Cafezal

Por que o Brasil é a vanguarda da cafeicultura sustentável mundial

Cadeia organizada e proximidade entre seus agentes ajudam a promover boas práticas agrícolas e maior remuneração ao produtor

Atualizada em 18/11/2024, às 14h54

A sustentabilidade na cafeicultura brasileira não é um quadro monocromático. Produtores nacionais estão desenhando o caminho das boas práticas socioambientais, num mosaico de ações de âmbito local e internacional e que sublinham desde iniciativas pessoais até programas públicos, pincelados por projetos que envolvem cooperativas e associações. Há, porém, traços que borram essa tela: não há mensuração precisa de cafés provenientes dessas práticas. As certificadoras não abrem o número exato de cafezais certificados e a rastreabilidade tornou-se um desafio.

Mesmo assim, o Brasil é hoje referência mundial da cafeicultura sustentável. Tal posicionamento é reforçado em termos de escala. “A Costa Rica tem um trabalho interessante, mas numa proporção muito menor, pois exporta menos de 1 milhão de sacas”, diz a brasileira Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). De fato, os números da cafeicultura nacional são superlativos. Maior produtor do mundo, no ano passado o país colheu 55 milhões de sacas, exportou 39,2 milhões delas e consumiu 21,7 milhões. “Muito da produção nacional fica no país. Não é brincadeira não, o que o Brasil destina ao mercado doméstico já é quase o que produz o Vietnã”, explica Vanusia, referindo-se ao país que é o segundo maior produtor do mundo. 

A sustentabilidade econômica que esses números geram tem pinceladas de todos os lados. Nos cenários estadual e federal, as iniciativas voltadas à sustentabilidade são múltiplas (veja em “para saber mais”, ao final da reportagem), como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que dá auxílio financeiro e suporte técnico aos cafeicultores. 

Com uma cadeia muito bem estruturada, o setor cafeeiro tem representações em todos os elos e bom entrosamento entre as esferas pública, privada e terceiro setor. “A gente tem uma política relevante, um centro de pesquisa extremamente importante e temos conseguido aumentar o volume de recursos para a pesquisa no Brasil”, analisa Vanusia, que destaca as ações do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), que destinou R$ 400 milhões para estudos na última década (dados do Conselho Nacional do Café – CNC). “Ainda é pouco, mas temos alcançado resultados muito interessantes”, acrescenta.

Um deles é o aumento da produtividade no café, que, dos anos 1990 para cá, avançou 400% enquanto a área de plantio reduziu 55%, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). O trabalho de várias instituições científicas, como Embrapa e IAC (Instituto Agronômico de Campinas) – que pesquisaram variedades mais produtivas, por exemplo – além do de associações, cooperativas e acesso ao crédito fizeram com que o Brasil saltasse de uma produtividade média de oito sacas por hectare para 30 sacas nos últimos anos.

Segundo o IBGE, há 265 mil estabelecimentos rurais com café em território nacional – 70% deles com área abaixo de 20 hectares e 78% de agricultura familiar. Por isso, ter programas para disseminar sustentabilidade e contar com a proximidade de agentes da cadeia (cooperativas, torrefadoras, tradings e órgãos estaduais de assistência técnica) faz toda a diferença para os pequenos cafeicultores e reflete no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em Minas, municípios com mais de 20 mil hectares de café têm IDH de 0,730, maior que a média de todos os municípios do estado (de 0,682).

Cafezal da Sancoffee, vencedora do 2024 Sustainability Award, da SCA

Sustentabilidade premiada

O cooperativismo faz diferença na difusão do conhecimento. “A profissionalização das cooperativas faz o Brasil estar no universo do ESG num nível de governança diferenciado, que não vemos em outros países”, explica a diretora da OIC. De fato, das 1.185 cooperativas do agro no país, 110 atuam no café (os dados são do Anuário do Cooperativismo do Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB). 

Um bom exemplo é a Sancoffee, cooperativa de Campo das Vertentes (MG), que congrega 17 municípios. Fundada em 2000 por vinte produtores para agregar valor ao café e exportá-lo diretamente, viu-se num dilema em 2013, com demanda maior do que sua capacidade. Abrir capital ou aumentar o número de cooperados não era uma opção. A solução veio do próprio potencial da região. “Fizemos parcerias para criar governança para centenas de pequenos produtores, fomentar o associativismo e gerar treinamentos”, diz Fabrício Andrade, CEO da cooperativa. Assim nasceu o projeto Além das Fronteiras, cujo impacto aumenta ano após ano. Os 57 produtores iniciais e a exportação de 200 sacas transformaram-se, em 2023, em nove associações, 350 cafeicultores e mais de 11 mil sacas – o equivalente a quase 20% dos cafés exportados pela Sancoffee. Em termos de agregação de valor, isso equivale a um ágio (valor líquido) próximo de 28% quando comparado ao commodity. 

Menina dos olhos da Sancoffee, o Além das Fronteiras traz a essência do que é preciso para construir sustentabilidade. “Temos que atrair pessoas para trabalhar e enxergar o café como ferramenta de prosperidade da região”, acredita Andrade. No ano passado, a cooperativa faturou R$ 170 milhões. “Temos um arcabouço estrutural no nosso modelo de negócio que acredita ser possível fazer a diferença por meio do café, ter uma vida bacana e atrair novas gerações, tanto de produtores quanto de trabalhadores”, resume. 

A cooperativa já colhe frutos. “Por causa do uso de tecnologias e acesso ao mercado, temos visto jovens, filhos de pequenos produtores, que tinham feito faculdade e estavam trabalhando em outros lugares, retornar ao campo para ajudar os pais”, diz. Não por acaso, a Sancoffee venceu o 2024 Sustainability Award (categoria For-Profit), um dos principais prêmios de sustentabilidade do mundo, concedido pela Specialty Coffee Association (SCA). 

Entrelinhas 

Outro destaque na premiação foi a Fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo (MG), que ficou entre os seis finalistas na mesma categoria. Referência em cafeicultura regenerativa, a propriedade de Paula Curiacos e Marcelo Urtado tem parcerias com universidades e atrai visitantes do mundo inteiro. O interesse é conhecer as práticas de agricultura climaticamente inteligente da fazenda, que resultaram num balanço negativo de carbono (- 5,16 toneladas por hectare/ano) e nas certificações do Imaflora (Preferred By Nature, Carbon on Track), da Rainforest Alliance e da Regenagri.

Pequena para os padrões do Cerrado Mineiro, a Fazenda Três Meninas tem 40 hectares de cafezais e é a prova de que a sustentabilidade não se restringe aos grandes produtores. Desde que compraram a propriedade em 2016, o casal começou um trabalho minucioso (confira os detalhes no box 2) para reconfigurar a maneira de produzir o grão. 

As entrelinhas do cafezal ganharam o plantio de forrageiras, que mantêm o solo sempre coberto. Quando roçadas, estas plantas transformam-se em adubo verde, que diminui a demanda de fertilizantes nitrogenados, os grandes vilões das emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE). Esse manejo também eliminou o uso de defensivos químicos e resultou na certificação SAT, de produção sem agrotóxicos, emitida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) por meio do Certifica Minas.

