Café & Preparos

O que os olhos dizem sobre o café

Estudo revela como rótulos de cafés especiais influenciam decisões de compra, com ajuda de tecnologia de rastreamento ocular

Um estudo inédito, que uniu tecnologia de rastreamento ocular e modelagem matemática, investigou como o modo de apresentar um café a um cliente impacta sua venda. A pesquisa foi conduzida pelo brasileiro Lucas de Vasconcelos Teixeira, professor do programa de Negócios Digitais da Pecege, em São Paulo, e publicada na edição 23 da revista digital semestral 25, da SCA (Specialty Coffee Association).

O estudo investigou quais são as informações nos rótulos dos cafés que  chamam a atenção do consumidor e como isso afeta suas decisões de compra. A ideia foi analisar atributos extrínsecos — ou seja, que não dizem respeito diretamente ao sabor ou aroma –, mas que influenciam a percepção de valor do café.

O estudo foi feito com 28 consumidores numa cafeteria em São Paulo e levou em conta oito atributos comumente associados a cafés especiais: preço, marca, variedade do café, certificação orgânica e origem, pontuação de cupping da SCA (versão 2004), altitude e nível de torra. Esses atributos foram divididos em dois rótulos distintos, para que cada um tivesse um número razoável deles. Ambos os experimentos utilizaram rótulos de café simulados, apresentados em pares em uma tela de computador por 10 segundos por slide.

Os consumidores também foram divididos em dois grupos: os curiosos (que receberam uma breve explicação sobre cafés especiais e seus atributos), e os entusiastas, já familiarizados com essas características.

Foram mensurados, por exemplo, quanto tempo e quantas vezes o consumidor olhou para um atributo. Entre os resultados, os pesquisadores descobriram que a atenção à certificação orgânica foi diretamente associada à maior chance de compra do café, e que as torras clara e média foram preferidas – mesmo entre consumidores denominados no estudo como curiosos (sem conhecimento sobre cafés especiais). 

Além disso, cafés com pontuação SCA mais alta atraíram mais atenção e foram mais escolhidos. Por outro lado, a informação de altitude não influenciou a decisão — segundo os autores, isso indica a falta de familiaridade dos participantes com o conceito.

O estudo também mostrou que os participantes pagariam mais do que os preços exibidos quando percebiam, por meio das informações dos rótulos,  que aqueles cafés tinham mais qualidade e exclusividade. “Há um potencial significativo para aumentar o valor percebido do café especial por meio de uma melhor comunicação de suas características extrínsecas”, escreve Teixeira, que recomenda mais educação aos consumidores. “Os vendedores podem utilizar ferramentas como mídias sociais, interações presenciais e degustações públicas para aprofundar o conhecimento do consumidor”, sugere o autor do estudo.

TEXTO Redação

A fria guerra do cold brew

Por Gustavo Paiva

Em meu último artigo, me referi à guerra tarifária entre Estados Unidos e China e como isso poderia implicar o produtor de café no Brasil. Enquanto a situação parece desescalar e decisões mais racionais estão sendo tomadas, o mercado do café parece continuar, ainda, em uma guerra fria de estratégias entre as maiores economias do planeta. Em menos de um mês, tivemos dois anúncios que carregam muito simbolismo nas estratégias de duas gigantes do mercado do grão.

Após dois anos de revisão, a Starbucks finalizou o processo de atualização de suas normas C.A.F.E. Practices. Com a atualização, a empresa busca ter um melhor controle dos cafés que vêm sendo prospectados em países produtores, como o Brasil. Este controle se dará através de uma demanda maior por informações dos fornecedores, controles de campo para verificar e validar as informações fornecidas em todas as regiões fornecedoras de café e, ainda, uma avaliação das práticas correntes da indústria. 

A verificação será escalonada e implementada nos próximos anos. A fase inicial consiste na eliminação de produtores que infringem as práticas básicas, o que representa uma série de indicadores mais urgentes e inegociáveis, chamados de ‘‘Tolerância Zero”. A segunda fase, de transição para uma quantidade maior de novas práticas, verificará o cumprimento de indicadores principais, mas que não são eliminatórios e serão exigidos ainda este ano. As novas normas passam a ser obrigatórias para os produtores e, caso alguma não conformidade ocorra, ela deve ser reparada até o próximo controle agendado com o produtor. A terceira e última fase avalia a implementação e o cumprimento efetivo de todo o programa.  

O conjunto de normas da Starbucks completa dez anos em 2025, e desde o seu lançamento, muita coisa mudou. O consumidor ficou mais exigente e os casos de violações de normas trabalhistas no campo passaram a ganhar maior repercussão e menor tolerância por parte da sociedade. 

Por outro lado, uma de suas maiores concorrentes no mercado parece também estar agindo com muita atenção com o produtor brasileiro, porém, com uma estratégia diametralmente oposta. A empresa chinesa Luckin Coffee anunciou, durante uma missão diplomática brasileira à China, uma parceria para promover o café brasileiro no gigantesco mercado asiático. Os detalhes da parceria ainda precisam ser esclarecidos, mas um café temático em homenagem ao Brasil já foi aberto em Pequim em maio. 

É importante lembrar que, durante a cúpula do G20 de 2024, realizada no Rio de Janeiro, representantes da Apex haviam anunciado a compra de US$ 2,5 bilhões em café brasileiro pelos chineses da Luckin Coffee, o equivalente a algo em torno de 4 milhões de sacas ou 66% do consumo anual local.

Fica claro que uma parte significativa das relações comerciais da Luckin Coffee com o Brasil prospera, principalmente, com o apoio do enorme fluxo comercial entre os países, com um mercado  crescendo exponencialmente e com a boa relação entre agentes públicos dos governos nacionais. A Luckin Coffee ainda não entende o mercado interno brasileiro como central na sua estratégia comercial. Pois, apesar dos acordos firmados, a rede de cafeterias ainda não tem nenhuma loja física no Brasil e nem anunciou se abrirá alguma. 

