Washington reedita Acordo de Taubaté

Por Celso Vegro

Em 1905, o então quinto presidente da República Federativa do Brasil, advogado e juiz de direito Francisco de Paula Rodrigues Alves (que já havia sido governador da Província de São Paulo), assinou uma emenda à lei do orçamento federal autorizando o ente federativo a entrar em acordo com os estados em que a produção cafeeira era a principal atividade econômica para regular o mercado de café (aval federal aos empréstimos concedidos aos estados) e promover o aumento do consumo da bebida.

A contrapartida dos estados consistia em oferecer depósitos em ouro suficientes para garantir o montante principal acrescido de juros incidentes aos empréstimos concedidos. Naquela altura, o Brasil exportava 16 milhões de sacas, possuindo quase o dobro em estoques. O cenário era de forte baixa nas cotações, com cafeicultores à beira da ruína financeira devido ao endividamento com as casas de corretagem.

Em fevereiro de 1906, reuniram-se em Taubaté os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para referendar o Convênio de Taubaté: valorizar o produto por meio da administração de seu comércio. Recorrendo a empréstimos internacionais, seriam adquiridos os excedentes para restringir a oferta (£15 milhões) de café, pressionando as cotações do produto. Concomitantemente, houve a imputação de impostos mais altos aos que fossem implantar novas lavouras e, ainda, a regulação da paridade cambial, que permitisse uma conversão (desvalorização) abaixo da vigente no mercado livre e a cobrança de imposto de exportação.

Por meio dessa arquitetura politicamente costurada entre as diferentes autoridades e banqueiros, promoveu-se o primeiro esforço de valorização do café no Brasil. Inicialmente, apenas São Paulo se empenhou no esforço de valorização do café. Minas Gerais, Rio de Janeiro e o governo federal somente se associaram ao programa dois anos mais tarde, devido às incertezas sobre as reais possibilidades de sucesso do programa. Aqui evidencia-se a sinalização do que viria a ser o futuro do processo de desenvolvimento econômico brasileiro, em que o interesse privado, na defesa de suas vantagens individuais, se sobrepõe à preocupação republicana.

O esquema começou a funcionar em 1909, com real avanço dos preços para o café, que perduraram por três safras. Em 1913, o endividamento foi quitado, encerrando-se o programa de valorização. Avaliou-se que, durante sua vigência, houve um surto de crescimento econômico no país (construção de ferrovias, infraestrutura nas cidades e industrialização paulista) – portanto, a pujança econômica foi, em alguma medida, decorrente daquele convênio de 1906.

Encerrada essa longa digressão histórica, saltemos 119 anos para o momento atual. O tarifaço de agosto de 2025, incidente sobre as exportações de café para o mercado estadunidense, se traduz como um completo embargo aos embarques brasileiros destinados àquele mercado. Ao mesmo tempo em que é completamente sem sentido econômico, já que os EUA produzem apenas 1% de todo o café de que necessitam para o suprimento de seu mercado consumidor. Considerando a típica inelasticidade da demanda pelo produto, os apreciadores da bebida serão aqueles que arcarão com os custos dessa política.

Assim como no passado, o convênio na origem foi o determinante na valorização das cotações do café. Atualmente, o fechamento, embora parcial (já que o suprimento poderá advir de outras origens), do maior mercado mundial para a bebida, tende a pressionar os preços, pois consiste em outra intervenção que desestabiliza a lei da oferta e da procura no momento em que os estoques se encontram apertados, o consumo mundial cresce ao menos 2% ao ano e as safras andam de lado – inclusive a de arábica brasileira.

Evidentemente que os mercados são muito mais interconectados que no passado e, além disso, há ao menos uma dezena de outros países significativos na produção cafeeira destinada ao suprimento global. Assim, possivelmente, o ciclo de preços altos, sob vigência do despautério estadunidense, deverá ser menos prolongado, ainda que amparado por um dólar mais fraco. Todavia, sob a vigência das mudanças climáticas, esperar que a oferta de países concorrentes do Brasil se expanda consiste em uma aposta, além de improvável, demasiadamente arriscada.

A reconfiguração do comércio internacional está em curso – uma verdadeira dança das cadeiras. Canadá, México e Uruguai possivelmente ampliarão suas aquisições de café brasileiro, que terão por destino final o mercado estadunidense (a chamada triangulação). O movimento de sacoleiros nas fronteiras dos EUA repetirá o que acontece na fronteira do Brasil com o Paraguai, tendo o café como principal item das compras para consumo próprio e revenda.  A economia subterrânea típica das repúblicas das bananas irá a todo vapor, pois o lucro está garantido.

