Barista

“É a realização de um sonho”, diz Thiago Sabino, novo campeão brasileiro de Brewers

Por Gabriela Kaneto

No último sábado (22), o Brasil conheceu o seu novo campeão nacional de Brewers. Thiago Sabino, da paulistana Sabino Torrefação, destacou-se entre 23 competidores e levou a melhor no preparo de café filtrado. “Sempre tive muita vontade de ganhar este campeonato. É a realização de um sonho”, disse em entrevista à Espresso.

O barista veterano já foi campeão brasileiro de Barista e chegou a competir no mundial em 2018. Agora, Sabino voltará aos palcos internacionais no Campeonato Mundial de Brewers, que acontecerá na World of Coffee, entre 15 e 17 de maio, em Jacarta, na Indonésia.

No bate-papo com a Espresso, ele comenta sobre a sua apresentação, os desafios em sua jornada de treinos e a alegria de conquistar mais um título. 

Espresso: Como você escolheu o café para sua apresentação no Campeonato Brasileiro de Brewers?

Thiago Sabino: Eu sempre gostei muito do trabalho dos geneticistas e essa não é a primeira apresentação em que falo sobre eles. Falei também no meu campeonato mundial, em 2018. Eu queria voltar a competir e mostrar, aqui no Brasil, a importância dos geneticistas na história do café. E como sou muito amigo do Pedrinho [o produtor Pedro Brás], ele me apoiou e começamos a estudar algumas fermentações. 

O Pedrinho tem cultivo de catuaí amarelo que, como eu falei na apresentação, é uma variedade criada aqui no IAC [Instituto Agronômico de Campinas], em 1945. Depois de quatro anos testando as fermentações, neste ano deu muito certo, inclusive com um café da safra nova. Quando a gente pôs o café na boca, falamos: “esse café é de competição. É o café certo pra gente conseguir fazer jus ao trabalho dos geneticistas”. 

E: Qual foi o método de preparo escolhido e como foi o desenvolvimento para chegar na receita final?

TS: O método que eu escolhi foi o graycano, um método fabricado na Alemanha. Eu achava ele muito bonito, mas não tinha acesso aqui no Brasil. Então mandei mensagem pro pessoal de lá contando sobre a minha história, e eles me mandaram um para testar. No ano passado, eu usei ele no Brewers e chegamos a usar o mesmo café também, só que a fermentação deste ano ficou muito melhor do que a do ano passado. Então, desde o último ano, eu já vinha fazendo alguns testes com graycano e outros métodos.

A minha proposta era entregar um café sem agitação. Eu faço alguns estudos sobre o assunto e com muita agitação você tem perda de temperatura, além de extrair muitos sólidos que acabam trazendo gostos negativos pro café. Como o gryacano tem umas ranhuras internas em formatos de V, usei um fluxo contínuo, com o gotejador The Gabi. Esse fluxo contínuo através do The Gabi, mais esses formatos em V dentro do graycano, geram uma pequena agitação, mas consigo ter consistência nas três bebidas que eu entrego pros juízes. As agitações são iguais, o tempo de fluxo de queda é igual e consigo manter a mesma temperatura. Por não ser uma agitação grande, tenho menos sólidos e consigo uma bebida com mais sabor. Então o graycano e o The Gabi casaram com o meu estudo de fluxo contínuo. Com graycano, o meu café bebeu muito melhor do que nos outros métodos que eu testei.

E: Para você, o que significa ganhar o Campeonato Brasileiro de Brewers, depois de sete anos do seu último título nacional?

TS: O primeiro significado é a realização de um sonho. Sempre tive muita vontade de ganhar um campeonato de Brewers. Por mais que as pessoas talvez não acreditem, eu acho ele muito mais difícil do que o campeonato de Barista, porque no campeonato de Barista você tem que entregar três bebidas e, mesmo que às vezes você não vá bem em uma, tem mais duas que podem te ajudar a ir para uma semifinal, uma final ou até mesmo ser campeão. Já no Brewers, não. No Brewers você tem a entrega de uma bebida dividida em três juízes e que precisam estar praticamente idênticas uma à outra, o que eu acho muito mais difícil, é uma única chance. 

Eu gosto muito de desafio. Ficava sempre “esse ano eu vou”, só que achava que não estava preparado. E aí, no ano passado, o Hugo [Hugo Silva, amigo e sócio do Thiago na Sabino Torrefação] ficou no meu pé dizendo que agora que as fermentações com o Pedrinho estavam dando certo, eu tinha que colocar esse café à prova. Então foi a realização de um sonho mesmo. 

Depois de muitos anos, entendi que participando de competições eu acabo incentivando outros baristas, além de que ainda tenho um sonho de ganhar um campeonato mundial. E tem uma outra questão, também, que é trazer mais visibilidade para a minha marca, a Sabino Torrefação.

E: Para você, quais foram os maiores desafios nesta competição?

TS: O meu maior desafio nesta competição foi conciliar empresa, família e treinos. Eu tinha um tempo muito curto para treinar, uns horários muito malucos, tipo madrugadas, porque no horário comercial eu tinha que focar na empresa. E também tenho três filhas e precisava focar nelas, conciliando questões de estudo, transporte, lazer, atenção. São três meninas e elas são muito apegadas a mim. Tenho uma novinha de um ano e nove meses, e era praticamente impossível treinar com ela ali comigo, porque ela ficava junto, queria pegar as coisas. Enfim, foi um desafio.