Por outro lado, a Starbucks representa um mercado ocidental mais maduro. A empresa deixa claro seu desejo de estar integrada e próxima tanto do produtor como do consumidor e, portanto, mais sensível às críticas recebidas. Fica clara a vontade da empresa de Seattle de se distanciar dos casos de violações trabalhistas nos campos brasileiros e aumentar o nível de exigência aos seus fornecedores. Ela parece ter compreendido que mudanças são necessárias e que o nível de exigência anterior já não é suficiente. Foi delimitado um longo caminho a ser seguido, e esperamos que a cadeia estará melhor ao final dele.

No grande duelo entre duas potências econômicas, o café e o produtor brasileiros têm tudo para saírem vencedores. No entanto, o alinhamento automático às ideologias e governos parece ser mais do que contraprodutivo e, também, contraditório. Antes de mais nada, é preciso se perguntar que futuro queremos para a produção brasileira e que tipo de sociedade estamos construindo nos nossos campos. Além disso, é preciso que o consumidor esteja atento ao seu poder de transformação, longe de alinhamentos automáticos e da persistente demagogia.

O que anda em evidência é a disputa pelo consumidor dos cafés gelados, extremamente importante para as duas empresas. Mas, também, a frieza e competência na elaboração das estratégias, e claro, a disputa entre Estados Unidos e China, envolvendo todo o mundo em uma nova guerra fria.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Magalhães Paiva

Cafezal

Torrinha (SP) é a nova IP de cafés

O município de Torrinha, no estado de São Paulo, é a mais nova indicação geográfica brasileira para cafés. O anúncio foi publicado hoje pelo INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), e a modalidade concedida é a de Indicação de Procedência (IP).

A IP concedida reconhece Torrinha, que tem cerca de 240 pequenos cafeicultores, como um centro tradicional de produção de café arábica, valorizando sua reputação e o saber fazer local, sem, no entanto, exigir exclusividade de características naturais.

Segundo a documentação apresentada pela Cafenato (Associação dos Produtores de Café Natural do Bairro do Paraíso do Alto de Torrinha), o município produz café desde o século XIX, produção essa intensificada com a imigração europeia e a instalação de ferrovias e crescimento urbano. O cultivo de café se dá em altitude média de 800 m, e a maioria dos produtores da cidade estão há pelo menos três gerações trabalhando com o grão. 

O café é tão importante para a cultura local que todos os anos, no último domingo de novembro, é celebrada a Missa do Cio da Terra, em agradecimento à colheita e quando os produtores oferecem uma saca do café colhido. Torrinha tem cerca de 10 mil habitantes.

A cidade ainda promove, anualmente, um concurso de qualidade, e teve cafés premiados no concurso estadual de qualidade em 2015 e 2023. 

TEXTO Redação

Mercado

Cafés solúveis passam a receber Selos de Qualidade Abics

A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) divulgou hoje (2) que, a partir do dia 11 de junho, os cafés solúveis brasileiros passarão a contar com os Selos de Qualidade da entidade. O primeiro produto a receber o selo será o Café Orgânico Instantâneo Native.

Com o objetivo de encontrar o melhor perfil sensorial para cada aplicação e potencializar os benefícios do consumo de café solúvel em outros produtos, os selos são divididos em três categorias: 

  • Excelência, concedido aos cafés com atributos intensos de acidez, doçura, frutado e aroma mais floral e mel; 
  • Premium, ao produto com notas sensoriais marcantes e intensas, como chocolate, amêndoas e amadeirado e com potência média no paladar;
  • Clássico, que estampa os solúveis com notas amadeiradas, mais potência e baixa acidez.

A criação dos Selos de Qualidade Abics, que integra as ações da entidade para fomentar o consumo de café solúvel, se deu com base no protocolo de análise sensorial desenvolvido pela Associação em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), cuja metodologia avalia a intensidade dos atributos de cada produto.

Atualmente, 21 marcas de café solúvel já foram certificadas no Brasil, através de avaliações realizadas por profissionais treinados e capacitados pela Abics como Instant Coffee Graders (IC Graders), que se tornaram aptos a avaliar e emitir laudos de análise sensorial com base no protocolo desenvolvido pela entidade em cooperação técnica com o ITAL.

TEXTO Redação / Fonte: Abics • FOTO Felipe Gombossy

Mercado

Programação do São Paulo Coffee Festival traz novidades nesta 4ª edição

Entre os dias 27, 28 e 29 de junho, o São Paulo Coffee Festival realiza sua 4ª edição na capital paulista. Com uma programação repleta de conteúdos sobre café e gastronomia, o evento, cujos ingressos estão à venda, promete reunir 16 mil visitantes e mais de 150 marcas expositoras na Bienal do Ibirapuera.

Patrocinado pela Café Store, o espaço Sensory Experience chega com uma nova proposta. A dinâmica foi totalmente renovada e, agora, conta com duas experiências sensoriais exclusivas, que convidam o público a explorar os aromas do café em uma imersão olfativa e as diferenças sensoriais da bebida em diferentes situações de consumo, para mostrar como o contexto pode transformar sua percepção. Essas atividades acontecem durante os três dias, em horários selecionados.

Em parceria com a Orfeu Cafés Especiais e a Carmomaq, A Torrefação também traz novidades. Além da tradicional torra ao vivo, o espaço conta agora com uma sala para quem quiser mergulhar de cabeça no universo da torra. Entre as palestras e workshops conduzidos por profissionais do setor na área há temas como “Dicas de como torrar cafés fermentados”, “Como escolher e torrar café para o seu espresso” e “As diferenças entre as torras de arábica x canéfora”, entre outros. 

Como o próprio nome diz, o espaço Latte Art Ao Vivo traz uma grade focada na combinação entre café e leite. Patrocinado pela Nude, o ambiente conta com baristas experientes que vão compartilhar, de forma didática e acessível, as principais técnicas de vaporização do leite e de elaboração do latte art. A ideia é não só assistir mas, também, colocar a mão na massa em oficinas práticas, como as experiências “Aprenda na prática a fazer um coração” e “Faça o seu próprio cappuccino”.

