Cafezal

Café regenerativo pode aumentar a renda dos agricultores em 62%, aponta pesquisa

Estudo internacional aponta que práticas regenerativas podem elevar a renda dos cafeicultores brasileiros, reduzir emissões e impulsionar exportações

O Brasil participou de um estudo global, conduzido pela organização internacional TechnoServe, que destaca os benefícios da agricultura regenerativa na produção de café arábica e robusta. O relatório, intitulado “Regenerative Coffee Investment Case” e publicado em abril, analisa nove dos principais países produtores de café e revela como práticas agrícolas sustentáveis podem transformar a cadeia produtiva do setor. 

Além do Brasil, o relatório fornece uma análise detalhada do Vietnã, da Colômbia, de Honduras, Indonésia, Uganda, Etiópia, Peru e Quênia, abrangendo fazendas que produzem cerca de 70% do café mundial.

A iniciativa contou com o apoio de parceiros, como as multinacionais Nestlé e JDE Peet’s, além da Fundação Rudy & Alice Ramsey. Essas colaborações foram fundamentais para viabilizar a pesquisa e promover a adoção de práticas regenerativas em larga escala. 

O estudo aponta que, no Brasil, a implementação de práticas agrícolas regenerativas pode resultar em um aumento de até 62% na renda dos pequenos produtores de café, melhorando significativamente sua qualidade de vida e estabilidade financeira. Também registra uma redução de até 46% nas emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas e, ainda, um incremento de 30% nas exportações de café, impulsionado pela melhora na qualidade e sustentabilidade do produto.

Além disso, o relatório destaca que a transição para práticas regenerativas no Brasil exigiria um investimento médio de US$ 560 milhões por ano durante sete anos, destinado a assistência técnica e financiamento para apoiar os pequenos produtores.

O estudo da TechnoServe no Brasil avaliou o impacto da agricultura regenerativa a partir da modelagem de diferentes perfis de pequenos produtores, com base em produtividade, área cultivada e acesso técnico. Utilizou simulações técnico-econômicas para estimar os efeitos da transição sobre produtividade, custos, renda e emissões, com apoio de dados primários, entrevistas com especialistas, fontes públicas e referências de boas práticas agrícolas.

Impacto global da agricultura regenerativa

Em termos globais, o estudo da TechnoServe revela que a adoção de práticas regenerativas – como cobertura do solo com plantas de cobertura, adubação orgânica e compostagem e manejo integrado de nutrientes – tem o potencial de beneficiar 3,2 milhões de pequenos produtores, aumentar as exportações em US$ 2,6 bilhões e reduzir as emissões em 3,5 milhões de toneladas de CO₂ por ano. Esses números evidenciam o potencial transformador da agricultura regenerativa não apenas para o Brasil, mas para toda a cadeia global de produção de café.

O relatório da TechnoServe, porém, reforça a importância de investimentos estratégicos e parcerias colaborativas para promover uma agricultura mais sustentável e resiliente. 

TEXTO Redação

Café, uma fórmula de sucesso

Por Moisés Stahl 

Por trás de um hábito mundial existe uma longa história de desenvolvimento da economia cafeeira e das relações decorrentes da organização produtiva e social assentada na cafeicultura. Prestes a completar 300 anos de introdução no Brasil (1727-2027), a história desse precioso fruto é de sucesso e hegemonia de um gênero agrícola de exportação.

Desde a década de 1830 o Brasil lidera a produção mundial de café. Isto não é um mero acaso ou fruto, apenas, da natureza prodigiosa, mas resultado de muita ciência. Nas primeiras décadas de produção do grão no século XIX, a fazenda, como organização produtiva, era administrada pelo cafeicultor a partir da sede da instituição.

Ali, o cultivo seguia o ritmo ditado pelos manuais agrícolas, como o Manual do Agricultor Brasileiro. Elaborado por Carlos Augusto Taunay e publicado na década de 1830, a maior parte de seus capítulos aborda a plantação e a colheita do café.

Os manuais agrícolas ou as memórias sobre o café que surgem nessa época são realizações estruturadas dos modos de produzir o fruto e gerir uma fazenda. Afinal, era fundamental sistematizar ideias, a fim de que elas pudessem servir a todos como referência.

