Cafezal

Passando o bastão: histórias sobre sucessão familiar na cafeicultura

Reportagem traz histórias que ilustram a necessidade de pensar o processo sucessório da propriedade rural

*Na data de postagem (1/12), essa matéria estava entre as finalistas do 4º Prêmio de Jornalismo Cafés do Brasil do Conselho Nacional do Café (CNC)

Por Lívia Andrade

A sucessão familiar no agronegócio é um tema sensível – e na cafeicultura não é diferente. Nem sempre os filhos crescem acompanhando os pais na lida no campo, especialmente quando se mudam para estudar na cidade. Não por acaso, programas dedicados à sucessão no campo vêm ganhando força em diferentes estados brasileiros. Um exemplo é Herdeiros do Campo, que nasceu no Senar Paraná e hoje também é aplicado no Espírito Santo. Em São Paulo, o Senar desenvolve o Sucessão Familiar Rural e, em Minas Gerais, a Emater lançou este ano o Futuro no Campo, para capacitar jovens e fortalecer a permanência no meio rural.

Para retratar os caminhos – planejados ou não – dessa transição entre gerações, a Espresso ouviu cinco famílias que passaram (ou estão passando) pelo processo de sucessão na cafeicultura.

Há aquelas cujos pais optam, em vida, por repartir a propriedade entre os filhos. Há quem escolha estruturar os bens em holding e organizar as regras de governança a serem seguidas. E há quem só se veja diante da sucessão após a morte dos pais. As histórias a seguir ilustram diferentes formas de lidar com a transição, que é inevitável.

Família Lacerda

O vascaíno Onofre de Lacerda, 78 anos, começou a vida como meeiro, plantando milho, cebola, batata, feijão e criando algumas vacas. Depois de 12 anos, comprou o primeiro pedaço de terra no Caparaó, serra que liga o Espírito Santo a Minas Gerais e abriga o Pico da Bandeira. Assim, ele e a esposa, Maria, criaram oito filhos (cinco mulheres e três homens), que desde cedo ajudavam os pais na lavoura.

Onofre Lacerda (com a camisa do Vasco) e a família, que atualmente está envolvida com o universo cafeeiro

Em 1979, o patriarca deu início ao cultivo de café. “Naquela época, tinha pouco cafezal por aqui, a produtividade era baixa, 12 sacas por hectare”, conta Júlio Barros, extensionista rural da Emater-MG. Mas a instituição mineira iniciou um trabalho voltado ao aumento de produtividade na região. Superada essa etapa, o foco passou a ser a qualidade dos grãos e a organização de concursos.

A virada veio em 2010, quando os Lacerda venceram o 1º concurso da região. De lá para cá, não pararam mais. “Temos mais de 200 prêmios, entre municipais, regionais, estaduais, da Abic e também o Coffee of the Year”, diz Amanda Lacerda, tecnóloga em  cafeicultura e neta de Onofre.

Hoje em dia, sete filhos e três netos trabalham com café especial. Mas nem sempre foi assim. “Em 2000, a família estava quase 100% voltada ao café e veio a baixa dos preços. Nos anos seguintes, fizemos visitas com o Sebrae às Montanhas do Espírito Santo para ver como o pessoal estava driblando a crise”, lembra José Alexandre Lacerda, um dos filhos. “O pai sempre foi uma pessoa antenada e acreditou que daria certo produzir o café especial. Hoje colhemos os resultados”. Além disso, Onofre Lacerda seguiu à risca as orientações da Emater-MG – uma parceria que, segundo a família, o fez sentir-se valorizado como produtor rural.

No início, os filhos não acreditaram. “No primeiro concurso regional da Emater, o pai mandou três amostras e nos convidou para a festa de premiação, mas era período de colheita e não fomos. Achávamos difícil ganhar, eram 400 amostras de mais de 20 municípios”, lembra Zé Alexandre.

À tarde, Onofre e Maria chegaram com a notícia de que tinham ganhado os dois primeiros lugares na categoria descascado e o primeiro na categoria natural. “Então, nosso café é bom!”, comemorou o filho, quando foi advertido. “Pode ter sido acidente, temos que trabalhar para repetir o resultado”, disse Onofre.

Família Lacerda

A guinada da família aconteceu em 2012, com a conquista do 1º lugar no Concurso de Qualidade de Café de Minas Gerais. “Estávamos ganhando concursos desde 2010, mas não tínhamos vendido café com valor agregado. Naquele ano, o café custava R$ 380 a saca e vendemos nove sacas a R$ 1 mil e uma saca a R$ 2,5 mil”, conta Zé Alexandre. O mesmo lote foi vencedor do 9o Concurso da Abic, vendido a R$ 3 mil a saca.

Mesmo em meio às conquistas da família, Onofre mantinha os herdeiros com os pés no chão. “Quem está no topo tende a cair. Temos que trabalhar para não ficar para trás”, repetia o patriarca, que comandou os cafezais até 2020. Naquele ano, decidiu formalizar a sucessão: repartiu os 49 hectares entre os filhos, com tudo registrado em cartório, como manda a lei.

Hoje, cada herdeiro cuida de seu próprio pedaço, mas todos se ajudam na colheita – e os netos de Onofre refinam o trabalho na ponta final. João Vitor, filho de Zé Alexandre, tornou-se Q-Grader e avalia os microlotes da família. Ele e as primas criaram uma marca de café e participam de eventos como o São Paulo Coffee Festival, vendendo diretamente ao consumidor. A família também mantém duas cafeterias no Caparaó e, com apoio do Sebrae, passou a oferecer turismo de experiência, recebendo visitantes para vivenciar a colheita. Onofre continua por perto, espalhando sabedoria – e o amor pelo café e pelo Vasco da Gama. Segundo a esposa, ele só tira a camisa do time para dormir.

Família Ramos

Do plantão ao plantio. Este é o lema da enfermeira e, agora, produtora rural Érika Fernanda Ramos, 46 anos. Em 2022, a primogênita de José Francisco, o Ica, e Neiva Noemi viu sua vida virar de ponta-cabeça. Com especialização em UTI, nefrologia, auditoria e gestão, Érika vivia uma nova fase profissional como gerente de nutrição clínica da empresa do irmão, no Pará.