Nenhum dos objetivos programáticos pretendidos pela autoridade estadunidense serão obtidos por meio da guerra tarifária desencadeada. O déficit comercial não será mitigado (muitos componentes de mercadorias destinadas à exportação são importados – drawback); a reindustrialização do país, na melhor das hipóteses, produzirá ineficiências maiores que as potenciais vantagens em tarifar itens importados, e diminuir o déficit fiscal até pode ocorrer no curto prazo, mas a elevação dos preços e, em consequência, o recrudescimento da inflação, pressionará a demanda e a arrecadação tributária associada à desvalorização do dólar frente às demais moedas. Conceitualmente, se trata da temida estagflação.

As perdas para a economia estadunidense, decorrentes da dificuldade em substituir o café brasileiro, irão se fazer sentir. Os importadores, industriais da torrefação e solubilização, os varejistas e os negócios que têm por base a venda da bebida (cafeterias, bares e lanchonetes, hotéis, restaurantes) já ameaçam com demissões e encerramento de atividades. Esses são os atores econômicos aliados do agronegócio dos Cafés do Brasil capazes de reverter a sinuca em que o destrambelhado governo os colocou. Por enquanto, é necessário aguardar e aproveitar a maré de bons preços que o mercado poderá oferecer.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Mercado

Principal fator para a tarifa de 50% é a presença da China na América do Sul, afirma Marcos Jank

Por Gabriela Kaneto

A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro representou um duro golpe para o setor, reduzindo a competitividade do produto nacional em seu principal mercado consumidor. Nos primeiros sete meses de 2025, o país foi o principal destino dos grãos brasileiros, com a importação de 3,713 milhões de sacas. Mas, desde 6 de agosto, data em que a medida entrou em vigor, produtores brasileiros e importadores estadunidenses têm sentido seus impactos.

“Ficou um clima bem desconfortável entre a nossa exportadora e o comprador. Tivemos que remarcar três vezes o booking”, relata Daniele Alkmin, da Agrorigem – The Coffee Id, na Mantiqueira de Minas. Em entrevista à Espresso, a produtora conta que, depois de tentar remarcar três vezes o envio, achou melhor cancelar o pedido. “Ele [o importador] tentou renegociar comigo para eu pagar 25% da tarifa, só que é completamente inviável para nós absorvermos isso. E ele também não conseguiu repassar para os seus clientes”. 

Na ponta final, os Estados Unidos também sentem os impactos da taxação. O café brasileiro representa cerca de 30% do consumo no país e sua ausência pode gerar instabilidade e aumento de preços nas gôndolas. “76% da população americana toma café. A participação nos lares é superior a qualquer outro tipo de bebida, como água engarrafada, sucos, refrigerantes. O café reina com uma liderança absoluta na população norte-americana”, explica Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). 

“Essa tarifa de 50% é, sem dúvida, uma tarifa política. Político-ideológica, até podemos dizer”, opina Marcos Jank, coordenador do Centro Insper Agro Global. Para ele, pelo lado comercial, não há razões para a implementação da medida, uma vez que os Estados Unidos têm um superávit com o Brasil. Além disso, segundo ele, sempre houve uma boa relação comercial entre os dois países, com a presença de empresas e investimentos cruzados.

Jank acredita que o principal fator para a implementação da tarifa é a presença da China na América do Sul. “Essa presença ficou muito clara depois da reunião do BRICS, onde se falou sobre desdolarização, moeda única, cooperação técnica, aquisição de equipamentos. Essas coisas acabaram levando a colocação do Brasil na lista, com 50%”, justifica o especialista, que lembra que, além do Brasil, outro país atingido pelas tarifas, por razões semelhantes, é a Índia.

“Nosso importador está passando aperto, porque os cafés das outras origens estão caríssimos e não está tendo o café do Brasil para continuar colocando dentro do padrão que ele costumava atender os clientes. Muito triste esse cenário”, lamenta Daniele. “Ainda estamos conseguindo lidar melhor porque a gente consegue reposicionar esse café. Agora para ele, como importador americano, está um desafio violento”, comenta.

