA Brasil, BSCA, Cecafé, Governo Federal, Sindicafé-MG e Banco do Brasil. O CaféPoint é a mídia oficial da SIC.

Semana Internacional do Café 2025
Quando: 5 a 7 de novembro
Onde: Expominas – Belo Horizonte (MG)
Mais informações e credenciamento: www.semanainternacionaldocafe.com.br 

TEXTO Redação

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São Paulo ganha nova indicação geográfica de café

A IP Café Arábica da Nova Alta Paulista abrange 23 municípios e consolida o estado como polo de origens reconhecidas no país

O estado de São Paulo acaba de conquistar mais uma certificação de origem para o café – a Indicação de Procedência Café Arábica da Nova Alta Paulista, concedida nesta terça (7). 

A região da Nova Alta Paulista, localizada no extremo norte do estado, é formada por 30 municípios, dos quais 23 fazem parte da delimitação oficial da IG e agregam cerca de 1,2 mil produtores, segundo dados do Sebrae.

Com essa nova concessão, a Nova Alta Paulista torna-se a 19ª indicação geográfica de cafés brasileiros. A nova IP representa o último capítulo da expansão cafeeira que moldou o território e a economia do estado. Colonizada a partir do avanço das frentes agrícolas rumo ao interior, a região nasceu e prosperou com o café. Em sua tese Nova Alta Paulista, 1930–2006: entre memórias e sonhos, Izabel Castanha Gil afirma que a Nova Alta Paulista destacou-se como uma das principais regiões cafeeiras do estado nas décadas de 1950 e 1960. “O cultivo do café foi responsável por impulsionar o desenvolvimento econômico e populacional, estruturando a base agrícola e urbana de diversos municípios que se formaram a partir dessa atividade”, escreve a geógrafa.

Conheça os municípios da IP Nova Alta Paulista

Adamantina, Arco-Íris, Dracena, Flórida Paulista, Herculândia, Iacri, Inúbia Paulista, Irapuru, Junqueirópolis, Lucélia, Mariápolis, Monte Castelo, Nova Guataporanga, Osvaldo Cruz, Ouro Verde, Pacaembu, Parapuã, Rinópolis, Sagres, Salmourão, São João do Pau d’Alho, Tupã e Tupi Paulista.

TEXTO Redação

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A revolução dos robustas amazônicos

De lavouras arcaicas a grãos premiados, Rondônia vira vitrine de sustentabilidade em cafés na Amazônia

Por Cristiana Couto, de Rondônia

Quando a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) abrir as discussões em Belém, em novembro, cientistas e cafeicultores de Rondônia estarão preparados para apresentar como o café do estado é um exemplo de cultivo sustentável e regenerativo em plena floresta amazônica.

Na AgriZone – espaço montado pela Embrapa Amazônia Oriental e parceiros para apresentar tecnologias desenvolvidas pela instituição para a agropecuária brasileira –, uma vitrine com 3 mil mudas de café, além de palestras, vídeos e degustação vão jogar luz sobre a revolução protagonizada pelos robustas amazônicos.

Definido como mudança profunda, acelerada e às vezes radical, o termo revolução, aqui, não é exagero. Em 15 anos, uma cultura extrativista e com preço definido pela contagem de defeitos tornou-se altamente produtiva, 100% rastreável e sensorialmente atrativa. “Para a COP30, levaremos resiliência climática por meio da genética e agregação de valor por meio da qualidade e da sustentabilidade”, resume o engenheiro agrônomo Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e pioneiro na transformação da qualidade dos robustas amazônicos.

Pesquisas e dados estatísticos da denominação de origem Matas de Rondônia – primeira DO de canéforas sustentáveis do mundo, com dez mil das 17 mil famílias cafeicultoras do estado e responsável por mais de 80% de sua produção – baseiam as afirmações.

Em maio, um dos estudos do projeto CarbCafé, criado em 2023 pela Embrapa em parceria com o Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil), a Caferon (atual Associação dos Cafeicultores da Amazônia Legal) e a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), demonstrou que os cafezais da denominação sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem, removendo quase 4 toneladas de CO2 da atmosfera por ano.

Foto: Maria Eloiza

A produtividade também impressiona: em 2011 eram 9 sacas por hectare; em 2025, a estimativa é de 54,8, a maior do país. Nas Matas de Rondônia, chega a 68,5 sacas, segundo o CarbCafé. O salto de mais de 500% ocorreu mesmo com a redução de mais de 80% da área cultivada desde 2001, quando atingiu 318 mil hectares.

Mas o estudo mais contundente – especialmente diante da exigência do EUDR – é o que comprova que não há relação entre a cafeicultura e a degradação recente da floresta em Rondônia. Publicado em 2024, ele mapeou 100% das fazendas das Matas de Rondônia com imagens de satélite (entre 2020 e 2023) e mostrou desmatamento zero em sete dos 15 municípios da DO. No total, o café ocupa apenas 0,8% do território (34,4 mil ha), contra 46% de pastagens e 52% de florestas preservadas, mais da metade em terras indígenas. “Quando as pessoas olham para lavouras em Minas e Espírito Santo, não pensam que já foram florestas. Na Amazônia, essa é sempre a primeira impressão”, observa o pesquisador.

“Não dá para produzir café na Amazônia sem comprovação científica, senão viramos alvo fácil de narrativas”, alerta Juan Travain, presidente da Caferon, que após exportar para a Coreia do Sul enfrentou questionamentos na internet sobre desmatamento.

Juan Travain, presidente da Caferon – Foto: Divulgação

A revolução do café em Rondônia combina ciência, tecnologia e sustentabilidade. Introduzida nos anos 1970 por migrantes do Espírito Santo, Paraná e Minas, em movimento incentivado pelo governo militar, a cultura ultrapassou 300 mil hectares, mas perdeu espaço para pastagens nos anos 2000 com a queda de preços e produtividade. A retomada ocorreu entre 2010 e 2020, com melhoramento genético, propagação clonal, irrigação e manejo preciso, e se fortaleceu recentemente com semimecanização da colheita e processamentos fermentativos.

Com produtividade e qualidade consolidadas, cresce o investimento dos cafeicultores em sustentabilidade. Uso racional da água, sistemas agroflorestais, bioinsumos, drones e recuperação de áreas degradadas já são práticas comuns em Cacoal, município referência em qualidade e conhecido como capital do café em Rondônia. “Quando, por meio da inovação, conseguimos gerir melhor os recursos naturais, isso é sustentável”, resume Travain, parceiro de pesquisas.

Fertirrigação e biofábrica

Na aterrissagem em Cacoal já se avistam os cafezais da Selva Café. A fazenda, que abriga parque aquático, hotel e indústria de laticínios, reserva 220 hectares ao café. Nas Matas de Rondônia, a irrigação deixou de ser auxiliar e virou base da produção: 97,2% das propriedades da região são irrigadas, segundo Alves.