Recentemente, sob a orientação da academia, a Três Meninas implantou as “linhas de biodiversidade”. Elas nada mais são que florestas lineares – ruas de árvores e arbustos a cada 40 metros ou 11 ruas de café, que possibilitam a mecanização. “A biodiversidade é a base de uma agricultura equilibrada, porque nela é difícil uma praga se destacar”, ensina Urtado, que é engenheiro agrônomo, citando um dos benefícios dessa prática. O ideal é manter 30% de sombreamento. “Mas plantamos uma quantidade maior”, diz ele, que suprimiu 9% do cafezal para implantar as linhas. Nelas, ele também instalou um meliponário de abelhas nativas, já que a presença destes insetos pode aumentar a produtividade de 20% a 30%.

Linhas de biodiversidade nos cafezais da Fazenda Três Meninas

Quando as árvores estiverem adultas – e, se necessário –, algumas podem ser retiradas. Urtado não se preocupa com a perda. “Prefiro pensar que estamos garantindo a produção de 91% [dos pés de café]”. Segundo ele, estudos apontam que, com uma arborização adequada, mais do que manter, é possível aumentar a produtividade. Na Três Meninas, ela é de 54 sacas por hectare em média.

Na dianteira

Sim, a Fazenda Três Meninas faz muito além do habitual, mas, quando se trata dos aspectos socioambientais, o Brasil está numa posição de vanguarda. Todas as propriedades cafeeiras precisam seguir a Constituição Federal, que tem regras claras definidas pelo Código Florestal e pela Consolidação das Leis Trabalhistas. Este aparato legal é mandatório e tem um nível de exigência superior a vários países produtores.

Além disso, o setor cafeeiro tem se unido em ações pré-competitivas – aquelas em que empresas concorrentes trabalham juntas em pontos que preocupam a todos. Atendendo a demandas da cadeia cafeeira, a Plataforma Global do Café (GCP, na sigla em inglês) coordena duas delas (e que são prioritárias), como o “uso responsável de agroquímicos” e “trabalho e bem-estar na cafeicultura”. No primeiro caso, um dos vários ensinamentos oferecidos aos produtores pela Plataforma – associação internacional com mais de 40 membros no Brasil – é identificar e monitorar pragas e doenças para a tomada de decisão. “Se o ataque de broca for inferior a 5%, não causa prejuízo e não é preciso pulverizar”, detalha Eduardo Matavelli, consultor técnico da GCP. Quanto à iniciativa social, a plataforma esclarece sobre questões trabalhistas, saúde, segurança, remuneração e frentes de trabalho no campo.

Mas, afinal, por que o café do Brasil se destaca pela sustentabilidade? Um dos motivos é o ambiente institucional organizado, que permite ao produtor receber quase a totalidade do preço FOB do café exportado. “Os índices são 84,5% no arábica e 93% no conilon”, contabiliza Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O único país produtor com um índice similar é o Vietnã, com uma transferência de 90%. “Nos outros países, a porcentagem varia entre 40% e 50%”, detalha Matos. A Etiópia, por exemplo, é conhecida por ter muitos atravessadores. Segundo Vanusia, as autoridades etíopes estão tentando mudar a sistemática para um modelo de compra mais direta. “Aquelas [cooperativas] que estão aplicando o novo modelo dizem que estão transferindo para os produtores os mesmos níveis de Brasil e Vietnã”, diz a diretora da OIC.

Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café

Números incertos

A quantidade de cafés sustentáveis produzida em território nacional, porém, ainda é incerta. Segundo o Cecafé, 18,6% dos grãos exportados no ano safra 23/24 enquadram-se no segmento de cafés diferenciados, que agregam valor por qualidade e/ou sustentabilidade (certificações).  “Mas este número não necessariamente representa a realidade, porque este campo de preenchimento na certificação de origem da OIC é voluntário”, comenta Matos. E, embora as fazendas de café brasileiras adotem várias certificações (Rainforest, FairTrade, IBD, 4C), falta transparência por parte das certificadoras quanto ao número de propriedades e área de cafezais auditados no país. 

Uma tendência é a criação de programas próprios de sustentabilidade pelas cooperativas e exportadores, como o Guaxupé Planet e o GMT Green. Elaborados, respectivamente, pela Exportadora de Café Guaxupé e pelo Grupo Montesanto Tavares, ambos seguem o processo denominado “mecanismo de equivalência” da GCP. Esse processo avalia se o programa está de acordo com um Código de Sustentabilidade, linguagem global de alinhamento da sustentabilidade no café desenvolvido pela plataforma. Nele, há pontos críticos que devem ser seguidos pelos cafeicultores. “Um deles é ter um programa de melhoria contínua, uma análise de riscos das propriedades e as ações para remediar riscos identificados, gerando melhores condições de vida ao produtor e beneficiando toda a cadeia”, explica Matavelli.

Na ponta final dela, não há dúvidas de que o consumidor olha cada dia mais para aspectos socioambientais ao decidir o que comprar. Prova disso é o relatório de Compras de Cafés Sustentáveis, recém-divulgado pela GCP. No ano passado, nove grandes torrefadoras e varejistas (JDE Peet’s, Julius Meinl, Melitta, Keurig Dr Pepper, Nestlé, Supracafé, Taylors, Tesco e Westrock) adquiriram 31,4 milhões de sacas de café de 39 países, sendo mais de 23 milhões delas, de grãos sustentáveis. O volume de cafés sustentáveis que representava 35% em 2019 passou para 74% em 2023.

À frente desse mosaico de sustentabilidade que é a cafeicultura brasileira está o desafio de se adequar ao EUDR (confira box 3), o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento, e de continuar o enfrentamento das mudanças climáticas. A cada seis safras, aponta o Cecafé, o Brasil perde uma por questões climáticas. Isso exige, cada vez mais, esforços conjuntos da cadeia para aprimorar as práticas de agricultura regenerativa e desenvolver novas cultivares resistentes ao estresse hídrico, para minimizar o impacto do aumento da temperatura global na produção cafeeira.

Rastreabilidade que desafia

No final de abril, em Bruxelas, o Brasil apresentou a autoridades do bloco europeu a Plataforma de Monitoramento Socioambiental Cafés do Brasil, desenvolvida pela Serasa Experian em parceria com o Cecafé. A ferramenta de rastreabilidade utiliza mais de 200 bancos de dados disponíveis para fazer o monitoramento socioambiental dos cafeicultores – incluindo a geolocalização de propriedades cafeeiras do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de compor um banco de dados de informações ambientais de propriedades para controle, monitoramento e combate ao desmatamento.

Todas as legislações do Brasil, programas do governo de sustentabilidade na agricultura e ações e programas de sustentabilidade dos membros do Cecafé e de cooperativas e empresas nacionais e globais são reunidas numa pirâmide, cuja checagem por 24 horas é feita pela plataforma. “Costumo dizer que 40 milhões de cafés que a gente exporta são sustentáveis”, acredita Matos. 