Ampliando os horizontes, o espaço A Cozinha, patrocinado pela 3corações e pela Oster, aborda assuntos para além do café. Panificação, confeitaria, coquetelaria e cozinhas multiculturais permeiam a programação. Neste ano, entre os chefs convidados estão Larissa Takeda, do Pato Rei, que discorre sobre caramelo salgado no painel “Tem sal no meu caramelo”, Fred Caffarena, do Make Hommus. Not War, que faz receitas durante a palestra “Café da manhã na Turquia”, e Rodrigo Freire, do Preto Cozinha, que confere um tempero baiano ao conteúdo “Lelê de milho: uma delícia da Bahia”.

As atrações são gratuitas para os visitantes e não precisam de inscrição prévia. Apenas as programações dos espaços Sensory Experience e A Torrefação têm vagas limitadas, que serão preenchidas por ordem de chegada.

TEXTO Redação • FOTO Agência Ophelia/SPCF

Cafeteria & Afins

Café Minamihara – Franca (SP)

A sutileza, tão prezada na cultura japonesa, perfaz a cafeteria, aberta em 2021. O serviço, ao som de música ambiente, é feito nas mesas de madeira dispostas ao ar livre – uma experiência no interior de uma fazenda cuja proposta é mostrar todo o trabalho que envolve a produção de um café. O menu conversa com esse propósito, criando uma experiência imersiva.

A área de torra, num espaço da cafeteria, permite acompanhar o processo ao longo do dia. Outros destaques são a máquina de espresso da Victoria Arduino (modelo Black Eagle), assinada pela campeã polonesa do mundial de 2018, Aga Rojewska, e o moinho, também usado por ela no campeonato, que servem para a extração dos espressos da casa.

A cafeteria conta com bebidas clássicas como cappuccino, latte e iced latte honey, com mel produzido pela fazenda. Recentemente, o espaço inclui um brunch, que serve até três pessoas.

Nosso pedido foi o nanolote da casa, um arábica da variedade catucaí-açu de processamento natural. Feito no v60 e servido em copos de cerâmica, o café tem caráter complexo (chá preto, pêssego fresco e jasmim), alta doçura, corpo sedoso e acidez cítrica brilhante. Conforme esfria, mantém o aroma floral e a nota de chá – um café de paladar delicado.

Para acompanhá-lo, a recomendação da barista foi o avocado toast, feito com pão de fermentação natural e abacates da fazenda, temperados com limão, sal e pimenta, além de tomates-cereja e um ovo cozido em sous-vide (a baixa temperatura). Embora o toast estivesse muito bem feito, a untuosidade e acidez do abacate acabam apagando a alta doçura do café.

Nanolote de catucaí-açu na v60 com um avocado toast e o bolo chiffon

Melhor combinação foi com o pão de queijo, recheado com brisket bovino, que elevou a percepção de doçura e de corpo da bebida. Vale moderar no molho barbecue feito com espresso que acompanha o pedido, pois sua potência atrapalha um pouco a delicadeza deste coado.

De sobremesa, um sedoso bolo chiffon, um clássico da confeitaria francesa revisitado com o acréscimo de matchá, ingrediente marcante da cultura japonesa. Coberto com amêndoas e coco açucarado, traz o matchá na medida certa.

Para finalizar a experiência, pedimos um espresso, feito com o grão obatã vermelho de processamento natural. Embora tenha chegado à mesa (em xícara de porcelana) com a crema um pouco opaca, ele exalava notas de capim-limão, manga, com uma nota floral de fundo. Doce, de acidez brilhante e corpo sedoso, fez um casamento interessante com o bolo, capaz de deixá-lo ainda mais doce.

Nossa conta: R$ 118 + taxa de serviço
Coado nanolote – R$ 25
2 espressos – R$ 18
Pão de queijo com brisket – R$ 25
Avocado toast – R$ 35
Bolo matchá – R$ 15

A equipe da Espresso visitou a casa anonimamente e pagou a conta.

Texto originalmente publicado na edição #87 (março, abril e maio de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rodovia Candido Portinari, Km 407
Bairro Jardim Paineiras
Cidade Franca
Estado São Paulo
Website http://instagram.com/cafe_minamihara
TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Cafezal

Palestras na Expocafé mostram como o cafezal pode reagir às mudanças climáticas

No segundo dia da feira de Três Pontas (MG), palestras embasadas por pesquisas científicas destacaram estratégias para aumentar a resiliência do cafeeiro, mitigar pragas e reduzir emissões de carbono, em meio aos efeitos do aquecimento global

Por Cristiana Couto

O segundo dia de palestras da Expocafé, principal feira do agronegócio brasileiro voltada à cafeicultura que acontece em Três Pontas (MG), foi de intenso aprendizado. O ponto comum das palestras, feitas durante o simpósio organizado pela Cocatrel (Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas) em parceria com a Ufla (Universidade Federal de Lavras), foram as oportunidades e desafios da cafeicultura em meio às mudanças climáticas. Apresentações, baseadas na ciência, para ninguém botar defeito.

Na conversa sobre “Resiliência do café às mudanças climáticas”, conduzida pelo agrônomo e professor titular da Ufla José Donizeti Alves, um dos maiores aprendizados foi o de que, em situação pós-estresse, o cafeeiro se recupera apenas parcialmente. A partir dessa constatação, Donizeti expõe a principal estratégia para aumentar a resiliência do pé de café exposto nos últimos anos “pressões muito grandes” do meio ambiente, que é o aumento da produção de energia. “Existe um descompasso entre a produção de energia e o gasto dela na planta”, sintetiza o especialista. Segundo seus estudos relacionados à fisiologia do café, fornecer energia aos pés de café significa investir no crescimento das folhas e das raízes, que, como pontuou, não se limita mais – em vista do estresse ambiental a que o café vem se submetendo atualmente – a manejos como nutrição balanceada e sanidade da cultura. “Esqueça o calendário tradicional e olhe para o calendário fenológico da planta”, ensinou o especialista.