Sobre este desafio, o diretor-geral do Cecafé comenta que o mercado estadunidense já está acostumado com as características de corpo, acidez e doçura do café brasileiro, além do alto volume entregue para a produção de blends de marcas tradicionais e de pequenas torrefações. “A penetração do café nos lares vem crescendo ano a ano, conforme detecta a National Coffee Association. Nós passamos de 66% dos lares, há cinco anos, para 76% atualmente. Então há um trabalho de prosperidade econômica”, destaca Matos.

Se o Brasil é insubstituível do ponto de vista de produção e exportação, os Estados Unidos são insubstituíveis do ponto de vista do consumo. “É o maior consumidor global, com 25.5 milhões de sacas”, alerta Matos, que também menciona que, há duas semanas, o café estava cotado entre 2,70 e 2,80 nas bolsas internacionais e agora já ultrapassa os 3,60. “Nós tivemos uma alta abrupta por várias razões: pelas dificuldades de produção, principalmente de arábica, por conta de questões climáticas, e pelo tarifaço dos Estados Unidos, que desequilibra todo esse mercado”.

Além dos problemas contratuais, as exportações brasileiras podem sofrer impactos a longo prazo devido à concorrência de outros países produtores, como o Vietnã. “Na Ásia, de uma maneira geral, praticamente todos os países que são produtores têm acordos comerciais com tarifa zero. Então, se você tem um acordo de negócio de tarifa zero com a China, com países consumidores como Filipinas, Malásia e Singapura, você tem uma capacidade de competição muito grande”, destaca Aguinaldo Lima, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics). 

Segundo maior produtor de café do mundo, o Vietnã já vem apresentando um papel significativo nas importações da União Europeia, com quem tem um acordo de tarifa zero há dois anos. “Não são nem brechas deixadas pelo Brasil, na verdade são espaços que o Brasil deixa de ocupar. E o Vietnã, numa política bastante agressiva de acordos comerciais, para não perder venda, compra cafés de outros países que são concorrentes, como o Brasil, para completar e ganhar espaço no mercado internacional”, comenta Lima.

Os dados econômicos de impacto ao consumidor norte-americano têm sido um dos principais argumentos do Cecafé nas tentativas de reverter a medida governamental. No Brasil, a entidade tem trabalhado com o governo brasileiro no comitê interministerial de negociação, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Nos Estados Unidos, tem atuado ao lado da National Coffee Association, de empresas torrefadoras e de redes de cafeterias locais na construção de narrativas e na circulação de dados corretos. “Estamos mostrando que o Brasil é fundamental para manter os preços sob controle, resultando em um maior consumo da bebida e mais empregos nos Estados Unidos”, afirma Matos.

Jank acredita que, através da pressão em conjunto com empresários norte-americanos, assim como fez o setor brasileiro da laranja – que conseguiu excluir o suco de laranja da lista no final de julho –,  é possível também retirar o café do tarifaço. “Essa chance existe no café porque ele não é produzido nos Estados Unidos”, explica. “Esse argumento de que o tarifaço serve para reindustrializar os Estados Unidos com setores que perderam espaço não vale para o café, porque eles nunca serão produtores e dependem de café importado, que precisa também vir do Brasil. Não dá para vir só da América Central, da Colômbia, da África ou de outros lugares”, argumenta.

Na tentativa de driblar a situação, Daniele está reposicionando suas vendas para outros mercados consumidores. “Como é café especial, de 85 pontos, eu estou direcionando principalmente para Dubai e Austrália, que são mercados abertos pra gente. A Noruega também tem potencial para dar certo”, aponta.

A situação, de acordo com o especialista do Insper, pode ser encarada como uma oportunidade para construção de relacionamento com empresários americanos que dependem do café, além da abertura de mercados em países que ainda são emergentes. “Países em geral que estão reduzindo o espaço do chá, por exemplo na Ásia, e estão entrando mais no café. Eu acho que essa é uma estratégia muito importante para o setor neste momento”. 

Já para Lima, o Brasil precisa ser mais agressivo nos acordos comerciais, investindo em tradeoff, onde as duas partes se completam. “O Brasil precisa ter uma postura diplomática muito mais agressiva. A gente tem fechado alguns acordos, mas nós poderíamos estar fechando muito mais”, afirma. “O Brasil, de uma maneira geral, e aí não é só o solúvel, só conseguirá conquistar mais mercados se realmente houver acordos internacionais de redução de tarifa. Porque o Brasil é um país que aplica muitas tarifas de importação, e isso tira a nossa competitividade”.