E: Quais as expectativas para o Campeonato Mundial?

TS: Conquistar o título de campeão mundial de Brewers representando o Brasil com muito orgulho, demonstrando  a qualidade dos cafés brasileiros e superando os desafios passados nos outros mundiais que participei, por menos tempo que eu tenha de treino.

E: Você pretende competir novamente nesta e em outras categorias?

TS: Não é uma aposentadoria declarada, mas quero montar uma escola de campeões.

E: Quais conselhos você daria para alguém que quer começar a competir nos campeonatos nacionais?

TS: Conhecimento e técnica. Domine as técnicas de filtragem, aprenda a usar diferentes métodos de filtragem, como hario, chemex, aeropress, greycano, origami, etc. Conheça os cafés, entenda sobre as diferentes origens, processos e características. Entenda também a importância da água, como usar uma água de qualidade e como ajustar a temperatura e a dureza para obter o melhor resultado. Pratique regularmente, treine suas habilidades todos os dias para desenvolver confiança. Estabeleça uma rotina de treinamentos, crie um plano de treinamento para melhorar suas habilidades em áreas específicas. Treine com diferentes cafés e equipamentos, aprenda a se adaptar a diferentes situações e a usar diferentes equipamentos e cafés. Desenvolva suas habilidades para avaliar os cafés e escolher os melhores para a competição, sempre compartilhando com o maior número de pessoas da área. Conheça as regras e os regulamentos para evitar surpresas. Lembre-se de que a competição é um processo de aprendizado e crescimento. Mantenha a calma, a concentração e a determinação, e você estará pronto para enfrentar os desafios.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

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Thiago Sabino vence competição de café filtrado

Barista da Sabino Torrefação, de São Paulo (SP), levou a melhor entre 23 competidores e representará o Brasil no Campeonato Mundial de Brewers, na Indonésia

Da esquerda para a direita: Daniel Vaz, Thiago Sabino e Gabriel Agrelli

Thiago Sabino é o novo campeão brasileiro de Brewers. O barista competiu a modalidade — que julga o melhor preparo de café filtrado — com outros 22 participantes, em competição realizada de 20 a 22 de março, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), interior de São Paulo.

Representando a Sabino Torrefação, de São Paulo (SP), Sabino disputou a final com outros cinco baristas. O pódio foi composto por Gabriel Agrelli, da Abigail Coffee Co., de Campinas (SP), em segundo lugar, e Daniel Vaz, da Five Roasters, do Rio de Janeiro (RJ), em terceiro.

Com o título nacional em mãos, Sabino representará o Brasil no Campeonato Mundial de Brewers, que acontece na World of Coffee de 15 a 17 de maio, em Jacarta, na Indonésia.

“A medida em que o nível das competições aumenta, a expectativa de uma boa colocação para o Brasil também aumenta”, comenta Vinicius Estrela, diretor-executivo da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), realizadora do evento. “Um excelente competidor, somado a excelência dos cafés especiais brasileiros, nos permite sonhar a cada ano com o crescimento da importância e do reconhecimento do profissional barista e do cafe especial do Brasil”, completa.

O Campeonato Brasileiro de Brewers 2025 é uma realização da BSCA, com promoção da Apex-Brasil e patrocínio do Sebrae. A Espresso&CO foi apoio de mídia.

TEXTO Redação • FOTO BSCA

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Campeonato Brasileiro de Brewers começa nesta quinta (20)

A agenda de competições da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) começa a esquentar já nesta semana, com a realização do Campeonato Brasileiro de Brewers, que acontece de 20 a 22 de março, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no interior paulista. Confira aqui os competidores da edição.

Em abril, os holofotes se voltam para outras duas disputas importantes: o Campeonato Brasileiro de Latte Art e o Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits, ambos realizados em Florianópolis, de 4 a 6 de abril.

Os vencedores de cada categoria garantem vaga para representar o Brasil nos campeonatos mundiais organizados pela World Coffee Events (WCE), sendo que o campeão de brewers enfrentará a etapa mundial em Jacarta, na Indonésia, entre 15 e 17 de maio de 2025. Já os campeões de latte art e de coffee in good spirits representarão o Brasil nos campeonatos mundiais que acontecem em Genebra, de 26 a 28 de junho. 

Veja a programação:

Campeonato Brasileiro de Brewers
Quando: 20 a 22 de março de 2025
Onde: Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Campinas, SP

Campeonato Brasileiro de Latte Art
Quando: 4 a 6 de abril de 2025
Onde: Shopping Oka Floripa, Florianópolis, SC 

Campeonato Brasileiro de Coffee in Good Spirits
Quando: 4 a 6 de abril de 2025
Onde: Shopping Oka Floripa, Florianópolis, SC 

TEXTO Redação

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Campeão mundial Boram Um abre torrefação de cafés no Japão

Com um currículo que soma três títulos nacionais e um mundial no Campeonato de Barista, cultivo de café no Brasil e uma torrefação e cafeteria em São Paulo, o brasileiro inaugura a Ult., sua nova torrefação em Osaka

Por Gabriela Kaneto

Primeiro brasileiro campeão mundial de barista, Boram Um, da cafeteria Um Coffee Co., de São Paulo (SP), expandiu as fronteiras e lançou a Ult. Coffee Roasters, sua nova torrefação na cidade de Osaka, no Japão. A casa foi aberta em janeiro, em sociedade com a brasileira Marcia Yoko, sua mentora na competição, e um sócio local cujo nome não foi divulgado.