Mas, então, qual é o receio do Brasil? A União Europeia exige rastreabilidade – a geolocalização dos produtos importados –, o que demanda uma força-tarefa nacional para fazer dois mapas desse tipo do parque cafeeiro: o de 31 de dezembro de 2020, data de corte do EUDR, e o atual. Sem isso, o Brasil terá que usar o que a Europa fornece, o mapa JRC (Joint Research Center), que avalia a cobertura florestal no mundo todo. “Por ser global, essa escala fica prejudicada e o mapa indica desmatamento em áreas de café consolidadas há mais de duas décadas”, problematiza Matos. É por isso que o Brasil e outros países produtores solicitaram às autoridades europeias a flexibilização da EUDR.

Para saber mais:

Agenda ESG 

No contexto federal, há várias ações na Agenda ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança). Além do Pronaf, outra iniciativa que merece destaque é a do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que, só em 2023, capacitou 12,942 mil pessoas em 1,187 mil cursos presenciais sobre cafeicultura. A entidade também conta com um curso de ensino à distância (EAD) de sustentabilidade na produção cafeeira. São 5.421 matriculados desde o lançamento da plataforma Senar Play, em 2021.

E não para por aí. Há o programa Certifica Minas Café (MG), por exemplo, que orienta, em nível estadual, os cafeicultores sobre as boas práticas agrícolas reconhecidas internacionalmente e que já auditou e concedeu o selo para mil propriedades. Outro exemplo é a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), cujo foco em gestão e boas práticas agronômicas atende, em média, 40 mil cafeicultores mineiros por ano. Já o governo do Espírito Santo lançou, no ano passado, o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura Capixaba, que vai aportar R$ 5,45 milhões em ações de extensão rural para alcançar 8 mil produtores até 2026.

Biodiversidade na Três Meninas (MG)

O pontapé inicial rumo à sustentabilidade foi o plantio das forrageiras, cuja escolha depende da estação do ano e da finalidade desejada. O trigo mourisco, por exemplo, atrai os inimigos naturais de pragas do cafezal, como bicho-mineiro e broca-do-café. Quanto ao milheto, ele reduz os nematóides (vermes do solo que derrubam a produtividade), enquanto o nabo forrageiro descompacta o solo com suas raízes grossas, ajudando a infiltração da água. 

Já a arborização de um cafezal atenua os ventos, diminui a transmissão de doenças e cria um microclima propício para a produção cafeeira. Seguindo os ensinamentos da agricultura regenerativa, Urtado e Paula plantaram diversas espécies de árvores e arbustos. Ingá, erva baleeira, fedegosinho e fedegosão atraem inimigos naturais das pragas do café. A guapuruvu fixa nitrogênio e descontamina o solo, enquanto o jequitibá-rosa é uma espécie madeireira. 

A EUDR

O Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) – que proíbe a importação de produtos (entre eles, o café) provenientes de áreas desmatadas a partir de 31 de dezembro 2020 – está dependendo  da votação (que será em 17 de dezembro) dos órgãos regulatórios da União Europeia sobre um pacote de emendas, que irá definir se a lei entrará em vigor no final deste ano ou se será postergada. A União Europeia já publicou o guia de implementação (guidance), que orienta os países produtores sobre as medidas a serem adotadas. “Alguns pontos foram um pouco mais esclarecidos, outros seguem nebulosos, como a classificação de risco, que vai dizer qual país será de baixo, médio ou alto risco. A gente trabalha com a regionalização do risco, para que o problema da Amazônia não afete o nosso negócio”, diz Matos.

Números superlativos do café no Brasil 

  • 55 milhões de sacas colhidas (Conab)
  • 39,2 milhões de sacas exportadas (Cecafé)
  • 21,7 milhões de sacas consumidas no mercado interno (Abic)
  • R$ 400 milhões destinados à pesquisa cafeeira pelo Funcafé na última década

Representantes da cadeia cafeeira 

  • do setor produtivo: CNC (Conselho Nacional do Café) 
  • dos produtores: CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária)
  • dos exportadores: Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) 
  • das cooperativas: OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) 

TEXTO Lívia Andrade • FOTO Divulgação

Cafezal

Cafés da Fazenda Sertãozinho vencem as três categorias do 4º Concurso do Terroir Vulcânico

A Fazenda Sertãozinho foi o destaque do 4º Concurso do Terroir Vulcânico, que premiou os melhores cafeicultores da região no último sábado (9), em Botelhos (MG). A fazenda, propriedade da Orfeu Cafés Especiais, levou o primeiro lugar nas três categorias premiadas: natural, cereja descascado e fermentado – esta última, novidade da edição. 

Ao todo foram 12 municípios participantes e 65 amostras finalistas. “Este ano, a qualidade foi superior”, aponta Ulisses Oliveira, diretor-executivo da Associação de Produtores do Café da Região Vulcânica. “O concurso agrega para o produtor, abre mercado. Eles têm reconhecimento pelo trabalho feito”, afirma. 

Na categoria natural, a Fazenda Sertãozinho, de Botelhos, levou a melhor com um café de 89,5 pontos. Já nas categorias cereja descascado e fermentado, os cafés da propriedade obtiveram 86 e 87 pontos, respectivamente. 

Homero Teixeira, da Fazenda Recreio, do Vale da Grama, foi o segundo colocado na categoria natural, com um café de 87,75 pontos. Ele foi seguido por Luiz Augusto Dezena, da Fazenda Santa Maria, em Águas da Prata, que alcançou 87,25 pontos.

Quanto ao cereja descascado, o segundo e o terceiro lugares foram para o Vale da Grama, com o produtor Arnaldo Alves Vieira, da Fazenda Baobá, que pontuou 85,15 no seu café, e com a produtora Patrícia Guerra, cujo grão registrou 84,85 pontos.

Já na nova categoria fermentado, a Fazenda Baobá também levou a segunda colocação com grãos de 86,5 pontos, seguida por Eliandro Zanetti, da Agripoços (Vale da Grama), com 85,5 pontos.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

Universidade Cornell e World Coffee Research anunciam parceria de cinco anos

Programa irá concentrar-se no desenvolvimento de variedades de café resilientes e de alta qualidade para impulsionar a produtividade e os meios de subsistência entre cafeicultores 

A Universidade Cornell, em Nova York, e o World Coffee Research (WCR) acabam de lançar uma nova iniciativa para melhorar a resiliência climática e a produtividade entre pequenos produtores de café ao redor do mundo.

O Coffee Improvement Program tem duração de cinco anos e conta com o apoio de mais de US$ 5 milhões da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O programa é liderado pelo Innovation Lab for Crop Improvement (Laboratório de Inovação para Melhoria de Culturas) da Cornell.

Em um comunicado à imprensa, as instituições afirmaram que o programa vai desenvolver ferramentas para aumentar a precisão e a velocidade do melhoramento genético do café. O objetivo principal é identificar marcadores genéticos para a ferrugem (Hemileia vastatrix) e a antracnose, ambas grandes ameaças para a produtividade do café.

De acordo com o WCR, mais de 12 milhões de pequenos cafeicultores no mundo produzem, atualmente, 60% do café consumido globalmente. No entanto, esses produtores enfrentam riscos crescentes devido às mudanças climáticas e lidam com desafios adicionais para a rentabilidade e o crescimento da produtividade devido à limitação de acesso à inovação agrícola.