Café em área regenerada, no Selva Café – Foto: Divulgação

Para preservar a água, Travain adotou a nutrirrigação, que injeta adubo de forma automatizada e em doses programadas conforme a necessidade da planta. O sistema tem sensores de umidade do solo, qualidade da água e equilíbrio nutricional da planta, com monitoramento em tempo real. “Com ele, fazemos 120 adubações anuais”, explica o cafeicultor, sócio de três irmãos e um amigo e hoje referência em tecnologia na região. Entre as vantagens estão uso eficiente de água e fertilizantes, melhor aproveitamento das raízes superficiais, corte de custos e ganho em produtividade: economia de 30% em adubo, até 50% em água e previsão de uma média de 140 sacas por hectare em 2025, contra 104 no ano anterior, quando uma das lavouras ainda não estava 100% sob o sistema.

As práticas se somam à instalação de tanques para captação de chuva, uma biofábrica e uma usina de compostagem. Na biofábrica, são produzidos os fungos trichoderma – aplicado por irrigação ou drone contra fusariose – e beauveria, alternativa biológica a defensivos químicos. Produzidos na própria fazenda, chegam ao campo no auge da reprodução, o que garante mais eficiência. Já na usina, resíduos como rúmen, pó de serra, cama de frango e palha de café se transformam em compostos para recuperar solos degradados: hoje, 100% da área da Selva Café está restaurada.

A cafeicultura é considerada estratégica para recuperar áreas degradadas por pastagens nas Matas de Rondônia, que somam 1,88 milhão de hectares. Segundo Alves, considerando a média de sacas produzida por hectare no estado, se apenas 25% dessa área fosse convertida em lavouras, a produção passaria de 25 milhões de sacas – volume próximo ao do Vietnã, líder mundial na produção de canéforas.

Recomposição agroflorestal

Quando os pais cogitaram vender a propriedade em Novo Horizonte D’Oeste, Geanderson Gambarte, então com 23 anos, largou o emprego em Goiás e voltou para casa. Em poucos anos, a área de café saltou de 3 para 9 hectares e a produtividade mais que dobrou, de 50 para 125 sacas por hectare. A virada veio com manejo sustentável e tecnologia. “Em 2021, Poliana Perrut nos apresentou os cafés especiais. Nem sabíamos o que era isso, mas a produção estava doente”, lembra. A consultora, que também é cafeicultora, viveirista e uma das lideranças em café da região, ajudou a equilibrar a lavoura. “O uso consciente dos produtos e equipamentos é fundamental”, ensina Poliana. Hoje, a família produz microlotes premiados que já alcançaram 92 pontos.

Geanderson Gambarte

O drone substituiu o atomizador costal e reduziu tempo, mão de obra e aplicação de químicos. “Antes gastava sete dias para pulverizar, hoje em quatro horas o drone faz o mesmo serviço”, diz Gambarte. Com tensiômetro, o consumo de água e energia caiu pela metade: na seca, cada talhão passou de duas horas para uma hora de irrigação semanal. Toda a água da fertirrigação vem de um reservatório próprio.

A transformação inclui recomposição florestal, plantio de ipês entre os pés de café – criando microclima para o cafezal –, recuperação de nascentes, pastagens e criação de abelhas para polinização. “As árvores ocupam o espaçamento de apenas uma planta de café. Os cafés ficam mais à vontade, o solo perde menos umidade, e ainda há ganho paisagístico”, avalia o cafeicultor. O sítio agora se chama Recanto dos Ipês. Ao lado das placas solares que abastecem a propriedade, Geanderson ergue um armazém para processar a próxima safra e planeja reformar a casa dos pais, onde tudo começou.

Qualidade, natureza e família

Embora a área de café em Rondônia seja pequena, sua relevância econômica e social é enorme. Terceira maior economia do estado, a cultura deve gerar neste ano um VBP de R$ 5 bilhões. “O café garante renda e qualidade de vida em pequenas áreas. E, quando há qualidade de vida, o jovem permanece no campo”, afirma o pesquisador Enrique Alves.

Um estudo socioeconômico do CarbCafé mostra que a idade média do cafeicultor caiu de 53 para 47 anos em 15 anos, em um cenário em que 95,5% das propriedades são classificadas como familiares.

A história da família Da Luz, em Cacoal, é um retrato dessa renovação. Desde 1986, quando deixou o Espírito Santo, João da Luz investiu no conilon no sítio Coração de Mãe. Nos anos 2000, adotou plantas mais produtivas e, em 2019, passou a apostar nos robustas amazônicos e em cafés diferenciados, como os fermentados.

Família Da Luz – Foto: Maria Eloiza

A fermentação, adotada recentemente, ampliou a complexidade e a diversidade sensorial dos robustas – hoje, mais da metade dos lotes enviados a concursos passam pelo processo. “Em 2016 começamos os testes e vimos que a fermentação podia variar de 10 a 20 dias, mais do que no conilon e no arábica”, explica Alves. Em 2019, já havia 10% de cafés fermentados em Rondônia. “O robusta amazônico fermentado é uma identidade do nosso café”, afirma.

Os concursos impulsionaram a virada. Em 2022, Da Luz venceu o Concafé (Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café de Rondônia) e ficou em 2º lugar no Coffee of the Year, durante a Semana Internacional do Café. Em 2024, alcançou o 1o lugar nacional em torra no concurso da CNA. Os prêmios, que incluíram um trator e um torrador, e a chegada de equipamentos como secador de fogo indireto (via Caferon), tensiômetro e energia solar, elevaram a produção: hoje, 30% dos cafés da família são especiais e seguem para capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Velho e Brasília. “O café especial levou a gente a um lugar que nunca imaginamos”, reflete o cafeicultor.

Muito antes de a palavra sustentabilidade ganhar força, Da Luz já reflorestava nascentes. “Quando chegamos, não tinha água”, lembra ele, que a fornece aos vizinhos. A propriedade também abriga um meliponário, hoje cuidado pela filha e pelo genro, que voltaram à fazenda após o sucesso do negócio. “Cada passo é para unir qualidade, natureza e família”, diz ele, que mira 120 sacas por hectare, contra a média atual de 90 a 100. “Produtividade é fazer as coisas certas desde o começo. Meu pai sempre dizia: ‘cuide da terra mais do que de você, porque tudo depende dela’.”

Café na floresta

Para os Paiter Suruí, plantar café é também preservar a floresta – nas reservas indígenas de Matas de Rondônia, as áreas de floresta nativa primária alcançam 1,2 milhão de hectares.

Em 2024, na 6ª edição do concurso Tribos – projeto da 3corações em parceria com Embrapa e instituições como a Funai –, um microlote de Rafael Mopimop Suruí recebeu a inédita nota média de 95 pontos. Cultivado na aldeia Linha 9, na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, o café do cacique já havia figurado entre os melhores em edições anteriores. “Acho que é porque a gente não trabalha com químico”, diz ele, que faz colheita e seleção manual, além de fermentar os frutos, técnica introduzida pela 3corações.

Rafael Suruí – Foto: Enrique Alves

Hoje, todas as 28 famílias da aldeia cultivam café. Há cinco anos, a aldeia de Rafael criou uma cooperativa. Os Paiter Suruí têm três delas, que vendem 100% do café para a 3corações. Desde o lançamento em 2019, o Projeto Tribos comprou 520 mil quilos de café – uma média de 1,5 mil sacas por ano. “O café mudou nossa vida. Tem jovem que queria emprego na cidade e agora quer trabalhar com café especial na aldeia, para ser autônomo”, comemora Rafael, cujo sonho, agora, é poder conduzir todo o processo dos seus cafés.