Em entrevista à Espresso, o empresário comenta que foram muitas as razões para apostar na Ásia. “O Japão é, de fato, um mercado muito significativo, de altíssima qualidade e expertise. Além disso, Osaka é um hub logístico excelente, com custos baixos de frete para a Ásia toda”, explica. 

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Japão é o quarto principal destino dos grãos brasileiros de qualidade superior ou certificados – em janeiro, importou mais de 67 mil sacas. “Os asiáticos estão cada vez mais consumindo cafés em grãos em casa. Existe uma oportunidade de mercado enorme”, destaca Um.

Café brasileiro do outro lado do mundo

Com foco no interesse dos japoneses, mais da metade da linha da Ult. é de origem brasileira. Os grãos são da Fazenda Um, produção da família do campeão, que tem cafezais em Minas Gerais e no Espírito Santo. “Nosso objetivo é mostrar o nível altíssimo de qualidade dos cafés brasileiros, que dificilmente encontram espaço como single origin no mercado externo”, ressalta ele, que desenvolve os perfis de torra ao lado da equipe. 

Para Boram Um, ter uma torrefação no Japão com 60% de cafés brasileiros “causa um impacto positivo no mercado e na percepção de qualidade”. Hoje, além das opções made in Brazil, o Instagram da casa divulga um segundo blend, com grãos da Costa Rica, Honduras e Brasil. A intenção é expandir o leque e trabalhar com produtores de outras origens, como Panamá.

Prove antes de levar

Seguindo o conceito de roastery/bean shop, os cafés da Ult. são servidos no espresso e no coado. A ideia é que o cliente possa prová-los para decidir qual prefere levar para casa. “Temos um sistema automatizado Eversys para o espresso. Servimos, também, cafés coados na hora, onde todo o nosso cardápio de grãos está disponível”, explica. 

Por enquanto, os cafés da Ult. estão disponíveis apenas na loja física. Mas os consumidores brasileiros podem se animar: em breve, os grãos serão vendidos on-line e entregues, também, fora do Japão.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

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Casa Hario oferece workshops sobre preparo de café

Localizada em São Paulo (SP), a Casa Hario, primeira e única cafeteria da marca japonesa Hario no mundo, oferece três workshops que abordam o preparo da bebida. Ministradas pela educadora e mestre de torra Regina Machado, as aulas acontecem na própria cafeteria, nos primeiros três sábados do mês, com duração de 3h. As vagas são limitadas (de 6 a 8 alunos por turma) e as inscrições podem ser feitas aqui.

Ideal para iniciantes, o workshop “Introdução aos cafés especiais” (R$ 390) mostra as principais diferenças entre cafés tradicionais e especiais, além de ensinar o preparo da bebida nos métodos v60 e switch. Para quem deseja expandir os conhecimentos, o “Mundo café Hario” (R$ 390) explora a teoria e a prática dos métodos, como v60, sifão, french press. Por último, o “Laboratório Hario” (R$ 490) é voltado para aqueles que têm experiência e querem se aprofundar em conteúdos técnicos com foco em ajuste de variáveis, como moagem, temperatura e tempo de preparo. 

Serviço
Workshops Casa Hario
Onde: Casa Hario – rua Manuel Guedes, 426 – Itaim Bibi – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento da casa: seg. a sáb., das 9h às 23h; dom., das 11h às 18h
Inscrições: www.eventbrite.com
Mais informações: www.instagram.com/casahario 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Campeonato Brasileiro de Brewers 2025 acontece no IAC em março

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) divulgou, nesta sexta (31), a data e o local de realização do Campeonato Brasileiro de Brewers 2025. A competição acontecerá de 20 a 22 de março, das 9h às 19h, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no interior de São Paulo.

As inscrições online abrem em 6 de fevereiro, às 10h. O link será disponibilizado no Instagram da BSCA (@bsca_specialtycoffee). Neste campeonato, cada competidor tem dez minutos para entregar aos juízes três receitas iguais de café filtrado, além de explicar o método e o café escolhidos. O atual campeão da categoria é Rubens Vuolo, da Amado Grão, de Cuiabá (MT).

O vencedor de 2025 representará o Brasil no Campeonato Mundial de Brewers, marcado para acontecer durante a World of Coffee, de 15 a 17 de maio, em Jacarta, capital da Indonésia.

Serviço
Campeonato Brasileiro de Barista 2025
Quando: 20 a 22 de março
Onde: IAC – avenida Barão de Itapura – Campinas (SP)
Mais informações: www.bsca.com.br 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Juan Gomes, da Abigail Coffee Company, vence 1ª edição da Origami Cup Brasil

Pódio campeão: Priscila Gusmão, Juan Gomes (ao centro) e Kaio Henrique Dias

A noite de sexta (13) foi de muita agitação e boa música na Café Store, em São Paulo (SP), com a realização da 1ª edição da Origami Cup Brasil. Com uma plateia repleta de coffee lovers e profissionais do mercado, a competição reuniu 27 competidores de diferentes regiões do país. O objetivo era apenas um: a busca pelo título de melhor extração no método japonês Origami. Quem levou o primeiro lugar foi o barista Juan Gomes, da Abigail Coffee Company, de Campinas (SP).