Em “Manejo do cafeeiro em condições climáticas adversas”, o agrônomo Geraldo Andrade Carvalho explicou como tecnologias mais sustentáveis ajudam a diminuir populações de pragas na lavoura cafeeira e mitigar as mudanças climáticas. Exemplos são a utilização de cercas vivas e de fertilizantes foliares. “Controlar pragas é trabalhar com técnicas de forma integrada, não só inseticidas”, lembrou Guimarães, referindo-se à boa adubação e ao uso de variedades mais resistentes a pragas. 

Expocafé 2025 – Foto: Isa Cunha

Rubens José Guimarães também deu uma aula magna, em sua fala sobre “Influência das mudanças climáticas no manejo das principais pragas do cafeeiro”, ao elencar soluções inovadoras – como a utilização de filme de polietileno, como alternativa às coberturas vegetais, e casca de café, que evita o nascimento de plantas daninhas – ao lado de práticas sustentáveis, como adubação de liberação lenta e gesso agrícola, entre outras. “O importante é aproveitar o que já é bom combinado com técnicas modernas”, ensina ele, citando também a utilização de biochar, quitosana (biopolímero obtido de crustáceos que induz a produção de substâncias de defesa na planta) e polímeros retentores de água.

Agricultura regenerativa e sequestro de carbono, claro, não ficaram de fora. Ademir Calegari, engenheiro agrônomo da Faem-Ufpel (Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas), contribuiu com um conhecimento profundo sobre cobertura de plantas e o uso de biológicos durante sua exposição sobre Avanços da agricultura regenerativa”. “O melhor jeito de recuperar solos degradados é utilizar múltiplas espécies [de cobertura]”, ensinou ele, referindo-se a estudos que combinam trigo-mourisco, braquiária, crisópide e outras plantas de cobertura com ativos biológicos e o aumento de produtividade em cafezais de diversas fazendas. 

Carlos Eduardo Cerri, professor titular do departamento de ciência do solo da Esalq/USP, também esclareceu qualquer dúvida sobre pegada de carbono que pudesse haver na plateia com sua palestra “Balanço de carbono em cultivo de café”. “O principal desafio da humanidade é o aquecimento global”, lembrou Cerri. Durante sua exposição, o especialista discriminou os diferentes gases de efeito estufa, a capacidade de cada um aquecer a terra e as diferenças do Brasil em relação ao mundo nas taxas dessas emissões a partir de diversas atividades, como a agricultura. “É importante esclarecer os benefícios que a agricultura traz, quando bem conduzida, para as emissões de carbono”. sobre o tema, mostrou, a partir de estudos, que a cafeicultura mineira, sob manejo sustentável, tem um balanço de carbono negativo de 10,5 t CO2eq/ha, ou seja, mais sequestra do que emite gases de efeito estufa (GEE). 

A Expocafé termina nesta quinta (29) com a 5ª edição da Expocafé Mulheres, espaço construído com base nas demandas das produtoras. A programação, que valoriza o papel feminino no campo, terá foco em inovação, tecnologia e equidade na cafeicultura.

A realização e promoção comercial são da Cocatrel e da Espresso&Co, com apoio da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e da Prefeitura Municipal de Três Pontas.

TEXTO Cristiana Couto

Cafezal

Tem uma abelha no meu café

Pesquisadores comprovam que a biodiversidade é essencial para a manutenção de colmeias, produtividade e qualidade sensorial do café polinizado

Por Cristiana Couto

Mudanças climáticas, degradação de áreas florestais e o consequente declínio da população de abelhas tem motivado pesquisadores de todo o mundo a debruçar-se, nos últimos anos, sobre os efeitos da polinização no café. Depois do interesse pela influência das abelhas sobre a produtividade, a última década viu um incremento nos estudos com foco na biodiversidade da paisagem e na qualidade do café polinizado.

Para entender a importância desses estudos e sua aplicação no campo, a Espresso conversou com cientistas, startups e produtores. A resposta para os dilemas atuais enfrentados pela cafeicultura em
relação às abelhas – os insetos mais importantes na polinização do café – é uma só: integração de manejos.

“O cafeicultor precisa melhorar a paisagem, manejar abelhas e adotar boas práticas no uso de defensivos químicos para aumentar a sustentabilidade da sua produção”, ensina o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP) e especialista em abelhas e polinização Cristiano Menezes. “Se ele fizer um planejamento ótimo, pode equilibrar o máximo de produção e, ainda, restaurar o habitat natural. É uma vertente importante de mudança”, acrescenta.

O café é um dos cultivos mais bem estudados no mundo em polinização. Há trabalhos acadêmicos no Brasil, na Costa Rica e no México, e no continente africano, berço de arábicas e canéforas.

Publicações recentes destacam, por exemplo, que não só as abelhas melíferas ou africanizadas (Apis mellifera) aumentam a produtividade do café, mas uma diversidade de espécies nativas – no Brasil, existem quase 2 mil espécies de abelhas, e cerca de 20 mil espalhadas pelo planeta.

Outro estudo, concluído no segundo semestre de 2024 sobre a introdução de abelhas manejadas em fazendas de café, reforça as evidências de que a polinização assistida – ou seja, a introdução de colmeias de abelhas durante a floração – aumenta a produtividade e a qualidade do café, elevando o sensorial da bebida em até 6 pontos e o valor da saca, em 13,15% (um ganho de US$ 25,40 por saca).

Colmeias em campo

O trabalho foi feito entre 2021 e 2023 em fazendas de arábica em São Paulo e Minas Gerais. “Esse estudo reforça a integração de ações no campo, ao avaliar o impacto do manejo de abelhas na produtividade do café, crucial para milhões de famílias rurais”, diz Menezes, que liderou a pesquisa e contou com a parceria da Agrobee, empresa brasileira que conecta apicultores, meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão do gênero Melipona) e cafeicultores, da empresa de tecnologia agroquímica Sygenta e da Esalq-USP, entre outras.