Com o bloco na rua

Ganhar concursos é vitrine para qualquer produtor. No caso dos robustas amazônicos, eles integram a estratégia da Caferon para projetar a denominação de origem. “Quando o problema era ambiental, comprovamos que não havia desmatamento. Quando foi qualidade, mostramos com provadores que nossos cafés têm qualidade. Cada dificuldade a gente transformou em ativo”, resume Travain.

Em 2016, o governo do estado, em parceria com diversas instituições, criou o Concafé, primeiro concurso estadual de qualidade e sustentabilidade. No mesmo ano, a Caferon levou Rondônia à Semana Internacional do Café (SIC). “Levamos um café amazônico numa feira praticamente de arábicas, e as pessoas iam ao nosso estande com a expectativa de beber um café ruim”, lembra Alves. Desde então, o concurso já atraiu degustadores de diversos países e gerou negócios internacionais.

Outra frente de promoção foi levar cafés a embaixadas brasileiras, como a de Londres, em 2024. “Foi um evento disruptivo. Mostramos que o café da Amazônia é sustentável e de qualidade, e isso abriu caminho para novos negócios”, afirma o presidente da Caferon. Logo depois, uma rede de cafeterias em Londres destacou aqueles cafés em sua linha de produtos.

Foto: Maria Eloiza

A estratégia inclui ainda resolver gargalos logísticos. “Somos os primeiros a exportar café pela Amazônia Legal. Agora, estamos inaugurando a rota do porto em Lima”, destaca, referindo-se à Rodovia Interoceânica, corredor terrestre que leva o café de Rondônia ao Peru, e ao porto de Chancay, que encurta o transporte marítimo até a Ásia.

Hoje, os café das Matas de Rondônia são exportados para países como China, EUA, Rússia e Coreia do Sul. Nos últimos três anos, a exportação pulou de mil para mais de 500 mil sacas – mais de 20% de todo o café produzido no estado.

Na semana de apuração desta reportagem, onze torrefadores russos visitaram a região. A organizadora do grupo, Valentina Moksunova, da Hummingbird Coffee, decidiu apostar nos canéforas para fugir do clichê do café brasileiro associado apenas ao arábica. Em 2024, importou a primeira leva de robustas amazônicos. “Todo mundo compra do Sul de Minas, mas quis oferecer algo realmente único e novo. E, na Rússia, onde os consumidores comuns preferem cafés com menos acidez, os robustas amazônicos são a resposta: tem um sabor puro, que pode ser aceito por um público maior”, explica.

Turismo sustentável

Desde que venceu o Concafé em 2017, Ronaldo Bento, do Sítio Rio Limão, em Cacoal, passou a frequentar feiras e eventos em busca de mais qualidade e sustentabilidade para seus cafés e para Rondônia. “O estado era conhecido por ter o pior café. Eu disse: não, temos que mudar isso”, conta. No ano seguinte, levou os filhos: “São eles que vão seguir esse caminho novo”.

Em 12 hectares, cinco famílias do clã Bento dividem as tarefas da produção. Referência em qualidade e turismo rural sustentável, a propriedade recebe até 2,5 mil visitantes por mês, produz 800 sacas por safra e mantém torrefação própria, vendendo direto ao consumidor em cidades como Belém, Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro. “Nossa produção ainda é pouca para atender a esse mercado, que é muito grande”, avalia.

Cafezal do Sítio Rio Limão, da Fazenda Bento, em Cacoal – Foto: Heitor Delpupo

Parceiro da Embrapa em pesquisas, Ronaldo Bento adota o pacote tecnológico completo: fertirrigação guiada por análise de solo e folha, secadores de fogo indireto, fermentações controladas, energia solar e bioinsumos. O resultado é colheita com até 90% de frutos maduros. Áreas de pastagem e nascentes também foram recuperadas com o plantio de quase 300 árvores nativas, como castanheiras, ipês e açaí. “Hoje o tanque de água está reflorestado e as árvores já estão formadas”, diz.

Com a demanda crescente, a família passou a beneficiar e torrar café de outros produtores e prepara a expansão do negócio. “Das 50 sacas torradas da primeira safra, chegamos a mais de mil. A indústria ficou pequena, precisamos crescer para atender mais parceiros também”, comemora.

Proteção da fronteira e da floresta

Outros estados da Amazônia já olham para Rondônia como modelo. O Acre, com mil cafeicultores e mais de 80% da floresta preservada, vem investindo na transformação de sua cafeicultura, seguido por Roraima e Amazonas.

Para Enrique Alves, a história que esses cafés levam à COP30 traduz o princípio básico da sustentabilidade: “a necessidade das gerações atuais não pode se sobrepor à das gerações que virão”. Ele lembra que, se no passado a colonização tinha como foco proteger a fronteira, hoje o desafio é outro: proteger a floresta. Com a sustentabilidade no DNA da DO Matas de Rondônia e 10% de cafeicultores do estado trabalhando a qualidade dos cafés, Alves garante: “Não há produtor de robustas finos que não esteja comprometido a transformar o discurso da produção sustentável em boas práticas”.

Alves e Travain também torcem para apresentar novos resultados no evento, como o estudo do CarbCafé que compara o estoque de carbono no solo de florestas, pastagens e cafezais. “Hoje temos um arcabouço científico que ajuda a cafeicultura a evoluir”, diz Alves. A próxima etapa do projeto testa 64 clones, em parceria com os agricultores, para obter cultivares mais produtivas, adaptadas e com melhor perfil sensorial. “Estamos enviando grãos torrados para a Nigéria como exemplo do que pode ser feito com o robusta no lugar mais próximo de seu centro de origem”, acrescenta.

Texto originalmente publicado na edição #89 (setembro, outubro e novembro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

Cafezal

“O café é um exemplo concreto de porque devemos preservar a biodiversidade”, diz botânico inglês

O botânico inglês, Aaron Davis

Por Cristiana Couto

Santo Graal ou El Dorado? Não importa a metáfora sugerida para uma descoberta científica importante. No mundo do café, ambos os termos parecem descrever bem o trabalho incansável do botânico Aaron Davis, chefe de pesquisa em café no Royal Botanic Gardens, em Kew, Londres, e uma das maiores autoridades no mundo em espécies de café.

Com mais de duas décadas de estudos na área, que incluem a identificação e a classificação de espécies de café, além de estudos moleculares e outros que envolvem conservação de espécies e seu desenvolvimento sustentável, Davis vem colocando a importância das espécies selvagens na ordem do dia.

Ele já descreveu vinte espécies do grão e revisitou a taxonomia do gênero Coffea. Em 2018, tal qual um caçador da arca perdida (outra metáfora), Davis liderou um estudo coletivo que reidentificou a rara espécie C. stenophilla crescendo em florestas (ameaçadas) de Serra Leoa, na África Ocidental, onde foi historicamente cultivada há um século. “É uma espécie que quebra as regras, pois produz, em baixas altitudes, um café semelhante ao arábica e suporta períodos de seca mais longos do que os canéforas”, explica o botânico à Espresso.