“O café é parte integrante da economia global. Garantir a resiliência dos pequenos produtores de café é essencial tanto para as economias locais quanto para as cadeias de suprimento globais. Esta colaboração com a Cornell irá acelerar o desenvolvimento da próxima geração de variedades de café, beneficiando tanto os pequenos produtores quanto a indústria cafeeira”, disse Vern Long, CEO do WCR.

O ILCI da Cornell foi estabelecido em 2019 com uma doação inicial de US$ 25 milhões da USAID. Em outubro de 2024, o departamento de pesquisa recebeu uma segunda doação de cinco anos no valor de US$ 25 milhões da USAID para apoiar programas de melhoria de culturas voltados para a demanda em regiões-chave do mundo.

TEXTO Redação / Fonte: Allegra World Coffee Portal

Cafezal

Cafés do Cerrado Mineiro e da Mantiqueira de Minas destacam-se no Cup of Excellence 2024

No último sábado (2), o Cup of Excellence realizou a cerimônia de premiação da edição de 2024. Minas Gerais foi o grande destaque e levou os primeiros lugares das três categorias (via úmida, via seca e experimental). Clique aqui para conferir a lista dos vencedores.

O produtor Vitor Marcelo Queiroz Barbosa, da Fazenda Sobro e Bonito de Cima, de Coromandel, no Cerrado Mineiro, foi o vencedor da categoria via úmida, com 91.93 pontos. Ele foi seguido por Flávio Marcio Ferreira da Silva, da Fazenda Olhos D’Água, de Campos Altos, também no Cerrado Mineiro, com 90.89 pontos.

Na categoria via seca, o ganhador de 2024 foi Ronaldo da Silva, do Sítio Santa Luzia, de Cristina, Mantiqueira de Minas, com 92.32 pontos. O segundo lugar ficou com o grupo da Fazenda Sertãozinho com a Fazenda Rainha, de São Sebastião da Grama, na Região Vulcânica, com 91.89 pontos.

Já o Grupo Bioma Café levou a melhor na categoria experimental, com um café de 93.14 pontos da M&F Coffee, de Campos Altos, no Cerrado Mineiro. Na sequência ficou a produtora Carmen Lydia Junqueira Puliti Meirelles, da Fazenda Santa Rita do Xicao, de São Gonçalo do Sapucaí, Mantiqueira de Minas, com 91 pontos.

A competição também teve cafés eleitos “vencedores nacionais”, que consistem em lotes selecionados para a fase internacional, mas que ficaram abaixo dos 30 primeiros colocados.

TEXTO Redação

Cafezal

Coffee of the Year 2024 divulga lista das 180 amostras finalistas

Foi divulgada a lista dos finalistas do Coffee of the Year 2024 e as rodadas de cupping. Nesta fase do concurso são selecionados os 180 produtores mais bem pontuados pelos Q-Graders e R-Graders da comissão avaliadora: 150 da categoria arábica e 30 de canéfora. Clique aqui e confira os nomes.

Oportunidade para produtores e compradores se conectarem, estas 180 melhores amostras classificadas participam de rodadas de cuppings durante os três dias de Semana Internacional do Café, que este ano acontece de 20 a 22 de novembro, em Belo Horizonte (MG). É importante que o produtor esteja presente na rodada de sua amostra, pois é neste momento que compradores de diversas partes do Brasil e do mundo provam os cafés classificados e surgem oportunidades de negócio.

Além dos cuppings, os 10 primeiros cafés de arábica e os 5 primeiros de canéfora ficarão disponíveis para voto popular em garrafas térmicas codificadas, ou seja, os visitantes da SIC poderão prová-los e votar no favorito de cada categoria.

Os campeões do COY 2024 e a ordem final entre os finalistas serão conhecidos em cerimônia de premiação no último dia de SIC, às 15h, no Grande Auditório.

Serviço
Semana Internacional do Café 2024
Onde: Expominas – Av. Amazonas, 6.200, Gameleira, Belo Horizonte (MG)
Quando: 20 a 22 de novembro, das 10h às 19h
Quanto: R$ 70 (pessoa física, para os três dias). Grátis para pessoas jurídicas, produtores e visitantes internacionais
Mais informações e credenciamento: www.semanainternacionaldocafe.com.br

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

1º leilão do Prêmio Chapada de Minas tem lance de R$ 5.500 em café campeão

A Região da Chapada de Minas premiou seus melhores cafés na noite de ontem (24), com a realização do Prêmio Chapada de Minas. A convite do Sebrae-MG, a Espresso acompanhou de perto a cerimônia em Capelinha (MG). A edição reuniu 73 amostras, divididas nas categorias natural, natural microlote e cereja descascado, e contou com a 1ª edição do leilão dos cafés campeões, que trouxe compradores de diferentes lugares do país.

Na categoria natural, o primeiro lugar foi para Rodrigo Crimaldo Mendes, da Fazenda Sequóia, com grãos de amarelão – variedade descoberta na própria Chapada de Minas – que alcançaram 89,06 pontos. A sequência foi composta por Ronaldo Morais Pena Filho, da Fazenda Primavera, em segundo, e por Sérgio Meirelles Filho, da Fazenda Alvorada, em terceiro. O café de Rodrigo foi arrematado pela 3corações, por R$ 5.200. Já o café de Sérgio foi vendido por R$ 4.600 para a Sabino Torrefação (SP).

Vencedores da categoria natural

Novidade este ano, a categoria microlote abrange cafés naturais de até 20 hectares. O vencedor foi o catuaí de 87,31 pontos do produtor Tarcísio Costa Barbosa, da Fazenda Mamoeiro. Ele foi seguido por José Cunha Fernandes, da Fazenda Brejo da Cunha, em segundo, e por Gilson Pereira da Silva, da Fazenda ODA, em terceiro. O café campeão foi arrematado pela torrefação paraense Alquimista – Bebidas Especiais, por R$ 4.600. A 3corações foi quem levou o segundo melhor café da categoria, por R$ 3.700, enquanto que o terceiro colocado foi comercializado por R$ 3.100 para a carioca Café Ao Leu.

Vencedores da categoria microlotes naturais

A Fazenda Primavera e a Fazenda Sequóia levaram mais um pódio na noite, consagrando-se, respectivamente, campeã e vice-campeã na categoria cereja descascado. O terceiro lugar foi para Matheus Lettieri Junqueira, da Fazenda Riviera. O café vencedor da Fazenda Primavera, da variedade gesha, de 89,38 pontos, foi o que recebeu o maior lance da noite: R$ 5.500, dado pela torrefação Torra Fresca, de Mococa (SP). O segundo lugar foi vendido por R$ 3.800 para a 3corações, e o terceiro foi comercializado por R$ 3.400.

Vencedores da categoria cereja descascado

A 3ª edição do Prêmio Chapada de Minas é uma realização da Região Chapada de Minas e do Sebrae, com patrocínio do Sicoob Credijequitinhonha e apoio do Sistema Faemg/Senar.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Sebrae/Marlon Fernandes

Cafezal

Provamos 6 cafés exóticos do banco de germoplasma do IAC

O que são cafés exóticos? Para explicá-los (e prová-los), a Espresso convidou Gerson Giomo, engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Giomo trouxe na mala seis deles. “São cafés com aromas e sabores diferentes do que estamos acostumados”, ensina ele, que é especialista em tecnologia de processamento pós-colheita e qualidade do café.