Após disputas de chaves de três, Gomes dividiu a grande final com a autônoma Priscila Gusmão, de Indaiatuba (SP), e Kaio Henrique Dias, da Casa 44, de São Vicente (SP). Na xícara que o consagrou vencedor, escolhida às cegas pela banca avaliadora da vez – Garam Um (Um Coffee-SP), Guilherme Duarte (Empírico Café-SP) e Angélica Luizz (Joana Cafés-SP) – Gomes preparou a bebida utilizando a receita: 17,8 g de café para 250 ml de água, com a extração dividida em três ataques, totalizando até 2 minutos e 20 segundos. 

O primeiro ataque foi de 50 ml de água até 30 segundos, depois o barista completou até 180 ml e, quando o tempo de preparo alcançou 1 minuto e meio, adicionou os últimos 70 ml, com este ataque sendo bem agressivo para que a extração fosse rápida e terminasse em 2 minutos e 20 segundos. 

Disputa da final

“Ganhar a Origami Cup é uma resposta divina, porque há poucos meses eu estava em dúvida se fazia faculdade ou seguia carreira como barista. Cheguei na minha barista líder e perguntei se o café dava futuro, porque se desse eu iria me dedicar. Isso é uma resposta de que se você se esforçar, você consegue fazer o que quiser”, conta o campeão,  que começou a trabalhar com café em 2023, está na Abigail há sete meses, e hoje já comemora a primeira colocação em sua primeira competição.

Para os três primeiros lugares, a Origami trouxe, diretamente do Japão, troféus em formato do método nas cores ouro, prata e bronze. Os finalistas também receberam prêmios em dinheiro.

Troféu personalizado para a Origami Cup Brasil 2024

“A Origami Cup busca unir toda a comunidade e proporcionar um ambiente onde as pessoas possam se arriscar, experimentar e treinar com cafés, métodos e equipamentos novos”, comenta Melissa Hsu, diretora-executiva da Origami Brasil, sobre a primeira edição brasileira da competição, que começou em 2019 na Indonésia e hoje acontece em mais de 14 países. “É um método que traz muita versatilidade e possibilita que o competidor arrisque várias receitas”, completa.

A 1ª edição da Origami Cup no Brasil teve patrocínio da Atilla Torradores e da Cropster. O café oficial foi cultivado pela Capadócia Coffees, de São Gonçalo do Sapucaí, Mantiqueira de Minas, e torrado pela 15 Coffee Company, de Sorocaba (SP).

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Gabriela Kaneto

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Saiba o que é coffee omakase

Serviço de degustação de cafés que é tendência no Japão, chega a São Paulo

Imagine sentar-se no balcão de uma cafeteria e receber uma série de cafés diferentes, feitos a partir de grãos raros, cuja curadoria foi pensada especialmente para mexer com os sentidos. O cliente não escolhe nada – nem o método de preparo –, apenas recebe as xícaras e comidas que harmonizam com as bebidas.

A tendência, que invadiu as cafeterias no Japão e começa a se espalhar por outros países, também aterrissou em São Paulo nas cafeterias Pato Rei, em Pinheiros, e Catarina Coffee and Love, na Vila Mariana.

Sem tradução para o português, o coffee omakase é um serviço em que o consumidor tem a experiência única, e em etapas, de provar diversos cafés pelas mãos de baristas altamente qualificados.

Criado no Japão e inspirado no tradicional oma kase – em que os clientes de um restaurante que serve sushis confiam na escolha do chef e experimentam pratos sazonais, feitos com ingredientes disponíveis no dia (confira o texto “Nas mãos do sushiman”, ao final da reportagem) –, a experiência com café surgiu durante a pandemia da Covid-19, como estratégia das torrefações em servir cafés exclusivos e de pequenos lotes.

Em Tóquio, um dos primeiros a oferecer a experiência foi o Koffee Mameya Kakeru, aberto em 2011 num antigo armazém de livros, no distrito de Kiyosumi-Shirakawa. “Começamos o omakase em 2021, após anos construindo um relacionamento com nossos clientes, fornecedores e torradores’’, garante o proprietário Eiichi Kunitomo, em entrevista à Espresso. “Da mesma forma que o consumidor escolhe ir a um fine dining, a indústria do café precisa deste serviço nos coffee shops’’, acredita.

O omakase, transferido para uma cafeteria japonesa, é oferecido de diversas maneiras. Há estabelecimentos que exploram as diferentes partes da planta do café – como infusão das folhas ou desidratação de frutos, que se tornam ingrediente de drinques acompanhados de snacks – e os que escolhem garimpar lotes exclusivos, em pequenas quantidades, de origens produtoras premiadas, como Panamá, Etiópia, Brasil, Guatemala, Peru e Java, para servir cafés com perfis sensoriais diversos e raros.

Nem todas as cafeterias torram seus grãos, mas todos que se acomodam nos balcões à espera deste atendimento buscam ser surpreendidos. Os baristas no Japão costumam perguntar ao cliente se tem algum tipo de alergia – no máximo. Essa experiência singular exige criatividade para a elaboração de cafés e drinques que vão mexer com os sentidos do consumidor (as bebidas podem ser harmonizadas com receitas que privilegiam ingredientes locais sazonais).

O Mameya Kakeru não torra os próprios cafés, mas faz uma curadoria minuciosa de lotes de todo o mundo. “Queremos que nossos baristas se concentrem em exercer seus papéis como contadores de histórias e exímios preparadores de café”, explica ele. “Assim, conectamos consumidores com produtores e mestres de torra’’, continua.