Mesmo com dados consistentes na literatura sobre as vantagens da biopolinização, há desafios. “Por muito tempo, negligenciou-se o papel dos polinizadores na cadeia do arábica”, diz Guilherme Sousa,
CEO e sócio da Agrobee. “Nos cursos de agronomia, a polinização não é um tema tão bem trabalhado como é o combate às pragas”, reforça a bióloga Marina Wolowsky, também especialista em polinização. Isso, somado ao fato de que o arábica é uma planta autocompatível, ou seja, capaz de se autofecundar, tornou o assunto, muitas vezes, irrelevante.

Por outro lado, vantagens ambientais, sociais e econômicas da biopolinização, claras aos cientistas, vêm cativando, aos poucos, a atenção do setor. “Ser sustentável no café é rentável para o agricultor”, analisa Guilherme Castellar, jornalista da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas, a A.B.E.L.H.A. Pesquisas de mercado pelo mundo indicam, também, que os consumidores de café demandam, cada vez mais, por cafés diferenciados, mais sustentáveis em termos socioambientais.

Uma ferramenta de sustentabilidade

Se a rentabilidade econômica não deixa de pesar na balança do cafeicultor, a vegetação nativa ou a restauração de áreas degradadas é vital para a manutenção – e incremento – sustentável dos seus ganhos. Modelos climáticos indicam que, até 2050, 90% dos municípios brasileiros sofrerão com a perda de polinizadores, comprometendo a polinização de diversas culturas agrícolas – entre elas, o café.

Para mitigar esses efeitos, pesquisas recentes buscam entender as relações entre o ambiente natural, as comunidades de abelhas e a produtividade dos cafezais. Elas geram conhecimento que auxilia projetos como o de Menezes e serviços de aluguel e treinamento de abelhas.

O que os cientistas estudam, ainda, é como são essas complexas relações entre abelhas e plantas em áreas produtoras de arábicas e canéforas do país. Nessa chave, avaliam a polinização da abelha africanizada – que, até até pouco tempo, dominou o conhecimento acadêmico sobre polinização de café – e das espécies nativas.

Produtividade e floresta em pé

Os cientistas já sabem que florestas próximas aos cafezais aumentam a produtividade do plantio. E, se uma revisão acadêmica de 2022, feita por Moureaux e colaboradores e que reuniu publicações científicas sobre vários países produtores, mostrou um incremento de 18% na produção de arábica pela biopolinização, pesquisas brasileiras têm encontrado que a produtividade de uma colheita em sistemas agroflorestais pode chegar a 30% com o apoio delas. “Quanto mais próximo os cafezais estiverem de fragmentos florestais, maior a diversidade de espécies de abelhas e maior a produtividade do café”,
resume Menezes.

Foi o resultado que Marina encontrou ao estudar os cafezais no Sul de Minas. “Descobrimos que quanto mais heterogênea for a paisagem maior será a diversidade de espécies e o número de abelhas que visitam as plantas de café”, explica ela, referindo-se ao termo técnico paisagem como o conjunto composto por área plantada, fontes de água e floresta. “A floresta diversa é importante para que as abelhas se movimentem e explorem outras categorias de paisagem”, detalha.

Mas as abelhas não visitam os cafezais somente na época da florada. Elas ficam de olho, também, nas flores que nascem nas entrelinhas e bordas dos cafezais – prática comum em agricultura regenerativa e manejos orgânicos. “Essas plantas floridas servem de recurso para as abelhas continuarem forrageando na área de cultivo”, diz Marina, referindo-se às plantas tecnicamente chamadas ruderais, que crescem espontaneamente nesses lugares e que muitos costumam tomar por ervas daninhas. “Queríamos entender melhor o manejo do cultivo de café, por isso, não fizemos o estudo apenas durante os dias de florada”, explica ela, que observou o comportamento das abelhas por trinta meses.

Ao todo, 62 espécies de abelhas visitaram 67 espécies de plantas nas entrelinhas dos pés de café. “Há, portanto, um incremento na produção quando há, também, cobertura vegetativa no entorno do cultivo”, conclui a especialista. Isso porque a cobertura das entrelinhas, aliada à manutenção de florestas e ao uso de áreas inúteis, como barrancos, ajuda a melhorar a construção de ninhos e colmeias. “Esse manejo de paisagem é o que o cafeicultor pode fazer para aumentar a riqueza de polinizadores na produção”, explica Menezes.

Outro manejo importante é o de insumos agrícolas. “Não adianta ter uma paisagem perfeita e aplicar um produto incompatível com a vida das abelhas”, pondera ele. Segundo o cientista, é preciso escolher produtos químicos compatíveis, cujas doses, métodos e cronologia de aplicação em campo sejam adequados – antes ou depois da florada, aplicações no pé e não nas folhas das plantas e no fim do dia
ou de noite são alguns desses parâmetros. “Não estamos pregando que o cafeicultor se torne orgânico, mas que ele use da forma mais racional possível os pesticidas para gerar o mínimo de impacto ambiental”, conclui.

A importância da paisagem na cafeicultura aumenta se soubermos um pouco mais da vida das abelhas. “A paisagem serve de abrigo e oferece recursos nutritivos e relacionados à reprodução delas”, ensina Marina. Além do néctar e do pólen, florestas, matas e outras coberturas vegetais são fonte de resinas e óleos que elas usam para a construção de seus ninhos. Além disso, a distância que elas têm que percorrer para buscar alimento e o tamanho do seu corpo influenciam a visita das abelhas às flores – quase diariamente, elas definem suas rotas. “Mais recursos sustentam maior número de abelhas, e populações maiores polinizam mais”, conclui a pesquisadora.

Abelhas solitárias ou sociais?

Um dos clássicos estudos científicos sobre biopolinização, feito em 2003 por Alexandra-Maria Klein, da Universidade de Friburgo, na Alemanha, já mostrava que abelhas solitárias – definição para um grupo de abelhas que vive em turmas menores e têm comportamentos específicos – são mais eficientes que as africanizadas na polinização dos cafezais. “Esse trabalho foi importante porque a gente tinha uma visão de que as abelhas africanizadas resolveriam tudo”, conta Menezes. “Na verdade, as Apis precisam de muitas visitas às flores para deixar nelas o pólen”, detalha ele.

