Barista

8ª Copa Barista divulga ordem dos competidores

Faltam menos de dez dias para mais uma Copa Barista. A competição acontece, novamente, durante o São Paulo Coffee Festival, nos dias 21, 22 e 23 de junho, na Bienal do Ibirapuera, na capital paulista.

Assim como nos anos anteriores, alguns competidores são selecionados como “cabeças de chave”, ou seja, não passam pela etapa classificatória, indo diretamente para as oitavas de final. A ordem dos chaveamentos foi definida por meio de sorteio. Confira os nomes:

Sexta-feira (21/6)

Classificatórias
15h30 Debora Lais Nascimento x Pétrea Miharu* – Classificatória 1
16h10 Geosvaldo Silva x Marcos Vinícius Lugue – Classificatória 2
16h50 Bruno Couto x Giovanni Dezen – Classificatória 3
17h30 Gabriel Ribeiro x Henrique Wogel – Classificatória 4

Oitavas de final
18h10 Renan Dantas x Matheus Magalhães – Oitavas 1
18h50 Marcel Ribeiro x Elis Bambil – Oitavas 2
19h30 Hugo Silva x Monique Gomes – Oitavas 3
20h10 Daniel Silva x Danilo Favero – Oitavas 4

Sábado (22/6)

Oitavas de final
11h Amanda Albuquerque x vencedora da classificatória 1 – Oitavas 5
11h40 Tiago de Mello x vencedor da classificatória 2 – Oitavas 6
12h30 Stefanie Soejima x vencedor da classificatória 3 – Oitavas 7
13h10 Thiago Sabino x vencedor da classificatória 4 – Oitavas 8

Quartas de final
15h Vencedor da oitavas 1 x vencedor da oitavas 5
15h40 Vencedor da oitavas 2 x vencedor da oitavas 6
16h20 Vencedor da oitavas 3 x vencedor da oitavas 7
17h Vencedor da oitavas 4 x vencedor da oitavas 8

Domingo (23/6)

Semifinais
11h30
12h30

Finais
15h30 Disputa de 3º e 4º lugares
16h30 Final

*A competidora Isadora Gelk, por motivos pessoais, não poderá participar da Copa Barista. Pétrea Miharu, a próxima da lista, entra para a competição em seu lugar.

TEXTO Redação • ILUSTRAÇÃO Filipe Grimaldi

Mercado

Santo Grão apresenta microlote 100% laurina da Fazenda Daterra

O Santo Grão apresenta seu novo café feito 100% de laurina. Em evento exclusivo, a Espresso pôde degustar a novidade, chamada Cafeína?. Na xícara, a bebida traz acidez alta, corpo licoroso e notas de frutas tropicais, como o pequi.

Produzido na Fazenda Daterra, em Patrocínio (MG), no Cerrado Mineiro, a 970 metros de altitude, o microlote passou por processo natural de fermentação anaeróbica, e descansou em tanques de inox por 60 horas. “Este café foi feito em um método de processamento que ressalta notas frutadas, que nos lembrou pequi e seriguela. É muito macio e tem um caráter levemente alcoólico”, destaca Natália Braga, responsável pela torra do microlote.

O nome do lançamento faz referência à principal característica da variedade: um café naturalmente com baixo teor de cafeína – 0,6%, de acordo com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) –, inferior ao de outras cultivares de arábica. “A baixa quantidade de cafeína contribui muito para uma percepção quase nula de amargor”, comenta a mestre de torra do Santo Grão.

A novidade custa R$ 105 (200 g, moído ou em grãos) na loja virtual e nas unidades da rede em São Paulo (SP), onde também pode ser degustado na xícara.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Gabriela Kaneto

Mercado

Duas novidades no portfólio da Mantissa Café

No dia 22 de maio, em evento realizado na cafeteria temporária da Mantissa Café, na Casa Decor, em Campinas (SP), a Espresso pôde conhecer e experimentar os dois lançamentos da marca: as variedades arara e catuaí amarelo. 

Ambas foram cultivadas a 1.200 metros de altitude na Fazenda Mantissa, em Campestre (MG), Sul de Minas. “O arara foi um café que se destacou muito, despontando em concursos. Então, resolvemos acrescentar a variedade e aumentar a família”, destaca Leonardo Custódio, Q-Grader e supervisor de qualidade na Agro Fonte Alta, fazenda que faz parte do grupo. 

Na xícara, o arara se apresenta como um café doce, com notas de rapadura e toque floral, corpo licoroso, finalização longa e acidez cítrica. Já o catuaí amarelo traz notas que remetem a frutas amarelas, com finalização prolongada e corpo aveludado. 

Os dois cafés podem ser encontrados no site da Mantissa por R$ 27 (250 g) e R$ 54 (500 g). 

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Gabriela Kaneto

Café & Preparos

Café e design: collab brasileira lança porta-filtro cônico de cerâmica

A parceria entre a marca de cerâmicas Bíon e a loja Koffi, da barista Maíra Teixeira, resultou na criação de um novo método de preparar café: o Koffíon é um porta-filtro cônico de cerâmica produzido artesanalmente.

Seu formato em V, com ranhuras internas, foi pensado para auxiliar o fluxo circular da água durante a extração – e evitar, assim, a superextração da bebida. Já a cerâmica ajuda a manter a temperatura por mais tempo.

A combinação do filtro de papel cônico (como o da V60) e de cafés de moagem média resulta, segundo a collab, em 400 ml de uma bebida mais doce e encorpada, por conta do bico de saída projetado para ajudar no tempo de contato entre o café e a água. O equipamento vem com um suporte de ferro para sustentá-lo e uma jarra de cerâmica.

O Koffíon está à venda no site da Bíon por R$ 479,90 (inclui um pacote de filtro de papel V60).