Como de costume, foi passar as férias na casa dos pais, no Sítio Três Barras, em Campos Gerais (MG). Lá, percebeu que a pressão de Ica – hipertenso até então controlado – estava alta. Adiou a volta para casa e levou o pai ao cardiologista, que o encaminhou imediatamente para exames. Mas, sem um diagnóstico definido, Ica começou a perder peso, sentir dores e entrou em depressão. Érika insistia com os médicos, que respondiam: “Já fizemos todos os exames de rastreamento. Não há tratamento. Vamos encaminhá-lo para cuidados paliativos, para controle da dor”. Em 90 dias, Ica faleceu, ao lado da esposa e da filha primogênita. Seus outros filhos, Everaldo e Marcela, que moravam no Pará, não chegaram a tempo de se despedir.

Érika e sua mãe, Neiva, que hoje trocam conhecimento sobre gestão do sítio

Após o sepultamento do pai, Érika voltou para a roça e, ao lado da mãe, parou diante do terreiro. O café, com a chuva, tinha mofado. “Não sabia o que fazer, se lavava, se colocava no secador, se espalhava assim mesmo”, lembra ela, que aos seis anos partiu para a cidade estudar e morar com a avó. “Terminamos a safra de 2022 aos trancos e barrancos”.

A enfermeira permaneceu em Campos Gerais, apagando um incêndio atrás do outro. O funcionário do pai pediu demissão. A mãe, ainda em choque, tentava reunir forças para assumir as finanças da família – tarefa difícil, já que o marido era um homem à moda antiga: não usava planilhas, guardava na cabeça todos os custos, gastos e lucros. Por dentro, Érika estava desesperada, mas se manteve firme para transmitir segurança à matriarca. Foi então que estacionou o carro do pai na Cooxupé, cooperativa da qual ele era associado. “Cheguei dirigindo o carro dele e o pessoal veio me abraçar e dizer: ‘Érika, a cooperativa é uma família. Sinta-se em casa, estamos aqui para ajudá-la’”.

O acolhimento ajudou-a a se reerguer. Dois meses depois da morte do pai, contratou um agrônomo. “Abri o jogo com ele: vamos começar do zero, nosso único histórico são os dados da cooperativa e o conhecimento da minha mãe”, relembra. “Percorremos os cafezais para contar os pés, ver a situação da lavoura”.

Com os bens ainda bloqueados, a família entregou o café à cooperativa e fez compras em nome da mãe, também cooperada. Inventário acertado, a família abriu a Agroramos, uma empresa com as cotas de Érika e de Everaldo. “Minha irmã arrendou a parte dela e me tornei a gestora”, diz Érika.

Não foi fácil. A enfermeira enfrentou julgamentos, mas se agarrou ao apoio de quem lhe estendeu a mão. Aos poucos, foi se inteirando da situação da propriedade e organizando tudo em planilhas, para facilitar a gestão. O empenho logo chamou a atenção na Cooxupé: “Lá vem a filha do Ica. Ela é igual a ele – pergunta tudo, faz contas, é o Ica estudado”, diziam os funcionários, em tom de carinho e admiração.

Seu comprometimento rendeu-lhe um convite para representar a unidade de Campos Gerais no Encontro de Mulheres Cooperativistas, realizado em Florianópolis em 2024. Lá, ouviu uma frase que a marcou: “Herdeiro recebe a herança e faz o que quiser com ela. Sucessor arregaça as mangas e dá continuidade ao legado.” Foi o empurrão que faltava. Desde então, Érika se dedica a honrar a tradição da família, já na quarta geração de produtores rurais.

Aos 134 mil pés de café do sítio de 39 hectares, somou mais 60 mil pés. A expectativa era colher 450 sacas este ano, mas a seca derrubou a produção para 200 sacas. “Ano que vem temos a possibilidade de chegar a 1,8 mil sacas”, anima-se. “Embora não fosse minha vocação, me entreguei de boa vontade para aprender e honrar os calos que meus pais criaram nas mãos para me educar”, finaliza.

Família Croce

Inspirar e empoderar é o propósito da Fazenda Ambiental Fortaleza (FAF). A empresa familiar, que cultiva café em sistema agroflorestal, orgânico e regenerativo, criou a FAF Coffees – seu braço de exportação – com uma rede de 450 produtores parceiros, colaboradores e clientes que acreditam ser possível transformar o mundo por meio do café. A história começou em 2001, quando Silvia Barreto herdou a propriedade em Mococa (SP). Na época, ela, o marido, Marcos Croce, e os filhos Daniel, Felipe e Rita viviam nos Estados Unidos.

Silvia Barreto e Marcos Croce

Adepta da alimentação orgânica desde os anos 1980, Silvia converteu a fazenda para o sistema, priorizando a saúde do solo e a produção de alimentos saudáveis, mesmo com a queda inicial na produtividade. Em 2004, Marcos Croce, que trabalhava com comércio exterior, viu potencial para cafés orgânicos no mercado norte-americano e começou a vender para torrefações de cafés especiais, com a ajuda de Felipe na conquista de clientes. O movimento chamou atenção dos vizinhos, que pediram a Marcos para exportar seus cafés.

Enquanto isso, os herdeiros estudavam nos EUA. Felipe cursava empreendedorismo com um professor que tinha uma torrefação de cafés especiais. Empolgado, contou que a família cultivava café, mas ouviu: “Brasil não me interessa, é café barato, usado para saborização”. O choque, no entanto, lhe rendeu um trabalho na torrefação, onde provava café toda semana.

Com a crise financeira de 2007/2008 e o aumento dos custos no Brasil, o negócio da família enfrentava dificuldades. “A fazenda entrou na minha vida de forma caótica. Tranquei a faculdade e fui morar lá em 2009 para ajudar”, conta Felipe. “Meus pais eram do meio ambiente, do orgânico, mas o café bebia inconsistente”.

Nos primeiros anos na fazenda, Felipe focou em qualidade, seguindo a tendência que via nos EUA: pessoas comprando alimentos no mercado e café em torrefações especiais. Enquanto isso, Marcos levava clientes da Suécia, Noruega e EUA para conhecer a FAF. “Meu pai tem a incrível capacidade de unir pessoas e vender um sonho”, diz Felipe.

Jovem, ele achava difícil viver no interior. Mudou-se para São Paulo e passou a dividir o ano entre Brasil e exterior. Formou-se em Portugal, trabalhou na Noruega, Suécia e Austrália, sempre buscando abrir mercado para o café. “O Brasil era esnobado pelos geeks, e os tradicionais impunham um limite de preço”, lembra. A solução foi buscar novos entrantes no setor, sem dogmas. “90% dos nossos clientes começaram em 2010. Crescemos juntos, vendendo sustentabilidade na vertical da qualidade e na horizontal do manejo.”