Os cafés denominados exóticos saíram, todos, do banco de germoplasma do IAC, que desde 1930 reúne
esses raros cafés (tecnicamente chamados acessos, ou seja, amostras de materiais genéticos coletadas e
catalogadas para fins de pesquisa e preservação). “O IAC tem mais de cinco mil acessos de 15 espécies de
café”, orgulha-se Giomo.

Esses grãos são considerados exóticos por duas razões: são tanto cafés que foram introduzidos (legalmente) no país e que nunca foram cultivados (ou seja, são silvestres ou selvagens) quanto plantas híbridas, quer dizer, obtidas a partir de cruzamentos de cultivares brasileiras importantes com esses materiais estrangeiros e que, por um motivo ou outro, acabaram sendo “arquivadas”.

Gerson Giomo, pesquisador do IAC convidado para a nossa degustação

No primeiro caso, foram provados três cafés que chegaram da Etiópia e do Sudão entre 1952 e 1953. “São
variedades legais que foram introduzidas, ficaram em quarentena e depois saíram do laboratório para o campo”, resume o agrônomo, referindo-se à autorização do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) para a entrada desses materiais, desde que destinados a pesquisas.

Os três outros exemplares desta degustação são cruzamentos de cultivares de arábica, desenvolvidos
pelo instituto, com cafés introduzidos. “São híbridos em que se buscava maior resistência à ferrugem, mas que não foram para a frente nesse sentido”, explica ele. Essas plantas permanecem no banco genético do IAC e, às vezes, têm ótima qualidade sensorial.

Os seis cafés com sabores exóticos são fruto de uma linha de pesquisa do Programa de Cafés Especiais, que prospecta qualidade no banco de germoplasma. O principal objetivo do programa é identificar plantas com capacidade de produzir frutos com características sensoriais distintas e que, por isso, tenham potencial para se tornarem novas cultivares e atender a demandas específicas do mercado de cafés especiais.

Os seis cafés provados estão sendo estudados em algumas das vinte áreas experimentais do IAC, foram colhidos em meados do ano e processados pelo método natural.

A raridade das amostras tornou nossa costumeira degustação para a Espresso um evento pra lá de especial, com aromas e sabores enriquecidos pelo nosso experiente convidado, que há tempos acompanha sistematicamente essas duas características, intrínsecas à variedade de um café.

Equipe Espresso degustando os cafés do Instituto Agronômico (IAC)

Variedade exótica 1 (IAC-1158)

Um café exótico descendente da variedade rume sudan, do Sudão, introduzida entre 1952 e 1953. As plantas experimentais estão na Fazenda Recreio, em São Sebastião da Grama (SP), Região Vulcânica, a 1.200 m de altitude.

Aromas e sabores: doce, floral, delicado, frutado, mel e tabaco (tem marmelada também!)
Acidez: média, brilhante
Corpo: aveludado
Finalização: agradável
Avaliação final: redondo e complexo, para começar bem o dia

Variedade exótica 2 (IAC-1137)

Um café descendente da variedade gesha, originária da Etiópia, que chegou ao IAC entre 1952 e 1953. As plantas experimentais também estão na Fazenda Recreio, a 1.200 m de altitude.

Aromas e sabores: doce, castanhas, especiarias (pimenta-rosa), nibs de cacau, floral, umami
Acidez: média/alta, cítrica
Corpo: médio
Finalização: limpa, gostosa
Avaliação final: fácil de tomar, uma ótima pedida a qualquer hora

Variedade exótica 3 (IAC-2080)

Um material selvagem obtido também entre 1952 e 1953. Originário da Etiópia, as plantas experimentais estão na Fazenda Limeira, em Altinópolis (SP), Alta Mogiana, a 1.000 m de altitude.

Aromas e sabores: especiarias, ervas medicinais, chocolate amargo, castanhas, amadeirado
Acidez: delicada
Corpo: médio
Finalização: presente, mas curta
Avaliação final: para tomar o dia todo

Equipe Espresso degustando os cafés do Instituto Agronômico (IAC)

Variedade híbrida (IAC-H8113)

Um cruzamento entre catuaí vermelho e um material selvagem (Kaffa) originário da Etiópia. As plantas experimentais estão na Fazenda São João, em Nova Resende (MG), Sul de Minas, a 1.000 m de altitude.

Aromas e sabores: cítrico (laranja, lima-da-pérsia), terroso, chá de cáscara, amadeirado e melado
Acidez: média/alta, cítrica
Corpo: encorpado, macio
Finalização: curta, agradável
Avaliação final: um café de experiência

Variedade híbrida 2 (IAC-H8427)

Um cruzamento da variedade mundo novo com outro material selvagem da Índia (BA10). As plantas experimentais também estão na Fazenda São João, à altitude de 1.000 metros.

Aromas e sabores: ervas medicinais, especiarias, mamão, melado
Acidez: boa, brilhante
Corpo: médio
Finalização: curta, limpa
Avaliação final: sensorialmente interessante e diferente

Variedade híbrida 3 (IAC-H8089)

Um cruzamento entre catuaí vermelho e um gesha originário da Etiópia. As plantas experimentais estão na Fazenda Recreio, em São Sebastião da Grama (SP), a 1.200 m de altitude.

Aromas e sabores: doce (rapadura), frutado, floral, laranja caramelizada
Acidez: média, brilhante
Corpo: cremoso
Finalização: presente, com notas de melado
Avaliação final: agradável, com doçura alta, para tomar a qualquer hora

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

Faesp pede ao governo de SP revisão da venda de fazenda do IAC

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) enviou, esta semana, ofício ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, solicitando a revisão da venda da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). A área é dedicada à pesquisa cafeeira e está na mira da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado paulista, que estuda sua venda sob o argumento de que a manutenção do local onera o estado.

Segundo o documento enviado pelo presidente da Faesp, Tirso de Salles Meirelles, a área é fundamental para a continuidade das pesquisas e para o desenvolvimento de novas variedades da cultura – 90% das cultivares de café produzidas no Brasil são resultado de pesquisas realizadas nesta unidade do IAC, que possui um dos mais importantes bancos de germoplasma do mundo. O ofício solicita que o governador reconsidere a possibilidade da venda da área e que preserve a unidade de pesquisa do IAC, essencial para o desenvolvimento e a sustentabilidade da cafeicultura e da agropecuária brasileira.

A Fazenda Santa Elisa acaba de ser mapeada pelo governo paulista, de acordo com a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), informou no início da semana o Globo Rural. O procedimento inclui uma gleba de 70 mil metros quadrados, denominada São José, onde existem exemplares únicos de diversas espécies de café e a população mais antiga do mundo de plantas de arábica.

De acordo com a Faesp, a venda da área é uma ameaça direta ao patrimônio genético ali armazenado e às pesquisas em curso, com impacto na sustentabilidade e competitividade da cafeicultura do país. A possível transferência das pesquisas para outro local seria um processo caro e demorado, comprometendo os estudos em desenvolvimento. A entidade defende que decisões sobre a venda de bens públicos considerem não apenas os aspectos financeiros, mas também os impactos sociais, econômicos e ambientais a longo prazo.