Por outro lado, as abelhas solitárias compensam seu menor número visitando flores mais rapidamente e num fluxo maior entre uma e outra. “Elas fazem seus ninhos e os abandonam ou simplesmente morrem, sem ter contato com as próximas gerações. Daí a importância do manejo da paisagem, já que várias abelhas solitárias não conseguimos manejar”, explica Menezes (mais de 95% das espécies de abelhas polinizadoras não são criadas).

Jataí em flor de café

Um dos estudos mais recentes comprovou a relação direta entre diversidade de abelhas e de paisagem. Foram estudadas 24 áreas de cultivo de café no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná e em Minas Gerais e encontradas 50 espécies visitantes em flores de arábica e 45 em flores de canéfora. O estudo, de Maria Cristina Gaglianone e outros pesquisadores, compõe o livro digital A Ciência das Abelhas, publicado este ano pela A.B.E.L.H.A. e que reúne pesquisas de 2019 a 2022, numa iniciativa inédita de financiamento público-privado para esse tipo de investigação.

Outro trabalho, feito em 2016 em regiões cafeicultoras do leste paulista, onde há fragmentos de mata atlântica, chegou a resultados semelhantes. Nele, a ecóloga Fernanda Teixeira Saturni destaca que áreas de café próximas a florestas e matas nativas são mais ricas em espécies de abelhas sem ferrão – cuja presença aumentou em 28% a maturação dos frutos.

Trabalhos como estes são importantes porque mapeiam espécies de abelhas em regiões cafeicultoras e ajudam no planejamento do cultivo nessas áreas. Isso é ainda mais urgente com o impacto atual das variações de clima na cultura do café. “Preservar estas áreas de vegetação nativa tem o potencial de melhorar questões como água e temperatura e outros serviços que a biodiversidade pode agregar”,
analisa Marina. “Isso favorece não só a conservação de áreas, mas ajuda também o produtor”, diz ela, sobre a menor necessidade do uso de fertilizantes e do combate às pragas. “O café é um reduto atrativo para as abelhas”, destaca.

Para integrar manutenção de polinizações, sustentabilidade e produtividade no cultivo do café, Menezes e dois pesquisadores buscam, agora, financiamento público para o desenvolvimento de uma ferramenta que reúne os manejos de paisagem, de insumos e de polinizadores aliados à produção e comercialização de cafés.

“Estamos estruturando esses quatro eixos a partir de indicadores de performance, fáceis de monitorar e que trazem qualidade à produção, para auxiliar o cafeicultor”, explica Menezes. A ferramenta é uma reconfiguração do projeto Apoia-novoRural (Avaliação Ponderada de Impacto Ambiental de Atividades do Novo Rural), criado em 2003 pela Embrapa e que auxilia a gestão agrícola sustentável a partir de indicadores. “Vamos começar pelo café pela robustez dos resultados acadêmicos. É colocar o manejo integrado da polinização em prática”, ressalta ele, que pretende começar, no primeiro semestre de 2025, os primeiros exercícios de campo para testar esses indicadores. “O caminho integrativo é mais complexo, mas vai entregar ao agricultor múltiplos benefícios e atingir a tão sonhada sustentabilidade ambiental, econômica e social”, acredita.

Abelhas de aluguel

A polinização assistida é uma estratégia não apenas viável, mas indicada para aumentar a produtividade, a qualidade e a sustentabilidade do café, especialmente em áreas com monoculturas extensas, onde a diversidade de espécies é baixa.

“A presença desses polinizadores pode incrementar a produtividade, em média, 18%, o equivalente a 3 sacas por hectare, mas já tivemos casos em que a produtividade chegou a 30%”, diz Sousa, que desde 2018 aluga colmeias de abelhas aos cafeicultores.

Nos últimos anos, a Agrobee vem sendo procurada por empresas do setor, como Nescafé e Nespresso, para a polinização assistida. “A agenda de agricultura sustentável está muito ativa”, explica ele. “A polinização é o maior potencial produtivo sustentável a ser desbloqueado na cafeicultura”, reflete.

As vantagens são muitas. Aumentar a presença de abelhas nos cafezais ajuda a diminuir o abortamento das flores, uniformizar o amadurecimento dos frutos, reduzir grãos chochos e aumentar a peneira, gerando frutos mais doces.

Em setembro, a startup fechou um projeto, em parceria com a Expocaccer e com o Banco do Brasil, que oferece incentivo financeiro para os agricultores que queiram conhecer o serviço de polinização. “Queremos inserir as abelhas nas grandes cadeias agrícolas, e gerar mais receitas para o agricultor e para os criadores de abelhas”, diz Sousa, que já trabalhou em mais de 100 áreas de cultivo em regiões como Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Alta Mogiana e tem mais de 60 mil colmeias cadastradas. A startup oferece, inclusive, um selo de café polinizado para que os produtores os estampem em suas embalagens.

Só para se ter uma ideia da potencialidade do serviço de polinização assistida, cada hectare de café recebe quatro colmeias de abelhas. Se a decisão (sempre baseada em polinizadores que já existem na área de manejo) for pela Apis mellifera – a mais comum na polinização assistida de cafés no Brasil –, as colmeias podem abrigar, até, 200 mil abelhinhas por hectare, que permanecem na lavoura entre 12 e 15 dias. Já seis colmeias da mandaguari (gênero Scaptotrigona), menores, liberam por hectare cerca de 180 mil indivíduos.

Sousa desenvolve seus protocolos de manejo no campo, como número e posicionamento das colmeias, baseado em estudos acadêmicos. O norteador da polinização assistida são os talhões com maior potencial para a bebida. “Precisamos adequar o serviço de polinização à realidade de cada produtor”, explica ele, que já trabalhou com mais de seis espécies, cujas colmeias são monitoradas com um aplicativo combinado à Inteligência Artificial.