Para Felipe Croce, é um luxo trabalhar com os pais, pessoas em quem confia

A FAF, que começou exportando café de alguns vizinhos, hoje comercializa a produção de 450 famílias em diferentes estágios de sustentabilidade. Conta com agrônomos convencionais e regenerativos. “O caminho do meio sempre é melhor”, diz Felipe. Eles atuam nas comunidades, implantando unidades de referência como modelo para outros produtores.

Ao longo do percurso, porém, Felipe, único filho com vocação para produtor, pensou em desistir muitas vezes. Ficou até 2013, quando a mãe assumiu o comando. Só retornou em 2018, quando, para evitar desgastes, a fazenda foi dividida em setores. “Hoje, arrendo a parte da fazenda que produz café e tenho minha equipe e maquinários”, diz.

Silvia toca outras produções, como leite, mel, banana e outras frutas que, processados, são oferecidos na hospedaria da fazenda. “Minha mãe quer proporcionar para as pessoas um pouco de sua vivência de infância, saudável, cercada de natureza”, explica.

Nos últimos anos, os Croce iniciaram o processo de sucessão. Felipe passou a cuidar das finanças, das parcerias com produtores e dos contratos. “Estou refinando os processos para ter uma estrutura mais organizada”, diz. Sócio do pai na FAF Coffees, valoriza a presença ativa do patriarca. “Talvez mais do que ele gostaria, mas enfrentamos geadas, secas… e meu pai é ótimo em transmitir essência para as pessoas.”

Com o tempo, Felipe passou a admirar ainda mais os pais. “Filhos querem inovar, pais têm o pé no chão. O equilíbrio está no meio”, diz. “Trabalhar com a família é difícil, a comunicação pode ser complicada, mas é um luxo ter ao lado pessoas em quem se pode confiar.”

Família Germano

Neto de italianos, filho de mineiro e paulista, Antônio Germano da Silva, 58, nasceu no Paraná vendo a família formar cafezais. Em 1984, migraram para o Acre e tentaram plantar café, sem sucesso. Silva montou uma empresa e trabalhou anos na cidade, até ver o casamento e a família ruírem. Lembrou então do conselho do pai sobre a importância de se trabalhar em família.

Casou-se de novo e, em 2009, voltou à propriedade rural em Brasiléia (AC). Tirou o capim, reflorestou 30 hectares, plantou 2 mil castanheiras, árvores medicinais e café conilon, que não se adaptou bem. A retomada da família com o café veio em 2022, ao ver uma propaganda sobre o robusta amazônico e decidir apostar.

Para Antônio Germano, trabalhar junto com os familiares e em harmonia com a natureza é o segredo para uma vida próspera

Hoje, ele, a esposa, Elizângela, e os seis filhos cultivam 20 hectares de café em sistema agroflorestal, consorciado com plantas medicinais como mariri e chacrona – ambas a base do chá ayahuasca, que a família doa a comunidades terapêuticas por seu valor espiritual e medicinal. “Não podemos vender mistérios da natureza”, diz Silva, fundador da Sociedade União do Vegetal Núcleo Cristo Rei, de inspiração cristã e foco em autoconhecimento e educação ambiental.

Nos últimos três anos, passaram a plantar clones de robusta amazônico e hoje somam 60 mil pés. “Este ano, colhemos 25 mil plantas e estimamos 350 sacas beneficiadas”, diz. Os filhos atuam em todas as etapas da produção. “É uma família unida, comprometida e cheia de potencial”, afirma Michelma Neves de Lima, da Seagri (Secretaria de Estado da Agricultura).

Atualmente, todos os filhos moram e trabalham na propriedade, até os casados, com casa e pedaço de terra próprios. Cada um cuida de uma área, mas todos se ajudam no manejo e contratam reforço quando preciso – todo o processo é manual e a secagem, feita no terreiro.

Em 2024, a família entrou no universo dos cafés especiais, participando de cursos da Emater e capacitações da Seagri com a Embrapa. Desde então, conta Michelma, têm se destacado em concursos como o QualiCafé e o Florada Premiada da 3corações.

Para o patriarca, o segredo é ensinar o valor do esforço. “Se o filho recebe o bem sem aprender a dar valor, o ditado ‘pai nobre, filho rico e neto pobre’ vira realidade”, diz. No sistema da família Silva, todos dividem os ganhos e ainda fazem renda extra produzindo clones de café para outros produtores.

Silva também plantou 2 mil castanheiras, uma espécie de poupança para o futuro. “Quando começarem a produzir, meu filho mais novo ainda terá 20 anos. É uma segurança, porque o clima está mudando”, diz, lembrando que a lata é vendida a cerca de R$ 250 e algumas árvores chegam a render 15 latas. Assim, trabalhando com os filhos na agricultura familiar, ele vive o presente enquanto planta as sementes do amanhã.

Família Baracat Sanchez

Evandro Sanchez, filho de usineiro de Catanduva (SP), depois de suceder o pai nos negócios de açúcar e etanol, expandiu seus ganhos com o café na Fazenda Dois Irmãos, no Cerrado Mineiro, hoje com 300 hectares. Desde cedo, incutiu nos cinco filhos o gosto pela terra. Maria Gabriela Baracat Sanchez, a terceira filha, herdou esse apreço. “Nas férias, ele nos levava para andar pelas fazendas”, conta. Não à toa, cursou agronomia em Viçosa e, durante uma greve na universidade, levou as amigas para trabalhar no café.

Gabriela herdou do pai, Evandro, a paixão pelos cafezais e hoje é a gestora da Fazenda Dois Irmãos, no Cerrado Mineiro

Percebendo seu entusiasmo, o pai ensinou-lhe como funcionava a fazenda tão logo ela se formou. “A gente sai da faculdade com muita teoria e pouca prática”, destaca. Em 2001, apresentou-a aos fornecedores como gestora da Dois Irmãos. Desde então, fez pós-graduação em matemática aplicada, mestrado em produção vegetal e aperfeiçoou-se na gestão da propriedade. “Hoje, a fazenda é uma empresa”, orgulha-se Gabriela, que também se tornou Q-Grader, ensinou seus funcionários a provarem cafés e direcionou o negócio para a produção de especiais. “O comprador pode vir aqui todos os anos que vai comprar um café tão bom ou melhor do que o anterior, porque temos controle, processos”, explica.

Há cinco anos, Evandro começou o processo sucessório. Chamou advogado, solicitou levantamento patrimonial e reuniu os herdeiros. “Dessas reuniões só participavam os filhos. Meu pai nunca permitiu a interferência dos cônjuges”, detalha ela.