Na prática, a tarifa do governo de Donald Trump não penaliza apenas o exportador brasileiro, mas também encarece a xícara do consumidor norte-americano. Ao buscar alternativas em outros países, os importadores estadunidenses podem se deparar com limitações de oferta, o que evidencia o peso estratégico do Brasil no abastecimento global de café.

TEXTO Gabriela Kaneto

Café & Preparos

Nestlé demite CEO após investigação

Laurent Freixe (à esquerda) será substituído interinamente por Philipp Navratil (à direita)

A Nestlé anunciou, na última segunda (1º), a saída de Laurent Freixe do comando global da empresa após investigação interna concluir que ele manteve um relacionamento romântico não declarado com uma subordinada, em violação ao código de conduta da companhia, informou o The Guardian.

O executivo, no cargo desde 2024, será substituído interinamente por Philipp Navratil (na foto), presidente da Nespresso

TEXTO Redação

Mercado

Baratza apresenta novo modelo do moedor Encore

Referência mundial em moedores de café, a Baratza anunciou, durante a SCA Expo, em Houston (EUA), o Encore ESP Pro, evolução do clássico modelo de entrada da marca.

Compacto e com visual renovado em metal preto fosco, o equipamento traz lâminas cônicas em aço, ajuste contínuo de moagem com controle micrométrico, dois modos de operação (dose única e temporizado) e nova interface digital com display e botão giratório. Destaque para a tecnologia de geração de íons, que reduz a retenção de pó e a sujeira, e luzes LED para melhor visualização durante o uso.

O Encore ESP Pro está disponível no site da Baratza por US$ 299,95.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Dinamarca quer eliminar impostos sobre café e chocolate

Na tentativa de aliviar o aumento dos custos para o consumidor final, a Dinamarca anunciou, no último dia 22, que pretende eliminar o imposto sobre uma série de itens alimentícios e bebidas, incluindo o café.

A medida do governo da primeira-ministra Mette Frederiksen pretende fazer essa redução gradualmente – metade em 2026 e por completo em 2027. Além do café, a medida pretende eliminar também a taxa sobre o chocolate, que está em vigor há mais de cem anos.

O imposto sobre o café foi criado em 1930 como parte de uma taxa sobre bens de luxo. Hoje, acrescenta cerca de 25% ao custo do produto – cerca de US$ 1,21 por quilo de café torrado. 

O vice-primeiro-ministro, Troels Lund Poulsen, diz implementar a medida para “impactar de imediato a vida das pessoas”, informa a plataforma Global Coffee Report. Estima-se que os cortes custarão ao tesouro dinamarquês cerca de US$ 370 milhões.

TEXTO Redação / Fonte: Global Coffee Report

Mercado

Keurig Dr Pepper anuncia compra da empresa JDE Peet’s

Com valor de € 16 bi, acordo até 2026 resultará em duas empresas independentes — uma de café e outra de bebidas

A Keurig Dr Pepper, empresa estadunidense líder no setor de bebidas e dona de um portfólio de mais de 125 marcas, anunciou na segunda (25) que irá adquirir a JDE Peet’s, maior companhia global dedicada ao café, com sede em Amsterdã, na Holanda. 

As ações da JDE Peet’s – dona de marcas como L’OR, Pilão, Caboclo,  Café do Ponto e Café Pelé – subiram 18% nas primeiras negociações do dia. O acordo, fechado em € 16 bilhões (aproximadamente R$ 101 bilhões), ainda depende da aprovação de acionistas e reguladores, mas deve ser concluído no primeiro semestre de 2026. 

A Keurig Dr Pepper pagará aos acionistas da JDE Peet’s um valor de € 31,85 (R$ 201) por ação, avaliando o patrimônio líquido da empresa em € 15,7 bilhões (R$ 99 bilhões). De acordo com o comunicado divulgado pelas companhias, a transação deve gerar um aumento significativo no lucro por ação já no primeiro ano da aquisição. 

Após a compra, o grupo combinado deve ser dividido em duas empresas, a Beverage Co., com foco em bebidas, e a Global Coffee Co., dedicada ao café, que serão listadas nos Estados Unidos e lideradas, respectivamente, pelo CEO da Keurig, Tim Cofer, e pelo CFO, Sudhanshu Priyadarshi.