Outro documento da época da estruturação da economia cafeeira no país, marcada pela hegemonia produtiva do Vale do Paraíba, foi escrito pelo Barão Paty do Alferes. Trata-se da Memória sobre a Fundação de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro, de 1847. Tanto o manual quanto a memória citados expressam a forma de organizar a fazenda a partir da sistematização pensada pelo fazendeiro cafeicultor ou produtor de outro gênero agrícola.

Nas décadas de 1870 e 1880 houve transformações importantes na sociedade do Brasil Império. Em São Paulo, por exemplo, a expansão da cafeicultura rumo a Oeste (Campinas) e Novo Oeste (Ribeirão Preto), e, sobretudo, a modernização ferroviária fizeram com que as fazendas deixassem de ter a centralidade de outrora: os cafeicultores poderiam residir nas cidades, principalmente na capital paulista, e visitá-las utilizando o transporte ferroviário.

Esse período foi marcado, também, pela reformulação e criação de instituições científicas no Rio de Janeiro – como o Museu Nacional, a Escola Politécnica, o Laboratório de Fisiologia Experimental, o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura – e em São Paulo – como a Imperial Estação Agronômica de Campinas, fundada em 1887 e, posteriormente, denominada Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Desse movimento institucional resultam obras importantes para a compreensão de como o café era, também, um objeto da ciência. Uma delas é Breves Considerações sobre a História e a Cultura do Cafeeiro e Consumo de seu Produto, trabalho de 1873 do médico Nicolau Moreira. Em 1883, o cientista francês Louis Couty publicaria, no Brasil, seu principal estudo, Biologia Industrial do Café – feito após visitar dezessete fazendas produtoras –, além de algumas outras investigações científicas sobre o grão na forma de artigos e relatórios.

Nesse movimento histórico dos manuais aos relatórios, o IAC representa uma instituição que direcionou pesquisas científicas para a análise da planta – ou seja, das raízes às folhas, do solo mais apropriado ao clima propício para o cultivo do café, fazendo dela um objeto de investigação científica.

No último quartel do século XIX, o objetivo geral da ciência voltada à cafeicultura era o de aprimorar a produção para conseguir um produto de melhor qualidade e, com isso, ampliar a venda dos grãos no mercado global. O que atualmente não deixa de ser a mesma coisa, mas já com os avanços da ciência e da tecnologia empregadas na cafeicultura.

De modo geral, a ciência direcionada ao café buscou criar condições para a superação da monocultura nas grandes propriedades, que já era vista como um sistema atrasado de plantio, para uma ordem em que a fronteira da expansão cafeeira não seria mais a busca por terras ricas em nutrientes, mas o laboratório e os campos experimentais locais. Neles, os cientistas desenvolveriam fórmulas de crescimento a partir do uso de insumos, da análise apropriada do solo, do controle de pragas e da condução adequada dos sabores a partir de manejos específicos para cada área e clima.

No início da década de 1900, o engenheiro agrônomo Gustavo D’Utra, diretor do Instituto Agronômico de Campinas, investigou a possibilidade de extrair o álcool do café. Fez isso a partir de estudos laboratoriais, analisando meios de utilizar o café excedente nas lavouras. Porém, concluiu que tal empreitada não seria rentável naquele momento, porque o rendimento desse álcool seria diminuto e não pagaria os custos dos procedimentos para a sua extração.

Depois disso, os estudos em torno do café feitos no IAC focaram na extração da cafeína para fins farmacêuticos. A cafeína já era utilizada, na indústria farmacêutica alemã, para a produção de medicamentos que, à época, tratavam as enxaquecas.

Segundo D’Utra, a fórmula da cafeína foi apresentada por Adolph Strecker a partir de suas análises químicas feitas na Universidade de Giessen, em 1861. Naquele tempo, a fórmula química da cafeína foi assim representada – C8H10AZ4O2 – e definida pelo diretor do IAC como “o que dá aos grãos de café o seu sabor amargo peculiar”. Afinal, estava dentro do escopo científico do Instituto Agronômico ações para ampliar as possibilidades de uso do grão. Ao mesmo tempo, a instituição almejava abrir caminhos para uma atividade industrial.