“O café da Colômbia, que é uma referência no mercado internacional, é fruto das pesquisas do IAC”, diz Meirelles. “O Instituto faz um trabalho grandioso, que precisa ser preservado. Temos expectativa de que o governador reveja essa proposta”, afirma.

TEXTO Redação

Cafezal

Coffee of the Year já premiou 160 cafeicultores brasileiros

A premiação, que tem inscrições até 7 de outubro e acontece durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, reforça a valorização do produtor

Criado em 2012, o prêmio Coffee of the Year (COY) surgiu para valorizar os produtores de café e promover os grãos especiais no mercado nacional. A ideia nasceu no Espaço Café Brasil, embrião da Semana Internacional do Café (SIC), como uma competição nacional em que os melhores cafés do país, previamente selecionados por especialistas, fossem avaliados e provados pelo público.

O objetivo principal do COY é aproximar os brasileiros dos cafés de alta qualidade, que até então eram mais conhecidos por provadores e, em grande parte, exportados. Desde o primeiro campeão, a Fazenda Sertãozinho (MG), o prêmio tem ajudado a ditar tendências no setor e a abrir portas para os produtores.

Em 2016, o prêmio inovou ao incluir os cafés canéfora (conilon e robusta), reconhecendo a qualidade dessas variedades, especialmente de estados como Espírito Santo e Rondônia, consolidando o COY como uma plataforma de valorização dos melhores cafeicultores do país, independentemente da espécie ou região.

Hoje, o Coffee of the Year, que vai acontecer durante a SIC entre 20 e 22 de novembro, em Belo Horizonte, é uma referência no setor, promovendo a excelência da produção cafeeira brasileira em todas as suas vertentes e destacando a diversidade dos cafés nacionais.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

Cafés cultivados em solo vulcânico

Entre Minas Gerais e São Paulo, existe uma região que consolida-se em solo vulcânico e une gerações em torno da produção de cafés especiais

A Região Vulcânica está em uma área conhecida como caldeira vulcânica – resultado de um vulcão extinto há aproximadamente 80 milhões de anos e que definiu um território de solo vulcânico entre o sul de Minas Gerais e o nordeste de São Paulo. Formada por doze municípios, como Andradas, Botelhos e Poços de Caldas, no estado de Minas Gerais, e Águas da Prata e São Sebastião da Grama, em São Paulo, suas condições de clima e relevo delimitam um “terroir” singular onde são produzidos cafés. 

A vegetação é predominantemente formada por florestas tropicais do tipo Mata Atlântica. As altitudes das lavouras variam entre 700 e 1.300 metros (com uma média de 1.075 metros) e a temperatura anual média na região fica entre 17 e 20ºC. 

“Vimos a importância de a região ter uma associação para agregar valor ao produto e ao local”, explica Leandro Paiva, diretor do Polo Inovação Agroindústria do Café no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, um dos primeiros a incentivar a criação da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica, que conta com cerca de 800 produtores de café – 70% deles praticam agricultura familiar. “As pessoas já comercializavam o café com o nome de Poços de Caldas, Andradas, por exemplo, citando a presença, no local, de vulcões”, comenta. 

Com um histórico de produtos diferenciados por conta do terroir,  a marca Cafés da Região Vulcânica foi lançada oficialmente em 2020, durante a Semana Internacional do Café (SIC). “No começo foi difícil,  levou tempo, principalmente para o produtor entender que todas as ações tinham como propósito mostrar notoriedade, valorizar a terra e, assim, gerar valor para a produção”, destaca Paiva. 

“Nosso intuito é fomentar, mostrar o potencial de cada produtor local. Muitos já mudaram a vida através do nosso trabalho, e é isso que vale, o crescimento e ascensão dos cafés’’, diz Marco Antônio Lobo Sanches, presidente da Região Vulcânica e proprietário da Fazenda Curitiba. 

Marco Antônio Lobo Sanches, presidente da Associação dos Cafés da Região Vulcânica

Primeira parada 

Com o objetivo de plantar e comercializar cafés de referência, o grupo AgroFonte Alta surgiu em 2009. Hoje em dia, os grãos nascem em três fazendas, duas na cidade de Campestre e uma em Machado, no Sul de Minas. “Começamos a pesquisar sobre variedades, processos e cuidados no pós-colheita”, conta Leonardo Custódio, supervisor de qualidade no grupo há mais de dez anos.

Para fortalecer a marca Mantissa, a primeira ideia foi enviar os cafés para concurso. Deu certo. Além de finalistas por diversas vezes do Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso, em março de 2023 o grupo alcançou a quinta colocação, e, em 2022, o primeiro lugar no concurso da Região Vulcânica com o café cereja descascado. 

Atualmente, eles comercializam doze variedades, mas têm um banco com mais de quarenta delas para teste. Segundo Custódio, os testes examinam tecnologia, o modo como o café se comporta, resistência a pragas e doenças e produtividade. “Aqui também ajudamos outros produtores, auxiliando com dicas para melhorar na qualidade e, até, a chegar à final de concursos. Ajudamos nesse avanço para crescermos juntos. Somos uma região privilegiada”, acredita ele. 

Leonardo Custódio é supervisor de qualidade há mais de dez anos

Montanhas, picos e morros tornam a colheita manual a única opção viável. O calor durante o dia e o frio à noite geram cafés mais ácidos e com mais açúcar, segundo Custódio. “Cafés plantados de um lado da montanha não entregam a mesma bebida na xícara que o café plantado do outro lado”, explica.

Foco nos estudos 

Ilma Rosa Corrêa Franco, do Sítio Terra Nova, em Campestre, é uma das maiores promotoras da Região Vulcânica. “Precisamos de divulgação e ajuda. Aceitar que a troca de informações só vai melhorar os cafés da região”, comenta Ilma, cuja dedicação diária aos cafés rendeu a ela o primeiro lugar no concurso organizado pela Prefeitura de Campestre, em 2022. “Eu mesma trabalho no terreiro, no secador, coloco a lona depois que o sol vai embora e faço a torra”, detalha. 

Ilma, da segunda geração de cafeicultores, destaca a importância de cursos para melhorar cada vez mais o café que produz. “Acho que nasci num pé de café”, diz. “Somos sete irmãos e a maioria trabalha com café, cada um em seu espaço”, relata ela, que tem 800 pés de café herdados do pai. Além deles, hoje em dia, ela possui catuaí amarelo, catuaí vermelho, bourbon e mundo novo, totalizando 50 mil pés.

Dona Ilma e sua dedicação ao café especial

Da produção de commodities, Ilma e o marido, João Antunes, migraram para os especiais. “Fui uma das campeãs do concurso Florada, da 3corações, e a premiação foi em Campestre. Já batizei o talhão enviado para esse prêmio de ‘premiado’”, emociona-se. Em 2022, Ilma participou da Semana Internacional do Café e conseguiu compradores para seus grãos. “Criei a marca Rosa Franco. Rosa é meu sobrenome e Franco, o do meu marido, daí descobri na minha árvore genealógica que havia Franco nos meus antepassados, e assim decidimos a marca”, conta. 