Após muitas conversas, os irmãos organizaram os bens em holdings, das quais são sócios-herdeiros. “A ideia é que, no evento sucessório, a produção continue com a holding, não mais em nome de pessoas físicas”, explica o advogado Fernando Castellani, especialista em sucessão. “O dono da fazenda original pode manter 100% das cotas em vida e transferi-las depois, ou ainda repassá-las antes de morrer.”

Segundo Castellani, a estrutura de holding patrimonial ou de empresas operacionais ajuda a disciplinar o processo sucessório, trazendo tranquilidade, previsibilidade e regulação de conflitos. Foi exatamente o que Evandro fez: organizou os bens da família em várias holdings. “Tem a holding da parte da terra, a holding da parte industrial, cada setor é uma holding”, explica Gabriela. “Meu pai escolheu esse caminho para preservar não só o patrimônio, mas, o mais importante, a união dos irmãos”, acrescenta.

Gabriela conta que organizar uma holding é um gasto gigantesco – mas menor do que seria uma divisão por herança. Inclusive, a família correu para finalizar o processo ainda este ano, temendo a reforma tributária, que deve aumentar o imposto de sucessão. “Outra vantagem dessa estruturação é direcionar as cotas para os filhos por intermédio de um instrumento societário, chamado acordo de sócios, que estabelece as regras de governança: qual filho manda, quais assuntos são decididos por maioria, quais dependem da opinião de um terceiro, como se age em caso de conflito, como funciona para tomar dívida, pagar, vender, decisões estratégicas”, explica o advogado.

Tudo isso resguarda o patrimônio da família. “Se algum irmão quiser vender, não pode ofertar a terceiros, tem que vender para os sócios e esperar, no mínimo, um ano para o pagamento”, diz Gabriela. Outra trava é que, em caso de morte de um dos sócios, os herdeiros terão direito aos dividendos, não à gestão.

“Me sinto aliviada por estarmos nesse caminho”, conta. “Meu pai sempre ensinou o prazer do trabalho, de cuidar e preservar o patrimônio. E, mais do que isso, o sonho dele é que a gente possa aumentá-lo”, conclui.

Texto originalmente publicado na edição #89 (setembro, outubro e novembro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Lívia Andrade • FOTO Divulgação

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Parlamento Europeu adia em um ano aplicação da Lei Antidesmatamento

Emenda retira obrigatoriedade de due diligence para operadores que vendem o produto após a entrada no mercado europeu

O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta (26) o adiamento da aplicação da lei antidesmatamento para 30 de dezembro de 2026. O adiamento é uma das diversas emendas que simplificam a EUDR. Para micro e pequenas empresas, a prorrogação segue até junho de 2027.

Segundo comunicado divulgado para a imprensa pelo Parlamento, o prazo adicional busca “garantir uma transição tranquila” e permitir a implementação de medidas para reforçar o sistema de TI (criado pela União Europeia para implementação da lei e utilizado por operadores, comerciantes e representantes para emissão das declarações eletrônicas de diligência).

Além do adiamento, uma das emendas votadas estabelece que a responsabilidade de apresentar a declaração de due diligence recai sobre empresas que colocam o produto no mercado europeu pela primeira vez, retirando essa obrigatoriedade dos operadores que comercializam os produtos posteriormente. Também alivia as exigências para micro e pequenos produtores, que passam a entregar apenas uma declaração simplificada.

O texto foi aprovado por 402 votos a favor, 250 votos contra e 8 abstenções. A negociação segue agora para os representantes dos Estados-Membros no Conselho Europeu, e a versão final deve ser aprovada pelo Parlamento e pelo Conselho e publicada antes do final deste ano para que entre em vigor.

TEXTO Redação

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Saca de café do Cerrado Mineiro é vendida por R$ 200 mil

Campeã da categoria cereja descascado, saca produzida por Eduardo Pinheiro Campos, da Fazenda Dona Nenem, quebra recorde nacional

Durante o 13º Prêmio Região do Cerrado Mineiro, que aconteceu na quarta (19) em Uberlândia (MG), a saca campeã da categoria cereja descascado, produzida por Eduardo Pinheiro Campos, da Fazenda Dona Nenem, em Presidente Olegário, foi arrematada por R$ 200 mil.

Este foi o maior valor já pago por uma saca de café em um leilão nacional – o último recorde foi a venda de uma saca a R$ 115 mil em 2024, no mesmo concurso – e o lance  foi dado pelo consórcio formado por Expocacer, Veloso Green Coffee, Marex e Nucoffee. “É uma honra e um orgulho enorme para nossa equipe alcançar esse resultado. Eles são quem realmente colocam a mão na massa, nós apenas orientamos o caminho para chegar a esse nível de excelência”, comemorou Campos, cujo café alcançou 90,59 pontos. “A emoção é muito grande, porque são muitos anos de trabalho, conquistas e prêmios”.

O segundo maior lance, de R$ 100 mil, foi feito pela Louis Dreyfus Company para o café campeão da categoria natural, produzido pela Agropecuária São Gotardo Ltda. Reunindo nove lotes das categorias vencedoras, o leilão movimentou um total de R$ 562 mil, com média total por saca de R$ 62 mil. 

“Este recorde é uma soma de reputações. A do Eduardo Pinheiro Campos, como maior campeão da história do Prêmio Cerrado Mineiro, e a reputação de nossa região, que completa 20 anos como Indicação Geográfica e se consagra líder no segmento de origem controlada”, destacou Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado.

TEXTO Redação

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Café é presença ativa na COP30 com debates, degustações e tecnologia na AgriZone

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, degusta robusta amazônico (crédito: Embrapa)

Colaborou Enrique Alves, de Belém (PA)

O café tem sido um dos “participantes” mais ativos da COP30, que reúne 194 países em Belém (PA) até o dia 21. Em meio às discussões sobre clima e floresta, a bebida ocupa espaço destacado na AgriZone — área temática instalada na Embrapa Amazônia Oriental, a 1,8 km dos pavilhões oficiais —, com painéis, palestras, demonstrações técnicas e degustações que reforçam o peso do setor na agenda de sustentabilidade.

A AgriZone, com cerca de 3 mil hectares, concentra debates sobre segurança alimentar, bioeconomia, carbono e adaptação climática. Funciona como vitrine do agronegócio de baixo carbono e ponto de referência para quem busca entender o papel da agricultura nas negociações ambientais.

Cafés na “CUP30”
No dia 9, véspera da abertura oficial da COP30, a caravana dos robustas amazônicos já estava instalada no espaço. Segundo o pesquisador Enrique Alves, da Embrapa Rondônia, houve degustações de 30 cafés especiais — arábicas, conilons e robustas — de diferentes regiões, promovidas na Loja Bem Cafeinado, em uma ação batizada de CUP30.