TEXTO Redação / Fontes: Comunicaffe International e Folha de S.Paulo • FOTO Divulgação

Cafeteria & Afins

Sarta Coffee – São Paulo (SP)

A 350 metros do metrô Vila Madalena encontra-se a Sarta Coffee, nova cafeteria na cena de cafés especiais da capital paulista. A equipe da Espresso visitou a casa em uma manhã ensolarada de sexta-feira. O espaço pequeno e acolhedor, de decoração moderna e minimalista, dispõe de bancos do lado de fora e poucas mesas na parte de dentro.

Assim que chegamos, o atendente Vitor nos mostrou o cardápio e sinalizou que os pedidos eram tirados no caixa. Todos os grãos da Sarta são cultivados pela Daterra Coffee, fazenda referência em qualidade localizada em Patrocínio (MG), no Cerrado Mineiro, e são apresentados nas categorias da própria marca – Collection (R$ 15), Reserve (R$ 22) e Masterpiece (R$ 29). 

Coado, espresso, ristretto e bebidas com leite, quentes e geladas compõem o menu de café. De primeira, escolhemos um grão Collection e um Reserve, ambos no coado. O Collection do dia era um blend de bourbon vermelho e catiguá, de processamento natural, com descritivo de ameixa, frutas de caroço, blueberry, chocolate ao leite e caramelo. O Reserve escolhido era da variedade guarani, de processamento despolpado e natural, com sensorial de manga, frutas vermelhas, jasmim, amêndoas e mel. A torra dos grãos foi feita pela Abigail Coffee Co.

Servidos em uma jarrinha delicada de vidro, acompanhada de uma xícara branca da Loveramics (que chegou quentinha, ponto positivo), os cafés foram bem extraídos em uma Hario Switch, na proporção de 1 g para 15 ml. O Collection apresentou corpo cremoso, acidez alta e agradável, e sensorial de frutas roxas e maduras. Já o Reserve tinha corpo leve, acidez média, aroma de jasmim e sabor de frutas vermelhas e mel. Duas bebidas bem suaves para qualquer hora do dia.

O espresso escolhido por nós foi o stardust, de processamento natural, descrito sensorialmente como ameixa amarela, pêssego, damasco, frutas vermelhas e acidez láctica. Na xícara, a bebida, extraída em uma La Marzocco, estava bastante aromática, com corpo sedoso e finalização limpa. Deu para sentir o damasco e as frutas vermelhas, com destaque para a acidez láctica de iogurte.

Em relação às comidinhas, algumas opções não estavam disponíveis no dia – ponto de atenção quando se tem um cardápio enxuto. Nossas escolhas salgadas foram os ovos da casa (três ovos mexidos com queijo e tomate no pão petrópolis, um pão que lembra brioche) e o queijo quente (pão petrópolis com queijo padrão, finalizado com tomate cereja e cebolinha). Ambos estavam gostosos e bem executados. Nos doces, optamos pelo bolo de cenoura com chocolate 70%, que estava úmido e doce na medida certa, e o pain au chocolat, gostoso porém esfarelava em excesso.

Segundo Victor, a ideia da Sarta Coffee é que os cafés sejam o ponto principal da experiência – eles realmente se destacaram em comparação às comidas. Em geral, nossa experiência foi positiva, tanto em relação aos itens consumidos quanto ao atendimento e ao ambiente.

Nossa conta: R$ 138
Coado Collective – R$ 15
Coado Reserve – R$ 22
Espresso simples – R$ 11
Ovos da casa – R$ 28
Queijo quente – R$ 24
Bolo de cenoura com chocolate 70% – R$ 19
Pain au chocolat – R$ 19

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Luminárias, 105
Bairro Vila Madalena
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
Website http://www.instagram.com/sartacoffee
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Mercado

Torrefação mineira lança solúvel com grãos da Mantiqueira de Minas

Por Gabriela Kaneto

De olho no crescente mercado de cafés solúveis, a torrefação mineira Tocaya lançou na quarta (20) seu primeiro solúvel liofilizado. Feito com catuaí amarelo do produtor José Wagner Junqueira, em Carmo de Minas, na Mantiqueira de Minas, e torrado na casa, a novidade é vendida no e-commerce da marca (R$ 38, caixa com quatro unidades). 