A união pelo especial 

Cabo Verde tem altitude (785 e 1.255 metros) e clima (úmido) favoráveis para a produção de cafés especiais. Mas tem também um grupo de produtores dedicados, que faz parte da Associação dos Produtores de Cafés Especiais de Cabo Verde (Assprocafé), fundada em 2014. Atualmente, são trinta cafeicultores cujo objetivo é encontrar melhorias e soluções para valorizar o trabalho no campo e a produção de cafés especiais.

A Assprocafé, em parceria com o Sebrae, quer colocar, ainda, os grãos como referência nacional nesse segmento. Em 2022, cinco cafeicultores da associação estiveram na SIC. 

Henrique Palma Neto, dos sítios São Bartolomeu e dos Palma, conta que sua produção é antiga. Seus antepassados chegaram da Alemanha em 1882, em Santos, foram para São Paulo e, depois, para Cabo Verde. “Aqui compraram o primeiro pedaço de terra. Crescemos no café”, explica ele, que cultiva catuaí e arara. “Queremos desenvolver um projeto de turismo rural, para que as pessoas possam conhecer nossa região”, completa ele, que também produz o destilado de café João Fortes. 

O destilado homenageia João Batista Fortes, um homem bem-humorado e muito profissional no trabalho da fazenda. Sempre bem trajado, com chapéu, bota e facão na cintura, ele e seu cavalo Gaúcho cortavam diariamente as lavouras de café das serras de Cabo Verde. No fim de cada dia de trabalho, havia parada garantida em pelo menos um dos bares na rota para casa. Nessas paradas, João Fortes, que apreciava a cachaça, era solidário com o Gaúcho, que também tinha direito a uma dose servida no chapéu do cavaleiro. O café que compõem o destilado é extraído das cerejas, colhidas seletivamente nas lavouras e fermentadas. “Então, extraímos o mosto, secamos e seguimos com o processo de preparo da cachaça”, explica Neto.

Leandro Rodrigues dos Reis, do Sítio Córrego Fundo, da quinta geração de produtores, tem café sombreado em clima ameno, características que proporcionam uma maturação lenta e de qualidade. “Sabia que os nossos grãos tinham qualidade, mas meu pai preferia colher mais café do que ter atenção aos detalhes, então passei a cuidar do especial e seguimos ajudando um ao outro”, lembra. “Ainda temos o café do jacu, do qual produzimos uma leva pequena”, conta ele, que produz caturra, catuaí vermelho e catuaí amarelo, faz colheita seletiva e seca em terreiro suspenso. 

O café alimentou três gerações da família de Laís Podestá, da Fazenda do Córrego. Ela conta que foi para São Paulo estudar e especializou-se em fotografia. Com a pandemia, voltou para a fazenda e passou a se envolver com as divulgações da associação e apresentar seu café. 

Já Marcos Antonio Oliveira Carvalho, da Fazenda Fazendinha e atual presidente da Assprocafé, tem na sua propriedade, a mil metros de altitude, as variedades mundo novo, catuaís amarelo e vermelho, bourbons amarelo e vermelho e catucaí 2SL vermelho. 

A história com o café de Ivan Santana, da Fazenda Jangada, começou aos 11 anos, quando passou a ajudar a mãe, Zilda Goulart, na lavoura. “Aos 13 anos, minha mãe disse que eu precisava estudar e me formei técnico em cafeicultura”, recorda Santana. “Comecei a trabalhar em qualidade e anos depois comprei uma parte da fazenda em que minha mãe trabalhava”, completa. Os primeiros anos foram difíceis, a produção era commodity e eles tiveram que aperfeiçoar cada etapa. Até que, em 2019, ele conseguiu incluir seu café em uma compra coletiva e logo fez parceria com a cafeteria Dude Coffee. 

Santana fez outras parcerias e atualmente torra os cafés e os envia para todo o Brasil. A fazenda cultiva catuaí amarelo, catuaí vermelho, bourbon vermelho, mundo novo, arara e catuaí amarelo.

Companheirismo 

A história de Dulce Vieira Franco de Souza e Ablandino Saturnino de Souza começa com o bisavô e o avô de Dulce no Sítio Belém, em Campestre, quando, em 1878, foram plantados os primeiros pés de café.  Seu pai, Otoniel, não tinha tanto interesse nas produções como os outros irmãos. 

“Meu pai tinha paixão por tecnologia. Quando meu avô dividiu as terras, deixou as melhores partes para os outros filhos, pois acreditava que meu pai seria o primeiro a vendê-las. Ele só não contou com o fato de que minha mãe [Orminda] não concordaria com a venda”, conta Dulce. 

Dona Dulce e Ablandino

Mesmo insistindo, o pai de Dulce não conseguiu vender as terras, e esforçou-se para que os filhos estudassem para não depender da roça. “Mesmo assim, ninguém saiu da roça”. Dulce tornou-se dentista e mudou-se para Botelhos. “Trabalhei por 35 anos. Meu marido é pastor e no final de semana viajávamos muito com a igreja para realizar visitas missionárias, mas onde eu estivesse os pacientes me encontravam”, brinca. 

Ablandino, seu marido, passou a cuidar da propriedade e aprender ainda mais sobre o café. “Comecei a dividir meu tempo e quebrar a cabeça para melhorar a produção”, explica ele, que contou com um funcionário que cuidava de tudo até que o casal assumisse a gerência dos cafés. 

“Dei trabalho para a cooperativa, pois queria aprender cada detalhe, questionava cada valor e desconto, virei uma encrenca”, diverte-se Dulce. 

Com a ajuda de um agrônomo da Educampo, entenderam como dar qualidade ao café. “O profissional nos desafiou a pensar em soluções e começamos a fazer cerejas descascados. Temos um microclima que nos favorece, faltava só alinhar detalhes da produção. Hoje temos em 22 hectares as variedades arara, catiguá, paraíso e plantamos um pouco de geisha”, detalha ela. 

Eles já venceram dois anos seguidos o concurso de Campestre e foram finalistas do Florada Premiada, da 3corações. “Concurso de café é como vestibular, alguém vai passar e pode ser eu, então é sempre bom tentar”, completa a produtora. 

Pioneirismo

João Batista de Abreu, avô de Daniela Abreu da Silveira, da Fazenda Santo Antônio, é famoso em Botelhos por ter iniciado a comercialização de café e expandido a cultura na região. 

Daniela Abreu contou com o incentivo de seu avô para seguir no café

Daniela cresceu na fazenda, sob os ensinamentos do avô. “Em 1970 ele já produzia cafés com qualidade, mas ele era comerciante, casou novinho com a minha avó e tinha tino para o comércio”, conta ela. Desde novo o avô trabalhava numa farmácia da qual virou dono e onde começou a comprar e revender cafés. Até que propôs ao pai de Daniela, quando ainda era noivo de sua mãe, a produzir café de verdade. Compraram uma fazenda pequena. “Meu pai era caminhoneiro e andava pelo Brasil todo. Meu avô quis entender cada detalhe da produção, então eles foram para Santos estudar a Bolsa de Valores, o comércio e todo o universo dos grãos”, detalha ela. 

Daniela vivia na fazenda ajudando o pai, formou-se e fez mestrado em agronomia. “Mas eles não me ouviam, qualquer palpite meu era ignorado. Então, fui fazer outras coisas”, lembra. Ao lado da jornalista Vânia Marques, Daniela fundou o jornal Folha Agrosul. “Isso abriu o meu leque sobre mercado”. 

