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“Temos que incluir o produtor na relação”

linda

No começo, ela conta, foi bem desafiador participar da SCAA, pois era uma “jovem organização que tinha que treinar os profissionais de cafeterias e pensar em como fazer para as pessoas tomarem café também em casa. Construir esse relacionamento”. E ainda hoje ela vê o mercado como um grande desafio. Em 2005, após visitar o Brasil anos antes, Linda foi convidada para trabalhar como representante nos Estados Unidos dos cafés produzidos na brasileira Fazenda Daterra, no Cerrado Mineiro. Outro desafio na época. “Dizia aos meus amigos do mercado americano que tinha cafés incríveis do Brasil para provar e eles agradeciam e diziam: ‘Não, eu não bebo café do Brasil’.” Aos poucos ela foi introduzindo a ideia e hoje há uma grande mudança na imagem do nosso grão em outros países. Para Linda, “a tendência é que cada vez mais o consumidor queira se conectar com quem está produzindo o café e o caminho que ele percorre”. A seguir, veja a conversa exclusiva que ela teve com a Espresso.

Por que você começou no mercado de café? Eu era uma apreciadora de chá. Não bebia café porque não gostava do sabor. Um dia, em uma cafeteria na Flórida, tomei um café maravilhoso e descobri que tinha um sabor diferente do que eu provava em reuniões de trabalho. Eu sofria nesses momentos. Descobri então que um café de qualidade, com torra fresca, moído na hora e preparado da forma correta, era uma bebida exótica. E então comecei a Susan’s Coffee and Tea, em 1989. Hoje eu só tomo chá quando estou doente, e sempre depois do primeiro café.

Quando começou no conselho da Specialty Coffee Association of America (SCAA)? Em 1990. Um ano depois que abri a cafeteria. A Associação era uma organização jovem e, como eu e meu marido tínhamos um conhecimento de mercado de outras áreas, pudemos contribuir com nossa experiência. Porque a chave do sucesso de uma cafeteria não é só o produto, mas o produto com foco em lucro. Em 1998 me tornei presidente da Associação. E nosso grupo era incrível, mas tínhamos que investir e pagar com recursos próprios nossas viagens e seminários. Tínhamos dois funcionários e nove pessoas no Conselho da SCAA. Todos trabalhavam muito.

Qual era o principal desafio para a SCAA na época? Era levar o conceito de café especial para dentro da casa das pessoas. Porque, com o trabalho de marketing, as pessoas vão até as cafeterias, mas o consumo dentro de casa do café especial sempre é um grande desafio, porque não é conveniente. Quando você vai ao supermercado e compra leite, laranja, carne, café e vegetais, esse café não é fresco e está a milhas de distância do que você toma na cafeteria. De modo que acho que ainda é o grande desafio.

E o que vocês fizeram? Treinamos os profissionais de cafeterias para introduzir o conceito de café especial em casa. Não somente vender o café, mas construir um relacionamento duradouro. Eu acho que o best website for cialis café é tão íntimo que, quando você opta por ir a uma cafeteria e alguém te faz uma recomendação, você confia muito mais. O barista diz: “Você pode fazer um espresso na sua casa, deixa eu te mostrar alguns caminhos”, e você acredita nele. E também investimos muito no treinamento dos baristas, nos métodos e nas mídias sociais, porque a Colômbia, por exemplo, gastou milhões fazendo o marketing de massa. E acho que a mudança hoje vem através das mídias sociais. Falando sobre café com o consumidor diretamente.

E como você avalia hoje o café especial? Hoje cada país tem uma forma única de fazer café. Por exemplo, você vai ao Japão e é uma celebração a forma de eles servirem. É elegante e bonito. Como presidente da SCAA, nos anos 1990, percebi também quanto os Estados Unidos ditavam as tendências e eram uma referência global. Mas hoje acho que os Estados Unidos devem olhar o que está sendo feito também por outros países. Hoje eu penso que a cerimônia do café, o valor da origem desse café é o caminho. Isso é essencial. Temos que incluir o produtor na relação. Não podemos mais dizer: “Ah, é só o produtor”. Se fizermos isso, a indústria de café vai voltar para onde estava. Quando eu fui presidente da SCAA era muito raro os importadores irem conhecer a origem do café, visitarem os países produtores. Cada um que ia voltava com histórias incríveis. Eu fui à Guatemala e quando retornei queria contar para as pessoas, com entusiasmo, o que eu tinha visto, mas era muito difícil passar todas as vivências. Já em 2002, vim ao Brasil pela primeira vez pela SCAA, visitei a região de Minas Gerais. Eu provei cafés incríveis. E todos ficaram impressionados com a qualidade.

E o consumidor nessa mudança? Penso que o consumidor está mais envolvido com o café que ele está bebendo na xícara e está buscando ter mais conhecimento. Estou falando do consumidor de café engajado. Este quer estar mais conectado com quem produz o café que ele toma. Ele passa então a ter um sentimento de afinidade pela origem do produto de que ele gosta. Os métodos de preparo filtrado são muito vastos hoje e também as monodoses apresentam opções diversas.

E qual é a sua rotina para beber café? De manhã meu primeiro café é para acordar. Gosto dele filtrado. Corro para a cozinha e preparo. Na frente da minha casa vejo um lago, então sento calmamente lá e bebo minha xícara. Assim começa meu dia. No meio do dia, adoro preparar o café na Chemex, acho lindas a cerimônia e a apresentação. Tomo espresso fora de casa, em restaurantes, mas pergunto sempre qual é a marca antes de pedir. Gosto de french press também. Normalmente tomo quatro cafés diariamente, mas, se encontro um parceiro para isso, com certeza bebo mais.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Guilherme Gomes

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