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

Cafezal

Sustentabilidade e ESG: como o café se enquadra nesses temas?

Claudia Leite tem mais de 25 anos no ramo de comunicação e sustentabilidade e se tornou referência no tema, consolidando a estratégia global e catalisando ações relevantes

Claudia Leite – Foto: Wilian Jackson

O café fazia parte da sua vida desde a infância, lá no sudoeste de Minas Gerais. Ela cresceu em meio às produções de café. Dali, Claudia Leite iniciou uma carreira promissora, até se tornar diretora da Hilo Estratégia e Propósito.

“Vim de São Sebastião do Paraíso, e na minha infância e adolescência eu tive contato com a realidade da cafeicultura, com diferentes produtores e produtoras e tudo que eu pude estudar depois, no Brasil e no exterior, foi importante, mas nada se compara a entender o dia a dia desses produtores, saber os desafios que realmente temos. Isso me trouxe afeição e identificação com o café, depois eu consegui me reconectar com isso na minha trajetória profissional, mas no sentido de buscar cada vez mais valorizar as origens dos cafés, as histórias e as pessoas que existem por trás dessa cultura que a gente bebe”, conta a especialista.

Ela que sempre focou a sustentabilidade conta que em 2006 já trabalhava havia dez anos na Nestlé, quando então foi convidada a trazer a Nespresso para a América Latina. O objetivo da marca era ter cafés de alta qualidade, sustentáveis, já porcionados, e ali se dedicou a estudar muito sobre como vender café a quem mais produz café, que é o Brasil.

“De todas as estratégias comerciais e de comunicação que eu recebi como incumbência na época, um dos maiores desafios foi entender e conhecer mais sobre sustentabilidade, e apoiar no desenvolvimento desse conceito considerando a realidade local do Brasil como o maior produtor mundial e o maior fornecedor para a marca, além de saber como isso poderia ser entendido, potencializado e também comunicado. Eu já realizava muitas atividades como cidadã no meu dia a dia, mas isso é distinto de uma abordagem profissional como responsabilidade dentro de uma grande indústria. Entendi como tudo funcionava na prática. É diferente de hoje, que todo mundo fala de sustentabilidade, de ESG (sigla em inglês para responsabilidade social, ambiental e de governança). Na época não tinha toda essa importância e destaque, mas eu consegui mostrar como o tema poderia funcionar na cadeia do café.’’

O tema sustentabilidade é debatido em diversos eventos e palestras. Claudia diz que ele sempre existiu e foi ganhando diferentes contornos ao longo da história, e que é uma nova forma de fazer negócios, atender a demandas e garantir que as próximas gerações possam usufruir de uma sociedade em equilíbrio. A visão é complexa e de longo prazo.

“Isso envolve redução da pegada de carbono, conservação de água, energia e recursos, direitos humanos, responsabilidade social e corporativa, criação de novos produtos e serviços como um diferenciador para os nossos negócios. Já o ESG eu entendo como uma forma muito didática de trazer um conjunto específico de critérios ambientais, sociais e de governança para obter métricas específicas. Seu foco é o impacto, o risco da natureza do nosso negócio e da operação, características do nosso setor. Podemos definir como investimento responsável – já que a sigla veio originalmente do mercado financeiro –, que identifica os retornos ajustados ao risco e a oportunidades de investimentos. Hoje o ESG já é aplicado em outros setores, que estão nessa busca para que seus negócios sejam cada vez mais sustentáveis em termos ambientais, de gestão de pessoas e com boa governança e transparência.’’

E o café?

Claudia destaca que o produtor sabe que tem uma relação muito próxima com o meio ambiente, o solo, pois é de baixo para cima e de dentro para fora que os nutrientes são levados para a planta ter a melhor produção em termos de volume e qualidade, além desse olhar para as condições do entorno. Por manter essa relação de longa data naturalmente, a especialista enxerga a produção do café como favorável a boas práticas de sustentabilidade também.

“Em termos de governança, a propriedade rural é um empreendimento, uma empresa. Então, se não fizer direito, vai haver prejuízos e riscos de dar errado. Recomendo sempre começar pelo básico bem-feito, pois não é algo pedido só pelo café especial ou por fazendas grandes, está sendo demandado por todo mundo, e se a gente conseguir medir esse controle e essa gestão profissional por meio da governança – e sei que isso é um desafio pra quem está no campo –, vamos saber o impacto do trabalho da cafeicultura na geração de renda, no desenvolvimento local, que são benefícios que a gente tem com a produção de café.”

Em relação ao meio ambiente, Claudia destaca o fato de que o Brasil conta com um código florestal bastante claro, mas que, em alguns pontos, ainda pode deixar o produtor receoso do que pode ser feito ou posto em prática. Nesse sentido, o caminho é fazer o melhor uso do meio e restaurar a paisagem na qual você está, cuidando do solo, da água, dos recursos naturais, evitando erosão, e assim manter um ambiente equilibrado.

No que diz respeito ao lado social, a legislação no Brasil é rigorosa. Por isso é importante entendê-la. Some-se a isso a pressão e a restrição de mercados que querem saber como a produção está sendo feita, e que portanto criam barreiras caso as regras não estejam sendo respeitadas. Ter acesso à informação e à assistência técnica é fundamental e ajuda nesse trabalho para que as pessoas sejam tratadas com respeito e tenham seus direitos preservados. Um descuido pode pôr em risco toda a credibilidade do setor.

“O produtor pensa muito na manutenção financeira, mais operacional, e a isso se soma a responsabilidade do seu negócio de garantir formação e capacitação contínua, além de fazer análise do solo, usar corretamente os adubos, reduzir o uso de compostos nitrogenados, manejar matéria orgânica, garantir a ciclagem de nutrientes para ter biomassa de carbono, ter cuidado com erosão – principalmente em regiões de montanhas – e, na parte social, o compromisso que se tem de cuidar das pessoas, antecipar problemas e não ter o produtor como um agente isolado desse problema. Todos são interdependentes e devem contribuir, pois fazem parte da solução: cooperativas, sindicatos, torrefadores, empresas.”