Atualmente, a fórmula química é C8H10N4O2. O AZ da primeira fórmula significa azoto, nome dado originalmente ao nitrogênio. Sobre o assunto, estudos químicos sobre gases no século XVIII identificaram e classificaram os elementos do ar, e o azoto, ao lado do oxigênio, foi um deles. Em linhas gerais, azoto é a nomenclatura criada por Antoine-Laurent de Lavoisier e outros estudiosos em 1787 para o que, três anos depois, seria chamado por Jean-Antoine Chaptal de nitrogênio.

A fórmula química da cafeína resulta, assim, do valor econômico do café, que conecta a escala de produção em áreas mundiais periféricas às de consumo no centro do sistema econômico capitalista. De fato, a ciência entrou na produção do café e criou melhores condições para cultivá-lo e consumi-lo. Atualmente, além do Instituto Agronômico, que continua a desenvolver pesquisas importantes sobre o fruto, há outras instituições, como a Embrapa Café, cuja missão é desenvolver pesquisas e vislumbrar soluções tecnológicas, bem como sustentáveis, para ele.

Desse modo, o encontro do café com a ciência é, sem dúvida, uma fórmula de sucesso.

TEXTO Moisés Stahl é doutor em história econômica pela USP (Universidade de São Paulo) • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Cafezal

SCA e Federação Colombiana fecham parceria para cafés especiais

Anunciado na Specialty Coffee Expo 2025, acordo prevê uso da metodologia CVA para avaliar o valor do café colombiano, com foco em rastreabilidade, diferenciação e conexão com as tendências globais do mercado

A Associação de Cafés Especiais (SCA) e a Federação Colombiana de Cafeicultores (FNC) assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) com o objetivo de aprimorar a rastreabilidade, a diferenciação e o reconhecimento global dos cafés especiais colombianos.

A parceria, anunciada na Specialty Coffee Expo 2025, em Houston, concentra-se na implementação da metodologia de Avaliação do Valor do Café (CVA) da SCA no setor cafeeiro do país. A FNC treinará equipes técnicas e provadores na aplicação da CVA, integrará a coleta de dados na origem e explorará uma adoção mais ampla dos cafés colombianos. A SCA apoiará esse esforço com assistência técnica, treinamento, aplicação personalizada da CVA e promoção global dos resultados.

Germán Bahamón, CEO da FNC, enfatizou o impacto potencial desta colaboração, afirmando que a adoção de ferramentas inovadoras como a CVA abre caminho para um maior reconhecimento e alinhamento com as preferências do mercado, beneficiando os cafeicultores colombianos.

O acordo inclui, ainda, o desenvolvimento de uma plataforma digital dedicada ao café colombiano, a fim de aprimorar o rastreamento de dados, a análise e a comunicação dos atributos do café. Além disso, a SCA colaborará com a FNC compartilhando dados da CVA para informar os produtores colombianos sobre as tendências e preferências do mercado em evolução.

TEXTO Redação / Fontes: Comunicaffe International, SCA, Qahwa World

Mercado

Melitta adquire as empresas Baristo e Rent a Coffee

Com a compra das duas empresas, a Melitta aposta no crescimento do mercado de café fora do lar e reforça sua presença no setor de food service

A Melitta South America anunciou a aquisição da Baristo, empresa de soluções para o preparo e consumo de café fora do lar, como parte de sua estratégia de expansão no mercado brasileiro. Segundo a companhia, a operação inclui também a Rent a Coffee, totalizando três marcas: Baristo, Orazio e Rent a Coffee.

Presente no Brasil desde 1968, a Melitta liderou o consumo doméstico de café em 2024, de acordo com dados da Nielsen, e agora mira o segmento de food service, que vem crescendo de forma acelerada no país. A Baristo, fundada em 2008, atua no fornecimento de máquinas, insumos e serviços para o setor, com foco nas regiões Sul e Sudeste, e presença em mais de 450 cidades.