Em 2009, após a morte de João Batista, a família dividiu a propriedade. A família de Daniela assumiu uma parte, que, além do café, tinha gado. “Fui aprender na prática. Buscamos novas tecnologias e construímos um gado de corte e um de leite. Do café só fui cuidar com meu pai em 2020.”   

Em 2021, a família ganhou o concurso de Botelhos. No ano seguinte, vieram mais prêmios – o primeiro lugar da Região Vulcânica e entre os finalistas do Florada Premiada. Resultados da mudança no pós-colheita, como cuidado na secagem, feita em lotes. “Escolhi o terreiro, sequei com todo o cuidado e assim conquistamos o prêmio”. As variedades plantadas são catucaí, mundo novo, catuaí vermelho, catuaí 62 e arara.

Fazendo história

Em São Paulo, na divisa dos municípios de Caconde e Divinolândia, há um lugar colorido. É o Sítio Boa Vista do Engano, de Roberta Bazilli, cheio de ilustrações e que produz o café Dinocoffee. 

Roberta faz parte da quinta geração de cafeicultores e, desde 2005, está à frente da marca. A família se dedica à produção desde 1916 e todo o processo é feito artesanalmente, no interior da propriedade. Em 2007, o café de Roberta foi servido ao Papa Bento XVI em sua visita ao Brasil, e, em 2013, ao Papa Francisco, em sua passagem por Aparecida. “Devagar e sempre, vamos fazendo história”, orgulha-se ela.

Quando se formou em hotelaria, em 2002, Roberta decidiu voltar para Caconde, terra dos avós. Pós-graduada em Planejamento e Marketing de Produtos e Destinos Turísticos, técnica em cafeicultura e com cursos na área de barismo, classificação e degustação de cafés, ela decidiu reestruturar a plantação de café commodity da família. “Meu pai foi, aos poucos, adquirindo partes da fazenda. Assim, estruturamos o casarão”, explica. 

Roberta Bazilli e seu filho Theo

Entre 2002 e 2005, trocaram maquinários, mudaram o tipo de colheita, montaram a torrefação e, atualmente, Roberta e a família moram no sítio e enviam seus cafés a cafeterias e supermercados. Em média, são 400 sacas beneficiadas de mundo novo, catuaís amarelo e vermelho, bourbon amarelo e arara, ao lado de alguns pés de gesha. Embora pequeno, o sítio abriga uma cafeteria no mirante, a 11 Café Bar, um verdadeiro cartão-postal. 

Mudanças

Divinolândia nasceu plantando café, mas o empresário Silvio José Ferreira, proprietário das marcas Café Caldense e Pão de Queijo Xodó de Minas, não cultiva o fruto. Ele tem um espaço destinado a cursos, visitas, rebeneficiamento e torra dos grãos. “Aqui, ensinamos prova e torra de cafés”, explica Ferreira. O espaço chama a atenção pela tecnologia que oferece. Exemplos disso são o equipamento Full Collor, que faz a separação de até 100 sacas de café verde por hora, retirando até 99% dos defeitos do cafés, e a máquina de seleção de cafés torrados, com capacidade para mil quilos por hora. 

Antes dessa tecnologia, a seleção de cafés era manual, dificultando a produção de quantidade com qualidade. Boa parte dessa mudança é creditada a Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica. “O trabalho do Ferreira com a região é muito importante, uma forma de unir e apresentar soluções e oportunidades aos produtores’’, elogia. 

Leonardo Custódio e Ulisses Ferreira, diretor-executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica

Ferreira ajudou a alavancar, ainda mais, a região e unir os produtores. Técnico agrícola, Ferreira cursou administração e tem pós-graduação em cafeicultura. Sua família não tem ligação com o café, mas ele sempre se interessou por tudo que envolve a bebida. “Sempre gostei de trabalhar com associações e nossa região tem muitos produtores com potencial”, comenta. “Somos um grupo de pequenos produtores, e temos um trabalho dedicado a trazer a informação e a ajudar no desenvolvimento de cada etapa”, completa Ferreira. 

Fundada em 2005, a Associação dos Cafeicultores de Montanha de Divinolândia (Aprod) também faz suas conexões – entre pequenos produtores e o mercado consumidor através da Fairtrade, um movimento global em busca de mudanças para um comércio justo. O objetivo do movimento é incentivar o pagamento justo e sustentável para o produtor. “O comprador de fairtrade respeita o preço mínimo na hora de adquirir o café. E os produtores são engajados”, explica Francisco Sérgio Lange, conselheiro, consultor do meio ambiente e um dos fundadores da associação. 

Em 2012, a Aprod conquistou a certificação Fairtrade, que conta hoje com 69 associados. Só pode fazer parte quem é do município de Divinolândia e possui, no máximo, 30 hectares. O espaço da Associação foi inaugurado em 2015 e, ali, os produtores podem ter o controle do próprio café, rebeneficiá-los e armazená-los. “É um dos poucos armazéns que trabalham com microlotes”, conta Lange. 

Carmen Silvia de Avila da Costa, presidente da Aprod, ressalta como os produtores aprenderam a entender seus cafés, tanto na produção quanto na xícara. “Nossos produtores estão com a situação financeira equilibrada”, comemora ela. Alguns cafeicultores já estão trabalhando com agricultura regenerativa. Lange alerta para o fato de que eles precisam atentar para as mudanças climáticas, estudar mais sobre isso e como o fenômeno afeta a produção. “Temos um grupo engajado, que sabe que o trabalho não é da noite para o dia, é lento, mas que haverá mudanças. Tudo isso fez e faz a diferença”, explica Carmen. 

A Bourbon Specialty Coffees, exportadora de café verde que envia os grãos para o mundo todo, também ajudou a modificar a Região Vulcânica. Igor Ignacio, supervisor de qualidade, destaca o trabalho de anos até a consolidação da região. “Acompanhei a luta dos presidentes das associações para orientar produtores e refletir sobre as mudanças”, conta Ignacio. “Hoje, temos um trabalho consolidado, uma verdadeira mudança cultural. Os produtores estão sabendo o que estão plantando e não teria como a Bourbon ficar de fora.’’ 

Roberto Pereira, também do setor de supervisão de qualidade da Bourbon, afirma que todas essas ações agregaram conhecimento e  incentivaram cafeicultores a produzir qualidade. “Sentimos a mudança na hora de provar os cafés, e o produtor também sabe identificar sua bebida na xícara.’’ 

Em fevereiro de 2023, houve a primeira exportação dos cafés pela Bourbon com o selo da Região Vulcânica. É uma conquista importante para os cafeicultores da região, que estão há mais de dez anos trabalhando para o reconhecimento dessa origem. O primeiro lote foi para o Japão, país que já busca a origem e reconhece a qualidade dos cafés desse terroir. Para compor os lotes, entraram cafés premiados das Fazendas Santo Antônio, em Botelhos, e da Fazenda Recreio, em São Sebastião da Grama.

Texto originalmente publicado na edição #79 (março, abril e maio de 2023) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Agência Ophelia