Um dos pilares do Mameya Kakeru é valorizar seus colaboradores (Kakeru, aliás, significa multiplicar). O espaço apoia-os para que apresentem seus cafés como se estivessem em um palco. “Mas, no lugar dos juízes, estão os clientes, que podem pagar ao barista o quanto desejarem”, explica o proprietário, referindo-se à premiação pela excelência do serviço (e uma ótima maneira de complementar o salário).

O menu traz três versões de coffee omakase, e é preciso reservar para prová-los – este, um ponto em comum nas cafeterias do país. No dia a dia, as opções variam, com duas dezenas delas que vão de nanolotes dignos de competição a cold e milk brews (semelhantes ao cold brew, mas com leite no lugar da água). “Nosso objetivo em contribuir para o café especial é por meio da experiência que os baristas promovem aos clientes”, completa.

Mas, se em Tóquio vários coffee shops já alçaram a maneira de tomar café ao patamar de fine dining, em outros países o coffee omakase está apenas começando. Termômetro de novidades estrangeiras na gastronomia, a capital paulista não podia ficar de fora.

É focado no café da variedade gesha, da Etiópia, que o barista Tiago de Mello, sócio-proprietário da cafeteria Pato Rei, oferece diariamente o seu coffee omakase – que ele renomeou de omakafé (e cujas fotos ilustram a reportagem) – além do já menu regular da casa, de influência asiática. “Nosso espaço é um lugar de experimentação, onde fazemos nossa arte’’, explica Mello, que também é mestre de torra e músico.

São quatro bebidas à base do raro grão – consagrado por suas características florais e sabor delicado –, produzido por Luiz Paulo Pereira, da CarmoCoffees, na Fazenda Santuário Sul, Mantiqueira de Minas, e torrado por Mello. “O omakafé serve para criarmos bebidas e receitas com ingredientes diferenciados’’, diz ele. Entre os destaques do menu estão o leite destilado com espresso e o milk brew, tendência na Ásia (confira a experiência completa feita pela Espresso ao final da reportagem).

Confio em você

Os coffee omakase japoneses geralmente funcionam com reserva. Existem cafeterias que oferecem o serviço para poucas pessoas por dia, e outras funcionam como um clube privado, cujo endereço permanece em segredo até a finalização da reserva.

Em coffee shops excêntricos como estes, todo detalhe importa. A mobília é pensada para ser elegante, moderna e, ao mesmo tempo, funcional. As roupas dos baristas lembram, a depender do lugar, a de professores de química, com seus jalecos e macacões confortáveis, mas muito discretos – aqui, o foco são sempre os cafés.

Um bom exemplo dessas cafeterias exclusivas é a Cokuun, no bairro de Omotesando, também em Tóquio. Para participar do coffee omakase, é necessário reservar pelo site e pagar antecipadamente.

O menu, com drinques de cafés servidos em quatro tempos, incorpora ingredientes sazonais e harmonizados com itens de confeitaria e é guiado pelo proprietário Hidenori Izaki – barista campeão mundial em 2014 e dono da microtorrefação Honey Coffee (na cidade de Fukuoka). Ele é auxiliado pela barista Miki Suzuki, três vezes campeã japonesa e finalista do mundial de 2017. “A Cokuun reposicionou o café como ingrediente”, explora o site do estabelecimento, que aceita apenas quatro convidados por noite para a experiência.

O espaço reproduz um domo geodésico, tipo de abrigo antigo e famoso por sua resistência e leveza arquitetônica (mas que pode lembrar uma enorme chaleira de chá), criado pelo designer japonês Koki Akiyoshi, da empresa Vuild Architects. “Quis criar algo que pudesse ser vivenciado apenas no Japão’’, disse Izaki, em entrevista ao Los Angeles Times, em maio de 2023.

A microtorrefação Catarina Coffee and Love também restringe o serviço de cafés diferentes – eles são servidos apenas nos fins de semana –, mas está longe de preocupar-se com uma arquitetura espantosa. É num ambiente informal e com cadeiras baixas, dispostas na calçada nos dias sem chuva, que o barista Henrique Ortiz apresenta as bebidas dos seus menu secreto e menu degustação. O primeiro é mais dinâmico, tanto em termos de execução (mais rápida) quanto de permanência no cardápio, já que depende de parâmetros como rendimento. Pode, também, reeditar hits da casa.

Já o menu degustação aproxima-se mais da experiência do omakase, ao buscar referências na alta gastronomia. “Sempre experimentamos muito, por meio de muito estudo e pesquisa”, conta Ortiz, que se inspira, ainda, nas tendências de campeonatos mundiais. “Assim, o que é mais comercial vai para o menu fixo da cafeteria, e o que é mais específico e incomum, para o cardápio de degustação”, explica.

O menu degustação, também, tem sempre um tema. “Ele varia de acordo com a sazonalidade e o assunto pelo qual estamos obcecados no momento’’, diz ele, referindo-se às ofertas com ingredientes – o tema atual é o cerrado mineiro – e combinações criativas. Por exemplo, o la cabra, à base de espresso, leva xarope de baunilha do cerrado e leite de cabra. Já o cold brew XO, oferta do menu degustação, inclui
chips de carvalho, nibs de cacau e tem sua elaboração conduzida por um equipamento vindo de um laboratório de química.

Cruzando o pacífico

A tendência asiática está rompendo outras fronteiras. Em Miami Beach, nos Estados Unidos, Nathan Coffey, barista, mixologista e antropólogo, oferece aos clientes do Café Mezzanotte o que afirma ser o único coffee omakase da cidade. “As pessoas me dizem que pensaram em fazer o serviço, mas nunca seguiram em frente’’, justifica Coffey.