A ideia surgiu depois que Juliana Ganan, fundadora e mestre de torras, provou solúveis com diversos cafés de qualidade em viagens ao exterior. De volta ao Brasil e com referências afetivas (de parentes que consumiam solúvel com água ou leite) resgatadas, resolveu apostar no produto.

“O processo do nosso liofilizado envolve encontrar uma receita ideal para cada batelada de café, extraindo somente os atributos desejáveis daquele lote. Em seguida, passa para o congelamento e só depois para o liofilizador, que opera também em temperaturas extremamente baixas”, explicou à Espresso em fevereiro, enquanto finalizava testes (confira reportagem sobre o tema aqui). 

A liofilização, diz ela, preserva aromas e sabores originais da bebida, resultando em um perfil mais complexo. “Demoramos muito para chegar em um perfil que gostássemos, além do investimento em maquinário adequado. Apesar disso, escolhemos o liofilizado porque queríamos apresentar um produto de alta qualidade, desde a matéria-prima até o processo, mesmo que o custo fosse maior que os outros processos disponíveis”, conta.

Para Juliana, o produto atrai consumidores de cafés especiais que não dispõem de boas cafeterias por perto ou que estão em viagens, sem equipamentos para o preparo  da bebida. A ideia é fazer mais testes daqui pra frente, com novos grãos. “Por enquanto, vamos observar a aceitação deste”, comenta.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Divulgação

Mercado

Aceita beber um café sem grãos?

Por Cristiana Couto

Com as mudanças climáticas prestes a transformar o mapa do cultivo de café, a demanda crescente pelos grãos nos países asiáticos e a instabilidade do mercado, alternativas ao café estão estimulando pesquisas no mundo e a emergência de startups.

Novas opções à bebida vêm ganhando espaço por meio da agricultura celular, uma tecnologia emergente que envolve o cultivo de células animais ou vegetais em laboratório para produzir alimentos e biomateriais sem a necessidade de criação ou cultivo tradicionais. A tecnologia é utilizada em várias outras áreas – farmacêutica e têxtil, por exemplo – e adota duas abordagens principais: a fermentação de precisão e o cultivo celular.

Empresas e cientistas que investem nestas inovações defendem que elas são uma alternativa sustentável à produção tradicional do grão, já que eliminam o uso extensivo de terra e reduzem a pegada de carbono associada ao seu plantio. Além disso, consideram, abordagens como estas permitem uma produção estável durante o ano, pois não depende de fatores climáticos.

Um bom exemplo da aplicação da agricultura celular são os cafés sem grãos lançados pela Atomo Coffee. A empresa usa a tecnologia de fermentação de precisão – em que açúcares extraídos de vegetais são fermentados com leveduras ou bactérias, resultando num produto que busca reproduzir o sabor do café – para transformar alimentos reaproveitados de fazendas e superalimentos e criar seu “beanless coffee”. São, ao todo, 28 compostos, como caroços de tâmaras, sementes de girassol e farinha de banana que, reunidos, prometem imitar o perfil sensorial da bebida.

Fundada em 2019 em Seattle (EUA), a startup lançou em 2021 um cold brew sem grãos e, dois anos depois, um espresso. Em 2024, inaugurou uma fábrica com capacidade para produzir até 90 milhões de xícaras por ano, segundo o site GeekWire, e iniciou uma parceria com a rede Bluestone Lane, que disponibiliza seu espresso para mais de cinquenta estabelecimentos nos EUA. No mesmo ano, a Atomo Coffee apareceu na lista America’s Top GreenTech Companies 2024 e expandiu seu comércio para o Japão. Em janeiro, entrou no Reino Unido.

Ilustra: Rica Ramos

As possibilidades de bebidas beanless (ou bean-free ou, ainda, cafés sintéticos) por esse método se expandem. Em 2024, depois de lançar pasta sem amendoim e chocolate sem cacau, a norteamericana Voyage Foods gastou US$ 52 milhões e colocou no mercado um café sem grãos feito de grão-de-bico torrado e cascas de arroz, contendo níveis de cafeína semelhantes aos de cafés convencionais.

Desde 2023, a Prefer, startup criada em Singapura, comercializa seu café sem grãos feito com pão amanhecido, polpa de soja e grãos de cevada reciclados. Em fevereiro de 2024, a Prefer anunciou a captação de US$ 2 milhões em financiamento para ampliar a produção e expandir sua presença no mercado asiático.

Já no cultivo celular, os cientistas utilizam células do café e aplicam técnicas avançadas para desenvolver aroma e sabor próximos ao grão convencional.