Certo de que a biodiversidade do café é o caminho para a sobrevivência e evolução da indústria cafeeira diante das mudanças climáticas, Davis avança para além de publicações científicas e de depoimentos em grandes veículos midiáticos que buscam respostas para os desafios atuais do setor. “Em um momento em que o foco está voltado para a segurança alimentar e a superação de déficits de renda para os agricultores, é preocupante que as matérias-primas [cafés] para possíveis soluções estejam altamente ameaçadas de extinção”, escreveu ele, em artigo na Nature, publicado em 2022.

Por isso, entre seus projetos recentes está o trabalho conjunto com comunidades agrícolas de Serra Leoa para desenvolver o cultivo de C. stenopyilla, na esperança de que uma indústria nacional beneficie os produtores locais. Davis acredita que, em breve, esta e outras espécies, como liberica e excelsa, estejam no mercado como um produto de valor. A seguir, a entrevista com o botânico, feita por email.

Espresso: Você é amplamente reconhecido como um dos principais especialistas em taxonomia, conservação e resiliência climática das espécies de café. O que despertou seu interesse pelo café e como sua trajetória profissional nos Royal Botanic Gardens se desenrolou?

Aaron Davis: Meu interesse por café começou em 1996, quando eu era um pesquisador de pós-doutorado e estava investigando as espécies de café selvagens de Madagascar. Fiz parceria com o eminente botânico de Madagascar, Franck Rakotonasolo, e, ao longo de dez anos, viajamos extensivamente pelo país estudando as espécies de café em seus habitats naturais.

Foi um período de grande entusiasmo, principalmente porque havia muitas novas espécies interessantes a serem descritas. Descrevemos mais de 20 novas espécies, só de Madagascar. A partir daí, passei a estudar as espécies selvagens da África e da Ásia, trabalho que faço até hoje. Em 2010, comecei a me interessar e a me preocupar com o café e as mudanças climáticas. Desde 2018, meu trabalho tem se concentrado em usar espécies de café selvagens e pouco exploradas para desenvolver opções de cultivo resistentes ao clima para os produtores de café.

Davis coleta amostras selvagens em Madagascar

Como as mudanças climáticas estão afetando, de maneira específica, as espécies de café?

As mudanças climáticas estão afetando negativamente as espécies de café selvagens devido à perda de adequação climática para seu crescimento e sua reprodução, embora a principal ameaça à sua existência seja o desmatamento e a perda de habitats naturais. O cultivo de café está sendo impactado de várias maneiras, principalmente pelo aumento das temperaturas, além da duração, severidade e imprevisibilidade dos episódios de seca. Chuvas intensas e intempestivas também têm sido um grande problema.

Que medidas estão sendo propostas para mitigar esses efeitos?

Em termos de adaptação, os produtores estão modificando suas fazendas, onde isso é possível e acessível. Por exemplo, eles estão irrigando ou adicionando sombra aos cultivos, e alguns estão plantando outras variedades ou diferentes espécies de café (se disponíveis) ou, até mesmo, migrando do café para outras culturas. O café também está se deslocando geograficamente, com novas áreas de cultivo estabelecidas em regiões mais frescas e úmidas, principalmente em altitudes mais elevadas.

Seu trabalho destaca a importância das espécies de café selvagens para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Quais espécies têm potencial para serem cultivadas em climas mais quentes e secos?

Muitas espécies podem ser cultivadas com sucesso em temperaturas mais altas em comparação com arábica e canéfora, mas a maioria tem baixa produtividade – ou seja, não são aceitáveis para a maioria dos produtores – e produzem cafés que não seriam aceitos pela maioria dos consumidores. Atualmente, estamos focando principalmente em três espécies: excelsa, liberica e stenophylla, mas também estamos pesquisando várias outras. Sabemos que excelsa e liberica podem performar bem ao longo da cadeia de valor, especialmente a excelsa.

Você frequentemente menciona que o mercado de cafés precisa se adaptar a novas espécies e práticas agrícolas. Quais são os maiores desafios que os produtores enfrentam ao adotar espécies menos conhecidas com potencial de cultivo?

Um dos principais desafios é o acesso ao material – sementes ou mudas – para o plantio. Há também o custo de aquisição do novo material e a necessidade de atender aos participantes da cadeia de valor já estabelecida. Além disso, enfrentamos o desafio de que algumas dessas espécies alternativas não são reconhecidas pelo mercado relacionado a commodities, e não existem ainda protocolos específicos de classificação e degustação.

Você crê que as variedades selvagens de arábica e canéfora são cruciais no contexto desafiador do aquecimento global?

Eu diria o oposto. Elas são úteis para melhorar a resistência a doenças, aumentar a produtividade, melhorar o sabor e desenvolver a diversidade sensorial do café, mas não para desenvolver potencial de resiliência climática.

Porque a conservação de espécies selvagens de café é importante e quais tipos de conservação existem hoje?

É bem simples: a conservação é importante para a sustentabilidade na cafeicultura porque esses são os recursos para o desenvolvimento de novas variedades de café. Na Etiópia, existem reservas florestais dedicadas a conservar a diversidade genética do café arábica, como as Reservas da Biosfera de Yayu e Kafa. Populações de outras espécies selvagens estão em áreas protegidas, como parques nacionais. Há, também, coleções de germoplasma de café selvagem, que contêm uma gama limitada de espécies de café, mas a manutenção desses bancos de genes é difícil e cara. Com pelo menos 60% das espécies de café ameaçadas de extinção, as medidas para proteger as espécies de café são, atualmente, extremamente inadequadas.

Quais são as principais razões para a taxa de risco de extinção de cafés (60%) ser tão alta em comparação a outras culturas?

Uma das principais razões é que muitas espécies de café têm populações pequenas e áreas de distribuição restritas. Algumas espécies estão confinadas a uma única floresta ou trecho de floresta, por exemplo.

As espécies são geralmente difíceis, caras e arriscadas de conservar fora dos bancos de germoplasma ativos. Por quê?

Mesmo que populações de café selvagem existam em áreas protegidas, elas ainda estão em risco. Invasões para cultivo e habitação, extração de madeira e gestão inadequada são problemas comuns enfrentados pelas áreas protegidas no mundo. Cuidar dessas áreas protegidas tem um custo alto. Basta observar os problemas manifestados na COP16 [Davis refere-se à conferência de biodiversidade da ONU, em 2 de novembro em Cali, Colômbia, em que houve pouca evolução em acordos sobre biodiversidade, como a implementação do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, com apenas 22% dos países envolvidos apresentando novos planos devido a limitações de tempo e financiamento].

Sobre o alto risco de extinção das espécies selvagens, quais delas devem ser priorizadas para conservação e desenvolvimento de cultivo?