Segundo ele, as primeiras degustações que fez no Mezzanotte privilegiavam drinques de países diferentes, de clássicos a releituras. Influenciado por um amigo de Osaka, interessou-se pelo coffee omakase e decidiu aplicá-lo localmente. “O serviço exige muita pesquisa, tempo de estudo e disponibilidade para criar novas receitas”, explica.

Um dos drinques oferecidos no omakase do Café Mezzanotte – Foto: Divulgação

Neste universo de possibilidades, Coffey percebeu que sabores e técnicas poderiam ser abordados em detalhes, numa experiência mais próxima do consumidor, diferentemente do serviço rápido que se encontra nas cafeterias da sua região. “A intimidade com o cliente é o espírito do omakase”, acredita o barista norte-americano.

A curadoria dos produtos segue regras. A primeira é que os grãos escolhidos sejam de torrefações de Miami, para fomentar o comércio local. A segunda é usar sempre grãos de origem única. “O coffee omakase é uma oportunidade de o barista pensar fora da caixinha e criar bebidas que não são comuns”, diz Coffey. Para ele, também, reunir estranhos em torno da mesa e fazer com que interajam é um exercício que pode ser diferente em tempos modernos. “A curadoria de uma experiência dessas explora as raízes do café, e encoraja as pessoas a se conectarem’’, analisa.

Nas mãos do Sushiman

Tradicional na cultura japonesa, omakase (que significa “confio em você”) é um jantar japonês em que os convidados se colocam nas mãos do sushiman e experimentam receitas sazonais, feitas com os melhores
ingredientes disponíveis naquele dia. O rito é o que há de mais sofisticado quando se trata de consumir sushis: ao se sentarem no balcão, os clientes querem ser surpreendidos, o que exclui, inclusive, a necessidade de um menu. A ausência deste, aliás, remete à época em que os restaurantes clássicos japoneses nem sequer tinham cardápios.

A experiência do Omakafé

O omakafé do Pato Rei começa com o espresso supersayadeuso (alô, fãs da série Dragon Ball), que tem notas de flores brancas, acidez cítrica que remete a laranja-bahia e doçura de mamão formosa. Todas as bebidas do menu são curtas (em torno de 60 ml), para não gerar desconforto aos participantes por conta do excesso de cafeína.

Segue-se um dirty espresso, montado com leite destilado – congelado para separar a gordura da água do leite, tornando-o mais concentrado (veja imagem abaixo) – e uma dose de espresso gesha quente por cima. De origem incerta, a bebida foi provada por Mello no Japão, e incorporada ao seu omakafé. A sugestão dos anfitriões é dar um gole sem misturá-lo – o que oferece uma deliciosa surpresa na boca. O leite, de textura aveludada e amanteigada, é abraçado pelo espresso quente, ácido e frutado. É de beber de baldes, como dizem os baristas.

Processo de criação do leite destilado, que é congelado para separar a gordura da água do leite, tornando-o mais concentrado

E que tal experimentar um cold brew de gesha? A terceira bebida, refrescante e intensa, tem como diferencial seu preparo – o café, extraído por quatro horas, tem parte da receita feita com água quente.

Para fechar o menu, uma bebida que é tendência na Ásia: o milk brew (técnica de extração a frio igual ao cold brew, mas que substitui a água por leite ou bebida vegetal). Aqui, os grãos do gesha são infusionados em leite de aveia por 18 horas. Na boca, a bebida lembra achocolatado gelado, é cremosa e delicada. Perfeita para dias quentes.

As criações do Catarina

O menu secreto do Catarina, mais dinâmico, incluiu no dia da visita da Espresso duas bebidas. A primeira é o la cabra, um café com leite (quente) que lembra o clássico cortado mas que, aqui, recebe leite de cabra, xarope de baunilha do cerrado e sal defumado para enriquecer a experiência. O leite de cabra é intenso e, em contato com o espresso, traz um macio equilíbrio entre gordura e acidez. Complete com o sal e o xarope e a sensação é a de beber uma bolacha amanteigada. É crime pedir um só. A segunda bebida (fria), contemporânea, é o motchango, e não leva café, mas matcha, leite vegetal, pérolas de tapioca e xarope de morango. É refrescante e divertida.

Feito com ingredientes do cerrado, o menu degustação inclui duas bebidas e uma sobremesa com o grão, em etapas. Começa com o cold brew XO feito com chips de carvalho, nibs de cacau e raiz de priprioca. Para concebê-lo, os baristas pensaram em como seria envelhecer um cold brew (feito de 70% canéfora e 30% arábica) em barris de carvalho – sem o risco de perder a matéria-prima pela ação do tempo e de microorganismos.

A solução foi acelerar a fabricação em um equipamento de vibração supersônica, utilizado em laboratórios de química. Na taça, a sensação é a de tomar um café gelado com sabor intenso de especiarias e retrogosto de um bom charuto.

Na sequência, o coado fat washed é elaborado com infusão de óleo de semente de abóbora e coado duas vezes. O contato do café com a gordura altera sua textura, deixando-a mais encorpada e aromática.

Para finalizar, a sobremesa chamada não é cartola: doce de buriti com um leve creme azedo de castanhas, calda de café e puxuri. É doce na medida certa, pegajoso e azedo. Dá pra comer sem enjoar.