Segundo Marcelo Barbieri, CEO da Melitta South America, em comunicado, a escolha da Baristo se deve à sinergia de valores, à eficiência operacional e ao plano de crescimento da empresa. A operação seguirá sob comando de Rafael Bertagnolli, atual diretor-geral, que permanecerá à frente das atividades junto à equipe de mais de 100 colaboradores.

TEXTO Redação • FOTO Marcus Desimoni / NITRO

Mercado

Café e design marcam obra da australiana Lani Kingston

Designing Coffee – New Coffee Places and Branding é o terceiro livro da escritora, especialista em cafés e educadora australiana Lani Kingston. Lançado há pouco mais de um ano pela editora alemã Gestalten, traz 48 cafeterias instaladas em 48 cidades de 29 países.

Lani, que vive no Oregon (EUA) – onde também promove workshops e seminários em festivais nacionais, além de dar aulas sobre antropologia do café –, disse em entrevista ao site Comunicaffe International que “as cafeterias têm sido, por muito tempo, exemplos perfeitos de ‘terceiros lugares’, ou seja, importantes pontos de encontro comunitários fora de casa e do trabalho”, referindo-se ao fato de cafeterias serem locais de fácil acesso e democráticas.

As características mais destacadas por Lani Kingston nas cafeterias que escolheu para compor seu livro são a arquitetura e o design, das embalagens aos logos, de cada lugar. Isso porque, para ela, a proximidade de uma cafeteria não é algo mais importante do que seu layout, que inclui, além de aspectos arquitetônicos e decorativos atrativos, o conforto. E, claro, uma boa experiência sensorial, capaz de levar consumidores pelo mundo a esses locais para encontrar um amigo, ler um livro ou trabalhar em laptops.

Sua preocupação estendeu-se a ponto de atentar-se às condições do fluxo de trabalho dos atendentes nesses espaços, bem como descartar lugares badalados e atraentes, por, por exemplo, desconforto com as almofadas dos sofás ou pelos balcões que não seguiram as diretrizes básicas de organização.

“Acho que muitos negócios de café caíram na armadilha de ‘certificar-se de que isso ficará bom nas redes sociais’, mas não consideraram sua longevidade”, disse a autora na entrevista.

Entre as cafeterias contempladas estão a divertida e colorida Breadway Bakery em Odessa, na Ucrânia, as minimalistas Five Elephants, em Berlim (Alemanha), e Fiftheen Steps Workshop, em Taipei, Taiwan, além do arejado café Rong Bom (na foto) na província de Chiang Mai, Tailândia, fruto da restauração de celeiros de tabaco que se transformaram, também, em dois museus, um restaurante e um anfiteatro ao ar livre em meio a árvores históricas.

Sua atenção à estética das cafeterias reflete um mercado saturado, mas que deu origem, por conta disso, a elementos de design inovadores que se vinculam a ideais estéticos ou culturas de comunidades e países. “Muitos países têm suas próprias culturas de café ricas, diversas e únicas, e cada vez mais vejo novas cafeterias que tentam combinar o histórico ao moderno.”

Designing Coffee – New Coffee Places and Branding
Lani Kigston – Gestalten – R$ 445,90 – travessa.com.br

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Consumo de café solúvel no Brasil segue em crescimento em 2025

O Brasil apresentou crescimento de 6,2% no consumo de café solúvel no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), foram 5,558 mil toneladas (240.851 sacas de 60 kg) consumidas neste ano.

O tipo mais consumido foi o freeze dried (liofilizado), que registrou um crescimento de 44,9%, para 1,013 mil toneladas. Na sequência está o spray dried (em pó), com avanço de 0,2%, para 4,545 mil toneladas.

Os embarques de solúvel pelo Brasil cresceram no acumulado do primeiro trimestre de 2025. De acordo com a Abics, de janeiro ao fim de março, foram enviadas 977.659 sacas a 72 países, 7,9% a mais na comparação com o mesmo período de 2024.

Os Estados Unidos seguem como principal destino do solúvel brasileiro, com a aquisição de 153.320 sacas no primeiro trimestre deste ano. Em seguida aparecem Argentina (77.081 sacas), Rússia (64.822), México (51.767) e Chile (50.620).