Crédito de carbono

A especialista explica que isso movimenta milhões no mundo hoje e funciona da seguinte maneira: uma organização que emite os gases paga para outra que gera créditos para neutralizá-lo. Assim, o carbono que foi emitido em um lado acaba sendo compensado no outro. Por isso ele tende a se comportar como uma commodity mesmo, trazendo oportunidade de novos negócios e até de fonte de renda para diferentes públicos, como pequenos produtores rurais, comunidades tradicionais, o que fortalece as cadeias produtivas.

E esse mercado deve crescer ainda mais, pois organizações e até mesmo países precisam compensar o que produzem enquanto outros são capazes de sequestrar o carbono. “Tem um estudo da WayCarbon que mostra que há segmentos com grande potencial e oportunidades para o Brasil e que podem movimentar algo entre cerca de 500 milhões de dólares e 100 bilhões de dólares, e gerar 8,5 milhões de empregos até 2050. A regulação no País é de maio de 2022 e estamos entendendo como podemos participar desse mercado’’, pontua.

Agricultura regenerativa

Claudia fala muito de práticas que tenham o olhar para a recuperação de solos empobrecidos e a garantia de bom uso dos mesmos. Ela valoriza os micro-organismos que estão presentes no solo, que são fundamentais para a vida na terra, ainda que não se possa ver essa microbiota a olho nu.

Para o futuro da cafeicultura, Claudia Leite acredita na visibilidade do que já é feito de bom e no fortalecimento do que temos de destaque. “Planejar as ações com intencionalidade e medir o bom impacto gerado pela produção de cafés, seja para as pessoas, seja para o meio ambiente, buscando sempre o equilíbrio na produção. É fundamental melhorar a comunicação da porteira pra dentro e da porteira pra fora, para valorizar o orgulho que a gente tem de produzir café, de estar envolvido em toda essa cadeia, gerando dignidade, bem-estar, autoestima em tantas pessoas que estão envolvidas em todo esse processo, reconhecendo o valor dessa cultura que a gente bebe’’, finaliza.

Atente para:

• Realizar rotação de culturas, evitar o cultivo excessivo de mais uma planta na mesma terra, cobrir a terra de cultivos o ano todo para protegê-la, reduzir a evaporação e a perda de água, e para não haver pouso na entressafra, evitando a erosão.

• Arar menos os campos, reduzir drasticamente o uso de fertilizantes e pesticidas e pensar no bem-estar animal e em práticas justas de trabalho para os produtores.

• Um estudo do Instituto Rodale concluiu que os benefícios são grandes, levando-se em conta somente a produção de alimentos. O agronegócio vai ser capaz de sequestrar 100% das emissões de carbono de todo o mundo, pois o alimento tem a capacidade de reverter as mudanças climáticas.

• Manter boas práticas de cultivo, conhecer as dinâmicas de produção, saber que a planta e o solo são vivos e que as necessidades podem variar entre os anos.

• Fazer correções de nutrientes de um ano para outro pode ser necessário para melhorar a saúde da planta, além de fazer uso eficiente de produtos, manejo de solo e uso racional de recursos hídricos.

• Planejar bem a colheita e o pós-colheita para garantir que não se perca o trabalho de um ano todo.

• Além de tudo isso, trabalhar a possibilidade de redução de custos e de mais qualidade.

Texto originalmente publicado na edição #80 (junho, julho e agosto de 2023) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Natália Camoleze

Cafezal

Práticas sustentáveis ampliam retenção de carbono na cafeicultura capixaba

Estudo liderado pelo Cecafé avalia o impacto das práticas agrícolas conservacionistas no balanço de carbono da produção conilon, demonstrando melhorias significativas na retenção de CO2

Pesquisa sobre a produção de conilon no Espírito Santo mostra que práticas sustentáveis podem aumentar significativamente a retenção de carbono. Se a produção tradicional deste grão no estado já retém mais carbono do que emite – os dados apontaram para uma remoção de 3 toneladas de CO2 por hectare ao ano – com práticas sustentáveis, essa capacidade sobe para 8,24 toneladas.

O estudo “Balanço de GEE do Café Conilon Capixaba”, liderado pelo Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) e apresentado nesta quarta, 29, analisou as mudanças no manejo agrícola para práticas mais conservacionistas, resultando em um impacto positivo significativo no balanço de carbono.

Em colaboração com o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do ES (a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca) e sob condução científica do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e de Carlos Eduardo Cerri, da Esalq, o estudo destaca a eficácia de técnicas como o retorno de resíduos pós-colheita ao solo e o uso de adubos orgânicos, contribuindo ainda mais para um balanço carbono negativo e para um impacto ambiental positivo.

A pesquisa não só demonstra a eficácia das práticas sustentáveis na cafeicultura, como também aborda as mudanças no uso do solo – como a de pastagens para o plantio de conilon –, que ampliam ainda mais a retenção de carbono. O estudo avaliou as emissões de gases de efeito estufa e o sequestro de carbono nas propriedades.

Além de destacar o papel da cafeicultura capixaba na mitigação das mudanças climáticas, a pesquisa sublinha a importância de adaptações nas práticas agrícolas frente às novas regulamentações globais antidesmatamento e às exigências de mercados sustentáveis, como a EUDR.