Idealmente, seria bom conservar todas as espécies. Se a prioridade for para o desenvolvimento de cultivos, seriam os dois grupos, dos três que classificamos, chamados grupos de prioridade 1 e de prioridade 2 que, basicamente, englobam todas as espécies africanas [O grupo de prioridade 1 é composto pelas espécies arábica, canéfora, liberica e eugenioides, e inclui suas variantes cultivadas e selvagens. O segundo grupo prioritário tem 38 espécies, e inclui todas as outras espécies africanas].

No Brasil, há um crescente reconhecimento da importância de revisitar cafés “esquecidos” em bancos de germoplasma ativos. Como isso está acontecendo globalmente?

Coleções de germoplasma ao redor do mundo, hoje em dia, estão examinando quais espécies suas coleções contêm, além de arábica e robusta. No Royal Botanic Gardens, em Kew, estamos avançando em estratégias, ações, recursos e tecnologia para identificar qualquer uma das 132 espécies de café existentes e, em alguns casos, suas origens selvagens, o que seria um empreendimento essencial para as coleções de germoplasma.

Você mencionou um renovado interesse pela espécie liberica em toda a indústria do café. Por que essa espécie em particular?

Primeiramente, é preciso esclarecer, inclusive historicamente, que o termo liberica inclui dois cafés distintos: o excelsa (Coffea liberica var. dewervrei, ou apenas C. dewevrei) e o liberica (Coffea liberica var.
liberica). Esses dois cafés são mais tolerantes ao calor e à seca do que arábicas e canéforas. A espécie excelsa está ganhando mais espaço do que os cafés liberica, por oferecer melhores retornos aos produtores e ter um sabor mais “semelhante ao café”. Em geral, as notas de cupping são mais altas para excelsa do que para liberica: com processamento cuidadoso, os cafés excelsa podem alcançar mais de 85 pontos. No entanto, alguns cafés liberica são excepcionais, sendo ideais para métodos de preparo em casa e para espressos (meu favorito).

Por que o café liberica, que teve relativo sucesso no final do século XIX, deixou de ser cultivado?

Por três razões. A primeira delas é porque o Brasil estava produzindo tanto café no início do século XX que a competição se tornou intensa para nações produtoras menores. A segunda, porque o café robusta era altamente produtivo e popular entre produtores e comerciantes, preenchendo e expandindo a fatia de mercado no início do século XX. Por fim, o liberica (var. liberica) é mais difícil de processar do que arábicas e robustas e menos rentável, devido às baixas taxas de conversão de frutos cereja para café beneficiado. Some-se a isso o fato de que o excelsa só ficou amplamente disponível no início ou meados do século XX, quando arábicas e robustas já haviam conquistado suas fatias de mercado.

Como esse interesse atual nos cafés liberica está sendo traduzido em ações?

Para excelsa, estamos constatando uma expansão considerável em Uganda e no Sudão do Sul, além de percebermos um interesse crescente no Vietnã, na Tailândia e na Indonésia. Para liberica, a expansão é claramente visível na Malásia (incluindo o estado de Sarawak), enquanto a produção na África foi reiniciada ou está aumentando em alguns países.

O botânico estudando arábicas selvagens no Sudão do Sul

Por que a espécie recém-identificada Coffea stenophylla é considerada uma alternativa para cultivo?

Coffea stenophylla é “a espécie que quebra as regras”, porque produz um café semelhante ao arábica em baixas altitudes (cerca de 400 m acima do nível do mar), onde as temperaturas são muito mais altas do que para o arábica (5 a 6,8 °C mais altas na média anual), e porque pode suportar períodos de seca mais longos do que os cafés canéfora. Essa espécie tem uma produtividade menor do que arábica ou canéfora, mas acreditamos que isso pode ser melhorado. Em duas ocasiões, provadores Q-graders me disseram que o C. stenophylla de Serra Leoa é indistinguível do arábica bourbon cultivado em alta altitude em Ruanda. Concordo totalmente. Na primeira degustação, achei que o café havia sido rotulado ou misturado incorretamente, mas em ambas as ocasiões não havia café de Ruanda na sala de prova.

Existem outras espécies que estão sendo cultivadas ativamente?

O café ibo (Coffea zanguebariae) e o racemosa (Coffea racemosa) são cultivados em Moçambique e na África do Sul. Essas espécies produzem um café de sabor similar, que pode ser excepcional, embora nem todos apreciem. Em muitos países, povos indígenas colhem e preparam espécies selvagens de café pouco conhecidas.

Essas espécies pouco exploradas poderiam criar novas oportunidades comerciais. Como você vê o futuro dessas espécies em termos de aceitação no mercado de cafés especiais?

Algumas pessoas irão gostar ou adorar, enquanto outras não. Com a excelsa, descobrimos que alguns consumidores habituais de café, e até mesmo aficionados por cafés especiais, acreditam que estão bebendo arábica, especialmente em cafés destinados a espressos. Acho que blendar espécies além de arábica com robusta se tornará popular. No Reino Unido, já existem blends de excelsa-arábica e excelsa-robusta no mercado.

Texto originalmente publicado na edição #86 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

CafezalMercado

Em 2025, SIC amplia possibilidade de negócios para os cafés brasileiros

Com ambiente profissional de networking e rodadas exclusivas de cupping, evento se consolida como uma plataforma global de negócios entre produtores e compradores 

Conhecida como espaço de conexão da cadeia cafeeira, a Semana Internacional do Café, que acontece entre 5 e 7 de novembro em Belo Horizonte, amplia a estratégia este ano com a criação de uma sala dedicada às Rodadas de Negócios, estruturada exclusivamente para gerar parcerias, contratos e novas oportunidades comerciais.

A iniciativa é voltada especialmente para produtores de cafés brasileiros que queiram apresentar seus lotes, dialogar diretamente com compradores nacionais e internacionais e ampliar sua inserção em diferentes mercados. Para participar, é necessário agendamento prévio.

A novidade está conectada aos projetos de convites a compradores internacionais para a SIC, ampliando o alcance dos produtores junto a players do mercado global. Ao mesmo tempo, fortalece o espaço para empreendedores nacionais ampliarem sua atuação, encontrarem novos canais e acessarem informações valiosas sobre tendências e exigências do mercado.

Paralelamente à Rodada de Negócios, a SIC 2025 consolida-se como vitrine dos grãos brasileiros com as tradicionais Salas de Cupping, onde produtores apresentam a safra atual, destacando  a diversidade e a qualidade do café no país.

Neste espaço, classificadores, compradores e torrefadores provam amostras selecionadas, estabelecendo padrões de qualidade e abrindo espaço para negócios que vão do mercado interno às exportações.

Nas Salas de Cupping também são apresentadas as 180 melhores amostras (arábica e canéfora) do Prêmio Coffee of the Year deste ano, oriundas de diferentes regiões brasileiras, o que permite que compradores nacionais e internacionais conheçam a diversidade de origens e perfis sensoriais dos cafés do país. 