TEXTO Redação

Cafeteria & Afins

Casa Hario – São Paulo (SP)

A primeira cafeteria da famosa marca japonesa de utensílios de café fica em uma movimentada esquina do Itaim Bibi, em São Paulo. O ambiente amplo e moderno destaca detalhes em madeira, que lembram estabelecimentos tradicionais japoneses. Além de um espaço externo, ideal para os dias quentes, o interior da cafeteria combina mesas com um grande balcão para quem busca um ar mais aconchegante. 

Nossa equipe escolheu visitar a casa em uma manhã de sexta-feira. A hospitalidade do estabelecimento ficou clara logo na entrada, quando um atendente, atencioso, nos encaminhou até uma mesa e nos mostrou o cardápio. 

Para beber, o menu tem opções de cafés filtrados em métodos hario (v60 e suas variações – como a permanente e a switch, além da mugen –, french press e globinho), bebidas com leite, bebidas geladas e chás. Não há espresso. Para comer, pães, salgados e sanduíches dividem espaço com waffles, panquecas, ovos e sobremesas. Como imaginado, a culinária asiática está presente em alguns itens, como no karepan assado, nos shokupans e na coalhada seca com pó de matcha, disponível na seção de pães.

A seleção de cafés filtrados é distribuída em três categorias de grãos: clássicos, complexos e sofisticados. No dia da visita, a casa tinha seis deles – cinco nacionais e um de fora. Escolhemos provar os cafés complexos, como o etíope cultivado na região de Yirgacheffe Banko Gotiti, feito na v60, e um gesha produzido em Campo das Vertentes (MG), extraído na v60 switch. Para acompanhar, fomos de shokupan de sunomono com coalhada e shokupan misto, que levava jamon serrano e gruyère.

Servidos em xícaras transparentes, os cafés surpreenderam sensorialmente. O etíope apresentou notas de frutas amarelas e mel, corpo leve e acidez equilibrada. Conforme a temperatura caiu, o frutado sobressaiu e o corpo tornou-se mais presente. Já o café mineiro era complexo mas leve, ótimo para começar o dia, com aroma que lembrava chá e sabores cítricos e levemente doces, puxados para laranja-bahia. 

Os shokupans foram servidos em quatro pedaços. O de sunomono com coalhada era crocante, agridoce na medida certa e refrescante, ótima opção de lanche para um dia quente. O misto estava gostoso mas, mesmo com o toque salgado do jamón, não surpreendeu. O queijo poderia estar mais derretido, e um molho de acompanhamento iria torná-lo mais atrativo. De sobremesa, o choux cream de baunilha foi uma boa escolha: estava crocante, com massa leve e creme agradavelmente doce.

Choux cream

A Casa Hario é uma opção interessante para os entusiastas do café. Além do menu e do atendimento, oferece também uma área de produtos expostos para venda, com canecas, métodos de preparo, moedores, balanças e chaleiras da marca.

Nossa conta: R$ 181,90 (com serviço)
Shokupan de sunomono – R$ 38
Shokupan misto – R$ 45
Choux cream – R$ 18
Filtrado Etiópia – R$ 30
Filtrado Campo das Vertentes – R$ 30

A equipe da Espresso visitou a casa anonimamente e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Manuel Guedes, 426
Bairro Itaim Bibi
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
Website http://https://www.instagram.com/casahario/
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Mercado

ENCAFÉ 2025, que começa na quarta (23), discute futuro da indústria com sustentabilidade e inovação

A 30ª edição do Encontro Nacional do Café (Encafé), promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), acontece de 23 a 25 de abril, no Royal Palm Hall, em Campinas (SP), com expectativa de reunir cerca de 3 mil participantes. O evento, que celebra três décadas de história, ganha novo formato e traz uma programação robusta, com mais de 50 palestrantes, experiências sensoriais, competições e debates estratégicos para o setor cafeeiro.