Robustas amazônicos degustados antes da abertura oficial da COP30 (crédito: Embrapa)

No dia 10, a equipe de Rondônia levou à AgriZone uma “vitrine viva” com 50 clones de robustas amazônicos cultivados a pleno sol e em sistema agroflorestal com cacau, banana e açaí. Os materiais fazem parte do Projeto de Melhoramento Participativo da Embrapa, que envolve produtores no desenvolvimento de novas cultivares. “Este pode ser um grande legado agronômico na COP30”, acredita Alves. A programação conduzida pela instituição inclui debates, degustações assistidas e a apresentação de tecnologias sustentáveis.

Ainda no dia 10, na GreenZone (espaço oficial da COP30), o estande do Sebrae ofereceu aos visitantes cafés com Indicação Geográfica para degustação.

Arábicas e canéforas de diversas IGs são servidos no estande do Sebrae (crédito: Enrique Alves)

Nesta sexta (14), à tarde, entidades e lideranças da cafeicultura se reúnem no estande do Sistema CNA/Senar, também na AgriZone, para discutir temas prioritários. Representantes da BSCA, CNC, Cecafé, ABIC, Abics e CNA abrem a programação com breves exposições, seguidos por um painel que reúne produtores de arábicas e canéforas para discutir tecnologia, inovação, qualidade e práticas regenerativas.

Outro painel, formado por instituições parceiras, está previsto para tratar de dados e programas relacionados a clima, carbono, boas práticas, recuperação de nascentes, certificação e comunicação ao consumidor. Para o diretor-executivo da ABIC, Celírio Inácio, a presença do setor na COP30 “reforça que valorizar o produtor é, também, entregar um café que vá além das normas de qualidade”. Segundo ele, a evolução da indústria criou um ciclo virtuoso que elevou a exigência por melhores cafés e ampliou o consumo interno, consolidando o país como maior consumidor do que produz.

50 clones de robustas amazônicos na “vitrine viva” da AgriZone (crédito: Enrique Alves)

A agenda prossegue na sexta (15), quando a Coocacer Araguari apresenta, às 15h, o Programa Café Sustentável no espaço da Embrapa. A iniciativa, feita em parceria com a Serasa Experian, será detalhada a representantes de governos, instituições e empresas internacionais, com foco em conformidade socioambiental, inovação e monitoramento climático no cooperativismo cafeeiro.

Indígena prova café especial durante palestra na COP30 (crédito: Embrapa)

O que também já foi
Segundo a programação divulgada no site Luma, no primeiro dia da COP30 a AquaPraça — pavilhão italiano flutuante — sediaria o evento Soluções de Café Regenerativas, dedicado a debates sobre agricultura de baixo carbono e inovação climática. Entre os participantes previstos estavam a diretora-executiva da OIC, Vanúsia Nogueira, o diretor-geral de Cooperação para o Desenvolvimento da Itália, Stefano Gatti, e Andrea Illy, presidente da illycaffè.

TEXTO Redação

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Premiações encerram a SIC 2025

Além do COY, outras premiações na sexta (7) celebraram o talento, a inovação e a diversidade do café brasileiro

O encerramento da Semana Internacional do Café 2025, nesta sexta (7), consagrou os melhores do ano no setor cafeeiro. No Grande Auditório do Expominas, em Belo Horizonte, foram revelados os vencedores das principais premiações que reconhecem a excelência, a criatividade e o impacto da cadeia do café no Brasil.

Coffee of the Year 2025

Um dos momentos mais aguardados da programação, a 14ª edição do Coffee of the Year (COY) coroou os melhores cafés do Brasil em 2025, consolidando o concurso como a principal vitrine da diversidade e da excelência da produção nacional. Na categoria arábica, o vencedor foi Guilherme Abreu Vieira, do Sítio Família Protazio, no Caparaó (MG), e na categoria canéfora, o primeiro lugar ficou para Carolinna Bridi Gomes, da Fazenda São Bento, nas Montanhas do Espírito Santo.

O concurso promove e valoriza os melhores cafés arábicas e canéforas do país. Foram 601 amostras de diferentes regiões do país – um recorde – analisadas por Q-Graders e R-Graders licenciados pelo Coffee Quality Institute (CQI). As 180 melhores amostras (150 de arábica e 30 de canéfora) foram oferecidas em rodadas de cupping para geração de negócios e degustação de visitantes da SIC. Os 10 melhores arábicas e os 5 melhores canéforas receberam o voto popular em degustações às cegas, que decidiram os dois campeões. Depois das premiações, aconteceu o Cupping dos Campeões nas salas de Cupping.

Carolinna Bridi e Guilherme Abreu Vieira, campeões do Coffee of the Year 2025

Espresso Design 2025

Em sua 7ª edição, o concurso promovido pela revista Espresso e que destaca as embalagens mais inspiradoras do ano abriu a tarde de premiações consagrando o Café Menina, com a coleção Por do Sol Sítio Menina. A campeã foi escolhida entre vinte embalagens finalistas, expostas nos dois primeiros dias da SIC para votação dos visitantes. O segundo lugar ficou com Soul Cafés, com a coleção Soul e Café, e o terceiro com Oli Cafés.

Com mais de 80 embalagens inscritas, o concurso avalia identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade. Estes critérios foram avaliados pela equipe da Espresso e pela especialista convidada Andrea Menocci, consultora com mais de dez anos de experiência no mercado de cafés, com foco na adequação e desenvolvimento de rótulos.

Pódio do concurso Espresso Design, realizado pela Espresso

Torrefação do Ano Brasil 2025

Na 2ª edição da premiação Torrefação do Ano Brasil 2025, organizado pela Atilla Torradores, a torrefação campeã foi Do Coado ao Espresso, em Lauro de Freitas (BA). O segundo lugar ficou para Nélly Cafés Especiais, de Presidente Olegário (MG), e o terceiro para a torrefação William & Sons Coffee, de Porto Alegre (RS). O concurso, que valoriza o trabalho das torrefações de qualidade de todo o país, teve este ano 131 torrefações inscritas, de 18 estados. A final, que aconteceu durante a SIC, selecionou a melhor entre vinte finalistas.

Pódio do prêmio Torrefação do Ano, organizado pela Atilla Torradores

Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC

Minas Gerais foi consagrada no 3o Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café). O concurso premiou Larissa Rinco, da Horlando Agro Coffee, em Albertina, como a grande Masterblender Brasil 2025. O segundo lugar ficou com Matheus Vazi, da Liv Logística Armazéns Gerais, de Varginha (MG), e o terceiro, Elder Caetano, da Nuance Cafés Especiais, de Araguari (MG).