O estudo reforça, ainda, a relevância do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, lançado e tocado pelo estado capixaba desde 2022, e que vem fomentando práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) com o objetivo é adequar as propriedades à sustentabilidade. O programa, com 27 projetos, pretende adaptar 8 mil propriedades até 2026 com um investimento de R$ 5,45 milhões, promovendo práticas sustentáveis e ESG. Essas ações buscam melhorar o desempenho econômico dos produtores, conservar recursos naturais e atender à demanda global por produtos sustentáveis, com destaque para a capacidade de sequestro de carbono das fazendas avaliadas.

Para concluir, os resultados do estudo também ressaltam o potencial de sinergia entre a cafeicultura e os investimentos verdes. Iniciativas como a recuperação de pastagens degradadas não apenas reforçam o compromisso ambiental, mas também posicionam o Espírito Santo como um líder em práticas de café sustentável globalmente. Este esforço coletivo demonstra o papel vital do setor agrícola no enfrentamento dos desafios climáticos e na preservação de recursos naturais para as futuras gerações.

Confira a apresentação dos resultados aqui. O texto completo está no site do Cecafé.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

“Nosso negócio é uma fábrica a céu aberto, vulnerável ao clima”, diz o cafeicultor Lucas Venturim

Em entrevista à Espresso sobre a quebra de safra no Espírito Santo, o premiado produtor de conilons capixaba diz que os preços de canéfora no mercado têm que subir, senão os cafeicultores terão de “fechar a porteira”

Lucas Venturim, cafeicultor na Fazenda Venturim

O mercado interno e as bolsas internacionais começam a sentir os efeitos das mudanças climáticas na safra 2024/25 no Espírito Santo. Em entrevista à Espresso, Lucas Venturim que, ao lado do irmão Isaac, produz premiados conilons na fazenda que carrega o sobrenome da família, em São Domingos do Norte, traça um panorama dos efeitos das mudanças climáticas na região, por calor e chuva fora de época.  

O que está acontecendo para que haja a quebra de safra no Espírito Santo?

Venturim: Este ano, estamos enfrentando as consequências da quebra de safra. Em julho do ano passado, no final do inverno e durante nossa colheita no Espírito Santo, em lugar do típico inverno seco, as chuvas caíram entre julho e agosto. Isso fez com que os pés de café, já estressados pela seca nos meses mais frios de maio e junho, “pensassem” que a primavera estava começando e iniciaram a floração.

Contudo, as chuvas não pararam, o que é prejudicial para nós que cultivamos conilon. Ao contrário do arábica, o conilon depende fortemente da polinização cruzada, seja por abelhas ou pelo vento. Chuva sobre as flores abertas significa que o pólen é lavado – dizemos que a chuva “mela” a flor. Além disso, as abelhas e outros insetos polinizadores não voam nesse tempo. O resultado é que essa chuva precoce comprometeu a polinização dessas floradas, que foram frequentes devido às chuvas irregulares. Em muitas delas, a chuva causou danos tanto à qualidade do café, por falta de homogeneidade na frutificação, quanto à efetividade da polinização.

Quando esperávamos que começasse a chover, no início da primavera e do verão, não choveu. Parou de chover em um período que, geralmente, é chuvoso. Novembro e dezembro são os meses mais chuvosos do ano para nós, assim como janeiro. E enfrentamos uma grande estiagem, de setembro até meados de dezembro. Foram meses extremamente quentes, sem nenhuma chuva. Isso causou abortamento e má formação dos frutos que tinham sido polinizados. Vimos muitos frutos caindo logo depois, em janeiro. As chuvas voltaram ao normal em janeiro e fevereiro, mas já era tarde demais, pois muitos frutos já haviam sido perdidos ou estavam mal formados. Portanto, o que estamos colhendo agora reflete essas anomalias que tivemos no meio do ano passado, resultando, infelizmente, em uma safra ruim, como esperado.

O que vocês estariam fazendo e obtendo, nessa época do ano, em  uma safra regular?

V: Em termos das atividades, tudo está acontecendo conforme o esperado.

Iniciamos a colheita no período habitual. No entanto, estamos observando uma quantidade significativa de frutos mal formados. Frequentemente, ao colher um fruto aparentemente maduro, descobrimos que ele está sem semente ou com a semente murcha e mal formada, o que é especialmente evidente no processo de descasque do café.

Estamos enfrentando uma perda considerável durante o processamento. Há muitos frutos compostos apenas por casca, sem qualquer semente presente.

Além da má formação, já enfrentávamos problemas com a frutificação e a polinização, o que dificultou a fixação das floradas. 

Trata-se de uma combinação de fatores que está impactando o rendimento de modo negativo.

Quais as consequências para os produtores e para os mercados nacional e internacional?

V: A consequência é isso, a frustração de safra. Nós já vínhamos de uma safra pequena no ano anterior. Então, esperávamos que esse ano a safra fosse boa, porque as plantas estavam descansadas, vamos dizer assim. E realmente a lavoura está bonita, porque choveu bem em janeiro e fevereiro, como disse. Mas não tem realmente muitos frutos. E vamos ter uma quebra de safra considerável na região (eu não saberia dizer em termos de Brasil). Nossa economia gira em torno do café, porque todos aqui produzem o grão.

Essa quebra já começou a refletir nos mercados nacional e internacional. Só este ano, a bolsa de valores em Londres, que é referência para os cafés canéfora, chegou a subir 45%. Acredito que o Vietnã vai enfrentar o mesmo problema, porque o período de florada já passou com a seca forte que enfrentaram. Então, quando eles forem colher os frutos, mais perto da virada do ano, acredito que essas mudanças climáticas irão interferir. 

O pessoal diz que o preço do canéfora subiu. Mas não subiu tanto a ponto de compensar uma frustração de safra nos dois últimos anos. Nós perdemos meia safra. Se somarmos a perda do ano passado e a perda mínima deste ano, que ainda vai ser apurada (pelo que já vimos, será de pelo menos meia safra), é uma quebra considerável. E não temos margem para absorver isso. Então, o preço de mercado tem que subir para compensar o produtor, senão ele terá que fechar a porteira, porque não vai ter mais como tocar a fazenda.