Além de painéis e workshops, o Encafé sediará a etapa Campinas/São Paulo do Campeonato Brasileiro de Blends e a segunda edição da Olimpíada do Café, que reunirá os 20 melhores profissionais do país em provas de conhecimento, preparo e avaliação sensorial.

Destaques da programação

Entre os temas centrais está as tendências globais e práticas inovadoras no setor cafeeiro, com nomes como o economista e diplomata Marcos Troyjo, e o presidente da NCA (National Coffee Association dos EUA), William (Bill) Murray, que apresentará um panorama do mercado norte-americano. A pauta de sustentabilidade será tratada pela especialista da KPMG Brasil Nelmara Arbex, com a palestra Desmistificando o ESG.

O evento também abordará o futuro do marketing e do consumo com painéis como Café sem fake, que une ciência e comunicação, e Desmarketize-se, com o ex-VP de Marketing do McDonald’s, João Branco. A palestra “O empreendedorismo muda o mundo”, com Wilton Bezerra (Cheirin Bão), e a fala de João Galassi, presidente da ABRAS, sobre o varejo no Brasil, completam o bloco de destaques.

Entre as novidades desta edição estão a assinatura de um termo de parceria entre a ABIC e a IWCA Brasil (Aliança Internacional das Mulheres do Café), durante o painel “Mulheres do Café – Liderança e Empreendedorismo”, que contará com lideranças femininas de destaque no setor.

Outra novidade estará no painel sobre sustentabilidade, que traz o lançamento de um aplicativo inédito que simula a pegada de carbono do café torrado, fruto de estudo conduzido pela TSW Consultoria e pela ABIC.

O evento também reafirma seu compromisso ambiental com a neutralização de emissões de carbono, em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), com o plantio de árvores em Niquelândia (GO).

30º Encontro Nacional do Café (Encafé)
Quando: 23 a 25 de abril de 2025
Onde: Royal Palm Hall – Campinas (SP)
Inscrições: encafe.com.br

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia

O café e os limites de uma economia dolarizada

Em pouco mais de uma semana, tivemos quatro fatos importantes em todos os países latino-americanos onde se debate ou já se implementa a economia dolarizada. A reeleição do empresário liberal Daniel Noboa no Equador, o anúncio do retorno da presença militar norte-americana no Canal do Panamá, o final do controle cambial de Javier Milei na Argentina e a recepção na Casa Branca de Nayib Bukele, presidente salvadorenho, alçado à categoria de grande aliado dos Estados Unidos. 

Na esteira da campanha pela dolarização da economia argentina com Javier Milei, das tarifas de importações de Donald Trump e do cenário econômico interno brasileiro, com desvalorização do real e alta da inflação, já há quem questione como seria o impacto, na economia do café, do aumento de países dolarizados. Seria esta uma alternativa para o descontrole inflacionário? Aumentaria a integração com a economia norte-americana? Seria viável no Brasil?

O governo do ultra-liberal Javier Milei na Argentina completou um ano. Eleito como um outsider, anti-sistema e representante da nova extrema direita sul-americana, ele declarou durante a campanha que uma das principais medidas, caso fosse eleito, seria a de dolarizar a economia argentina. 

A medida seria uma tentativa de colocar um freio na inflação galopante, ajudar no pagamento da altíssima dívida externa e trazer estabilidade econômica. Por outro lado, os críticos da dolarização apontam que esta seria uma medida desesperada e populista, onde os países perdem autonomia, delegando ao Banco Central dos Estados Unidos as próprias decisões de política econômica. 

Ainda, os países dolarizados perderiam o controle cambial e a capacidade de liquidez para, possivelmente, auxiliar instituições financeiras necessitadas de apoio. 

Com tal proposta na mesa da presidência do nosso maior vizinho, seria natural que algumas sugestões e divagações aparecessem do lado brasileiro. Como todo tema político e econômico recente, ainda mais envolvendo o presidente Javier Milei, o debate tem sido polarizado. Mas o que isso significaria, na prática, para a agricultura brasileira? Como o produtor seria afetado caso isso ocorresse? 