Grãos latinos raros

Opções diferentes de omakase são a aposta, também, do Lonich. “Not an ordinary coffee shop’’ (“não é uma cafeteria comum’’, em português) é como se autodefine o espaço, no bairro de Kuramae, e que vem chamando atenção dos coffee lovers de Tóquio e de turistas do mundo todo. Desde 2022, o local oferece curadoria com cafés de países como Iêmen, Colômbia, Panamá, Guatemala e Peru.

Opções de grãos disponíveis no Lonich – Foto: Divulgação

Além de uma carta de cafés extensa e um clube de assinatura, a cafeteria tem três tipos do serviço: o seasonal omakase, que entrega uma seleção de cafés com uma pequena curadoria de doces feitos de acordo com ingredientes da estação, o japanese-chinese ingredient fusion, combinação entre chá e café com ingredientes de ambas as culturas, e o gesha collective, uma experiência com grãos raros de países da América Latina.

Texto originalmente publicado na edição #85 (setembro, outubro e novembro de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Letícia Souza • FOTO Agência Ophelia

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Café Store, em São Paulo, sedia 1ª edição oficial da Origami Cup

Foi divulgada a lista de participantes da 1ª edição oficial da Origami Cup. A competição, que está marcada para acontecer em 13 de dezembro na Café Store, em São Paulo (SP), contará com 27 competidores em busca do prêmio pelo melhor café extraído no método japonês Origami. Clique aqui e confira os nomes na disputa.

A dinâmica será dividida em rodadas eliminatórias de três participantes, que devem preparar, no mínimo e simultaneamente, 150 ml de café em até 5 minutos. Terminada a extração, é necessário colocar o café na xícara oficial da Origami e posicioná-la em local indicado previamente. 

Os juízes avaliarão as três bebidas às cegas, com colheres de cupping, e decidirão, individualmente, seu café favorito, apontando para a xícara escolhida ao final da contagem até três. O competidor da xícara que receber mais votos segue para a próxima rodada.

A organização forneceu a cada competidor o drip Origami e o café oficial da edição. Os grãos são da variedade arara, de processamento natural, cultivados a 1.100 metros de altitude pelo produtor Augusto Borges, da Capadócia Coffees, em São Gonçalo do Sapucaí, Mantiqueira de Minas. A torra foi feita pela 15 Coffee Company, de Sorocaba (SP).

A Origami Cup conta com patrocínio da Atilla Torradores e da Cropster. Para assistir à disputa, que é gratuita, basta chegar à Café Store (rua Barão de Tatuí, 387, Vila Buarque, São Paulo – SP).

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

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Emerson Nascimento vence o Campeonato Brasileiro de Barista: “Este é o meu ano”

“Eu tinha o sonho de ganhar essa competição”, conta Emerson Nascimento em entrevista à Espresso. Com um currículo extenso no mercado de cafés, que acumula títulos em competições como as de Coffee in Good Spirits e Latte Art, o barista da cafeteria Coffee Five agora soma mais um: ele é o novo vencedor do Campeonato Brasileiro de Barista.

Os próximos passos desse novo desafio serão dados do outro lado do oceano. Em outubro de 2025, a cidade italiana de Milão será palco do campeonato mundial da categoria, que reunirá os melhores baristas do globo – incluindo o representante do Rio de Janeiro. 

No bate-papo com a Espresso, Emerson comenta as escolhas feitas para a apresentação, os desafios na entrega, a alegria de conquistar o título e as expectativas para a disputa lá fora.

Espresso: Como você escolheu os cafés para sua apresentação no Campeonato Brasileiro de Barista?

Emerson: O café que eu escolhi foi um catuaí amarelo do produtor Vavá [Waldemar Ferreira de Paula Neto], da Fazenda Vista do Brigadeiro, nas Matas de Minas. É um café que foi cultivado a 1.670 metros de altitude, de processo cereja descascado. Este ano, o tema da minha apresentação foi açúcar, então eu queria um café que representasse esse tema. Um café mais doce, que tivesse notas indo para melaço de cana, açúcar mascavo, limão. 

Tenho uma torrefação no Rio de Janeiro chamada Five Roasters e o Daniel Vaz, meu sócio, correu atrás de café para ele, porque ele competiu junto comigo, e eu lhe dei essa missão de também achar um café doce para eu competir. E ele conseguiu achar o café do Vavá, que foi incrivelmente espetacular na apresentação. Entregou tudo, muitas notas doces, limão siciliano, açúcar mascavo. Tinha algumas notas indo para milho, bolo de milho, e também tinha um sensorial finalizando em chá preto. E era um café com corpo leve, médio.

Um café mais doce para um tema que iria falar sobre os açúcares no fruto. No Vavá, a altitude é bem elevada, então a amplitude térmica ajuda bastante na formação de açúcar. Durante o dia, as plantas fazem bastante fotossíntese e, à noite, o microclima é mais frio. Então, de manhã é muito quente e de noite é bem frio. As plantas desaceleram o metabolismo e sintetizam a energia gerada da fotossíntese em açúcar. Com a altitude e o processo comum no Brasil, que é o cereja descascado, o café teve uma pontuação média de 89 pontos.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista 2024, da esquerda para a direita: Hugo Silva (terceiro colocado), Emerson Nascimento (campeão) e Daniel Vaz (segundo colocado)

Espresso: Para você, o que significa ganhar o Campeonato Brasileiro de Barista?