A gente tenta compensar, caprichando nos cafés que conseguimos colher. Vamos tentar fazer o melhor possível quanto à qualidade para poder tirar dos frutos seu melhor potencial. É o que dá para fazer.

Lucas e seu irmão, Isaac Venturim (à esq.)

Quais as soluções para minimizar efeitos assim no futuro?

V: É difícil dizer, principalmente devido à questão climática, sobre a qual temos pouca influência. Mesmo com previsões meteorológicas que não oferecem muita antecedência, as opções de ação são limitadas. Por exemplo, nossa lavoura é totalmente irrigada.

Utilizamos sistemas de irrigação avançados, do tipo israelense, que maximizam o uso da água e otimizam a fertirrigação, com nutrientes aplicados por meio da água, como se fosse uma hidroponia. Também intercalamos árvores entre as culturas para reduzir a temperatura média e a evapotranspiração, além de adotar diversas práticas de preservação de água e sustentabilidade.

Trabalhamos com polinização assistida, introduzindo mais abelhas durante a florada para melhorar a polinização. Mas, frente ao clima, essas medidas apenas mitigam o problema e não oferecem soluções definitivas. Por exemplo, a irrigação melhora a situação em comparação a sistemas não irrigados, mas não substitui a sombra natural das nuvens. Mesmo irrigando os cafezais, se a temperatura atingir 42ºC ou 43ºC, a técnica não fará milagres – os frutos serão danificados de qualquer forma.

Continuamos a trabalhar com limitações como esta, conscientes de que estamos à mercê da natureza. Nosso negócio é como uma fábrica a céu aberto, extremamente vulnerável a fatores climáticos.

“A luta também deve ser por uma política de seguro rural mais robusta no país. Atualmente, ela é insuficiente, e deixa o produtor rural totalmente exposto a essas condições climáticas imprevisíveis.”

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Agência Ophelia

Mercado

O renascimento dos cafés peruanos

Boom de cafeterias, concursos e cursos profissionalizantes revitalizam a cafeicultura no Peru, cujas características únicas entregam grãos de alta qualidade

O Peru é famoso por sua rica história, culturas milenares, gastronomia diferenciada e paisagens de tirar o fôlego, que se espraiam desde a floresta amazônica até praias deslumbrantes. Mas o que poucos sabem é que, nos últimos anos, o país vem passando por uma transformação no consumo e na produção de cafés.

A qualidade do grão peruano – produzido em 11 das 24 regiões (que são as unidades administrativas do país) e um dos principais produtos de exportação – tem atraído compradores internacionais, e a quantidade de cafeterias que trabalham cafés especiais cresce a cada ano.

As variedades de arábica (algumas antigas, como a típica) são cultivadas em diversas províncias, com altitudes extremas (que chegam a 2.400 m), solos ricos e clima favorável, e são famosas por sua alta doçura. Há décadas apostando em práticas agrícolas e gestão sustentáveis dos cafezais, o Peru é, atualmente, o maior exportador de cafés orgânicos do mundo (o segundo é o México) e o primeiro a fornecer cafés certificados por Fairtrade para a União Europeia. O país também é o quinto maior produtor mundial de arábica, com 4,2 milhões de sacas produzidas, segundo dados da ICO (International Coffee Institute) para a safra 2021/2022.

Esse cenário promissor – que despontou em 2008, na esteira do consumo de cafés especiais na Europa e nos Estados Unidos – tem como importante agente catalisador a Central Café y Cacao del Perú. Em 2017, ao promover a primeira edição da Taza da Excelencia – como é chamado no país o Cup of Excellence, prêmio mais importante de cafés de alta qualidade no mundo –, a associação, que reúne nove mil famílias produtoras de café e de cacau organizadas em 11 cooperativas, contribuiu para alavancar as vendas internacionais dos cafés de qualidade peruanos.

Q-Grader na Central Café y Cacau del Perú

Isso porque a Taza é uma vitrine internacional para os grãos ganhadores do certame. Atualmente, há uma demanda crescente por café peruano na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos. “Também introduzimos programas de Q-Graders e campeonatos de baristas e de torrefadores, além de cursos para formar baristas, o que tem ajudado a gerar e alimentar essa onda de especialidade”, conta o gerente-geral da Central, Geni Fundes Buleje.

Se é uma realidade mundial, em países produtores, a falta de interesse dos jovens pelo campo e pelas práticas agrícolas, também é verdade que certos estímulos são capazes de atraí-los. “Os cursos e prêmios voltados ao café de qualidade têm mudado a mentalidade de muitos deles, que se voltam para suas fincas”, diz Buleje. “A Taza de Excelencia dá visibilidade e prestígio aos produtores, e cursos sobre diferentes processamentos do café instiga a curiosidade dos jovens”, acredita.

Buleje também dirige um projeto, previsto para 2026, destinado a promover o setor de cafés especiais no Peru e que já conta com o auxílio financeiro da Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID). “É uma corrente que cresce ano a ano, de maneira lenta mas constante”, afirma.

O café e a cidade

A cena urbana do Peru também reflete, ano após ano, o interesse dos peruanos por seus cafés (diferentemente do Brasil, o Peru permite a entrada de café verde de outros países). Nos últimos cinco anos, o consumo da bebida dobrou no país. É um avanço importante, se considerarmos que, das 400 mil sacas (de 60 kg) consumidas por ano, 53% são de cafés instantâneos, a maioria deles importados do Brasil e da Colômbia. E que o consumo de café no país ainda é baixo – 0,7 kg por pessoa ao ano, ou seja, sete vezes menor do que o consumo per capita brasileiro. Um dos motivos é que os peruanos têm outra bebida quente tradicional, o emoliente, feito de cevada torrada e uma mistura de ervas e especiarias, que é vendida diariamente por toda parte. “O emoliente é o substituto do café nas ruas”, esclarece Buleje.