O processo começa com a extração dessas células – geralmente, das folhas. Estas são cultivadas em um biorreator, equipamento que simula as condições ideais para o crescimento da biomassa em meio líquido. À medida que elas se multiplicam, são filtradas, secas e moídas, transformando-se em um pó semelhante ao café moído. Para chegar ao perfil sensorial da bebida, aplicam-se técnicas como liofilização e torrefação, ajustando tempo e temperatura para desenvolver os aromas e sabores característicos do café.

Diferentemente dos substitutos da bebida, o café cultivado em células mantém a estrutura molecular dos grãos, ou seja, conserva compostos essenciais como cafeína e precursores de aroma. Apesar de ausentes no Brasil, pesquisas do gênero vêm sendo feitas em países como Finlândia e Suíça.

Se os cafés substitutos já alcançaram consumidores, o desafio é maior para os produtos oriundos do cultivo celular. No início da divulgação das pesquisas, há quatro anos, ele residia na calibragem da qualidade sensorial e do nível de cafeína. Outra barreira inicial, que ainda persiste, é a regulamentação para entrada em mercados, por representar uma nova categoria de alimentos. Até o momento, os “cafés celulares” não estão comercialmente disponíveis em nenhum país, mas já existem startups desenvolvendo a tecnologia, como a norteamericana California Cultured e a finlandesa VTT.

“A fermentação de precisão não vai dar, realmente, um sabor de café”, explica Paulo Mazzafera, especialista em fisiologia vegetal e professor-sênior do Instituto de Biologia da Unicamp. “Mas no cultivo celular, há várias outras substâncias para torrar, e reações entre células que fazem com que se chegue mais próximo das nuances de qualidade da bebida”, completa.

Por fim, um alerta recente sobre o assunto foi levantado por Anne Charlotte Bunge e Rachel Mazac, em artigo produzido com outros pesquisadores e publicado em janeiro na Nature Foods. Os autores alertam que os benefícios ambientais da agricultura celular em culturas como café e cacau “ainda não foram validados por estudos científicos revisados por pares”. Por outro lado, eles sugerem que pesquisas futuras investiguem o perfil nutricional e a aceitabilidade dessas alternativas pelos consumidores.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

Barista

Inscrições para Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC 2025 vão até terça (19)

Estão abertas até amanhã (19), às 18h, as inscrições para a segunda etapa estadual do Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC 2025, realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). A segunda etapa estadual da competição (a primeira, em São Paulo, foi em abril) acontece em 29 e 30 de agosto, no Centro de Excelência em Cafeicultura (Senar), em Varginha (MG). As inscrições podem ser feitas aqui. O campeonato, que busca promover e fomentar o conhecimento em torno da criação de blends de café, tem a etapa final programada para o segundo semestre, com data e local a serem definidos.

Do total de inscritos para esta segunda etapa, 20 são sorteados. Os 15 primeiros são classificados para a etapa, enquanto os 5 restantes ficam na fila de espera em caso de desistência. Este sorteio é feito em 20 de agosto, às 10h, com transmissão pelo Instagram @abiccafe.

Sobre a competição

Neste ano, o campeonato terá três etapas – duas estaduais e a final. Da etapa estadual de Varginha, com as fases classificatória, quartas de final e semifinal, saem os 3 finalistas que participam da fase nacional (confira o regulamento aqui).

Como nas edições anteriores, os competidores precisam frequentar um workshop sobre o Protocolo Brasileiro de Avaliação de Cafés Torrados, que acontece no primeiro dia de campeonato. Nas duas primeiras fases, os competidores criam blends com grãos arábica e canéfora, conforme o estilo de bebida definido para cada grupo. Já na final do campeonato, além da criação do blend, os seis participantes selecionados precisam torrar o café oferecido pela organização. 

A etapa de São Paulo aconteceu em Campinas e classificou três finalistas para a etapa final: Elder Caetano Oliveira Júnior (Nuance Araguari), Larissa Emanoela Rinco (Horlando Agro Coffee) e Luiz Henrique Araújo Oliveira (Café Forte de Minas).

Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC 2025 – Etapa Varginha
Quando: 29 e 30 de agosto
Onde: Centro de Excelência em Cafeicultura (Senar), em Varginha (MG)
Mais informações: www.instagram.com/abiccafe 

TEXTO Redação
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