Emerson: Eu tinha o sonho de ganhar essa competição. Já competi nesta modalidade quatro vezes antes de ser campeão. A última vez foi ano passado, em que fiz uma apresentação muito linda, mas tive um erro técnico que me tirou da final. Fiquei em sétimo lugar. Fiquei muito chateado porque eu estava com uma apresentação muito boa para ser campeão brasileiro. Já aconteceu de eu me decepcionar em outras competições também, mas não desisti. Este ano, consegui montar outra apresentação e ser campeão. Tirando o ano passado, a última vez que competi foi em 2010 ou 2011, se eu não me engano. Então fazia bastante tempo que não concorria nessa categoria, e ano passado, em que eu montei uma apresentação incrível, eu errei e não fui para a final. Aí eu respirei, montei uma nova apresentação e vim com tudo de novo. Este ano foi meu ano, fiquei muito feliz. 

Espresso: Para você, quais foram os maiores desafios nesta competição?

Emerson: O maior desafio de toda competição, para mim, hoje em dia, tem sido o tempo. Eu tenho muito trabalho para fazer, viagens, minha agenda estava muito cheia. Tinha competição em Singapura, em Portugal, em vários lugares, e isso foi só encurtando o tempo. Estava chegando perto do campeonato e eu não tinha tempo para treinar. Na semana do Campeonato Brasileiro eu tinha uma consultoria para finalizar, uma viagem para São Paulo, e eu separei dois dias para treinar. Eu até precisava de mais tempo, mas esses dois dias foram suficientes para eu botar a cabeça no lugar e treinar o que eu pensei para a competição, e eu consegui executar minha apresentação. No primeiro dia eu estava muito nervoso, me cobrando muito para estar na final, que era minha meta. Eu sou campeão de outras categorias, como o Coffee in Good Spirits, mas eu queria ser desta categoria, então estava me cobrando muito. Na primeira fase foi bem difícil pra mim, fiquei nervoso, mas no outro dia eu estava aliviado de ter conseguido passar para a final e fiz uma apresentação muito mais tranquila e leve, e consegui pontuar ainda mais. Foi bem legal, mesmo tendo pouco tempo de treinamento. O grande desafio foi ter tempo para treinar e chegar na final. Depois disso foi só entregar o que eu treinei e relaxar, curtir a apresentação. 

Espresso: Qual momento da sua apresentação teve mais destaque para que você alcançasse o primeiro lugar?

Emerson: A parte da minha apresentação que deu mais certo foi a de bebida de assinatura. Foi um dos drinques mais difíceis que fiz na vida. Era um drinque que me fazia caramelizar o açúcar na frente dos juízes. Então, eu colocava 40 g de açúcar e 10 ml de água e uma chapa esquentando desde o início da minha apresentação. A ideia era que esse açúcar caramelizasse certinho, no ponto correto, sem queimar, em 10 minutos, para que eu pudesse começar a fazer meu drinque. Foi desafiador porque foi um drinque que os juízes não esperavam experimentar, segundo o que eles falaram depois. Coloquei 10 g de manteiga e eles já começaram a estranhar, mas falaram que foi surpreendente. Coloquei depois 10 ml de uma solução málica salina, que é ácido málico com flor de sal, e 60 g de creme de leite fresco, e gelei o drinque. Ficou com uma textura muito gostosa, parecia a de sorvete de caramelo com flor de sal derretido. Foi onde eu mais pontuei porque os descritores foram bem assertivos.

Espresso: Quais as expectativas para o Campeonato Mundial?

Emerson: São boas. Acho que tenho mais experiência, porque este ano fui coach do Daniel Vaz na Coreia do Sul e conseguimos ver bastante coisa no Campeonato Mundial. Agora, para o Campeonato Brasileiro, nos preparamos bem, fiquei em primeiro e o Daniel, em segundo. Então, temos bastante coisa para pensar e tempo para treinar. 

A expectativa é de ter mais apoio, a galera chegar junto com a gente na apresentação, e também, penso em buscar mais recursos financeiros para conseguir competir bem no Mundial. Me sinto mais preparado e vai ser uma boa época para pegar café para o Mundial aqui no Brasil. Vamos estar no auge do café brasileiro.

Espresso: Você pretende competir novamente nesta e em outras categorias?

Emerson: Eu ainda tenho vontade de competir, e eu devo participar do Coffee in Good Spirits, que é uma competição que gosto muito e sou bicampeão brasileiro. Estou numa crescente boa no Campeonato Mundial, com mais experiência e sabedoria de competição. 

Espresso: Quais conselhos você daria para alguém que quer começar a competir nos campeonatos nacionais?

Emerson: Se dedicar bastante, treinar bastante. Querer fazer isso, porque é difícil, requer tempo, mexe com o nosso emocional, mas o resultado é aprendizado, você cresce como pessoa, como profissional. Mudou minha vida. Desde que comecei a competir, o mercado passou a me ver, comecei a ter mais oportunidades, então acho que as competições me trouxeram muitos resultados positivos para a vida e muito trabalho. 

Não vá para a primeira competição achando que vai ser um teste. Monte uma apresentação com a ideia de ser campeão. Pode ser que você não esteja com a melhor apresentação de todas, mas se você for achando que vai só sentir como é uma competição, talvez você não vá com a energia que deveria ir, e acabe não entregando tudo que você tem para entregar. Caia de cabeça, monte uma apresentação na categoria que você se sente mais confortável e entregue tudo.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café