A perspectiva, porém, é animadora quando se repara no movimento de abertura de cafeterias e de pequenas torrefações que trabalham com cafés especiais. Em 2008, o país contava com apenas um estabelecimento. Atualmente, são cerca de 500 cafeterias – 350 delas na capital, Lima.

“Há 20 anos, não havia nenhuma cafeteria nas cidades das zonas produtoras de café”, reforça Jorge Iglesias, sócio da Central Café y Cacao del Perú. “Hoje, há pelo menos 30 delas nessas cidades. Especialistas costumam dizer que uma cafeteria por semana é aberta no Peru”, completa Iglesias.

Esse movimento é impulsionado, especialmente, por uma nova geração que busca por cafés de qualidade. A disponibilidade dos cursos profissionalizantes e os prêmios ajudam a estimular o interesse dos jovens pelo produto.

Nas cafeterias peruanas, espressos e filtrados dividem a atenção dos clientes. “Os métodos filtrados ganham mais adeptos a cada dia, já que são mais fáceis de preparar e custam menos”, analisa o Q-Grader Felipe Aliaga. Dono da cafeteria Ciclos Café, Aliaga serve e comercializa grãos especiais produzidos nas diversas regiões peruanas. Seu principal barista, Antonio Venturo, ganhou este ano o campeonato nacional de barismo. “Nossos principais valores são a alta especialização da equipe e o atendimento ao cliente”, define Aliaga.

Para Harrysson Neira, dono do Neira Café Lab, o consumo interno teve um avanço significativo. “Nos últimos anos, o café tem se fortalecido como estilo de vida em bairros e zonas muito diferentes”, avalia o barista, que também já foi campeão nacional. “Desde a pandemia, houve um aumento no número de cafeterias, de todos os tamanhos e por todo o Peru”, relata.

Fachada da cafeteria Neira Café Lab

Assim como muitas cafeterias de qualidade estabelecidas em países produtores, a Ciclos Café compra os grãos diretamente dos cafeicultores. E a Neira Café Lab oferece, pelo menos, grãos de vinte áreas específicas do país.

Hoje em dia, as regiões peruanas reconhecidas em qualidade, tanto nacional quanto internacionalmente, são Cajamarca, que já teve quatro ganhadores na Taza de Excelencia, e Cusco, que revelou três. No interior dessas regiões, as áreas em voga são as províncias de Jaén e San Ignacio (Cajamarca), e La Convención e Calca (Cusco).

Existem duas Denominações de Origem, ambas em Cusco e registradas no Indecopi (entidade peruana que registra marcas e patentes), mas que, segundo Geni Buleje, ainda não decolaram. São elas o Café Villa Rica, produzido em Pasco, e o Café Machu Picchu-Huadquiña, cultivado em La Convención. “Até hoje essas denominações não funcionam, porque não encontraram uma fórmula para desenvolver a marca”, analisa Buleje.

Como se vê, ainda há muito a ser feito quanto aos grãos especiais, que, apesar do interesse cada vez maior dos consumidores peruanos, representam menos de 2% do consumo total de café no país. Além do mais, aportes financeiros recentes, obtidos com as exportações dos grãos, não escondem desafios, como o alto custo de produção e o abandono do café por culturas mais rentáveis, como a coca. Essa expansão de consumo, pela qual pessoas como Buleje, Aliaga e Neira tanto lutam, é um dos pilares para o país sustentar o seu produto, manter o equilíbrio dos recursos naturais e melhorar a qualidade de vida dos produtores.

E, de quebra, promover com segurança a emergência de outras regiões produtoras, como Inkahuasi, em La Convención (veja em Algumas regiões produtoras). Pouco conhecido no mercado, os cafés de Inkahuasi têm raízes antigas e calcadas na tradição – uma história que, como todas aquelas atreladas a produtos de valor, conquista qualquer consumidor.

Algumas regiões produtoras

Cajamarca: Ao norte do Peru, cobrindo a porção final dos Andes peruanos e beneficiando-se do clima equatorial, os cafezais de Cajamarca entregam frutos de alta qualidade, com diferentes microlotes e a partir de múltiplas variedades. Os principais territórios são San Ignacio, Jaén e Chirinos, que utilizam diferentes métodos de processamento. Nos últimos anos, após a infestação pela ferrugem (La Roya), houve substituição de variedades. Muitos dos pequenos produtores daqui organizam-se em cooperativas.

Junín: Localizada na Selva Central, com clima equatorial (quente e úmido), típico da selva peruana, é uma região cafeeira histórica. A contaminação por doenças, entre 2014 e 2015, diminuiu sua produção (até então a maior do país) e transformou grandes fazendas (100 ha) em pequenas propriedades (entre 10 e 20 ha), que continuam a cultivar os grãos na floresta. É reconhecida pela certificação Fairtrade. Entre 1980 e 1990, Junín sofreu com a atividade guerrilheira, e os cafezais foram negligenciados. O ressurgimento se deu a partir de 1990. A província de Chanchamayo, conhecida, tem altitudes diversas (entre 700 e 1.800 m). Há áreas de cultivo em solos de origem vulcânica, ricos em minerais e nutrientes.

Cusco: Famosa por atrações turísticas como Machu Picchu, Cusco cultiva café em altitudes que estão entre as mais elevadas do país (até 2.400 m). Embora não produza volume, tem uma rica história cafeeira, e vem experimentando diferentes processamentos do grão.