Por isso, aproveito a oportunidade de que, neste ano de 2025, dois produtores de café da América do Sul completam 25 anos de dolarização. Existe ainda um terceiro caso, o Panamá, passível de abordagem na cafeicultura, mas o país possui uma economia dolarizada desde sua independência, 121 anos atrás, e, portanto, não seria um exemplo representativo como os outros.

Começando pelo caso mais representativo, El Salvador já chegou a ser um dos maiores produtores de café do mundo no final do século XX, mas, nas últimas décadas, enfrentou uma queda acelerada na produção de café e perdeu protagonismo para seus vizinhos. No final do século, o país viveu crises inflacionárias, aumento da violência e instabilidade política. Depois da adoção da moeda estadunidense, a economia estabilizou-se, chegando até mesmo a um ponto de estagnação. A criação de empregos também emperrou e o país perdeu muita mão de obra jovem, rural e masculina, principalmente para os Estados Unidos. Além disso, as remessas de dólares provenientes dos imigrantes resultaram em menor efetividade, já que os destinatários das remessas também passaram a gastar em dólar. 

Do lado das contas públicas, o saldo não foi extremamente positivo: se por um lado, a dívida pública de El Salvador passou a ser melhor controlada, o país, que já possuía pouca competitividade e eficiência, tornou-se pouco atrativo e caro para o investimento estrangeiro. El Salvador perdeu protagonismo para seus vizinhos, produzindo hoje menos café do que todos eles. Segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC), na última safra antes da aprovação da dolarização (1999-2000), o país colheu 3,5 milhões de sacos de café. Hoje, tem dificuldades em produzir 0,5 milhão. De lá para cá, a indústria cafeeira perdeu mais de 70 mil empregos e lembra, com nostalgia, da época em que o café era responsável pela metade do produto interno bruto do país. 

Enquanto isso, no Equador, a situação parece menos dramática, mas, ainda assim, desalentadora. Em um contexto similar, o país viveu, literalmente, uma erupção de problemas no final dos anos 1990, envolvendo crise econômica e política, além das consequências da erupção do vulcão Pichincha, situado a apenas alguns quilômetros do centro de Quito. A erupção forçou uma evacuação em massa da população e culminou com pedidos da sociedade por mudanças significativas e imediatas na política.

Uma das sugestões de mudança econômica foi o abandono da moeda e a adoção do dólar como divisa oficial. O que foi prontamente atendido por um governo que buscava uma resposta simples, fácil e rápida para todos os problemas econômicos. De lá para cá, a economia se estabilizou, bem como a inflação e a taxa de desemprego. 

Porém, no campo do café, o Equador ainda não decolou. Mesmo sendo o único país sul-americano que, ao lado do Brasil, consegue ter um fluxo de produção estável e operante tanto na produção de canéfora como de arábica, o país continua estagnado na casa das 400 mil sacas de cafés produzidas.

O caso panamenho é um pouco distinto, já que desde a sua independência da Colômbia, em 1903, o país possui uma moeda nacional automaticamente atrelada ao dólar: o balboa. Mas, mesmo assim, muitas das características econômicas encontradas nos outros países citados se encontram no território do canal: baixa inflação e dívida controlada, porém, pouca competitividade, ineficiência e falta de atrativos para investimentos estrangeiros.

O crescimento, nos três casos, é naturalmente baixo, e existe pouca margem de manobra para a criação de empregos. Tanto que, em todos estes países, a migração de população jovem, especialmente rural e masculina, ainda é preocupantemente alta, resultando em falta de mão de obra no campo. 

De todo modo, a transição para o dólar é sempre muito difícil, mesmo para economias pequenas. Ao contrário de todos eles, a Argentina é parte do G20, grupo das vinte maiores economias do mundo, e possui 54 milhões de habitantes, o que faria a conversão ao dólar uma tarefa muito mais complexa e demorada do que a dos outros casos citados. 

E, ainda, com um agravante: o país ser dependente da exportação de matérias-primas concorrentes dos Estados Unidos (trigo, carne, soja, petróleo etc.). Logo, a conversão, que já seria muito difícil de ser realizada, ganha ares absurdos, já que o país não possui dólares nem para pagar as próprias e, ainda, estaria concorrendo diretamente com os Estados Unidos, usando a moeda norte-americana em setores em que os estadunidenses são bastante eficientes. 