Semana Internacional do Café
Quando: 5 a 7 de novembro
Onde: Expominas – Belo Horizonte (MG)
Credenciamento e mais informações: semanainternacionaldocafe.com.br 

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

Rainforest Alliance lança certificação de agricultura regenerativa para o café

Novo selo de agricultura regenerativa, que começará a aparecer em 2026, mede impacto sobre solo, biodiversidade e renda de cafeicultores no Brasil e em três outros países

A Rainforest Alliance anunciou nesta segunda-feira (9) o lançamento de sua nova certificação de agricultura regenerativa (AR), voltada inicialmente para a cafeicultura. O selo começará a aparecer nos produtos a partir de 2026 e já está sendo implementado em fazendas no Brasil, Costa Rica, México e Nicarágua. A organização prevê ainda expandir a certificação, no mesmo ano, para cacau, frutas cítricas e chá.

O objetivo é estimular produtores e empresas a restaurar ecossistemas em paisagens tropicais, em um momento crítico de mudanças climáticas e pressões socioeconômicas que afetam sobretudo pequenos agricultores — responsáveis por 70% do café produzido no mundo.

“É hora de fazermos a transição para um novo modelo de agricultura – em que cada xícara de café devolva mais do que retira da terra e das pessoas que se importam com ela”, afirmou o CEO da Rainforest Alliance, Santiago Gowland, em comunicado à imprensa.

A certificação foi desenvolvida ao longo de anos de pesquisas em conjunto com produtores e empresas. Estudos recentes mostram que práticas regenerativas podem elevar a renda dos agricultores em até 30%. O modelo mede progresso e resultados em cinco áreas: saúde e fertilidade do solo, resiliência climática, biodiversidade, gestão da água e meios de vida. A verificação será feita por auditoria periódica e independente.

Segundo a Rainforest Alliance, o Brasil é estratégico para o avanço da agricultura regenerativa, especialmente no setor cafeeiro. Em entrevista à Espresso, Yuri Feres, diretor da organização no Brasil, afirmou que a nova certificação fortalece a resiliência dos produtores frente às mudanças climáticas, amplia o acesso a mercados internacionais exigentes e gera valor agregado por meio da restauração de ecossistemas e da inclusão de pequenos agricultores e comunidades locais. “Mais do que mitigar impactos, a nova norma busca promover a regeneração do solo, a proteção da biodiversidade e assegurar renda digna aos produtores, posicionando o café certificado como um produto que alia qualidade, sustentabilidade e impacto positivo para as pessoas e o meio ambiente”, disse.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação/Rainforest Alliance

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Gesha da La Esmeralda é vendido a R$ 163 mil o quilo, novo recorde

Um lote de gesha lavado da renomada Hacienda La Esmeralda, no Panamá, foi arrematado por US$ 604.080 (cerca de R$ 3,26 milhões) em leilão realizado na quinta (7), durante a 29ª edição do Best of Panama, principal competição de cafés especiais do país.

Com apenas 20 quilos, o lote alcançou o preço de US$ 30.204 por quilo (aproximadamente R$ 163 mil), estabelecendo um novo recorde mundial para vendas de café em leilão. O comprador foi a Julith Coffee, empresa sediada em Dubai.

Além do valor inédito, o lote recebeu 98 pontos na avaliação sensorial — a maior pontuação já registrada na história do Best of Panama. O resultado foi obtido por 22 juízes internacionais durante provas realizadas no Boquete Coffee Festival, em junho.

O evento, criado em 2004 e organizado pela Associação de Cafés Especiais do Panamá (SCAP), também consagrou outros cafés da família Peterson, proprietária da Hacienda La Esmeralda. Entre eles, um geisha natural, com 97 pontos, e um varietal que atingiu 92 pontos.

No total, foram vendidos 50 lotes de cafés no leilão (20 de gesha lavado, 20 de gesha natural e 10 de outras variedades), arrecadando US$ 2,86 milhões — o dobro do recorde anterior, em 2024. Segundo a SCAP, 30 lotes superaram a marca de US$ 1.000 por quilo, consolidando o Panamá como referência mundial na produção de cafés raros e de alto valor.

TEXTO Redação / Fontes: Coffee Magazine, Global Coffee Report e El País Costa Rica

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Projeto reúne turismo e cafeicultura no Espírito Santo

Com dezenas de atrativos, Cafés do Espírito Santo divulga as belezas do estado e fomenta o café como destaque turístico

Foto: Camila Luz

Por Gabriela Kaneto, do Espírito Santo

De praias a montanhas, o Espírito Santo vive um momento promissor no turismo e na cafeicultura. Em 2023, segundo o Ministério do Turismo, o estado recebeu 450 mil viagens e gerou R$ 704 milhões. O movimento foi puxado por visitantes em busca de lazer, natureza, cultura e gastronomia. No quarto trimestre de 2024, a Setur (Secretaria de Turismo) registrou alta de 8,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

A cafeicultura, principal atividade agrícola capixaba, também avança. Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que, em 2024, o Espírito Santo – o segundo maior produtor de café do país e líder em conilon – colheu 13,9 milhões de sacas, 9,8 milhões delas de conilon. Para 2025, a previsão é de alta de 18,2%, chegando a 16,4 milhões de sacas.

Pedra Azul vista da Rota do Lagarto – Foto: Camila Luz

De olho nesse cenário, o empresário Washington Pereira, fundador da De Olho na Rua, criou o projeto Cafés do Espírito Santo, que une café e turismo em roteiros com mais de 180 atrativos. A inspiração veio após uma cliente voltar da Espanha com uma revista sobre pintxos (petisco típico do País Basco) e turismo de vinho. “Tinha uma foto do pessoal pisando nas folhas das parreiras. Rabiscamos por cima: isso poderia ser café. Aí caiu a ficha”, conta.

Em 2021, Pereira passou a estudar a produção local de café e notou que ela era majoritariamente familiar e artesanal. Percebeu ainda que uma mesma lavoura poderia gerar perfis sensoriais distintos, dependendo de fatores como altitude, sombreamento e pós-colheita. “Olhando um saco de juta, li ‘Cafés do Brasil’. Mas de onde do Brasil? O Brasil é muito grande”, lembra. 

Com uma exposição itinerante de mais de 200 embalagens de café, o projeto está em feiras e eventos para mostrar a diversidade da cafeicultura capixaba. Agora, a iniciativa, em estruturação, definiu três roteiros: o Coffee Tour (direcionado às pessoas que querem consumir cafés de qualidade e conhecer sua produção), o Coffee Stay (com hospedagem e vivências em fazendas, incluindo visita às plantações, degustações e oficinas) e o Coffee Tech (voltado ao turismo de negócios).

Washington Pereira e parte de sua exposição situada no Café Hall Sicoob – Foto: Camila Luz

“O café sempre foi a principal fonte de receita da região, mas muitas pessoas passaram a diversificar suas atividades por causa do turismo”, diz Cleto Venturim, presidente da cooperativa Sicoob Sul-Serrano, que mantém o projeto. “Valorizar o pequeno produtor é um trabalho que exige organização. Estamos colocando luz nesse movimento.”

A convite do Cafés do Espírito Santo, a Espresso saiu de São Paulo com destino à Vitória para três dias de imersão na cafeicultura e no turismo capixabas. Guiado por Pereira, o tour começou na capital e subiu as montanhas do Caparaó, nosso destino final. A seguir, nove atrações dessa viagem.