Como treinar sua abelha

Abelhas podem ser ensinadas. É isso o que faz o ecólogo e neurocientista João Marcelo Robazzi, da startup brasileira pollintech, criada há três anos. O treinamento de abelhas (denominado polinização guiada) torna a polinização mais eficaz e pode ser uma ajuda e tanto para a polinização assistida.

“Criamos a empresa na esperança de que as abelhas polinizem mais e melhor”, conta Robazzi, que tem como sócias a entomóloga Marcela Barbosa, especialista em polinização, e Maria Imaculada Zucchi, pesquisadora da Apta, e que trabalha com genética de plantas. “É um processo de ganha-ganha: o produtor aumenta a produtividade sem aumentar a área plantada e as abelhas encontram mais alimento e de forma mais rápida”, emenda Marcela. “Usamos a natureza para resolver o problema da produtividade”, completa ela.

Apis mellifera em flor de café

Para conseguir alimento, as abelhas se guiam pelo perfume, formato e cor das flores, criando uma memória olfativa. Mas não é nova a ideia de treinar abelhas: pesquisadores fazem isso desde a década de 1970 e há empresas no Brasil que treinam esses insetos para polinizar culturas de clima temperado. A particularidade da pollintech é treinar abelhas para uma cultura tropical como o café. “A ideia é treinar esse estímulo de odor associado ao açúcar”, explica o neurocientista. “Depois de algum tempo, ela aprende que aquele odor representa alimento”.

Para desenvolver a “isca” para a abelha africanizada – a primeira espécie que pretendem treinar –, a equipe desenvolveu biomoléculas, com odor semelhante ao perfume da flor do cafeeiro, e treinou as abelhas em laboratório. Agora, eles investem nos testes de campo com a biomolécula em duas fazendas no Sul de Minas – Santa Amélia, em Guaxupé, e Três Meninos, em Passos.

As áreas experimentais somam cinco hectares. Ao todo, estão sendo observadas 30 colmeias de Apis, com cerca de 20 mil abelhas cada uma. Até o fechamento desta edição, a equipe aguardava a frutificação dos pés de arábica. O próximo passo é medir a eficiência das abelhas treinadas a partir do número de indivíduos que visitam as flores, da frutificação (pelo tamanho, peso e formato das sementes) e, ainda, fazer a análise química do grão de pólen e do mel.

A expectativa é a de que, nas áreas que tiverem abelhas treinadas, colham-se frutos mais densos, refletindo, consequentemente, na qualidade da bebida. “A ideia é oferecer abelhas treinadas às fazendas para que, quando as flores de café abrirem, elas já saibam o que procurar”, explica o ecólogo.

O apicultor Edson Henrique de Souza, da Fazenda Quilombo, em Altinópolis (MG), que participa do experimento com suas caixas de abelhas, notou a mudança no peso das colônias – sinal de aumento da quantidade de pólen e mel – e no comportamento das abelhas. “Depois de vinte minutos soltas no cafezal, as abelhas campeiras [operárias] já estavam buscando especificamente a flor do café, num ritmo maior de trabalho”, relata ele.

A qualidade na xícara

Até pouco tempo atrás, os efeitos da atividade das abelhas sobre a qualidade do café na xícara não eram explorados pela pesquisa acadêmica. No entanto, os cafeicultores que já utilizavam a biopolinização sabiam que ela resultava em frutos maiores e mais densos, o que dá qualidade à bebida.

Mas essa história vai além. Cafés polinizados por esses insetos têm sua composição química alterada – positivamente. Dois trabalhos brasileiros pioneiros sobre o tema foram feitos em 2022 e 2023 pelas cientistas Solange Cristina Araújo, Aline Theodoro Toci e outros pesquisadores-colaboradores. “Estes são os primeiros trabalhos desse tipo que encontrei na literatura acadêmica”, garante Aline, química especialista em aromas da Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu, Paraná.

As pesquisas mostraram que flores polinizadas por abelhas geram frutos com maior quantidade de compostos bioativos, como ácidos clorogênicos, trigonelina e cafeína, do que as que não foram biopolinizadas. Esses compostos, além de agirem como ferramenta de defesa das plantas, funcionam como precursores de aromas. “Nossa hipótese é que os grãos de café polinizados estão geneticamente melhor preparados para a defesa da cultura contra ataques de agentes externos”, explica ela.

Os resultados obtidos pavimentam o caminho para investigações futuras – avaliar, por exemplo, o efeito da biopolinização na composição dos principais precursores de voláteis e compostos bioativos no café arábica. “O café é uma das bebidas mais aromáticas que existem”, lembra Aline. “Podemos perceber que ele está sendo preparado a 500 metros de distância só pelo aroma”.

Quer ler mais sobre o tema? Clique aqui.

Texto originalmente publicado na edição #86 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Porque a máquina de café full automática A600 da Franke é a solução ideal para seu negócio?

*Publi

No cenário atual, superar desafios, como a escassez de mão de obra e a crescente demanda por café de alta qualidade, é essencial para garantir a satisfação dos clientes. A máquina full automática A600 da Franke Coffee System é a solução ideal, ao combinar inovação de ponta com eficiência operacional para aprimorar tanto a experiência dos clientes quanto a produtividade da equipe.

Projetada com engenharia suíça para simplificar o processo de preparo de café, a Franke A600 é ideal para ambientes com alto fluxo de trabalho e para quaisquer tipos de negócios. Sua tela colorida de 8 polegadas, com toque intuitivo, garante uma operação fácil, seja em sistemas de autoatendimento ou manuseada por sua equipe, permitindo processar os pedidos com apenas um toque e reduzindo erros e desperdícios. Equipada com a tecnologia exclusiva da Franke, o IQFlow, a máquina full automática A600 extrai mais sabor do café do que os sistemas comuns, garantindo padronização e aprimorando a experiência dos clientes xícara após xícara. Além disso, possui sistema simples de uso e processo de limpeza semiautomatizado, liberando os colaboradores para se dedicarem a outros serviços e aos seus clientes, aumentando a eficiência geral.