Dolarizar uma economia é simples de dizer, e muito difícil de fazer. Não à toa é sempre sugerida por populistas de propostas fáceis e superficiais. Em todos os casos, existiram ganhadores e perdedores, pontos positivos e negativos para a economia do país. No entanto, fica evidente que a produção de café, em todos os casos citados, esteve do lado perdedor. Não há evidências de que seria diferente por aqui. Lembrando ainda que, no caso salvadorenho, dada a atual decadência da produção local, podemos dizer que a dolarização pode ter sido ainda mais devastadora para a cafeicultura do que os treze anos de guerra civil. 

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva

Cafezal

Flores de conilon podem virar chá e diversificar a renda do cafeicultor, aponta estudo

Pesquisa brasileira publicada na revista Foods revela o potencial sensorial e funcional das infusões feitas com flores desta variedade de Coffea canephora, ricas em compostos bioativos

As flores de café da variedade conilon são uma matéria-prima promissora para a produção de infusões, segundo estudo brasileiro publicado na revista científica Foods de março (a referência completa ao trabalho está no final da reportagem).

O estudo – que analisou flores secas de seis genótipos diferentes de conilon e que é um dos primeiros do gênero – chegou a resultados que apontam para o potencial sensorial e funcional da infusão das flores desta variedade de canéfora. “As infusões possuem aroma e sabor extraordinários, e, portanto, tem potencial para ser usado para um chá de ótima qualidade”, diz o engenheiro agrônomo Fábio Luiz Partelli, doutor em produção vegetal e um dos autores do estudo.

Muitos compostos que impactam o aroma e o sabor do café também trazem benefícios para a saúde, podendo ajudar na prevenção ou tratamento de doenças (os denominados compostos bioativos). São eles a cafeína, a trigonelina e os ácidos clorogênicos (AGC) – estes últimos, um subgrupo dos ácidos fenólicos – que funcionam como antioxidantes e têm ações antiinflamatórias.

Na pesquisa, os cientistas identificaram 38 compostos orgânicos voláteis  – responsáveis por aromas como amadeirado, herbal e floral — nas infusões (nas flores secas, este número salta para 85), e um menor teor de cafeína, se comparado ao teor encontrado nos grãos do café. Esses teores, porém, variaram de acordo com o genótipo da flor, mas, em geral, foram bem extraídos e em quantidade substancial.

De acordo com os autores do artigo, o estudo se insere num contexto de busca crescente por novos produtos alimentares de origem vegetal e um interesse cada vez maior por subprodutos do café. Por isso, abrem caminho não só para a diversificação da cadeia cafeeira, mas, também, para o aproveitamento de subprodutos dela, geralmente descartados.

“Estamos há anos estudando a diversidade do café conilon, considerando a parte agronômica, como produção, tolerância e rendimento”, explica Partelli, que trabalha no Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), e que compartilhou seu desejo de investigar a diversidade química da variedade com colegas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Essa equipe do Rio fazia alguns trabalhos com chá, daí conversamos e vimos que seria bacana estudar esse potencial em flores de canéfora”, diz ele.

Partelli – que desconhece qualquer produção comercial de infusão de flores de canéfora – acredita que a bebida pode ser mais uma fonte de renda para o produtor, principalmente se ele estiver envolvido com turismo rural. “Quem sabe um dia podemos exportar chá de flores de café para a China ou a Inglaterra”, diz ele.

O pesquisador reforça, porém, que o trabalho é inicial, e há alguns desafios a vencer, como definir os melhores genótipos (clones), a melhor temperatura e tempo de secagem das flores, a embalagem e principalmente, os desenvolvimentos necessários para transformá-lo num produto.

Para saber mais:

Juliana de Paula, Sara C. Cunha,Fábio Luiz Partelli, José O. Fernandes and Adriana Farah. “Major bioactive compounds, volatile and sensory profiles of Coffea canephora flowers and infusions for waste management in coffee production”. Foods, 14(6), 911.

TEXTO Redação
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