O campeonato promove o conhecimento na criação de blends de café, destacando o trabalho de classificadores, degustadores e mestres de torra. Foram três etapas seletivas estaduais, com a final acontecendo no último dia da SIC. Os blends foram avaliados por um júri técnico a partir do Protocolo Brasileiro de Avaliação Sensorial de Cafés Torrados, desenvolvido pela associação.

Florada Premiada

O Concurso Florada Premiada 2025, promovido pelo Grupo 3corações em parceria com a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais), reconhece as melhores produtoras de cafés especiais do Brasil. Na cerimônia de premiação que aconteceu pela manhã, o 1º lugar da categoria arábica (via úmida) ficou com Ângela Maria da Costa Oliveira, do Sítio Pedro Varinhas, em Manhuaçu (MG), e o 1º lugar da categoria arábica (via seca) com Amanda Evaristo Lacerda, da Forquilha do Rio, em Espera Feliz (MG). Na categoria canéfora, arrebanhou o prêmio Angela Maria Pessoa, do Café Sauá (Seringueiras, Rondônia). O concurso, que está em sua 8ª edição, valoriza o trabalho das mulheres na cafeicultura, promovendo a qualidade e a sustentabilidade na produção de cafés especiais.

Amanda Lacerda, do Sítio Forquilha do Rio, vencedora da categoria arábica (via seca)

Campeonatos Brasileiros de Barismo

A SIC também foi palco de três modalidades dos Campeonatos Brasileiros de Barismo: Barista, Latte Art e Coffee in Good Spirits. As apresentações aconteceram nos três dias de evento e, ao final do último, foram anunciados os campeões que representarão o Brasil nos Mundiais em 2026.

Na Brasileiro de Barista, o vencedor foi Daniel Vaz, da Five Roasters, do Rio de Janeiro (RJ). Ele, que levou o primeiro lugar em 2023 e o segundo em 2024, dividiu o pódio este ano com Gabriel Neiva, que ficou na segunda colocação, e Israela Gonçalves, que terminou em terceiro.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista 2025

Na categoria Latte Art, o campeão também foi um nome conhecido: Eduardo Olímpio, da Naveia, de Curitiba (PR), que venceu a competição pela primeira vez em 2023. O segundo lugar foi para Tiago Rocha, da Naveia, de Curitiba (PR), e o terceiro para Gabriel Zanotelli, da Baden Torrefação, de Porto Alegre (RS).

No Coffee in Good Spirits, que avalia os melhores drinques alcoólicos com café, o bartender e barista Leo Oliva, de Curitiba (PR), sagrou-se bicampeão. Na sequência vieram Gustavo Leal, na segunda posição, e Gabriel Guimarães, da Unique Cafés, de São Lourenço (MG), em terceiro.

A Semana Internacional do Café (SIC) é uma realização Espresso&CO, Sistema Faemg Senar, Sebrae e Codemge, com apoio institucional do Sistema Ocemg. Conta com patrocínio diamante de 3corações Rituais, patrocínio ouro Anysort, Sicoob e Senac em Minas e patrocínio bronze de Nescafé, União e Yara. Apoio de ABIC, Abrasel, IWCA Brasil, BSCA, Cafés do Brasil, Cecafé, Ministério da Agricultura e Pecuária do Governo Federal, Sindicafé-MG. A Revista Espresso e o CaféPoint são as mídias oficiais.

FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Coffee of the Year divulga lista das 65 amostras finalistas de 2025

O Coffee of the Year divulgou a lista das 65 amostras finalistas da edição de 2025 — destas, 50 são de arábica e 15 de canéfora. Este ano, o concurso avaliou 601 amostras, vindas de diferentes regiões do Brasil. A votação às cegas pelo público dos 10 melhores cafés arábica e dos 5 melhores de canéfora segue neste segundo dia de Semana Internacional do Café, nas tradicionais garrafas térmicas.

Amanhã (7), no Grande Auditório da SIC, acontece a cerimônia de premiação, onde serão anunciados de quem são os cafés que ficaram nas garrafas nos dois primeiros dias de evento, a ordem de classificação final entre eles e os grandes campeões de arábica e canéfora do COY 2025.

Após a premiação, a partir das 16h30, ocorre o Cupping dos Campeões nas Salas de Cupping do evento.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Regiões produtoras ampliam presença e diversidade na 13ª Semana Internacional do Café

De Rondônia ao Caparaó Mineiro, as regiões produtoras ampliam sua presença na SIC 2025, reforçando a diversidade e a força territorial do café brasileiro

Pico da Bandeira, atração que integra as Rotas Turísticas do Caparaó Mineiro, estande que une café e turismo do Caparaó

Por Cristiana Couto

A 13ª edição da Semana Internacional do Café (SIC), que começa nesta quarta (5) em Belo Horizonte (MG), tem recebido cada vez mais diversidade de origens, sejam elas representadas por cooperativas, prefeituras ou com estandes próprios. 

Sob o tema “Café em transformação – inovação, sustentabilidade e oferta no mercado global”, a feira reflete a expansão e a consolidação da identidade territorial do café brasileiro, com novidades como o Paraná e o município mineiro de Conselheiro Pena, que estreiam este ano entre os expositores. “Na SIC, as origens do café ganham voz e protagonismo. São elas que revelam o sabor, a cultura e as pessoas por trás de cada xícara”, destaca Caio Alonso Fontes, da organização da SIC. 

Em um evento que deve reunir mais de 25 mil visitantes, mais de 200 expositores e movimentar cerca de R$ 150 milhões em negócios, a presença das regiões produtoras vem se firmando como um dos pilares da feira, seja ela emergente, consolidada ou em busca de reconhecimento. Estarão lá municípios e cafeicultores mineiros (Cerrado Mineiro, Mantiqueira de Minas, Sul de Minas), além de representantes do Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia e Acre.

Entre as novidades desta edição está Conselheiro Pena, localizada no Vale do Rio Doce (MG), que se apresenta pela primeira vez como região produtora de cafés especiais. “Recentemente, descobrimos que o nosso município possui um terroir muito específico, resultado da combinação entre clima, solo, topografia e biodiversidade local, fatores que influenciam diretamente a qualidade dos nossos cafés”, conta Eric Oliveira Dique, Secretário Municipal de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente.

