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Seminário Internacional de Café de Santos discute sustentabilidade e diversidade na cafeicultura

Nesta quarta-feira (11) ocorreu a abertura do XXIII Seminário Internacional de Café de Santos: exportação do café do Brasil preparada para a economia mundial. Após dois anos parados por conta da pandemia de Covid-19, o evento, que acontece há 50 anos, retorna com o tema O quanto o Brasil está preparado?”. O Seminário busca discutir assuntos estratégicos para o setor como governança socioambiental, agricultura regenerativa, impacto do clima e desafios de logística.

A edição conta com a  participação de 21 países e autoridades na abertura. Representando o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, o secretário de Agricultura e Abastecimento, Francisco Matturro, participou da abertura do 23º Seminário Internacional do Café de Santos, no Guarujá.

O secretário argumentou que há décadas o Brasil trabalha para se posicionar como principal ofertante de cafés de alta qualidade. “O estado tem intensificado a expansão de cafeterias e de outros tipos de estabelecimentos voltados aos cafés de alta qualidade”, disse.

Francisco apontou que São Paulo tem a cafeicultura como seu berço. “Muitos de nossos institutos, como é o caso do Instituto Agronômico e o Instituto Biológico, foram fundados justamente para estudar e proteger essa cultura tão importante para a economia de São Paulo”, lembrou.

Para o secretário, essas ações realizadas pela Secretaria à cafeicultura não são apenas históricas. “Nossos institutos de pesquisas e assistência técnica estão também conectados com aquilo que é sinalizado como tendência no mercado consumidor”, complementou.

Outra pesquisa que o secretário citou como importante é a que está ligada ao desenvolvimento pelo IAC, de cultivares de café com características voltadas ao mercado de cafés especiais: “Também temos realizado estudos no IAC com o uso de biotecnologia para levar o maior e mais completo banco de germoplasma de cafés do mundo, que fica em Campinas, para uma outra unidade da secretaria”.

Francisco Matturro justificou essas e outras ações com o objetivo de apoiar os cafeicultores, indústrias e exportadores. Atualmente, apenas o estado de São Paulo produz cerca de 6,5 milhões de sacas ao ano. “Esse conjunto de ações faz de São Paulo o território privilegiado do agronegócio Cafés do Brasil”, concluiu.

O presidente da Associação Comercial de Santos, Mauro Sammarco, destaca que o Brasil é líder em produção e exportação, e o Porto de Santos é fundamental na logística da exportação dos grãos brasileiros. 

A primeira palestra contou com o tema “Cenário macroeconômico” e teve Sandro Mazerino Sobral, Head de mercados e trandings do banco Santander Brasil, como palestrante. Ele deu uma verdadeira aula sobre o mercado financeiro e traçou um paralelo entre 2022 e anos anteriores de inflação. “Estamos vivendo um período complicado para o futuro, tem a ver com o mundo, provavelmente será um período de mudança de era. Os futuros historiadores dirão que esse foi um período perigoso para a humanidade, crise financeira de 2008, preservar o sistema como estava, levou hoje aos problemas”, apontou. O palestrante reiterou sobre a inflação que bateu, ontem (11), 12% no Brasil e 8% nos Estados Unidos, o que demonstra um problema mundial.

Michelle Burns, vice-presidente da Global Coffee Tea and Cocoa da Starbucks Coffee Company, foi a segunda palestrante da tarde e apresentou o trabalho realizado pela empresa que envolve tecnologia e sustentabilidade. “Pensamos em como buscar melhorias, práticas sustentáveis ao lado dos produtores. Precisamos fazer com que os agricultores tenham uma renda suficiente para bem estar e melhoria nas comunidades”, destacou. Michelle ainda comentou sobre o centro da Starbucks na cidade de Varginha (MG), em que é possível aprender e trocar soluções para o setor e que serão compartilhadas em todo o mundo. 

Para encerrar o primeiro dia do Seminário, ocorreu um painel com o tema “O Brasil está bem-posicionado na Cadeia Mundial de Café?”, moderado por Carlos Alberto F. Santana Jr., da EISA, com a participação de Trishul Mandana, diretor executivo da Volcafé (ED&FMan Coffee Division); Edward A. Esteve, Chief Carbon Officer and Head of Coffee Division da ECOM Agroindustrial; e David Neumann, CEO da NKG. 

O painel levantou algumas discussões e David Neumann destacou que as perspectivas para o café brasileiro são excelentes, porém é preciso atenção em relação às mudanças climáticas e as dificuldades que irão existir para as próximas gerações. 

“O Brasil traz exemplos maravilhosos de produção, mas é necessário uma liderança mais forte, uma linha de negócios e focar em ajudar os pequenos e médios produtores em relação à sustentabilidade. Os negócios de café tem que ser mais simples para concentrar nos problemas e equilibrar as necessidades. Troquem ideias, a ciência pode salvar o café e nós, se não fizermos algo, vamos continuar em um mundo no qual o café não é acessível para todos”, reforçou. 

Edward apontou as tecnologias aplicadas no Brasil e que não são vistas em outros países produtores: “Aqui vocês possuem escala, tecnologia, terrenos que permitem a mecanização. Brasil cada vez mais está bem posicionado no mercado e tenho inveja cada vez que vejo a cultura do café e possibilidades para os produtores”. 

Já Trishul trouxe alguns dados relacionados ao avanço da produção e aumento do consumo. “A indústria como um todo deve se preocupar com relações como a diversidade, os custos do frete, taxas de exportação e clima”, destacou. Ele acredita que o aumento do consumo deve voltar ao patamar de antes da pandemia, de 2% ao ano. “É importante apresentar ao consumidor a perspectiva, apresentar a diversidade, as histórias, romances e porque o preço do café é diferenciado”, disse. 

“Muitas empresas firmaram o compromisso do carbono zero até 2050, mas como isso será realizado? Os compradores acabam avaliando o melhor plano na hora de adquirir os cafés e o consumidor pagará por isso? Ele é quem vai decidir se irá consumir um café que possua algum tipo de certificação ou não”, finalizou Edward. 

A grade de programação do evento segue durante essa quinta-feira (12).

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Natália Camoleze

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