Grande Buda

Grande Buda de Ibiraçu – Foto: Camila Luz

Logo pela manhã, a primeira parada foi em Ibiraçu, a cerca de 70 km de Vitória. À beira da BR-101, ergue-se a monumental escultura de 35 metros inaugurada em 2021, que une arte, espiritualidade e paisagem natural. Parte do Mosteiro Zen Morro da Vargem, o espaço abriga ainda o Portal Torii, o Jardim Zen, o Lago da Serenidade e o Bosque da Sabedoria, além de sorveteria, cafeteria e loja de souvenirs. Ao lado da estátua principal, outras 15 esculturas de 2,5 m do Buda em meditação simbolizam serenidade e perseverança. É a maior representação do Buda na América Latina.

Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) – Centro de pesquisa

No Campus Goiabeiras, em Vitória, um centro de pesquisa se dedica a estudar a química do café, explorando desde a composição do solo até as transformações na torra. Coordenado pela professora Emanuele Oliveira, que também dá aulas no Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo), o laboratório analisa os compostos que influenciam o perfil sensorial da bebida, conectando ciência e sabor.

Emanuele Oliveira, coordenadora do laboratório (à esq.), e estudante do projeto (à dir.) – Fotos: Camila Luz

Criado em 2021, o laboratório faz parte do Coffee Design — grupo de pesquisa do Ifes, em Venda Nova do Imigrante, com 11 anos de atuação e 50 bolsistas, entre alunos da Ufes, Ifes e UFV (Universidade Federal de Viçosa). Cada polo foca em uma área: a Ufes se dedica à química, a UFV à microbiologia e o Ifes ao processamento, torra e análise sensorial. O objetivo é aprimorar as etapas por qual passa o café, até a xícara. “No café, tudo interfere, mas aqui tentamos entender os fatores para poder contornar situações”, explica Emanuele. Além de trabalhar com produtores parceiros no Espírito Santo, o grupo também coleta amostras de cafés de várias regiões do Brasil para pesquisa.

Terrafé

Nossa próxima parada foi na unidade conceito da Terrafé, na capital capixaba. Recebidos por Raul Guizeline, fundador da rede, e por Francisco Siqueira, barista, instrutor e responsável pelo marketing, conhecemos o espaço inaugurado há pouco mais de um ano. A marca atua desde 2014 e soma 14 unidades no Espírito Santo — com outras três previstas para abrir neste segundo semestre.

Loja conceito da Terrafé – Foto: Camila Luz

“Entendemos que o consumidor de cafés especiais não quer repetir sempre o mesmo café”, afirma Guizeline, ao explicar a carta de microlotes, que varia de 15 a 20 opções rotativas. Torrados pela própria Terrafé, os grãos vêm de regiões como Montanhas do Espírito Santo, Sul de Minas, Matas de Minas e Caparaó. “Nossa proposta é propagar o café capixaba, trazendo os melhores grãos e criando diversidade na prateleira”, completa Siqueira.

Foto: Camila Luz

Entre os destaques recentes está a caixa do campeão do Coffee of the Year: um arábica catuaí 785, lavado, cultivado por Paulo Roberto Alves, em Divino de São Lourenço (ES). Além da cafeteria, a loja conceito abriga um coffee bar para drinques, sala de cursos e workshops, espaço para reuniões e lounge para eventos sob reserva.

Khas Café

O segundo dia começou cedo. Pela Rota do Lagarto — trajeto turístico repleto de pousadas e que contorna a icônica Pedra Azul — chegamos à Khas Café. Há oito anos, a fazenda pertence a Roberta e Júlio Aguilar, que trocaram a vida na cidade para cultivar café nas montanhas. “Sou de Vitória e o Júlio é do norte do estado. Ele estudava agronomia na UFV e passava sempre por aqui para chegar à faculdade. Foi assim que se apaixonou pelo lugar”, conta a publicitária. Depois de adquirir a propriedade, o casal se especializou em cafés especiais e turismo de experiências. “Comecei a estudar o fruto e fiz curso de barista. O Júlio ficou com a produção, enquanto eu e a Dani [Daniela Aguilar, cunhada de Roberta] cuidamos da cafeteria e do turismo”, explica.

Roberta explicando sobre os processamentos de pós-colheita (à esq.) e degustação de cafés com quitutes regionais (à dir.) – Fotos: Camila Luz

Além da plantação de arábica, a Khás Café tem uma lavoura experimental com 25 clones (distribuídos em 500 pés) de conilon de altitude (1.100 m) – a variedade é, tradicionalmente, cultivada em baixa altitude – ideia do amigo e engenheiro agrônomo Fábio Partelli, da Ufes. “A partir desses clones será lançada uma nova cultivar, para ajudar os produtores a produzir um café bom tanto em produtividade quanto em bebida”, comemora Roberta. “Muitos já produzem conilon de altitude, mas o fazem empiricamente”, ressalta. “Quando lançamos uma cultivar, garantimos que o café vai ter qualidade. É bom para a ciência”.

Experimentos com conilon de altitude – Foto: Camila Luz

Na parte mais alta da fazenda, a cafeteria chama atenção pelo visual excêntrico e pela estrutura construída com materiais reaproveitados (upcycling). É o ponto final do roteiro Alquimia do Café, que atrai visitantes de todo o país para conhecer lavouras, etapas do pós-colheita e participar de harmonizações entre os dois tipos de café e comidas locais, de forma lúdica e pedagógica. “O objetivo é ensinar as pessoas a tomarem um bom café e mostrar as diferenças entre a produção de um especial e de um tradicional”, diz Roberta. “Queremos transformar o estado em um polo de experiência, pois produzimos de norte a sul”, afirma.

Fazenda Camocim

Reconhecida mundialmente pelos cafés especiais, a Fazenda Camocim, com mais de 150 hectares em Pedra Azul, distrito de Domingos Martins (ES), está ativa desde meados dos anos 1990, quando o empresário Olivar Araújo, superintendente do Grupo Sloper, iniciou o cultivo de cafés orgânicos na região. Hoje, a propriedade é administrada por seu neto, Henrique Sloper. “Vimos que o orgânico era o futuro da agricultura — e do café também”, diz.

Henrique Sloper, à frente da Fazenda Camocim – Foto: Camila Luz

A busca pela preservação ambiental fez da propriedade um refúgio para mais de 40 espécies de pássaros, entre elas o jacu, que prefere matas preservadas para se alimentar, fazer ninho e repousar. “Sem querer, viramos uma área de reprodução do jacu”, brinca o empresário. Inspirada no café kopi luwak da Indonésia, a Camocim adotou o jacu como parceiro e lançou o Jacu Bird Coffee, que ganhou fama no Brasil e no mundo.

Foto: Camila Luz

Desde 2023, a fazenda oferece turismo de experiência com visitas guiadas que acompanham todo o ciclo do café — do plantio ao envase —, culminando em degustação na Casa do Café, cafeteria moderna da propriedade. “Além de clima, altitude, conhecimento, tecnologia e pesquisa, aqui tem uma infinidade de ingredientes. Tem muita agricultura”, destaca Sloper sobre a região. “O Espírito Santo ainda está aprendendo a se vender. Juntando tudo isso, há uma solução para o turismo”, acrescenta.