História do café peruano, lote a lote

Século 18: Em 1794, Gonzales Laguna registra no periódico Mercurio Peruano que plantas “estranhas” foram introduzidas em Lima, em 1760, oriundas de Guaiaquil (Equador), e encontradas, sombreadas, também nos Andes de Huánuco, desde pelo menos 1785. No fim do mesmo século, aquarelas de Baltasar Jaime Martínez de Companõn, bispo de Trujillo, ilustra o café peruano.

Século 19: O cultivo de café ganha importância. Regiões como Chanchamayo são cultivadas, e em 1838, já se registram carregamentos de café de Junín a Lima. Em 1858, a cidade recebe mais de oito mil quilos do grão. Em 1862, Mateo Paz Soldán elogia uma região produtora em Geografía del Perú: “O café de Huánuco, especialmente o de Huertas [hoje, distrito da província de Jauja], é exótico, tão bom quanto o melhor do mundo”. As exportações de café crescem, impulsionando a economia nacional.

Século 20: Em 1914, já se registram elogios aos cafés de Piúras. Nos anos 1920, o Peru torna-se um dos principais exportadores de café da América Latina. Nos anos 1950, diversas regiões cultivam o grão, como Cusco, Puno, Amazonas e Cajamarca. Preços instáveis e redução nas exportações marcam os anos 1970 e 1980. A década seguinte traz o desenvolvimento de certificações orgânicas e de comércio justo.

Algumas variedades

  • Típica: Uma das mais tradicionais, é amplamente cultivada no Peru. Apreciada por seu sabor suave, com notas frutadas e florais.
  • Caturra: Mutação natural da bourbon, é cultivada em várias regiões. De porte compacto (que facilita a colheita), tem sabor doce e suave.
  • Geisha (gesha): De origem etíope, é conhecida no Peru por seu sabor distintivo (florais e cítricos).
  • Catuaí: Resistente a doenças e pragas, é plantada em várias áreas, e produz cafés com notas de chocolate e nozes.
  • Pache: Variedade local, adaptável a diferentes condições de cultivo. Dependendo do terroir, tem vários perfis de sabor.

Texto originalmente publicado na edição #82 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Odara Café – Vitória (ES)

Foto: Camila Santos

A Odara, padaria de pães artesanais e cafés especiais, começou pequena na Praia do Canto, charmoso bairro de Vitória, e logo expandiu para outros dois pontos (bairro Jardim Camburi e cidade de Vila Velha), sinal de sucesso no que faz. E, importante dizer, é acessível.

O espaço tem decoração moderna, de estilo industrial e pé-direito alto, mas a cor rosa da marca e design nas paredes dão a ele um ar aconchegante. Logo da entrada avista-se a produção da padaria, e a varanda, com uma grande mesa para compartilhar, é disputada nos meses menos quentes. A seleção musical, longe de ser óbvia e contemplando de música brasileira ao jazz e reggae, poderia virar uma playlist.

O clima da casa, descontraído, convida a conversas informais e refeições rápidas. As mesas são muito próximas umas das outras, e não é permitido o uso de computadores nos horários de pico – há uma mensagem clara no cardápio –, já que o local não foi pensado para reuniões de trabalho, tampouco para longas permanências. Pelo contrário, a ideia da Odara é a de um serviço rápido, um “grab and go”. Alguns acham esse propósito antipático, mas, se a mensagem é clara, está tudo bem.

Torta de limão, panetone com creme inglês e sanduíche de presunto – Foto: Caio Cesar

É por isso que o atendimento é quase um autosserviço. Na hora de pagar, não há conta, paga-se diretamente no caixa. Mas o pedido é feito à mesa, e esse serviço é demorado. Entretanto, do caixa ao atendente, todos sabem explicar os pães e cafés servidos, incluindo, com relação a este último item, informações importantes como produtor, região e notas sensoriais esperadas na xícara.

A casa serve apenas um método, a V60, e o preparo não é feito nem à mesa e nem sobre o balcão, de modo que não se pode acompanhá-lo. Essa decisão/postura/protocolo costuma frustrar alguns clientes. As duas opções de café, o da casa e o convidado, têm qualidade. O convidado da vez é um arábica da Fazenda Ninho da Águia, Alto Caparaó (MG), de processamento natural. A bebida, bem extraída, é aromática, com acidez cítrica equilibrada, notas florais e corpo aveludado. Há, ainda, algumas opções de café latte e café gelado.

O espresso tradicional, com grãos do Sítio Cordilheiras (também na região do Caparaó), vem em uma xícara branca pequena, na temperatura adequada e surpreende pelos aromas e sabores (notas de mel e frutas vermelhas), corpo cremoso e acidez equilibrada, embora entregue uma crema pouco espessa, finalização um pouco amarga e sabor levemente queimado, o que não compromete a experiência completa. 

A seleção de cafés em grãos à venda é tão variada quanto a dos pães. Novidades são frequentes, e os cafés são sempre frescos. Já passaram por lá os cafés da Tocaya, Five Roasters, Roast Cafés e de torrefações locais.

Pain au chocolat – Foto: Caio Cesar

A vitrine dos pães e doces, de apresentação caprichada, atiça os olhos. A fornada é bem diversificada, e o cardápio muda diariamente. O pão de fubá com goiabada, por exemplo, só sai às quartas e quintas. Há também produtos sazonais, como o panetone de café, chocolate belga e tangerina, que bem poderiam estar disponíveis o ano todo, pois acompanham o café muito bem. Assim como as torradas de pão sourdough, tostadas na chapa lentamente com manteiga feita na casa e mel de flor de laranjeira, um clássico da casa – um dos pontos fortes da Odara são pães de fermentação natural. Entre os doces, destaque para os croissants, como o de queijo do Serro, presunto royale artesanal e mostarda da casa, cuja combinação da casquinha crocante com o queijo derretido e a picancia da mostarda merece elogios. 