O município, conhecido por sua biodiversidade e apelidado de “terra de gigantes” pelo tamanho generoso que as plantas nativas alcançam, aposta na cafeicultura familiar (são cerca de 400 cafeicultores) e em cafés de altitude (1.070 m) para construir sua reputação. “Toda essa riqueza natural se reflete no perfil sensorial dos nossos cafés, produzidos pelas mãos da agricultura familiar”, diz o secretário.

Cafeicultor de Conselheiro Pena (Minas Gerais), município que participa pela primeira vez da SIC

Seis representantes locais participam do evento, com o apoio da prefeitura, incluindo a tradicional indústria Frei Caneca, ao lado de cinco famílias que apresentam sua marca – todas elas inscreveram-se no Coffee of the Year este ano. Com 24m2, o estande traz arábicas locais para venda e degustação, grãos verdes e atrativos culturais que contam um pouco da história de Conselheiro Pena. “Participar da SIC, que é a vitrine do café na América Latina, representa o reconhecimento de um novo território produtor que começa a revelar seu potencial ao Brasil”, resume Dique, sobre o avanço da abertura de novas áreas dedicadas ao café no município. 

Outra novidade é o Paraná, que volta à feira em 2025 com estande próprio. No estande de 64 m2, o estado apresenta 24 expositores, entre produtores e associações de municípios como Apucarana, Jacarezinho, Santo Antônio da Platina, Maringá e Londrina, e cafeterias. Haverá degustação desses cafés em sistema de rodízio, além de seis cuppings temáticos, como o de cultivares desenvolvidas no estado, de grãos participantes do concurso de qualidade do Paraná e de amostras das IGs paranaenses já consagradas ou em processo de solicitação no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). “O café faz parte da história de sucesso do Paraná e hoje traz a qualidade de uma bebida, produzida com muito esmero para ser mostrada ao mundo na SIC”, comemora Lorian Voigt Gair, engenheira agrônoma da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná. 

O Acre também chega com uma das delegações mais diversas da feira, reunindo cerca de 30 produtores e incluindo, pela primeira vez, representantes indígenas. Os robustas amazônicos apresentados vêm de municípios como Mâncio Lima, Xapuri, Assis Brasil, Brasileia e Rio Branco — um recorte que vai do extremo oeste da Amazônia à tríplice fronteira com Peru e Bolívia. “A ideia é mostrar o avanço da cafeicultura acreana, que já movimenta praticamente todo o estado: dos 22 municípios, 19 produzem café, e cerca de 14 estão envolvidos na produção de cafés especiais”, comenta Michelma Lima, coordenadora do núcleo da cafeicultura da Secretaria de Estado da Agricultura do estado.

Produtora de robusta amazônico no Acre, estado que vem aumentando sua produção

A maior parte das amostras foi selecionada entre os 15 melhores do concurso QualiCafé, promovido pelo governo estadual. “Queremos mostrar que é possível produzir café de qualidade preservando a floresta”, destaca ela. “Participar da SIC, é uma forma de abrir portas para novos mercados, fortalecer parcerias e posicionar o Acre no mapa dos cafés especiais”, completa. 

Os robustas amazônicos de Rondônia, por sua vez, voltam a Belo Horizonte com força total, comemorando uma década de participação na SIC. Em um estande com 120 m2 que vai abrigar uma comitiva com mais de 100 pessoas, o público poderá provar mais de 140 quilos de grãos de robustas finos, com diferentes perfis sensoriais. Rondônia também vai promover o evento “COP na SIC” na quinta-feira (6), no Grande Auditório, com degustações técnicas, palestra e lançamento do livro Café Canéfora: Ciência, Sabor e Identidade e do minidocumentário Robusta Amazônico: Café, Orgulho, Identidade. “É um momento de imersão e confraternização dedicado à construção de uma cafeicultura sustentável, saborosa, resiliente e amazônica”, diz o engenheiro agrônomo Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e um dos organizadores da ação. 

Parte do estande de Rondônia na SIC 2023; o estado comemora em 2025 a 10ª participação no evento

Este ano, o Caparaó participa da Semana Internacional do Café (SIC) 2025 com o estande Rotas Turísticas do Caparaó Mineiro. A rota integra turismo e cafeicultura, e reúne Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó e Espera Feliz, que ficam no entorno do Parque Nacional do Caparaó e englobam 49 municípios. O público poderá conhecer cafés premiados e participar de três atrações com café, como o preparo na xícara. “A Rota do Caparaó não é apenas café: é experiência, turismo, cultura e memória afetiva”, diz Ramiro Aguiar, presidente da Agência de Desenvolvimento do Caparaó Mineiro. 

Pioneira em denominação de origem de café no país, o Cerrado Mineiro celebra duas décadas do registro de indicação geográfica com um estande de 240 m². Durante a feira, o público poderá acompanhar sessões diárias de cupping com cooperativas e conhecer os campeões do 13º Prêmio Região do Cerrado Mineiro, avaliado este ano pelo novo protocolo Coffee Value Assessment (CVA), desenvolvido pela SCA (Specialty Coffee Association) – a nova categoria Doce Cerrado Mineiro será apresentada pela primeira vez no estande. “Celebrar duas décadas da indicação geográfica na SIC é reafirmar nosso compromisso com a origem e com o valor agregado da cadeia produtiva”, destaca Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado.

De norte a sul, as regiões produtoras presentes na SIC comprovam que o futuro do café brasileiro passa pelo reconhecimento de origem – de muitas origens.

TEXTO Cristiana Couto

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Cafés do Brasil lança reposicionamento da marca na SIC 2025, com novo foco em tecnologia

Reposicionamento da marca coletiva reforça imagem do país como produtor sustentável e inovador e incorpora tecnologia como motor da cafeicultura brasileira

Entidades do setor cafeeiro lançam na próxima quinta-feira (5) o novo posicionamento da marca Cafés do Brasil, durante a Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte (MG). A apresentação acontece às 12h20, no painel “Rebranding e ressignificação da marca Cafés do Brasil”, no primeiro dia do evento, que segue até o dia 7 de novembro, no Expominas.

O projeto de rebranding, desenvolvido ao longo de 2025 em parceria com a agência Design Bridge and Partners, envolveu diagnóstico, pesquisa e entrevistas com representantes de toda a cadeia. O objetivo é atualizar a identidade da marca e reposicionar o café brasileiro como referência global em sustentabilidade, qualidade e inovação.