Fazenda Carnielli

“O Espírito Santo ainda é relativamente pouco conhecido”, avalia Lorenzo Carnielli, quinta geração à frente da Fazenda Carnielli. Com mais de 100 anos no cultivo do café, a propriedade aprimorou sua produção a partir dos anos 1990. “Foi quando chegou a tecnologia, principalmente para o cereja descascado. Em 2001, ganhamos o primeiro concurso de cafés especiais do estado”, relembra.

Fachada da Fazenda Carnielli e Lorenzo Carnielli – Fotos: Camila Luz

Hoje, a fazenda cultiva seis variedades, entre elas catucaí, catuaí, mundo novo, arara e 785SL. “Fomos os primeiros malucos a colocar cafés especiais na prateleira do supermercado”, brinca ele. Desde 1987 recebe turistas, mas só em 2021 passou a agendar experiências. “Aqui o visitante conhece todo o processo: do pé de café ao descascamento, secagem, estoque, torra, degustação e produtos da fazenda — queijos, doce de leite, fubá e embutidos, como o socol, famoso na região”, conta. “O café está no centro da experiência. Tem coisa melhor que um queijinho com café?”.

Pousada Vovô Nininho

Após pegar a estrada rumo ao Caparaó, chegamos ao destino e passamos a noite em um dos charmosos chalés da Pousada Vovô Nininho. Situados no meio do cafezal, os dormitórios, inaugurados em 2021, combinam aconchego e design moderno, com café especial disponível para preparo no quarto e uma linda vista da plantação.

Chalés em meio ao cafezal na Pousada Vovô Nininho – Foto: Camila Luz

“Meu pai sempre foi apaixonado por café. Produzia um bom produto, mas vendia como commodity”, conta Roberta Medeiros. Após a morte do pai, ela e o marido, Nilton Martins, deixaram a vida de escritório para continuar a produção, criando a marca Vovô Nininho em homenagem ao patriarca.

Com estudos e aprimoramentos, passaram a cultivar café especial em 2017. “Decidimos que seria o melhor caminho. Fizemos cursos e unimos teoria e prática”, diz a produtora. Hoje são 10 mil plantas das variedades catucaí 2SL amarelo e catuaí 44 amarelo e vermelho, em uma lavoura a 1.350 metros de altitude. Todo o café produzido é comercializado na própria cafeteria da pousada e vendido para o Brasil pelo Instagram.

Foto: Camila Luz

Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec)

O Caparaó tem ganhado destaque nos últimos anos. Berço de produtores premiados em concursos de qualidade — como Afonso Lacerda, Deneval Miranda Vieira e o mais recente campeão do Coffee of the Year, Paulo Roberto Alves —, a região, com produção majoritariamente familiar, é denominação de origem para cafés especiais desde 2021.

Foto: Camila Luz

Localizada entre Espírito Santo e Minas Gerais, abrange 16 municípios — dez capixabas e seis mineiros — e produz cerca de 2,4 milhões de sacas de café, das quais apenas 10% são especiais. Criada em 2016, a Apec tem entre seus objetivos a gestão dessa Indicação Geográfica (IG).  “A função da associação é a proteção da marca não só no Brasil, mas no exterior também”, diz a cafeicultora Cecília Nakao, presidente da Apec. “Viramos referência em indicações geográficas. Muita gente quer vir conhecer nossa experiência. Somos muito criteriosos. Claro que ainda existem coisas amadoras, mas levamos a sério o que fazemos”.

Cecília Nakao, presidente da Apec – Foto: Camila Luz

Com cerca de 160 associados, há expectativa de crescimento. “Estamos fortalecendo a associação, entregando valor aos produtores para que eles estejam mais perto de nós, até para termos mais controle da qualidade do que estamos produzindo”, destaca a cafeicultora Ana Carolina Malta, da equipe administrativa da Apec. “A grande importância da IG é conscientizar e capacitar o produtor quanto ao produto, o mercado e mostrar a evolução dele a quem comercializa seu café”, salienta Gustavo Vilas Boas, também produtor e integrante da equipe. 

Ana Carolina Malta e Gustavo Vilas Boas na sede da Apec – Foto: Camila Luz

Parque Nacional do Caparaó

A última parada da jornada foi o Parque Nacional do Caparaó, uma das principais unidades de conservação do país. Criado em 1961, o parque abriga o Pico da Bandeira, com 2.891 metros, o terceiro ponto mais alto do Brasil.

Além das cachoeiras, mirantes e trilhas, o local oferece estrutura para camping e um centro de visitantes. A biodiversidade e a vista da cordilheira, com destaque para a famosa Pedra Menina, completam o cenário.

Entrada do Parque Nacional do Caparaó e vista para Pedra Menina – Fotos: Camila Luz

Entre a metrópole e as montanhas, o Espírito Santo se destaca como produtor de café de qualidade e destino turístico em ascensão. “Aqui está a maior variedade sensorial em um só território. Nosso objetivo é promover o café como atrativo turístico”, diz Pereira. Afinal, em cada xícara e paisagem capixaba, uma história é contada.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Camila Luz

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Inscrições abertas para o Coffee of the Year 2025

As inscrições para o Coffee of the Year 2025 estão oficialmente abertas a partir desta segunda (4). O prêmio busca reunir os melhores cafés do Brasil, reconhecer os grandes destaques do ano e incentivar tanto o aprimoramento da produção nacional, quanto a valorização de novas origens.

Produtores de todas as regiões do Brasil podem inscrever seus melhores cafés nas categorias arábica e canéfora, mediante o pagamento de R$ 190. Cada CPF pode realizar apenas uma inscrição. As amostras de 03 kg cada devem ser enviadas até 6 de outubro para o Centro de Excelência em Cafeicultura – Senar (endereço abaixo). Confira aqui o regulamento completo da edição e o link de inscrição.

Importante: a ficha da amostra – devidamente preenchida (digitada), assinada pelo produtor – deve ser enviada junto com os 03 kg de café para o endereço indicado abaixo.

Centro de Excelência em Cafeicultura – Senar
A/C Professor Leandro Paiva
Concurso Coffee of the Year 2025/Semana Internacional do Café
Rua Luiz Dominghetti, 115 – Residencial Alto do Vale
Varginha (MG) – CEP: 37048-854 

Sobre o COY

A dinâmica do concurso começa com o recebimento das amostras, que passarão por um processo de avaliação conduzido por uma Comissão de Julgadores formada por especialistas de todo o país. Serão selecionadas as 180 melhores amostras, sendo 150 da categoria arábica e 30 da canéfora.

As amostras selecionadas serão apresentadas na sala Cupping & Negócios da Semana Internacional do Café, que este ano será realizada de 5 a 7 de novembro, em Belo Horizonte (MG). Dentre elas, os 10 melhores cafés arábica e os 5 melhores canéfora participam da votação popular, por meio de degustação às cegas com método filtrado, em garrafas térmicas disponíveis nos dois primeiros dias do evento. A cerimônia de premiação acontece na tarde do último dia da SIC.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café