Para acompanhar o espresso, um choux cream de pistache com flor de laranjeira é uma explosão de sabor e aroma: casquinha crocante e recheio leve e bem cremoso, arrematado por uma ganache de chocolate branco e água de flor de laranjeira como cobertura, de perfume adocicado e fresco. 

Toda a louça da casa é branca, simples, sem detalhes. Preza-se tanto pela beleza dos produtos que uma cerâmica bonita valorizaria ainda mais a comida e o café. Mas o que leva o cliente a voltar à Odara é a certeza de sempre encontrar a mesma qualidade dos pães e cafés e novidades no cardápio e na seleção de grãos para levar para casa.

Conta: R$ 91
Hario v60 — R$ 15
Espresso — R$ 6
Torradas com manteiga e mel — R$ 16
Croissant misto — R$ 24
Choux de pistache — R$ 24
Água com gás — R$ 6

A equipe da Espresso visitou anonimamente a casa e pagou a conta.

Texto originalmente publicado na edição #83 (março, abril e maio de 2024) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Aleixo Netto, 834
Bairro Praia do Canto
Cidade Vitória
Estado Espírito Santo
País Brasil
Website http://instagram.com/odarapaoecafe
TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

“Nossos blends terão mais arábica”, diz CEO da Ecom em evento em Santos

O segundo dia do 24º Seminário Internacional do Café, em Santos, foi intenso. O evento, organizado pela Associação Comercial de Santos (ACS) e que pela primeira vez aconteceu na cidade, reuniu desde terça (21) um time de palestrantes que lotou o espaço reservado no Blue Med Convention Center (o seminário termina nesta quinta, 23).

Entre os destaques de quarta, 22, o primeiro dia de palestras, que aconteceram em meio a uma enxuta feira de negócios – estava um painel com CEOs globalmente renomados, como Teddy Esteve, diretor geral da Ecom Agroindustrial Corp. Não houve plateia maior do que a que assistiu às falas de Esteve, Trishul Mandana, diretor geral de Café – Volcafé e Ben Clarkson, diretor global da Plataforma de Café da Louis Dreyfus Company sobre “O excedente atual é suficientemente grande para satisfazer as necessidades do mercado?”. Entre apostas e desafios está a de Esteve, cuja fala abre a reportagem. “O Brasil vai liberar muito conilon mercado externo. O blend brasileiro terá mais arábica”, aposta ele, que também declarou que a recessão será necessária para equilibrar o mercado. 

Segundo os convidados do painel, houve um acúmulo de estoques durante o Covid-19, mas que, atualmente, operam no limite. Foi lembrado, também, que o Vietnã prometeu entregas antecipadas mas não foi capaz de cumpri-las pela falta de chuvas que vem enfrentando. Para Mandana, em pouco tempo o Brasil será o grande fornecedor mundial, capaz de atender entre 75% e 80% da demanda do mercado. 

Houve, ainda, acordo entre os CEOs que a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas pelos países produtores passa pela contratação de técnicos, financiamento estatal e práticas regenerativas. E, como não poderia deixar de ser, Dreyfuss não deixou de mencionar o protagonismo do parque cafeeiro Brasileiro no cenário global.

Vanusia Nogueira, em palestra de meia hora sobre “Desafios para o Futuro”, destacou problemáticas como trabalho infantil, escravidão moderna e desigualdade de gênero na produção de café pelo mundo. 

A diretora executiva da OIC (International Coffee Organization) defendeu a reavaliação do tamanho mínimo de plantio para a validação de viabilidade econômica aos produtores, a equidade na divisão de renda na cafeicultura, a desmistificação da mecanização no campo e o aumento da produtividade. “Para aumentar a margem de lucro dos produtores, é preciso inovação”, reforçou em sua fala. Como primeira mulher a presidir a organização internacional, a brasileira destacou o protagonismo feminino no café. “Há mulheres produtoras em vários países que não têm acesso a uma conta bancária”, reforçou.

Já no painel denominado “Impactos na movimentação de cargas pelo porto de Santos”, não faltaram críticas dos traders e promessas de agentes públicos quanto à adequação logística do porto mais movimentado do país, para o qual se dirigem 15 mil caminhões por dia. 

Segundo Elber Justo, diretor-presidente da MSC do Brasil, a aduaneira está defasada em “12 anos e 4 gerações de navios” – as novas embarcações, maiores,  não conseguem atracar no porto, cuja profundidade não é suficiente, fazendo com que haja um volume menor de cargas embarcadas. O que foi respondido pelo presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, que, além de destacar a “quebra de recorde” de 223 bilhões de reais arrecadados com as exportações em 2023, concordou com a estrutura inadequada. “Investiremos 10 bilhões de reais nos próximos cinco anos”, prometeu. 

Pomini destacou ainda que o porto não opera sozinho. “Temos que inovar na gestão pública [do porto], mas ao lado das vias de acesso”, cobrou ele, lembrando do papel das rodovias e ferrovias no transporte da carga até o porto (que, juntas, respondem por 60% da movimentação de mercadorias nos portos) diante de comentários de painelistas sobre os atrasos no embarque de mercadorias – entre 12 e 30 dias, em 80% das embarcações. As despesas com um mês de atraso alcançam, assim, US$370. Alex Sandro de Ávila, Secretário Nacional de Porto, garantiu que, até 2026, sairá o contrato da parceria público-privada para o aprofundamento do calado de 16 para 17 metros. 

O dia foi marcado, também, pela palestra que abriu o evento feita pelo economista Ricardo Amorim, sobre o panorama do agronegócio do café no mundo, com foco no café.

O 24º Seminário Internacional do Café tem patrocínio de Autoridade Portuária de Santos (APS), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil ), MSC, Stonex, Serasa Experian, Nucoffee, Agridrones, CAIXA e Cooxupé.

TEXTO Cristiana Couto