O novo conceito ESG+T — que acrescenta o “T” de tecnologia à tradicional sigla ESG (ambiental, social e governança) — busca traduzir a força motriz da cafeicultura nacional. “A tecnologia é nossa força para cultivar a inovação e colher o desenvolvimento”, afirma Fabrício Andrade, presidente da Comissão Nacional do Café da CNA e porta-voz das entidades (confira a lista abaixo). Segundo ele, a proposta evidencia que “a tradição da cafeicultura brasileira se renova por meio da tecnologia, impulsionando inclusão social, trabalho justo e proteção ambiental”.

“A escolha da SIC como plataforma de lançamento da marca reforça o quanto o evento se tornou estratégico para o setor. Por outro lado, a SIC também cumpre o papel de levar diretamente aos profissionais da cadeia essa nova mensagem, de valorização e fortalecimento da imagem do café brasileiro no mundo”, diz Caio Alonso Fontes, CEO da Espresso&CO e correalizador do evento.

O trabalho também resultou em um novo logotipo, descrito por Andrade como “mais moderno e representativo”, que celebra “a pluralidade de culturas, pessoas e sabores” do país. 

Participam da iniciativa:

ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café)
Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel)
BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais)
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil)
Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil)
CNC (Conselho Nacional do Café)
MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária)

Semana Internacional do Café 2025
Quando: de 5 a 7 de novembro de 2025
Onde: Expominas – Belo Horizonte (MG)
Quanto: R$ 75 (para o dia 7) e R$ 150 (com direito aos 3 dias)
Mais informações: www.semanainternacionaldocafe.com.br

TEXTO Redação

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Coffee of the Year divulga lista das 180 amostras classificadas de 2025

Belo Horizonte_MG, 09 de novembro de 2018 CAFE EDITORA_SEMANA INTERNACIONAL DO CAFE Fotos dos visitantes e expositores durante a semana internacional do cafe, que acontece no expominas. A feira e um encontro de cafeicultores, torrefadores, compradores, fornecedores, empresarios, baristas e apreciadores da bebida. Foto: Marcus Desimoni / NITRO

Foi divulgada nesta sexta (24) a lista dos classificados do Coffee of the Year 2025. O concurso, que este ano bateu recorde e avaliou 601 amostras, selecionou os 180 cafés mais bem pontuados (150 arábicas e 30 canéforas) na fase de avaliação dos Q-Graders e R-Graders. Clique aqui e confira os nomes.

Essas amostras ficarão disponíveis nas Salas de Cupping durante a Semana Internacional do Café, de 5 a 7 de novembro, em Belo Horizonte (MG), para serem provadas por compradores nacionais e internacionais. A ordem das rodadas será divulgada na próxima quarta (29), no site oficial da SIC.

Ainda durante o evento, os 15 cafés mais bem pontuados (dez arábicas e cinco canéforas) entre os 180 selecionados estarão disponíveis nas tradicionais garrafas térmicas (pelo método filtrado) para voto do público – que definirá a classificação final e os grandes campeões.

A cerimônia de premiação acontece no último dia de SIC, às 15h, no Grande Auditório. 

Semana Internacional do Café 2025
Quando: de 5 a 7 de novembro de 2025
Onde: Expominas – Belo Horizonte (MG)
Quanto: R$ 75 (para o dia 7) e R$ 150 (com direito aos 3 dias)
Mais informações: www.semanainternacionaldocafe.com.br 

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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Três em um: estudo redefine o café libérica e revela novas espécies

Por Cristiana Couto

Pesquisa liderada pelo botânico Aaron Davis, do Royal Botanic Gardens, em Kew, no Reino Unido, revela que o café libérica, anteriormente considerado uma única espécie, deve agora ser separado em três espécies diferentes.

Publicado em julho na Nature Plants, o estudo analisou dados genômicos combinados à morfologia e à distribuição geográfica das plantas de libérica, e acrescentou ao gênero Coffea duas novas espécies além do C. liberica: Coffea dewevrei (anteriormente conhecida como excelsa) e Coffea klainei. O gênero, agora, contabiliza 133 espécies.

Para Davis, chefe de pesquisa em café no Kew Gardens e referência mundial em pesquisa sobre origem, diversidade e futuro das espécies de café, salvaguardar o futuro da cadeia global de fornecimento do grão é desafiador, especialmente porque a maioria dos cafeicultores são pequenos e dependem de seu cultivo como principal fonte de renda. 

Embora a produção mundial de libérica e excelsa ainda seja pequena — menos de 0,01% do mercado global —, essas espécies vêm ganhando espaço em países da África e Ásia, sobretudo por sua resistência a altas temperaturas e períodos prolongados de seca, em um cenário de mudanças climáticas que ameaça especialmente o arábica.

“Libérica e excelsa têm potencial importante para o desenvolvimento da cafeicultura em áreas inadequadas para arábicas ou canéforas, particularmente as de baixas altitudes em climas mais quentes e úmidos”, afirmam os pesquisadores.

De acordo com o artigo, o sudeste asiático consome cafés libérica desde o final do século XIX e agora está “testemunhando seu renascimento, particularmente na Malásia, na Indonésia e em Fiji”. Já os cafés excelsa têm sido cultivados em Uganda, no Sudão do Sul e na Guiné, por sua tolerância a temperaturas mais elevadas e a períodos sem chuva se comparada ao canéfora. Na Índia e na Indonésia, sua produção também vem crescendo.

As análises do grupo de Davis mostraram que cada uma das três espécies tem distribuição geográfica particular e características agronômicas únicas. A espécie libérica (C. liberica) ocorre na África Ocidental (Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana e Nigéria) e se adapta a estações secas mais longas, suportando variações de precipitação.

A excelsa (C. dewevrei) cresce em regiões de clima mais variado na África Central (República Democrática do Congo, Camarões, Uganda e Sudão do Sul). É mais produtiva, com frutos menores e sementes semelhantes às do arábica, o que facilita o processamento e a torna uma alternativa aos canéforas em áreas quentes. Já C. klainei, a menos estudada das três, restringe-se a florestas da África Centro-Ocidental (Camarões, Gabão, Congo e Cabinda/Angola) e é geneticamente mais próxima da da espécie libérica.

Segundo Davis, esse “redesenho taxonômico” permite separar com clareza as características agronômicas, genéticas e climáticas das três espécies, abrindo caminho para avanços em programas de melhoramento do café e novas estratégias de cultivo. “O uso de qualquer uma dessas espécies em programas de melhoramento interespecífico com outras espécies pode ser promissor”, complementam os autores.

Ao mesmo tempo, o estudo expõe a urgência da conservação do gênero Coffea, já que aponta para a vulnerabilidade do café libérica devido à perda de habitat em grande parte de sua área de ocorrência natural.

TEXTO Cristiana Couto