A versatilidade é outro ponto forte da máquina full automática Franke A600. Ela oferece inúmeras opções para criar uma ampla variedade de bebidas, desde café espresso até café coado, incluindo opções com leite quente ou frio e espuma de leite extremamente cremosa com a qualidade de preparo de um barista profissional. Com recursos opcionais, como o exclusivo Foam Master, e módulos adicionais, como a Flavor Station e o Iced Coffee, é possível expandir o cardápio com bebidas saborizadas e cafés gelados, oferecendo um amplo cardápio para os clientes, o que gera diferenciação e contribui para o aumento das vendas e do ticket médio.

A flexibilidade também é outro destaque da Franke A600. Disponível com conexão fixa de água ou tanque de água portátil, a máquina pode ser facilmente transportada para salas de conferência, áreas externas ou locais onde uma instalação fixa não seja viável. Isso permite oferecer café premium onde quer que seus clientes estejam, seja em ambientes internos ou aproveitando o ar livre.

Além disso, o equipamento também pode trazer mais economia para seu negócio, pois possui um sistema de contagem de doses, o que evita desperdícios e permite que você tenha mais controle das vendas e do seu estoque de café. São máquinas projetadas especialmente para garantir padrão e, portanto, ideais para seu negócio.

Com a Franke A600, você pode proporcionar uma experiência de café excepcional de forma prática, enquanto otimiza o tempo e desloca a energia da sua equipe para outras demandas – sem abrir mão de nada.

Sobre a Franke Coffee Systems

Uma divisão do Grupo Franke, é um dos principais fornecedores globais de soluções em máquinas de café totalmente automáticas para uso profissional. Com uma profunda paixão pelo café, a empresa está comprometida em aprimorar a experiência do cliente por meio de inovações de ponta. 

Para a Franke, café é muito mais do que apenas grãos e máquinas – trata-se de criar momentos especiais, em que um ótimo café servido transforma seus clientes em convidados leais. Com sede na Suíça, a empresa opera com filiais na Alemanha, Reino Unido, Itália, China, Japão e Estados Unidos, com suporte de  uma rede global de serviços e distribuição por mais de 300 parceiros. No Brasil, há dois parceiros credenciados para te assessorar.

Utilize o código FFS25FRAN, cadastre-se no site da Fispal e venha conhecer nossas máquinas automáticas. Esperamos você para um café no Distrito Anhembi, de 27 a 30 de maio, na Rua I – estande 099.

Acesse e saiba mais: franke.com

TEXTO Publi • FOTO Divulgação

Café & Preparos

Nescafé investe R$ 500 milhões para expansão no Brasil

Montante será destinado à ampliação da fábrica em Minas Gerais e à expansão da Nestlé Professional; marca também foca em inovação e campanha que destaca produtores nos rótulos

Por Cristiana Couto

A Nescafé, marca da Nestlé, comunicou que vai investir R$ 500 milhões até 2028 para expandir sua capacidade de produção no Brasil. O anúncio foi dado em coletiva de imprensa feita nesta quinta (22) na sede administrativa da empresa em São Paulo. 

O investimento será direcionado à ampliação da fábrica de cápsulas da marca em Montes Claros (MG) – que produz 1 bilhão de cápsulas por ano – e à expansão no segmento de consumo fora do lar, com o aumento da presença das máquinas de café Nestlé Professional – o maior parque global da companhia, com 26,5 mil máquinas instaladas em escritórios, lojas de conveniência e padarias do país. 

O valor será acrescentado ao investimento de R$ 1 bilhão, anunciado pela marca em 2024, para expansão da fábrica de café solúvel da marca em Araras, interior de São Paulo.

Com a nova injeção financeira, a empresa prevê chegar a 30 mil equipamentos até o fim do ano e investir ainda mais na incorporação de telemetria, que permite o monitoramento remoto e em tempo real do desempenho e consumo das máquinas de café instaladas. “O Brasil carece de dados sobre alimentação fora do lar”, disse José Argolo, diretor-executivo da Nestlé Professional.

Valeria Pardal, diretora-executiva de negócios de bebidas de café da Nestlé, está otimista em relação às oportunidades de crescimento do setor. “Nos últimos cinco anos, a categoria de cafés em cápsula da Nestlé cresceu em torno de 20%. Estamos assumindo que a categoria vai continuar a crescer a duplo dígito nos próximos anos”, afirmou Valéria. “Então realmente acreditamos, e somos muito otimistas, que o crescimento do negócio de café aqui no Brasil vai ser pela premiunização e variedade”, aposta a executiva.

Valeria Pardal, diretora-executiva de negócios de bebidas de café da Nestlé

O anúncio da Nestlé vem num momento em que as vendas de café no varejo caíram 5,13% nos quatro primeiros meses do ano, segundo a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), resultado dos preços mais altos do grão. Em abril, a queda foi ainda maior – quase 16% em relação ao mesmo mês em 2024.

A retração no consumo vem na esteira da escalada de preços do café – 80% nos últimos 12 meses –, o maior aumento dos últimos 30 anos. Todas as categorias de café foram afetadas, sendo a de café solúvel a mais atingida, com 85%.

Aliás, é no solúvel que a Nestlé continua a apostar suas fichas. Segundo Valéria, a estimativa da Nestlé é que, nos próximos 20 anos, 20% do consumo de café no Brasil será da bebida gelada. Não à toa, a empresa comercializa, desde dezembro passado, o Nescafé Gelado, seu primeiro café solúvel desenvolvido para preparo com água ou leite gelados.

Agora, lança uma campanha que traz quatro famílias de cafeicultores nos rótulos de edição especial de sua linha de café solúvel, incluindo veiculação de um filme nos canais da marca e na mídia OOH. A campanha Fazedores, criada pela agência DPZ, integra a plataforma global Make Your World (Faça seu Mundo, no Brasil), lançada em 2024, e busca aproximar o consumidor da origem do produto e reforçar o compromisso da marca com a sustentabilidade.

TEXTO Cristiana Couto
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